domingo, 29 de novembro de 2015

“Azul” (Edson & Hudson) em esperanto


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Dentre as várias músicas brasileiras que verti poeticamente para o esperanto nos anos 2000, hoje escolhi publicar este sucesso sertanejo, Azul, composto por Flávio Santander e Gustavo Santander, cantado por várias duplas, dentre as quais Guilherme & Santiago e Edson & Hudson, e que verti em 14 de junho de 2003. Em português, Azul está como adjetivo, e em esperanto transformei num substantivo, La blu’, ou seja, “a cor azul”. Como se pode notar, abusei das elisões de vogais finais de substantivos e do artigo, e me desviei um pouco da estrita regra da sílaba tônica em esperanto. Nesta página você pode ler a letra em português, e abaixo a letra em esperanto e um vídeo com a música cantada por Edson & Hudson ao vivo em estúdio.

El inter la pluraj brazilaj kanzonoj, kiujn mi poezie tradukis al Esperanto en la 2000-aj jaroj, hodiaŭ mi publikigas ĉi tiun sukceson de la stilo “sertanejo”, Azul, komponita de Flávio Santander kaj Gustavo Santander, kantata de pluraj duopoj, el inter kiuj Guilherme & Santiago kaj Edson & Hudson, kaj tradukita de mi la 14-an de Junio 2003. En la kanzono, la portugala vorto Azul estas la adjektivo “blua”, kaj en Esperanto mi uzis por la titolo La blu’, substantivon, ankaŭ “azul” en la portugala. Mi rimarkeble uzegis eliziojn de finaj vokaloj de substantivoj kaj de la artikolo, kaj ne ĉiam respektis la striktan regulon de la streĉa silabo en Esperanto. Ĉi-paĝe vi povas legi la tekston en la portugala, kaj ĉi-sube vi legos la tekston en Esperanto kaj rigardos videon kun la kanzono kantata de Edson & Hudson realtempe en studio.


La blu’

1. En la maten’, kiam mi trovis vin,
Venteto tuŝadis vian dolĉegan haŭton.
Trist’ estis, en viaj okuloj, ĉarm’.
Do mi vin faris virin’.
Kisante, tostante per blanka vin’,
Mi naskis amon kolor’ kies estas blu’.
En la ĉiel’ mi vin vidas, la stel’:
El la sonĝoj venu al mi!

Rekantaĵo:
Kaj blua estas la am’ kiel mara blu’,
Kiel dolĉa iluzio en mia kor’,
El kiu serĉas mi bluon por la konsol’
Se faras afektaĵojn la malbona plor’.
Kaj blua estas estas la am’ kiel mara blu’,
Kiel ĉiela blu’, de l’ pasio la lum’.
Ĝi ŝajnas brilo, kiu venante el sun’
Min ĉirkaŭprenas kaj min plenigas je am’.

2. Kiel mirakl’ atendita de mi,
Sonĝinda estas vi, mia knabin’ kun blu’.
Vian simplecon komprenas mi ne.
Mi estos via blua princ’.
Kun vi mi faros frenezaĵojn mil.
Por mi, koloro de l’ luno nur estas blu’,
Kaj kiel pluvo pentrita per blu’
Ĉiam nur estos ja vi!

(Rekantaĵo)



domingo, 22 de novembro de 2015

Ah ! ça ira (canção revolucionária)


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Esta é uma das mais famosas canções que simbolizam a Revolução Francesa, Ah ! ça ira, cujo título se tornou um lema dos revoltosos. Eu soube de sua existência ao ler o livro A formação da classe operária inglesa, do historiador britânico Edward Palmer Thompson, que aborda o período de 1780 a 1830 e conta que os trabalhadores em luta a cantavam frequentemente junto com A Marselhesa. É uma prova de que a cultura francesa, bem como suas tradições rebeldes, eram muito influentes do outro lado do Canal da Mancha.

A expressão “Ça ira” remonta ao tempo (1776-1785) em que Benjamin Franklin estava na França como representante (embaixador) do Congresso Continental, órgão legislativo que governava as 13 colônias (futuros EUA) durante a guerra de independência contra o Reino Unido. Muito popular entre os franceses, sempre que questionado sobre o andamento da guerra, Franklin invariavelmente respondia em seu francês ruim: “Ça ira, ça ira”, literalmente “Isso irá, isso irá”, ou “Isso dará certo”, “Terá um bom desfecho”.

Aparentemente “Ça ira” pegou, e um antigo soldado que cantava nas ruas, de sobrenome Ladré, fez uma canção com essas palavras, baseada na melodia do Carillon national, uma popular ária de contradança atribuída ao violinista Bécourt e que ironicamente a rainha Maria Antonieta gostava de tocar em seu cravo. A canção foi ouvida pela primeira vez em maio de 1790, mas se popularizou na Festa da Federação do 14 de julho seguinte, com a primeira letra apresentada no vídeo. Com a difusão da canção, ela tomou várias letras, sendo uma delas a versão vingativa que “sans-culottes” compuseram nos anos posteriores da revolução, apresentada depois no vídeo.

Esta segunda versão cantada por Édith Piaf omite no refrão os dois últimos versos originais: “Et quand on les aura tous pendus,/On leur fichera la pelle au cul !”. Uma tradução possível seria “E depois de enforcá-los,/Vamos empalá-los todos!”, especialmente porque a expressão “ficher la pelle au cul” admite várias interpretações relacionadas a uma situação ruim, além da mera empalação.

Eu fiz uma tradução direta das duas versões, mas também cotejei a primeira com as traduções da Wikipédia em inglês e italiano, e a segunda, com uma tradução italiana do site Canções Contra a Guerra. Esta versão está completa, mas a primeira é mais comprida, e traduzi apenas as estrofes gravadas em fita cassete em 1988. As legendas estão simplificadas em relação à letra das traduções escritas, para facilitar a leitura rápida sem prejuízo do sentido, mas fiz aqui também notas explicativas. O áudio da primeira versão eu tirei do canal YouTube “ccffpa”, e o da segunda versão, do canal “valestap”. Depois do vídeo legendado estão as letras das duas versões em francês e em português:



Versão de 1790:

Ah ! ça ira, ça ira, ça ira,
Le peuple en ce jour sans cesse répète,
Ah ! ça ira, ça ira, ça ira,
Malgré les mutins tout réussira.
Nos ennemis confus en restent là
Et nous allons chanter alléluia !
Ah ! ça ira, ça ira, ça ira,
Quand Boileau jadis du clergé parla
Comme un prophète il a prédit cela.
En chantant ma chansonnette
Avec plaisir on dira :
Ah ! ça ira, ça ira, ça ira !
Malgré les mutins tout réussira.

Ah ! ça ira, ça ira, ça ira !
Pierette et Margot chantent à la guinguette
Ah ! ça ira, ça ira, ça ira !
Réjouissons-nous, le bon temps viendra !
Le peuple français jadis à quia,
L’aristocrate dit : Mea culpa!
Ah ! ça ira, ça ira, ça ira !
Le clergé regrette le bien qu’il a,
Par justice, la nation l’aura.
Par le prudent Lafayette,
Tout le monde s’apaisera.
Ah ! ça ira, ça ira, ça ira !
Réjouissons-nous, le bon temps viendra !

Ah ! ça ira, ça ira, ça ira !
Par les flambeaux de l’auguste assemblée,
Ah ! ça ira, ça ira, ça ira !
Le peuple armé toujours se gardera.
Le vrai d’avec le faux l’on connaîtra,
Le citoyen pour le bien soutiendra.
Ah ! ça ira, ça ira, ça ira !
Quand l’aristocrate protestera,
Le bon citoyen au nez lui rira,
Sans avoir l’âme troublée,
Toujours le plus fort sera.
Ah ! ça ira, ça ira, ça ira !
Le peuple armé toujours se gardera.

Ah ! ça ira, ça ira, ça ira !
Par les flambeaux de l’auguste assemblée,
Ah ! ça ira, ça ira, ça ira !
Le peuple armé toujours se gardera.

___________________


Ah, vamos vencer, vamos vencer,
É o que o povo não para de dizer,
Ah, vamos vencer, vamos vencer,
Vai dar certo apesar dos baderneiros.
Nossos inimigos confusos param
E vamos cantar Aleluia!
Ah, vamos vencer, vamos vencer,
Falando do clero, Boileau (1) outrora
Previu tudo isso como um profeta.
Cantando minha cançoneta
Vamos dizer com gosto:
Ah, vamos vencer, vamos vencer!
Vai dar certo apesar dos baderneiros.

Ah, vamos vencer, vamos vencer!
Pierette e Margot cantam na guinguette (2)
Ah, vamos vencer, vamos vencer!
Alegremo-nos, bons tempos virão!
O povo francês outrora silenciava,
E agora o aristocrata se culpa!
Ah, vamos vencer, vamos vencer!
E o clero lamenta sua riqueza,
Que será da nação por justiça.
O moderado Lafayette (3) fará
Todo mundo (4) se acalmar.
Ah, vamos vencer, vamos vencer!
Alegremo-nos, bons tempos virão!

Ah, vamos vencer, vamos vencer!
Com as tochas da augusta assembleia
Ah, vamos vencer, vamos vencer!
O povo sempre resistirá armado.
O joio será separado do trigo
E o cidadão apoiará o bem.
Ah, vamos vencer, vamos vencer!
Quando o aristocrata protestar,
O bom cidadão rirá da sua cara
Sem se incomodar com isso
E será sempre o mais forte.
Ah, vamos vencer, vamos vencer!
O povo sempre resistirá armado.

Ah, vamos vencer, vamos vencer!
Com as tochas da augusta assembleia
Ah, vamos vencer, vamos vencer!
O povo sempre resistirá armado.




Acréscimos “sans-culottes” posteriores:

Refrain :
Ah ! ça ira, ça ira, ça ira
Les aristocrates à la lanterne
Ah ! ça ira, ça ira, ça ira
Les aristocrates on les pendra
(Et quand on les aura tous pendus,
On leur fichera la pelle au cul !)

1. V’la trois cents ans qu'ils nous promettent
Qu’on va nous accorder du pain
V’la trois cents ans qu’ils donnent des fêtes
Et qu’ils entretiennent des catins
V’la trois cents ans qu’on nous écrase
Assez de mensonges et de phrases
On ne veut plus mourir de faim

(Refrain)

2. V’la trois cents ans qu’ils font la guerre
Au son des fifres et des tambours
En nous laissant crever d’misère
Ça n’pouvait pas durer toujours
V’la trois cents ans qu’ils prennent nos hommes
Qu’ils nous traitent comme des bêtes de somme
Ça n’pouvait pas durer toujours

(Refrain)

3. Le châtiment pour vous s’apprête
Car le peuple reprend ses droits
Vous vous êtes bien payé nos têtes
C’en est fini Messieurs les rois
Il n’faut plus compter sur les nôtres
On va s’offrir maint’nant les vôtres
Car c’est nous qui faisons la loi

(Refrain)

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Refrão:
Ah, vamos vencer, vamos vencer
Vamos enforcar os aristocratas (5)
Ah, vamos vencer, vamos vencer
Vamos enforcar nos lampiões
(E depois de enforcá-los,
Vamos empalá-los todos!)

1. Há trezentos anos eles nos prometem
Que vão nos conceder pão
Há trezentos anos eles dão festas
E entretêm prostitutas
Há trezentos anos somos esmagados
Chega de mentiras e falatórios
Estamos fartos de morrer de fome

(Refrão)

2. Há trezentos anos eles fazem a guerra
Ao som dos pífaros e tambores
Deixando-nos arrebentar de miséria
Isso não podia ser para sempre
Há trezentos anos eles pegam nossos homens
E nos tratam como animais de carga
Isso não podia ser para sempre

(Refrão)

3. O castigo de vocês está próximo
Pois o povo retoma seus direitos
Vocês já nos ferraram muito
Isso já era, Senhores Reis
Não vão mais ferrar com a gente
Agora vocês é que serão ferrados
Pois somos nós que fazemos a lei

(Refrão)

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Notas do tradutor
(Clique no número para voltar ao texto)

(1) Nicolas Boileau (1636-1711), escritor, crítico e poeta cujas sátiras sobre os costumes da época atraíram a ira até mesmo do clero.

(2) “Guinguette”, antigo tipo de cabaré originado nos subúrbios parisienses que também funcionava como restaurante e, por vezes, lugar de dança. Nas legendas, usei “cabaré” por razões de espaço.

(3) Gilbert du Motier, Marquês de La Fayette, ou apenas Lafayette (1757-1834), aristocrata, oficial e político liberal francês que lutou ao lado dos americanos na guerra de independência e teve um papel proeminente na Revolução Francesa de 1789, bem como na de 1830.

(4) Em todas as fontes escritas, o verso em francês que conta é “Tout le monde s’apaisera” (Todo mundo se acalmar), mas o intérprete de 1988 canta “Tout trouble s’apaisera” (Toda desordem se acalmar).

(5) A expressão em francês “Les aristocrates à la lanterne” (literalmente “Os aristocratas ao lampião”) deriva dos primeiros atos impulsivos da Revolução Francesa, em que o povo enforcava clérigos, nobres, cobradores de impostos e outros funcionários públicos em lampiões, após mandá-los “À la lanterne !” (Ao lampião!). “La lanterne” ou “À la lanterne” terminou se tornando um jargão muito usado na cultura, em títulos de revistas etc.




domingo, 15 de novembro de 2015

Hollande repudia ataques em Paris


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François Hollande, presidente da França, fez um discurso no dia seguinte aos atentados que atingiram Paris em 13 de novembro de 2015. À noite, atiradores islâmicos em vários pontos da capital haviam assassinado dezenas de pessoas, a maior parte delas na casa de shows Bataclan, onde se apresentava uma banda musical norte-americana, e outras próximo ao Stade de France, onde ocorria um jogo entre França e Alemanha.

O presidente Hollande repudiou com força os ataques jihadistas, atribuindo-os ao grupo Daesh e prometendo desbaratá-lo onde quer que fosse. Até o momento, diz, haviam sido contadas 127 vítimas fatais e muitíssimos feridos, a França estava em estado de choque e as famílias dos mortos, transtornadas. Como na ocasião do atentado ao Charlie Hebdo em janeiro, Hollande pediu que toda a população se unisse, afirmou terem sido tomadas todas as medidas de segurança e anunciou uma coalizão internacional para combater a onda terrorista em ascensão naqueles dias.

O Estado Islâmico, também conhecido como ISIS, estava ultimamente intensificando seus atentados ao redor do mundo, e a França havia se engajado ainda mais no combate armado ao grupo. Logo após o tiroteio, Hollande também decretou o fechamento das fronteiras do país (o primeiro desde 1944), num momento em que centenas de milhares de imigrantes fugiam do Oriente Médio e do Norte da África para a Europa justamente por conta da intensa guerra entre os terroristas e os exércitos ocidentais e locais.

Qual será o próximo capítulo dessa novela? A xenofobia vai aumentar no Velho Continente e o fluxo imigratório será bloqueado? A Rússia, que já vinha bombardeando alvos do Estado Islâmico na Síria, vai finalmente começar a colaborar com os Estados Unidos e a União Europeia? Ou a França, como os EUA durante o governo George W. Bush, vai se tornar novo destino de atentados e instalar um Estado de paranoia e cerceamento?

Eu legendei o vídeo em português pouco após ele ter sido posto no ar em francês, tendo baixado sem legendas do canal francês BFMTV. Este discurso não tinha uma versão escrita nem mesmo no site do Élysée, e ao contrário de outras legendagens, fiz os trabalhos de escuta, tradução e inserção ao mesmo tempo na manhã mesma do pronunciamento. Abaixo do vídeo, uma transcrição adaptada em francês e uma tradução mais bem elaborada:



Mes chers compatriotes,

Ce qui s’est produit hier à Paris et à Saint-Denis, près du Stade de France, c’est un acte de guerre. Et face à la guerre, le pays doit prendre les décisions appropriées. C’est un acte de guerre qui a été commis par une armée terroriste, Daesh, une armée jihadiste, contre la France, contre les valeurs que nous défendons partout dans le monde, contre ce que nous sommes : un pays libre qui parle à l’ensemble de la planète.

C’est un acte de guerre qui a été preparé, organisé, planifié de l’extérieur et avec des complicités intérieures que l’enquête permettra d’établir. C’est un acte d’une barbarie absolue : à cet instant, 127 morts et de nombreux blessés. Les familles sont dans le chagrin, la détresse. Le pays est dans la peine, et j’ai pris un décret pour proclamer le deuil national pour trois jours.

Toutes les mesures pour protéger nos concitoyens et notre territoire sont prises dans le cadre de l’état d’urgence. Les forces de sécurité intérieure et l’Armée, auxquelles je rends hommage, notamment pour l’action qui s’est produite hier et qui a permis de neutraliser les terroristes, elles sont donc mobilisées au plus haut niveau de leurs possibilités. Et j’ai veillé à ce que tous les dispositifs soient renforcés à l’échelle maximale. Des militaires patrouilleront en plein Paris tout au long de ces prochains jours.

La France, parce qu’elle a été agressée lâchement, honteusement, violamment, elle sera impitoyable à l’égard des barbares de Daesh. Elle agira avec tous les moyens dans le cadre du droit, et tous les moyens qui conviennent, et sur tous les terrains, intérieurs comme extérieurs, en concertation avec nos alliés qui eux-mêmes sont visés par cette menace terroriste. Dans cette période si douloureuse, si grave, si décisive pour notre pays, je l’appelle à l’unité, au rassemblement, au sang-froid, et je m’adresserai au Parlement réuni en Congrès à Versailles lundi pour rassembler la nation dans cette épreuve.

La France est forte, et même si elle peut être blessée, elle se lève toujours, et rien ne pourra l’atteindre, même si le chagrin nous assaille. La France, elle est solide, elle est active, elle est vaillante, et elle triomphera de la barbarie : l’histoire nous le rappelle, et la force que nous sommes capables aujourd’hui de mobiliser nous en convainc.

Mes chers compatriotes,

Ce que nous défendons, c’est notre patrie, mais c’est bien plus que cela : ce sont les valeurs d’humanité, et la France saura prendre ses responsabilités, et je vous appelle à cette unité indispensable.

Vive la République et vive la France !

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Meus caros compatriotas,

O que ocorreu ontem em Paris e em Saint-Denis, perto do Stade de France, foi um ato de guerra. E diante da guerra, o país deve tomar as decisões apropriadas. Foi um ato de guerra cometido por um exército terrorista, o Daesh, (1) um exército jihadista, contra a França, contra os valores que defendemos no mundo inteiro e contra o que somos: um país livre que fala ao planeta em conjunto.

