terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Qual a sonoridade da língua chechena


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Como muitos devem estar curiosos, e como a curiosidade sobre esse idioma está crescendo entre os nerds brasileiros de Rússia e Europa Oriental, trago aqui apenas com aumento de volume e corte do quadro um vídeo (indisponível na Banânia) muito interessante que achei por acaso. Ele está com o título em russo “Чечня – Чеченский язык” (Chechênia – Língua chechena) e foi publicado em 24 de julho de 2013 pelo canal de TV “GTRK Vainakh”, que é a versão em checheno da rede estatal Rossia 1. Contudo, essa versão local também transmite muitas notícias regionais na língua russa. Infelizmente acho impossível por enquanto saber a tradução exata, mas ao português e brasileiro já é interessante conhecer novos elementos culturais e ao menos aproveitar a sonoridade e os elementos visuais.

Essa transmissão mostra bem os usos atuais da língua chechena, seus principais autores e estudiosos, a situação demográfica, os elementos culturais e seu papel no Estado, ou seja, na República da Chechênia, uma entidade razoavelmente autônoma dentro da Federação da Rússia. Como ela está desde 2007 submetida ao governo autoritário de Ramzán Kadýrov, uma espécie de “Putin secundário”, o líder aparece filmado várias vezes, e suas declarações e frases sobre a língua chechena mostradas aos montes. Ele é visto como uma espécie de “novo pai da pátria”, que reconstruiu a capital Grózny após a destruição da guerra prolongada na década de 1990. Encravada no Cáucaso do Norte, a Chechênia se distingue de outras repúblicas muçulmanas da Rússia, como o Tartaristão, por sua sociedade menos ocidentalizada e seu islã mais rigoroso, bem como das nações independentes vizinhas, como a Geórgia (com a qual faz fronteira) e a Armênia, que são cristãs.

A língua chechena, chamada nativamente de “нохчийн мотт” (nókhchiyn muótt), tem uma sonoridade muito peculiar em relação, por exemplo, ao armênio e ao georgiano, pois se aproxima muito mais do árabe devido à preeminência dos sons glotais e guturais. Ao contrário do que muitos pensam, ela não é aparentada nem ao russo, que é do ramo eslavo da família linguística indo-europeia, nem ao armênio, que constitui um ramo isolado da mesma família, nem ao georgiano, que pertence à pequena família cartevélica (ou “sul-caucasiana”) local, ramo meridional. Pra você saber, o português pertence à família indo-europeia, ramo itálico, grupo latino-falisco, ao qual pertencia o latim, deste por sua vez (por meio de sua forma oral, “vulgar”) saindo todas as línguas românicas. O português é uma língua ibero-romance, enquanto todas as outras línguas itálicas que não o latim caíram em extinção.

Segundo classificações mais aceitas, o checheno pertence por subdivisões sucessivas à família nakh-daguestânica (ou “caucasiana do nordeste/do leste”), ramo nakh (em que está também o bats/batsbi) e grupo vainaque (junto com o inguche). A família como um todo tem em torno de 5 milhões de falantes, mais ou menos 1,35 milhão em 2010 pro checheno, que também é falado na república vizinha do Daguestão (em ambas o checheno é oficial) e em diásporas pela Turquia, Jordânia, Geórgia e Cazaquistão. Ele tem um monte de dialetos, sendo os sete principais (!) o itumkala, o melkhin, o kistin, o cheberloi, o akkin, o sharoi e o galanchozh. É escrito com uma adaptação bem peculiar das 33 letras do cirílico russo, acrescida apenas do sinal pálochka (Ӏ, ӏ) ou “bastão”, usado após consoantes pra indicar que são “ejetivas”, ou isoladamente com o som faríngeo da letra árabe “ع”.

Não existe uma “língua daguestânica”, já que no Daguestão mesmo são faladas línguas dos vários outros ramos da família nakh-daguestânica, bem como o azerbaijano e o cumique da família túrquica. Curiosidade: o Cáucaso tem as mais longas expectativas de vida da Rússia por causa da interdição a muitas drogas imposta pelo islã praticante, enquanto a Chechênia é o menor consumidor de álcool da Rússia. Segundo a Wikipédia em russo, a República da Chechênia declarou 2023 como o Ano da Língua Chechena, com o objetivo de reforçar seu estatuto e ampliar a grade de ensino nessa língua pra todas as faixas de idade.

Perceba que no começo e no fim do vídeo, há alguns versos poéticos que são recitados em voz alta pelo locutor. Espero que você aproveite! Conheça também o rico canal MOPC Linguística, que tem alguns vídeos explicando em português a língua chechena e aparentadas.


No dia 8 de julho de 2020, após o assassinato do dissidente político checheno Mamikhan Umarov em Viena, capital da Áustria, imigrantes que fugiram da Chechênia protestaram contra a longa série de homicídios que ocorreram nos últimos anos. A maioria é contra Ramzan Kadyrov, que conta com total apoio de Vladimir Putin e governa conforme seu próprio arbítrio, acusado pela oposição de mandar matar dissidentes até mesmo no exterior.

Eu mesmo traduzi direto do francês e legendei este vídeo, com reportagem feita pela agência Euronews. Eu usei como base o texto publicado da reportagem, com poucas omissões, cuja transcrição exata em francês é esta:

Ils sont révoltés, effrayés pour leur propre vie : devant l’ambassade russe à Vienne, une centaine de Tchétchènes protestent contre la mort d’un des leurs. Mamikhan Oumarov, 43 ans, a été abattu samedi soir près de la capitale autrichienne où il avait trouvé refuge depuis 2005. Le blog vidéo qu’il tenait était très offensif contre le président tchétchène Ramzan Kadyrov, allié de Moscou. “Nous avons des proches en Tchétchénie. Ils ne sont pas plus en sécurité que nous. Nous ne pouvons pas nous sentir en sécurité en Europe après ce qui s’est passé samedi soir.” “Le meurtrier Poutine devant la justice internationale”, réclame cette banderole. Pour ces réfugiés pas de doute, le Kremlin ordonne ces assassinats. Et “Qui sera le prochain ?”, peut-on lire ici. L’Autriche a interpellé deux ressortissants russes après l’homicide. La communauté tchétchène a perdu plusieurs dissidents dans des assassinats qu’elle qualifie de politiques. Et pas seulement en Autriche. À Lille, dans le nord de la France, un blogueur a été retrouvé poignardé dans un hôtel en janvier dernier.”


Mesmo entre os russos, a língua chechena é motivo de zoeira preconceituosa, sobretudo porque Ramzan Kadyrov, além de ser um sujeito extravagante, já tem um jeito de falar bastante enrolado. Ainda por cima, o líder tem um tique de ficar falando “don”, “don”, “don” entre várias frases, como se fosse uma “palavra parasita”, comum também com certas palavras do português (“né”, “então”, “tipo”, “sabe”). E esse tique tem sido amplamente zoado pelos ucranianos quando fazem vídeos e memes atacando os russos e os chechenos que os estão ajudando.

Esta montagem que também reproduzo abaixo faz uma comparação entre a fala rápida de Kadyrov em checheno e uma cena do filme O todo poderoso (2003), em que o âncora de jornal Evan Baxter (Steve Carell) começa a narrar todo enrolado. Neste caso, um outro jornalista, seu rival Bruce Nolan (Jim Carrey), adquiriu superpoderes e conseguiu tirá-lo do programa após fazê-lo, contra sua vontade, falar um monte de besteiras e, depois, emitir ruídos sem sentido com a língua. Na última parte com Kadyrov, com alguma atenção, também podemos perceber alguns dos “don” que ele costuma soltar, tanto em russo quanto em checheno. Neste canal também há a cena completa do telejornal, na dublagem brasileira do filme.


Pra finalizar, seguem mais algumas pérolas da mesma versão chechena (vainaque) da TV estatal russa, que estavam publicadas em meu antigo canal Pan-Eslavo Brasil no YouTube. Os dois primeiros vídeos são boletins de notícias de 13 minutos transmitidos nos dias 29 e 30 de março de 2017 respectivamente, e os sete seguintes são trechos de um especial de Ano Novo (porque os muçulmanos obviamente não celebram o Natal) exibido no finzinho de 2019, vários deles com atuações musicais e pequenas esquetes, exceto o último, que é apenas o encerramento narrado. Deste especial, pensei em publicar apenas alguns mais ilustrativos, mas como não me dava nenhum trabalho, resolvi pôr todos, ao gosto de cada um, rs. (“TV Eslavo” é um dos nomes que o canal teve depois de 2015.)


















domingo, 26 de fevereiro de 2023

Beto & Telek, dupla caipira bragantina


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Imagem de fevereiro de 2022, no YouTube do CTC Atibaia.


Por volta de 2003-2004, eu assistia a um canal na TV parabólica, cujo nome não me lembro mais (não é o Canal do Boi!) e cuja temática era essencialmente regional e agrícola. Um dos programas que passava nas noites de determinado dia da semana e ao qual, na falta de amigos no bairro e de conteúdo melhor na internet, eu gostava de assistir se chamava A Volta do Sucesso. Era apresentado por um tal Sandro de Brito, que fazia, como diríamos hoje, cosplay do cantor Silvio Brito, um doidão da década de 1980 que hoje tem programa na Rede Vida. A proposta original era trazer artistas que ficaram esquecidos depois de algum tempo, mas aos poucos acabou virando um foco de cantores regionais trash mesmo, sobretudo do interior de SP, MG e PR.

Dois deles formavam a dupla Beto & Teléki, natural de e residente em Bragança Paulista, onde vivo desde 1994. Gostei muito das canções deles, sobretudo das três primeiras (as mais cômicas!) que vocês podem ouvir nesta coletânea. Não sei se eles fizeram propaganda de algum CD específico, mas como deram o telefone de contato pra adquirir alguma lembrança... eu me metia em cada uma, rs. Eu tinha 16 anos, e me informaram por telefone pra procurar o Beto Silva na Feira do Rolo, que sempre ocorria aos domingos perto do Sambódromo. Minha mãe teve o trabalho de me levar até lá, e cheguei a ver o Beto (ídolo!) de longe, mas conversei com um outro cara que me apresentou o que vos ofereço agora: Beto & Teléki – As melhores. 16 faixas e 45 minutos do mais puro modão da Região Bragantina!

Nota importante: o CD era pirata, e segundo o vendedor, eles só davam os originais pras rádios, que eram mais “exigentes”! Mas no encarte de papel (xérox colorido) vinham duas lindas fotos dos dois e os nomes das faixas e seus compositores. E foi esse encarte que pedi pro Beto autografar quando descobri que ele levava alunos numa van escolar pro meu colégio! Infelizmente, joguei fora o encarte e não consigo dar aqui os títulos musicais exatos, mas naquele dia fiquei esperando na porta do colégio só pra falar com ele... Os adolescentes e seus fãs, né? Mas enfim, essa era a história engraçada que eu tinha pra contar, lembrando que eles apareciam direto na Volta do Sucesso, e ainda aparecem às vezes em programas dominicais da TV Altiora, que é de Bragança mesmo.

Percebi que na maioria das vezes eles usam o nome “Beto & Telek” ou “Teleken”, e não “Beto & Teléki”: de fato, o segunda voz se chama Valdir Teleken, e ainda trabalha como radialista em Bragança. No vídeo há três melhores imagens das poucas que consegui achar na internet (eu digitalizaria o encarte se ainda tivesse!), vindas de diferentes fases da carreira. Quem prefere uma balada mais romântica ao invés da viola irreverente, pode pular pros 32 min 28 seg. Eles têm também uma página no Facebook e um canal no YouTube que precisam de curtidas e estímulos, rs. Com vocês, Beto & Telek – Gold Collection, totalmente repaginada!



sábado, 25 de fevereiro de 2023

O Pai-Nosso em armênio e copta


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Este vídeo contém a transmissão online (por causa da pandemia) de uma missa na Paróquia Católica Armênia de São Gregório Iluminador, situada na cidade de São Paulo, em 12 de julho de 2020. Num dado momento, recita-se belamente a oração cristã do Pai-Nosso, também conhecido como a “Oração do Senhor”, na língua armênia clássica (também chamada grabar). Não sei bem se é a língua clássica mesmo, mas esta página é a única fonte em que o texto bate. Veja aí também as versões em armênio ocidental (da diáspora na Europa e Américas) e oriental (hoje oficial na Armênia), além de um montão de outras línguas!

Essa Igreja Católica Armênia, que manteve a comunhão com Roma, tem mais de 500 mil fiéis espalhados pelo mundo e se separou há muitos séculos da Igreja Apostólica (ou Ortodoxa) Armênia, esta sim majoritária na Armênia e rompida com o papa. Os fiéis ortodoxos são 9 milhões ao todo, e eles fazem parte do ramo maior de igrejas orientais ortodoxas, distintas das chamadas “calcedônias” (a Católica e suas várias comunhões, e as ortodoxas europeias).

Embora pelo que eu pude apurar a língua seja a clássica, a pronúncia e a ortografia são iguais às do armênio ocidental (diáspora). Alguns traços que caracterizam essa variante: a pronúncia das letras բ (b), գ (g), դ (d), կ (k), ծ (ts), ձ (dz), ճ (tch), պ (p), ջ (dj) e տ (t) respectivamente como “p, k, t, g, dz, ts, dj, b, tch, d”; a aspiração de բ (p+h), գ (k+h), դ (t+h) e ձ (ts+h), ausente no oriental, e portanto igualando sua pronúncia a թ (t+h), չ (tch+h), ց (ts+h), փ (p+h), ք (k+h), igual nas duas variantes; a pronúncia igual como “r” brando de “ր” e “ռ”, este mais vibrado no oriental; o uso de “է” (e) com mais frequência pro som “é”, ao invés de “ե” (ye); as ortografias “իւ”, “եա” e “աւ” pros conjuntos “yu”, “ya” e “av” (só escritos “յու”, “յա” e “ավ” em oriental); no grabar, a ligatura “և” (yev) é sempre desmembrada (եւ = ye+v).

Eu tirei o texto final do Pai-Nosso em armênio clássico da própria Wikipédia armênia, pois também tinha a parte final falada em português pelo padre. Veja também neste site em inglês o Hayr mer (Հայր մեր) sendo desmembrado em seu sentido palavra por palavra.

Texto em grabar, com palavras não faladas pelo cantor em parênteses:

Հայր մեր որ յերկինս ես, սուրբ եղիցի անուն Քո։ Եկեսցէ արքայութիւն Քո։ Եղիցին կամք Քո որպէս յերկինս եւ յերկրի։ Զհաց մեր հանապազորդ տուր մեզ այսօր։ (Եւ) թող մեզ զպարտիս մեր, որպէս եւ մեք թողումք մերոց պարտապանաց։ Եւ մի տանիր զմեզ ի փորձութիւն այլ փրկեա (զմեզ) ի չարէ։ Զի քո է արքայութիւն եւ զօրութիւն եւ փառք յաւիտեանս։ Ամէն։

Transliteração mais comum: Hayr mer vor hergins yes, surp yeghitsi anun Ko. Yegestse arkayutyun Ko. Yeghitsin gamk Ko vorbes hergins yev hergri. Z-hats mer hanabazort dur mez aysor. (Yev) Togh mez zbardis mer, vorbes yev mek toghumk merots bardabanats. Yev mi danir zmez i portsutyun ayl prgya (zmez) i charen. Zi ko e arkayutyun yev zorutyun yev park havidyans. Amen.


Esta pérola está perdida desde 2009 num ótimo canal, que recomendo a você acompanhar caso deseje aprender um pouco da língua copta. É uma língua semítica que teria sido descendente do egípcio antigo dos faraós, pré-islâmico, mas com vasto aporte do grego (inclusive o alfabeto nele inspirado e acrescido de algumas letras) após parte do povo ter sido cristianizada. Trata-se da oração do Pai-Nosso, inspirada em várias pregações atribuídas a Jesus Cristo em alguns dos evangelhos. Os coptas são essencialmente os cristãos egípcios e constituem uma das mais antigas comunidades cristãs, sendo a língua copta usada tanto pela Igreja Católica Copta quanto pela Igreja Ortodoxa Copta.

Eu legendei com o texto do Pai-Nosso mais conhecido no Brasil, sobretudo no Centro-Sul, usando inclusive “vós” pra se referir a Deus ao invés de “tu”. Só algumas observações aparecem quando a tradução em inglês divergir do português tradicional, sobretudo na polêmica expressão que conhecemos como “de cada dia” (o pão nosso). No grego koiné helenístico, o adjetivo original é epioúsios (ἐπιούσιος), que é um hápax, ou seja, só aparece nesse documento. Além de “cotidiano”, às vezes também é traduzido como “de amanhã”, “consubstancial” ou “supersubstancial”.


Muitos católicos já conhecem a oração mais comum do Credo, que sintetiza, numa das partes da missa, os princípios básicos do catolicismo romano. Menos pessoas sabem que existe uma versão maior, mais corrente nas igrejas orientais e ortodoxas, geralmente chamada “Credo de Niceia”, e às vezes “Símbolo Niceno-Constantinopolitano”, em torno da qual já ocorreram muitos embates teológicos no seio do cristianismo. Mesmo esse texto, dependendo da origem e da tradução, também possui versões divergentes, e no primeiro vídeo abaixo segue a versão rezada naquela mesma missa da paróquia de São Gregório Iluminador, em São Paulo. Procure comparar com as redações mais conhecidas.

No segundo vídeo abaixo, veja também as partes da consagração da eucaristia e da oração eucarística, desta vez numa missa (tempo comum) do rito da Igreja Apostólica Armênia, uma das mais antigas confissões cristãs surgidas no mundo. Não sei realmente se são aquelas partes que citei (conforme minha percepção do rito católico romano), mas a celebração completa se deu na Igreja dos Santos Mártires, no condado de Orange, estado da Califórnia, EUA. A postagem foi feita em novembro de 2013, então a gravação deve datar dessa época. Recomendo que vejam o resto do canal e o site a ele relacionado, são muito bons!

A referida missa foi toda falada e cantada em armênio, celebrada pelo arcebispo e prelado Moushegh Mardirossian. No final do vídeo original, inclusive, ele faz a homilia (sermão), em que se pode notar um armênio realmente corrente.




sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Flashmob de calistenia do Girafales


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E eis que o comunismo inventa uma Olimpíada só com a famosa “calistenia” do Professor Girafales, rs. Mais ou menos que nem os “Jogos das Massas” (que de jogos, e muito menos de “massas”, não têm nada...) na Prisão a Céu Aberto Coreia do Norte, estas são as chamadas “Espartaquíadas” na antiga Checoslováquia comunista, talvez em 1985, segundo comentários na fonte original. Esse país foi fundado em 1918, após a desintegração do Império Austro-Húngaro, passou por um regime comunista de 1948 a 1990 e se dividiu pacificamente na República Checa (ou Chéquia, capital Praga) e na Eslováquia (capital Bratislava) em 1993. Durante o comunismo, o regime praticamente obedecia aos ditames da antiga URSS e copiava seu modo de viver e governar.

Um desses elementos copiados eram as Espartaquíadas, nome que vem do escravo rebelado Espártaco, na Roma Antiga, e que na Checoslováquia consistiam em grandes exibições públicas de ginástica, comemorando a libertação antinazista pelo Exército Vermelho. Ocorreram de 1955 a 1990 a cada cinco anos, com cancelamentos ocasionais, sempre no Grande Estádio Strahov, o maior em capacidade já construído na história. Homens e mulheres de várias idades participavam, de modo obrigatório pra estudantes e pra quem servia na polícia ou nas forças armadas. Desde 1994 o Estádio Strahov não recebe mais eventos esportivos, abrigando apenas shows musicais e os treinos de futebol do AC Sparta de Praga.

Originalmente, porém, as Espartaquíadas eram um torneio internacional proletário patrocinado pela União Soviética, como forma de se opor às Olimpíadas “burguesas”, “elitistas” e “capitalistas”. Houve três edições de verão (Moscou 1928, Berlim 1931 e Paris 1934) e duas de inverno (Oslo, 1928 e 1936), mas atribui-se a invenção do nome “Espartaquíadas” ao comunista checo Jiří František Chaloupecký, que organizou em 1921 o primeiro evento em Praga, com abrangência nacional. Curiosidade: Chaloupecký era esperantista, e também aderiu ao “ido”, um esperanto reformado. Quando Moscou decidiu se juntar às Olimpíadas, em 1952, as Espartaquíadas passaram a se realizar apenas dentro da URSS, unindo todos os povos lá residentes, com a primeira edição em 1956.

Tanto a versão checa quanto a soviética do evento estavam estreitamente ligadas ao conceito russo de fizkultura (palavra importada pelos vizinhos), acrônimo de “cultura física”, um hábito que os regimes comunistas procuravam inculcar em seus cidadãos. Como vemos, os corpos são bem esculpidos, e o desempenho esportivo era associado ao desempenho na defesa (militar) da pátria. (Definição de “calistenia” pelo Dicionário Aurélio: “Exercício ginástico para beleza e vigor físicos.”)

O primeiro vídeo que tirei do YouTube é muito engraçado, porque começa com um monte de homem correndo sem camisa e berrando, podendo ser aplicado como um meme em qualquer contexto. Interprete como quiser: um internauta definiu como a abertura de uma promoção da Apple, rs. E esse arranjo musical de fundo tem tudo a ver com a complexa “calistenia” girafálica!

No caso do segundo vídeo, cujo original infelizmente foi apagado, a música é um exotismo à parte, e aos 12 min 30 seg o que começa é praticamente um baile de discoteca! Do vídeo original cortei apenas alguns quadros pretos no início e no fim, além de bordas nas beiras do quadro. Não tive tempo de traduzir a locução checa que começa aos 17 min 35 seg, e a partir dos 20 min 03 seg o som desaparece.





quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Aprenda de vez a usar os “por que”


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Finalmente estou fazendo uma publicação só pra tirar esta eterna dúvida ortográfica. Uma vez, fiz um pequeno texto na aba Comunidade de meu antigo canal no YouTube, mas agora quero aperfeiçoá-la e reescrevê-la aqui. Não existe uma só pessoa que escreva na internet, seja em redes sociais ou mesmo sites de grandes veículos de mídia, que não tropece no uso das diversas formas da conjunção “por que”, e mesmo em textos acadêmicos é possível notar a confusão. Sobre o uso da “crase” (à ou a) não preciso nem falar, porque reina a anarquia, pelo menos nas redes sociais, e mesmo entre pessoas reputadamente cultas: quando não é pra ter o acento, ele está lá, mas quanto ele é obrigatório, nota-se sua ausência. Mas isso é assunto pra outra publicação.

Na verdade, o uso dos “por que” é um assunto pra ser estudado, e em tese aprendido, ainda por volta do quarto ou sexto ano do Fundamental. E como gosto de ortografia e gramática, resolvi compartilhar aqui minha ajuda a quem precisa. De fato, o caso do português é particular, porque lida com uma homofonia (isto é, pronúncias iguais) ausente ou menor em outros idiomas, e cuja semântica se esconde sob ortografias muito escorregadias. Mas se aprendermos cada caso, não é algo difícil demais, e os textos vão passar mais facilmente em processos seletivos pra empregos, faculdades ou pós-graduações.

Vamos usar o exemplo clássico da pessoa que não vai a uma festa. Ele é muito corrente nas escolas, pelo menos na minha cabeça, porque festas são compromissos que acabam gerando muita cobrança social, portanto muitos questionamentos sobre motivos e... “porquês”. Claro que vou variar com exemplos diferentes, e de quebra trazer o máximo possível de exemplos de outras línguas. Sem mais delongas, ao que interessa.


“Por que” separado e sem acento: serve pra iniciar perguntas sobre a razão, o motivo de alguma coisa, e sempre ocorre no começo de uma oração. Exemplos: Por que você não foi à festa? / Ontem choveu muito, mas por que você não foi à festa?

Mesmo não sendo uma expressão interrogativa, “por que” pode aparecer separado e no meio da oração quando o sentido assim o exige, ou seja, quando queremos dizer “pelo qual”, “através de que/qual” “por meio de (que/qual)” etc. Exemplos: Por que razão você não foi à festa? / Não sei por que razão ele não foi à festa. / É muito burro, eis por que [= por isso que] não passou na prova. / O túnel por que passamos era muito escuro. / Os problemas por que passamos nos ensinam muito. / Por que caminho você foi? / Não vale relembrar aquilo por que se chora. / Deve-se conhecer aquilo por que se luta.

“Por quê” separado e com acento: tem o mesmo sentido do anterior, embora quase sempre se esteja questionando a causa de algo, mas a característica principal é que sempre está no fim da oração, logo antes do ponto de interrogação ou final, e às vezes da vírgula. Por regra, não é seguido de outro substantivo. Exemplos: Você não foi à festa, por quê? / Não sei por quê, mas ele não foi à festa. / Ele não foi à festa, não sei por quê. / Por quê [= Por que a pergunta?], você não o encontrou? / No confinamento, você passou por quê? [= pelo quê?] / Para atravessar o rio, devo passar por quê? [uma ponte, um tronco?] / Você luta por quê? [= pelo quê?] / Ele passou não sei por quê, mas está bem triste.

Deve-se notar que “pelo que/quê”, onde pode ser empregado, é mais corrente e coloquial e menos livresco, pois evita ambiguidade e geralmente exclui o sentido de “por que razão”, subentendendo-se outros elementos (geralmente na figura do pronome indefinido “o” = “aquilo”) em cuja intenção se realiza a ação expressa pelo verbo.

Nota inútil: muitos anos atrás, quando via alguns vídeos da Kéfera no seu canal “5incominutos” pra saber de quem se tratava, já vi até descrição de vídeo que começava com pergunta, mas escrita assim: “Por quê... ?”. Não me lembro do que se tratava.

“Porque” junto e sem acento: como conjunção, nunca aparece sozinha e tem apenas a função de introduzir a razão daquilo sobre o que indaga o interlocutor. Geralmente a parte anterior da frase não leva vírgula. Exemplos: Não fui à festa porque estava trabalhando. / – Por que você não foi à festa? – Porque fiquei trabalhando. / Porque não tinha dinheiro, fiquei sem almoço. / Só porque é medroso, não sai à noite. / Fui a São Paulo e a poluição era insuportável. É porque tinha muito carro na rua. / O quarto vive bagunçado. Tudo porque as crianças são relaxadas!

Se colocamos primeiro a causa e depois a consequência, geralmente substituímos o “por que” da pergunta por “por isso” (que alguns desmiolados erroneamente escrevem junto: “porisso”...), porque não se trata de uma pergunta de resposta variável, mas de uma pergunta com resposta “sim” ou “não”. Exemplos: Estava trabalhando, por isso não fui à festa. / [Supondo-se que não se tinha perguntado nada] – Trabalhei muito ontem. – Por isso você não foi à festa? / É um medroso, e só por isso não sai à noite?

“Porquê” junto e com acento: não se aplica a nenhum dos casos acima, é meramente um substantivo com o mesmo sentido de “razão”, “causa”, “motivo” ou, com mais ironia ou depreciação, “pretexto”, “desculpa”, “explicação”, “justificativa”. Exemplos: Qual o porquê dele não ter ido à festa? / Não sei o porquê dele não ter ido à festa. / Você sabe o porquê de tanto calor? = Você sabe por que [o tempo] está tão quente? / Esse calor tem que ter um porquê. / Ele não foi à festa e não disse o porquê. / Lá vem você de novo com seus porquês! / Deu muitos porquês, mas não soube se explicar.


Comparação com outras línguas: em boa parte das línguas, simplesmente temos palavras diferentes pra expressar os diversos tipos de “por que”, ou elas podem ser iguais, mas se escrevem da mesma maneira quando as pronúncias são idênticas. O exemplo clássico é o do inglês, em que temos why tanto pra “por que” quanto pra “por quê”, because pra “porque” e, entre outras, reason ou cause pra “porquê”.

Quem está aprendendo francês pode cair em algumas pegadinhas no começo. Via de regra, pourquoi significa “por que” ou “por quê”, parce que significa “por que” e pourquoi também pode ser usado como substantivo, ao lado de raison, cause, motif e outros sinônimos. Nesse caso, pourquoi é sempre junto, pois pour quoi significa “pelo quê” – implicando algum verbo de intenção que exija a preposição pour –, em fim de frase ou porque, tratando-se de coisas, sempre usamos o quoi no lugar de que após preposições.

Algumas frases e suas traduções:

– Pourquoi tu m’aimes ? (Por que você me ama?)
– Parce que tu est très jolie. (Porque você é muito linda.)

Louis aime Anne parce qu’elle est très jolie. (Louis ama Anne porque ela é muito linda.)
Anne est très jolie, c’est pourquoi Louis l’aime. (Anne é muito linda, por isso/é por isso que Louis a ama.)
Anne est très jolie, et pour cela/ça Louis l’aime. (Anne é muito linda, e por isso Louis a ama.) Veja a fina diferença de tradução, mas não de sentido, em relação à anterior.
Comme Anne est très jolie [mais correto do que Parce qu’Anne...], Louis l’aime. (Como/Porque Anne é muito linda, Louis a ama.)

– Je ne sais pas pourquoi Louis aime Anne. (Não sei por que Louis ama Anne.)
– C’est parce qu’elle est très jolie. (É porque ela é muito linda.)

– Oh là là, Anne est très jolie ! (Puxa, Anne é muito linda!)
– C’est pourquoi Louis l’aime. (Por isso que Louis a ama.)

Em italiano, perché (se lê “perquê”) é usado em todos os sentidos expressos por nossas quatro ortografias, inclusive o substantivo “porquê”, e também é usado no sentido de “para que” (Dei presentes para que se lembrassem de mim), “de forma/maneira a”, “visando”. Eu poderia colocar mais exemplos com o alemão, o russo e o búlgaro, mas vai ficar muito pesado, inclusive pra mim.

Porisso Por isso, aproveitando a deixa, queria instigar ao combate a mais duas pragas ortográficas que parecem inextirpáveis das redes sociais: escrever afim de junto, quando deveria ser separado (a fim de), e nada haver, quando, expressando a inexistência de vínculos ou relações, deveria ser nada a ver. (Curiosamente, em francês é igual ao português: rien à voir, e soa da mesma forma se nossa ortografia errada fosse traduzida ao pé da letra: rien avoir!)

A fim de, SEPARADO, significa “com a intenção de” ou “com vontade de”, e também se usa pra expressar interesse amoroso por outra pessoa: Ela está a fim de mim. O adjetivo afim só é usado JUNTO no sentido de “com afinidade”, “afinado a”, “de gostos ou tendências iguais”: Somos duas pessoas muito afins. / Prefiro namorar alguém mais afim [= com mais afinidade ou coisas em comum; “a fim” poderia indicar alguém com mais interesse, mesmo que com menos semelhança].

E nem preciso dizer que escrevemos nada a ver porque a expressão originária é “ter a ver com”, ou seja, “ter relação ou vínculo com”. Podíamos dizer também “muito a ver”, “algo a ver”, “um pouco a ver”. Na linguagem coloquial já ouvi “não tem nada que ver”. É simplesmente uma expressão idiomática que não tem “nada a ver” com o verbo “haver”, que significa “existir” ou “estar/encontrar-se (em)”. Certa vez, acho que no Twitter, quase caí de costas quando alguém dobrou o erro, escrevendo “nada a haver”!



quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

“B de burro ou V de vaca?” (Chaves)


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Você já viu a segunda parte daquele episódio do Chaves (El Chavo del Ocho) que se passa no Dia de São Valentim (14 de fevereiro), que no Hemisfério Norte equivale ao Dia dos Namorados brasileiro (12 de junho), mas que mesmo aqui vem sendo cada vez mais celebrado? Era sempre nesse dia que o SBT exibia esse episódio, em que há duas piadas linguísticas intraduzíveis que muita gente não deve ter entendido, ou ao menos levou muito tempo pra que alguém explicasse. Porém, não é por serem intraduzíveis que deixaram de entrar no anedotário nerd brasileiro!

A piada central é quando a Chiquinha está escrevendo pro Chaves um cartão de São Valentim, e ela lhe pergunta se “Valentim” se escreve “com B de burro ou V de vaca”. Bugou? Pois é, em espanhol, assim como em galego e catalão, não existe diferença semântica entre os sons do B e do V, como ocorre em português. Porém, por causa da evolução histórica a partir do latim, as duas grafias diferentes se mantiveram! (É claro que entre vogais ou no meio da palavra às vezes escutamos um som parecido ao do V, mas não é a mesma coisa, e essa diferença não é distintiva.) Por isso, Valentín em espanhol se pronuncia “balenntínn”, e não “valẽit(ch)ĩ”, como em português. E vaca, “baka”, e não “vaka”.

Como já falei aqui em publicações sobre latim, alguns especialistas supõem que não existia nessa língua o som de V, e que partilhando a mesma grafia do atual U, talvez fosse pronunciado como o U de “Mauá” na vizinhança de outra vogal. A grafia U foi uma invenção posterior, e a pronúncia V foi uma inovação das línguas românicas (compare com a tendência alemã e nórdica de pronunciar nosso “qua”, “quo” como “kva”, “kvo”). Por alguma razão, talvez influência de línguas ibéricas nativas, os sons B e V se fundiram, mas a ortografia não acompanhou a mudança. Não sei por que no Brasil a piada não foi adaptada (porque traduzir é impossível!), mas é como se em português perguntássemos se “caçar” se escreve com Ç ou SS (“cassar”, de fato, é outra palavra).

A outra piada mais sutil é quando no final o Seu Madruga se enfurece e diz que “Chaves” se escreve com “chê” de “chato”. Realmente, em espanhol o CH (que se chamava “tchê”) era considerado uma letra à parte do alfabeto, listada entre o C e o D. Pela reforma de 2010, embora a grafia não mudasse, o dígrafo CH deixou de ser uma letra à parte, sendo mais chamado agora ce hache (cê agá). Não sei se os tradutores tinham isso em mente, mas descobri que no original mexicano não é isso que “Don Ramón” fala. Ele termina irritado a conversa dizendo que se escreve “con B de buey” (com B de boi – e não de burro!), talvez querendo prejudicar a Chiquinha, ou atribuindo ao Chaves a natureza de um boi. De qualquer forma, ambas as fórmulas são engraçadas em seus contextos.

Infelizmente, não tive tempo de lançar no último dia 14, mas espero que mesmo assim você goste do texto e do vídeo. Outros canais do YouTube dão o trecho da piada, mas só eu postei com quadro recortado e o enredo integral. Não deixe também de ver esta ótima explicação didática (canal EspanoFlix Anny Olivedo) sobre o uso de B e V em espanhol. Nota importante: Infelizmente, devido a vários enroscos com direitos autorais, vários episódios em português do Chaves foram gradualmente sumindo do YouTube. Por isso mesmo, inclusive, alguns memes que eu separava e reproduzia no antigo canal Pan-Eslavo Brasil foram sendo bloqueados ou apagados pelo próprio site. Portanto, as fontes que mencionei aqui levam a vídeos do Dailymotion que procurei antes de escrever este texto.



terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

O futuro da Rússia e da Ucrânia


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Sei que tá difícil fazer brincadeiras com a invasão russa à Ucrânia, mas quis passar um material descontraído sobre algumas coisas que andei pensando. Infelizmente, no próximo dia 24 a chamada “operação militar especial” de Putin, que não passa de mais uma guerra de rapina tradicional, vai completar exatamente um ano, sem perspectivas de rápido término. Se servir de consolo, no próximo dia 22 vai fazer nove anos a revolução popular do segundo Euromaidan, que não foi um “golpe de Estado neonazista”, como afirma o Kremlin, e sim a defenestração de uma de suas marionetes, Víktor Ianukóvych, responsável pela morte de mais de 100 manifestantes pacíficos no começo de 2014. A instabilidade que Putin semeou no Donbás, por ele chamada de “guerra contra o genocídio da população russófona”, seria o conflito mais geral que deveria ser encerrado por sua “operação especial”, a verdadeira guerra que o ditador não deixa seus cidadãos chamarem de “guerra”, sob pena de prisão ou pesadas multas.

A bem da verdade, a linha de frente “congelou”, pois embora os russos consigam pequenos avanços diários, estes se fazem sob o preço de pesados sacrifícios dos próprios soldados ou dos bandoleiros do grupo (mafioso) Wagner. Após preparar a maior parte deste material, vi o discurso de Putin às duas câmaras do parlamento, e afora o mesmo vitimismo contra a OTAN e os EUA e o anúncio de medidas econômicas que não vão resolver os problemas crônicos do carcomido Estado russo, não houve mudanças na condução do ataque à Ucrânia, o que só indica que o paranoico vai “fugir pra frente” até gastar todas suas forças. A suspensão (e não abandono) da participação no acordo de contenção nuclear pode fazer a Rússia ser ainda mais equiparada a “Estados párias” (rogue states) como Síria, Coreia do Norte e Irã, mas não pode dissuadir o “Ocidente coletivo” de empanturrar Zelensky com ainda mais armas.

Na última Conferência de Munique sobre segurança global, os próprios líderes mais proeminentes da oposição russa, apesar de todas suas contradições, começam a se mostrar mais unidos pra planejar o que seria o futuro de seu país sem Putin. Porém, como eles mesmos temem, o mais provável é que as próprias elites políticas e econômicas uma hora ou outra deem um golpe palaciano, não mudando as estruturas gerais do Estado, somente pra não verem seus próprios privilégios tão aquebrantados. E, olhando pra expressão da maioria dos presentes no discurso de hoje de Putin, mesmo do alto escalão, com suas caras tediosas, irônicas, bocejantes ou mesmo cochichando entre si, não parece uma possibilidade tão improvável: Putin simplesmente não têm mais próximos de confiança e tem medo de tudo e de todos. Quanto mais recursos bélicos e humanos ele queimar pra atingir um objetivo que já lhe fugiu pouco após o começo (tomar Kyiv, derrubar Zelensky e, como pregam seus ideólogos mais extremistas, anexar a Ucrânia), mais dura será a reação do exterior, das elites russas e das famílias enlutadas.






Gente, o ex-oligarca russo Mikhaíl Khodorkóvski é a cara do Geraldo Alckmin e um dos mais ativos líderes da oposição a Putin, até a voz dele é meio parecida! Se um dia ele chegar a governar a Rússia, vai roubar as merendas de todas as escolas, inclusive estas daqui, exclusivas do Exército, as chamadas sukhói paiók, kkkkk:



No meio do discurso completo, surgiu esta pérola que fiz questão de traduzir e comparar com as reais ações de Putin. Por que ele está tão preocupado com as “crianças ocidentais” se ele mesmo está deportando crianças ucranianas pra serem reeducadas ou adotadas na Rússia, a fim de apagar sua cultura? Por que ele se preocupa mais com as comunidades de gênero do que com a catástrofe demográfica que os exílios voluntários e a matança de seus soldados vão causar? E enfim, por que ele se preocupa mais com o gênero de Deus e a Igreja Anglicana do que com o mandamento “não matarás”?. Nem Bolsonaro foi tão longe assim na “pauta de costumes”, um eufemismo pra pânico moral...

Atenção, o recuo nos objetivos foi tão descarado que, fracassadas a desnazificação, depois a desmilitarização e por fim a dessatanização, o ditador anunciou que vai se limitar à DESBOIOLIZAÇÃO da Ucrânia. Pra quem é cético, mesmo dentro das igrejas progressistas essa discussão pode parecer ridícula (nem é mais “sexo dos anjos”, mas do próprio Deus, rs). Mas eu vou pelo caminho mais curto e tiro inclusive o instrumento pra Putin envolver seu genocídio com ares sagrados: Deus não existe.

Vejam o que [as elites ocidentais] estão fazendo com seus próprios povos: destruindo a família e a identidade cultural e nacional, pervertendo e abusando das crianças até a pedofilia e proclamando tudo isso como normativo em suas vidas, enquanto os sacerdotes e os clérigos são obrigados a abençoar casamentos homossexuais. Que Deus os proteja, que façam o que quiserem. O que quero dizer com isso? Pessoas adultas têm o direito de viver como quiserem, e assim também consideramos na Rússia e sempre consideraremos: ninguém deve ter invadida sua vida privada e não pretendemos fazer isso.

Mas gostaria de lhes dizer: me desculpem, mas observem as Sagradas Escrituras, os principais livros de todas as outras religiões do mundo. Tudo está dito aí, inclusive que a família é a união entre um homem e uma mulher, mas mesmo esses textos sagrados estão hoje sendo postos em dúvida. Como ficamos sabendo, a Igreja Anglicana, por exemplo, está planejando – planejando, é verdade, pelo menos por enquanto – considerar a ideia de um Deus de gênero neutro. O que vamos dizer? “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que estão fazendo!” [Lucas, cap. 23, vers. 34, trad. Paulinas.]


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Missão espacial conjunta EUA-URSS


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Este vídeo contém trechos interessantes em que as naves Soiuz e Apollo acoplam no espaço, durante a rara missão conjunta “Apollo-Soiuz”, entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética. Eu deixei apenas os momentos da decolagem e no espaço, tirando alguns trechos jornalísticos e documentais do vídeo completo. Publiquei essas imagens originalmente no meu antigo canal do YouTube em 2020 ou 2021, mas com a horrível situação geopolítica atual, tal lembrança é ainda mais carregada de significado.

A missão Apollo-Soiuz (“Аполлон-Союз” em russo) durou de 15 a 24 de julho de 1975, tendo um caráter simbólico dentro do período de détente, ou distensão entre as duas superpotências que, assim, diminuíam a velocidade da corrida espacial. Na época, o presidente Jimmy Carter e o secretário-geral Leonid Brezhnev estavam empenhados, inclusive, em cessar a corrida armamentista, amenizando as tensões que caracterizavam a “guerra fria” entre capitalismo e comunismo, ou seja, um clima de competição militar e tecnológica que, porém, não descambava em ataques efetivos.

Os astronautas Thomas Stafford, Vance Brand e Donald Slayton partiram com a nave Apollo 18 no foguete Saturno IB e os cosmonautas Aleksei Leonov e Valeri Kubasov partiram com a Soiuz 19 de uma base no Cazaquistão soviético, todos no dia 15 de julho. No dia 17, as duas naves “cocharam” (isto é, acoplaram) e os exploradores se visitaram mutuamente, fizeram experimentos juntos e trocaram presentes, até que em 21 de julho a Apollo aterrissou de volta, assim como a Soiuz no dia 24. Outra missão parecida só se repetiria em 1995, com o encontro de um veículo estadunidense com uma estação espacial russa no Programa Shuttle-Mir.

Como programa de testes, o Apollo-Soiuz só teria essa missão, sem conhecer continuidade, enquanto esse terá sido o último voo da espaçonave Apollo, cuja missão 18 designava inicialmente uma missão lunar cancelada. Tendo sido cortadas as verbas da NASA pelo Congresso dos EUA, a exploração da Lua foi cessada e a missão Apollo 17 se tornou a última a pousar no satélite da Terra, em 1972. Além disso, a partir da invasão do Afeganistão pela URSS em 1979, a potência comunista conheceria um irreversível declínio econômico que paralisaria seus investimentos em tecnologia em informática. E sob a presidência de Ronald Reagan em Washington, as hostilidades com Moscou retomariam fôlego, levando Brezhnev à corrida armamentista que terminou de esgotar os escassos recursos de seu país.

Estas informações são basicamente da Wikipédia em português, com adendos meus. Há também esta reportagem mais longa e detalhada da BBC em russo (2015) sobre a missão, intitulada “Soiuz-Apollo: o ápice e o começo do fim da distensão” e escrita por Artiom Krechetnikov.



domingo, 19 de fevereiro de 2023

Ary Fontoura fantasiado de “vovô-leta”


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Vamos rir um pouco? Aproveitei pra fazer uma montagem simples com a canção Voa, voa, brabuleta, composta pra fins humorísticos à personagem Shayenne (Cláudia Abreu), “a rainha do eletroforró”, na novela da TV Globo Cheias de charme em 2012. Por incrível que pareça, ela era a vilã, mas o enredo faz uma zoeira com a ascensão social e a maior visibilidade das trabalhadoras domésticas, alcançadas durante os dois governos Lula (2003-2011), enquanto naquele ano a sucessora Dilma Rousseff ainda colhia os frutos do ápice do boom econômico da década passada. Enxergo também que a zoeira é com a mudança nos gostos da cultura de massas que veio com essa ascensão social, muitas vezes vista como “cafona” ou “decadente”, cujo maior alvo de preconceito era e ainda é o funk das periferias urbanas. Basta lembrar dos tempos em que as palavras “rolezão” ou “rolezinho” estavam na moda, simbolizando o acesso da “nova classe média” a espaços antes feudalizados pela população de maior renda. A migração de nordestinos ao Sul e ao Sudeste e a ascensão que o próprio Nordeste teve nos governos do PT também aparecem, como se nota pelo sotaque zoado de Shayenne e pelas misturas musicais inusitadas (que ao longo da década, sobretudo no sertanejo, se tornariam a regra), inter-regionais.

Pra quem se interessar, eis a transcrição da fala do Ary Fontoura no vídeo original postado no Twitter: Me convidaram pra desfilar num bloco de rua, disseram que iam mandar a roupa. Olha a roupa que mandaram! Como é que uma pessoa de 90 anos vai sair desse jeito? Se bem que fantasiado de borboleta, quem é que vai me reconhecer? É ou não é? “Ele vai se fantasiar de borboleta, e a mulher dele vai de Antonieta...” Oi, oi, oi!



sábado, 18 de fevereiro de 2023

Argentinos a vencer (Malvinas, 1982)


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Esta é uma das mais famosas canções de propaganda em espanhol que o governo da República Argentina, durante a ditadura militar comandada pelo general Leopoldo Galtieri, lançou pra convencer o povo da justeza da Guerra das Malvinas, deflagrada em 1982 contra o Reino Unido. As ilhas isoladas no meio do Pacífico Sul, chamadas pelos britânicos de Falklands e pertencentes a seu império desde o século 19, sempre foram reivindicadas pelos argentinos, sobretudo a partir do período nacionalista do presidente Juan Domingo Perón. Enquanto a ditadura militar entrava em crise social e econômica, Galtieri procurou a todo custo um pretexto pra desviar o foco dos problemas internos e insuflar no povo um novo sentimento (como dizemos no Brasil) “ufanista”. Conseguiu encontrar, pretendendo reanexar as Malvinas e adjacências, numa luta que muitos sabiam pesada pro Exército Argentino.

Margaret Thatcher, primeira-ministra do Reino Unido, também enfrentava contestações e por isso decidiu se jogar de corpo e alma na defesa do território longínquo, mesmo que pra muitos não valesse a pena. A desproporção de forças era gritante, mas ainda assim, como disse Galtieri, os argentinos “apresentaram batalha” e foram corajosos na luta. O primeiro ataque argentino ocorreu em 2 de abril de 1982, e a guerra se prolongou, com abusos dos dois lados, até 14 de junho, data da rendição argentina, dando-se a última ação militar no dia 20, quando os britânicos retomaram Port Stanley (ou Puerto Argentino). A mídia da Argentina, totalmente controlada pela ditadura, emitiu notícias favoráveis falsas até a queda final, e o povo acreditou até o fim, logo passando de uma euforia inédita ao desgosto total. O exército de Galtieri estava sucateado e seus oficiais, muito menos seus recrutas, não tinham treinamento pra esse tipo de ofensiva.

A propaganda televisiva estava toda voltada pra guerra, assim como a economia nacional, cujos racionamentos não impediram as miseráveis condições na frente de batalha. Se uma canção pudesse simbolizar a Guerra das Malvinas, talvez fosse Argentinos a vencer, da qual achei as vinhetas curta e integral, cujos vídeos se veem abaixo. É difícil (mas desnecessário) traduzir o título, pois a expressão completa é “vamos a vencer”, enquanto em português não usamos esse “a”, que dá, porém, a poética dos versos. Este artigo acadêmico argentino fala da cultura musical no tempo do conflito, e foi de onde tirei a letra. Não vou traduzir, porque você deve entender bem:




Vamos Argentinos,
Vamos a vencer,
El futuro sigue su camino,
Argentinos a vencer!

Hoy el país nos pide todo,
Demos todo con valor.
No tememos a la lucha,
Argentinos a vencer.
Sabemos por qué luchar y ganar:
Jamás nos han vencido,
Jamás nos vencerán.

Vamos Argentinos,
Vamos a vencer,
El futuro sigue su camino,
Argentinos, argentinos a vencer!
Argentinos a vencer!

(Cada uno en lo suyo, defendiendo lo nuestro. Argentinos a vencer!)


sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Kosovo inaugura no centro de Prishtina busto do presidente sérvio Aleksandar Vučić



quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Nazismo e comunismo, nada a ver?


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Nos últimos anos, tem voltado à tona não só no Brasil, mas também no debate político ao redor do mundo, a questão das semelhanças e diferenças entre o comunismo de Lenin e Stalin e o nazismo de Hitler (e, em algum grau, o fascismo de Mussolini). Algumas correntes liberais afirmam que na gênese dos segundos está o primeiro, e que o combate a um, portanto, implica o combate a outro. Essa redução sempre foi problemática na opinião dos historiadores profissionais, pois além da guerra mútua entre os dois campos ideológicos, as origens ideológicas e culturais são distintas.

Esperei muitos anos pra legendar este vídeo, cuja transcrição estava quase completa, mas só tive ânimo pra retomar após fazer no segundo semestre de 2019 uma extensão em tradução do francês na Unicamp, com a professora Marie-Lou, à qual propus que eu legendasse este vídeo como um dos trabalhos finais. Marc Ferro, nascido em Paris em 1924 e filho de um grego e de uma ucraniana (morta em Auschwitz em 1943), foi um dos maiores especialistas da atualidade sobre as histórias da União Soviética e da Rússia imperial. Mas é uma pena que poucos de seus livros estejam traduzidos, e que poucos brasileiros leiam francês, pois seu aporte seria fundamental nestes tempos obscuros (tanto 2019 quanto 2023). Falecido em 2021, Ferro se considerava de esquerda, mas não comunista, e também militou contra os chamados “revisionismos históricos”.

Este vídeo é o trecho filmado de uma entrevista exclusiva sua pra revista Algérie News (ele viveu por um tempo na Argélia), publicada bem no começo da edição que saiu em 5 de maio de 2013. A versão escrita, porém, foi bastante editada em relação à fala bem coloquial, cujos traços reproduzi em parte nas legendas. Eu mesmo traduzi, legendei e cortei o vídeo, no qual há inclusive uma citação de memória de Lenin, depois corrigida no impresso. Marc Ferro argumenta basicamente que não dá pra reduzir nazismo/fascismo e comunismo ao mesmo fenômeno, porque o nazismo era racista e baseado na irracionalidade, enquanto o comunismo era cientificista e universalista, querendo padronizar tudo e, por isso, não deixando de ser igualmente mortal (ao menos na época de Stalin).

Seguem o vídeo com legendas, o texto da tradução em português e a transcrição em francês (oral, e não a versão da revista):


O fascismo, o nazismo, o stalinismo, podemos colocá-los no mesmo plano? Esses são fenômenos da mesma espécie, portanto a se pôr num grande gênero, ou é preciso estabelecer distinções estritas, não são a mesma coisa, não são a mesma história, não são o mesmo conteúdo...?

Não, não é de jeito nenhum a mesma história, não penso que se possa a todo instante querer comparar constantemente comunismo, nazismo e fascismo. É claro que são regimes criminosos, são regimes que fizeram milhões de mortos, são regimes horríveis, são regimes que não devemos restaurar, é certo! Mas... comparar não prova nada. Então, por exemplo, hoje na Estônia, antiga república [soviética], os estonianos dizem: “Sim, tivemos os nazistas quatro anos, era horrível, mas tivemos os comunistas quarenta, era pior”. Eis então a comparação de imediato, mas eles foram vítimas de dois regimes, se é que posso dizer, em sucessão. Mas os russos respondem: “Não, nada disso, sua comparação não é boa porque... nós, russos, fomos subjugados pelo comunismo. E quanto ao nazismo? Os alemães o aplaudiram”. Então, não se pode a todo custo querer comparar os dois regimes, o que não quer dizer que seja preciso tentar um esboço de melhoria, de justificação deles; para ser breve, não é isso que quero dizer.

Foram completamente diferentes. Dito isso, por que eram diferentes? Porque... o nazismo era antes de tudo um racismo. E Hitler o mostrou de todas as formas. De todas as formas, quer dizer que ele perdeu a guerra por causa de seu racismo. Ele desprezava os eslavos, não pensava que os russos poderiam ter armas melhores que as dos alemães. Quando ele viu os [foguetes] Katiusha e os [tanques] T-34 russos, fez um drama terrível, sofreu um ataque de nervos, Göring também. Com seu racismo eles selavam a própria derrota, e foi isso que os levou a serem odiados por todo o mundo e a cometerem crimes abomináveis. Mas essa era a própria base do regime. O comunismo é outra coisa, o comunismo é uma doutrina que se acreditava científica: eles vão falar da ciência, e quem não concordasse com uma análise científica só podia estar doente, louco, devia ser internado, não se pode discutir com alguém que lhe dá uma equação, nem dizer “Isso é falso, isso é...”

São as injeções de Brezhnev?

Isso, exatamente. Por conta disso, eles diziam: “Os camponeses ricos são um obstáculo à construção do socialismo, precisamos suprimir os camponeses ricos”. Como assim? Meio como um cirurgião dizendo: “Você tem alguma coisa no braço, para fazer com que isso sare, devemos cortar o braço”.

Quer dizer: “Curamos a úlcera, mas matamos o doente”.

Exatamente. Eles tinham uma atitude cirúrgica, e não sou eu que estou dizendo! Pois se fosse eu que dissesse, você poderia dizer que estou exagerando. É Lenin: “Não se pode curar uma sociedade se não se estudou a medicina”, é ele que diz! É ele que diz a Ioffé: “Você diz que tenho poderes demais, mas você não se dá conta de que está doente”. É ele que diz a Balabanova: “Anda, vai... vai se tratar, você não entende o que é o marxismo”. Portanto essa atitude médica, cientificista, que permite serem suprimidas 10 mil pessoas para ser salvo um milhão de outras, na intenção, ahn, é uma atitude cientificista, que não tem absolutamente nada a ver com a atitude dos nazistas. É isso que eu quero dizer. Isso desembocou nos mesmos horrores, mas por percursos totalmente diferentes, e independentemente dos objetivos, porque os objetivos, os dois... tiranos queriam sociedades perfeitas, então, podemos discutir sobre isso, mas é antes o ponto de partida que mostra que a comparação é absurda.


Le fascisme, le nazisme, le stalinisme, est-ce qu’on peut les poser sur le même plan ? Est-ce que c’est des phénomènes qui sont de la même espèce, donc à mettre dans un grand genre, ou est-ce qu’il faut établir des distinctions strictes, ça n’est pas la même chose, ça n’est pas la même histoire, ça n’est pas le même contenu... ?

Non, ça n’est pas du tout la même histoire, je ne pense pas qu’on puisse à tout champ vouloir comparer constamment communisme et nazisme, et fascisme. Bien sûr, c’est des régimes criminels, c’est des régimes qui ont fait des millions de morts, c’est des régimes qui sont horribles, c’est des régimes qu’il faut pas retrouver, certes ! Mais... la comparaison n’est pas raison. Alors, par exemple aujourd’hui, en Estonie, ancienne république, n’est-ce pas, les Estoniens disent: « Ouais, on a eu les nazis quatre ans, c’était horrible, mais on a eu le communisme quarante, c’était pire ». Donc voilà, tout de suite la comparaison, mais eux, ils ont été victimes de deux régimes, si je peux dire, à la suite. Mais les Russes répondent : « Non, c’est pas du tout, votre comparaison n’est pas bonne, parce que... le communisme, nous l’avons subi, nous les Russes. Qu’est-ce que le nazisme ? Les Allemands l’ont applaudi. » Donc, on peut pas à tout prix vouloir comparer les deux régimes, n’est-ce pas, ce qui veut pas dire qu’il faille essayer d’esquisser une amélioration, une justification de là, pour parler tôt c’est pas ça que je veux dire.

