quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Entenda a crise no PCB em imagens


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Bafão ideológico! Jones Manoel, Gabriel Landi, Gustavo Gaiofato (“História Cabeluda”) e outros jovens dinâmicos que ficaram conhecidos pela divulgação do marxismo (leninismo, na verdade) nas redes sociais, bem como Ivan Pinheiro, dirigente histórico e ex-secretário-geral, foram expulsos do PCB! Segundo entendi no canal do Jones, o Comitê Central está dominado por acadêmicos de humanas veteranos e famosos, como Mauro Iasi, Sofia Manzano, Edmilson Costa e Antonio Carlos Mazzeo (cujo livro Sinfonia inacabada é um bem dado pé no saco), e a razão da treta foi eles não terem cumprido as normas estatutárias e terem adiado futuros encontros e debates sine die, partindo da situação excepcional criada pela pandemia.

Jones Manoel e Ivan Pinheiro terminaram expondo no YouTube uma insatisfação que, aparentemente, podia muito bem ser expressa publicamente, sem romper “segredos de partido”, e me deram a entender que os catedráticos veteranos estariam com inveja ou receio de não poderem controlar o trabalho digital dos jovens, muitos dos quais expressam opiniões mais radicais, mas nem por isso antidemocráticas. Esse alcance a um público maior, a participação em mais eventos presenciais e a frequente militância em outras organizações de base (sobretudo os chamados “coletivos”) teriam sido chamadas pelo CC de “anti-intelectualismo”, o que contradiz com a grande produtividade editorial, quase sempre fora da academia, de Jones e Gabriel, e com a ausência de qualquer ataque aos intelectuais de forma geral. Em todo o caso, vindo a público as discordâncias, a expulsão foi sumária e inexplicada.

Não conheço as minúcias do funcionamento atual do aparelho do PCB, mas é impossível não me remeter, como estudioso do partido das décadas de 1940 a 1960, e depois das décadas de 1920 a 1940, quando os intelectuais, se não discriminados, eram marginalizados, e o operário era visto como uma “essência pura” a se descobrir num lugar indeterminado. O paradoxo era que desde 1935, a maior afluência às fileiras comunistas era dos chamados “pequenos burgueses”, ou seja, intelectuais, servidores públicos (incluindo militares e professores universitários) e profissionais liberais, sem contar os rebeldes advindos de famílias ricas. O funcionamento do aparelho era uma bagunça, e toda discordância que alguém expressasse contra a direção levava esta a lhe jogar na cara um “ismo” qualquer pra justificar uma punição, rebaixamento ou mesmo expulsão. Isso nunca mudou nem na época da Comintern, com Antônio Maciel Bonfim, nem depois dele, com Diógenes Arruda Câmara, nem quando Luiz Carlos Prestes enfim retomou o controle sobre o PCB. E parece que nem mesmo agora mudou, com um punhado de marmanjos querendo brincar de “vanguarda bolchevique” em plena era da inteligência artificial.

Não concordo em tudo com essa leva de “jovens dinâmicos”, mas admiro o trabalho que eles fazem e a habilidade com o manejo das mídias digitais, algo que nunca adquiri realmente, e gosto muito do rigor com que o Jones trata de seus temas. Com comunistas, esse respeito na divergência não se estende a stalinistas assumidos, a microsseitas mao-hoxhistas e a bajuladores da dinastia terrorista dos Kim na Coreia do Norte. Mas isso não me impediu que eu fizesse no canal do Jones alguns comentários jocosos e brincasse com a situação, não esperando de forma nenhuma que ele fosse ler ou muito menos “me dar coração”, rs: