quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Quartou com Dêssa Urach e Zelensky


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/urach-zelensky





Seria Frederick Wassef, advogado dos Bolsonaro, um parente distante ou um irmão perdido de Kelvis Duran, o Príncipe do Calipso???


Eis que certo dia, o ex-oligarca russo Mikhail Khodorkovski chama pra ser entrevistado em seu canal um tal de Viktor Shenderovich, também conhecido por ser um clone envelhecido do Mamãe Falei, rs:


Parei de ver o jornalismo da TV Brasil “repaginada pelo Pai Lulo e com a cara do povo” quando no horário das 19h a repórter soltou na frente de uma cientista um “célebro”...


Tarcísio aprendeu a bater bifes com minha avó, rs:


Os desafios do dia a dia de uma intérprete com os idiomatismos:


segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Como a Ucrânia vai ganhar a guerra


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/vitoria-ua


Revelado pelos grandes jornais estadunidenses o plano final que Volodymyr Zelensky e o alto comando do exército ucraniano deixaram vazar! Informações impressionantes e altamente confidenciais!

Certo dia, num front da invasão russa à Ucrânia, em algum lugar secreto do Donbás, duas trincheiras opostas, cheias de soldados russos e ucranianos, estavam paradas, sem saber como afrontar o inimigo.

Eis que então um soldado ucraniano tem uma ideia genial. Ele tira a cabeça discretamente da trincheira e grita na direção do outro lado:

– Vem aqui, Vladímir!

Subitamente, um terço dos soldados russos sai rapidamente da trincheira e é impiedosamente metralhado pela resistência ucraniana. Orgulhoso de seu feito, o ucraniano espera mais um pouco, ergue de novo a cabeça e grita:

– Vem aqui, Iván!

Sem hesitar, outro terço dos soldados russos acorre ao chamado e é impiedosamente fuzilado pelos ucranianos. Pra terminar seu plano, o valente ucraniano enfim se enche de coragem e grita uma terceira vez:

– Vem aqui, Dmítri!

Mais uma vez, o terço restante de russos vai incautamente em direção à trincheira da Ucrânia e é aniquilado sem qualquer dó. Escondido e cheio de medo, o único soldado russo que restou em sua trincheira entendeu a armadilha ucraniana, resolveu se erguer cuidadosamente e berrou:

– Vem aqui, Tarás!

A única coisa que o pobre conscrito obteve foi a seguinte resposta rápida:

– Aqui não tem nenhum Tarás!

Frustrado e temendo por seu destino, o único sobrevivente da Rússia se recolhe à trincheira e lamenta:

– Ah, se tivesse... Mas se só tivesse!!!



sábado, 19 de agosto de 2023

Cinturão do golpe africano (Coup Belt)


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/coupbelt


Este é um trecho do mapa da Wikipédia que colore os países conforme seus sistemas de governo (o que nem sempre tem a ver com democracia ou autocracia). Segundo a definição do site, o verde-musgo indica “países em que as disposições constitucionais pra um governo estão suspensas”, como aqueles governados por juntas militares.

E precisamente com Guiné, Mali, Burquina-Fasso, Chade, Sudão e, até segunda ordem, Níger formando um cordão contínuo de países governados por juntas militares do Atlântico até o mar Vermelho, concretiza-se aquilo que alguns analistas têm chamado desde 2021 de Coup Belt, ou seja, “cinturão do golpe” ou “cinturão golpista” (ceinture de coup d’État em francês). E coincide exatamente com a região do Sahel (entre o Saara e a África Subsaariana), que hoje está quase dominada pelo terrorismo islâmico internacional.

Uma das culpadas pela proliferação de golpes militares nessa região seria a França, pois, como diz o pesquisador Folahanmi Aina neste artigo em inglês publicado pela Al-Jazeera, ela só teria apostado em intervenções bélicas pontuais e não investido no reforço das instituições locais ou na aquisição da simpatia das populações, que agora a veem como uma “potência colonial” indesejável. O Reino Unido, por exemplo, com sua abordagem diferente desde o tempo da “descolonização”, não faz esse tipo de coisa o tempo todo. E é exatamente no vazio deixado por Paris que toma corpo a ameaça iminente de intervenção da Rússia por meio dos bandoleiros do Grupo Wagner, pois eles souberam explorar esse ressentimento pelas mídias sociais e prometeram uma segurança que sabem muito bem não poder fornecer.

Eu acrescentaria que alguns estudiosos também recuam a origem dos males atuais até a intervenção da OTAN na Líbia, cujo principal agitador foi justamente o ex-presidente Nicolas Sarkozy. Então, foi deposto o ditador Muammar Gaddafi, o país até hoje está retalhado por guerras entre facções militares e se tornou um lugar de livre trânsito de sucursais terroristas ainda mais perigosas da Al-Qaeda e do Daesh (como prefiro chamar o “Estado Islâmico”), que avançam cada vez mais ao sul e, assim, provocam um apoio até certo ponto espontâneo da população aos militares golpistas. Passamos então por François Hollande, que lançou a primeira grande intervenção no Mali, e por Emmanuel Macron, que simplesmente menospreza o “Sur Grobá”. A receita perfeita pro caos ou, como chamou o jornalista camaronês Alain Foka (em francês), a “somalização” do Sahel...


quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Idiomas da antiga Iugoslávia socialista


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/servocroata


Mapa da antiga Iugoslávia socialista (“SFRJ”) com a indicação geográfica dos idiomas falados. Todos eles pertencem ao chamado ramo meridional, que inclui também o búlgaro, do grupo eslavo das línguas indo-europeias. Não estão indicadas outras línguas minoritárias, como o húngaro, o ruteno, o romani, o albanês, o romeno e o arromeno.

No extremo norte, o esloveno, e no extremo sul, o macedônio. As partes coloridas indicam os muitos dialetos do que era então chamado “servo-croata” (hoje sérvio, croata e bósnio; segundo alguns, também “montenegrino”): o “shtokaviano” (štokavski, que baseou as línguas literárias), o “kajkaviano” (kajkavski) e o “chakaviano” (čakavski). Cada um é nomeado segundo a forma como se diz a palavra “quê?”: što, kaj ou ča.

Predominante, o dialeto “shtokaviano” se dividia entre os falares (narečja) “ekaviano” (ekavsko, base do atual sérvio literário), “jekaviano” (jekavsko, base do atual croata literário) e “ikaviano” (ikavsko, comum na Dalmácia, onde pode ser observado em muitas canções populares regionais).

A belíssima imagem foi retirada da primeira contracapa do livro Serbo-Croatian Reading Passages (1968), da professora Slavna Babić, que também lecionava inglês e escrevia livros ensinando essa língua. Seus manuais são todos escritos no alfabeto latino, pois o uso do cirílico é associado à exclusiva identidade cultural ortodoxa sérvia, e sob o socialismo o latino também era visto como uma escrita mais internacional. Hoje mesmo, também é amplamente usado na Sérvia, sobretudo na televisão e na internet; na Croácia, o alfabeto latino é o único usado, e na Bósnia ambos são usados.


segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Peter Maffay – “Du” (clássico de 1970)


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/du-maffay


Um dia, eu estava ouvindo canções brasileiras antigas, e o YouTube me recomendou uma chamada Tu, do cantor e compositor Júlio César, que aparecia muitas vezes na TV brasileira antiga. Gostei muito dela, e percebi que na verdade era a tradução de uma baladinha alemã (ocidental) chamada Du (Tu ou Você, igualmente), cantada pelo artista Peter Maffay, que também fazia muito sucesso na Alemanha capitalista e continuou fazendo na Alemanha unificada. Achei o original igualmente encantador e resolvi traduzi-lo pra você, nesse novo formato em vigor desde o fim do Pan-Eslavo Brasil no YouTube: não mais um vídeo legendado, mas o original incorporado, e as letras original e traduzida logo abaixo.

Du teve o texto escrito por Michael Kunze e a melodia composta por Peter Orloff, e foi gravada por Maffay no lado A de seu compacto Für das Mädchen, das ich liebe (Para a moça que eu amo) de 1970, cujo lado B tem a canção Jeder Junge braucht ein Mädchen (Todo rapaz precisa de uma moça). Du chegou ao topo das paradas na Bélgica (Flandres), na Holanda e na Alemanha Ocidental, e com uma gravação em inglês chamada (adivinhem!) You, chegou a ficar duas semanas seguidas no topo das paradas na África do Sul, tornando-se uma de suas faixas mais famosas. Gravado em 1969, seu álbum lançado em janeiro de 1970 não obteve grande êxito inicial e as rádios se recusavam a tocar, porque consideravam seus cinco minutos de duração, pasmem, “longos demais”. Porém, quando Maffay a interpretou na TV pela primeira vez, em março, cativou a todos, e em abril já tinha ganhado o país.

Peter Alexander Makkay (n. 1949), mais conhecido como Peter Maffay (“pêta máfai”), nasceu em Brașov, cidade romena localizada na Transilvânia, onde historicamente vive uma população de origem germânica, e se mudou com os pais pra então Alemanha Ocidental em 1963. Nesse ano, já fundou sua primeira banda, The Dukes, depois completou sua educação formal e lançou Du como seu primeiro álbum solo. A fama foi instantânea, e Maffay continuou uma longa e frutífera carreira, que continua até hoje e o levou em 2022, por exemplo, a ser jurado do programa de talentos The Voice na Alemanha. Du foi gravada em ritmo de balada, o qual ficou tão associado ao cantor que ele demorou pra transitar pro rock, seu estilo mais trabalhado, mas suas canções também costumam ter letras que refletem seu engajamento político pela paz. Por sua obra e projetos de caridade, recebeu vários prêmios, e mesmo tendo sido casado quatro vezes, só tem um filho. Maffay gosta muito de andar de moto e hoje vive com sua família numa fazenda na ilha espanhola de Maiorca, onde também se dedica a ajudar crianças vítimas de violência.

Eu mesmo traduzi a letra em alemão como parte de meu processo de aprendizado da língua, mas achei interessante que você leia também este artigo que encontrei por acaso e que explica como o verbo liebhaben não pode ser traduzido diretamente pelo “amar” (lieben) romântico, dada sua amplitude de situações, o que influenciou em minha tradução. Seguem abaixo o vídeo oficial de Du no canal de Peter Maffay, a tradução poética Tu que ficou famosa com Júlio César no Brasil e a versão holandesa Jij bent alles (Você é tudo), que também teve sucesso com André Hazes:






In deinen Augen steht so vieles, was mir sagt
Du fühlst genau so wie ich
Du bist das Mädchen, das zu mir gehört
Ich lebe nur noch für dich

Du bist alles, was ich habe auf der Welt
Du bist alles, was ich will
Du, du allein kannst mich versteh’n
Du, du darfst nie mehr von mir geh’n

Seit wir uns kennen
Ist mein Leben bunt und schön
Und es ist schön nur durch dich
Was auch gescheh’n mag, ich bleibe bei dir
Ich lass’ dich niemals im Stich

Du bist alles, was ich habe auf der Welt
Du bist alles, was ich will, yeah
Du, du allein kannst mich versteh’n
Du, du darfst nie mehr von mir geh’n

Du, ich will dir etwas sagen
Was ich noch zu keinem anderen Mädchen
Zu keinem anderen Mädchen gesagt habe
Ich hab’ dich lieb
Ja, ich hab’ dich lieb
Und ich will dich immer liebhaben
Immer, immer
Nur dich

Wo ich auch bin
Was ich auch tu’
Ich hab’ ein Ziel
Und dieses Ziel bist du
Bist du
Bist du

Ich kann nicht sagen, was du für mich bist
Sag, dass ich dich, dich nie verlier’
Ohne dich leben, das kann ich nicht mehr
Nichts kann mich trennen von dir

Du bist alles, was ich habe auf der Welt
Du bist alles, was ich will, yeah
Du, du allein kannst mich versteh’n
Du, du darfst nie mehr von mir geh’n
Du, du allein kannst mich versteh’n

____________________


Em teus olhos há tanta coisa que me diz
Que você se sente exatamente como eu
Você é a moça que faz parte de mim
Eu vivo unicamente pra você

Você é tudo o que tenho no mundo
Você é tudo o que quero
Você, só você pode me entender
Você, você nunca mais deve me deixar

Desde que nos conhecemos
Minha vida é bela e colorida
E é bela só por causa de você
O que quer que aconteça, vou ficar com você
Nunca vou te deixar na mão

Você é tudo o que tenho no mundo
Você é tudo o que quero, yeah
Você, só você pode me entender
Você, você nunca mais deve me deixar

Você, quero te dizer uma coisa
Que a nenhuma outra moça
Não disse a nenhuma outra moça
Você é especial pra mim
Sim, você é especial pra mim
E quero que seja sempre especial
Sempre, sempre
Só você

Onde quer que eu esteja
O que quer que eu faça
Tenho um propósito
E esse propósito é você
É você
É você

Não consigo dizer o que você é pra mim
Diga que nunca, nunca vou te perder
Não consigo mais viver sem você
Nada pode me separar de você

Você é tudo o que tenho no mundo
Você é tudo o que quero, yeah
Você, só você pode me entender
Você, você nunca mais deve me deixar
Você, só você pode me entender



sábado, 12 de agosto de 2023

“Loquerisne Latine?” Memes em latim


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/loquerisne

Várias vezes tentei manter perfis no Instagram com bordões ou memes famosos traduzidos pro latim clássico (a variante escrita como era consagrada no século 1 AEC), porque acho uma maneira de provocar riso esse choque do vulgar e do escrachado com o erudito ou hiperculto. Usando a ortografia eclesiástica da Igreja Católica, fazia fotos com legendas e às vezes também legendava vídeos de poucos segundos, sempre me apropriando do nome de usuário @loquerisne, que vem da expressão Loquerisne Latine? (Você fala latim?), que geralmente também era o título de meus perfis. A pronúncia correta é “loquérisne latíne?”, sem reduzir os “e” ao som de “i”; loqueris é a segunda pessoa do singular presente do verbo com conjugação passiva lóquor, lóqui, que se traduz como “falar, dizer, declarar”, e -ne é uma partícula interrogativa átona.

Porém, raramente me sobrava tempo pra fazer novas figuras, pois costumo ser perfeccionista e eu tinha medo que isso prejudicasse o doutorado, enquanto nunca gostei de manter páginas no Facebook e no Instagram que tivessem esse tipo de conteúdo contínuo, e depois as abandonar quando não tivesse mais tempo de alimentá-las. É uma postura “oito ou oitenta” mesmo, típica de minha personalidade, rs. Infelizmente, não guardei nenhum meme da primeira versão da página, quando eu estava mais firme no estudo do latim e cheguei a traduzir até umas frases bastante complicadas. Em meados de 2021, lancei uma nova versão, retomando alguns memes da primeira vez e acrescentando outros, alguns relativos a novos acontecimentos, outros relativos a notícias muito pontuais e dos quais, por isso, não achei interessante fazer backup. Quando minha paciência pra mídias sociais acabou de vez, resolvi não apagar o que já tinha feito e esperar a oportunidade pra republicar aqui. Se você achou a proposta interessante, sinta-se à vontade pra usar o login @loquerisne em outras redes, reutilizar estes memes e, de preferência, criar novos também!

Alguns memes ou bordões são tão conhecidos, ou o contexto é claro a ponto de se poder adivinhar fazendo uma breve pesquisa, que não traduzi a maioria: a graça também está na própria adivinhação, mesmo que a pessoa desconheça o latim, rs. Só em alguns casos decidi explicar a escolha ou a ocasião, de preferência sem traduzir e dando apenas a versão original pra que ela mesmo deduza. Nesta pasta estão alguns dos templates pra você criar textos novos, caso interesse, e que pra mim foram mais difíceis de capturar, e por isso tive dó de jogar fora. Antes que eu me esqueça: aquele César com cara de louco no começo, que achei por acaso no Google Imagens, sempre era a foto de perfil do meu Loquerisne Latine?, rs.





