sábado, 31 de maio de 2025

Duas Romas: Francisco e Cirilo (2022)


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Nesta crônica de Slimane Zeghidour ao Journal international da TV5MONDE, em 17 de abril de 2022, ele dá uma interessante explicação sobre as diferenças persistentes entre o papa de Roma e o patriarca de Moscou. Sempre gosto de todas as suas análises, embora em meados de fevereiro daquele ano ele não acreditasse que a Rússia pudesse invadir a Ucrânia! O jornal vai ao ar todos os dias, ao meio-dia, e a âncora Isabelle Malivoir segue no comando, mas pessoalmente a achei meio mal-educada: imagine, duvidar da capacidade de compreensão da audiência ou talvez da habilidade explicativa de Zeghidour!

No começo da invasão, Francisco ainda mantinha uma posição crítica, mas com o tempo foi sendo cada vez mais acusado de leniência diante de Putin, até sua morte, em 21 de abril de 2025. O novo pontífice, Leão 14, foi mais incisivo contra a agressão, mas enquanto líder espiritual, permanece a necessidade permanente de ser mais “pragmático” quanto a uma aproximação com o patriarca Cirilo. Apesar do atraso, ainda acho uma tradução interessante.



– Junto-me a Slimane Zeghidour, nosso colunista e especialista em religião. Olá, Slimane. Então, uma bênção Urbi et Orbi repleta de uma mensagem aos grandes e poderosos neste tempo de guerra. Trata-se de uma mensagem política do papa ou ele está agindo em sua capacidade de chefe da Igreja Católica?

– Ambos, porque ele é o chefe da Santa Sé e, portanto, o líder espiritual de dois bilhões de católicos, mas também é o monarca do Estado da Cidade do Vaticano. E ele usa, por assim dizer, dois bonés, e é nessa capacidade que ele fala hoje. Agora, com relação à Rússia, devemos lembrar que o Estado russo só reconhece quatro crenças que são consideradas religiões nacionais: o cristianismo ortodoxo, o islã – sim, há 20 milhões de muçulmanos na Rússia –, o judaísmo e o budismo. Nesse contexto, a Igreja Católica, assim como as igrejas evangélicas, é uma igreja estrangeira. Não somente estrangeira, mas rival desde o cisma de 1054, agravado pela queda de Constantinopla, a “segunda Roma”, perante os turcos em 1453. E foi nesse momento que Moscou se tornou a “terceira Roma”, ou seja, o centro, o coração da cristandade no mundo.

E desde então, existe uma rivalidade entre Moscou e Roma. A diferença é que a Igreja Católica tem um único líder, o papa, enquanto as igrejas ortodoxas são, como se costuma dizer, autocéfalas, ou seja, cada país tem seu próprio patriarca. Mas o Patriarca de Moscou e de Todas as Rússias – é seu título completo, Patriarca de Moscou e de Todas as Rússias – governa os ortodoxos russos, mas também uma parte dos ortodoxos do Cazaquistão, da antiga União Soviética e da Ucrânia. Assim, na Ucrânia, a Igreja Ortodoxa Ucraniana decidiu romper sua ligação umbilical com o Patriarcado de Moscou pra se tornar uma Igreja Ortodoxa Ucraniana autônoma. Mas nesse instante, parte da Igreja Ortodoxa Ucraniana se cindiu de sua própria igreja pra permanecer ligada a Moscou. Você pode ter uma noção do cenário.

– Daí a complexidade da posição geral da Igreja com relação a isso.

– Isso. Pra simplificar o quadro, uma grande parte dos cristãos ucranianos são o que chamamos de uniatas, ou seja, ex-cristãos ortodoxos que se uniram ao papado e são chamados de uniatas. Eles são católicos e vivem na parte ocidental do país. É nessa parte, aliás, que se encontram os maiores partidários da independência da Ucrânia e da incorporação à Europa.

– Sim, não tenho certeza se isso simplifica muito as coisas na mente dos telespectadores. A Ucrânia é um espinho no pé da Santa Sé, Slimane? Porque é necessário ao mesmo tempo, como posso dizer, manter o diálogo justamente com a Igreja Ortodoxa Russa e também não ofender todos os cristãos da Ucrânia.

– Pois bem, quanto aos cristãos da Ucrânia, como eu disse, são os uniatas, assim, são ex-cristãos ortodoxos que se uniram a Roma. E isso alimenta uma espécie de paranoia entre os russos, em Moscou, como se a Igreja Católica considerasse toda a ortodoxia russa como uma terra missionária onde mais pessoas deveriam ser convertidas ao catolicismo. É por isso, por exemplo, que o papa de Roma pôde visitar países muçulmanos, incluindo ultraconservadores, mas nunca pôde ir a Moscou. 20 anos atrás, um dos assessores do então patriarca de Moscou e de Todas as Rússias disse à imprensa que o papa em Moscou era como Bin Laden na Casa Branca. Você pode ter uma noção da comparação.

– Muito obrigado, Slimane Zeghidour, e tudo o que você está dizendo, na verdade, faz comprometer esse futuro encontro que o papa desejava.

– Será muito difícil, mas não está fora de questão.


– Je rejoins Slimane Zeghidour, notre éditorialiste et spécialiste des religions. Bonjour, Slimane. Alors, une bénédiction Urbi et Orbi empreinte d’un message aux grands de ce monde en cette période de guerre. Est-ce que c’est un message politique du pape ou est-ce qu’il est dans ses fonctions de chef de l’Église catholique ?

– Les deux, parce qu’il est le chef du Saint-Siège, donc le chef spirituel de deux milliards de catholiques, mais il est aussi le monarque de l’État de la Cité du Vatican. Et il a, si on peut dire, deux casquettes, et c’est à ce titre qu’il parle aujourd’hui. Maintenant, s’agissant de la Russie, il faut rappeler que l’État russe ne reconnait que quatre cultes qui sont considérés comme des religions nationales : le christianisme orthodoxe, l’islam – oui, il y a 20 millions de musulmans en Russie –, le judaïsme et le bouddhisme. Dans ce cadre-là, l’Église catholique, comme les églises évangéliques, est une église étrangère. Non seulement étrangère, mais rivale depuis le schisme de 1054 qui a été aggravée par la chute de Constantinople, « deuxième Rome », en 1453 devant les Turcs. Et c’est à ce moment-là que Moscou est devenue la « troisième Rome », c’est-à-dire, le centre, le cœur de la chrétienté dans le monde.

Et depuis lors, il y a une rivalité entre Moscou et Rome. La différence, c’est que l’Église catholique a un seul chef, c’est le pape, tandis que les églises orthodoxes sont, comme on dit, autocéphales, c’est-à-dire, chaque pays a son propre patriarche. Mais celui de Moscou et de toutes les Russies – c’est son titre complet, patriarche de Moscou et de toutes les Russies – gouverne les orthodoxes russes, mais aussi une partie des orthodoxes du Kazakhstan, de l’ex-Union soviétique et de l’Ukraine. Alors, en Ukraine, l’Église orthodoxe ukrainienne a décidé de rompre son lien ombilical avec le Patriarcat de Moscou pour devenir une Église ukrainienne orthodoxe autonome. Mais à ce moment-là, une partie de l’Église orthodoxe ukrainienne a fait un schisme par rapport à sa propre église pour rester rattachée à Moscou. Vous voyez un peu le paysage.

D’où la complexité du positionnement de l’Église de manière générale face à ça.

Voilà, pour simplifier le tableau, qu’une bonne partie des chrétiens ukrainiens sont ce qu’on appelle des uniates, c’est-à-dire, ce sont d’ex-chrétiens orthodoxes qui se sont ralliés à la papauté et on les appelle les uniates, qui, eux, sont des catholiques et habitent dans la partie ouest du pays. C’est dans cette partie d’ailleurs qu’on trouve les plus grands partisans de l’indépendance ukrainienne et du rattachement à l’Europe.

– Ouais, pas sure que ça simplifie beaucoup dans l’esprit des téléspectateurs. L’Ukraine, c’est une épine dans le pied du Saint-Siège, Slimane ? Parce qu’il faut à la fois, comment dirais-je, maintenir le dialogue avec justement l’Église orthodoxe russe et puis ne pas froisser non plus tous les chrétiens d’Ukraine.

– Alors, pour les chrétiens d’Ukraine, je vous ai dit, ce sont les uniates. Donc ce sont des chrétiens ex-orthodoxes qui se sont ralliés à Rome. Et cela entretient chez les Russes, à Moscou, une sorte de paranoïa, comme si l’Église catholique considérait toute l’orthodoxie russe comme une terre de mission dans laquelle il faudrait encore convertir des gens au catholicisme. C’est pour cela, par exemple, que le pape de Rome a pu aller dans des pays musulmans, y compris ultraconservateurs, mais n’a jamais pu aller à Moscou. Il y a 20 ans, un des conseillers du patriarche de Moscou et de toutes les Russies de l’époque avait dit à la presse que le pape à Moscou, c’est comme Bin Laden à la Maison-Blanche. Vous vous rendez compte un peu de la comparaison.

– Merci beaucoup, Slimane Zeghidour, et tout ce que vous dites effectivement laisse compromettre cette future rencontre que le pape souhaitait.

– Elle sera très difficile, mais pas exclue.



sexta-feira, 30 de maio de 2025

A baixaria estragou todo o look


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A edição de ontem, 29 de maio, do programa diário The World with Yalda Hakim na Sky News foi dedicada especialmente à situação terrível imperante na “Faixa da Des-gaza”. Nem nosso famoso embaixadinha israelense na ONU Danny Danoninho, com toda sua obsessão pelo “hamaff”, chegou ao nível de baixeza desse idoso histérico que transformou a entrevista numa briga de condomínio impossível de acompanhar! Ele se apresenta como ex-assessor (adivinhe de quem?) do Bibi do Hamas, e não deixa sequer a Yalda interromper brevemente suas respostas quilométricas pra pedir esclarecimentos. Embora as emissoras sempre tenham problemas com o tempo, também penso que ela podia o deixar livre por um tempo pra daí fazer “provocações” mais pontuais.

O resultado foi que um começou a querer falar em cima do outro, e mesmo achando importante ouvir o lado do apologista de assassino, tive que pular devido ao incômodo que a situação me causou. Queria, por exemplo, que Yalda o impelisse a provar as acusações de que o “hamaff” estaria roubando ajuda humanitária e a vendendo por preços muito acima do mercado. Queria que pelo menos ele desmentisse a acusação inversa, de que grupos extremistas judeus, com a anuência do próprio governo, é que estariam roubando pra culpar os terroristas.

Mas a decepção foi completa, e fiquei mesmo sem saber se o tiozão do Zap teria algo a declarar, inclusive, sobre o famigerado “Qatargate”, escândalo segundo o qual Bibi é quem teria combinado com Doha de deixar o emir dar dinheiro pro Hamas investir na reconstrução de “Gavva”. Fundos que, infelizmente, podem ter financiado toda a construção de um famoso “metrô” por que passava de tudo, menos trens...




Olhe pra esta placa e ache o erro.

Não achou? Olhe de novo e tente outra vez.

Não conseguiu? Pois bem, eu explico: não é bem um “erro”, mas após uma pesquisa, penso que aprendi uma palavra nova na língua de Maomé. Era uma reportagem do mesmo especial sobre a ocupação ilegal da Cisjordânia (ou “Judeia e Samaria”, como eles chamam) pelos israelenses. O nome da cidade de Jerusalém está traduzido em árabe como “Uurushaliim”, e não “Al-Quds” (lit. “a sagrada”), que é a forma mais usada. Acabei descobrindo que essa versão árabe só é usada em Israel, mais exatamente em documentos oficiais redigidos nessa língua, e em contextos religiosos de cristãos arabófonos. Porém, fora desses meios, mesmo entre árabes cristãos, permanece a tradicional “Al-Quds”.




Nadehzda Iurova, da Novaia Gazeta Ievropa, fora de contexto. O primeiro tomei a liberdade de traduzir usando o sotaque de Bragança Paulista. O segundo podia ser chamado Why Are You Gae versão “exilados russos”, rs.


quinta-feira, 29 de maio de 2025

O atraso do voto feminino na Suíça


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Nesta edição de 7 de fevereiro de 2021 do jornal diário 64 Minutes do canal francês TV5MONDE, apresentada pela jornalista Silvia Garcia, a rubrica sobre notícias do mundo francófono fora da França abordou os 50 anos da conquista do direito ao voto pelas mulheres da Suíça. Reputado por vários aspectos avançados de sua sociedade, o encravado país da Europa foi um dos últimos do Ocidente a lhes permitir votarem e serem votadas, e as razões foram absurdas. Detalhe sórdido: obviamente só os homens podiam votar a respeito de algo que não lhes tocava... Isso mostra, ao contrário do que dizem certas bolsominions “antifeministas” do Fazendil (algumas delas eleitas!), que o sufrágio universal não foi um “presente” de cima, mas fruto de uma luta que furou um muro de resistência injustificável.

Garcia nasceu na Espanha (seu nome podia ser português também), mas se radicou muito cedo na Suíça, tendo trabalhado pra vários canais da confederação, mas também em outros países, incluindo a França, como podemos ver. Em 2023, ela voltaria “pra casa” como âncora de jornais da RTS, onde segue até hoje. Apesar do 64 Minutes ser francês, sua origem helvética transparece na leitura do ano de “1998”, em que “noventa” sai como “nonante”, uma variante regional, e não como “quatre-vingt-dix”, conforme o padrão parisiense. Se fosse sempre assim, a vida seria bem mais fácil, né? Rs. Bem, após algum atraso, segue a reportagem:


– Há 50 anos, as mulheres suíças conquistaram o direito ao voto. Há apenas 50 anos. Esta é a nossa manchete principal da francofonia.

Geralmente isso causa surpresa: a segunda melhor democracia [num dos rankings daquele ano], a mais antiga do mundo, foi um dos últimos países a conceder plenos direitos civis às mulheres. E ela está bem posicionada pra saber disso: com a gente, de Genebra, Ruth Dreifuss, ex-presidente da Confederação Helvética. Boa noite e obrigada por estar com a gente. Que lembrança a senhora guarda daquele 7 de fevereiro de 1971?

– A sensação, simplesmente, de que foi a culminância de um grande século de luta e o início de algo mais, ou seja, quando finalmente tínhamos as ferramentas necessárias pra participar plenamente e mudar a situação das mulheres neste país.

– E assim as mulheres conquistam seu lugar de direito na sociedade. O dia 7 de fevereiro de 1971 foi, como a senhora disse, o ápice de um longo combate. Por que a Suíça demorou tanto pra conceder às mulheres o direito ao voto? Em grande parte, isso se deve ao sistema político que torna o país, porém, tão renomado. Lembrete de autoria de nossos colegas da RTS, Cédric Verguin e Cyril Pierre.

Desta vez, foi pra valer. Em 7 de fevereiro de 1971, Gertrude Girard-Montet, presidente da Associação Suíça pelo Sufrágio Feminino, comemora: era a vitória, as suíças tinham acabado de conquistar o direito de votar e ser votadas. Finalmente, porque o caminho foi longo, cheio de armadilhas e exigiu muita adaptação. Entre 1919 e 1971, foram realizadas 31 votações sobre o sufrágio cantonais feminino. O “não” venceu 22 vezes. Porque os homens precisavam ser convencidos. E isso não foi rápido.

Em 1.º de fevereiro de 1950, o “não” ainda ganhará por 67%. Por esmagadora maioria, os cidadãos suíços rejeitam o sufrágio feminino em nível federal. Mas no cantão de Vaud, vence o “sim”, depois em Genebra, depois Neuchâtel. Mas aqui, estamos em 1962, e as mulheres suíças ainda não têm o direito de votar em nível federal.

– Acredito que essas cidadãs não estejam prontas hoje. Elas ainda não saberiam como devem votar. Elas andariam por aí se perguntando: “Devemos votar neste, naquele, num rosto bonito ou num cara que faz caretas melhor que o outro?”

Pouco importa. Desde a recusa de 1959, as suíças desfilam todos os anos com tochas pra exigir o indispensável direito ao voto. No fim das contas, foi a política externa que mudou tudo. Em 1968, o Conselho Federal decidiu assinar a Convenção Europeia dos Direitos Humanos, mas excluindo o direito das mulheres ao voto. Escândalo: Em 1.º de março de 1969, 5 mil pessoas marcham em frente ao Palácio Federal em favor do sufrágio feminino.

A igualdade jurídica entre os sexos é um pré-requisito importante ao pleno exercício dos direitos humanos.

Em 7 de fevereiro de 1971, os homens votam novamente e dizem “sim”, finalmente.

– Ruth Dreifuss, por que as autoridades não tomaram a iniciativa, na época, de impor o direito ao voto pras mulheres muito antes?

– Simplesmente por medo de um fracasso. E foi uma batalha muito, muito longa. E o governo não demonstrou nenhuma coragem ou liderança nessa área.

– 1998, a senhora se torna a primeira mulher a chegar à presidência da Confederação, presidência que na Suíça é rotativa. Isso a torna uma pioneira. Isso também a torna um modelo a ser seguido?

– Simplesmente torna meu dever abrir as portas a outras, o que fiz, aliás, no dia de minha eleição. Eu abri, mandei abrir as portas do Palácio Federal pra que outras mulheres viessem festejar e, logo depois, também assumir mais funções.

– Pois bem, 50 anos depois, as suíças estão indo às ruas. Em junho de 2019, há um ano e meio, uma segunda greve de mulheres exigiu igualdade salarial, mas também uma mudança na sociedade. A luta continua, precisamos acelerar o ritmo na Suíça?

– Completamente. Ah, uma vez que o direito ao voto foi conquistado, o que aconteceu foi que eliminamos a maioria das leis discriminatórias que persistiam na Suíça, relativas a casamento, divórcio, previdência social etc., em que a mulher ainda era de fato considerada dependente do homem. Depois, começou outra batalha, que já vinha sendo travada em paralelo, que é realmente sobre mudanças na mentalidade, na vida cotidiana, no mundo do trabalho e na educação. E esse combate continua, assim como o combate pelo reconhecimento de outros direitos contra a discriminação, por exemplo, das pessoas LGBT e outras pessoas que são atualmente discriminadas.

– Ruth Dreifuss, ex-presidente da Confederação Helvética, muito obrigada por ter estado com a gente no 64 Minutes.


– Il y a 50 ans, les Suissesses obtenaient le droit de vote. 50 ans seulement. C’est notre une francophone.

Ça suscite souvent l’étonnement : la deuxième démocratie, la plus ancienne au monde, a été l’un des derniers pays à accorder aux femmes tous leurs droits civiques. Et elle est bien placée pour le savoir : avec nous depuis Genève, Ruth Dreifuss, ancienne présidente de la Confédération helvétique. Bonsoir et merci d’être avec nous. Quel souvenir vous gardez de ce 7 février 1971 ?

– Le sentiment tout simplement que c’était l’aboutissement d’un grand siècle de lutte et le commencement de quelque chose d’autre, c’est-à-dire, quand on avait enfin l’instrument nécessaire pour participer pleinement et changer la situation des femmes dans ce pays.

– Et les femmes prennent donc toute leur place dans la société. Le 7 février 1971, c’était, vous le disiez, l’aboutissement d’un long combat. Pourquoi la Suisse a-t-elle accordé le droit de vote aux femmes aussi tard ? C’est en grande partie à cause de ce système politique pour lequel le pays est pourtant réputé. Le rappel est signé de nos confrères de la RTS, Cédric Verguin et Cyril Pierre.

Cette fois, c’est la bonne. Le 7 février 1971, Gertrude Girard-Montet, présidente de l’Association Suisse pour le suffrage féminin, exulte : c’est gagné, les femmes suisses viennent d’obtenir le droit de vote et d’éligibilité. Enfin, car le chemin fut long et semé d’embuches et s’adapte sacrément. Entre 1919 et 1971, 31 votations sur le suffrage cantonal féminin sont organisées. Le « non » l’emportera 22 fois. Car il faut convaincre les hommes. Et ça ne va pas vite.

Le 1 février 1950, ce sera « non » encore à 67%. Les citoyens suisses refusent à une écrasante majorité le suffrage féminin au niveau fédéral. Mais dans le canton de Vaud, c’est « oui », puis à Genève, puis Neuchâtel. Mais là, on est en 1962, toujours pas le droit de vote des femmes suisses sur le plan fédéral.

– Je crois que ces citoyennes ne sont aujourd’hui pas prêtes. Elles ne sauraient encore pas comme elles doivent voter. Elles iraient, elles se demanderaient en fabrique : « Est-ce qu’on doit voter pour celui-ci, pour celui-là, pour une belle tête ou bien pour un type qui sait mieux faire des grimaces qu’un autre ? »

Qu’importe ? Depuis le refus de 1959, les Suissesses défilent chaque année au flambeau pour réclamer le droit de vote indispensable. C’est finalement la politique étrangère qui fera tout basculer. En 1968, le Conseil fédéral décide de signer la Convention européenne des droits de l’homme, mais en excluant le droit de vote des femmes. Scandale : le 1er mars 1969, 5 mil personnes défilent devant le Palais fédéral en faveur du suffrage féminin.

L’égalité juridique entre les sexes est une condition préalable importante au plein exercice des droits de l’homme.

Le 7 février 1971, les hommes votent encore et disent « oui », enfin.

– Ruth Dreifuss, pourquoi les autorités n’ont pas pris l’initiative, à l’époque, d’imposer le droit de vote pour les femmes bien plus tôt ?

– Par peur d’un échec, tout simplement. Et c’est une très, très longue bataille. Et le gouvernement ne s’est pas signalé de courage ou par un rôle de leader dans ce domaine.

– 1998, vous devenez la première femme à accéder à la présidence de la Confédération, c’est une présidence tournante en Suisse. Ça fait de vous une pionnière. Est-ce que ça fait de vous un modèle aussi ?

– Ça fait de moi une obligation tout simplement d’ouvrir la porte à d’autres, ce que j’ai d’ailleurs fait le jour de mon élection. J’ai ouvert, j’ai fait ouvrir les portes du Palais fédéral pour que d’autres femmes y viennent faire la fête et bientôt aussi occuper plus de dossiers.

– Alors, 50 ans plus tard, les Suissesses sont dans la rue. En juin 2019, il y a un an et demi, deuxième grève des femmes pour réclamer l’égalité des salaires, mais aussi pour un changement de société. La lutte continue, il faut accélérer le rythme en Suisse ?

– Absolument. Ah, une fois que le droit de vote a été acquis, ce qui s’est passé, c’est qu’on a expurgé la plupart des lois de discrimination qui continuaient en Suisse, sur le plan du mariage, du divorce, dans les assurances sociales etc., où la femme était toujours considérée comme en fait dépendante de l’homme. Ensuite a commencé une autre bataille, d’ailleurs déjà menée en parallèle, qui est vraiment celle des changements de mentalité, des changements dans la vie quotidienne, des changements dans le monde du travail, dans l’éducation. Et ce combat-là continue, de même que le combat d’ailleurs pour la reconnaissance d’autres droits de lutte contre la discrimination, par exemple, des LGBT et d’autres personnes qui sont actuellement discriminées.

– Ruth Dreifuss, ancienne présidente de la Confédération helvétique, merci beaucoup d’avoir été avec nous dans 64 Minutes.



quarta-feira, 28 de maio de 2025

As piores unções pentecostais


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Quem curtiu a internet “das antigas” (até 2015, quando muito) conhece essa figurinha aí em cima: é o chamado “Pastor Pilão”, “Pastor Pião (da Casa Própria)” ou ainda “Pastor Zangieff” (em referência ao personagem do jogo e desenho Street Fighter), que numa dessas “possessões” comuns, sobretudo, em igrejas evangélicas pentecostais e neopentecostais, começou a girar rápida e compulsivamente, como se fosse um místico sufi ou um bailarino do noroeste do Cáucaso. Supostamente fora de controle e com as forças esgotadas, é finalmente amparado por um certo pastor Marco Feliciano, hoje conhecido por ser a ponta de lança mais execrável do evangelofascismo no Legislativo bananeiro. Não sei se chegou a circular por e-mail, como ocorria no começo, pois só o conheci muitos anos depois, mas as primeiras publicações no YouTube ganharam rapidamente o país.

Esse foi um dos primeiros casos em que tais “manifestações do Espírito Santo” se tornaram virais, primeiro cortadas de programas de TV, depois gravadas diretamente em celulares antigos e smartphones, tornando a vergonha alheia prontamente palatável. Não vou julgar do ponto de vista religioso, porque não tenho uma “fé” que sirva de “metro” pra tanto, e porque muitos evangélicos também condenam tais práticas, sobretudo em suas formas mais espetaculares, e reclamam que nossas igrejas estão “virando circos”. Também pouco me importo se mesmo os defensores das cenas mais inusitadas me julgarem intolerante, pois meu objetivo não é fazer humor com a crença em si, e sim com aspectos que realmente podem parecer risíveis ou mesmo, como qualquer coisa nessa vida, inusitados.


O raizíssimo “Pastor Pilão” foi pioneiro num gênero que inspira piadas até entre os próprios “crentes”. Porém, às vezes basta procurarmos uma coisinha no Google que de repente brota um mundo de informações do nada... e enquanto cientista social, é realmente isso que me interessa rs. Segundo este blog evangélico que encerrou suas atividades em 2018, o famoso meme seria um certo “cantor Moser”, falecido em novembro de 2011 e de quem alguns álbuns podem ser encontrados no YouTube. Pra adiantar aqui, internautas comentaram que ele teria sido gay até se converter, mas então já teria contraído HIV e falecido precocemente. As duas únicas publicações em seu Twitter no longínquo 2011 parecem apenas ser mensagens pra um tal “Pastor Juvenil”, até pedindo que ele o contatasse pelo Orkut, rs. E um de seus seguidores é justamente outra conta sua, um pouco mais ativa, em que se denomina “Presbítero (Levita) Moser”. Não há mais informações biográficas.

Voltando ao tema principal, demorei uns anos pra lançar esta publicação, primeiro porque fui acumulando alguns vídeos, e segundo porque não tinha tempo de fazer algumas edições básicas. Hoje, elas aparecem aqui com pequenas alterações e com as fontes citadas, caso ainda estejam disponíveis. Chamei genericamente de “unções”, como ocorre em alguns casos, mas esse nome pode ser impreciso: perdoe-me pela eventual ignorância terminológica que eu possa ter demonstrado até aqui! Portanto, aí vão As piores unções pentecostais (ou “melhores”, depende do ponto de vista...).

A “unção da galinha” é de longe minha preferida, porque a música, tirada não sei donde, combinou pra caramba! Embora tenha sido publicada por um brasileiro, é de origem afro-americana:


A “unção do helicóptero” é de 2010, brasileiríssima e editada por mim. Segundo os comentários, mistura louvor com exercício físico:


A “unção do macaco” parece ter vindo dos EUA, mas do mundo branco mesmo. Os internautas acharam mais parecido com uma britadeira ou com... Guilherme Boulos, rs:


A “unção do cadeira”, tupiniquim, foi publicada por um canal não por menos chamado “Apostasia”. Tirei os avisos iniciais e finais e fiz uma edição que vai pirar os saudosos dos anos 90! Os comentários estão fechados, mas recomendo altamente o conteúdo do canal, que traz outras unções malucas e “denúncias” de “macumba gospel” (!) e que vai nos informar que “Silas Malafaia é maçom”:


A “unção do axé”, assim denominada por mim mesmo, não foi editada exatamente porque ela justifica o próprio apelido. A conta do Équis foi apagada, mas denunciava (algo assim) as “heresias” que estavam transformando os cultos num “circo”:


A “unção da luta livre” (ou do UFC) é mais um crácico brazuca com edição minha, embora o axé também pareça muito animado. Porém, exceto pela hora em que o pastor leva as ovelhas nas costas, parece mais é um atracamento de machos safados, rs:


Dois vídeos com edições minhas vêm de nossos irmãozinhos africanos: a “unção do futebol” e a “unção do soco”. Não tenham confirmação, mas parecem ter vindo do Quênia ou de países próximos, que foram colônias inglesas (as ex-francesas e ex-portuguesas são mais católicas) e onde essas igrejas estão fazendo muito estrago se expandindo rapidamente:




Em homenagem a meu cabeleireiro Lucas Franco, que também é pastor da Igreja El Roi, segue esta “unção da prótese capilar”, rs! Um belo dia, ele resolveu me mandar uma demonstração desse serviço seu, mas colocou de fundo uma trilha cristã e... Louvai, carecas:


E pra terminar com animação, não exatamente uma unção, mas um pastor da Quadrangular que achei hoje por acaso, imitando várias vezes o passo moonwalk do Michael Jackson, ao som de uma canção deles mesmos. Ouvi um amém???


terça-feira, 27 de maio de 2025

CECI N’EST PAS UNE GIFLE


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A mais nova sensação do humor geopolítico foi a chegada, ontem, de Emmanuel Macron, co-príncipe de Andorra, à antiga colônia gaulesa do Vietnã, de onde foram chutados (como também seriam da Arjólia em 1962) bem antes dos ianques, no fim da década de 1950. O UOL foi uma das poucas mídias que traduziu o bafão, mas trago aqui meu próprio material: a câmera da agência Associated Press filmou, dentro do avião, a mão de sua mãesposa Brigitte dando na cara dele o que seria um tapa ou, o que acho mais aparente, um empurrão. Logo que percebeu estar sendo filmado a léguas de distância, o ex-banqueiro disfarçou com um sorrisinho amarelo e um aceno apressado.



Outras pequenas tomadas de vídeo do Marcão também foram recentemente lidas de modo maldoso pela oposição e, pior, pela desinformação do Kremlin, que já manipula muitos Asterix e o detesta acima de tudo pela ajuda que dá à resistência ucraniana. “Ceci n’est pas une gifle”, “Isso não é um tapa”, como reza o famoso meme quadro com o cachimbo. Mas agora é tarde, ficou pra história, rs.


Como também reza outro ditado, “as emendas ficaram piores do que o soneto”. E foram várias em sucessão: primeiro, disseram apressadamente que tinha sido “uma montagem gerada por IA”, mas quando não dava pra negar que o vídeo era verdadeiro, se saíram com esta (canal France 24): “Já vi 50 vezes essa cena. Eles se pegam, se provocam. Ele faz piadas e ela mesma põe as mãos na boca dele pra lhe calar. Pura brincadeira”, segundo o que seria o entorno do presidente. Olha, pra quem foi professora de teatro dele na escola e até dirigiu uma apresentação sua como espantalho, não duvido nada do talento desses dois atores:


Macron: As pessoas fazem um vídeo dizer muitas coisas estúpidas. Nesses três vídeos, recolhi um lenço de papel, apertei a mão de alguém e apenas brinquei com minha esposa, como fazemos muitas vezes. Pra mim totalizam três semanas: se você olhar pra agenda internacional do presidente da República Francesa, de Kyiv a Tirana, chegando a Hanói, há pessoas que viram os vídeos e pensam que partilhei um saco de cocaína, que saí na mão com um presidente turco e, agora, que estou tendo uma briga doméstica com minha esposa. Tudo isso é absolutamente falso. Porém, esses três vídeos são verdadeiros. Então, todos precisam se acalmar e, sobretudo, se interessar pelo essencial das notícias, é isso.

Макрон: On fait dire à une vidéo beaucoup de bêtises. Sur ces trois vidéos, j’ai ramassé un Kleenex, serré la main à quelqu’un et juste plaisanté avec mon épouse, comme on le fait assez souvent. Moi, ça fait trois semaines : si vous faites l’agenda internationale du président de la République française, de Kyiv à Tirana jusqu’à Hanoï, il y a des gens qui ont regardé des vidéos et qui pensent que j’ai partagé un sac de cocaïne, que j’ai fait un mano à mano avec un président turc et que là, maintenant, je suis en train d’avoir une scène de ménage avec ma femme. Rien de tout ça n’est vrai. Pourtant, ces trois vidéos sont vraies. Donc, faut que tout le monde se calme et surtout s’intéresse au fond de l’actualité, voilà.


segunda-feira, 26 de maio de 2025

Rolê aleatório Zelensky/Julio Iglesias


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Xameguinho Iglesias-Kobzon em Moscou, 2015, rs.


Se você pensa que já viu de tudo em matéria de “rolês aleatórios” (sobretudo envolvendo Ronaldinho Gaúcho ou algum ministro do STF), vai aqui mais um pro seu “currico”. Em 2013, Volodymyr Zelensky, então “apenas” um ator, diretor e humorista muito conhecido na Ucrânia e na Rússia (cujo idioma também é o seu materno), foi o apresentador da seção de convidados internacionais de um festival de novos talentos chamado em russo “Nóvaia volná” (Nova Onda), ou “New Wave” pro público internacional. De 2002 a 2014, organizado conjuntamente por russos e letões, era sediado na cidade letã de Jūrmala, mas a partir de edição de 2015, com intervalos, ocorreu em outras cidades da Rússia.

Como escrevi, o “New Wave” é focado na concorrência entre grupos e cantores em começo de carreira, mas há um dia reservado pra apresentações de artistas de renome, russos ou estrangeiros, como foi o caso de Julio Iglesias em 2013. Nos cortes que fiz, “Vladimir Zelenski” começa fazendo umas gracinhas na abertura (sem contar outras piadas ao longo do vídeo integral) e então apresenta o espanhol, cuja imagem demora um pouco pra aparecer, até que enfim ele saúda o público em seu peculiar inglês. Deixei toda a saudação do astro, mas cortei a parte da música, que inclui Caruso e Crazy, esta em dueto com Aleksandr Kogan, seu fã pessoal, ao piano. O hoje presidente da Ucrânia não aparece ao lado do inspirador dos “memes de julho”, mas subitamente sobe ao palco outra lenda, o russo Iosif Kobzon, que cumprimenta e ganha um beijo de Iglesias:



No vídeo do canal oficial do show, o momento da broderagem não fica claro, mas depois ambos aparecem lado a lado, sob os elogios do “palhaço narcômano” (como o chamam os putleristas), enquanto Iglesias diz que “adora” Kobzon. Os dois cantores já se encontraram outras vezes na Rússia, onde o próprio Iglesias se apresentava com frequência. Antes de morrer, contudo, o “Frank Sinatra soviético” era um admirador do Trombadinha de Leningrado, apoiou o começo de suas ações desestabilizadoras na Ucrânia (onde ele mesmo nasceu) e foi até cantar em territórios controlados por terroristas pró-Kremlin. Nos últimos anos, emprestou seu cabelo de boneco Playmobil à intepretação daquelas maceradas canções sobre a “Grande Guerra Patriótica” em eventos estritamente enquadrados pela ditadura.

Sobre o ator e cantor de Kryvy Rih, é curioso como até 2014 ele também era uma presença constante no showbiz russo, de forma que sua apresentação do especial de Ano Novo do Canal 1, junto com Maksim Galkin (com quem ele depois romperia), volta e meia vem à tona. O ponto mais curioso é a própria canção de abertura, em que Vladimir Soloviov (de preto), então um simples jornalista e hoje um dos propagandistas mais sujos da guerra, logo aparece dançando e fazendo um “v” com ambas as mãos. Com o roubo da Crimeia, Zelensky se confinou às fronteiras pátrias e lançou a série O servo do povo, que o tornou conhecido mundialmente ao interpretar um professor que se torna presidente da Ucrânia. A obra é basicamente uma crítica severa aos políticos e à oligarquia (geralmente as mesmas pessoas) do país, cujos laços umbilicais com Moscou, lembremos, nunca foram um segredo pra ninguém.

“No tempo que Dondon jogava no Andaraí, nossa vida era mais simples de viver...”



domingo, 25 de maio de 2025

O tal referendo que manteve a URSS


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Em 2 de setembro de 2024, a Novaia Gazeta Ievropa lançou em seu canal do YouTube o terceiro vídeo de uma ótima série, apresentada pela jornalista Nadezhda Iurova, sobre os motivos que levaram ao fim da URSS e o processo de transição pra Rússia contemporânea. É claro que a série estranhamente se chama “No caminho rumo à liberdade”, tendo em vista o atual Estado terrorista formado em Moscou, tanto que os historiadores que colaboraram dentro do próprio país pra pesquisa sequer desejaram ter as identidades reveladas, temendo represálias. Esse episódio fala mais especificamente do processo político de desintegração da “união indestrutível de povos livres”, e decidi traduzir dois trechos interessantes pra enfiar de vez na cabeça de nossos stalinminions.

O primeiro trecho fala da real natureza do “direito à autodeterminação”, na verdade nunca realizável, e mostra como Beria, “bonzinho” que era pra com seu povo, até nas melhores invenções tinha segundas intenções. (Mas quem o matou também não era melhor...) O segundo trata do famoso “referendo de manutenção da URSS”, esfregado por muitos comunistas na cara de quem simplesmente demonstra a impossibilidade de manter as correntes. Primeiro, veja que nem todas as repúblicas aceitaram participar e aceleraram o próprio processo de independência. Segundo, o tratado que resultaria desse referendo sequer foi implementado, justamente por causa da tentativa de golpe dos trapalhões da “linha dura”, em agosto de 1991; ela acelerou negativamente o processo ao levar, por exemplo, à pura e simples interdição do PC soviético.

E terceiro: não tendo sido implementado o novo tratado, as repúblicas não russas simplesmente fizeram os referendos de independência. Mesmo que até na Ucrânia (como um todo, pois no oeste foi bem menos), por exemplo, a maioria votasse pela preservação da URSS, mais de 90% dos eleitores desse país referendaram a independência após a falência das iniciativas de Gorbachov. É curioso que o “Novo Tratado da União”, jamais assinado, deveria manter até mesmo a sigla URSS, com a marota mudança de nome pra “União das Repúblicas Soberanas Soviéticas” (sotsialistícheskikh se tornando suverénnykh)!


Formalmente, a URSS era uma confederação onde as repúblicas podiam deixar a União a qualquer momento. Mas, na prática, o poder do partido fez da União um estado unitário, inflexível até o final da década de 1980. Logo após a morte de Stalin em 1953, seu colaborador mais próximo, Lavrenti Beria, propôs reformar a União Soviética, dando mais direitos às repúblicas nacionais.

É improvável que essa ideia tenha ocorrido ao ministro do Interior da URSS por razões puramente democráticas. É mais provável que Beria simplesmente tenha feito lobby pelos interesses das elites das repúblicas que o apoiaram na luta pelo poder contra outros membros do Politburo. Mas nunca houve nenhuma discussão séria: Beria foi preso e fuzilado sob acusações de espionagem e alta traição.


Формально СССР был конфедерацией, где республики могли выйти из Союза в любой момент. Но фактически власть партии делала Союз унитарным государством, непреклонным до конца 80-х годов. Сразу после смерти Сталина, в 1953 году, его ближайший соратник Лаврентий Берия предлагал реформировать Советский Союз, дав больше прав национальным республикам.

Вряд ли эта идея пришла министру внутренних дел СССР из чисто демократических соображений. Вероятнее Берия просто лоббировал интересы республиканских элит, которые поддерживали его в борьбе за власть с другими членами Политбюро. Но до серьёзных обсуждений не дошло: Берию арестовали и расстреляли по обвинению в шпионаже и измене Родины.


Num contexto de conflitos interétnicos, Mikhail Gorbachov, presidente da URSS, propôs a conclusão de um novo Tratado da União. Ele poderia ter expandido significativamente os direitos das repúblicas. Em dezembro de 1990, o 4.º Congresso dos Deputados do Povo, então o órgão supremo de poder estatal do país, decide realizar um referendo sobre a preservação da URSS. As repúblicas onde havia maior tensão (Estônia, Lituânia, Letônia, Geórgia, Moldávia e Armênia) se recusam a realizar uma votação centralizada.

Em 17 de março de 1991, 148,5 milhões (ou 79,5%) de cidadãos da URSS participaram da votação. 77% se pronunciam a favor da preservação da União. Se olharmos pros resultados em cada república, a maior porcentagem de apoio à URSS foi no Usbequistão, onde 93,7% dos eleitores apoiaram a preservação da União. A Ucrânia foi o país que menos queria preservar a URSS: pouco mais de 70,2% foram a favor.

Na sequência desse referendo, em abril de 1991, começaram as negociações diretas entre o presidente da URSS e a liderança das repúblicas sobre a conclusão de um novo Tratado da União. As negociações começaram na residência de Gorbachov em Novo-Ogariovo, no entorno de Moscou. Como resultado, todos os signatários concordaram com a separação de seis repúblicas não muito grandes: Letônia, Lituânia, Estônia, Moldávia [agora Moldova], Geórgia e Armênia. O acordo deveria ser assinado cerimonialmente em agosto de 1991, mas a tentativa de golpe em agosto estragou os planos. Depois disso, a assinatura foi adiada por tempo indeterminado.

Contudo, não foi um novo tratado que acabou determinando o destino da URSS, mas os Acordos de Belavezha. Em 8 de dezembro de 1991, na residência governamental de Viskulí, na floresta de Belavezha, os presidentes da Rússia, Boris Ieltsin, e da Ucrânia, Leonid Kravchuk, além do presidente do Soviete Supremo de Belarus, Stanislau Shushkevich, assinaram um acordo que anulava o Tratado da União de 1922. No lugar da União Soviética, foi proclamada a formação da Comunidade de Estados Independentes, ou CEI. A União Soviética deixou de existir.

Apresentador: “A URSS não existe mais. As repúblicas da antiga potência, com exceção da Geórgia e dos Estados Bálticos, totalizando um número de 11, fundaram a Comunidade de Estados Independentes.”


На фоне межнациональных конфликтов, президент СССР Михаил Горбачёв предложил заключить новый Союзный договор. Он мог бы существенно расширить права республик. В декабре 1990 года 4-ый Съезд народных депутатов, теперь высший орган государственной власти в стране, принимает решение провести референдум о сохранении СССР. Республики, где было больше всего напряжения (Эстония, Литва, Латвия, Грузия, Молдавия и Армения), от проведения централизованного голосования отказываются.

17 марта 1991 года в голосовании принимают участие 148,5 миллионов граждан СССР, то есть 79,5%. 77% высказываются в поддержку сохранения Союза. Если смотреть по республиканским результатам, самый высокий процент поддержки СССР в Узбекистане: там сохранение Союза поддержали 93,7% голосовавших. Меньше всего сохранить СССР хотели в Украине: за было чуть больше 88%.

По итогам этого референдума, в апреле 1991 года начались прямые переговоры президента СССР с руководством республик о заключении нового Союзного договора. Переговоры стартовали в подмосковной резиденции Горбачёва в Ново-Огарёво. По итогу все подписанты согласились на отделение шести не самых крупных республик: Латвии, Литвы, Эстонии, Молдавии, Грузии и Армении. Торжественно подписать договор собирались в августе 1991, но помешал Августовский путч. После этого, подписание отложили на неопределённый срок.

Однако, определил судьбу СССР в итоге не новый договор, а Беловежские соглашения. 8 декабря 1991 года президенты России Борис Ельцин и Украины Леонид Кравчук, а также председатель Верховного Совета Беларуси Станислав Шушкевич, в правительственной резиденции Вискули в Беловежской пуще подписали соглашение об аннулировании Союзного договора 1922 года. Вместо Советского Союза было провозглашено образование Содружества независимых государств, или СНГ. Советский Союз прекратил существование.

Телеведущий: “СССР больше нет. Республики бывшей державы, с исключением Грузии и стран Балтии, их 11 учредили Содружество независимых государств.”



“Ilustração meramente ilustrativa”. Por favor, não dê chiliques!

sábado, 24 de maio de 2025

Cresce deserção de soldados russos


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ATENÇÃO: CENAS FORTES! Certos conteúdos são tão raros na mídia bananeira, e têm tão pouca probabilidade de aparecer até mesmo nos telejornais mainstream “da gringa” (odeio esse termo!), que às vezes é melhor fazer de tudo pra os traduzir, tamanha é sua contribuição pra desmontar a propaganda do Kremlin. Na edição de sexta-feira, 23 de maio, do boletim de notícias da Radio Svoboda (sucursal em russo da Liberty/Free Europe), revela-se o aumento de deserções entre os porcos que invadiram a Ucrânia, conforme investigação de um famoso portal anti-Putin.

O vídeo com o trecho apresentado pela repórter Melani Bachina segue abaixo, e sugiro cautela ao assistir, pois há cenas de maus tratos a desertores. Na primeira, o comandante zoa da cara dos soldados, lhes dando restos de comida, e na segunda, um fugitivo não identificado relata os abusos dos comandantes, que também são resumidos no texto. Mantive ambos no corte, mas decidi não os transcrever nem traduzir, porque a linguagem era oral demais. Estão indicados com as reticências entre colchetes, e minhas observações também estão entre colchetes. Nesta reportagem da Deutsche Welle em russo, o mesmo assunto é abordado (você pode traduzir com o Google).

Falando em tradução, vou resumir como obtive o texto. Eu extraí as legendas por meio de IA usando o programa Microsoft Clipchamp do Windows 11, que não é perfeito, mas já ajuda pra caramba, poupando dedos e ouvidos. Após polir o texto, eu o joguei no Google Tradutor, cujo resultado cotejei com o original e ao qual dei a forma final abaixo. Tenho usado tanto essas “tecnologias modernas” que nem vou mais as citar, exceto se tiver aparecido um recurso excepcional que achei imprescindível partilhar. No futuro, vou falar mais em “eu mesmo traduzi”, quaisquer que tenham sido as ferramentas, ou em “eu adaptei a tradução”, se já houver alguma publicada, mas que julguei por bem revisar cotejando com o original:


Desde o início da invasão em grande escala, pelo menos 49 mil pessoas fugiram do Exército Russo, de acordo com cálculos de jornalistas do portal Vazhnye istorii. A publicação cita vazamentos de vases de dados, mas observa que o número real de desertores pode ser consideravelmente maior. [...] Pra efeito de comparação, 49 mil pessoas é aproximadamente o tamanho de um corpo de exército [escalão hoje inexistente no Exército Brasileiro], que inclui várias divisões.

Essa estimativa do número de desertores coincide com dados da comunidade OSINT [Inteligência de Fontes Abertas] ucraniana Frontelligence Insight. Eles relataram 50,5 mil desertores em todo mês de dezembro de 2024. E o número de desertores está crescendo: a organização de direitos humanos “Idite lesom” (“Sigam pela floresta”), que ajuda os russos a evitar serem enviados para o front, relata que, no ano passado, recebeu 2,5 vezes mais pedidos de aconselhamento sobre esse assunto.

Combatentes russos reclamam, entre outras coisas, de ameaças feitas pelos comandantes, por exemplo, quando se recusam a cumprir uma ordem de atacar sem cobertura. Os combatentes são colocados em porões ou fossos e enterrados no chão. Uma nova mensagem de vídeo com uma reclamação contra o comandante apareceu no dia anterior no canal do Telegram “Ne zhdi khoroshikh novostei” (“Não espere boas notícias”). Deve-se ressaltar que, em condições de guerra, é impossível verificar prontamente a veracidade do que foi dito. [...]

No final de 2024, o projeto “Khochú zhit” (“Eu quero viver”) publicou listas com os nomes de quase 30 mil militares do Exército Russo que eram procurados por seus comandantes ou pela polícia militar como desertores e que deixaram suas unidades sem permissão. Mais de um quarto deles vem das províncias de Donetsk e Luhansk. No ano passado, foi registrado em tribunais militares russos um total de 10 308 processos criminais por recusa de serviço. É quase o dobro do total do ano anterior.


С начала полномасштабного вторжения из Российской армии сбежали по меньшей мере 49 000 человек, подсчитали журналисты “Важных историй”. Издание ссылается на утечки из баз данных, но при этом отмечает, что по факту количество дезертиров может быть значительно большим. [...] Для сравнения, 49 000 человек – это примерно как состав армейского корпуса, в который входит несколько дивизий.

Такая оценка количества дезертиров совпадает с данными украинского OSINT-сообщества Frontelligence Insight. Они сообщали о 50 500 сбежавших по состоянию на декабрь 2024. И количество дезертиров растёт: правозащитная организация “Идите лесом”, которая помогает россиянам избежать отправки на фронт, сообщает, что за последний год к ним стали в 2,5 раза чаще обращаться за консультациями на этот счёт.

Российские военные, в том числе, жалуются на угрозы со стороны командования, например, при отказе выполнять приказ идти в штурм без прикрытия. Военных сажают в подвалы, ямы, закапывают в землю. Очередное видеообращение с жалобой на командира появилось накануне в Телеграм-канале “Не жди хороших новостей”. Отмечу, что проверить достоверность, сказанного в условиях войны, оперативно невозможно. [...]

В конце 2024 года проект “Хочу жить” опубликовал поимённые списки почти 30 000 военнослужащих Российской армии, которых их командиры или военная полиция объявили в розыск как дезертиров и самовольно оставивших часть. Более четверти из них выходцы из Донецка и Луганской областей. Всего за прошедший год в российские военные суды поступили 10 308 уголовных дел об отказе от службы. Это почти вдвое больше, чем годом ранее.



sexta-feira, 23 de maio de 2025

Livros didáticos do mundo paralelo


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No universo paralelo da ditadura moscovita, os novos livros escolares públicos de História apresentados hoje [2023] contêm citações do Grande Líder, acompanhadas de fotos suas de quando ele ainda tinha cara de manga chupada, e os mapas apresentam as regiões roubadas à Ucrânia como novas partes do grande Império!

Bem, esta publicação do referido ano está sendo reciclada porque hoje consegui finalmente traduzir uma reportagem transmitida pelo canal britânico Sky News em 2 de setembro de 2024 e apresentada por Ivor Bennett, genial correspondente em Moscou e um dos que encarou o Capeta na famigerada coletiva de imprensa de fim de ano. Embora as imagens sejam de uma reportagem da France 24 de novembro de 2023, achei que elas viriam a calhar com o relato da volta às aulas seguinte, pois trazem exatamente o citado capítulo sobre a “operação militar especial”. Aliás, as férias de verão estão chegando no Hemisfério Norte, e o ano letivo que Bennett viu começar está prestes a terminar...

Desde então, muita coisa mudou. A Ucrânia ocupou longamente boa parte da província russa de Kursk. A fragilidade russa se revelou quando Putler mandou moleques no serviço militar e até escravos norte-coreanos pra “libertar a Pátria”, ao custo de milhares de vidas. E na região ainda há ucranianos, que começam a adentrar a província de Belgorod aos poucos. O presidente dos EUA é outro, mas sua aparente propensão pró-Moscou não ajudou em nada a rapina imperial. Os jovens têm cada vez mais depressão, fogem cada vez mais pro exterior e têm cada vez menos filhos. A economia resiste, mas está cada vez mais arranhada. Os “objetivos iniciais da operação” estão fora de cogitação, assim como a própria tomada completa das quatro regiões ucranianas “incluídas na Constituição”. O Ossidentx Mauvadaum nunca esteve tão coeso na defesa militar. E, como tenho publicado aqui, a elite política se entrega a delírios cada vez mais ridículos.

É curioso que, embora o pretexto da agressão tenha sido “desnazificar o regime de Kyiv”, nesse meio-tempo a fascistização do regime putinista seguiu a passos acelerados e a repressão superou até os níveis sob Leonid Brezhnev. E mais curioso ainda: o burocrata entrevistado por Bennett é Vladimir Medinski, doutor em História que esteve justamente esses dias na Turquia com a delegação que encenou aquela “negociação” fajuta! Bem, pelo menos é melhor mandar um historiador do que um ex-corretor imobiliário, como fez a Galinha Ruiva mandando o tal Steve Witkoff pro Kremlin. Sem mais, aproveite esta noa tradução, embora atrasada, com o original em inglês abaixo:


Pra celebrar o novo ano letivo na Rússia, as crianças trazem flores a seus professores, mas este ano estão recebendo algo em troca. É uma nova matéria sobre a segurança e a defesa da pátria: elas vão aprender sobre drones de combate, regras do Exército e como manusear um Kalashnikov.

“Você nunca sabe em que tipo de situação pode se encontrar, então acolho isso com satisfação. É ótimo! Sem educação militar básica, nossos filhos não são nossos filhos. Isso alimenta o patriotismo.”

Na República de Tyva, uma aula do líder da Rússia sob o título “Conversa sobre Coisas Importantes” [Razgovór o vázhnom]. “Quanto você dorme pra se manter em tão boas condições?”, perguntou um menino. “Seis horas”, respondeu Vladimir Putin. Um momento mais leve em meio a tópicos mais pesados, como a incursão da Ucrânia no sul da Rússia, onde muitas escolas estão fechadas. “É claro que nosso país e as Forças Armadas vão fazer de tudo pra garantir que sejam restauradas uma vida normal nessas regiões e uma vida normal pra essas crianças. Tenho certeza de que isso vai acontecer. Não há dúvida.”

Mas não é o que parece. No fim de semana, houve um ataque massivo de drones, alguns dos quais atingindo Moscou. E tropas ucranianas já controlam território russo há quase um mês. Nos últimos dois anos e meio, a guerra tem sido uma perspectiva distante pra muitos russos, com a vida aqui continuando normalmente. Mas os eventos recentes a aproximaram muito mais de seus lares.

O Kremlin, porém, continua minimizando a ameaça: não quer que o público entre em pânico, e então continua apresentando sua própria versão dos eventos, tanto presentes quanto passados. Isso inclui reescrever livros didáticos de história, que afirmam que a Rússia não começou a guerra.

“Por que há necessidade de novos livros de história? A história não muda, muda?”

“Bem, sim, a história não muda, mas precisamos da verdade e precisamos que a história seja uma ciência, e não ideologia ou propaganda.”

“Por que então, ao longo do capítulo sobre a operação militar especial, não há menção ao fato que a Rússia disparou o primeiro tiro, que a Rússia invadiu seu vizinho? Isso é reescrever a história, não é?”

“Agora... Leia-o atentamente e você vai entender. Leia-o, certo?”

Pra quem leu, é o mais recente vislumbre da realidade alternativa do Kremlin.


To mark the new school year in Russia, children bring flowers for their teachers, and this year they’re getting something in return. It’s a new subject on the security and defense of the motherland: they’ll learn about combat drones, Army rules, and some how to handle a Kalashnikov.

“You never know what kind of situation you might be in, so I welcome it. It’s great! Without basic military education, our children are not our children. This breeds patriotism.”

In the Republic of Tuva, a lesson from Russia’s leader called “Conversations about Important Things”. “How much do you sleep to stay in such good condition?,” one boy asked. “Six hours,” Vladimir Putin replied. A lighter moment among heavier topics like Ukraine’s incursion in southern Russia, where many schools are closed. “Of course, our country and the Armed Forces will do everything to ensure normal life in these regions and normal life for these children is restored. I’m sure this will happen. There’s no doubt.”

But that’s not what it looks like. Over the weekend, a massive drone attack with some reaching Moscow. And Ukrainian troops have held Russian territory for nearly a month now. For the past two and a half years, the war has been a distant prospect for many Russians, with life here continuing as normal. But recent events have brought it much closer to home.

The Kremlin, though, continues to downplay the threat: it doesn’t want the public to panic, then continues to put forward its own version of events, both present and past. That includes rewriting history textbooks, which claim Russia didn’t start the war.

“Why is there a need for new history books? History doesn’t change, does it?”

“Well, yes, history doesn’t change, but we need the truth and we need history to be science, not to be ideology or propaganda.”

“Why then, during the chapter on the special military operation, is there no mention of the fact that Russia fired the first shot, that Russia invaded its neighbor? That’s rewriting history, isn’t it?”

“Now... Read it carefully and you understand. Read it, okay?”

For those who do, it’s the latest glimpse into the Kremlin’s alternate reality.



quinta-feira, 22 de maio de 2025

A URSS pode não ter sido extinta?


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Em meio à embriaguez causada pela agressão e pilhagem à Ucrânia e pela total inutilidade de seus cargos, os políticos próximos ao ditador Putin estão se entregando a surtos que causariam somente riso se não se baseassem numa vontade bem real de tiranizar e saquear cada vez mais pessoas, em qualquer lugar do mundo. Um tal Anton Kobiakov, assessor presidencial, delirou após um fórum jurídico internacional, dizendo que não havia bases legais sustentando a dissolução da URSS e que, portanto, os acordos de Belavezha eram inválidos. Assinados em Belarus pelos presidentes desse país (Stanislau Shushkevich), da Rússia (Boris Ieltsin) e da Ucrânia (Leonid Kravchuk), representaram a verdadeira sentença de morte da “união indestrutível de povos irmãos”, e não o discurso de renúncia de Mikahil Gorbachov. Apunhalado pelas costas pelo ex-aliado pinguço, o odiado político já tinha se tornado líder de um país inexistente...

O comunista (o que mais podia ser?) Vladislav Iegorov, deputado da Duma Estatal, reverberou a mentira e disse que o assunto deveria ser levado a sério pelos órgãos estatais. Em brilhante entrevista à exilada Novaia Gazeta Ievropa, uma das poucas fontes em russo ainda disponíveis sobre o que realmente acontece dentro do Khuilostão, a jurista Ielena Lukianova demonstrou por que isso não passa de um absurdo e como o tal assessor Kobiakov sequer entende do que está falando. Pra desmentir antes que algum maluco webcomunista ou putinminion divulgue por aqui com atraso, eu mesmo traduzi os dois artigos trazendo as visões contrastantes, tendo sido o primeiro lançado pelo serviço de imprensa da bancada do KPRF na Duma. As observações entre colchetes são minhas:



Vladislav Iegorov sobre a declaração de Kobiakov: a Rússia deve renunciar publicamente aos Acordos de Belavezha e formalizar legalmente essa decisão – A URSS continua existindo, e a operação militar especial na Ucrânia é um “processo interno”, diz o assessor de Putin.

Quando a União Soviética se dissolveu, o procedimento legal foi violado, o que significa que a URSS ainda existe, disse o assessor presidencial Anton Kobiakov numa entrevista coletiva após o Fórum Jurídico Internacional de São Petersburgo.

Kobiakov disse que a URSS foi criada por decisão do Congresso dos Deputados do Povo, portanto, deveria ter sido dissolvida por decisão do mesmo órgão. Além disso, ele disse que os Conselhos Supremos [parlamentos] das repúblicas soviéticas não tinham autoridade para ratificar os Acordos de Belavezha. Assim foi comunicado no canal do Telegram “Путин в Telegram”. Vladislav Iegorov, deputado da Duma Estatal da Federação Russa e chefe do comitê provincial de Nizhny Novgorod do Partido Comunista da Federação Russa, comentou a referida declaração do assessor presidencial:

“A declaração do assessor presidencial sobre a invalidade jurídica dos Acordos de Belavezha de 1991 sobre a dissolução da URSS pode ter consequências de longo alcance. Na década de 1990, o PC da Federação Russa apresentou um projeto de denúncia desses acordos à Duma Estatal para discussão. Embora com dificuldade, o projeto foi apoiado pela maioria dos deputados. Porém, Ieltsin apresentou uma iniciativa sobre ‘manter a estabilidade do sistema político na Rússia’, que também foi aprovada por maioria e desautorizou a decisão anterior da Duma.

“O fato de essa questão estar sendo levantada hoje na Administração Presidencial é absolutamente correto. No contexto da operação militar especial, o repúdio público ao documento assinado por Ieltsin indicaria o desejo da Rússia de recuperar a importância geopolítica que detinha durante a era soviética. Acredito que chegou a hora de adotar uma declaração correspondente no nível da Assembleia Federal.”


“Legalmente, a URSS ainda existe” – Assim pensa Anton Kobiakov, assessor de Putin. A “Novaia” conversou com a jurista Ielena Lukianova sobre a razão disso não ser verdade.

Em 21 de maio, numa entrevista coletiva após o Fórum Jurídico Internacional de São Petersburgo, o assessor presidencial russo Anton Kobiakov declarou que a URSS continua existindo e, portanto, a invasão da Ucrânia é um “processo interno”. Ele se apoiou nas opiniões de certos especialistas em direito constitucional.

A Novaia, junto com a constitucionalista Ielena Lukianova, explica por que a URSS não existe mais.

“Se a URSS não foi dissolvida” – Anton Kobiakov afirmou que a URSS, do ponto de vista jurídico, pode continuar existindo, já que sua dissolução em 1991 não obedeceu ao procedimento estabelecido.

“Se o Congresso dos Deputados do Povo, também conhecido como Congresso dos Sovietes, fundou a URSS em 1922, então ela deveria ter sido dissolvida por decisão em congresso desses mesmos deputados”, disse Kobiakov.

Segundo ele, a assinatura dos Acordos de Belavezha em 8 de dezembro de 1991 foi um “evento estranho”, e sua ratificação pelos Sovietes Supremos da RSFS da Rússia, da RSS da Ucrânia e da RSS da Bielorrússia, uma fuga do limite das competências desses órgãos.

“E se o procedimento legal foi violado, conclui-se que legalmente a URSS ainda existe. É o que dizem os especialistas em direito constitucional. [...] Mas se a URSS não foi dissolvida, então logicamente, do ponto de vista jurídico, conclui-se que a crise ucraniana é um processo interno”, disse.

Kobiakov acrescentou que a dissolução da URSS precisa passar por uma avaliação jurídica completa e enfatizou que tal discussão já começou no âmbito do fórum.

“Enquanto não acabarmos com isso nem definirmos, do ponto de vista jurídico, em que consiste a dissolução da URSS, continuaremos tendo esses problemas”, disse.

Por que a URSS não existe mais? – “Precisamos citar pelo menos seis ou sete leis. Mas o principal é que a URSS não existe, porque o tratado de formação da URSS em 1922 foi denunciado pelo Soviete Supremo da RSFS da Rússia”, explica Ielena Lukianova, doutora em Direito.

Mesmo assim, ela observa que a extensão em que a assinatura dos Acordos de Belavezha foi legítima continua sendo uma questão controversa. “Naquela época, havia na URSS não três, mas 12 repúblicas. Os países bálticos já tinham conquistado a independência. Mas pelo menos essas três repúblicas tinham o direito de dizer que não faziam mais parte da União Soviética. A formulação pode ter sido radical, mas àquela altura a Ucrânia já tinha adotado uma declaração de independência e votado num referendo. A Rússia também teve uma declaração de independência. Mas apesar dessa história controversa, o fato é que a URSS não existe.”

Lukianova também ressalta que o próprio Kobiakov não é jurista nem tem formação jurídica. O assessor de Putin é kandidat em Biologia e doutor em Economia.

“Ele não sabe nada sobre a formação da URSS, porque afirma que o tratado sobre a formação da URSS foi concluído pelo Congresso dos Deputados do Povo, também conhecido como Congresso dos Sovietes. Em primeiro lugar, há uma grande diferença entre ambos. Em segundo lugar, o acordo foi concluído não pelo Congresso dos Sovietes (29 de dezembro de 1922), mas na véspera, numa reunião de representantes de quatro repúblicas: Rússia, Bielorrússia, Ucrânia e Transcaucásia. Geórgia, Azerbaijão e Armênia tinham assinado o acordo cada uma separadamente”, enfatiza a jurista.

Na mesma declaração, Kobiakov mencionou que a URSS deveria ter sido dissolvida pelo mesmo órgão que a criou. Lukianova observa que a regra de que qualquer tratado internacional deve ser contestado da mesma maneira como foi assinado só foi introduzida em 1969, na Convenção de Viena sobre o Direito dos Acordos Internacionais. As disposições dessa convenção não se aplicam aos documentos assinados antes de sua adoção.

“Além disso, é totalmente falso que o tratado de formação da URSS seja internacional. Trata-se mais de um documento fundador”, afirma a entrevistada da Novaia.

Perseguições – A ideia de Kobiakov de que a URSS ainda existe não é nova. Ainda na década de 1990, começaram a surgir na Rússia comunidades dos chamados “cidadãos da URSS” – pessoas que acreditam que a União Soviética continua existindo e que o governo atual é ilegítimo ou controlado por forças externas. Eles estão convencidos de que a Federação Russa não é um Estado, mas uma estrutura comercial e, portanto, se recusam a pagar impostos e quitar dívidas.

Na primeira metade de 2020, o número de processos criminais contra “cidadãos da URSS” na Rússia aumentou drasticamente – mais de dez em seis meses. Na época, em Kirov, três pessoas foram acusadas de participar da organização extremista proibida “União das Forças Eslavas da Rus”, e em Samara, um processo foi aberto pela repostagem de um vídeo sobre a restauração da URSS.

Aleksandr Verkhovski, do Centro Sova, acreditava que o FSB percebia os “cidadãos da URSS” como uma ameaça potencial devido a sua atividade e opiniões de oposição.

No verão de 2022, um tribunal da província de Samara declarou o grupo de “cidadãos da URSS” de Novokuibyshevsk, conhecido como “União das Linhagens Luminosas Soviéticas” [SSSR, na sigla em russo, igual à da URSS], como uma organização extremista. Depois disso, começou uma perseguição massiva em todo o país por participação em atividades da organização extremista ou em sua criação.

Em 2024, em Ecaterimburgo, 11 membros do movimento foram condenados a penas entre dois a seis anos de prisão por participarem da organização extremista. Na República de Altai, Andrei Kartopolov [não confundir com Andrei Kartapolov deputado da Duma pelo Rússia Unida e um dos defensores mais vocais da invasão à Ucrânia] recebeu dois anos e meio de prisão por participar de reuniões e divulgar a ideologia dos “cidadãos da URSS”. Em Omsk, três ativistas receberam sentenças entre nove meses de trabalhos forçados a um ano e dois meses de prisão por participar da organização proibida.

Em 23 de abril de 2025, no Tribunal Distrital de Basmanny, policiais espancaram Aleksandr Tsopov, de 70 anos, advogado de defesa e ex-funcionário do FSB que representava Valentina Reunova, autoproclamada chefe do Presidium do Soviete Supremo da URSS. A briga começou depois que os policiais expulsaram rudemente os visitantes e Tsopov tentou proteger a filha de Reunova da retirada forçada. Durante a briga, um policial ameaçou Tsopov e agrediu-o, e outra funcionária chutou-o. Tsopov ficou ferido e foi levado ao Instituto Sklifosovski, mas depois escreveu uma declaração contra o policial por abuso de autoridade – e ele próprio ficou detido durante a noite.

Mais tarde, foi aberto contra ele um processo criminal por violência contra funcionário do governo (artigo 318 do Código Penal), e ele recebeu um compromisso por escrito de não deixar a cidade.



O porteiro do hospício faltou???

quarta-feira, 21 de maio de 2025

Trolando a Si Liao e um bragantino


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Este é o trecho quase final de uma live do canal Clube de Chinês (recomendo mais que tudo, junto com a Xiao Mandarim!) em 27 de junho de 2022, apresentada pela imigrante chinesa Liao Si (mais conhecida por “nome e sobrenome” mesmo, ou seja, Si Liao) e seu marido brasileiro Lucas Brand e que só tive tempo de editar hoje. Ela é a mesma criadora do canal Pula Muralha, mas este é mais dedicado à cultura chinesa e à vida do casal entre os dois países. Naquela época, eu estava consumindo os materiais dela mais intensivamente, e no referido dia um policial militar natural de Bragança Paulista, SP, onde vivo desde 1994, contou ao público sua experiência no aprendizado e uso do idioma mandarim (a forma padronizada do chinês, entre os muitos dialetos no interior e convivendo com línguas aparentadas).

Minha cidade de adoção é famosa por sua linguiça calabresa, porque no passado fomos um grande centro de criação suína, com vendas pra todo o país. Sinceramente, enquanto amante mais estritamente das culinárias italiana e mineira, não vejo nada de especial na receita tão louvada, e apesar de algumas ótimas lojas e restaurantes (como a do Rosário e a Famosa, perto de meu bairro), eles mais é inventam um monte de “firulas” pra pegar turista: pratos banais preparados de várias formas com linguiça calabresa, um monte de porcaria colocada no embutido (e se exageram na pimenta, eu detesto!), embalagens que lembram mais o MC Lanche Feliz etc. Mesmo assim, com uma conta que já não era o finado Pan-Eslavo Brasil, resolvi trolar meu vizinho de cujo nome sequer lembro mais, rs.

Eu perguntei pra Si (ou “Sissi”, como às vezes a professora é conhecida) como se diz “linguiça calabresa” em mandarim, provocando um riso com sua típica sonoridade oriental... No fim, o estudante até brincou que “sempre tem um bragantino” pra aparecer e zoar, mas ela nos ensinou apenas como se diz “linguiça” naquele idioma, não podendo na hora traduzir “calabresa” (que significa “da Calábria”, isto é, uma das regiões mais ao sul da Itália). Eis o resultado:



terça-feira, 20 de maio de 2025

A volta do Danny Danoninho


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Como você pode ver acima, a anexação de Israel por “Gavva” já começou, e todos os extremistas já estão se assimilando a outros extremistas. Mas parece que a língua presa não é exclusiva dos irmãozinhos do sul: esse embaixador Danny Danoninho... ops, Danon fica cada vez mais fofo na Sky News tentando defender a “intidadj cyoneshta”, rs:


Mudando de assuntos: ótima nova iniciativa do canal belarusso Vot Tak (exilado em Varsóvia): um programa diário de cerca de 15 minutos sobre a Moldova (E NÃO Moldávia), ainda em experiência piloto. Um país que está “em acelerada transformação” (segundo eles mesmos), mas geralmente é esquecido mesmo pelas grandes mídias europeias:


Esta palestra sobre o jenossídeo dos tártaros da Crimeia pelos bolcheviques malvadões foi transmitida hoje, recomendo:


segunda-feira, 19 de maio de 2025

Eu, poetinha: sonetos de 2004 (3)


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A primeira vez em que publiquei sonetos inéditos escritos no ano de 2005 (eu tinha 17 anos) foi ainda em agosto de 2018, achando-os menos “bregas” (hoje se diria “cringe”) por eu os ter escrito como atividade de Português. No final de 2004, durante o ano de 2005 e ocasionalmente em anos posteriores, tive “surtos líricos” em que escrevi diversos sonetos relativos aos temas mais díspares e prosaicos: tratava-se tanto de dar vazão a uma criatividade contida quanto de praticar a versificação e aspectos linguísticos a ela ligados.

Pra terminar a série, seguem alguns sonetos e “haicais” (de haikai) (ou “haikus”, micropoemas de origem japonesa com três linhas) que realmente ficaram legais e que escrevi em 2004 pra matéria de Português, pro mesmo professor Syll, rs Silvano. Gostei muito do conceito de haicai quando o descobri, e cheguei a ter um caderninho com dezenas em português (ainda em 2017, publiquei aqui diversos haicais da época que escrevi, porém, em esperanto), começando já em janeiro de 2004, com ideias aleatórias que surgiam do nada. Pena que não o guardei e que não reproduzi a maioria (na verdade, nenhum, acho), talvez porque muitos expressavam até sentimentos melancólicos que tinha então...

Mas voltando à diversão, seguem abaixo alguns dos que eu adorava fazer e dos quais, obviamente, o Silvano gostava muito. Veja que numa das folhas tá escrito até “Show!!! 9,0” (curioso, né? Se tava show, eu merecia no mínimo 10, rs). Na segunda folha, a “Nota” que parece ter sido preenchida com um “Sh” cursivo na verdade é o visto do professor... É notável também a leviandade com que eu preenchia alguns dados da folha, e resolvi não os editar pra deixar minha bobeira à apreciação geral. Atualizei a ortografia, mas não fiz nenhuma alteração na redação e no conteúdo:


Soneto do observador (sem data)

Vendo aquela pintura na parede,
Meus olhos começaram a buscar
Elementos, cada um com seu par,
Criando juntos uma grande rede.

De compor e decompor tenho sede,
De saber o que o retrato a expressar
Nos diz sobre um rosto em seu limiar,
De decifrar uma paisagem verde.

Li famílias em descanso sublime,
Conheci Sampa no auge do esplendor,
Vi Nadar na câmera pegar firme.