Foi um ato de guerra preparado, organizado e planejado a partir do exterior, com cúmplices internos que a investigação nos permitirá descobrir. Foi um ato absolutamente bárbaro: neste momento, 127 mortos e inúmeros feridos. As famílias estão tristes, angustiadas. O país está sofrendo, e sancionei um decreto para instituir três dias de luto nacional.

Todas as medidas para proteger nossos concidadãos e nosso território foram tomadas no quadro do estado de emergência. As forças de segurança interna e o Exército, os quais homenageio especialmente pela ação que ocorreu ontem e permitiu neutralizar os terroristas, estão, pois, mobilizados ao nível mais alto de suas possibilidades. E cuidei para que todos os dispositivos fossem reforçados à escala máxima. Militares patrulharão no meio de Paris por todos esses próximos dias.

A França, por ter sido agredida covardemente, vergonhosamente, violentamente, será impiedosa para com os bárbaros do Daesh. Agirá com todos os meios nos limites do direito, os meios que convierem, e em todo território interior e exterior, em acordo com nossos aliados que também são visados por essa ameaça terrorista. Nesse período tão doloroso, tão grave e tão decisivo para nosso país, eu o chamo à unidade, à união e ao sangue-frio, e falarei ao Parlamento, reunido em Congresso em Versalhes (2) na segunda-feira para congregar a nação em provação.

A França é forte, e mesmo podendo ser ferida, sempre se reergue, e nada poderá atingi-la, mesmo se a tristeza nos atormenta. A França é sólida, é ativa, é valente, e triunfará sobre a barbárie: a história o relembra para nós, e a força que hoje somos capazes de mobilizar nos convence disso.

Meus caros compatriotas,

O que defendemos é nossa pátria, mas muito além disso, são os valores de humanidade. A França saberá arcar com suas responsabilidades, e eu chamo vocês a essa unidade indispensável.

Viva a República e viva a França!


Notas do tradutor
(Clique no número para voltar ao texto)

(1) “Daesh” em inglês, ou “Daech” em francês, é um acrônimo de origem árabe que designa o Estado Islâmico. É o termo preferido por seus inimigos, escondendo as palavras “Estado” e “islâmico”, pois o grupo não seria nem um Estado constituído, nem seguidor do “verdadeiro” islã. Alguns estadistas ocidentais e agências de notícias, porém, o evitam por considerarem-no “ideológico” e parecido com palavras árabes que denotam “esmagadores” e “desestabilizadores”, associação considerada favorável aos terroristas. Quem evita “Daesh” prefere usar “organização/grupo Estado Islâmico” ou “o assim chamado Estado Islâmico”.

(2) Trata-se do Congresso do Parlamento Francês (Congrès du Parlement français), ocasião em que se reúnem as duas câmaras parlamentares (Assembleia Nacional e Senado) na Sala do Congresso do Palácio de Versalhes para votar uma revisão constitucional, ouvir uma declaração do Presidente da República ou autorizar a adesão de um Estado à União Europeia. O Congresso de 16 de novembro de 2015 seria o segundo destinado a uma declaração presidencial, tendo sido o primeiro em 22 de junho de 2009 sob Nicolas Sarkozy.



domingo, 8 de novembro de 2015

Duas cartas sobre Octavio Brandão (2)


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Estou postando hoje a segunda carta em russo relacionada a Octavio Brandão, que encontrei em seu fundo documental no Arquivo Edgard Leuenroth (AEL/IFCH/Unicamp), traduzi e tornei pública com autorização da instituição. Eu já tinha publicado na semana passada a primeira carta, escrita por uma de suas filhas a outras duas, suas irmãs, e aí estão também mais informações sobre minha relação com o AEL e sobre o Fundo Octavio Brandão (ver ainda o volume 1 e o volume 2 de seu catálogo).

Vale relembrar que Brandão (1896-1980) foi membro do PCB desde 1922 e seu principal teórico até 1929-30. Começou anarquista, se converteu ao bolchevismo com o impacto da Revolução de Outubro no Brasil e em 1925 publicou Agrarismo e industrialismo, aplicação do marxismo esquemático soviético à análise da realidade brasileira e, supõe-se, um dos pioneiros no uso do termo “marxista-leninista”. Exilou-se na URSS entre 1931 e 1946, onde trabalhou para a Comintern e sofreu com a família o peso da guerra, e ao voltar tentou se reintegrar à vida partidária, mas foi marginalizado e morreu no ostracismo. O fundo no AEL é rico em detalhes sobre sua vida pública e privada, bem como de sua família, incluindo material em russo, especialmente cartas, pelas quais me interessei, decidi copiar, traduzir e publicar aqui. A direção técnica incentivou meu trabalho e até já tinha publicado no site da instituição essas duas cartas do blog.