Em 2021, o assassino Lázaro Barbosa estava sendo ferozmente caçado em Goiás e no Distrito Federal, num caso que gerou comoção nacional. Quando ele finalmente foi achado e morto pela polícia, não houve o famoso Plantão da Globo, pois no meio de seu programa matinal, Ana Maria Braga tinha feito uma chamada ao vivo com o repórter local, que acabou anunciando o fim das buscas. Porém, ela fez uma confusão muito bizarra com o nome do repórter, rs:










Jânio Quadros foi um presidente da República brasileiro, que só ficou sete meses dentro do ano de 1961, tendo renunciado por não conseguir dobrar o Congresso Nacional a suas vontades. De temperamento bem caricato e avesso a críticas, o ex-professor de português fez uma ascensão meteórica na política e costumava usar frases prontas de cunho erudito e construção inusitada, como esta que remete à sua conhecida propensão ao álcool: “Bebo porque é líquido. Se fosse sólido, comê-lo-ia.” (Pros incautos, a última palavra equivale a “eu o comeria”.)




Este sermão do padre Fábio de Melo na sede da Canção Nova viralizou porque ele disse que os católicos não deviam temer despachos de macumba colocados nas portas de suas casas, caso sua fé cristã fosse realmente forte. Porém, a lacrosfera interpretou isso como um “desrespeito às religiões de matriz afro”, o que é uma completa descontextualização. Em minha humilde opinião, a Canção Nova é um grande circo eclesiástico, mas o que mais me enojou nesse vídeo não foi a ideia em si, e sim uma das frases que realmente era desnecessária.










Quando lancei esta imagem em algumas redes sociais não associadas ao projeto @loquerisne (o que eu realmente não devia ter feito), fui criticado por causa da situação que envolvia George Floyd. Porém, minha intenção não tinha sido fazer piada da violência, muito menos apologia, e sim traduzir a frase “I can’t breathe”, que também tinha se tornado um bordão na luta antirracista. Nessa sequência, a imagem posterior traduz a frase “Black lives matter”, e é interessante como na Antiguidade Clássica os negros africanos em geral eram chamados de “etíopes”!














Rubens Ricupero, diplomata e professor, embaixador do Brasil em vários países, uma das testemunhas do nascimento da Política Externa Independente brasileira e Ministro da Fazenda em 1994 durante o governo de Itamar Franco, quando ajudou a implantar o Plano Real, mas se demitiu após ser pego pronunciando em off a famosa frase do que seria chamado “escândalo da parabólica”.


Este diálogo é tão épico que dispensa explicações! Apenas não traduzi todas as frases...














terça-feira, 8 de agosto de 2023

Livros didáticos do mundo paralelo


No universo paralelo da ditadura moscovita, os novos livros escolares públicos de História apresentados hoje contêm citações do Grande Líder, acompanhadas de fotos suas de quando ele ainda tinha cara de manga chupada, e os mapas apresentam as regiões roubadas à Ucrânia como novas partes do grande Império!




sábado, 5 de agosto de 2023

Anita Prestes perdeu meu respeito!


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/anita-ucrania

A Prof.ª Dr.ª Anita Leocádia Prestes nasceu em 1936, num campo de concentração da Alemanha nazista, de mãe comunista deportada do Brasil pela ditadura de Getúlio Vargas, Olga Benario, muito celebrada recentemente por seu enfrentamento ao nazismo nos dois lados do Atlântico e por sua persistência em não trair os companheiros de causa. O pai de Anita é Luiz Carlos Prestes, ex-militar que iniciou sua revolta ainda em meados da década de 1920 contra o regime oligárquico então vigente no Brasil, aderiu às ideias comunistas no exílio em 1930 e se formou um alto quadro stalinista diretamente na antiga URSS, no início da década de 1930, tendo sua adesão imposta pela Comintern ao PCB, que finalmente só o aceitaria em 1934. Quem lê muito esta página e quem acompanha minhas pesquisas desde a graduação, sabe que o referido casal faz parte de meu tema de doutorado, por isso tenho muitas leituras tanto sobre ele, quanto de obras da historiadora Anita.

Luiz Carlos e Olga se conheceram em Moscou, quando a alemã tinha sido encarregada de cuidar da segurança do brasileiro durante sua volta secreta ao Brasil, no início de 1935. Mesmo devendo apenas fingirem ser um casal binacional, os dois acabaram se apaixonando no navio, onde Anita acabaria sendo “fabricada”, rs. Após as insurreições militares de novembro de 1935, que na verdade (exceto no Rio de Janeiro) pegaram a liderança do PCB de surpresa, Vargas ganhou de bandeja um álibi pra esmagar toda e qualquer oposição, em especial a comunista, e todo o Comitê Central do PCB e os enviados técnicos estrangeiros foram alvo de uma longa caçada policial. Em janeiro de 1936, Luiz Carlos, cuja fama de líder popular remontava a bem antes de sua adesão ao comunismo, e Olga foram finalmente presos, e enquanto ele ficaria detido até a anistia política geral de abril de 1945, ela seria deportada à Alemanha, onde daria à luz Anita e morreria num campo de concentração nazista em 1942. A criança só seria entregue à avó paterna pra futura criação após ampla campanha de solidariedade internacional, mas Prestes, seguindo a linha determinada pelo PCB (e com sua anuência) enquanto estava preso, debelou qualquer ódio pessoal que pudesse nutrir contra o ditador e apoiou sua permanência no poder até a adoção final de uma nova Constituição. Contudo, Vargas seria derrubado pela própria cúpula militar em outubro de 1945, antes mesmo que fosse eleito seu sucessor. E este, por ironia do destino, mas nada anormal na Banânia, seria um dos generais golpistas: Eurico Dutra.

A. L. Prestes só conheceria o pai como menina crescida, após o fim da 2.ª Guerra Mundial e a saída de Luiz Carlos da prisão, tendo-o ajudado nessa nova fase da militância. Graduada e mestra em engenharia química no Brasil, exilou-se com a família em Moscou após o golpe de 1964 e lá se doutorou em economia política, e tendo voltado ao Brasil com a anistia, obteve outro doutorado, mas em história, e justamente sobre a “Coluna Prestes” protagonizada por seu pai na década de 1920. Sua atuação acadêmica (professora e orientadora) e seus muitos livros e artigos são dedicados em sua maioria à “história comparada” entre os vários períodos da existência do PCB e à biografia política de Luiz Carlos Prestes, e sua mais recente obra relevante, recentemente traduzida em alemão, dedica-se à biografia da mãe, Olga Benario, com muitos arquivos da Gestapo e da antiga Alemanha Oriental pouco ou não explorados. A. L. Prestes, mesmo não reivindicando abertamente Stalin e até rejeitando o pensamento político de Mao Zedong, mantém-se fiel ao comunismo leninista e ao modelo de sociedade socialista construído na antiga URSS e transplantado aos países vizinhos. Pela sua biografia, percebemos que foi vítima direta ou indireta de vários regimes autoritários, como o varguista, o nazista e o militar no Brasil de 1964-85, e sempre defendeu políticas progressistas e se manteve ao lado dos pobres e oprimidos.

Mesmo com tal currículo, e mesmo citando a frase “Estudar, estudar e estudar”, atribuída a Lenin, Anita deu uma asquerosa entrevista a um canal chamado “Tutameia” (procure, não vou pôr link nenhum aqui) no fim de junho, logo após a rebelião de Ievgeni Prigozhin contra os líderes militares russos. O casal esquerdista responsável pelo canal já deu voz a muitas outras figuras de probidade bastante duvidosa, que passam um pano descarado pra ditadura assassina de Putin e repetem as mesmas falácias sobre a “Ucrânia nazista”, o “golpe de Estado” em Kyiv em 2014 e as “terras historicamente russas” da Crimeia e do Donbás. Dada sua adesão ideológica, não seria muita surpresa que Anita passasse pano, ainda que não explicitamente, ao tirano do Kremlin e comprasse sua narrativa do mal que acomete a Ucrânia desde o Euromaidan. Porém, de alguém que dá aulas, escreve livros e artigos e domina grande parte da história contemporânea, não se esperaria uma fala tão balbuciante, hesitosa e cheia de contradições, simplificando de modo impressionante tudo o que está em jogo e não sabendo sequer definir o “fascista” e o “nazista” que ela alterna sem critério nenhum pra descrever o “regime de Kyiv” em vigor desde 2014. Entende-se também que então, a rebelião do Grupo Wagner ainda estava mal explicada, mas Anita se evade como se o recurso a mercenários não fosse estrutural ao militarismo russo, e como se Prigozhin não tivesse cometido os piores crimes ao arrancar pessoas da cadeia e usá-las como carne de canhão em algo tão irrelevante quanto a captura da minúscula Bakhmut!

“Zelinsky” é nazista, a Ucrânia vive uma “ditadura feroz, brutal e assassina” manipulada pelos EUA e pela OTAN (tal “manipulação” é em parte verdadeira, mas ou é isso, ou é serem exterminados pela Rússia), Putin tem condições de vencer a guerra, e pasmem, a Crimeia e o Donbás “sempre foram territórios russos”! Não houve qualquer tentativa de se informar mais, não houve aporte de provas e dados, não houve uma compreensão do processo político ucraniano desde o Euromaidan (a “ditadura” em que um presidente não conseguiu ser reeleito e em que seu sucessor teve ampla maioria nos territórios russófonos!), e o pior, não houve uma palavra pra descrever o descalabro humanitário que o mafioso de Leningrado impôs à Rússia e à Ucrânia, onde simplesmente está bombardeando infraestruturas civis e matando a população comum sem o mínimo critério! É a mera repetição de chavões da propaganda eurasiana, adotada por grande parte dos brasileiros apenas por mera birra contra o “imperialismo estadunidense”. Não há menção à chantagem atômica, à desestabilização na Geórgia e na Moldova, à eliminação pura e simples de opositores políticos e à prisão com altíssimas penas de cidadãos comuns que simplesmente criticam nas redes sociais o genocídio em curso; ah, mas a ditadura brutal e assassina é a Ucrânia!

Resumindo, os “Tutameia” só chamam aqueles a quem querem ouvir, que se dispõem a falar o que o público fidelizado quer ouvir, e não dão qualquer espaço ao contraditório, mesmo dentro do próprio campo progressista ou coerentemente antiautoritário.

Enfim, você que é inteligente, informado e me acompanha há anos, não consegue chegar ao nível de cegueira voluntária da Anita, por isso não vou citar todos os pontos que poderiam ser refutados com uma simples pesquisa a fontes probas amplamente disponíveis. Você, também espero, certamente acessa muitos sites e canais em várias línguas, com informações atualizadas, e não se limita à mesma demonização binária da “mídia tradicional” que só conhece os velhos jornalões impressos. Ela ainda usa como contraponto um único artigo do New York Times que pode rapidamente envelhecer, enquanto a tendência é diversos portais, sobretudo em inglês, transmitirem os eventos em tempo real e publicarem diversas atualizações a cada minuto! Aliás, pra quem não entender a referência, o Resistir.info é uma pagineta abandonada com design da década de 1990, limitada a meras análises partidárias e que por vezes defende as piores ditaduras (“anti-imperialistas”, claro) e o stalinismo mais grotesco.

Descontando, claro, o resto da entrevista, que tem conclusões muito boas, segue a seleção das asneiras sobre a Ucrânia, caso você tenha estômago e psicológico:



quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Entenda a crise no PCB em imagens


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/crise-pcb

Bafão ideológico! Jones Manoel, Gabriel Landi, Gustavo Gaiofato (“História Cabeluda”) e outros jovens dinâmicos que ficaram conhecidos pela divulgação do marxismo (leninismo, na verdade) nas redes sociais, bem como Ivan Pinheiro, dirigente histórico e ex-secretário-geral, foram expulsos do PCB! Segundo entendi no canal do Jones, o Comitê Central está dominado por acadêmicos de humanas veteranos e famosos, como Mauro Iasi, Sofia Manzano, Edmilson Costa e Antonio Carlos Mazzeo (cujo livro Sinfonia inacabada é um bem dado pé no saco), e a razão da treta foi eles não terem cumprido as normas estatutárias e terem adiado futuros encontros e debates sine die, partindo da situação excepcional criada pela pandemia.

Jones Manoel e Ivan Pinheiro terminaram expondo no YouTube uma insatisfação que, aparentemente, podia muito bem ser expressa publicamente, sem romper “segredos de partido”, e me deram a entender que os catedráticos veteranos estariam com inveja ou receio de não poderem controlar o trabalho digital dos jovens, muitos dos quais expressam opiniões mais radicais, mas nem por isso antidemocráticas. Esse alcance a um público maior, a participação em mais eventos presenciais e a frequente militância em outras organizações de base (sobretudo os chamados “coletivos”) teriam sido chamadas pelo CC de “anti-intelectualismo”, o que contradiz com a grande produtividade editorial, quase sempre fora da academia, de Jones e Gabriel, e com a ausência de qualquer ataque aos intelectuais de forma geral. Em todo o caso, vindo a público as discordâncias, a expulsão foi sumária e inexplicada.

Não conheço as minúcias do funcionamento atual do aparelho do PCB, mas é impossível não me remeter, como estudioso do partido das décadas de 1940 a 1960, e depois das décadas de 1920 a 1940, quando os intelectuais, se não discriminados, eram marginalizados, e o operário era visto como uma “essência pura” a se descobrir num lugar indeterminado. O paradoxo era que desde 1935, a maior afluência às fileiras comunistas era dos chamados “pequenos burgueses”, ou seja, intelectuais, servidores públicos (incluindo militares e professores universitários) e profissionais liberais, sem contar os rebeldes advindos de famílias ricas. O funcionamento do aparelho era uma bagunça, e toda discordância que alguém expressasse contra a direção levava esta a lhe jogar na cara um “ismo” qualquer pra justificar uma punição, rebaixamento ou mesmo expulsão. Isso nunca mudou nem na época da Comintern, com Antônio Maciel Bonfim, nem depois dele, com Diógenes Arruda Câmara, nem quando Luiz Carlos Prestes enfim retomou o controle sobre o PCB. E parece que nem mesmo agora mudou, com um punhado de marmanjos querendo brincar de “vanguarda bolchevique” em plena era da inteligência artificial.

Não concordo em tudo com essa leva de “jovens dinâmicos”, mas admiro o trabalho que eles fazem e a habilidade com o manejo das mídias digitais, algo que nunca adquiri realmente, e gosto muito do rigor com que o Jones trata de seus temas. Com comunistas, esse respeito na divergência não se estende a stalinistas assumidos, a microsseitas mao-hoxhistas e a bajuladores da dinastia terrorista dos Kim na Coreia do Norte. Mas isso não me impediu que eu fizesse no canal do Jones alguns comentários jocosos e brincasse com a situação, não esperando de forma nenhuma que ele fosse ler ou muito menos “me dar coração”, rs:










terça-feira, 1 de agosto de 2023

Dancinhas dos soldados no Níger


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/soldados-niger


Logo após o golpe de Estado que derrubou o presidente do Níger há alguns dias, a TV de Estado, como podemos ver nesta gravação de uma de suas transmissões ao vivo, retransmitiu várias vezes os comunicados emitidos pela junta militar e reprisou vários clipes prontos de canções patrióticas ou militaristas, com as atuações mais bizarras que podemos imaginar. Numa delas, podemos ver inclusive dançarinos portando rifles de madeira pintados de cinza: se esse é o exército que se propõe a combater o terrorismo islâmico no lugar das forças estrangeiras, então é melhor eu deixar minha barba crescer e começar a estudar a xaria, rs.

Nesta publicação especial, você pode apreciar os principais clipes “militaristas” que foram rodados, muitos aparentemente com vários anos de idade, e como certamente foram usadas as línguas locais apenas pontuadas com algumas frases em francês, não tenho como as traduzir. Mas a estética é uma linguagem universal, portanto divirta-se com as coreografias que vão bombar no próximo Carnaval e com as animadas melodias! Como se pode ler no print de um comentário meu acima, até quem gerencia o canal reconheceu que as produções são cringe e kitsch (bregas), rs.

TV Sahel: onipresente e para todos! :)


















A situação política do Níger resumida numa só palavra! 😂