Ça a été complètement différent. Cela étant dit, pourquoi c’était différent ? Parce que... le nazisme, c’était avant tout un racisme. Et Hitler l’a montré de toutes les façons. De toutes les façons, c’est-à-dire qu’il a perdu la guerre à cause de son racisme. Il méprisait les Slaves, n’est-ce pas, il pensait pas que les Russes pourraient avoir des armes meilleures que les Allemands. Quand il a vu les Katioucha et les T-34 russes, il en a fait une maladie, il a poussé une crise de nerfs, Göring aussi, n’est-ce pas ? Dans leur racisme ils scellaient leur propre défaite, et c’est ça qui les a amenés à être haïs de tout le monde et à commettre des crimes abominables. C’est ça quand même la base du régime. Le communisme, c’est autre chose, le communisme, c’est une doctrine qui se croyait scientifique : ils parleront de la science, et si on n’était pas d’accord avec une analyse scientifique, on était malade, on était fou, fallait aller à l’asile, on discute pas avec quelqu’un qui vous donne une équation, on dit pas « C’est faux, c’est... »

C’est les piqures de Brejnev?

Exactement, voilà. Par conséquent, ils disaient: « Les paysans riches sont un obstacle à la construction du socialisme, faut supprimer les paysans riches ». Quoi ? Un peu comme un chirurgien dit: « Vous avez quelque chose au bras, pour faire tant que ça remonte, faut couper le bras ».

Ça veut dire : « On guérit l’ulcère, mais on tue le malade ».

Exactement. Ils avaient une attitude chirurgicale, bah, c’est pas moi qui le dit ! Parce que si c’était moi qui le disait, vous pourriez dire que j’exagère. C’est Lénine ! « On ne peut pas guérir une société si on n’a pas étudié la médecine », c’est lui qui le dit ! C’est lui qui dit à Ioffé : « Tu dis que j’ai trop de pouvoirs, mais tu te rends pas compte, t’es malade. » C’est lui qui dit à Balabanova : « Allez te faire... va te faire soigner, tu comprends pas ce que c’est que le marxisme ». Donc cette attitude médicale, scientifiste, qui fait qu’on peut supprimer 10 mille personnes pour sauver un million d’autres, soi-disant, hein, c’est une attitude scientiste, qui a absolument rien à voir avec l’attitude des nazis. C’est ça que je veux dire. Ça a abouti aux mêmes horreurs, mais par des parcours totalement différents, et indépendamment des objectifs, parce que les objectifs, les deux... tirans voulaient des sociétés parfaites, donc ça, on peut discuter là-dessus, mais c’est plutôt le point de départ qui montre que la comparaison est absurde.



quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Bolsominion comprovado “ipso facto”


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O que aconteceu:


O que ele comentou sobre o fato:


O que ele costuma retuitar:












Conclusão sobre seu tuíte na imagem 2:


terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Morre último líder da Alemanha Oriental


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/modrow


Esta notícia em inglês da Associated Press reproduzida pelo New Canaan Advertiser informa sobre a morte de Hans Modrow, político da República Democrática Alemã (Alemanha Oriental, ou ainda RDA, DDR), em 11 de fevereiro, e achei interessante traduzir e reproduzir aqui. A RDA foi um Estado socialista fundado em 1949 no que hoje é essencialmente o leste da Alemanha moderna, originado da zona de ocupação soviética após a derrota do nazistas na 2.ª Guerra Mundial. No essencial, era politicamente controlado pela antiga União Soviética e ficou conhecido como uma das ditaduras mais brutais da Europa na época da “guerra fria” (1948-1989), sobretudo sob o mando de Walter Ulbricht, que ordenou a construção do Muro de Berlim em 1961, e Erich Honecker, que reprimiu brutalmente as manifestações logo após os 40 anos da RDA e quando outros vizinhos socialistas já estavam avançados nas reformas.


Morre aos 95 anos o último líder comunista da Alemanha Oriental
GEIR MOULSON, Associated Press

BERLIM, Associated Press – Morreu Hans Modrow, que atuou como último líder comunista da Alemanha Oriental durante uma gestão turbulenta que se encerrou com a primeira e única eleição livre do país. Ele tinha 95 anos.

Modrow morreu na manhã de sábado, segundo tuíte da fração parlamentar do partido Die Linke (A Esquerda).

Um comunista de mentalidade reformadora, Modrow tomou o poder na Alemanha Oriental logo após a queda do Muro de Berlim e na sequência convidou forças de oposição para o governo, mas não conseguiu frear o crescente impulso rumo à reunificação alemã.

“O percurso totalmente pacífico do estabelecimento da unidade alemã foi exatamente uma especial conquista sua” escreveu Die Linke no Twitter. “Esse permanecerá sendo seu legado político.”

Durante os 16 anos em que chefiou o partido comunista em Dresden, a partir de 1973, Modrow construiu uma reputação de ser contra a ordem instituída. Ele rejeitou as regalias do partido e insistiu em morar num apartamento comum.

Um cargo na cúpula da liderança da Alemanha Oriental lhe foi negado até ser escolhido primeiro-ministro, uma função que antes acarretava pouca influência, em novembro de 1989 – dias após a queda do Muro de Berlim.

Quando o líder linha-dura Egon Krenz e seu Politburo governante renunciaram no começo de dezembro, Modrow emergiu como a principal figura política da Alemanha Oriental. Mas os comunistas já não podiam dominar sozinhos a situação. No mês seguinte, ele concordou em dividir o poder com uma oposição cada vez mais ruidosa e adiou a histórica primeira eleição livre da Alemanha Oriental para março de 1990, em meio à crescente insatisfação.

Mesmo que os protestos pela democracia estivessem rapidamente adquirindo um matiz pró-unificação, os comunistas inicialmente se opuseram a discutir essa possibilidade. Porém, em fevereiro de 1990, Modrow impeliu a conversações com a Alemanha Ocidental visando a uma eventual “pátria unida” que seria independente de blocos militares e governada por um parlamento conjunto em Berlim.

Modrow liderou a campanha eleitoral do Partido do Socialismo Democrático, novo nome dos comunistas, mas sua popularidade pessoal não bastou para evitar que eles terminassem apenas como o terceiro partido mais forte, com uma votação de 16%.

A vencedora foi uma aliança de partidos conservadores que favoreceu uma rápida reunificação e foi apoiada pelo governo do líder da Alemanha Ocidental, Helmut Kohl. A Alemanha foi reunificada sob a liderança de Kohl e como membro da OTAN em 3 de outubro de 1990, menos de um ano após a queda do Muro de Berlim.

Modrow se tornou membro do parlamento unificado, onde atuou até 1994, e presidente de honra do PSD pós-comunista – o antecessor do atual partido de oposição Die Linke. De 1999 a 2004, ele foi membro do Parlamento Europeu.

O passado de Modrow sob o domínio dos comunistas linha-dura o levou ao tribunal vários anos após a reunificação.

Em 1995, um tribunal o condenou por ter incitado a falsificação dos resultados das eleições locais de 1989 em Dresden. Foi-lhe imputada uma pena de nove meses com suspensão condicional e uma multa.

Modrow afirmou que o julgamento teve motivações políticas e garantiu que seu resultado agravaria a divisão entre alemães orientais e ocidentais. Seu advogado argumentou que, como primeiro-ministro, ele tinha feito reparos contra injustiças prévias ao supervisionar as eleições livres.

Mais tarde em sua vida, Modrow serviu no Conselho de Notáveis do Die Linke.

“Hans foi um socialista profundamente sincero e combativo”, tuitou Dietmar Bartsch, presidente da fração parlamentar do Die Linke. “Até os últimos anos foi um importante conselheiro em nosso partido, cuja sabedoria vai fazer falta.”



segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

Deputado sérvio vê pornô em sessão


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/zvonimir


Meu amigo Gabriel, do Linguisticando, me enviou por WhatsApp este vídeo viral postado no Twitter por um sérvio em 6 de fevereiro, que você também pode ver abaixo, em caso de sumiço do original. A descrição feita pela conta foi a seguinte: Poslanik SPS Zvonimir Stević za vreme Skupštine o KiM gleda filmove za odrasle (O deputado Zvonimir Stević, do SPS, assiste a um filme pra adultos [ou seja, pornô] durante uma sessão sobre o Kosovo). Explicações: SPS é a sigla do Partido Socialista da Sérvia, um dos herdeiros do ramo sérvio da Liga dos Comunistas da Iugoslávia, o partido único de 1945 a 1990, e foi fundado em 1990 por ninguém menos que Slobodan Milošević, que pertenceu a ele e também o liderou até morrer preso em Haia, em 2006. “KiM” é a abreviação pra Kosovo i Metohija (em servo-croata, ambas as palavras são proparoxítonas), nome pelo qual os sérvios conhecem a região inteira do Kosovo, pois “Kosovo” seria a parte oriental e “Metohija” a ocidental. A maioria étnica albanesa da região, que se considera uma república independente, a chama de Kosova (com artigo definido) ou Kosovë (sem artigo definido), sempre com a tonicidade no “só”.

Nascido em 1957 e bacharel em Direito, Stević representa a comunidade sérvia do Kosovo (entre 4 a 7% da população) em Belgrado, pois esta ainda o considera uma região autônoma sua. Por incrível que pareça, segundo a Wikipédia em inglês, ele é um político conhecido e de longa carreira, é presidente do time de futebol FK Gračanica desde 1992 e foi presidente do FK Priština de 1995 a 1999 (Prishtina é a capital do Kosovo e cidade natal do agora ex-deputado). Stević muito atuou no fim da década de 1990 pra reconciliação entre sérvios e albaneses, sem poder evitar a guerra que estouraria em 1998 e o bombardeio de Belgrado em 1999. Durante a ocupação da OTAN, ele foi coprefeito de Prishtina junto com o albanês étnico Mexhid Syla sob a supervisão da ONU, e depois foi deputado nacional de 2004 a 2008 e de 2012 até sua renúncia, há alguns dias. Em 2008 chegou a ser vice-ministro para o Kosovo e Metohija, cargo hoje extinto, e desde 2012 integrou várias comissões e grupos de trabalho, sempre defendendo ativamente a comunidade sérvia da região. Ivica Dačić, atual presidente do SPS, pediu a Stević que renunciasse, após críticas do Partido Progressista Sérvio (SNS), do atual presidente Aleksandar Vučić, cuja base o SPS integra, mesmo tendo apenas 22 dos 250 deputados da Assembleia Nacional.

Segundo o UOL e o Le Parisien, os debates do dia 6 de fevereiro tratavam da crise na fronteira entre a Sérvia e o Kosovo, que se prolonga desde o ano passado e à qual os políticos tentavam encontrar uma solução. A reunião foi tensa e incluiu agressões físicas entre os nacionalistas sérvios que se consideravam “traídos” e os membros do SNS, mas Stević não parecia muito preocupado com isso, “alternando entre fetiches”, como disse uma amiga minha, rs. A comunidade internacional pressiona por uma solução rápida das tensões, ainda mais que a Rússia, tradicional aliada da Sérvia, e a China são contra a independência do Kosovo, bloqueando seu ingresso em diversos órgãos internacionais, e que Pequim se mostra indiferente à agressão que Putin conduz contra a Ucrânia.

Em todo caso, a repreensão a Stević parece ter sido desproporcional, já que se a discussão era sobre o Kosovo, ele contribuiu, como poderá ver quem se dispor a executar o vídeo, pelo menos “cos-ovo” do ator... (putz, essa doeu!) Como diria outro célebre ator pornô já falecido, no meio do ambiente tenso, “trabalhando e relaxando”!



domingo, 12 de fevereiro de 2023

Cultura talian: imigração italiana no Sul


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/taliani


A cultura da imigração italiana no Brasil é uma graça! Junto com as diversas culturas do Norte, Nordeste e Centro, vem enriquecer nosso país com muito mais cores, sabores e sons. Quem tem família com antepassados italianos (vêneto-napolitano) ou que manteve a maior parte das tradições, como eu, sabe da alegria contagiante nesse meio cheio de comida e piadas.

Graças aos colegas do grupo “Amici del Talian” no WhatsApp, alguns anos atrás consegui vídeos que mostram como ainda hoje é preservada a tradição do “filó”. Inicialmente uma reunião noturna em que os italianos e descendentes vinham justamente ajudar a tecer as rendas de filó, acabou se estendendo a músicas, jogos, paqueras, causos e muita comida. Até hoje são organizadas festas especialmente pros turistas no Sul do Brasil, sobretudo Santa Catarina e Serra Gaúcha, visando manter essa linda lembrança. Não há melhor explicação pro “filó” do que nesta matéria de um jornal sul-rio-grandense.

O primeiro vídeo abaixo foi feito na cidade de Lindoia do Sul, estado de Santa Catarina, onde houve grande imigração de italianos, sobretudo da região do Vêneto, ninho de origem do idioma “talian”, símbolo de nossa imigração “carcamana”, rs. Os senhores de chapéu de palha estão jogando a famosa “mora”, em que se deve falar rapidamente a soma do número de dedos que eles lançam na mesa. Desviando um pouco, recomendo que visitem também as estâncias balneárias de Lindoia e Águas de Lindoia do Circuito das Águas aqui do interior de São Paulo: cidades pacíficas, receptivas e confortáveis!

Não sei se o segundo vídeo abaixo também foi feito em Lindoia do Sul, mas tenho certeza que é na região Sul, pois a quase totalidade do grupo no Whats é de homens ou senhores desses pagos. Não temos o jogo da “mora”, mas o senhor calvo toca a sanfona e canta muito bem. Desfrute dessa maravilha, e quem não conhece esse ambiente, seja bem-vindo!




Esta outra pérola da cultura “talian” deve ter sido filmada por volta do fim de novembro de 2019, e mostra o grupo Ucceli de Bosco (Pássaros de Bosque) participando numa igreja de um encontro de corais na cidade de Ipuaçu, estado de Santa Catarina. Muito bonito de se ouvir!

Como eu já disse aqui outras vezes, o talian é uma língua de pleno direito, formada da fusão do dialeto vêneto com outros dialetos do norte da Itália, durante o processo de emigração em fins do século 19, e depois com o português brasileiro falado, sobretudo, na região Sul, quando os italianos aqui se alojaram e tentaram adaptar sua vida. Neste site, você pode ver a iniciativa completa de Jaciano Eccher pra resgatar, codificar e difundir esse idioma.

É interessante que essa cultura de cantos corais, embora seja difundida na Itália como um todo, também é muito comum na Eslovênia, país bem próximo da região italiana do Vêneto e que faz trabalhos semelhantes com canções “partisans”, como você pode ver pelo YouTube. Um belo grupo que recomendo muito é o Coral Feminino Kombinat (Ženski pevski zbor Kombinat), que canta em esloveno. Divirta-se relembrando nossos “nonnos”!


Adendo (13/2/2023): O humorista gaúcho que se apresenta no YouTube, em outras redes sociais e em shows de comédia ao vivo com o nome de Badin, o Colono, faz uma zoeira com essa cultura colonial (i)taliana do Sul e de outras partes do Brasil, apresentando-a de forma lúdica e criando enredos dentro desse ambiente. Eu pessoalmente o acho um chato, mas como minha mãe o adora, vejo alguns vídeos com ela às vezes e um dos últimos foi esse muito interessante, em que Badin apresenta algumas expressões em talian ainda usada pelos descendentes no cotidiano.

Aproveito também pra fazer um pequeno disclaimer: uma de minhas trisavós, Pierina Garla, nasceu em Veneza, e suas filhas, uma delas minha bisavó, nasceram em Santa Rita do Passa Quatro, SP, que é um dos núcleos isolados fora do Sul em que se fala talian. Mas meu trisavô correspondente, Achille Pellicci, nasceu em Nápoles, e não faço ideia de como se conheceram em Santa Rita. Porém, minha avó materna, assim como o pai dela, nasceram em São Paulo, onde a cultura dita “italiana”, por sua vez, tem origens muito mais napolitanas. Uma napolitana residente na Argentina e que conheci certa vez num evento online chegou a dizer que São Paulo é a cidade do mundo onde há mais napolitanos e descendentes, mais até do que Nápoles. De fato, nossa herança cultural italiana mistura um pouco de Nápoles e de Veneza (talian, inclusive algumas expressões), mas por eu ter herdado da mãe e da avó uma cultura “paulistana” genérica, mesmo nunca tendo morado na capital, é muito forte nosso substrato napolitano mediado pelos costumes dessa cidade.


sábado, 11 de fevereiro de 2023

Nós, condenados à conexão perpétua?


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/desconexao


Às vezes eu reclamo dos assuntos e da linguagem da Folha de S. Paulo, mas sou fascinado pelo estudo dos efeitos colaterais das novas tecnologias, sobretudo os smartphones e as mídias sociais, porque embora hoje eu não tenha nenhuma dessas redes da moda (exceto WhatsApp) nem use demais o celular, já tive ansiedade por problemas ao me relacionar nesses espaços... Então pra mim não só é uma terapia ativa (e manter esta página já é por si uma terapia e uma forma de canalizar energias), mas também uma forma de conscientizar muita gente que, infelizmente, ainda está sufocada nesse universo. Tanto mais, inclusive, que boa parte do conteúdo de utilidade pública da Folha é pago, então eu burlo ao menos o essencial do texto por meio deste serviço e republico como uma mensagem a quem me segue.

Novamente usando a técnica do print de tela sem copiar as palavras, apresento aqui um texto de Mateus Camillo, lançado com o título “Internet móvel e smartphones nos condenam à conexão perpétua, diz pesquisadora”, mas também localizável como “Veja 20 dicas para se desconectar das redes sociais”. As apresentações sensacionalistas sempre fazem pensar que os comentaristas recomendam o total apagamento dos espaços virtuais, mas como o próprio Jaron Lanier aconselha em seu célebre livro, não são nossos consumos que devem mudar, mas a atitude perante eles. Ou seja, eles sempre dizem que se quisermos manter as redes, mas adotando uma postura saudável pra com elas, nenhum problema. No meu caso específico é que achei mais saudável e satisfatório ter poucas ou nenhuma rede. E algumas dessas dicas, de fato, eu já sigo faz tempo, sem perceber, rs.













Adendo (13/2/2023): estas duas reportagens de Marina Pagno e um vídeo baseado no mesmo material, publicados hoje pelo G1, são de útil consulta pra quem se interessa pelo assunto, sobretudo pelo vício em redes sociais e suas notificações e curtidas “Prozac”:

Celular é o novo cigarro: como o cérebro reage às notificações de apps e por que elas viciam tanto

FOMO: saiba mais sobre a síndrome do medo de ficar de fora (principalmente do mundo digital)

VÍDEO: Entenda por que as notificações do celular viciam o cérebro