Esta segunda carta foi escrita da URSS a Octavio Brandão (que devia estar no Brasil) por seu genro, o físico Zarem Chernov, marido de sua filha Sattva. A carta não está datada, mas há uma anotação feita posteriormente, que a indica como recebida em 4 de dezembro de 1957. Os dois assuntos principais são o nascimento da filha do casal, neta de Octavio, e as dificuldades que Chernov aponta para que os livros do sogro sejam traduzidos para o russo e publicados na URSS. Incluem-se ainda outros temas familiares e a instigante indicação de que as obras do comunista alagoano eram muito lidas por estudiosos soviéticos do Brasil e que ele poderia escrever sobre certos temas que lá teriam público mais amplo. Abaixo vai a tradução em português, e em seguida o inicial em russo. Localização física: OB Cp.485, P.26.



Octavio Brandão (esq.) e Minervino de Oliveira em comício comunista nos anos 1920.


Caro O.B!

Desejo saúde e coragem a você.

Mesmo não o conhecendo pessoalmente, sempre acompanhei com profundo respeito sua vida cheia de lutas e duras provações. Sattva e eu tivemos agora um filho, e você lhe será um luminoso exemplo de vida. Sattva e eu vivemos bem, em harmonia. Ela está trabalhando no mesmo lugar, e eu faço pesquisas no campo da física na Academia de Ciências. Em tempo oportuno, Sattva me ajudou a dominar a língua portuguesa em algum grau, e conheci muitos livros de história, etnografia e geografia do Brasil. Caro O., suas cartas fazem notar que você está muito preocupado com seus livros, com a possibilidade de publicá-los na União Soviética. Me parece que a principal dificuldade em traduzi-los está no fato de nossos leitores conhecerem muito pouco o Brasil como um todo. Como seus livros analisam a fundo uma série de fenômenos importantes, eles exigem conhecer o país. Canais e lagoas, por exemplo, é uma pesquisa modelar sobre o Nordeste, mas não temos uma descrição fundamentada do Brasil inteiro. Por isso, aos editores parece prematuro publicar uma pesquisa detalhada apenas sobre o Nordeste. Além disso, seus livros ocupam uma posição intermediária entre literatura artística pura e propaganda política, ou antes, combinam as duas coisas. Como as editoras são altamente especializadas, isso dificulta em escolher uma delas.

É mais razoável começar publicando em revistas uma seleção dos trechos mais claros. Isso também põe dificuldades, pois a maioria das revistas (Inostrannaia literatura [Literatura Estrangeira], Ogoniok [Pequena Chama], Iunost [Juventude] etc.) publica exclusivamente literatura artística ou ensaios sobre temas do momento. A publicação mais plausível seria a revista Vokrug Sveta [Ao Redor do Mundo] (Zé Curau foi publicado aí). Aliás, qual sua opinião sobre a correspondência entre tradução e original?

Devo destacar que seus livros desfrutam de sucesso entre nossos camaradas que estudam mais profundamente o Brasil. Seu último livro, por exemplo, ajudou a esclarecer sobre questões muito complexas. Não sei o que você está planejando escrever, mas me parece que se você fizesse um livro sobre os movimentos nacional-libertadores no Brasil, dando um quadro perspectivo e consequente, ele despertaria um grande interesse entre os leitores soviéticos.

Vólia está com a gente agora. Nós todos achamos que é melhor para ela ficar aqui. Seu problema está se resolvendo. De nossa parte, vamos ajudá-la em tudo.

Quanto aos assuntos familiares, o mais importante é o nascimento de nosso filho. Ele e Sattva passam bem e logo sairão da maternidade para casa.

Aproveito a ocasião para lhe transmitir calorosas saudações comunistas de meu pai e minha mãe, que ingressaram nas fileiras de nosso Partido nos tempos da revolução e da guerra civil.

Com profundo respeito
Zarem.

P.S. Estou enviando cópias de alguns
trabalhos meus, incluindo uma conferência
no Congresso Internacional de Eletrônica,
em Paris.

___________________


Дорогой О. Б!

Желаю Вам здоровья и мужества.

Хотя мне и не пришлось видеть Вас лично, но я всегда с глубоким уважением следил за Вашей жизнью, полной борьбы и тяжёлых испытаний. Сейчас у нас с Сатвой родился сын, и ваша жизнь будет служить ему светлым примером. Мы с Сатвой живём хорошо и дружно. Она работает на старом месте. Я занимаюсь исследованиями в области физики в Академии Наук. В своё время Сатва помогла мне в какой-то степени овладеть португальским языком, и я познакомился со многими книгами по истории, этнографии и географии Бразилии. Дорогой О., по Вашим письмам чувствуется, что Вас глубоко волнует вопрос о Ваших книгах, о возможности их издания в Сов. Союзе. Мне кажется, что основная трудность перевода этих книг заключается в том, что наш читатель очень мало знает о Бразилии в целом. Ваши книги глубоко анализируя ряд важных явлений требуют знания страны. Например: Каналес и лагунас являются образцом по исследованию Северо-Востока. Но у нас нет солидного описания всей Бразилии, поэтому издание подробного исследования по одному Северо-Востоку представляется издателям преждевременным. Далее, Ваши книги занимают среднее положение между чисто художественной литературой и политической публицистикой; вернее в них сочетается и то и другое. Это затрудняет нахождение издательства; они сильно специализированы.

Наиболее целесообразно начинать с публикации отдельных, наиболее ярких, отрывков в журналах. Здесь тоже встретятся затруднения, так как большинство журналов (Иностранная литература, Огонёк, Юность и др.) печатают исключительно художественную литературу, или очерки на злобу дня. Наиболее вероятным местом является журнал „Вокруг Света‟ (Зе Курау был напечатан в нём). Кстати, что Вы думаете о соответствии перевода оригиналу[?].

Следует отметить, что Ваши книги пользуются успехом у наших товарищей, занимающихся глубоким изучением Бразилии. Например, последняя Ваша книга помогла разобраться в очень сложных вопросах. Я не знаю Ваших творческих планов, но мне представляется, что если бы Вы написали книгу о народно-освободительных движениях в Бразилии, дав перспективную и последовательную картину, то такая книга вызвала бы большой интерес у советских читателей.

Сейчас у нас находится Волка. Нам всем кажется, что ей лучше остаться здесь. Её вопрос решается. Мы со своей стороны ей во всём поможем.

Что касается семейных дел, то главное событие – рождение сына. Он и Сатва здоровы и скоро переберутся из родильного дома домой.

Пользуюсь случаем передать Вам горячий к-ий [коммунистический] привет от моего отца и матери, которые вступили в ряды нашей п-и [партии] со времён революции и гражданской войны.

С глубоким уважением
Зарем.

P.S. Посылаю Вам оттиски некоторых
своих работ, в том числе доклад на
Международном конгрессе по электроники
в Париже.



Octavio Brandão filmado em documentário, perto do fim de sua vida.

domingo, 1 de novembro de 2015

Duas cartas sobre Octavio Brandão (1)


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O Arquivo Edgard Leuenroth (AEL), vinculado ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp, foi criado em 1974 e hoje constitui um dos maiores acervos documentais sobre movimentos sociais, políticos e de minorias, e sobre pessoas ligadas a eles, auxiliando pesquisas brasileiras e estrangeiras de alto nível. A ele devo minha pesquisa sobre o impacto da “desestalinização” soviética no Partido Comunista Brasileiro (PCB) entre 1956 e 1961, desembocada na iniciação científica e na monografia de graduação, e sou ainda grato a seu pessoal pelo carinho e atenção com que me recebem sempre que utilizo seus serviços.

Há alguns meses o AEL editou o volume 1 e o volume 2 do catálogo do Fundo Octavio Brandão (1896-1980), membro do PCB desde 1922 e seu principal teórico até 1929-30. Sua evolução é típica dos primeiros comunistas brasileiros: começou anarquista e se converteu ao bolchevismo com o impacto da Revolução de Outubro no Brasil; em 1925, publicou Agrarismo e industrialismo, aplicação do marxismo esquemático soviético à análise da realidade brasileira e, supõe-se, um dos pioneiros no uso do termo “marxista-leninista”; exilou-se na URSS entre 1931 e 1946, onde trabalhou para a Comintern e sofreu com a família o peso da guerra; regressado, tentou se reintegrar à vida partidária, mas como grande parte de sua geração (Astrojildo Pereira é o mais célebre), foi marginalizado e morreu no ostracismo.

O fundo no AEL é rico em detalhes sobre sua vida pública e privada, e o poliglotismo dos documentos inclui o russo, que Brandão, sua esposa (a poetisa Laura Brandão) e filhas dominavam bem. O material em russo, especialmente cartas, não se limita a produções dele, e guarda também da esposa, filhas e outras pessoas a ele ligadas. Aos poucos, decidi copiar, com autorização do AEL, alguns dos textos em russo, traduzi-los e publicá-los aqui, a que tem me incentivado a direção técnica, inclusive publicando no site da instituição duas cartas traduzidas por mim, que lanço aqui nas duas próximas semanas.

A primeira foi escrita da URSS em 1950 por Sattva, filha de Octavio, às irmãs Valná e Dionysa, então no Brasil. Além de assuntos pessoais, Sattva informa sobre a participação de Vólia, a quarta irmã, na redação do artigo sobre o comunista Graciliano Ramos para a Grande Enciclopédia Soviética, e pede a elas dados e livros do escritor, sobre o qual ela admite conhecer pouco. Abaixo vai a tradução em português, e em seguida o inicial em russo, língua em que se pode pensar por que elas se comunicavam entre si, sendo filhas de brasileiros. A localização física no fundo é OB Cp.503, P.26.



Octavio Brandão e a esposa Laura, no casamento em 1921.



7 de setembro de 1950

Caras Valnazinha e Dionysinha!

Tenho muita pressa, mas decidi lhes escrever algumas linhas. Uns dias atrás Svetlana recebeu a carta de Valná. Ela já entrou na universidade, decidiu se tornar engenheira agrônoma. Zina ligou faz pouco e prometeu vir nos ver.

Queridas meninas, vocês receberam minhas cartas de 14, 24 e 29 de agosto, e três embrulhos postais enviados em 14 de agosto de 1950?

Como está o Papai? Como vão as coisas com seu livro?

Com a gente está tudo bem. Vólia está na Crimeia, e eu comecei a descansar (setembro inteiro folgo do trabalho), mas por enquanto estou em Moscou.

Queremos muito lhes pedir o seguinte: precisamos muito de informações, ou melhor, breves dados biográficos, materiais sobre a atividade literária e política de dois escritores: Monteiro Lobato e Graciliano Ramos. Seria muito bom se vocês pudessem nos enviar uma brochura ou um pequeno livro de cada um deles. Precisamos desse material para a Enciclopédia Soviética. Interessa também a opinião do Papai sobre Ramos. Sobre ele, só sei que é um escritor comunista brasileiro. Não sei sequer quais obras ele escreveu e se elas são relevantes. Porém, ouvi algumas vezes que ele é um grande escritor. Claro que seria muito bom se vocês pudessem nos enviar algum de seus livros mais importantes e significativos, mas receio que isso lhes seja financeiramente difícil. Estou certa que se talvez vocês pudessem falar pessoalmente com Ramos, ele nos enviaria seus livros com prazer, arcando com as despesas postais. Como eu disse, esse material é para a Enciclopédia Soviética, na qual Vólia está escrevendo sobre alguns escritores brasileiros.

Temos uma pequena, mas agradável surpresa para o Papai. Porém, é melhor ser “Cabocla”, como ele mesmo diz, esperar até tudo ficar pronto e então já lhes comunicar. Por isso, vou prender a língua e me calar.

Beijos!
Sattva

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7 сентября 1950

Дорогие Волночка и Дионизок!

Очень спешу, но решила написать вам несколько строчек. На днях Светлана получила письмо от Волны. Она уже поступила в университет. Решила стать агрономом. Недавно звонила Зина и обещала к нам зайти.

Милые девочки, получили ли вы мои письма от 14/VIII, 24/VIII, 29/VIII, а также три пакета (бандероли), посланные 14/VIII–50 г.?

Как поживает Папа? Как идут дела с его книгой?

У нас всё благополучно. Воля в Крыму, я начала отдыхать (буду в отпуску весь сентября), но пока сижу в Москве.

Мы очень хотели попросить у вас следующее: нам очень нужны сведения, точнее – краткие биографические данные, материалы о литературном творчестве и политической деятельности двух писателей, а именно Монтейро Лобато и Грасилиано Рамос. Если бы вы смогли нам послать брошюрку или небольшую книжку о каждом из них, было бы очень хорошо. Эти материалы нужны для Советской Энциклопедии. Интересно, какого мнения Папа о Рамосе. О нём я знаю только, что он бразильский писатель, коммунист. Даже не знаю какие произведения он написал и являются ли они стоящими. Однако несколько раз слышала, что он крупный писатель. Конечно, если бы вы могли бы [sic] нам послать какую-нибудь из наиболее значительных, важных книг, то было бы очень хорошо, но боюсь, что в денежном отношении это для вас трудно. Может быть, вы бы сумели к нему лично обратиться и я уверена, что он с удовольствием послал бы нам свои книги, взял почтовые расходы на себя. Как я писала, эти материалы нужны для Сов. Энциклопедии. Точнее, Воля пишет для них о некоторых бразильских писателях.

У нас есть небольшой, но приятный сюрприз для Папы. Однако, лучше быть „Кабоклой‟, как говорит сам Папа, подождать пока будет всё готово и тогда уже вам сообщать. Поэтому держу язык за зубами и молчу.

Целую Вас!
Сатва



Octavio, Sattva, Dionysa e Vólia no exílio soviético.