Nesta edição de 7 de fevereiro de 2021 do jornal diário 64 Minutes do canal francês TV5MONDE, apresentada pela jornalista Silvia Garcia, a rubrica sobre notícias do mundo francófono fora da França abordou os 50 anos da conquista do direito ao voto pelas mulheres da Suíça. Reputado por vários aspectos avançados de sua sociedade, o encravado país da Europa foi um dos últimos do Ocidente a lhes permitir votarem e serem votadas, e as razões foram absurdas. Detalhe sórdido: obviamente só os homens podiam votar a respeito de algo que não lhes tocava... Isso mostra, ao contrário do que dizem certas bolsominions “antifeministas” do Fazendil (algumas delas eleitas!), que o sufrágio universal não foi um “presente” de cima, mas fruto de uma luta que furou um muro de resistência injustificável.
Garcia nasceu na Espanha (seu nome podia ser português também), mas se radicou muito cedo na Suíça, tendo trabalhado pra vários canais da confederação, mas também em outros países, incluindo a França, como podemos ver. Em 2023, ela voltaria “pra casa” como âncora de jornais da RTS, onde segue até hoje. Apesar do 64 Minutes ser francês, sua origem helvética transparece na leitura do ano de “1998”, em que “noventa” sai como “nonante”, uma variante regional, e não como “quatre-vingt-dix”, conforme o padrão parisiense. Se fosse sempre assim, a vida seria bem mais fácil, né? Rs. Bem, após algum atraso, segue a reportagem:
– Há 50 anos, as mulheres suíças conquistaram o direito ao voto. Há apenas 50 anos. Esta é a nossa manchete principal da francofonia.
Geralmente isso causa surpresa: a segunda melhor democracia [num dos rankings daquele ano], a mais antiga do mundo, foi um dos últimos países a conceder plenos direitos civis às mulheres. E ela está bem posicionada pra saber disso: com a gente, de Genebra, Ruth Dreifuss, ex-presidente da Confederação Helvética. Boa noite e obrigada por estar com a gente. Que lembrança a senhora guarda daquele 7 de fevereiro de 1971?
– A sensação, simplesmente, de que foi a culminância de um grande século de luta e o início de algo mais, ou seja, quando finalmente tínhamos as ferramentas necessárias pra participar plenamente e mudar a situação das mulheres neste país.
– E assim as mulheres conquistam seu lugar de direito na sociedade. O dia 7 de fevereiro de 1971 foi, como a senhora disse, o ápice de um longo combate. Por que a Suíça demorou tanto pra conceder às mulheres o direito ao voto? Em grande parte, isso se deve ao sistema político que torna o país, porém, tão renomado. Lembrete de autoria de nossos colegas da RTS, Cédric Verguin e Cyril Pierre.
Desta vez, foi pra valer. Em 7 de fevereiro de 1971, Gertrude Girard-Montet, presidente da Associação Suíça pelo Sufrágio Feminino, comemora: era a vitória, as suíças tinham acabado de conquistar o direito de votar e ser votadas. Finalmente, porque o caminho foi longo, cheio de armadilhas e exigiu muita adaptação. Entre 1919 e 1971, foram realizadas 31 votações sobre o sufrágio cantonais feminino. O “não” venceu 22 vezes. Porque os homens precisavam ser convencidos. E isso não foi rápido.
Em 1.º de fevereiro de 1950, o “não” ainda ganhará por 67%. Por esmagadora maioria, os cidadãos suíços rejeitam o sufrágio feminino em nível federal. Mas no cantão de Vaud, vence o “sim”, depois em Genebra, depois Neuchâtel. Mas aqui, estamos em 1962, e as mulheres suíças ainda não têm o direito de votar em nível federal.
– Acredito que essas cidadãs não estejam prontas hoje. Elas ainda não saberiam como devem votar. Elas andariam por aí se perguntando: “Devemos votar neste, naquele, num rosto bonito ou num cara que faz caretas melhor que o outro?”
Pouco importa. Desde a recusa de 1959, as suíças desfilam todos os anos com tochas pra exigir o indispensável direito ao voto. No fim das contas, foi a política externa que mudou tudo. Em 1968, o Conselho Federal decidiu assinar a Convenção Europeia dos Direitos Humanos, mas excluindo o direito das mulheres ao voto. Escândalo: Em 1.º de março de 1969, 5 mil pessoas marcham em frente ao Palácio Federal em favor do sufrágio feminino.
A igualdade jurídica entre os sexos é um pré-requisito importante ao pleno exercício dos direitos humanos.
Em 7 de fevereiro de 1971, os homens votam novamente e dizem “sim”, finalmente.
– Ruth Dreifuss, por que as autoridades não tomaram a iniciativa, na época, de impor o direito ao voto pras mulheres muito antes?
– Simplesmente por medo de um fracasso. E foi uma batalha muito, muito longa. E o governo não demonstrou nenhuma coragem ou liderança nessa área.
– 1998, a senhora se torna a primeira mulher a chegar à presidência da Confederação, presidência que na Suíça é rotativa. Isso a torna uma pioneira. Isso também a torna um modelo a ser seguido?
– Simplesmente torna meu dever abrir as portas a outras, o que fiz, aliás, no dia de minha eleição. Eu abri, mandei abrir as portas do Palácio Federal pra que outras mulheres viessem festejar e, logo depois, também assumir mais funções.
– Pois bem, 50 anos depois, as suíças estão indo às ruas. Em junho de 2019, há um ano e meio, uma segunda greve de mulheres exigiu igualdade salarial, mas também uma mudança na sociedade. A luta continua, precisamos acelerar o ritmo na Suíça?
– Completamente. Ah, uma vez que o direito ao voto foi conquistado, o que aconteceu foi que eliminamos a maioria das leis discriminatórias que persistiam na Suíça, relativas a casamento, divórcio, previdência social etc., em que a mulher ainda era de fato considerada dependente do homem. Depois, começou outra batalha, que já vinha sendo travada em paralelo, que é realmente sobre mudanças na mentalidade, na vida cotidiana, no mundo do trabalho e na educação. E esse combate continua, assim como o combate pelo reconhecimento de outros direitos contra a discriminação, por exemplo, das pessoas LGBT e outras pessoas que são atualmente discriminadas.
– Ruth Dreifuss, ex-presidente da Confederação Helvética, muito obrigada por ter estado com a gente no 64 Minutes.
– Il y a 50 ans, les Suissesses obtenaient le droit de vote. 50 ans seulement. C’est notre une francophone.
Ça suscite souvent l’étonnement : la deuxième démocratie, la plus ancienne au monde, a été l’un des derniers pays à accorder aux femmes tous leurs droits civiques. Et elle est bien placée pour le savoir : avec nous depuis Genève, Ruth Dreifuss, ancienne présidente de la Confédération helvétique. Bonsoir et merci d’être avec nous. Quel souvenir vous gardez de ce 7 février 1971 ?
– Le sentiment tout simplement que c’était l’aboutissement d’un grand siècle de lutte et le commencement de quelque chose d’autre, c’est-à-dire, quand on avait enfin l’instrument nécessaire pour participer pleinement et changer la situation des femmes dans ce pays.
– Et les femmes prennent donc toute leur place dans la société. Le 7 février 1971, c’était, vous le disiez, l’aboutissement d’un long combat. Pourquoi la Suisse a-t-elle accordé le droit de vote aux femmes aussi tard ? C’est en grande partie à cause de ce système politique pour lequel le pays est pourtant réputé. Le rappel est signé de nos confrères de la RTS, Cédric Verguin et Cyril Pierre.
Cette fois, c’est la bonne. Le 7 février 1971, Gertrude Girard-Montet, présidente de l’Association Suisse pour le suffrage féminin, exulte : c’est gagné, les femmes suisses viennent d’obtenir le droit de vote et d’éligibilité. Enfin, car le chemin fut long et semé d’embuches et s’adapte sacrément. Entre 1919 et 1971, 31 votations sur le suffrage cantonal féminin sont organisées. Le « non » l’emportera 22 fois. Car il faut convaincre les hommes. Et ça ne va pas vite.
Le 1 février 1950, ce sera « non » encore à 67%. Les citoyens suisses refusent à une écrasante majorité le suffrage féminin au niveau fédéral. Mais dans le canton de Vaud, c’est « oui », puis à Genève, puis Neuchâtel. Mais là, on est en 1962, toujours pas le droit de vote des femmes suisses sur le plan fédéral.
– Je crois que ces citoyennes ne sont aujourd’hui pas prêtes. Elles ne sauraient encore pas comme elles doivent voter. Elles iraient, elles se demanderaient en fabrique : « Est-ce qu’on doit voter pour celui-ci, pour celui-là, pour une belle tête ou bien pour un type qui sait mieux faire des grimaces qu’un autre ? »
Qu’importe ? Depuis le refus de 1959, les Suissesses défilent chaque année au flambeau pour réclamer le droit de vote indispensable. C’est finalement la politique étrangère qui fera tout basculer. En 1968, le Conseil fédéral décide de signer la Convention européenne des droits de l’homme, mais en excluant le droit de vote des femmes. Scandale : le 1er mars 1969, 5 mil personnes défilent devant le Palais fédéral en faveur du suffrage féminin.
L’égalité juridique entre les sexes est une condition préalable importante au plein exercice des droits de l’homme.
Le 7 février 1971, les hommes votent encore et disent « oui », enfin.
– Ruth Dreifuss, pourquoi les autorités n’ont pas pris l’initiative, à l’époque, d’imposer le droit de vote pour les femmes bien plus tôt ?
– Par peur d’un échec, tout simplement. Et c’est une très, très longue bataille. Et le gouvernement ne s’est pas signalé de courage ou par un rôle de leader dans ce domaine.
– 1998, vous devenez la première femme à accéder à la présidence de la Confédération, c’est une présidence tournante en Suisse. Ça fait de vous une pionnière. Est-ce que ça fait de vous un modèle aussi ?
– Ça fait de moi une obligation tout simplement d’ouvrir la porte à d’autres, ce que j’ai d’ailleurs fait le jour de mon élection. J’ai ouvert, j’ai fait ouvrir les portes du Palais fédéral pour que d’autres femmes y viennent faire la fête et bientôt aussi occuper plus de dossiers.
– Alors, 50 ans plus tard, les Suissesses sont dans la rue. En juin 2019, il y a un an et demi, deuxième grève des femmes pour réclamer l’égalité des salaires, mais aussi pour un changement de société. La lutte continue, il faut accélérer le rythme en Suisse ?
– Absolument. Ah, une fois que le droit de vote a été acquis, ce qui s’est passé, c’est qu’on a expurgé la plupart des lois de discrimination qui continuaient en Suisse, sur le plan du mariage, du divorce, dans les assurances sociales etc., où la femme était toujours considérée comme en fait dépendante de l’homme. Ensuite a commencé une autre bataille, d’ailleurs déjà menée en parallèle, qui est vraiment celle des changements de mentalité, des changements dans la vie quotidienne, des changements dans le monde du travail, dans l’éducation. Et ce combat-là continue, de même que le combat d’ailleurs pour la reconnaissance d’autres droits de lutte contre la discrimination, par exemple, des LGBT et d’autres personnes qui sont actuellement discriminées.
– Ruth Dreifuss, ancienne présidente de la Confédération helvétique, merci beaucoup d’avoir été avec nous dans 64 Minutes.

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