domingo, 28 de setembro de 2014

Obrigado ao homem do campo (em esperanto)


Link curto para esta postagem: fishuk.cc/campo

Sempre gostei também de verter canções do português para o esperanto. Esta canção, “Obrigado ao homem do campo”, composta por Dom e Ravel, eu terminei de verter em 11 de agosto de 2011. O novo título, “Dankon al la kampara popolo”, significa literalmente “Obrigado ao povo do campo”. Nesta página você pode ver a letra em português e um vídeo da música.

Kanzono komponita de Dom kaj Ravel (famaj brazilaj kantistoj kaj komponistoj de la 1970-aj kaj 1980-aj jaroj), kies tradukon mi finis la 11-an de Aŭgusto 2011. La originala titolo en la portugala lingvo, “Obrigado ao homem do campo”, signifas laŭlitere “Dankon al la homo de la kamparo”. Ĉi-paĝe vi povas legi la tekston en la portugala kaj rigardi videon kun la kanzono.


Dankon al la kampara popolo

Dankon al la kampara popolo
Pro la lakto, la kafo, la pan’.
Dio benu la brakojn laborajn,
Kiuj nutras la grundon per san’.

Dankon al la kampara popolo
Pro l’ viando, la riz’, fazeol’,
La legomoj, la fruktoj, verdaĵoj,
La herbaro de kuraca rol’.

Dankon al la kampara popolo
Pro la ligno de l’ doma konstru’,
Pro l’ fadenoj kaj ledo de l’ vestoj,
De l’ ĉapelo, de l’ ŝtrumpo, de l’ ŝu’.
Pro l’ fadenoj kaj ledo de l’ vestoj,
De l’ ĉapelo, de l’ ŝtrumpo, de l’ ŝu’.

Dankon al la kampara popolo,
Ĝia planta kaj besta trezor’,
Al la ĉefo de l’ granda bieno,
Al la sperta ŝofor’ de l’ traktor’.

Dankon al la kampara popolo,
Kiu studas, instruas sen ĉes’
Kaj simultane kultivas la teron
Por la jara produkta progres’.

Dankon al la kampara popolo,
Kiu ajn estas ĝia deven’,
Kie brilas la haŭtobronziga
Suno sur la plugada posten’.
Kie brilas la haŭtobronziga
Suno sur la plugada posten’.

Kaj dankon al la kampara popolo,
Kiu donis al sia patri’
La sportistojn, heroojn, soldatojn
Nun en la porĉiama feri’.

Dankon al la kampara popolo,
Kiu zorgas pri la tradici’,
Pri la kredoj, kulturoj, kutimoj
Kaj valoroj de sia naci’.

Dankon al la kampara popolo
Pro l’ dissemo de l’ bel’ kaj la bon’
Kaj la konservo de sia folkloro
Per gitaro kaj akordion’.
Kaj la konservo de sia folkloro
Per gitaro kaj akordion’.



sábado, 20 de setembro de 2014

Discurso de renúncia de Gorbachov


Link curto pra esta postagem: fishuk.cc/gorby-renuncia



Mikhail Gorbachov, abatido, durante seu discurso de renúncia.


Introdução (Erick Fishuk)

Em 2011, fez 20 anos que a União Soviética se dissolveu por obra e “graça” de Mikhail Gorbachov, ex-Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) e Presidente da URSS. Porém, seu discurso de renúncia à Presidência, televisionado a 25 de dezembro de 1991 e que ratificava o fim do país, continuava não traduzido para o português, à exceção de alguns trechos transmitidos em telejornais de inúmeras redes já naquela época. Na internet, traduções havia já, embora mais apressadas do que fiéis (não que eu duvide que “toda tradução é uma traição”, claro), para o inglês, o francês e o espanhol, e talvez para outras línguas que desconheço.

No discurso, Gorbachov lamenta a tendência predominante que levou à dissolução da URSS e defende a justeza de suas próprias decisões e o alcance de inúmeras conquistas que o país teria alcançado desde 1985, como a liberalização econômica, o respeito às liberdades individuais e o fim da “guerra fria” e da “corrida armamentista”. Mesmo assim, não deixa de apontar os inúmeros tormentos e crises por que os soviéticos estavam passando, justificando-os como “necessários” para a efetivação das mudanças e atribuindo seu agravamento às resistências conservadoras no aparelho estatal e econômico, bem como na cultura política local. Ao final, agradece a todos os que o apoiaram na promoção das reformas e manifesta sua preocupação com a situação que deixará para trás, mas reafirma sua fé na grandeza nacional e na capacidade do povo de superar as dificuldades, e vaticina um futuro de prosperidade e paz àquela que havia deixado de ser a segunda superpotência mundial.

A beleza e a confiança das palavras disfarçavam uma situação de caos e falência que iriam marcar a Rússia e outros países do antigo bloco socialista após 1991. Embora, na maior parte dos casos, a glasnost (abertura política) fosse uma realidade, a perestroika (reconstrução econômica) havia esbarrado na precariedade da indústria, do comércio e dos serviços, já muito mal desenvolvidos e em estado precário desde a estagnação do início dos anos 1980. Isso resultou em aumento da pobreza, desemprego, encarecimento dos bens materiais e as consequentes criminalidade, diminuição da população e agravamento do problema das drogas, tornados ainda mais escancarados com o fim da censura à imprensa e à televisão. Já no período Gorbachov, a desestatização das empresas, longe de gerar aumento da produtividade e distribuição de riqueza, apenas as entregara nas mãos de máfias e oligopólios que se beneficiaram de uma privatização corrupta e pouco transparente, a agravar-se ainda mais sob o comando de Boris Ieltsin.

Realizei esta tradução na segunda metade de 2012, buscando ajudar aos interessados num assunto ainda muito debatido em nossos meios políticos, acadêmicos e intelectuais. Após uma primeira versão preliminar em português, cotejei o resultado, além do original em russo novamente, com as versões inglesa, francesa e espanhola e com uma interpretação simultânea italiana, antes de realizar novas revisões. As poucas notas são minhas, e se limitam a esclarecer pontos ainda escassamente conhecidos pelas(os) brasileiras(os) curiosas(os).

O texto do discurso no original se encontra, à guisa de prefácio, no tomo 1 das memórias de Gorbachov, Zhizn i reformy (Vida e reformas), Moscou, Novosti, 1995, pp. 5-8, e pode ser lido nesta página. Também pode ser encontrada uma cópia neste site de documentos, acompanhada de comentários e contextualização em russo. Logo abaixo também o próprio vídeo legendado:


Caros compatriotas! Concidadãos!

Por força da situação gerada com a formação da Comunidade de Estados Independentes, estou encerrando minha atuação como Presidente da URSS, decisão que tomo por razões de princípio.

Defendi firmemente a autonomia dos povos da URSS e a soberania das Repúblicas, mas lutei, ao mesmo tempo, pela preservação do Estado soviético e pela integridade do País.

Os acontecimentos tomaram outro rumo: prevaleceu uma linha de desmembramento do País e de desintegração do Estado com a qual eu não posso concordar.

E mesmo diante das decisões tomadas no encontro de Alma-Ata, minha posição quanto a isso não mudou. (1)

Além disso, estou convencido de que tais decisões, em vista de seu amplo alcance, deveriam ter sido ratificadas pela vontade popular.

Entretanto, farei todo o possível para que os acordos assinados no encontro conduzam a uma real harmonia na sociedade e facilitem em algum grau a solução da crise e o processo de reformas.

Discursando a vocês pela última vez como Presidente da URSS, julgo necessário expressar minha avaliação do caminho percorrido desde 1985, tanto mais que não são poucos, a esse respeito, os juízos contraditórios, superficiais e subjetivos.



Prateleiras vazias nos mercados da URSS.


Quis o destino que já estivesse claro, quando assumi a chefia do Estado, que havia algo de errado com o país. Tudo aqui existia em abundância: terra, petróleo, gás e outras riquezas naturais, bem como inteligência e talento de sobra. Porém, vivíamos muito pior do que nos países desenvolvidos, em relação aos quais nos atrasávamos cada vez mais.

A razão disso já era evidente: a sociedade era asfixiada por um sistema de governo autoritário e burocrático. Condenada a servir à ideologia e a carregar o temível fardo da corrida armamentista, ela se encontrava no limite de suas capacidades.

Todas as tentativas parciais de reforma, que não foram poucas, terminaram em sucessivos fracassos. O país havia perdido a perspectiva. Não se podia continuar a viver assim. Era preciso mudar tudo drasticamente.

Eis por que jamais lamentei não ter aproveitado o cargo de Secretário-Geral para apenas “reinar” por alguns anos, atitude que eu consideraria irresponsável e imoral. (2)

Eu compreendia que iniciar reformas de tal amplitude, numa sociedade como a nossa, era uma tarefa dificílima e até mesmo arriscada. Mas ainda hoje sigo convencido da justeza histórica das reformas democráticas iniciadas na primavera de 1985.

O processo de renovação do País e de mudanças radicais na comunidade mundial se mostrou muito mais complexo do que se podia supor. Todavia, deve ser atribuído o devido valor a tudo o que foi feito:

– A sociedade ganhou liberdade, emancipou-se política e intelectualmente. Essa foi a principal conquista, a qual ainda não assimilamos inteiramente, já que não aprendemos ainda a usufruí-la. Entretanto, foi realizado um trabalho de significado histórico:

– Liquidou-se o sistema totalitário que havia privado o País da possibilidade de há muito tempo ter se tornado próspero e florescente.

– Realizou-se uma abertura rumo a transformações democráticas, tornando-se uma realidade as eleições livres, as liberdades religiosas e de imprensa, os órgãos representativos de poder e o multipartidarismo. Os direitos humanos foram reconhecidos como o princípio mais elevado.

– Iniciou-se a transição para uma economia mista, sendo estabelecidos direitos iguais a todas as formas de propriedade. No âmbito da reforma agrária, o campesinato começou a renascer, surgiram fazendas privadas e milhões de hectares de terra foram distribuídos aos moradores do campo e da cidade. Legalizou-se a liberdade econômica dos produtores e começaram a ganhar força a atividade empresarial, a venda de ações e a privatização.



Enorme fila para o primeiro McDonald's aberto na URSS.


– Vale lembrar que o direcionamento da economia para o mercado está sendo feito em prol das pessoas. Nestes tempos difíceis, tudo deve ser feito para que elas tenham proteção social garantida, especialmente os idosos e as crianças.

Nós vivemos num mundo novo:

– Deu-se um fim à “guerra fria”, à corrida armamentista e à disparatada militarização do País, a qual havia mutilado nossa economia, nossa consciência pública e nossa moral. Foi liquidada a ameaça de uma guerra mundial.

Mais uma vez quero frisar que nesse período de transição, de minha parte, tudo foi feito para que se mantivesse um firme controle sobre o armamento nuclear.

– Nós nos abrimos para o mundo e renunciamos à intromissão nos assuntos de outros países e ao emprego de tropas fora de nossas fronteiras, pelo que fomos retribuídos com solidariedade, confiança e respeito.

– Nós nos tornamos um dos principais bastiões da reestruturação da civilização moderna sob princípios pacíficos e democráticos.

– Os povos e nações soviéticos ganharam real liberdade de optar pela via da autodeterminação. A busca da reforma democrática do Estado multinacional nos deixou, inclusive, à beira de concluir um novo Tratado da União. (3)

Todas essas transformações exigiram enormes esforços e uma luta acirrada contra a crescente resistência das forças obsoletas e reacionárias encarnadas na antiga estrutura partidário-estatal e no aparelho econômico, bem como em nossos hábitos, nossos preconceitos ideológicos e nossa psicologia niveladora e parasitária. As mudanças se chocaram ainda com nossa intolerância, com o baixo nível de nossa cultura política e com nosso medo de mudar. Eis por que perdemos tanto tempo: o velho sistema ruiu antes que um novo conseguisse entrar em funcionamento, o que agravou ainda mais a crise social.

Eu sei o quanto é insatisfatória e difícil a situação atual e o quanto são duras as críticas às autoridades em todos os níveis e, particularmente, à minha atuação. Porém, mais uma vez quero frisar que mudanças drásticas num país tão vasto, ainda mais com uma herança dessas, não podem se realizar sem tormentos, dificuldades e abalos.

O golpe de agosto levou ao limite a crise geral, na qual o colapso da URSS como Estado é o que há de mais nocivo. E hoje me preocupa que nossa população esteja perdendo a cidadania de um grande país, podendo ser as consequências disso muito graves para todos.



Povo resiste ao golpe de agosto de 1991, quando a linha-dura do PCUS tentou depor Gorbachov.


Penso ser de vital importância conservar as conquistas democráticas dos últimos anos, as quais foram o árduo coroamento de nossa trágica experiência histórica. Não se deve renunciar a elas em nenhuma circunstância, sob nenhum pretexto, caso contrário, todas as nossas melhores esperanças terminarão sepultadas.

Falo sobre tudo isso de maneira franca e direta, pois esse é meu dever moral.

Quero expressar hoje meu reconhecimento a todos os cidadãos que apoiaram a política de renovação do País e se envolveram na realização das reformas democráticas.

Sou grato ainda aos estadistas, políticos, figuras públicas e aos milhões de pessoas no exterior que compreenderam e apoiaram nossos planos e nos dispensaram sua ajuda e sua cooperação sincera.

Deixo meu posto com preocupação, mas também com esperança, com fé em vocês, em sua sabedoria e sua força moral. Somos os herdeiros de uma grande civilização, e agora depende de cada um de nós que ela renasça para uma vida nova, moderna e digna.

Quero agradecer de todo coração aos que, nesses anos, defenderam junto comigo uma causa justa e boa. Certamente alguns erros poderiam ter sido evitados e muita coisa poderia ter sido feita melhor. Mas estou confiante de que, mais cedo ou mais tarde, nossos esforços conjuntos darão frutos e nossos povos viverão numa sociedade próspera e democrática.

Desejo a vocês tudo de melhor.


Notas (Clique pra voltar ao texto)

(1) Nesse encontro, a 21 de dezembro de 1991, 11 chefes de Estado das antigas Repúblicas soviéticas ratificaram a Declaração de Alma-Ata (cidade rebatizada como Almaty em 1993), na qual se definiam os objetivos e princípios da CEI, fundada no dia 8, e a composição principal do bloco. O texto em inglês da declaração pode ser lido nesta página.

(2) Quem comandava o país, na prática, era o Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética, cargo que Gorbachov ocupava desde 1985. Com a abolição do monopólio do PC, em 1990, Gorbachov criou o posto de Presidente da URSS, do qual foi o primeiro e último ocupante, enquanto renunciaria à Secretaria-Geral do PCUS em agosto de 1991, pouco após o fracassado golpe de Estado da linha-dura.

(3) A União dos Estados Soberanos foi uma proposta lançada por Gorbachov em 1991 para reformar e democratizar a URSS sem a dissolver, mas cujo tratado nunca chegou a ser assinado. Mais informações na página da Wikipédia sobre o Tratado da União dos Estados Soberanos (também em outras línguas).



Estátua de Lenin sendo removida de Vilnius, capital da Lituânia.

domingo, 14 de setembro de 2014

Polonês, a língua de Zamenhof (2002)


Link curto pra esta postagem: fishuk.cc/polones

Artigo de Bradley Kendal sobre o idioma polonês, língua materna de Lejzer Ludwik Zamenhof (1859-1917), iniciador do esperanto (projeto de língua auxiliar internacional), publicado na revista esperantista belga Monato, novembro de 2002, p. 20. Traduzi este texto do esperanto há muitos anos pra publicar num antigo site meu sobre o idioma, e agora fiz profundas revisões no trabalho. A versão original do artigo pode ser lida aqui.


O polonês era a língua materna do criador do esperanto, e por isso seria interessante comparar esses dois idiomas. (1) Ao contrário de outros criadores de línguas auxiliares, Zamenhof notavelmente demonstra pouca influência da fala materna em sua obra. Reza a lenda que a única palavra polonesa que ele não pôde deixar de introduzir no esperanto foi a tão cara “kolbaso” (2), a qual, porém, assemelha-se mais à similar russa kolbasa (3) do que à polonesa kiełbasa. Mas há outras palavras extraídas do polonês: “ĉu”, por exemplo, advém sem dúvida de czy [tchi]. (4)


Um alfabeto falsamente assustador

O polonês é uma língua pertencente ao ramo ocidental do grupo eslavo. Seu alfabeto é o latino, mas acrescido de vários dígrafos e sinais diacríticos, o que passa a falsa sensação de uma pronúncia dificílima. Na verdade, a ortografia é bem fonética, embora algumas palavras ainda sejam difíceis de pronunciar, como mgła [mguá] (nevoeiro, neblina, névoa), mężczyzna [menjtchizna] (homem) ou o nome da cidade de Bydgoszcz [bídgochtch]. Existe ainda este famoso trava-língua: W Szczebrzeszynie chrząszcz brzmi w trzcinie [fchtchebjechínie rrchonchtch bjmi ftchtchínie] (Em Szczebrzeszyn [uma cidade] um escaravelho zumbe num caniço). Como no russo, quase todas as consoantes podem ser “brandas” ou “duras”, e sua pronúncia branda é indicada por um acento agudo sobre a consoante ou, antes de uma vogal, por um i intercalado. Quase sempre o acento tônico recai sobre a penúltima sílaba.

Uma coincidência interessante com relação ao italiano, e ao mesmo tempo um contraste, é a palavra para “norte” ser północ [púunots] (literalmente, “meia-noite”), enquanto o sul da Itália é chamado de Mezzogiorno, que significa também “meio-dia”! (4a) Os nomes dos meses, de modo incomum para uma língua europeia, não são de origem romana, mas eslava (p. ex. październik, “outubro”), enquanto em russo são facilmente reconhecíveis (oktiabr, também “outubro”). (5)


Uma gramática realmente terrível

Existem os mesmos três gêneros do russo, sendo que os substantivos neutros geralmente terminam em -o, letra que deve ter parecido a Zamenhof a terminação mais neutra para os substantivos do esperanto. (6) Muitos substantivos femininos terminam em -a, como em tantas outras línguas indo-europeias. Não existem artigos, e são sete os casos gramaticais: nominativo, acusativo, genitivo, dativo, instrumental, locativo e vocativo (este em vias de desaparecimento).

Em polonês, os adjetivos concordam com o substantivo em número, caso e gênero, assim como em esperanto, língua em que isso seria desnecessário, segundo alguns. (7) Embora os adjetivos geralmente antecedam o substantivo a que se referem, a ordem é razoavelmente livre. Os numerais também declinam, ou seja, mudam de forma conforme sua função na oração. Para formar advérbios, troca-se a terminação dos adjetivos masculinos pela do neutro (-o ou -e, conforme a palavra).

A ordem mais usual das palavras na oração é “sujeito-verbo-complemento”, embora seja possível variar bastante, assim como em esperanto.

Algo um pouco complexo em polonês é que os pronomes “eles/elas” (8) podem ser traduzidos como oni caso se refiram a um grupo de homens, ou de homens e mulheres, ou por one caso se refiram a um grupo de mulheres, de animais ou de coisas dos três gêneros. Ao contrário do russo, os pronomes podem ser omitidos, pois todas as terminações pessoais dos verbos diferem entre si, inclusive no pretérito. (9)

Como em russo, existem dois verbos equivalentes a “ir”, caso seja um trajeto feito a pé ou com algum meio de transporte, cada um deles se dividindo, por sua vez, em dois verbos para um trajeto usual ou específico. Outra semelhança é que também são abundantes os prefixos verbais, mas uma diferença é que o polonês não omite os verbos “ser/estar/haver” (być) e “ter” (mieć) no presente. Como em outras línguas eslavas, os verbos podem ser de aspecto perfeito ou imperfeito, caso indiquem, respectivamente, uma ação acabada ou inacabada, além de outros empregos. A noção de aspecto, que difere da de tempo verbal (embora ambas se confundam no uso cotidiano), certamente existe em todas as línguas, mas algumas não o assinalam explicitamente. O interessante é que Zamenhof, mesmo conhecendo várias línguas que marcam o aspecto, decidiu não fazer isso em esperanto, o que gerou um problema junto aos particípios: eles indicariam apenas os três tempos verbais (-ita, -ata, -ota) ou também uma ação acabada em detrimento de uma inacabada? (10) Por fim, resolveu-se a questão reconhecendo que a noção de aspecto também existe em esperanto.

O polonês é uma língua muito doce, mas sua gramática complexa assombraria falantes de idiomas como o chinês e o tailandês!


Notas do tradutor (Erick Fishuk)
(clique no número pra voltar ao texto)

(1) Algumas fontes como a Wikipédia em esperanto, porém, baseando-se em falas do próprio Zamenhof, admitem o russo como sua língua materna (sua cidade natal, Białystok, hoje polonesa, fazia então parte do Império Russo), enquanto o polonês teria sido mais falado por ele na idade adulta. Além disso, ele sempre teria se definido como “judeu russo”, tendo sido educado com sua mãe lhe falando em iídiche e seu pai, em russo, língua na qual também recebeu instrução externa.

(2) Chouriço, linguiça.

(3) Modifiquei as transliterações conforme o novo sistema que lancei recentemente, e elas podem nem sempre coincidir com o que havia no texto em esperanto. Em cirílico russo, a palavra é “колбаса”. Pronúncia aproximada: “kalbassá”.

(4) Ĉu (pronúncia “tchu”) é uma partícula colocada em frases interrogativas na ausência de outra palavra interrogativa, como “que”, “qual”, “quando”, “onde” etc. Exemplos: Kiel vi fartas? (Como vai você?), Ĉu vi konas min? (Você me conhece?). A pronúncia aproximada, entre chaves, de palavras polonesas estava figurada conforme a ortografia esperantista, e adaptei-a conforme a do português.

(4a) O sul da França, aliás, é chamado correntemente de Midi, que com inicial minúscula (midi) também significa “meio-dia”.

(5) A transliteração no original era oktjabrj, sendo a palavra em cirílico “октябрь”, pronunciada aproximadamente “aktiabr”. Aliás, em tcheco e ucraniano, os nomes dos meses também não seguem em geral a matriz romana, mas há várias diferenças nos nomes entre essas três línguas eslavas. “Outubro”, por exemplo, é říjen em tcheco e жовтень (zhovten) em ucraniano.

(6) Os três gêneros referidos são o masculino, o feminino e o neutro, os quais, ao contrário do inglês e à semelhança do português, são puramente gramaticais, e não referentes ao sexo. Todos os substantivos do esperanto terminam de regra com a letra -o, quer se refiram a homens, mulheres, animais ou coisas: patro (pai), patrino (mãe), infano (criança), hundo (cão), tablo (mesa) etc.

(7) Como talvez não tenha ficado claro nesta tradução, o esperanto não possui gêneros gramaticais, embora alguns substantivos se refiram necessariamente a homens, a mulheres ou a animais/coisas e tenham como respectivos pronomes pessoais, na terceira pessoa do singular, li, ŝi e ĝi. Os adjetivos não possuem marcação ou indicação de gênero, permanecendo inalterados (à exceção da marcação de número e caso) junto a qualquer substantivo.

(8) No original, o autor se refere ao pronome “ili” do esperanto, que é usado na terceira pessoa do plural pra todos os gêneros.

(9) O autor se refere ao fato de, no russo, os verbos no pretérito não flexionarem em número e pessoa, mas apenas em gênero. Assim, por exemplo, o verbo iest (есть ‒ “comer”) flexiona-se no pretérito como iel (ел) se a ação for executada por alguém do gênero masculino, iela (ела) se for do gênero feminino, ielo (ело) se for do gênero neutro (um animal do gênero neutro, por exemplo, embora existam outros masculinos ou femininos) e ieli (ели) se forem vários seres, de qualquer gênero. Pra maiores informações sobre a conjugação verbal em polonês, ver esta seção num artigo especializado da Wikipédia em inglês.

(10) Essas três terminações do particípio passivo em esperanto indicam também o tempo de realização da ação, respectivamente no passado, no presente e no futuro. Assim, dado que o verbo konstrui significa “construir”, konstruata significa, mais precisamente, “que está sendo construído”; konstruita, “que foi construído”; e konstruota, “que será construído”. A anteposição, junto a esses particípios, do auxiliar esti (“ser, estar, haver”) no passado, no presente ou no futuro torna a indicação temporal ainda mais precisa.


domingo, 7 de setembro de 2014

A morte de um espião internacional


Link curto pra esta postagem: fishuk.cc/espiao



Introdução (Erick Fishuk)

Dois dos maiores jornais soviéticos, o Pravda (em russo, “Verdade”) e o Izvestia (em russo, “Notícias”), eram alvo de uma piada corrente, que vou traduzir grosseiramente: o Pravda não tinha Izvestia, e o Izvestia não era Pravda... Longe de qualquer julgamento de valor sobre a censura à imprensa imperante na antiga URSS, e lembrando que o Pravda era o órgão oficial do PCUS (Partido Comunista da União Soviética), e não exatamente um periódico noticioso, é notável como boa parte da produção escrita do país possuía o claro intuito de legitimar os governantes e a ideologia oficial, chamada então de “marxismo-leninismo”.

Há uma longa discussão sobre se o cerco às liberdades na União Soviética era necessário pra evitar a destruição das conquistas revolucionárias pela oposição ocidental ou, conforme a versão oficial de nosso establishment acadêmico, jornalístico e literário, se o Estado e o Partido, na era Stalin, simplesmente se tornaram um joguete na mão de burocratas malvados que, longe de perseguir a meta da construção do comunismo, queriam na verdade se dar bem e viver às custas de um proletariado pobre e sofrido. (Pra um princípio de discussão, ver uma breve postagem com texto de Paulo Gabriel.) Mas, como em qualquer outra nação, a luta pelo poder sempre foi intensa, especialmente após a morte de Vladimir Lenin, o fundador da URSS e seu primeiro líder, quando Leon Trotsky e Iosif Stalin buscavam a prevalência nas principais decisões.

Os bons conhecedores da história mundial bem sabem o desfecho da contenda, e sabem inclusive qual foi o trágico fim de Trotsky, que buscou criar um movimento comunista alternativo ao soviético e, suspeita-se, teve a vida tirada por agentes de seu maior rival. Se os fins realmente justificavam os meios, é difícil dizer, ainda mais em nossa parcial posição de membros de uma comunidade supostamente democrática, próspera e pacífica. Mas o documento apresentado abaixo mostra que, pros comunistas soviéticos, a ação foi mais do que justificada e, além disso, extremamente louvável.

Contam os pesquisadores russos que, após o assassinato de Trotsky, a 21 de agosto de 1940, preparou-se coletivamente um editorial pro Pravda, intitulado “A morte inglória de Trotsky”, cujo original datilografado passou, certamente entre os dias 22 e 23, às mãos e ao crivo rígidos de Stalin. O líder riscou e reescreveu vários trechos, tendo lá seus motivos secretos, mas a mudança que mais chamou a atenção foi a do título: expressando sinceramente de que natureza ele julgava ser Trotsky, fez a renomeação que pode ser lida no título desta postagem. O artigo saiu anônimo no editorial de 24 de agosto, reafirmando o cânone então vigente sobre a jovem história da União Soviética, codificado na História do PC(b) da URSS: breve curso, publicado por uma comissão do Comitê Central em 1938. (A sigla é a do nome do Partido até 1952, quando se tornou o PCUS. Aliás, a leitura comparativa deste artigo e da História é de uma riqueza extrema, revelando passagens que são praticamente idênticas: consultem-se as versões online em russo e em português da obra.)

O documento por si só pode dizer coisas que não preciso adiantar. A tradução segue a versão final do Pravda, com as notas da correção manuscrita feita por Stalin sobre o original datilografado, conforme a cópia do site da Fundação Aleksandr Iakovlev (clique aqui). As notas explicativas que eu mesmo inseri são introduzidas por “N.T.”. Títulos em russo: “Smert mezhdunarodnogo shpiona” (redação final) e “Besslavnaia smert Trotskogo” (rascunho original). Originalmente publicado no site da Comunidade Josef Stalin.

___________________


O telégrafo nos trouxe a notícia da morte de Trotsky. Segundo os jornais norte-americanos, Trotsky, que passou seus últimos anos no México, foi vítima de um atentado. Seu executor, Jacques Mornard van den Dreschd, (1) um de seus colaboradores mais próximos.

Desce à sepultura um homem cujo nome os trabalhadores de todo o mundo pronunciam com desprezo e repulsa, e que por longos anos combateu as bandeiras da classe operária e de sua vanguarda, o Partido Bolchevique. (2) As classes dominantes dos países capitalistas perderam um servo fiel, e os serviços secretos estrangeiros foram privados de um velho agente encarniçado que não escolhia os meios para alcançar seus objetivos contrarrevolucionários.

Trotsky percorreu uma longa trajetória de traição e deslealdade, de duplicidade política e hipocrisia. Não foi à toa que Lenin, ainda em 1911, dera-lhe o apelido de “Iudushka”, (3) ao qual Trotsky (4) nunca deixou de fazer jus.

Trotsky iniciou sua atividade política como um menchevique antirrevolucionário. (5) Já em 1903, no Segundo Congresso do POSDR, (6) ele atacou Lenin furiosamente, defendendo e amparando as opiniões de Martov e de outros líderes mencheviques antirrevolucionários. (7) Logo depois, no início da Guerra Russo-Japonesa, Trotsky escancarou ainda mais sua face renegada e antirrevolucionária (8) ao recair num defensismo inveterado, isto é, a defesa da “pátria” do tsar, dos latifundiários e dos capitalistas.

Trotsky (9) recebeu a revolução de 1905 com a famigerada teoria da revolução “permanente”, teoria que desarma o proletariado e desmobiliza suas forças. (10) Após a derrota da revolução de 1905, Trotsky passou a apoiar os mencheviques liquidacionistas. Vladimir Ilich Lenin escreveu então estas palavras sobre Trotsky:

“Trotsky se comportou como o mais vil carreirista e fracionista... Ele fala muito no Partido, mas se comporta pior do que qualquer outro fracionista”. (11)

Como se sabe, Trotsky foi o organizador do “bloco de agosto” antirrevolucionário, (12) reunindo todos os grupos e correntes (13) que combatiam Lenin.

Em agosto de 1914, iniciada a guerra imperialista, Trotsky, como era de se esperar, postou-se do outro lado das barricadas, nas hostes dos (14) defensores da guerra. Visando enganar a classe operária, mascarou sua traição ao proletariado com um palavreado “esquerdista” de combate à guerra. Em tudo o que concernia às mais importantes questões sobre a guerra e o socialismo, Trotsky se opunha a Lenin e ao Partido Bolchevique.

O menchevique Trotsky julgou à sua maneira a enorme popularidade das divisas de Lenin junto às massas populares e o fortalecimento da influência dos bolcheviques sobre a classe operária e as massas de soldados após a revolução democrático-burguesa de fevereiro. Ele ingressou em nosso partido em julho de 1917, junto com um grupo de correligionários, declarando estar completamente “desarmado”. (15)

Os fatos subsequentes mostraram, (16) porém, que o menchevique Trotsky não havia se desarmado, (17) nem por um minuto havia deixado de combater Lenin (18) e entrou em nosso partido para arrasá-lo a partir de dentro.

Alguns meses após a Grande Revolução de Outubro, (19) já na primavera de 1918, Trotsky, junto com um grupo de comunistas ditos “de esquerda” e de socialistas revolucionários de esquerda, organizou uma criminosa conspiração contra Lenin, Stalin e Sverdlov, líderes do proletariado, visando prendê-los e aniquilá-los fisicamente. E, como sempre, o próprio Trotsky – o provocador, o organizador dos assassinos, o intrigante e aventureiro – permaneceu nas sombras. Seu papel dirigente na preparação desse crime que felizmente fracassou só foi revelado em sua plenitude duas décadas depois, no processo do “bloco direitista-trotskista” antissoviético, em março de 1938. Somente após vinte anos foi definitivamente desembaraçado o novelo sórdido dos crimes de Trotsky e de seus cúmplices.

Nos anos da guerra civil, enquanto o País dos Sovietes rechaçava a investida de numerosas hordas de guardas-brancos e invasores, Trotsky, com suas atitudes traiçoeiras e suas ordens sabotadoras, debilitava por todos os meios o poder de resistência do Exército Vermelho, o que fez Lenin proibi-lo de frequentar os fronts leste e sul. Todos sabem que Trotsky, por causa de suas relações hostis com os velhos quadros bolcheviques, tentou fuzilar toda uma fileira de importantes combatentes comunistas dos quais não gostava, agindo, assim, de modo favorável ao inimigo.

No mesmo processo do “bloco direitista-trotskista” antissoviético, foi revelada a trajetória traiçoeira e pérfida de Trotsky: julgados nesse processo, seus colaboradores mais próximos confessaram que, junto com seu chefe, já atuavam desde 1921 como agentes dos serviços secretos estrangeiros, como espiões internacionais. Com Trotsky à frente, serviam com zelo aos serviços secretos e aos estados-maiores da Inglaterra, França, Alemanha e Japão.

Em 1929, quando o governo soviético expulsou de nossa pátria o traidor e ntrarrevolucionário Trotsky, os círculos capitalistas da Europa e da América tomaram-no em seus braços. Isso não foi casual, mas algo esperado, visto que Trotsky já havia passado há muitíssimo tempo a servir aos exploradores da classe operária. (20)

Trotsky caiu em sua própria rede, chegando ao cúmulo da degradação humana: seus próprios adeptos o mataram. Deram-lhe um fim aqueles a quem ensinou a matar pelas costas, (21) a trair e a atentar contra a classe operária e o País dos Sovietes. Tendo organizado o perverso assassinato de Kirov, de Kuibyshev e de M. Gorki, Trotsky foi vítima de suas próprias intrigas, traições, injúrias e crimes. (22)

Terminou, assim, de forma inglória a vida deste homem desprezível, que desce à sepultura com a marca de espião internacional e de assassino estampada na testa. (23)


Notas do tradutor (Erick Fishuk)
(clique no número pra voltar ao texto)

(1) N.T. ‒ Esta é a ocorrência mais frequente, nas línguas ocidentais, de um dos codinomes de Ramón Mercader, embora esteja escrito “Zhak Mortan Vandendraish” (Жак Мортан Вандендрайш) no documento, no qual essa forma parece ocorrer pela única vez.

(2) Stalin riscou do final da frase “contra Lenin e Stalin” e uniu num mesmo parágrafo as duas frases, que estavam separadas.

(3) N.T. ‒ Ver o manuscrito nomeado, em suas Obras completas, como “O kraske styda u iudushki Trotskogo” (em tradução livre, “Sobre o enrubescimento do iudushka Trotsky”). “Iudushka”, traduzido como “pequeno Judas” ou simplesmente “Judas”, era o epíteto dado, em polêmicas entre os séculos 19 e 20 na Rússia, a pessoas consideradas mesquinhas, egoístas e traiçoeiras, em referência à personagem Porfiri Golovliov, ou “Iudushka Golovliov”, do romance A família Golovliov (1880), do escritor russo Mikhail Saltykov-Schedrin.

(4) No original: “ao qual ele...”.

(5) “Antirrevolucionário”: adicionado por Stalin.

(6) N.T. – Partido Operário Social-Democrata da Rússia, de onde saíram os partidos bolchevique (futuro Partido Comunista) e menchevique. Sigla em russo: RSDRP.

(7) “Antirrevolucionários”: adicionado por Stalin.

(8) “Renegada e antirrevolucionária”: no original, “oportunista”.

(9) Stalin riscou “Não crendo nas forças do proletariado,” do início da frase.

(10) Stalin riscou “e energias” do fim da frase.

(11) Stalin separou a citação de Lenin num novo parágrafo. [N.T. – A tradução desse excerto foi feita independentemente, mas com consulta, da versão citada na tradução brasileira da história do PC(b) da URSS (Recife, Centro Cultural Manoel Lisboa, 1999), logo ao início da parte 4 do capítulo IV.]

(12) “Antirrevolucionário”: adicionado por Stalin.

(13) Stalin riscou o adjetivo “antibolcheviques” que vinha a seguir.

(14) Stalin riscou a expressão “apologistas e” que vinha a seguir.

(15) Redação original da última frase: “Ele entrou no partido dos bolcheviques em julho de 1917, junto com um grupo de correligionários, com o objetivo de arrasá-lo a partir de dentro.”

(16) No original: “mostraram com toda clareza”.

(17) “Não havia se desarmado”: adicionado por Stalin.

(18) O resto da frase foi adicionado por Stalin.

(19) No original: “Grande Revolução Socialista de Outubro”.

(20) “Aos exploradores da classe operária”: no original, “no campo dos opressores e exploradores”.

(21) “A matar pelas costas”: adicionado na redação final do Pravda.

(22) Esta última frase não está no original datilografado nem na correção manual de Stalin.

(23) Stalin substituiu com esse parágrafo o final que estava no original: “Com a morte de Trotsky, desaparece da arena política do mundo capitalista mais um velho espião e agente, inimigo mortal dos trabalhadores.” A expressão “e de assassino” foi adicionada na redação final do Pravda.



terça-feira, 2 de setembro de 2014

Transliterando escrita cirílica


Link curto pra esta postagem: fishuk.cc/translit

Última atualização: 1.º de maio de 2016


Nota (3/10/2021): Acabo de fazer leves mudanças na redação e no design desta postagem, mas não no conteúdo. Porém, dado que há alguns anos tenho me alertado por leituras e por indicações de conhecidos sobre a real diferença entre transliteração e transcrição, hoje acredito que meu texto seja essencialmente sobre o segundo conceito. O primeiro, que era originalmente minha intenção, liga-se na verdade às tabelas ISO apresentadas mais ao fim, pois tem a ver com o intercâmbio letra a letra, símbolo a símbolo. No caso de uma transcrição, essa equivalência não é inevitável, e trata-se antes de uma adaptação ao formato da língua de chegada, sem necessário decalque de informações gráficas ou fonológicas. Como meu trabalho visa antes à padronização visual, e não à didática linguística, acredito que ele continua tendo valorosa utilidade.

Há anos estudando o comunismo e lendo sobre línguas eslavas, enfrento o problema da transliteração do alfabeto cirílico em várias línguas pra caracteres latinos. Seria perfeito se todos soubessem ler esse alfabeto e os textos de especialistas ficassem uma salada de frutas gráfica, mas a uniformização e a necessidade do contato com leigos exigem adaptações que são, no melhor dos casos, paliativas.

Apesar das várias soluções que falantes do português já propuseram pro russo e pro ucraniano, jamais foi regulamentado um sistema que servisse pra transliterar os vários idiomas em qualquer ocasião. Em outras línguas ocidentais também não há consenso, e cada país que fala uma língua eslava costuma usar mais de um sistema, embora um ou outro seja considerado “oficial” na administração pública ou pra passaportes. Mas como na área de humanidades cada um usa a regra que mais lhe convém, decidi sistematizar minha própria solução, pra meu uso pessoal e também a quem mais se interessar.

Este sistema abrange cinco idiomas eslavos que usam o alfabeto cirílico: russo, ucraniano, búlgaro, belarusso e macedônio. Analisei o que mais tenho visto nas áreas de história e literatura, pesquisei sobre os idiomas que conhecia pouco e tentei aproveitar ao máximo os outros sistemas. Por vezes considerei peculiaridades de pronúncia e gramática, daí algumas dessemelhanças entre as línguas, como a transliteração da letra Щ, pronunciada como um “ch” suave em russo, “chtch” em ucraniano e “cht” em búlgaro. Não abordo idiomas não eslavos nem a língua sérvia, que compartilha uma romanização com o croata. O macedônio, muito influenciado pelo sérvio, tem um sistema parecido, usado por cientistas (ver seção sobre o ISO 9), mas como não foi oficializado, também criei o meu próprio.

Em história, mais do que em literatura, predominam sistemas baseados na língua inglesa, talvez por ser a língua de boa parte da melhor bibliografia sobre o Leste europeu. Eles foram, portanto, minha fonte central, sem que eu desconsiderasse usos brasileiros, franceses e dos próprios países eslavos. Busquei dispensar sinais diacríticos (acentos, cedilha) ou caracteres além do alfabeto padrão de 26 letras, por isso não é importante conhecer e marcar a sílaba tônica das palavras, como fazem alguns brasileiros. Pretendo apenas oferecer um sistema acessível a qualquer pessoa dispondo do material em cirílico, assim toco mais no aspecto gráfico do que na pronúncia ou gramática, as quais os interessados podem pesquisar por fora.

Começo apresentando os cinco alfabetos cirílicos, com maiúsculas, minúsculas e seus respectivos nomes. Não há sinais diacríticos, sendo parte inerente a algumas letras os sinais sobre elas. Os mais apressados podem pular pras tabelas de transliteração logo a seguir, de preferência lendo as indicações básicas mais abaixo, e dispensar as informações adicionais, destinadas ao aprofundamento. Ao final, falo sobre dois sistemas mais técnicos e atentos à equivalência letra a letra, que incluem consoantes acentuadas, e então apresento o alfabeto cursivo em cada língua.


Apresentando os alfabetos cirílicos

Russo

А а = aК к = kaХ х = kha
Б б = beЛ л = elЦ ц = tse
В в = veМ м = emЧ ч = che
Г г = geН н = enШ ш = sha
Д д = deО о = oЩ щ = scha
Е е = ieП п = peЪ ъ = tviordy znak
(ou “sinal duro”)
Ё ё = ioР р = erЫ ы = y
Ж ж = zheС с = esЬ ь = miagki znak
(ou “sinal brando”)
З з = zeТ т = teЭ э = e
И и = iУ у = uЮ ю = iu
Й й = i kratkoie
(ou “i breve")
Ф ф = efЯ я = ia


Ucraniano

А а = aІ і = iТ т = te
Б б = beЇ ї = iiУ у = u
В в = veЙ й = iotФ ф = ef
Г г = heК к = kaХ х = kha
Ґ ґ = geЛ л = elЦ ц = tse
Д д = deМ м = emЧ ч = che
Е е = eН н = enШ ш = sha
Є є = ieО о = oЩ щ = shcha
Ж ж = zheП п = peЬ ь = miaky znak
(ou “sinal brando”)
З з = zeР р = erЮ ю = iu
И и = yС с = esЯ я = ia

Há ainda o apóstrofo separador (’), que pode aparecer
entre uma consoante e um Є, Ї, Ю ou Я.


Búlgaro

А а = aК к = kaФ ф = fa
Б б = baЛ л = laХ х = kha
В в = vaМ м = maЦ ц = tsa
Г г = gaН н = naЧ ч = cha
Д д = daО о = oШ ш = sha
Е е = eП п = paЩ щ = shta
Ж ж = zhaР р = raЪ ъ = er goliam
(ou “er grande”)
З з = zaС с = saЬ ь = er malak
(ou “er pequeno”)
И и = iТ т = taЮ ю = iu
Й й = i kratko
(ou “i breve”)
У у = uЯ я = ia


Belarusso

А а = aК к = kaФ ф = ef
Б б = beЛ л = elХ х = kha
В в = veМ м = emЦ ц = tse
Г г = geН н = enЧ ч = che
Д д = deО о = oШ ш = sha
Е е = ieП п = peЫ ы = y
Ё ё = ioР р = erЬ ь = miakki znak
(ou “sinal brando”)
Ж ж = zheС с = esЭ э = e
З з = zeТ т = teЮ ю = iu
І і = iУ у = uЯ я = ia
Й й = i neskladovaie
(ou “i breve”)
Ў ў = u neskladovaie
(ou “u breve”)

Há ainda o apóstrofo separador (’), que pode aparecer
entre uma consoante e um Е, Ё, І, Ю ou Я.


Macedônio

А а = aИ и = iС с = sa
Б б = baЈ ј = iaТ т = ta
В в = vaК к = kaЌ ќ = tia
Г г = gaЛ л = laУ у = u
Д д = daЉ љ = liaФ ф = fa
Ѓ ѓ = diaМ м = maХ х = kha
Е е = eН н = naЦ ц = tsa
Ж ж = zhaЊ њ = niaЧ ч = cha
З з = zaО о = oЏ џ = dzha
Ѕ ѕ = dzaП п = paШ ш = sha
Р р = ra


Tabelas de transliteração e outras instruções

Importará lembrar que são vogais: em russo, as letras А, Е, Ё, И, О, У, Ы, Э, Ю e Я; em ucraniano, as letras А, Е, Є, И, І, Ї, О, У, Ю e Я; em búlgaro, as letras А, Е, И, О, У, Ъ, Ю e Я; em belarusso, as letras А, Е, Ё, І, О, У, Ы, Э, Ю e Я; e em macedônio, as letras А, Е, И, О e У.


Russo

А = AК = KХ = KH
Б = BЛ = LЦ e ТС = TS
В = VМ = MЧ = CH
Г = GН = NШ = SH
Д = DО = OЩ = SCH
Е = E (inclusive após Й)
- IE em início de palavra,
após vogal (exceto И ou
Ы) e após Ъ e Ь
П = PЪ = nulo; mas influencia
a transliteração das
vogais Е, Ё, Ю e Я
Ё = IO
- O após Ж, И, Ч, Ш e Щ
(mas IO se seguidas de Ъ
ou Ь)
Р = RЫ = Y
- Opcional, ЫЙ no final
de nomes próprios ou
adjetivos: Y
Ж = ZHС = SЬ = nulo; mas influencia
a transliteração das
vogais Е, Ё, Ю e Я
- Antes de А, О, У =
I (raro)
З = ZТ = TЭ = E
И = I
- Opcional, ИЙ no final
de nomes próprios ou
adjetivos: I
У = UЮ = IU
- U após Ж, И, Ч, Ш e Щ
(mas IU se seguidas de
Ъ ou Ь)
Й = IФ = FЯ = IA
- A após Ж, И, Ч, Ш e Щ
(mas IA se seguidas de
Ъ ou Ь)


Ucraniano

А = AІ = I
- Opcional, ІЙ no final
de nomes próprios ou
adjetivos: I
Т = T
Б = BЇ = II
- I após vogais
У = U
В = VЙ = I
- ІЙО = IO
Ф = F
Г = H
- ЗГ, КГ, ЛГ, НГ, СГ e
ЦГ = Z’H, K’H, L’H,
N’H, S’H e TS’H
К = KХ = KH
Ґ = GЛ = LЦ e ТС = TS
Д = DМ = MЧ = CH
Е = EН = NШ = SH
Є = IE
- Após I e И = E
О = OЩ = SHCH
Ж = ZHП = PЬ = nulo
- Antes de А, Е,
О e У = I
З = ZР = RЮ = IU
- Após І e И = U
И = Y
- Opcional, ИЙ no final
de nomes próprios ou
adjetivos: Y
С = SЯ = IA
- Após I e И = A

Apóstrofo separador (’): nulo.


Búlgaro

А = AК = KФ = F
Б = BЛ = LХ = KH
В = VМ = MЦ e ТС = TS
Г = GН = NЧ = CH
Д = DО = OШ= SH
Е = EП = PЩ = SHT
Ж = ZHР = RЪ = A
З = ZС = SЬ = I
И = IТ = TЮ = IU
- Após И = U
Й = I
- ИЙО = IO
У = UЯ = IA
- Após И = A


Belarusso

А = AК = KФ = F
Б = BЛ = LХ = KH
В = VМ = MЦ e ТС = TS
Г г = GН = NЧ = CH
Д д = DО = OШ = SH
Е = E (inclusive após Й)
- IE em início de palavra,
após vogal (exceto І ou
Ы) e após Ь ou apóstrofo
П = PЫ = Y
Ё = IO
- O após І e Ы
Р = RЬ = nulo
- Antes de
А, О e У = I
Ж = ZHС = SЭ = E
З = ZТ = TЮ = IU
- U após І e Ы
І = IУ = UЯ = IA
- A após І e Ы
Й = IЎ = U

Apóstrofo separador (’): nulo.


Macedônio

А = AИ = IС = S
Б = BЈ = I
- No encontro ИЈ
antes de vogal,
não se translitera
Т = T
В = VК = KЌ = TI
- Antes de ИЈ = T
Г = GЛ = LУ = U
Д = DЉ = LI
- Antes de ИЈ = L
Ф = F
Ѓ = DI
- Antes de ИЈ = D
М = MХ = KH
Е = EН = NЦ = TS
Ж = ZHЊ = NI
- Antes de ИЈ = N
Ч = CH
З = ZО = OЏ = DZH
Ѕ = DZП = PШ = SH
Р = R

Não confunda o И ucraniano com o И de outras línguas eslavas que usam o cirílico, como o russo, onde a letra, via de regra, soa como nosso I em “vida” e é, portanto, transliterada como I.

Se o contexto não esclarecer os casos de ambiguidade em certas palavras com e sem Ь, ele pode ser transliterado com um apóstrofo (’). Ver russo угол = ugol, уголь = ugol’; ucraniano мід = mid, мідь = mid’; лют = liut, лють = liut’; belarusso вугал = vugal, вугаль = vugal’. No ucraniano e no belarusso, o apóstrofo separador (’) não é transliterado, mas pode sê-lo por dois apóstrofos (’’) se necessário.

Consoantes permanecem dobradas quando cada uma é transliterada com apenas uma letra no alfabeto latino. Mas se a consoante se torna duas letras no alfabeto latino, pode-se escrever como se fosse apenas uma em cirílico, sem dano à compreensão. Alguns exemplos: оттепель (ottepel; “degelo” em russo), волосся (volossia; “cabelo” em ucraniano), именно (imenno; “exatamente” em búlgaro), ззяць (zziats; “brilhar”, “irradiar” em belarusso). Mas: пицца (pitsa; “pizza” em russo), ніччю (nichiu; “à noite” em ucraniano), падарожжа (padarozha; “viagem”, “jornada” em belarusso).

Siglas ou abreviaturas que envolvam letras transliteradas com mais de uma levam todas as letras latinas, e só a primeira em maiúscula. Alguns exemplos: ЦК (центральный комитет) = TsK (“comitê central” em russo), Ю. (Юлія) Тимошенко = Iu. (Iulia) Tymoshenko, САЩ (Съединени американски щати) = SASht (“Estados Unidos da América” em búlgaro), БХД (Беларуская хрысціянская дэмакратыя) = BKhD (Democracia Cristã Belarussa), Ё. (Ёўга) Казлова = Іо. (Iouga) Kazlova (antigo nome belarusso).

Com a letra ucraniana Г transliterada H, algumas combinações dela com outra consoante podem causar confusão, como КГ, que seria KH, combinação já usada, porém, pra letra Х. Para evitar, por exemplo, a pronúncia das combinações NH e LH como em português, quando na verdade são dois sons distintos, alguns sistemas sugerem separar as letras com um ponto (∙). Mas pra me ater ao teclado comum prefiro o apóstrofo, embora sem caráter obrigatório: ЗГ, КГ, ЛГ, НГ, СГ e ЦГ seriam respectivamente Z’H, K’H, L’H, N’H, S’H e TS’H. Exemplos: згаяти (z’haiaty; “desperdiçar”), альгебра (al’hebra; “álgebra”), Болгарія (Bol’haria; “Bulgária”), ангел (an’hel; “anjo”).

Em textos impressos ou na mídia russa, geralmente a letra Ё (io) é escrita sem os dois pontos, ou seja, idêntica à letra E (ie), o que pode causar confusão ao se transliterar. Para saber quando uma palavra russa possui a letra Ё ao invés de E, especialmente em nomes próprios, é interessante consultar a Wikipédia em russo ou em inglês, ou um dicionário como o do site Gramota.ru.


Informações adicionais

Não existem exceções às regras expostas acima, aplicáveis em qualquer ocasião. Porém, por razões de clareza, achei melhor mostrar casos um pouco mais complexos ou exemplos de situações que podem gerar estranheza ao leitor desacostumado às línguas eslavas, mas mesmo assim não justificam qualquer desvio das regras.

É comum o acúmulo de consoantes idênticas ou cujos pontos de articulação são semelhantes. Exemplos: russo отцу (ottsu; “ao pai”), лучше (luchshe; “melhor”); ucraniano багатшати (bahatshaty; “enriquecer-se”), розширити (rozshyryty; “alargar”, “aumentar”); búlgaro площта (ploshtta; “a área”, “a região” em búlgaro).

Por vezes a letra Й (I semivocálico) aparece junto de vogais “iotadas” (IA, IO, IU etc.) ou do equivalente ao I ou Y em cada língua. Exemplos: russo йеменец (iemenets; “iemenita”), выйти (vyiti; “sair”, “partir”); ucraniano зйомка (ziomka; “retirada”, “filmagem”), двійка (dviika; “par”, “dois”); búlgaro йогурт (iogurt; “iogurte”), Българийо (Balgario; “Bulgária!”, “Oh, Bulgária”, forma vocativa rara).

Em russo as letras Ъ e Ь em geral não são transliteradas, mas podem modificar a transliteração de outras. Exemplos: тень (ten; “sombra”), mas отъезд (otiezd; “partida”), пьеса (piesa; “peça de teatro”). Após “chiantes”: жюри (zhuri; “júri”), брошюра (brochura; “brochura”), mas ложью (lozhiu; “mentira” no caso instrumental), я шью (ia shiu; “eu costuro”). Em ucraniano e em búlgaro é comum ocorrer também o encontro ЬО, no qual a letra Ь é então transliterada I. Exemplos: ucraniano сьогодні (siohodni; “hoje”), льон (lion; “linho”, “tecido de linho”); búlgaro миньор (minior; “mineiro”, “operário de mina”), Петьо (Petio; nome próprio). No russo essa combinação só costuma aparecer na transcrição de palavras estrangeiras: Гран-Гиньоль (Gran-Giniol; “Grand-Guingol”, antiga casa francesa de teatro macabro).

Nas línguas em que pode haver vogais “iotadas” após a letra equivalente a Y, elas são sempre transliteradas sem o I, assim como após a equivalente a I. Exemplos: russo белые (belye; “brancos/as”); ucraniano чиє (chye; “cujo”, gênero neutro), Київ (Kyiv; “Kiev” ou “Kyiv”); belarusso партыя (partya; “partido”).

A letra ucraniana Ї é transliterada II em começo de palavra ou após o apóstrofo separador, mas é transliterada I após vogais: їхати (iikhaty; “ir ou vir de veículo”), з’їзд (ziizd; “congresso”). Mas: Україна (Ukraina; “Ucrânia”) атеїзм (ateizm; “ateísmo”), Іспанії (Ispanii; “da/pra/na Espanha”), кроїти (kroity; “cortar”).

Em belarusso, a letra Г pode indicar o próprio som do G duro em “gato”, o que acontece apenas em algumas palavras de origem estrangeira, ou um som fricativo semelhante a um H pronunciado com vibração das cordas vocais (o G da palavra espanhola amigo). Boa parte dos sistemas translitera por H, mas prefiro a solução de outros, que é usar sempre G, qualquer que seja a pronúncia.

Dica pra escritores e acadêmicos: em referências bibliográficas, não importa a língua do material citado, não corrijo a transliteração usada pra palavras eslavas, mesmo que divirja do meu sistema, o qual, porém, posso usar no corpo do texto. Por exemplo: um livro sobre Khruschov continua citado com as possíveis grafias “Kruschiov”, “Khrushchev” etc., assim como Lenin se mantém “Lênin” ou “Lenine”, Stalin se mantém “Stálin” ou “Estaline” e Gorbachov continua “Gorbatchev”. Um hipotético livro sobre cultura ucraniana mantém as pessankê ou pêssankas no título, embora eu discorra sobre pysanky, ovinhos pintados à mão em várias cores e desenhos. Ou cito uma obra que anuncia receitas de chkembe tchorba, mas falo no texto sobre a shkembe chorba, sopa famosa na Bulgária e países próximos.

Esse sistema de caráter técnico é mais próximo da ortografia das línguas eslavas que usam alfabeto latino e se usa, por exemplo, em periódicos científicos internacionais (transcrição de títulos de revistas e nomes de autores em línguas eslavas ou palavras eslavas em textos ocidentais), sendo mais fiel à equivalência gráfica do que à pronúncia. Seguem abaixo as versões pras cinco línguas aqui tratadas, e neste artigo da Wikipédia em inglês em outras línguas ainda:


Russo

А а = A aК к = K kХ х = H h
Б б = B bЛ л = L lЦ ц = C c
В в = V vМ м = M mЧ ч = Č č
Г г = G gН н = N nШ ш = Š š
Д д = D dО о = O oЩ щ = Ŝ ŝ
Е е = E eП п = P pЪ ъ = ´´ (2 agudos)
Ё ё = Ë ëР р = R rЫ ы = Y y
Ж ж = Ž žС с = S sЬ ь = ´ (1 agudo)
З з = Z zТ т = T tЭ э = È è
И и = I iУ у = U uЮ ю = Û û
Й й = J jФ ф = F fЯ я = Â â


Ucraniano

А а = A aІ і = Ì ìТ т = T t
Б б = B bЇ ї = Ï ïУ у = U u
В в = V vЙ й = J jФ ф = F f
Г г = G gК к = K kХ х = H h
Ґ ґ = G̀ g̀Л л = L lЦ ц = C c
Д д = D dМ м = M mЧ ч = Č č
Е е = E eН н = N nШ ш = Š š
Є є = Ê êО о = O oЩ щ = Ŝ ŝ
Ж ж = Ž žП п = P pЬ ь = ´ (1 agudo)
З з = Z zР р = R rЮ ю = Û û
И и = I iС с = S sЯ я = Â â

Sinal separador = ’ (apóstrofo)


Búlgaro

А а = A aК к = K kФ ф = F f
Б б = B bЛ л = L lХ х = H h
В в = V vМ м = M mЦ ц = C c
Г г = G gН н = N nЧ ч = Č č
Д д = D dО о = O oШ ш = Š š
Е е = E eП п = P pЩ щ = Ŝ ŝ
Ж ж = Ž žР р = R rЪ ъ = A`
(A seguido de grave)
З з = Z zС с = S sЬ ь = ´ (1 agudo)
И и = I iТ т = T tЮ ю = Û û
Й й = J jУ у = U uЯ я = Â â


Belarusso

А а = A aК к = K kФ ф = F f
Б б = B bЛ л = L lХ х = H h
В в = V vМ м = M mЦ ц = C c
Г г = G gН н = N nЧ ч = Č č
Д д = D dО о = O oШ ш = Š š
Е е = E eП п = P pЫ ы = Y y
Ё ё = Ë ëР р = R rЬ ь = ´ (1 agudo)
Ж ж = Ž žС с = S sЭ э = È è
З з = Z zТ т = T tЮ ю = Û û
І і = Ì ìУ у = U uЯ я = Â â
Й й = J jЎ ў = Ŭ ŭ

Sinal separador = ’ (apóstrofo)


Macedônio

А а = A aИ и = I iС с = S s
Б б = B bЈ ј = J̌ ǰТ т = T t
В в = V vК к = K kЌ ќ = Ḱ ḱ
Г г = G gЛ л = L lУ у = U u
Д д = D dЉ љ = L̂ l̂Ф ф = F f
Ѓ ѓ = Ǵ ǵМ м = M mХ х = H h
Е е = E eН н = N nЦ ц = C c
Ж ж = Ž žЊ њ = N̂ n̂Ч ч = Č č
З з = Z zО о = O oЏ џ = D̂ d̂
Ѕ ѕ = Ẑ ẑП п = P pШ ш = Š š
Р р = R r

Devido à estranheza gráfica e à dificuldade em digitar certos caracteres, há publicações científicas, especialmente de humanas, que fazem algumas adaptações, as quais também listo abaixo (leia em inglês sobre a transliteração científica do cirílico):
  • Russo: CH ou X ao invés de H, ŠČ ao invés de Ŝ, JU ao invés de Û e JA ao invés de Â.
  • Ucraniano: H ao invés de G, G ao invés de G̀, JE ao invés de Ê, Y ao invés de I, I ao invés de Ì, JI ao invés de Ï, X ao invés de H, ŠČ ao invés de Ŝ, JU ao invés de Û, JA ao invés de  e nulo pro apóstrofo separador.
  • Búlgaro: X ao invés de H, ŠT ao invés de Ŝ, Ă ao invés de A`, J ao invés do acento agudo, JU ao invés de Û e JA ao invés de Â.
  • Belarusso: H ao invés de G, I ao invés de Ì, W ao invés de Ŭ (opcional), X ao invés de H, JU ao invés de Û, JA ao invés de  e nulo pro apóstrofo separador.
  • Macedônio: DZ ao invés de Ẑ, J ao invés de J̌, LJ ao invés de L̂, NJ ao invés de N̂ e DŽ ao invés de D̂. O sistema ISO 9 com essas adaptações é a transliteração do macedônio mais usada no ensino e na linguística.

Os alfabetos cirílicos em letra cursiva


Russo


Ucraniano


Búlgaro


Belarusso


Macedônio