Se você pensa que já viu de tudo em matéria de “rolês aleatórios” (sobretudo envolvendo Ronaldinho Gaúcho ou algum ministro do STF), vai aqui mais um pro seu “currico”. Em 2013, Volodymyr Zelensky, então “apenas” um ator, diretor e humorista muito conhecido na Ucrânia e na Rússia (cujo idioma também é o seu materno), foi o apresentador da seção de convidados internacionais de um festival de novos talentos chamado em russo “Nóvaia volná” (Nova Onda), ou “New Wave” pro público internacional. De 2002 a 2014, organizado conjuntamente por russos e letões, era sediado na cidade letã de Jūrmala, mas a partir de edição de 2015, com intervalos, ocorreu em outras cidades da Rússia.
Como escrevi, o “New Wave” é focado na concorrência entre grupos e cantores em começo de carreira, mas há um dia reservado pra apresentações de artistas de renome, russos ou estrangeiros, como foi o caso de Julio Iglesias em 2013. Nos cortes que fiz, “Vladimir Zelenski” começa fazendo umas gracinhas na abertura (sem contar outras piadas ao longo do vídeo integral) e então apresenta o espanhol, cuja imagem demora um pouco pra aparecer, até que enfim ele saúda o público em seu peculiar inglês. Deixei toda a saudação do astro, mas cortei a parte da música, que inclui Caruso e Crazy, esta em dueto com Aleksandr Kogan, seu fã pessoal, ao piano. O hoje presidente da Ucrânia não aparece ao lado do inspirador dos “memes de julho”, mas subitamente sobe ao palco outra lenda, o russo Iosif Kobzon, que cumprimenta e ganha um beijo de Iglesias:

No vídeo do canal oficial do show, o momento da broderagem não fica claro, mas depois ambos aparecem lado a lado, sob os elogios do “palhaço narcômano” (como o chamam os putleristas), enquanto Iglesias diz que “adora” Kobzon. Os dois cantores já se encontraram outras vezes na Rússia, onde o próprio Iglesias se apresentava com frequência. Antes de morrer, contudo, o “Frank Sinatra soviético” era um admirador do Trombadinha de Leningrado, apoiou o começo de suas ações desestabilizadoras na Ucrânia (onde ele mesmo nasceu) e foi até cantar em territórios controlados por terroristas pró-Kremlin. Nos últimos anos, emprestou seu cabelo de boneco Playmobil à intepretação daquelas maceradas canções sobre a “Grande Guerra Patriótica” em eventos estritamente enquadrados pela ditadura.
Sobre o ator e cantor de Kryvy Rih, é curioso como até 2014 ele também era uma presença constante no showbiz russo, de forma que sua apresentação do especial de Ano Novo do Canal 1, junto com Maksim Galkin (com quem ele depois romperia), volta e meia vem à tona. O ponto mais curioso é a própria canção de abertura, em que Vladimir Soloviov (de preto), então um simples jornalista e hoje um dos propagandistas mais sujos da guerra, logo aparece dançando e fazendo um “v” com ambas as mãos. Com o roubo da Crimeia, Zelensky se confinou às fronteiras pátrias e lançou a série O servo do povo, que o tornou conhecido mundialmente ao interpretar um professor que se torna presidente da Ucrânia. A obra é basicamente uma crítica severa aos políticos e à oligarquia (geralmente as mesmas pessoas) do país, cujos laços umbilicais com Moscou, lembremos, nunca foram um segredo pra ninguém.
“No tempo que Dondon jogava no Andaraí, nossa vida era mais simples de viver...”
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