quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Eu, poetinha: sonetos escritos em 2005


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Muitas(os) de vocês já conhecem meus sonetos em esperanto e meus diversos tipos de poema em português. Só que ainda não comecei a publicar em massa outro segredo que guardo: os sonetos que escrevi em português no fim da minha adolescência. Como escrevi em outra ocasião, foi então que comecei a compô-los sistematicamente, até mais ou menos o começo da minha graduação em História. Depois, a atividade foi ficando bem mais esporádica. Diversos dos que escrevi entre 2004 e 2006 foram descartados, sem que eu guardasse qualquer cópia, mas outros julguei por bem conservar, dado o tema interessante e a razoável elaboração.

Inicialmente, digitei meus sonetos no computador e imprimi em folhas repartidas. Mas quando quis me livrar delas pra desocupar espaço, digitalizei-as em arquivos de imagem, e guardo em backup meus poemas preferidos. Três interessantes textos formam uma unidade de trabalho que o Paulo, meu professor de Português no início do 3.º ano do Ensino Médio, pediu-nos pra fazer logo depois das férias de verão. Ele ficou com a gente apenas uns dois meses, ou nem isso, e cedeu o posto à Prof.ª Graça Betânia, notável acadêmica e uma ótima pessoa que nos acompanhou até a formatura. Mas ele me marcou por seu aparente interesse nos mesmos temas que eu, a começar pela língua latina, tanto que foi ele quem me indicou o livro Não perca o seu latim, de Paulo Rónai, que só agora tive tempo de comprar e degustar.

Nas primeiras aulas, ele propôs que escrevêssemos três poemas, com os seguintes títulos/temas: “Eu procuro você” (31 de janeiro), “Eu em você” (4 de fevereiro) e “Depois de você” (11 de fevereiro). Não sei o que meus colegas acharam, mas eu estava no Paraíso: adorava atividades criativas, sobretudo relacionadas à escrita e poesia, e na 7.ª série, por exemplo, adorava quando a Prof.ª Sandra Del Roio pedia pra fazermos redação de tema livre. Era como o momento em que a “tia” do primário, querendo matar tempo, mandava desenhar em folhas brancas de sulfite! Realmente, nunca descobri qual era a intenção pedagógica do Paulo, mas guardo até agora as cópias dos papéis escritos à mão e a digitação posterior pro acervo. Neste eu me baseei pra corrigir os primeiros e repostar aqui.

Modifiquei ligeiramente os títulos, e parece que não segui uma regra métrica fixa quanto à quantidade e tonicidade das sílabas. Inclusive, como eu estava no começo, fiz coisas aí que não repito hoje: misturar vogais tônicas e átonas numa mesma sílaba, forçar ditongos em hiatos e “abreviar” palavras que geralmente são comidas na música popular, como “minha”, contada como uma sílaba só. Por isso, a leitura ritmada é impossível. Também parece haver uma mistura de registros, com construções informais onde predominam palavras formais, e o uso de vocabulário informal numa estrutura formal: isso é normal quando se tem pouca bagagem de leitura. A ressalva é que nos sonetos 1 e 2, tentei deliberadamente usar o pronome “tu”, e no 3, apenas “você”.

As rimas pobres até podem ser perdoadas, mas há dois problemas de redação que decidi não corrigir: no soneto 2, a expressão “em seu castelo for reinando” se refere a “quem estás amando” ou à “princesa” (a quem trato por “tu”)? É provável que se refira a ela, mas deveria evidentemente ser “em teu castelo fores reinando” (aliás, princesas reinam?...), concordância que pode ter sido quebrada pelo bem de uma já estropiada métrica. No soneto 3, o verso “A felicidade sua ausência atrasa” obscurece qual é o sujeito e qual é o objeto. O contexto esclarece que “Sua ausência atrasa a felicidade”, mas como num poema romântico também é possível que “A felicidade atrasa sua ausência”, o entendimento imediato fica prejudicado.

Também é interessante que o segundo soneto figura minha atração, não exatamente uma “paixão”, por alguma garota da classe, a qual nem externei e muito menos esperava que pudesse ser correspondida. Até desconfio quem possa ter sido ela, mas naquela turma, minhas explosões hormonais quase sempre eram repelidas... Enfim, espero que vocês tenham gostado de eu ter compartilhado um pouco de mim e aguardem por “novos velhos” sonetos! Pra mim é salutar revisitar as criações do passado, pois compõem parte da longa trilha intelectual que me fez chegar até aqui. Mas se há quem pense que eu queria deixar elementos pra um futuro biógrafo, por que não? Rs.



Eu te procuro (31/1/2005)

Em que lugar do mundo estás, amor?
Em todo lugar vou te procurar
E se, ao acaso, puder te encontrar,
A minha vida terá mais um fervor.

Dize-me já onde posso te buscar,
Assim me farás um grande favor.
Quero de novo sentir teu sabor
E o prazer vindo na hora de te amar.

Sem ti, apenas sou metade de mim,
Sempre ajudas na minha outra metade.
Por que foste tu me deixar assim?

Volta, amor, acaba com essa saudade,
Aos meus chamados dize só “sim”
E caminhemos à felicidade.

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Eu em você (4/2/2005)

Cobre teu semblante felicidade
Enquanto vejo teu braço moreno.
Calças tênis baixos nos pés pequenos.
És tão nova que nem descubro a idade.

Teus olhos instigantes são serenos,
Te adornam brincos largos de verdade.
Tua boca brilha como a rica jade,
Tua altura pequena é belo veneno.

Calça jeans nas pernas grossas: beleza,
Tua inteligência está me impressionando,
Mas fazer desenhos é tua destreza.

Agora não sei quem estás amando,
Mas sei que muitos te acharão princesa
Enquanto em seu castelo for reinando.

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Depois de você (11/2/2005)

Você me abandonou, me fez tristonho,
Só suas roupas deixou dentro de casa.
Agora é que meu coração se arrasa,
Pois só poderei ver você nos sonhos.

Sua partida deixou minha mente em brasas,
Não penso mais no que me faz risonho.
Minhas mãos sobre seus braços não mais ponho,
A felicidade sua ausência atrasa.

Sem você, não há tempo posterior,
Meu futuro já não tem mais sentido,
Está morrendo meu eu interior.

Se as lembranças houvesse ressarcido,
Talvez seria bem menor minha dor
E tão forte não teria nascido.