De todas as artes não sou senhor,
Mas nem se me atarem as mãos com vime
Seu porte não perderá meu amor.


Novos olhos (mesmo papel)

Decompor o artístico
e ler de todos os ângulos:
foi isso que eu fiz.


Tetralogia do doce (21/5/2004)

I
Dizem que se come.
Mas vermelha de vergonha?
É melhor assim...

II
Só numa dentada
sinto o doce de uma vida
ideal pra mim.

III
Pego-a em minhas mãos
deslizando sobre os dedos,
sem o que te cobre.

IV
Sentirei saudades
do frescor e do açúcar:
sempre a lembrarei.


domingo, 18 de maio de 2025

Eu, poetinha: sonetos de 2005 (2)


Endereço curto: fishuk.cc/eupoeta2

A primeira vez em que publiquei sonetos inéditos escritos no ano de 2005 (eu tinha 17 anos) foi ainda em agosto de 2018, achando-os menos “bregas” (hoje se diria “cringe”) por eu os ter escrito como atividade de Português. No final de 2004, durante o ano de 2005 e ocasionalmente em anos posteriores, tive “surtos líricos” em que escrevi diversos sonetos relativos aos temas mais díspares e prosaicos: tratava-se tanto de dar vazão a uma criatividade contida quanto de praticar a versificação e aspectos linguísticos a ela ligados. Ao mesmo tempo, enquanto menino de poucos namoros, eu parecia idealizar encontros e relações amorosos...

Alguns realmente terminei jogando fora, mas outros guardei digitalizados, e os que restaram aparecem aqui hoje. Realmente, devido à pieguice da linguagem e à estranheza dos temas, tive vergonha de os expor até agora, mas preciso fazer você rir um pouco! Em cada soneto, o ritmo da métrica é constante, mas talvez a escolha de fazer algumas ligações, elisões ou reduções possa não ter sido feliz. Amanhã vou publicar outros que fiz pra escola, além de “haicais” (ou “haikus”, micropoemas de origem japonesa com três linhas) pra mesma ocasião: esses, sim, ficaram legais. Atualizei a ortografia, mas não fiz nenhuma alteração na redação e no conteúdo:


Soneto aos sotaques brasileiros (29/4/2005)

Os falares do Brasil são diversos
E as palavras são muito diferentes.
As pronúncias, variadas entre as gentes,
Não podem ser descritas nestes versos.

O “tchê” e o “uai”, para mim, são congruentes:
Semanticamente, não são diversos.
O “mano” e o “cabra” se encontram imersos
Até nas bocas dos inteligentes.

Sendo puxada para o italiano,
Baseada no espanhol ou no holandês,
A fala muda, tal como um cigano.

Seja praticada pelo cortês,
Seja modificada pelo insano,
Quão rico é o idioma português!

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Soneto à má distribuição
demográfica brasileira
(25/4/2005)

Um Brasil Central vazio, sem população,
E muita gente e pobreza no litoral:
É um problema que tomou dimensão formal
E que, com muito trabalho, tem solução.

Deslocar ao centro aquele que não é mau:
Trabalho em ferrovia e pavimentação
Para trazer a soja e toda produção
Do Norte, das chapadas e do Pantanal.

Rios como vias de transporte aproveitadas,
Urbanização onde ocupar é possível:
Famílias em novos serviços empregadas.

Ocupações que melhorem da vida o nível
São a chave para o sucesso de empreitadas
Que visem redistribuir um povo incrível.

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Soneto ao amor de mulher (31/5/2005)

As mãos que ternamente acariciam
Meus braços, meus cabelos e meu peito,
Agarram-me e seguram-me de jeito
Para viver as noites que aliciam.

Meu corpo também é seu de direito
E o seu é meu, pois minhas mãos o amaciam
E, enquanto meus pulmões mágoas tossiam,
Dava-me a cura: desfrutes no leito.

Seu coração repleto de verdades
É fogareiro aceso que me esquenta
Sem ver nossa diferença de idades.

Seu beijo é lança que arrebenta
Todas as minhas insalubridades
E todos meus dizeres acalenta.

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Soneto ao uso da energia nuclear (1/6/2005)
(inspirado pelo workshop de bomba atômica, rs)

Núcleos são o problema do momento,
Pois fala-se sobre suas consequências
Durante o uso sem interferências
Para a geradores dar movimento.

Seu emprego já gerou displicências,
O que para muitos foi um lamento,
Porque suas radiações são um tormento
E preocupam as cabeças das potências.

Creio que o Brasil não precisa disso
Por possuirmos coisas alternativas,
Como um sistema de rios movediço.

Eu não sou contra suas forças altivas,
Mas se um dia houver uso mais maciço,
Controlemos suas partes destrutivas!

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Amor em Arcádia (31/7/2005)

Ao raiar dos olhos lacrimejantes,
A moça sobre a grama, mãos no rosto.
“Bela, qual a razão de teu desgosto?”,
Pergunto-lhe, sem que ela me visse antes.

“Choro pelo castigo a mim imposto
De viver sobre os campos verdejantes
Sozinha, à mercê dos ventos cortantes”,
Responde, doce, um pouco a contragosto.

“Não mais desprezada estás, ficarei,
Ó, dona destes lábios que murmuram
Méis e néctares para o meu frescor.”

“Por isso, em meu peito te guardarei,
Ó, pastor dos prados limpos que asseguram
Momentos naturais ao nosso amor.”

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Soneto de Natal (24/12/2005)

O Verbo de Deus se fez carne e habitou
Entre os viventes que a Ele próprio mataram,
Aquele que, ao aparecer, anjos louvaram
E, ao falecer, em três dias ressuscitou.

Ave à Mulher que, na gravidez, rejeitaram,
A quem o Anjo a gerar o Senhor incitou,
Cujo ventre o Espirito Santo fitou
E fez nascer o Homem-Deus que profetizaram.

Salve, Belém, cidade santa, manjedoura
Sobre a qual nasceu o Profeta Salvador,
Arauto da prosperidade duradoura.

Ao Nascido, meio mundo dá seu louvor
E agarra os dedos de Sua mão acolhedora
Em busca do verdadeiro divino amor.

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Soneto de Dia de Ano (1/1/2006)

Um ano vai-se para dar lugar
A mares de promessas e pedidos
A ser por divindades atendidos,
Agentes da vivência salutar.

Então, mais nos tornamos aguerridos,
Com forças e vontade de lutar
Por tudo o que se preste a melhorar
As sinas nossa e dos irmãos sofridos.

Mais uma cachoeira de esperança,
Depósito das oportunidades,
Presente dos que esperam por bonança.

Os sonhos verterão realidades
A quem não se debate nem se cansa
Até diante de adversidades.



sábado, 17 de maio de 2025

Ericsson e Nokia derretiam cérebro?


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Prosseguindo com os textos de meu ensino médio (2003-2005) que ainda julgo serem interessantes, trago hoje uma curiosa pérola intitulada “Os malefícios do telefone celular”, datada de 2 de fevereiro de 2005 e escrita pra matéria de Física, então lecionada pela meteórica Viviane (sim, a mesma que trouxe o instrutor de bomba atômica...). Não alterei as palavras, mas apenas atualizei a ortografia. Apesar da ostentatória nota dez, acredito que tenha sido um mero texto pra uma atividade pontual, talvez um projeto de “panfleto” que poderia ser distribuído ao público. A letra horrível do texto é minha, mas a dos nomes e da data, não: Alexânia (ou Alexxânia) era uma grande amiga minha, muito inteligente, enquanto as outras duas, a julgar por seu empenho nos estudos, provavelmente “parasitaram” a atividade, rs.

Telefones celulares não eram novidade e os célebres “tijolões” já tinham se tornado peça de museu. Mesmo os alunos adolescentes já os tinham (ligar pros pais buscarem na escola ou na balada...), mas aqueles de telinha azul ou cinza, com caracteres pretos e cabendo na palma da mão, estavam no ápice da sensação. Smartphones só viriam em 2007, e mesmo por um tempo foram “apanágio” de uns poucos endinheirados ou com profissão mais executiva (a primeira pessoa que vi usando foi minha psicóloga, em 2010, imagine por quê, rs); antes deles, o máximo que um “simprinho” podia ter era um jogo bem babaca. A maior diversão proporcionada por eles era colocar como toque de chamada, ao som de “bip-bip”, Danúbio Azul ou La Cucaracha.

Porém, por vários anos, houve dúvidas quanto aos danos da radiação, tanto de aparelhos quanto de torres, à saúde humana, incluindo temores de casos de câncer. Hoje se sabe que os celulares (ao menos os modernos) emitem uma radiação de perigo mínimo, salvo pela exposição excessiva à luz das telas que pode prejudicar o sono. Os receios expostos no texto, que hoje parecem humorísticos, podiam de certa forma ser transferidos pro uso excessivo de smartphones, embora eu acredite que o distanciamento dos adolescentes pudesse ser interessante: antes mesmo dos computadores de mesa, o maior incômodo dos pais “noventistas” eram meninas que passavam o dia todo tagarelando na linha fixa, rs.


Depois de experiências feitas com ratos submetidos às ondas eletromagnéticas emitidas pelo telefone celular, comprovou-se que seu uso excessivo pode causar vários efeitos nocivos à nossa saúde. Neste manual, vamos listar alguns desses malefícios e enumerar algumas medidas para evitá-los.

As experiências com cobaias ocasionaram as seguintes alterações nesses animais:

  • Queda de 26% na fertilidade de filhotes nascidos de animais expostos à radiação;
  • Atraso no amadurecimento dos óvulos e decréscimo de 3 a 4% no consumo de alimentos; o aumento no consumo de água já era esperado devido à radiação térmica emitida pelos aparelhos nos corpos dos ratos;
  • Aumento nas dificuldades de aprendizagem e de realização de tarefas comuns.

Todavia, como esses resultados foram obtidos com experiências indiretas, os supostos malefícios não são uma verdade absoluta comprovada. Por isso, há algumas providências que podem ser tomadas para amenizar os efeitos do aparelho sobre nosso corpo. Algumas das providências listadas por pesquisadores da fabricante de celulares Ericsson são as seguintes:

  • Usar o aparelho a uma distância a partir de 2,5 cm do ouvido;
  • Falar até 6 minutos sem interrupções;
  • Uso mais frequente de recursos como fones de ouvido e viva-voz;
  • Diminuir a frequência no uso do celular para menores de 16 anos, devido ao fato de o cérebro estar em desenvolvimento.