Este primeiro print não é meu, mas ilustra um tópico no Reddit sobre o mesmo fato que aconteceu comigo. Queria primeiro recomendar esta página em português, pois é uma perfeita compilação das principais tentativas de golpe online mais recentes, enviadas pelas vítimas potenciais pra confirmação pelos colegas. Algumas resvalam pro humor e dá até pra rir um pouquinho, de tão toscos que são os enredos, mas outras são realmente sérias. Sei que a probabilidade de encontrar informações é próxima de zero, mas em todo caso apaguei qualquer foto ou número de telefone relacionado à pessoa do outro lado da tela. E infelizmente, aqui estou eu de novo tendo que lançar um “alerta de utilidade pública”...
Depois do falso marqueteiro Allen Marvin, que me aborreceu por e-mail duas vezes, semana passada recebi em minha conta reserva do Telegram a mensagem abaixo de uma simpática japonesinha que parecia muito verdadeira. O começo, como você pode ver, é idêntico ao do sujeito acima, mas resolvi copiar aqui o conteúdo completo da conversa, tirando o que não interessava. A seguir, meus comentários:




Várias coisas imediatamente cheiram a golpe, por mais que queiramos fugir da realidade. Primeira e primeiríssima, por que a pessoa continuaria conversando, se viu imediatamente que não era quem estava procurando, ou seja, um “guia turístico no Brasil”? Segundo contam, é realmente dirigido a guias turísticos, mas sobre isso leia mais abaixo. Por enquanto, se lidamos com um adulto ou coroa carente e tarado, vamos pro segundo ponto: à resposta mais seca que você dá, começa toda uma jogação de confete e massagem de ego com elogios e reações de emojis amorosos. Quem não deseja a atenção de uma japinha nova e bonita, mesmo que ela nunca tenha te visto na vida?... Típico de qualquer golpe envolvendo relacionamento, sobretudo o da “loira russa” que calha ser um detento de país da África Ocidental.
O terceiro, mais gritante: por que a sujeita estaria escrevendo em português se vive em Londres? Bem, de fato continuei a conversa no número de WhatsApp indicado (antes de bloquear e denunciar como se deve) e recebi a seguinte história. “Jennifer”, 28 aninhos, teria nascido em Osaka, moraria na City há 20 anos (ou seja, desde os 8) e teria o desejo de conhecer o mundo. Ela disse que usava o Google Tradutor, o que até justifica os erros de concordância de gênero, mas há ainda outros erros meio inexplicáveis. Além disso, a forcei a falar em inglês, o que fizemos por umas mensagens, até que inexplicavelmente ela voltou com o português estropiado. Estranho pra uma londrina quase nativa, não?...
E quarto, mais irritante, na verdade: sei que isso às vezes ocorre com novinhas monossilábicas depois de um match em aplicativo de namoro, mas nossa “Jennifer” simplesmente se esquivava de várias perguntas que exigiam as respostas mais simples. Nem preciso falar do momento em que ela “achou” que eu me chamava “aberto”, mas veja como certos pedidos de detalhamento simplesmente eram encobertos por respostas não relacionadas ou pela mudança de assunto. Fiquei pensando na possibilidade de estar falando com um robô, mas realmente eles ainda não têm esse poder de personificar certas falas, e mesmo um presidiário golpista podia, querendo ou não, carregar nos erros de redação, o que os vítimos da “loira russa” em geral deixam passar.

Chega, não tinha jeito. Mesmo esperando antes de mandar um “I guess you’re a scammer” (Suspeito que você seja uma golpista) na cara “dela” e então bloquear, resolvi pesquisar no Google antes. Realmente, a partir deste ano, parece ter surgido um golpe no Telegram – que depois leva a gente pro WhatsApp, onde é muito mais fácil mandar link de armadilha – em que moças de feição oriental, geralmente japonesas, procuram esses guias brasileiros, realmente tentando enganar guias reais pedindo informações de roteiros. Vários dos casos, inclusive, ocorrem com números com DDI de países completamente diferentes daqueles aos quais as “moças” afirmam estar ligadas. Não foi meu caso, pois “Jennifer” dizia ser do Reino Unido e o número era de lá mesmo.
Dois ou três casos pelo menos foram publicados na página citada do Reddit, mas acabei tirando o print de traduções automáticas pro inglês antes de perceber que os originais eram em português. Como acredito que meu público tem um nível razoável na leitura daquele idioma, fiquei com preguiça de procurar de novo as fontes e tirar novos prints. Portanto, segue o material, que já resumi acima, um deles (original) tendo sido tirado do Facebook:



Porém, consegui guardar o link com o original desta publicação, que alerta pra grave hipótese dessas golpistas serem, na verdade, vítimas de tráfico humano obrigadas a enganar pessoas em outros países (não assisti ao vídeo). Por que o Brasil, não sei exatamente, mas isso pode ajudar a entender por que a conversa não parece tão “robótica”, por que os erros de tradução, apesar do uso do Google, parecem ter inputs humanos e por que os agrados parecem mesmo ser de uma fêmea bem entendida:
