sábado, 31 de dezembro de 2022

Morre o Papa Emérito Bento 16


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Bom dia. Bom dia a todos.

Como vocês já sabem, trago uma notícia triste, aquela que já tínhamos adiantado com o boletim desta manhã, isto é, que com pesar lhes informamos que o Papa Emérito Bento 16 faleceu esta manhã às 9 horas e 34 minutos no Monastério Mater Ecclesiæ, no Vaticano. Como informações adicionais no momento, para conhecimento de vocês, ele tinha recebido a unção dos enfermos na quarta-feira passada no fim da missa do meio-dia, também no monastério e na presença das irmãs do Memores. (1)

A outra informação que consigo lhes dar neste momento é que na quinta-feira, 5 de janeiro, às 9h30min, deverão ocorrer os funerais na Praça São Pedro, presididos pelo Santo Padre [o Papa], obviamente. Como vocês sabem, já a partir da segunda-feira o corpo do Papa Emérito deverá estar presente na Basílica de São Pedro para as orações, uma última homenagem e um encontro com todos os fiéis que gostariam de se dirigir até aí.

Logo que tivermos outras informações, sejam quanto ao acesso à basílica ou eventualmente quanto aos funerais, vou lhes fazer saber e marcamos uma nova entrevista e volto a lhes dar eventualmente, segundo as modalidades que conseguirmos fazer no momento. Agora vou lhes dizer a mesma coisa em inglês pra que também quem talvez não entenda italiano possa entender.

As I was saying, I’m here with sad news this morning, which is the sad news we anticipated with the Holy See Press Office Bulletin this morning. With sorrow we informe you that Pope Emeritus Benedict XVI passed away today this morning at 9:24 in the Mater Ecclesiæ Monastery in the Vatican. The other information that I provided in Italian is that on Wednesday 28th in the afternoon he had received the Anointing of the Sick in the monastery, in the end of the holy mass, and that the funerals will be this coming week, on Thursday 5th January, at 9:30 on St Peter’s Square, and they will be presided over by Pope Francis. And as you really saw in this morning, from the morning of Monday the body of the Pope Emeritus will be in the Basilica of St Peter, where the faithful can go with their prayers and for a last meeting with the Pope Emeritus to greet him and to say goodbye.

No momento não tenho muitas outras informações, portanto deixemos talvez as perguntas pra quando tivermos informações adicionais, tudo bem? E se houver perguntas específicas a me fazer, estou aqui à disposição de vocês. Mas por enquanto, não acredito ser a hora pra perguntas, mas de se guardar com um pouco de tristeza no coração. Desculpem.


Traduzido do italiano e transcrito do inglês por Erick Fishuk.

(1) Os “Mémores Dómini” constituem uma associação laica católica cujos membros fazem votos de obediência, pobreza e castidade, no âmbito do movimento eclesial Comunhão e Libertação, tendo como campo de apostolado o mundo do trabalho. Quatro irmãs dessa associação já assessoravam Bento 16 pessoalmente durante seu pontificado e o acompanharam durante sua instalação no Monastério Mater Ecclesiæ, após sua renúncia em 2013.



Louca empurra Bento 16 ao chão no Natal de 2009:




Se o Messi fosse de outros países...


Pra acabar este turbulento ano de forma descontraída, uma curta publicação extra com humor meio nerd. Meu amigo Raphael me mandou este meme indicando como o Deus, foda-se Maradona astro do futebol argentino Lionel Messi se chamaria caso tivesse nascido em outros países! Não vou explicar as bandeiras, você que pesquise, rs. Respondi ao Raphael sugerindo outros nomes de mais países, que também são indicados abaixo, e se você tem correções ou mais sugestões, me chame no WhatsApp:



França: Messiê (kkkkk)

Irlanda: O’Messi

Áustria: Messl

Belarus: Messouski ou Messenka

Ucrânia: Messiuk

Chéquia: Messák

Lituânia: Messauskas

Finlândia: Meessii

Hungria: Méssy ou Messzács

Armênia: Messiyan

Geórgia: Messidze ou Messishvili

Irã: Messizadeh ou Messipour

Argélia: Ben Messi

Egito: Abdul-Messi

Palestina: Mussi (kkkkk)

Árabe em geral: Al-Messi

Ásia Central: Suleymessi

Tartaristão: Messitdinov

Indonésia: Messang

Filipinas e Sudeste Asiático: Messong

China: Me Shi

Etiópia: Messailé

Senegal: Nmessaye

Quênia: Kipmessi

Angola: Messambo

Costa do Marfim: Messigbo


sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

Zelensky também busca Praça é Nossa


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Parece que não é só Vladimir Putin que está aspirando a um emprego no envelhecido programa “humorístico” A Praça é Nossa do SBT. Seu quase xará Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia que está defendendo militarmente seu país da invasão bárbara da Rússia, também usou recurso parecido ao pedir mais armas e dinheiro pessoalmente pra seus parceiros no Congresso dos EUA, em sua primeira viagem internacional após o início da guerra aberta. Tá certo que devemos dar todo apoio a Kyiv e aos ucranianos que hoje sofrem com mais uma agressão expansionista tão velha quanto os métodos do século 19, mas Zelensky jamais foi um bom político, mesmo se levarmos em conta que seus antecessores foram muito piores. Pra ter uma noção, seu adversário que assumiu logo após o segundo Euromaidan, Petró Poroshenko, perdeu a reeleição em segundo turno por ampla margem, sobretudo no leste do país, justamente pra um comediante que tinha feito sucesso com uma série de TV em que ele matava a maior parte da classe política.

A escolha parece ter sido um desespero do eleitorado, mas lembremos que a Ucrânia ainda é um Estado muito jovem, e que ao contrário da Rússia, está seguindo normalmente seu caminho rumo à democracia, ainda que por acertos e erros e muita batida de cabeça. É algo comum também ao Brasil, que ainda tem instituições democráticas a se reforçarem. Mas foi necessária a guerra pra que Zelensky visse tornar-se unânime uma aprovação que, até 2021, estava muito baixa e sumirem as muitas manifestações de rua contra ele. Claro que em vários momentos do discurso, os congressistas riram da cara dele, seja no vídeo abaixo, seja na hora em que ele disse que a ajuda ainda era insuficiente. Mas ainda considero um ato corajoso, e tirei o trecho abaixo da transcrição feita pelo New York Times, traduzindo e também colocando em legendas.

Não sei se Zelensky optou inadvertidamente por escrever o texto de próprio punho, já que é fluente em inglês, ou se o passou antes pra algum revisor, sobretudo da língua, porque ainda por cima, justamente a expressão que gerou a piada, “put in place”, foi usada de forma errônea. Quando a usamos sozinha ou com algum objeto inanimado, put in place significa “implementar”, “estabelecer”, “concretizar”, “pôr em prática, operação ou funcionamento”. Se ele quisesse dizer “pôr alguém em seu (devido) lugar”, teria de usar um adjetivo possessivo, como “to put him in his place” (pô-lo/a ele em seu devido lugar) ou, no exemplo do discurso, “put in their place everyone who...”, pra dar a indicação de plural ou gênero neutro.


Já construímos uma Ucrânia forte, com pessoas fortes, exército forte e instituições fortes junto com vocês. Desenvolvemos fortes garantias de segurança pra nosso país e pra Europa e o mundo inteiros, junto com vocês. E também junto com vocês, vamos colocar em seu devido lugar todos aqueles que desafiarem a liberdade. “Colocar-em”.

We already built [a] strong Ukraine, with strong people, strong army, strong institutions together with you. We developed strong security guarantees for our country and for [the] entire Europe and the world, together with you. And also together with you, we’ll put in place everyone who will defy freedom. “Put-in”.


Na última terça-feira, a jornalista Ekaterina Kotrikadze exibiu em seu programa de geopolítica na TV Dozhd uma piada de Zelensky sobre a guerra da Rússia “contra a OTAN”, contada a um entrevistador da Netflix, justamente pra confrontar com aquela piada de Putin sobre o congelamento. Eu já tinha programado essa publicação quando assisti ao vídeo, mas mesmo assim resolvi cortar o trecho, traduzi-lo e adicionar a famosa (e já irritante...) edição A Praça é Nossa, hehehe:

– A Rússia está guerreando contra a OTAN.
– É sério??
– Sim, sim, é a guerra, a Rússia está combatendo a OTAN.
– E como estão indo lá?
– Bem, lá já morreram 70 mil militares russos, quase todos os foguetes foram gastos, muito equipamento foi perdido e destruído. Essa é a situação.
– E a OTAN?
– A OTAN? A OTAN ainda não se aproximou!


quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

Adeus, Edson. Porque o eterno é...



23:59


00:00


quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Lukashenko sempre torce pro Brasil


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Enquanto eu assistia ao finzinho da coletiva de imprensa (19 de dezembro de 2022) dada pelos ditadores de Belarus, Aleksandr Lukashenko, e da Rússia, Vladimir Putin, durante a visita deste a Minsk, capital do protetorado do Kremlin país vizinho, me surpreendi quando o bigodudo confidenciou que nos jogos de seleções internacionais, sempre torce pelo Brasil. Antes de tudo, “coletiva de imprensa” é jeito de falar, pois foram feitas apenas duas perguntas nada incômodas, uma por uma jornalista de um canal estatal belarusso e outra por uma jornalista de um canal estatal russo, ou seja, uma roda de amigos. O objetivo da inusitada visita, que não acontecia como tal há mais de dois anos e meio, era “reforçar os laços econômicos e militares” entre os dois países, em outras palavras, segurar o relho pra que Belarus não saia da órbita da Rússia e que continue servindo de retaguarda pra agressão contra a Ucrânia, ao custo de submeter o povo a uma das piores tiranias da Europa.

Os dois últimos exemplares de Homo sovieticus ainda governantes no Encarquilhado Velho Continente, em meio a considerações sobre assuntos gerais de suas maracutaias em comum, começaram a elucubrar sobre a final da Copa do Mundo entre Argentina e França, ocorrida há mais de duas semanas, após serem questionados sobre pra quem torceram. Até o coitado do Deus bíblico colocaram no meio! Falando primeiro – parte que cortei do vídeo –, Putin tentou desconversar pra não dar a impressão de estar misturando futebol com política, até porque suas relações com Macron e a França (e com a Europa como um todo) andam péssimas, mas elogiou a seleção de Messi e disse ter até telefonado pro presidente Alberto Fernández parabenizando pelo feito, mas reconheceu o esforço do time de Mbappé. Fantoche de Moscou em Minsk, Lukashenko reiterou as palavras do mestre e acrescentou a inusitada confidência de que sempre torce pelo Brasil em partidas da FIFA, e que sua segunda opção é pela Argentina.

Nesta página a agência oficial Belta de informações do governo de Belarus traz a transcrição editada do referido trecho de pouco mais de dois minutos, e eu apenas reeditei pra torná-la mais próxima da versão oral e preencher algumas lacunas. Outra coisa que sempre faço é colocar os dois pontos sobre a letra “iô”, que nem sempre aparecem em edições públicas, mas são preciosos pra quem está aprendendo a língua. Eu mesmo também fiz a tradução direta do russo e editei o vídeo abaixo, sem legendas, mas de forma um pouco humorística, incluindo parte do tema da copa de 1994 lançado pela Rede Globo:


Lukashenko – Com relação ao futebol, talvez vocês saibam, talvez não, mas sempre torço pelo Brasil, e depois pela Argentina. Por quê? Porque diferentemente da Rússia e mesmo de Belarus, pra eles isso não é nem uma filosofia. Pra eles é algo sagrado. Todos eles estão imersos no futebol. Eu assisti ao jogo inteiro... vocês sabem, a Argentina, e concordo com o presidente [Putin], mereceu completamente essa vitória. Eles dominaram o jogo todo, tanto no tempo normal quanto nos acréscimos. Mas, sejamos francos, nessa partida Deus estava com a França, porque não é possível que há alguns minutos do fim, o placar tenha sido empatado em um minuto e meio pelo atacante francês [Mbappé]. Mas objetivamente, o Senhor se retirou, como um autêntico Criador, após ver tudo isso, se retirou e num jogo dramático deu a vitória de presente... vocês sabem pra quem. Por isso, tudo foi como deveria ser. Mais uma ver o sr. Putin sustentou que no fim das contas, com a ajuda do Senhor Deus, a Argentina mereceu essa vitória num jogo dramático. Não há melhor reflexão.

Putin – Permito-me acrescentar: me parece que o Senhor Deus, inclusive, estava do lado dos torcedores. E devemos parabenizar ambas as seleções pelo magnífico jogo. Elas promoveram uma verdadeira festa do futebol pra todos os amantes do esporte e do futebol no mundo. Ambas as seleções jogaram brilhantemente. [Lukashenko: “Você tem absoluta razão.”] Realmente, foi tamanho o drama até o último segundo, como se diz. Foram muito dignos de seus esforços, mas venceu o mais forte.


Лукашенко – Что касается футбола, вы наверное знаете, может нет, я всегда болею за Бразилию, а потом за Аргентину. Почему? Потому, что в отличии от России и даже Беларуси, у них это даже не философия. У них это что-то святое. Они все в футболе. Я посмотрел весь матч... вы знаете, Аргентина – я согласен с президентом – абсолютно заслужила эту победу. Они доминировали всю игру – и основное, и дополнительное время. Но, будем откровенны, Бог в этой игре был с Францией, потому что такого не бывает, чтобы за несколько минут до окончания можно было сравнять счёт за полторы минуты, как это сделал французский нападающий. Но объективно Господь отступил, как истинный Творец, увидев всё это, он отступил и подарил победу в драматическом матче... знаете кому. Поэтому всё как и должно было быть. Ещё раз поддерживал Владимир Владимирович, что Аргентина с помощью Господа Бога в конце концов заслужила эту победу в драматическом матче. Лучше не придумаешь.

Путин – Позволю добавить себе: мне кажется, что Господь Бог был в том числе на стороне болельщиков. И надо поблагодарить обе команды за блестящую игру. Они создали праздник настоящий футбола для всех любителей спорта и футбола в мире. Обе команды играли блестяще. [Лукашенко: “Абсолютно правильно.”] Действительно, драма была такая, до последней секунды, что называется. Сражались очень достойно, но победил сильнейший.



segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

“Antes da era comum” e “Era comum”


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Este texto é essencialmente minha tradução de partes do artigo “Common Era (CE)” da Wikipédia em inglês, mais alguns acréscimos meus. Resolvi fazer esta publicação pra explicar o interessante conceito de Antes da Era Comum (AEC) e Era Comum (EC), que alguns trabalhos historiográficos têm usado, e que de fato vi pela primeira vez num texto traduzido ainda em 2006, quando fazia a matéria de História Medieval na graduação da Unicamp. Penso basicamente que o uso de “AEC” e “EC” no lugar de “a.C.” (antes de Cristo) e “d.C.” (depois de Cristo), além de mais elegante, faz jus à própria exatidão histórica da doutrina cristã. Primeiro, porque não abandonaria a contagem tradicional dos anos, como se tentou fazer outras vezes, entre as quais com o calendário revolucionário francês, dado que a atual contagem já é consagrada no mundo inteiro, mesmo nos países muçulmanos, em que pra fins religiosos vigora o calendário islâmico. E segundo, porque se admitirmos a existência de um Jesus histórico (em cujo mérito não vou entrar aqui), as melhores pesquisas históricas estabelecem sua data de nascimento aproximada entre 6 e 4 a.C. (por nosso calendário), embora na prática nunca vai ser possível estabelecer uma data real exata. Isso, claro, se descontarmos outras disputas teológicas e hermenêuticas dentro do cristianismo e entre várias religiões.

Parece estranho mesmo dizer que “Jesus Cristo nasceu antes de Cristo”, mas mais estranho ainda seria reverter um sistema ao qual o mundo inteiro já se adaptou, sendo sua ocasional reforma ou abolição muito mais caótica do que benéfica. Assim, embora reconheçamos que nossa contagem dos anos teve origem no cristianismo, com pitadas de paganismo greco-romano (aí inclusos os calendários juliano e gregoriano), a assumimos como uma Era Comum, por sua aceitação universal, sem distinção de crença ou cultura (algum ateu, exceto Stalin num breve momento, ousaria recusar nosso calendário?...). Eis o principal do conteúdo da Wikipédia, com poucas adaptações, que vai adicionar muito mais ao que falei aqui:


Common/Current Era (Era Comum/Corrente) e Before the Common/Current Era (Antes da Era Comum/Corrente) são notações alternativas às originais Anno Domini (AD, “no ano do Senhor (de)...”) e Before Christ (BC) – sendo mais comum em português “antes de Cristo” (a.C.) e “depois de Cristo” (d.C.) –, ambos os pares designando a mesma era-calendário e sendo numericamente equivalentes: “2022 EC” = “2022 d.C.”, e “400 AEC” = “400 a.C.”. A expressão remonta a 1615, quando apareceu pela primeira vez num livro de Johannes Kepler pela expressão latina annus aerae nostrae vulgaris (ano de nossa era comum), e a 1635 na expressão inglesa “Vulgar Era” (Era Vulgar). Em latim, vulgus significa “o povo comum”, e aqui faz contraste com “regnal year” (ano real), sistema de datação usado por alguns povos monárquicos que marcam “eras finitas” de acordo com seu soberano. Os países da Commonwealth britânica ainda usam esse sistema, mas de forma bastante limitada, em que de 8 de setembro de 2022 (data da posse, mas não da coroação) a 7 de setembro de 2023, por exemplo, teríamos o ano 1 do reinado de Charles 3.º (em latim oficial, “1 Carolus III”), e assim sucessivamente.

A expressão Common Era pode ser encontrada em inglês desde 1708, e se tornou mais amplamente usada em meados do século 19 por teólogos judaicos. Em fins do século 20, as siglas “BCE/CE” (“EC/AEC”) passaram a se tornar populares em publicações acadêmicas e científicas por serem religiosamente neutras. Também são adotadas por aqueles que desejam incluir os não cristãos ao não se referirem explicitamente a Jesus como “o Cristo” nem como “Dóminus” (o Senhor), como ocorre nas abreviaturas tradicionais.

Além do livro de Kepler já citado, lê-se num livro editado em 1701 por John LeClerc “Before Christ according to the Vulgar Æra, 6” (antes de Cristo de acordo com a Era Vulgar, 6); num livro de 1716 pelo deão Humphrey Prideaux, “before the beginning of the vulgar æra, by which we now compute the years from his incarnation” (antes do início da era vulgar, pela qual contamos agora os anos desde sua encarnação); e num livro de 1796, “vulgar era of the nativity” (era vulgar da natividade). Por outro lado, o primeiro uso conhecido da expressão “Era Cristã” aparece na folha de rosto de um livro de teologia de 1584, em latim (annus aerae christianae, “ano da era cristã”), e em 1649 a mesma annus æræ Christianæ apareceu no título de um almanaque inglês. Uma efeméride (tabela astronômica) de 1652 constitui o primeiro exemplo encontrado até hoje do uso de Christian Era em inglês.

O primeiro uso encontrado até hoje da expressão “before the common era” (antes da era comum) está num trabalho de 1770 que também usa common era e vulgar era como sinônimos, na tradução de um livro escrito originalmente em alemão. A edição de 1797 da Encyclopædia Britannica usa as expressões vulgar era e common era como sinônimos, em contraposição ao regnal year. Alexander Campbell escreveu em seu livro Living Oracles de 1835 (minha tradução livre): “A Era vulgar, ou Anno Domini; o quarto ano de Jesus Cristo, o primeiro dos quais teve apenas oito dias”, e também se refere à common era como sinônimo de vulgar era devido “ao fato de que Nosso Senhor nasceu no quarto ano antes da era vulgar, chamada Anno Domini, fazendo assim (por exemplo) o ano 42 de seu nascimento corresponder ao ano 38 da era comum”.

A expressão “era comum” com iniciais minúsculas também aparecia no século 19 num sentido “genérico”, nem sempre se referindo à Era Cristã, mas a qualquer sistema de datas usado comumente no curso de uma civilização. Daí “a era comum dos judeus”, “a era comum dos muçulmanos”, “a era comum do mundo”, “a era comum da fundação de Roma”. Quando a referência à Era Cristã era explícita, às vezes se usava, por exemplo, “era comum da Encarnação”, “era comum da Natividade” ou “era comum do nascimento de Cristo”. Embora os judeus tenham seu próprio calendário hebreu, eles frequentemente usam o gregoriano sem a marcação “AD” ou “d.C.”. Em 1825, a abreviatura “VE” (Vulgar Era) já era usada entre os judeus pra indicar anos no calendário ocidental, e também na atualidade alguns judeus usam a expressão “Era Corrente”.

Alguns acadêmicos dos campos da teologia, educação, arqueologia e história adotam a notação “AEC/EC”, apesar de algumas divergências, e vários guias de estilo estão preferindo ou obrigando seu uso. Os defensores da nova notação argumentam que seu uso mostra sensibilidade aos que usam a mesma numeração dos anos que se originou dos e é usada atualmente pelos cristãos, mas que não são eles mesmos cristãos. Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU, argumentou que “o calendário cristão não pertence mais exclusivamente aos cristãos. Pessoas de todas as crenças passaram a usá-lo por mera questão de conveniência. Existe tanta interação entre pessoas de diferentes crenças e culturas – diferentes civilizações, se preferir – que é necessário algum modo compartilhado de contar o tempo. Assim, a Era Cristã se tornou a Era Comum”.

Os opositores cristãos, não cristãos e irreligiosos da notação “AEC/EC” geralmente fazem notar que não há diferença na origem dos dois sistemas. “AEC/EC” ainda se baseiam em “a.C./d.C.” (inglês “BC/AD”) e indicam os períodos antes e depois do nascimento de Jesus. Alguns se opõem à nova notação por razões claramente religiosas, pois a notação tradicional é baseada no ano presumido da concepção ou do nascimento de Jesus, e certos cristãos se sentem ofendidos com a remoção à referência a ele na contagem dos anos. Raimon Panikkar, padre católico e escritor sobre assuntos inter-religiosos, argumentou que “AEC/EC” é a opção menos inclusiva, pois a seu ver o calendário cristão continua sendo usado, bem como imposto a outras nações.

Em 1993, o especialista da língua inglesa Kenneth G. Wilson especulou em seu guia de estilo um cenário em que, por um efeito cascata, “se realmente abandonássemos a convenção ‘a.C./d.C.’ [BC/AD], quase certamente alguns argumentariam que também deveríamos abandonar o próprio sistema de numeração convencional [dos anos], devido à sua base cristã”. O efêmero calendário republicano francês, por exemplo, iniciava a contagem a partir do primeiro ano da Primeira República Francesa (1792) e rejeitava a semana de sete dias (por suas ligações com o Livro do Gênesis) em prol de uma semana de dez dias.



“Humm, AEC e EC... Isso parece ser uma boa ideia!”

sábado, 24 de dezembro de 2022

Toques de celular vindos de músicas


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Não sou muito fã do Natal, mas este é meu presente meio desajeitado pra você, após um ano turbulento na geopolítica e na minha necessidade de reformular boa parte desta página após o fim do meu canal no YouTube, o Pan-Eslavo Brasil! Quando eu ainda o tinha, eu fazia umas brincadeiras do tipo pegar partes instrumentais interessantes de certas músicas famosas, esquecidas ou desconhecidas, e transformar em toques de celular (os famosos “ringtones”: mande um SMS para 24069 e receba conteúdo personalizado, rs) pras pessoas ocasionalmente usarem. Pra ilustrar o vídeo, eu punha alguma foto aludindo ao artista ou ao assunto em questão, e se podia baixar o MP3 diretamente a partir de um link pro meu Google Drive.

Agora você pode baixar todos os toques bem na pasta principal da Biblioteca Brasil, que de quebra guarda também todos os livros digitais que acumulei ao longo dos anos pra deixar à consulta pública! A seleção pode começar pela consulta aos vídeos abaixo, alguns dos quais, infelizmente, têm antigos links pro meu extinto canal que não funcionam mais. Só uma dica: o primeiro toque abaixo, abertura da canção chechena Khaza kant, de Makka Sagaipova, é o que uso no meu próprio smartphone, e o segundo, abertura da canção russa Ialta, dançada por Boris Ieltsin com o cantor Ievgeni Osin num comício em 1996, é o que minha mãe usa, hehehe.


Makka Sagaipova, Khaza kant (Rapaz bonito)


Ievgeni Osin, Ialta (versão estúdio)


Corvo Jubileu dança em fazenda (Pica-Pau)


Trecho instrumental do tártaro Ilnar Safin


Nelson Nascimento (precursor da pisadinha), Nova dança


Canção em estilo cigano Prisionero


Grupo Ladarice, Jugoslavijo (Ó, Iugoslávia)


Carlos Alberto rindo (A Praça é Nossa) + abertura de A praça


Partes instrumentais do tema da seleção na copa de 1994


Funk do Carlos Adão, lenda urbana da pichação no Centro-Sul


Novidades de 2024! Áudio da abertura usada entre 1991 e 1994 pelo Domingão do Faustão e que o programa Pânico! na TV usava nos anos 2000 pra aludir à ideia de que alguém sofria uma “videocassetada”


Trechos instrumentais da canção folclórica ucraniana “Чорні очка як терен” (Chórni óchka iak terén)


quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Tucano bebê e outros bichinhos!


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Mais uma postagem extra pra extravasar material que tenho guardado há alguns anos! Neste caso, aproveitei a oportunidade que um bebê tucano pousou num limoeiro de nosso pomar, e coloquei também alguns vídeos de “jacus” e saracuras que filmei desde 2018. O tucaninho, de fato, foi algo bem raro, e não sei como ele veio parar lá, pois temos mata perto de casa, mas não é perto de nós que os tucanos em geral voam! Depois ele deve ter sumido por conta própria, ou ter sido achado por seus pais, mas foi algo tão raro que não pude deixar de filmar e mostrar a você:





Nos últimos anos, muitas jacus (seguidores do antigo Pan-Eslavo Brasil no YouTube disseram que não são jacutingas) também têm aparecido em nosso jardim, vindas da mata ao lado, mas o problema é que elas comem as frutinhas de algumas árvores e depois expelem toda a sujeira pelos caminhos pavimentados, rs. De resto, elas não devem ter mais nenhuma serventia. Já as saracuras, que parecem galinhas mais magras, aparecem no último vídeo tomando banho na água acumulada sobre a capa de nossa piscina e talvez comam insetos, alguns deles peçonhentos, e servem assim como um protetor natural.






E finalmente, uma montagem tosca que fiz há alguns anos, mas que quase não teve visualizações no Pan-Eslavo Brasil: filmagens de perto de uma das muitas centopeias que costumam andar pela casa quando começa a fazer calor! Deste tipo específico não tem aparecido nos últimos anos, e todas essas mudanças ocasionais nos visitantes talvez se devam às transformações climáticas globais. Como música de fundo, o sucesso cabo-verdiano So cu pe em ritmo de funaná, hehehe.


quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Minhas formaturas na Escola Viverde


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E agora trago aqui uma das coisas mais raras do mundo: uma lembrança de meus tempos de escola, quando eu tinha quase 7 anos de idade e de que mesmo muitos de meus ex-colegas sequer devem lembrar! No início de dezembro de 1994, na cidade de Bragança Paulista, SP, pra qual eu tinha me mudado de Guarulhos, SP, no fevereiro anterior, vivi minha primeira formatura escolar, no caso do chamado “Pré II”, que na verdade seria hoje o 1.º ano do Ensino Fundamental (no ano posterior eu começaria a “1.ª série do 1.º grau”).

A então Viverde Escologia Infantil tinha sido fundada pelo casal Sergio Leite da Silva (o moço que conduz a cerimônia) e Maria Regina Zago Leite da Silva (a loira de blusinha branca e calça rosa) em 1991, como uma proposta de educação infantil ligada às preocupações ambientais (bem antes dos Acordos de Paris!). Eles foram muito prestativos com a gente durante a mudança pra nossa chácara, que não ficava longe da escola, esta mesma fundada dentro de um antigo sítio familiar. Por isso, mais do que o “tio Sergio” e a “tia Regina”, tornaram-se grandes amigos da minha família, e uma curiosidade: o Sergio ajudou minha mãe a comprar nosso primeiro telefone celular, um tijolão da Motorola, na ausência da linha fixa, que só chegaria até nossa casa em 1998. Ele foi um dos primeiros caras na minha vida que vi usar computador, internet e tecnologia modernas com frequência no trabalho!

A comunidade de fato era quase como uma família. Mauro Montagni, produtor da fita VHS (e da abertura digna de um Hans Donner, rs) que pode ser visto filmando aos 21min 28seg (vídeo 1), era pai do Bruno, meu primeiro melhor amiguinho que fiz logo ao chegar à escola e que é o primeiro a entrar no palco, com gravata e cinto púrpura! Ele estudou comigo até o final do Ensino Médio... Muitos anos depois, pedi a profissionais que convertessem em DVD o VHS, infelizmente já um tanto deteriorado e do qual deixei, queiram me perdoar, algumas falhinhas só no começo pra não interromper a sequência do vídeo. O áudio também está muito ruim, mas apenas aumentei no programa editor, não quis fazer outro arquivo pra reparar. O inusitado foi que como eu já era alfabetizado (por minha mãe), escapei de dançar fantasiado junto com minha turma e virei o “apresentador”, lendo alguns trechos de texto referentes ao tema da festa, que eram os direitos da criança (começo aos 11min 58seg, vídeo 1).

A hoje Viverde Escola de Educação Básica ainda é, sim, particular, e foi nessa bolha que só tive tal tipo de ensino até, justamente, entrar em História na Unicamp pública. O bom é que a Viverde jogava na gente um pouco de consciência social, nada que lembre remotamente a caricatura da “doutrinação” pintada por bolsominions e olavetes; mas conhecer outras realidades mesmo, só na graduação. Mas o que me marcou mesmo foram as músicas do Toquinho, que parecem até hoje tocar na minha cabeça: foram tantos os ensaios da canção do abecedário (próximo vídeo) na minha turma que decorei a letra até hoje, sem mesmo a ter lido de novo todos esses anos! Que dizer do clássico O caderno, que cantamos após receber os diplominhas (7min 54seg, vídeo 1)? A breguice da época não impediu de trazer várias músicas da Xuxa, que tocavam no início ao fundo, e o tema das Olimpíadas de 1992, Amigos para siempre, tema da entrega de diplomas.

É claro que seria exagero listar o nome de cada ex-coleguinha ou marcar quando aparecem várias pessoas marcantes, com quem tenho contato até hoje. Basta por ora notar a Camille (10min 23seg, vídeo 1), primeira matrícula da Viverde, que só conseguiu ler um pequeno texto encorajada pela amiguinha Natasha, de amarelo; minha avó de blusa preta, óculos escurecidos e cabelos curtos bem no centro da tela (2min 08seg, vídeo 1), ao lado da minha mãe, a “blusa colorida” atrás da moça com criança no colo; e o saudoso “vô Deldebio”, senhor de camiseta branca que aparece algumas vezes atrás do muro a partir de 25min 09seg (vídeo 2), pai da “tia Regina” e que por anos foi responsável pela merenda junto com a esposa “vó Íris”.

O mais irônico é que, embora eu “abra o quadro” aos 6min 18seg (vídeo 2), a “preparação” (que envolve minha sala e parte da anterior) é tão prolongada que a música só começa a tocar aos 10 min 06 seg, rs. Alguns momentos marcantes deste final são o anúncio da chegada do Papai Noel de (pasmem!) helicóptero (23min 13seg, vídeo 2), a aparição do dito cujo que, fantasiado, na verdade era o marido de uma das irmãs da “tia Regina” (25min 52seg), e o início de minha tentativa de pegar junto a ele uma bola de plástico branca com o logo da Viverde (28min 06seg), a qual furaria poucos dias depois, rs. O fundo de Noite Feliz em saxofone posto na edição termina o toque de breguice!

Agradeço à loja Miyashiro pela conversão em DVD e ao William Cardoso (W77 Informática) pela ajuda ao copiar os arquivos pro computador, o que também vale pros outros vídeos. Ainda me lembro do nome de várias criancinhas que aparecem, muitas das quais continuaram na Viverde até ou após 2005, quando me formei. Se você esteve aí, fez parte desse círculo ou conhece alguns dos astros, e por acaso chegou até aqui, não hesite em compartilhar esta raridade dos anos 90!




Este é o vídeo completo com a colação de grau e festa de formatura da turma da 8.ª série (atual 9.º ano) formada pela Viverde no final de 2002 (evento de 14 de dezembro). Era a primeira turma desse nível que se formava na instituição, fundada pela “tia Regina”, que aparece nas imagens como paraninfa da colação. Eu tinha 14 anos na época, estudava nessa turma e faria 15 anos no dia 1.º de janeiro seguinte. O trabalho foi feito pelo mesmo Mauro Montagni de 1994, e o arquivo digital resultou da conversão de minha fita VHS pro DVD que eu tinha guardado e que depois passei pro computador. Ao reeditar e fundir, apenas tirei umas rebarbas do quadro e algumas introduções e fechamentos inúteis.

Este é um registro cultural perfeito daquele começo de século, num ano em que o presidente Lula tinha sido eleito pela primeira vez e a seleção brasileira de futebol tinha ganhado seu quinto e último título mundial (o Penta). A música da Ivete Sangalo que todo mundo dança no final, Festa (“e vai rolar a festa, o povo do gueto mandou avisar...”), inclusive integrava a trilha sonora desse momento de euforia nacional. Você vê também a mobilização de todo mundo, inclusive minha mãe e minha avó (rsrs) pra dançar e cantar Ragatanga (“Aserehe, ha, dehe...”), o hit do momento do recém-formado grupo Rouge (Ídolos, SBT). Destaque ainda pras colegas Jéssica Álana Zenorini e Bárbara Juliana Gonçalves de Lima (Bárbara Lima Marques), que leram textos em homenagem aos professores e administradores. Como bônus, duas apresentações (09min 35seg e 01h 10min 44seg), pelas meninas, do jingle da propaganda antiga do Café Seleto, cuja graça eu não sei qual elas tinham encontrado na época.

Além de toda a turma e suas famílias que podem se rever aí, meus fãs podem ver raras imagens minhas, fazendo coisas que eles não pensavam: armando passeatas ambientais aos 6-7 anos de idade; pulando numa piscina com sunga verde-limão; vestido de caipira em festa junina; tocando teclado (que eu estava aprendendo na época, e agora esqueci quase tudo!); já adolescente, com a primeira barba crescendo e recheado de espinhas na cara; e participando de outras coisas na escola, bem pequenino ou já crescido. O destino de alguns colegas que saíram em anos anteriores pra mim é um mistério, mas queria fazer uma lembrança especial ao Gerson Prado Junior, que aparece até a 5.ª série, era mais próximo da minha “turminha” e morreu há alguns anos num acidente de carro.

Close da minha avó e da minha mãe, as “únicas” convidadas, aos 14min 03seg, rs. Tenho um pensamento também pelo sr. Isidoro Wajngarten, pai da minha colega Raquel (que também está aí com os pais), do ano anterior e que morava pegado à minha casa. Qualquer mensagem especial, por favor escreva numa das minhas mídias.


Os vídeos anteriores foram postados em meu saudoso canal Pan-Eslavo Brasil (YouTube) em fevereiro e abril de 2021, e em agosto ele seria apagado pelo Google malvadão. Na época, o William e eu tivemos problemas pra converter num formato de vídeo legível os arquivos do DVD de minha formatura do 3.º ano do Ensino Médio, em dezembro de 2005, quando eu estava prestes a completar 18 anos. Mas há algumas semanas, ele conseguiu pra mim, e finalmente pude salvar num vídeo completo as várias partes do DVD daquela formatura, que desta vez, salvo engano, não foi produzido pelo Mauro Montagni, mas cujo responsável não faço ideia de quem seja. Foi por causa dessa demora na conversão que não lancei os vídeos e textos aqui antes. Na ocasião, o evento tinha sido no Clube Literário de Bragança Paulista, localizado bem em frente à praça central e também conhecido somente como “Literário”, e a turma contava com vários rapazes e algumas meninas que entraram ou no 1.º ano do Ensino Médio, ou durante aquele ciclo. Boa parte da turma da 8.ª série (9.º ano) já não estava mais na época da formatura.

Como já falei muito da Viverde e de minha vida escolar nas seções anteriores (que também eram as descrições dos vídeos no YouTube), ressalto apenas que o DVD também trouxe de novo várias imagens de nossa escolaridade anterior, e que ao longo dos anos a escola passou por várias reformas, hoje obviamente estando muito diferente do que era em 2005 e agora com outra sede também na cidade de Socorro. Não sei por quê, mas o menu de navegação do DVD acabou produzindo um vídeo meio longo, e resolvi botar no começo apenas alguns segundos pra constar: vejam minha cara de animação bem no centro da foto, rs. Na verdade, foram feitos dois discos, mas como o segundo era apenas a filmagem do baile, cujas imagens quase não mudam e não contêm nada de interessante (eu garanto!), não o incluí na passagem pro computador. A paraninfa foi minha querida professora Flávia Otatti Valle, uma das pessoas fundamentais na minha opção pela graduação em História (junto com o professor José Augusto Bueno, um magro alto de gravata azul), e seu discurso, junto com o da Alexxânia, pode dar uma medida das tretas internas que rolavam então...

Infelizmente, nunca mais tive notícias do professor de matemática Audino Castelo Branco, um senhor obeso, de óculos, terno preto e gravata cinza, que entrou justamente naquele ano e finalmente (e só então!) me fez gostar e entender algo daquela matéria, sobretudo trigonometria. Além de ser muito simpático e de explicações didáticas, falava esperanto (como eu!), e por isso sou eu que em determinado momento apareço lhe entregando um dos vasos de flores.


Eu dei este depoimento talvez no começo de 2006, solicitado por telefone pela professora Flávia, e junto com o da colega Jéssica, foi publicado no Jornal do Meio (n. 267, sexta-feira, 24/2/2006, p. 3), suplemento cultural semanal que, segundo minhas pesquisas, existiu do fim de 2002 até mais ou menos 2018, mas cujo CNPJ cobre o período de 2003 a 2020. Ele vinha dentro do Bragança-Jornal Diário, antigo e tradicional periódico da cidade também extinto em 2021. A foto de cima foi tirada na Viverde, numa manhã de 2005, quando eu tinha quase 18 anos. A de baixo, em dezembro de 1996, na Casa de Cultura, quando eu tinha quase 9 e estava numa cerimônia à noite recebendo do Rotary Club o prêmio de melhor aluno de minha 2.ª série (atual 3.º ano), rs:


E enfim, comecei a Unicamp em 2006, sem ter feito vestibular “treineiro” antes, sem ter feito outros vestibulares ao mesmo tempo e convocado em primeira chamada! Desde então já era comum o chavão de que todo estudante de Humanas era de esquerda, metido a revolucionário e a querer consertar o mundo à própria maneira. Inclusive, Como mudar o mundo é o título do último livro de Eric Hobsbawm, grande historiador social que respeito demais. Porém, passei muito nervoso durante a graduação com greves e piquetes que fechavam tudo, impedindo-nos exatamente de fazer o que poderia realmente mudar o mundo: estudar, pesquisar e criar conhecimento. Agora estou no doutorado em História na mesma instituição, e eis que ontem de manhã recebo este bizarro e-mail coletivo, dirigido precisamente ao criadouro da vanguarda “des oprimides e discriminades”, que pensa poder ditar tudo a todo mundo. Deveria ser emoldurado e receber o título Como NÃO mudar o mundo:



segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Góis Monteiro contra o milicianato


Link curto pra esta postagem: fishuk.cc/goismonteiro

Não tenho muito o que dizer hoje. Só compartilho estas citações do livro O general Góes depõe..., velha edição feita na década de 1950 por um jornalista após longa entrevista com Pedro Aurélio de Góis Monteiro (1889-1956), general-de-exército que defendeu a Primeira República contra suas inúmeras rebeliões militares, mas terminou como um dos fautores do golpe de Estado que levou à deposição do presidente Washington Luís, ao impedimento da posse do presidente eleito Júlio Prestes e à ascensão ao poder de uma “junta provisória” comandada por Getúlio Vargas, movimento passado à posteridade como “Revolução de 1930”. Góis Monteiro (“Góes”, na ortografia antiga) ficou mais conhecido como um dos militares “germanófilos” durante os movimentos pendulares que, na 2.ª Guerra Mundial, levaram Vargas a primeiro simpatizar com o Eixo, e depois enfim “fechar” com os EUA, caindo por isso no opróbio público. Porém, segundo o próprio oficial, não era uma simpatia ao nazismo, mas, durante a reorganização do Exército Brasileiro no começo do século 20, uma preferência pelo modelo militar prussiano, em detrimento do modelo francês que acabou predominando com a vinda de especialistas pra remodelar e instruir.

Ex-ministro da Guerra (atual Ministério da Defesa) de Getúlio Vargas durante sua ditadura de 1930 a 1945, terminou rompendo com o gaúcho e ajudou a depor seu antigo patrão perto do fim de 1945, quando a transição política já estava em curso. Apesar de tentar passar a imagem de homem simples e honesto, acumulou muitas polêmicas e inimigos no caminho, sobretudo em sua ajuda a políticas repressivas, como as do Estado Novo decretado em 1937. Porém, em 2021, enquanto consultava aquelas famosas memórias pra minha tese de doutorado, achei umas citações que talvez expliquem, ao menos em parte, por que no Brasil o ofício militar parece muitas vezes ser confundido com o ofício policialesco (sobretudo na cabeça dos tiozões delirantes) e, por extensão, por que parece haver áreas de nossa vida pública que escapam ao controle do Estado e se tornam brechas pra poderes paralelos. Você pode concordar ou não, mas estão aí:






Porque de fato, o governo a que me referi nas entrelinhas teve que terminar desta forma, né? Hehehe:




domingo, 18 de dezembro de 2022

Memes deixados pela copa do Catar


Link curto pra esta postagem: fishuk.cc/catar-memes


Como eu já disse várias vezes aqui na página, qualquer que seja a situação em que o brasileiro se encontre em determinados eventos, seu talento principal é o de fazer memes. Como publicação extra deste domingo, em que temos a final menos desejada no Brasil – entre França e Argentina –, reuni aqui alguns vídeos e imagens cômicos que circularam nas redes nas últimas semanas, mesmo que o brasileiro hoje nem esteja querendo mais ouvir falar em Catar e que apenas finja estar torcendo pra nossa carrasca ou nosso arquirrival, só pra parecer cool pros amigos, rs.


O ex-astro do Corinthians conhecido no meio jornalístico como “Craque Neto” teve uma reação viral na TV Bandeirantes logo após a derrota do Brasil pra Croácia. Nota-se que após muitos anos de surtos televisionados intensos comentários esportivos, seu palato deve estar bem gasto pra lhe conceder essa voz de velha desdentada...


Enquanto o atacante Richarlison, conhecido pelo estranho apelido de “Pombo”, estava na crista da onda, toda a equipe da CBF, até o Tite, comemorava os gols fazendo a “dança do pombo”. Esta original montagem mostra o atacante croata Luka Modrić alimentando os pombos da dança...


Esses eram os assuntos em alta no Twitter logo após a eliminação vergonhosa o fim da última partida do Brasil, e podemos imaginar o tom de todos esses tuítes que surgiriam então. Detalhe pra uma das fotos com as famosas “dancinhas” de comemoração dos gols brasileiros, que não sabemos bem por que foram tão criticadas pelos estrangeiros.





“Me lembro remotamente”, pra usar uma expressão da minha mãe, que na primeira eliminação do Brasil com Tite na Rússia de 2018, este meme também circulou pelas redes, e se bobear, sequer o design gráfico foi modificado, dada a tosqueira das legendas inseridas:


A Folha de S. Paulo “noticiando” algo tão óbvio como o pôr-do-sol:


“Putaquilamerda”, como diria uma ex-colega de hidroginástica da minha avó, rs. Vai ser idiota assim na casa do chapéu:


Após a eliminação da copa, esta imagem deveria reanimar qualquer brasileiro com o mínimo de cérebro, mas a mim, pelo menos, que não estava “Ney” aí pros jogos, me deixou exultante:


Sem a CBF na disputa, quando o Marrocos estava com chances de chegar à final, a juventude com síndrome de esquerda radical chic começou a exultar o país africano como “impulso pra unidade árabe” e “estímulo pros colonizados superarem os colonizadores”. Justo uma monarquia reacionária afagada por EUA e Israel, embora de fato a seleção tenha conquistado o feito inédito de ter avançado no torneio mais do que qualquer outro país árabe ou africano. Enquanto eu editava este texto, a Croácia já tinha garantido o terceiro lugar, e o Marrocos apenas o quarto

Seguem algumas das peças que circularam nas redes sociais, como este trecho da antológica novela O Clone, dizendo que eram marroquinos celebrando a vitória (mas a Giovanna Antonelli de Jade estava mesmo uma gatinha aí!), esta pescaria cômica que mostra como o Marrocos conquistaria a taça e minha explicação sobre os conflitos histórico-políticos regionais, seguida de vários tuítes e respostas sobre o assunto. No mapa principal, vemos escrito em árabe o nome do país, “Al-Maghrib”, de onde veio nossa palavra “Magreb(e)” pra região, mas também unidos de forma imprudente o Marrocos com o desertão inútil território do Saara Ocidental, cuja reivindicação de independência é apoiada por países e movimentos “de esquerda”, mas foi rejeitada pelo governo estadunidense de Donald Trump:








Teve até espanhóis ou falantes de espanhol que parecem ter detectado os assuntos em alta e entrado na briga. Um deles usa até as três cores da bandeira da Espanha republicana em sua foto de perfil:






Neste tuíte, podemos ver até uma referência a Pepino, o Breve (Pépin, le Bref), um dos reis carolíngios dos francos e pai de Carlos Magno, que viria a ser o fundador do “Sacro Império Romano”, embora eu não saiba se Pepino tenha chegado a lutar diretamente contra muçulmanos. Quando eu tive aula com Leandro Karnal no segundo ano da faculdade de História, certa vez ele disse que achava “Pepino, o Breve” o nome histórico mais engraçado que já tinha visto, hehehe.




sábado, 17 de dezembro de 2022

Esquema inicial de meu doutorado


Link curto pra esta postagem: fishuk.cc/esquema-dout

Após ser aceito no doutorado no fim de 2016, pra começar o curso em 2017, comecei a planejar detalhadamente cada capítulo de minha futura tese, que devia ser defendida no máximo até este dezembro de 2022, mas que por conta da pandemia de covid-19, conforme novo prazo concedido pela Unicamp, tive de adiar por mais um ano. Fui colocando no “papel” do Word várias ideias que me vinham à cabeça, mas hoje reconheço que o texto final, possivelmente mais enxuto e certeiro, vai ter menos requintes do que essas reflexões desdobradas há algum tempo. De fato, como forma de coordenar minhas leituras bibliográficas, elas ajudaram a levantar os principais problemas que eu teria de abordar e me fizeram sempre os ter em mente, em todos os momentos da pesquisa, embora deixassem de ser um “esqueleto” minucioso do texto final. Por isso, senti-me livre pra publicar hoje as notas que tenho guardadas há uns anos, pra que ocasionalmente você possa debater comigo o amplo projeto de pesquisa ou mesmo se inspirar pra sua própria futura pesquisa, indo muito mais além do que vou ter ousado.



Atual título do projeto (segundo versão recusada pela FAPESP): A Comintern e o Brasil, 1924-1943: as relações mútuas e a política de Moscou para o PCB

Recorte temporal possível – De 1914 a 1945 (extensão mais ampla), período histórico que Hobsbawm chamou de “era da catástrofe”, marcado pelas duas guerras mundiais e pelo entreguerras e que muitos historiadores veem como uma unidade. Neste caso, os anos de 1919, 1922-24 e 1943, ou ainda 1928-29, 1933, 1935 e 1939, podem servir de grandes marcos. Os períodos entre os maiores pontos de virada na história do Brasil, da política soviética e da Comintern também podem ser intersecionados para dar conta de como esses espaços de certa forma estavam ligados ou em contato.

Interseção também entre recortes temporal e temático. Não há necessidade de dividir entre partes ou capítulos que sejam ora temáticos, ora cronológicos. Focos nas mudanças e permanências no tempo. A mudança institucional é tão ou mais/menos importante que a ideológica? O poder/instituição servia à ideologia, ou o contrário?

1) Origens do comunismo na Europa e no Brasil
– Movimento operário, guerra e pós-guerra
– Crise do liberalismo europeu
– Transição [economias latino-americanas?] brasileira do escravismo ao assalariamento
– Revolução de Outubro e fundação da URSS e da Comintern
– Chegada de comunistas (missões europeias e argentinas) e fundação do PCB/década de 1920

1) Comunicação e informação precárias
– Informações desencontradas sobre a revolução
– Predomínio de jornais e telégrafos
– Escassez de traduções
– Educação e alfabetização deficientes
– Demora dos correios (segundo cartas nos arquivos)
– Necessidade de fixar emissários/birôs locais

FASE 1 DO COMUNISMO (COMINTERN/PCB/URSS), ANOS 20: TRIUNFA ORDEM DE VERSALHES; REPÚBLICA CAFEEIRA SE DECOMPÕE
a) Esperanças de revolução mundial
Fundação do PCB = Nequete, Canellas, Barbosa, Pimenta
Guerra civil/comunismo de guerra
b) Fim da revolução mundial → russificação
Intérpretes do Brasil = Brandão, Astrojildo, Basbaum
NEP e morte de Lenin → luta sucessória
c) Comintern congela e se submete à URSS
BOC; busca pelos “tenentes” e por Prestes = Ferreira Lima, Grazini
Stalin se firma e impõe guinada à “esquerda”

1) A dinâmica de surgimento do comunismo latino-americano é endógena ou exógena?
– A estrutura local da Comintern seguiu um plano certo ou foi errática?
– A América Latina tinha alguma importância social nos primórdios do comunismo?
– O surgimento e evolução do PCB na década de 1920 era inevitável ou contou com fatores voluntários ou acidentais?
– O PCB conseguiu se incorporar à cultura política operária? Em que setores? (Cf. briga com o anarquismo)
– A agitação e a educação tinham pesos diferentes ou se complementavam?

2) Preocupação com a América Latina
– Retaguarda do imperialismo/arena Reino Unido vs. Estados Unidos
– Importância do Brasil por seu tamanho
– Transformações da URSS ao raiar a década de 1930
– Stalinização dos PCs: resposta ao Ocidente?
– Nazifascismo como resposta à crise e ao comunismo
– O varguismo como desenvolvimento (anticomunista) a partir de cima

2) Ruídos da repressão e da stalinização
– Facilidade ao enganar a Comintern
– Comintern → Stalin só ouve o que quer
– Clandestinidade e deslocamentos do BSA (SSA)/IC
– Integração entre serviços da inteligência ocidental
– Destruição de materiais pela polícia ou pela má conservação
– Influência dos movimentos europeus no Brasil

FASE 2 DO COMUNISMO (COMINTERN/PCB/URSS), ANOS 30: CRISE DA ORDEM LIBERAL; VARGAS IMPÕE NACIONALISMO INDUSTRIAL
a) Combate feroz à social-democracia
Enviados da URSS e perseguição = Bangu, Abóbora, Guralski
Coletivização, combate aos “kulaks” e fome
b) Virada antifascista → “frentes populares”
Imposição do “prestismo”: Prestes, Lacerda, (ANL)
Estabilização e começo dos expurgos e da psicose de guerra
c) Dormência da Comintern e expurgos
Revoltas de 1935 → Desmonte do PCB pelo Estado Novo
Expurgos totais e preparação pra guerra (pactos)

2) O comunismo latino-americano conseguiu ser um ponto de interseção entre as histórias/políticas locais e mundial?
– Qual foi a relação entre atenção/abandono da América Latina pela Comintern e política externa de Stalin?
– A estrutura BSA/IC, SLA/IC, enviados plenipotenciários etc. perdeu força na década de 1930? Por quê?
– O aprendizado da clandestinidade durante a década de 1930 foi essencial pra sobrevivência do PCB? Ou um ponto fraco?
– O PCB sobrevalorizou as conjunturas políticas favoráveis e ficou a reboque das principais forças?
– A “ligação com as massas” na perseguição foi mais retórica ou serviu de alívio?

3) Declínio da Comintern e do internacionalismo
– “Frentes populares” e abertura ao Ocidente
– Ascensão popular no Brasil (ANL, CJPI, protestos)
– Fecha o cerco: Comintern dorme, expurgos, pacto URSS-Alemanha
– Avanço do desenvolvimento autoritário no Brasil
– A guerra e a “inutilidade” da Comintern
– Brasil rumo à ordem pós-1945: FEB, anistia, fim da ditadura; PCB: Conferência da Mantiqueira (1943)

3) Comunistas e comunismo diante da modernidade
– A URSS potência despreza os PCs
– Importância dos filmes e cinema
– Maior circulação de pessoas?
– Inclusão na cultura de massas pelo consumo
– Exilados e enviados permanentes na URSS
– Mais material traduzido (mais traduções disponíveis ao público)

FASE 3 DO COMUNISMO (COMINTERN/PCB/URSS), ANOS 40: O NOVO MUNDO DO PÓS-GUERRA; “REPÚBLICA LIBERAL” GESTADA DA ERA VARGAS
a) Comintern como propaganda da política de Stalin
Começam a juntar-se os cacos do PCB
Invasão da Europa Oriental e guerra com Alemanha
b) Comintern antifascista e dissolução
“Conferência da Mantiqueira” e “União Nacional”
Virada da guerra e conversas com EUA e Reino Unido
c) Resistências guerrilheiras (partisans) e independência dos PCs
Prestes livre, anistia, eleições e êxito inédito
Vitória e consolidação de Stalin e da URSS superpotência

3) Os comunistas foram importantes na definição da ordem pós-guerra? Por meio da influência da URSS (e quanto esta foi determinante)?
– A diluição das estruturas da Comintern pra América Latina decorreu da necessidade ou do fim do internacionalismo?
– Qual o papel dos PCs nos rumos das relações entre (os governos) URSS e países latino-americanos?
– A conjuntura da década de 1940 foi mais favorável ou, ao contrário, foi tão difícil quanto a da década de 1930?
– Qual foi o papel do “mito Prestes” na promoção popular do PCB e quais as ocasionais interseções com o “mito Stalin”?
– Mudanças qualitativas na cultura política operária da década de 1940: enraizamento do populismo (paternalismo) varguista? Reforço das lutas autônomas? Difusão das ideias, bandeiras e valores defendidos pelos comunistas?

Recortes temáticos possíveis – Os temas tratados podem ser divididos em eixos temáticos mais amplos:

1) As peculiaridades do período – O período de 1914 a 1945 (ou de 1919 a 1943, de existência da IC) como de formação: do Estado brasileiro como burocracia racionalizada; do PCB como precursor dos partidos de projeção nacional; do bolchevismo em sua essência, como doutrina da política militarizada; da URSS como superpotência anticapitalista, em seu ápice, como experiência antiliberal dentro do século 20; do trabalho e suas condições como assunto da política nacional e internacional; da comprovação de insanáveis contradições do laissez-faire e da guerra como solução à estagnação econômica.

2) Estrutura organizativa – As relações entre o PCB e a IC. Natureza dessas relações. Órgãos intermediários (SLA/IC, SSA/IC). Caráter dialético das relações entre PCB, SSA/IC, IC, CEIC, Brasil, URSS, mundo, potências capitalistas/imperialistas... A fundação do bolchevismo no Brasil. Formas de sustento do PCB pela IC/URSS. O timing em que o PCB acompanhava as viradas da IC. Vínculo do PCB à IC: busca unilateral ou imposição de fora? Relações entre os Partidos da América Latina. Fundação dos órgãos da IC para a América Latina a partir dos novos documentos. Fragilidade organizativa do PCB. O papel dos enviados plenipotenciários. O problema do uso das línguas em documentos e encontros.

3) Brasil, ideologia e movimento operário da época – Natureza do anticomunismo do Estado brasileiro e ao redor do mundo. Surgimento e criação do anticomunismo. A natureza da repressão policial ao movimento operário na Primeira República e na Era Vargas. A crise do anarcossindicalismo e as primeiras notícias da Revolução Russa. As primeiras notícias do socialismo e do marxismo no Brasil. Edições e leituras de Marx, Engels, Lenin e Stalin. Influências ideológicas dos comunistas brasileiros (anarquismo, tenentismo, positivismo, socialismos heterogêneos/ecléticos, nacional-populismo). Circulação de ideias por meio de viagens, rádio, correio, telégrafo, jornais, revistas, migrações, gregarismo étnico-cultural (colônias de italianos, alemães etc.). O papel da economia nas intervenções do Estado brasileiro, nas agitações operárias e nos impasses diplomáticos e bélicos entre capitalistas (democracias e fascismos) e socialistas.

4) Aparecimento do comunismo no Brasil – As duas primeiras gerações de líderes do PCB: os fundadores e os prestistas do “terceiro período”. Influência da política mundial sobre os brasileiros cultos e o PCB. A América Latina na estratégia da IC. A recepção das viradas da IC pelos comunistas brasileiros. As três grandes linhas da IC: “frente única”, “classe contra classe” e “frentes populares”. Origem e razões do “paradigma feudal”. “Tradutibilidade” (Lenin e Gramsci) da realidade russa/teoria bolchevique ao contexto brasileiro. Qualidade e fonte dos conhecimentos dos russos sobre o Brasil. Educação ideológica (escolas e cursos do PCB e universidades para estrangeiros na URSS) e sua importância no pensamento e ação comunistas.

5) A “bolha” comunista – O imaginário político dos comunistas brasileiros e o que significava ser comunista no Brasil até o fim da IC. Impacto psicológico da ligação com o comunismo: a adesão vivida como um renascimento, a militância como uma segunda natureza e a expulsão ou desilusão como dilaceração. Concepção comunista de arte e cultura, suas relações com a congênere “burguesa” e o controle (ou sua tentativa) de artistas e intelectuais. O antifascismo como expediente tático e/ou filosofia de vida.

Problemas possíveis – Quem buscou quem: a IC ao PCB, ou o PCB à IC? Como foi a oscilação da importância do PCB na estratégia da IC, e da importância dele na estratégia para a América Latina? Qual era a qualidade dos contatos entre PCB e SSA/IC e entre SSA/IC e CEIC? O personalismo de Prestes foi regra ou exceção na cultura comunista, e se foi regra, era cópia automática do culto a Stalin (talvez mais para depois de 1943)? O quanto as formulações teóricas do PCB se aproximavam mais do marxismo soviético ou dos pastiches brasileiros? Como era a dialética (ou o malabarismo!) entre as necessidades nacionais e os controles estrangeiros/soviéticos que premiam o PCB? Afinal, os fundadores do PCB tinham “resquícios anarquistas” (e se tinham, por quanto tempo mantiveram) ou eram mesmo vítimas do pastiche brasileiro? Qual foi a importância do PCB na cena política como primeiro partido de ramificação nacional, e o quanto nisso influenciou também ele ter sido o primeiro com filiação internacional? As teorizações do PCB sobre a realidade brasileira eram inadequadas naquele contexto, ou não estavam além do que se podia esperar para as condições culturais e técnicas da época? Qual foi o alcance e posteridade/permanência do modelo cominterniano sobre o PCB e as esquerdas brasileiras? A que ponto as viradas bruscas da IC/URSS (classe contra classe, frente populares, pacto com a Alemanha, combate ao Eixo) influíam na qualidade da intervenção comunista brasileira (cisões, conflitos internos, expulsões por ordens superiores, estímulo a participar de frentes ou a repelir certas forças)?

Hipóteses provisórias – Não parece ser muito útil avaliar a ligação entre o PCB e a IC em termos de “grau de subordinação”, “eficácia das comunicações/entendimento-transmissões de ordens” ou “eficácia das linhas políticas seguidas”, ou ainda em termos do velho “ouro de Moscou”, estigmatizando a subvenção soviética (como se grupos políticos aqui também não recebessem então e hoje dinheiro dos EUA!). Mais interessante é perscrutar o PAPEL que a introdução do bolchevismo como corrente no Brasil teve no aparecimento de algumas novidades que ultrapassariam o âmbito organizativo do PCB: introdução definitiva de literatura marxista no Brasil, especialmente Marx e Engels (apesar da predominância de Lenin e Stalin), e continuação de suas edições; análises da realidade brasileira e dos eventos políticos a partir da base econômica e da formação social que ela condicionava, embora quase sempre se recaísse no economicismo e nas categorizações estanques (tipo “ingleses pró-latifúndio” e “americanos pró-indústria”), buscando superar os velhos hábitos novecentistas de explicar tudo em termos de ideias, espíritos, raça, sangue, clima, predisposição, grandes homens, intervenção divina, ou o positivismo que buscava fixar a realidade tal qual ela aparecia aos olhos (o que podia justificar injustiças sociais) e setorizar a sociedade em “ciências sociais”; formação de um partido político com base em ramificações locais remetidas a um centro nacional, ao contrário dos tradicionais partidos regionais ou estaduais; a popularização da história, política e cultura da Rússia, por vezes de outros povos soviéticos, gerando informações mais concretas sobre esses habitantes e fomentando campanhas de auxílio a famintos ou refugiados e de reconhecimento diplomático e comercial da URSS, ou ainda despertando um interesse permanente dos brasileiros pelo povo russo e outros eslavos, em domínios muito além da célebre literatura novecentista russa; a luta por bandeiras parciais de melhoria das condições operárias (ao contrário dos anarquistas e similares, que queriam aproveitar cada agitação para promover a “greve geral revolucionária”, ou seja, queriam tudo e agora) e por causas amplas progressistas, sendo o epicentro de um núcleo de pensamento moderno que influiria sobre intelectuais e artistas e inspiraria outros núcleos modernos e progressistas, mas não necessariamente comunistas ou pró-soviéticos; levantamento de questões (pioneiro) que no futuro se tornariam essenciais na esquerda brasileira, como o negro, a mulher, o imigrante e os moradores pobres dos núcleos marginalizados urbanos (hoje favelados); principal polo, junto com trotskistas e socialistas, e apesar das atitudes contraditórias, de oposição ao fascismo, ao nazismo e ao representante nativo, o integralismo; pioneiro no levantamento da questão parlamentar entre a esquerda brasileira (na verdade, colocou como uma questão a se problematizar, sem recair nos extremos da rejeição total ou da utilização acrítica), cogitando a hipótese de sua utilidade, mas às vezes tendo aí uma postura ambígua.

Fontes – a documentação da IC que está na internet ou no AEL e no CEDEM; documentação impressa localizada no AEL, especialmente das coleções de Astrojildo, Brandão, Sacchetta e Ferreira Lima (e talvez Prestes); jornais da grande imprensa da época, bem com os comunistas (A Classe Operária, A Nação); revistas comunistas (Movimento Comunista, Seiva, Autocrítica); publicações ligadas à IC ou órgãos regionais (The Communist International/L’Internationale Communiste, La Correspondance Internationale/International Press-Correspondence, La Correspondencia Sudamericana, Bolshevik – PCUS); coletâneas publicadas de documentos, teses, resoluções e atas taquigráficas de congresso da IC, plenos do CEIC, congressos do PCUS e talvez de congressos, plenos e conferências do PCB e de seu CC; cartas trocadas entre militantes, entre militantes e dirigentes ou entre militantes/dirigentes e instâncias superiores do Partido ou do comunismo internacional; livros de memórias de antigos militantes ou dirigentes do PCB, de Partidos da América Latina, do SSA/IC e da IC (especialmente do CEIC), e talvez do PCUS, PCE, PCF e PCI.



quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Ministério da Saúde, advirta! (celular)


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Outro artigo de opinião que hackeei há algumas semanas da Folha de S. Paulo, a cuja linha editorial tenho várias ressalvas, mas que volta e meia lança debates muito interessantes. Ele se chama “Ministério da Saúde, advirta!”, de autoria da advogada, escritora e dramaturga Becky S. Korich e publicado em 24 de novembro de 2022, do qual mantenho os links que remetem a outros textos na publicação original. Mais uma vez, é daquelas reflexões que vão ao encontro do que penso sobre redes sociais e que alertam sobre os danos do uso excessivo de aparelhos eletrônicos ao corpo e de mídias digitais – sobretudo quando estas vendem uma realidade ideal inexistente – ao cérebro e à psique. A figura abaixo ilustra como a espécie humana poderia evoluir daqui a 800 anos (Korich explica no texto), embora eu não dê opiniões categóricas sobre isso, por não ser biólogo:


Com celulares e redes, preenchemos o tempo com o vazio, e não sobra tempo

Se o seu celular não está na sua mão, com certeza está a menos de 30 centímetros de você. Que esse aparelho – que é tudo, menos telefone – já é parte integrante do nosso corpo não é novidade. O que fingimos não saber são os desvios e as deformações que esse novo membro incorporado pode potencialmente provocar à nossa forma original.

Foi divulgado recentemente um estudo prevendo que daqui a 800 anos (depois de amanhã) vamos sofrer mudanças estruturais no corpo, consequência direta do uso excessivo de smartphones e computadores.

Costas curvadas, mãos em forma de garra, cotovelos quadrados, cérebro menor, pescoço mais grosso e até uma segunda pálpebra. Chegamos à era da inteligência emocional, com o homem menos inteligente, curvado à tecnologia e servindo ao objeto que foi feito para lhe servir.

A imagem do novo humano em 3D que ilustrou o estudo é digna de ficção científica. Uma espécie de autômato: a figura de um homem imitando o próprio homem, que já não é mais tão humano.

O estudo é um mero prognóstico, mas um importante aviso. Se essa teoria de involução darwiniana do século 21 poderá ser visível aos olhos, significa que as mudanças estão tão profundamente incorporadas que certamente resquícios dela já têm penetrado na nossa essência.

Desde a era paleolítica nós, humanos, nos adaptamos ao ambiente em que vivemos na luta pela sobrevivência. Se antes matávamos, caçávamos, colhíamos e nos aquecíamos com fogo, hoje sobrevivemos matando o nosso tempo, caçando imagens estéreis, colhendo frutos corrompidos por ervas daninhas e nos aquecemos com combustíveis fósseis. Somos mais nômades, apesar de estancados, porque não sabemos direito qual é o nosso lugar. Não andamos mais em bandos, nos contentamos com a segurança da solidão por detrás das telas. Desaprendemos a carregar as baterias longe das tomadas e, assim, nossas fontes de energia não se renovam. Estamos, enfim, mais selvagens do que nossos antepassados.

Caímos nas armadilhas das redes, que de sociais não têm nada. Essas redes, que nos definem através da exposição dos outros, onde nos expomos para nos defender, usando verdades ou mentiras que contamos de nós; tanto faz. Com mãos de garra, acabamos nos desgarrando do que mais importa, preenchendo o nosso tempo com o vazio. E não sobra tempo. Porque o vazio ocupa um espaço enorme, porque vazios são infinitos.

Smartphones e afins tinham de ser tarja preta, com alertas para nos lembrar do seu poder de toxicidade. Deveriam vir com uma bula: não para nos instruir como usá-los, mas para nos precaver de não sermos usados por eles. E trazerem, em letras garrafais, a advertência de que o uso inadequado pode causar dependência, depressão, solidão... Desistência de um pedaço de vida.

Pela preservação da nossa pálpebra única, óculos corretivos deveriam ser obrigatórios no uso desses aparelhos, e assim nos devolver o foco, ampliar a visão e nos fazer enxergar na dimensão correta. Uns óculos especiais, que corrigissem a miopia e o astigmatismo sociais-digitais que distorcem nossa visão e nos fazem achar que o que está longe é mais bonito.

Celulares não são do bem nem do mal. São o que são. E nós devemos nos manter eretos diante deles, para continuar a ser o que somos.



terça-feira, 13 de dezembro de 2022

O Brasil já teve seus “Capitólios”


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NOTA (13/12): Programei este texto bem antes da diplomação do Lula, sem ter ideia de que iam ocorrer as arruaças fascistas em Brasília nesta madrugada. Estou adicionando esta observação na tarde de hoje. A data de publicação, portanto, é pura coincidência e nada tem a ver com essas loucuras, as quais, obviamente, lamento muito!

NOTA 2 (10/1/2023): sobre o verdadeiro “Capitólio Brasileiro” do dia 8 de janeiro, que tristemente aconteceu, contra todas as expectativas, entrar nesta página.

Pra quem tem temido que, após a derrota de Bolsonaro e a vitória de Lula, tenhamos uma espécie de baderna ou de golpe de força parecido com a invasão dos trumpistas ao Capitólio, sede do Congresso Nacional dos EUA, saiba que no Brasil já tivemos dois assaltos semelhantes, embora não relacionados à posse iminente de um presidente da República. Eu me lembro de ter visto o primeiro episódio, mais grave e violento, na TV em 6 de junho de 2006 (ou seja, 6 do 6 de 6, totalmente encapetado, hehehe), quando militantes que se reivindicavam do “Movimento de Libertação dos Sem-Terra”, uma facção mais radical e menos controlada do MST tradicional – que alegou não ter relação com a ação –, entraram no Salão Verde do Congresso e, após discutirem com funcionários e seguranças, tentaram entrar no plenário à força, começaram um quebra-quebra geral e deixaram vários feridos no caminho. A primeira e a segunda fontes que consegui encontrar no YouTube estão unificadas no vídeo abaixo, que contém essencialmente a cobertura da Rede Globo (essa vinheta “Globo Notícia” era muito comum nos fins de tarde da segunda metade dos anos 2000, mais ou menos como o atual “G1 em um minuto”, mas muito mais profissional e relevante):


Uma famosa capa da Veja criticou acerbamente os “militantes” do tal MLST como uma espécie de “braço armado” do PT, que mal completava seu primeiro governo e nunca tinha recebido sossego da grande mídia cheirosa. Também me lembro dessa capa, e consegui encontrar uma amostra em boa resolução neste blog, embora eu ache o autor condescendente demais com Lula. Lembro ainda que Heloísa Helena, então senadora e uma das fundadoras do PSOL, que tinha rompido mais à esquerda com o PT justamente em 2004 e conseguiria um histórico terceiro lugar à presidência em 2006 em aliança com o PCB e o PSTU, chegou a declarar que eles tinham invadido “o lugar errado”, ou seja, deviam ter ido ao Planalto, hehehe. O Jornal Vicentino e o site do Senado também noticiaram o evento na época.


Ironicamente, na mesma busca, descobri uma situação menos cruenta, mas não menos patética, pois começava a revelar o esgoto fascista que estava jorrando do bueiro desde o processo que levou ao golpe contra Dilma Rousseff em 2016. Um bando de tiozão e tiazona do Zap invadiu a Câmara dos Deputados em 16 de novembro de 2016, numa sessão aparentemente meio vazia, subiram na mesa diretora e começaram a pedir “intervenção militar” contra a corrupção na política. Na época, poucos se davam conta que “intervenção” era a mesma coisa que “golpe”, e que nas Forças Armadas também rolava corrupção... Infelizmente, a primeira fonte não está mais disponível no YouTube, mas a segunda fonte segue aberta, e ambas (ou uma delas, não lembro) pode ser vista abaixo:


Recentemente, porém, segundo o Correio Braziliense, os bolsominions estão tão desesperados com a vitória de Lula e com o derretimento do “Mito” que até “intervenção alienígena” eles estariam pedindo, hehehe. O estranho gesto que eles foram filmados fazendo com as luzes de seus celulares, em meados de novembro, foi interpretado como um sinal de SOS, mas nem todos os analistas concordaram entre si. Em todo caso, foi mais um dos teatrinhos que a velharada fez na frente dos quartéis, já que nunca teve nada a perder, e o máximo que conseguiram foi se tornar alvo de chacota nacional, como neste meme que circulou pelo WhatsApp com montagem do Sr. Spock do clássico Star Trek (Jornada nas estrelas):


Porém, a piada da “intervenção alienígena” não é nova... Desde que nas primeiras manifestações contra Dilma essa bobageira de pedir golpe começou a tomar fôlego, a zoeira do campo progressista seguiu a mesmo trilha, e mesmo que eu não saiba ao certo se isto é uma montagem, já em 2015 um centro acadêmico da UFRJ fez a publicação apropriada:


E em 2018, durante as eleições que trouxeram o fascista ao Planalto, a piada voltou às redes sociais (talvez à esquerda, com medo do que realmente viraríamos nos últimos quatro anos), embora tenha sido algo inexplicavelmente “noticiado” pela Folha, talvez então vítima de um estagiário malandro ou da simples falta de pauta:


Agora mudando de assunto: o dono da Coreia do Norte (que uns incels brazucas radicalizados acreditam ser mesmo uma “Coreia Popular”) Kim Jong-un apareceu esses dias em fotos passadas na TV estatal com a esposa ex-cantora e uma filha adolescente cuja cara ninguém tinha visto ainda. Mesmo que a diversão tenha sido mostrar o arsenal de potencial destruição humana massiva, a importância da família é algo que deve sempre ser ressaltado (minha força ao Padre Zezinho, igualmente vítima online dos bozos fascistas!):


E finalmente, uma declaração recente de Gianni Infantino, presidente da FIFA, querendo posar de solidário com as minorias oprimidas (justo uma das instituições mais corruptas do mundo!), mas que gerou cortes perfeitamente encaixados junto a memes clássicos, como um que recebi no WhatsApp: