sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Interlíngua, a solução natural (parte 1)


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Hoje os adeptos da interlíngua da IALA, um projeto de idioma internacional e alternativo ao esperanto que preza mais pela naturalidade do aspecto do que pela facilidade em aprender, comemoram o 70.º aniversário da publicação dos primeiros materiais o apresentando nos EUA. Em 15 de janeiro de 1951, a International Auxiliary Language Association lançava um dicionário interlíngua-inglês e uma pequena gramática expondo o básico do idioma, após um trabalho de pesquisa que tinha começado em 1924. O idioma tem hoje uma comunidade pequena, mas muito ativa na internet, e eu mesmo tenho ficado cético quanto à utilidade de línguas internacionais planejadas. Mas dado meu interesse intelectual, e pra lembrar a data, publico aqui a primeira parte da brochura “Interlíngua, a solução natural”, escrita pelo falecido prof. Waldson Pinheiro e disponibilizada como material de propaganda pela União Brasileira Pró-Interlíngua. Tomei a liberdade de adequar parte do estilo a meu próprio estilo, fazer correções e adicionar notas, sem prejudicar o conteúdo, mesmo parte do argumento sendo hoje um tanto antiquada. Dia 17 publico a parte apresentando a interlíngua!

“Não é preciso inventar nenhuma língua artificial. Já existe uma língua comum dentro das línguas da Europa que se difundiram pelo resto do mundo. São milhares de palavras de origem latina e grega, que servem de veículo à moderna civilização científica e tecnológica mundial. Dotada de um mínimo de gramática, essa INTERLINGUA é a solução do problema da comunicação internacional.”
Prof. Waldson Pinheiro, Natal, RN


Introdução

A grande maioria dos brasileiros não tem sentido necessidade de preocupar-se com outra língua que não seja a portuguesa. Muita gente nem com esta se preocupa! A verdade é que, no Brasil, pode-se viajar até milhares de quilômetros sem qualquer problema maior de comunicação, o que não acontece em vários países europeus que, num curto raio à sua volta, têm até meia dúzia de idiomas diferentes. Nossas próprias fronteiras não representam um grande obstáculo para o entendimento, uma vez que do outro lado se fala espanhol, que muitos por aqui acham apenas um português arrevesado. Daí que o brasileiro esteja muito mais para monoglota do que para poliglota.

Mesmo assim, este quadro está mudando. Uma parte da população brasileira, os que viajam ao exterior, os que trabalham com turistas, os que compram produtos importados, os universitários e profissionais que precisam ler livros e publicações em língua estrangeira, aqueles com acesso à comunicação por satélite produzida fora do país e os usuários da internet, todos esses já se tornaram mais conscientes da aldeia global em que vivemos e da necessidade do estudo de outros idiomas como exigência para a comunicação.

A pergunta a fazer é: que língua estudar?

Para os brasileiros que não fazem parte do núcleo mais antigo formado por portugueses, índios e africanos, a escolha poderia recair no idioma de suas origens, tais como o alemão, o italiano, o polonês, o árabe ou o japonês, para só citar os grupos mais numerosos. Outra opção seria um aprendizado sério do espanhol, visando a uma integração latino americana maior. Ou então, a manter-se a tradição predominante entre nós no século passado e atual, privilegiar o estudo do francês e do inglês.

Bem entendido, o domínio de uma segunda língua exige bastante esforço, pois não basta trocar cumprimentos e safar-se nas lojas e restaurantes. A familiaridade com outro idioma deve incluir a capacidade de ler livros, revistas e jornais, assistir a filmes, ir ao teatro, ver televisão, ouvir palestras e programas de rádio, falar ao telefone, manter uma conversa sobre assuntos gerais e também comunicar-se por escrito.

A verdade é que não é tão simples dominar uma língua estrangeira. Tanto no Brasil como na maioria dos países, o ensino de línguas estrangeiras nas escolas apresenta resultados decepcionantes.

Este quadro de bilinguismo aqui sugerido já resolveria parcialmente o problema da comunicação dos brasileiros com o exterior. Porém, cabe perguntar se esta seria a melhor solução. O caso é que o problema da comunicação internacional não deve ser enfocado de um ponto de vista setorial, de um só país, mas precisa de uma solução de alcance planetário.

A existência de milhares de línguas em nosso mundo costuma ser vista como castigo ou maldição. Uma tentativa para explicar a multiplicidade de idiomas na Terra é a conhecida história da Torre de Babel. Mas, se olharmos com objetividade a atual diversidade de línguas, concluiremos por sua inteira normalidade, pois milagre mesmo seria existir uma língua só.

A dispersão dos grupos humanos por todos os continentes e seu posterior isolamento por barreiras geográficas de difícil transposição como oceanos, desertos, florestas, mares e cordilheiras levaram fatalmente ao surgimento de troncos linguísticos independentes, que se esgalharam no decorrer de milênios na forma dos idiomas atuais.

Um desses troncos, o indo-europeu, ramificou-se nas línguas da Índia, do Irã e da Europa e transplantou-se, com espanhóis, portugueses, franceses, holandeses e ingleses, para as Américas, Austrália e Noza Zelândia, penetrando igualmente na Ásia e na África.

Outro, o semita, chegou aos nossos dias representado pelo árabe e pelo hebraico. Outros ainda se difundiram a partir da China, das ilhas dos oceanos Índico e Pacífico, ou dos povos negros da África.

Cada uma dessas línguas da Terra vem servindo de veículo para uma cultura particular que enriquece muitíssimo a extraordinária herança folclórica, moral, religiosa, literária, tecnológica e científica da Humanidade. Sua existência é antes uma bênção, e todas que têm atrás de si um grupo de falantes, muitos milhões ou apenas alguns milhares, merecem preservação e respeito.

NOTA (Erick Fishuk): O que o autor chama de “troncos linguísticos” são, na verdade, as chamadas grandes famílias primordiais de línguas do mundo, uma delas obviamente sendo a indo-europeia. Porém, a família a que pertence propriamente o hebraico, assim como o árabe, é hoje chamada afro-asiática, da qual um dos ramos, aí sim, é o semítico, no qual ambos se incluem. A partir daí, começam outras subdivisões técnicas que separam hebraico e árabe.


A questão da língua internacional

Desde algumas décadas vivemos na chamada Aldeia Global, que existe de fato na instantaneidade da informação do que acontece em qualquer parte do mundo. Infelizmente, quando os habitantes de diversas localidades dessa aldeia topam uns com os outros, o que prevalece é a velha imagem do babelismo: não se entendem com seus dialetos diferentes.

A multiplicidade de idiomas ocasiona sérias dificuldades, e não seria sensato tentar fazer as pessoas poliglotas. Isso não significa, porém, desaconselhar o estudo de línguas estrangeiras. Tal estudo pode ser altamente gratificante e mesmo necessário. Nenhum brasileiro conseguirá ser versado na cultura islâmica sem conhecer a língua árabe, ou especialista em Goethe sem saber alemão.

Periodicamente, determinado idioma nacional tem servido de instrumento parcial de comunicação, propagado pelo poder militar, econômico, social, cultural ou tecnológico de seus falantes nativos. No Mundo Antigo Ocidental foi o grego, o latim na Idade Média, o francês nos últimos dois séculos. Atualmente, o inglês assumiu a liderança, quem sabe a ser sucedido pelo mandarim em futuro próximo. É oportuno lembrar que o português foi no século 16 a língua franca do comércio marítimo para a Índia e o Japão.

Está claro que, se houvesse um acordo internacional para se adotar uma das línguas nacionais como segunda língua da humanidade, o problema imediato das barreiras idiomáticas estaria resolvido. Mas a um custo muito elevado em termos de autoestima de cada nacionalidade. Fosse o inglês, por exemplo, esta seria a solução ideal para os povos anglófonos, que assim poderiam ter o resto do mundo como uma grande colônia. Daí que, por motivos nacionalistas, os outros grandes países jamais concederão aos Estados Unidos e ao Reino Unido o privilégio inaudito de utilizar sempre o inglês como única língua oficial nas organizações internacionais.

Além disso, o inglês não é tão fácil como querem seus propagandistas. Sua gramática é realmente muito mais simples que a do russo, do alemão e do português. Mas sua grafia é um caso doentio [sic]. Teríamos todos de conviver com a escrita mais caótica dos idiomas nacionais europeus [o autor parece ignorar as bases do dinamarquês e do gaélico]. Tanto que existe o ditado: “Os ingleses dizem Manchester e escrevem Liverpool”. Nunca se pode saber ao certo como ler uma palavra que antes já não se conheça... O inglês escrito é o chinês da Europa, e não há como fazer-lhe uma reforma ortográfica. Aliás, já se estuda inglês em todos os países, mas em nenhuma parte o bastante que um não anglófono possa publicar nessa língua, por exemplo um livro, sem o mandar revisar por um falante nativo.

Alguns propõem uma língua nacional politicamente neutra, como seria, por exemplo, o norueguês. Se bem que a Noruega tem dois idiomas oficiais, ou melhor, o norueguês escrito de duas formas. O bokmål e o nynorsk, que aliás derivou o islandês antigo falado pelos navegadores vikings.

A realidade hoje é que não existe uma língua comum a nível planetário. Imagine o mal-estar de muitos cientistas sabendo da existência de valiosas pesquisas desconhecidas por falta de tradução.

O que foi feito, até agora, a nível oficial, para enfrentar esta realidade?

Após a Primeira Guerra Mundial, a Liga das Nações, cuja sede ficava na Suíça, tinha somente o inglês e o francês como línguas oficiais. A ONU, fundada em 1945, adotou esses dois idiomas como línguas de trabalho, entre as seis línguas oficiais: inglês, francês, espanhol, russo, árabe e chinês. Dessa forma, os discursos ou comunicações poderiam ser feitos em qualquer dessas línguas oficiais, observando-se o seguinte dispositivo: um pronunciamento feito em uma das línguas de trabalho só precisaria ser traduzido para a outra; mas, se feito em uma das outras quatro oficiais, teria de ser traduzido em ambas as línguas de trabalho. Pressão posterior levou ao reconhecimento de outras línguas de trabalho. Em 1966 a UNESCO aceitou o árabe como a sexta língua para as conferências e sua revista é publicada, com o mesmo conteúdo, em 11 línguas.

Apenas a Corte Internacional de Justiça, em Haia (Holanda), mantém o inglês e o francês como únicas línguas oficiais. Ironicamente o princípio básico de justiça e igualdade fica prejudicado, pois um advogado anglófono ou francófono, perante aquele Tribunal, dispõe de uma vantagem injusta sobre qualquer outro.

O problema com a diversidade de idiomas é ainda mais complicado na União Europeia, onde atualmente existem 28 países [27 após o Brexit] e 24 línguas oficiais. Como muitas outras nações devem ingressar na União Europeia, a tendência é que esse número se eleve a 30 ou mais línguas. A União Europeia já gasta 60% de seu orçamento administrativo com traduções e interpretações.

Por sua vez, o sistema de traduções e interpretações se presta a muitas falhas. Mesmo com tradutores de primeira classe, os mal-entendidos são frequentes, como diz o ditado latino [na verdade italiano]: traduttore, traditore (tradutor, traidor). Sirva de exemplo o famoso incidente na ONU entre o representante francês e o americano, que protestou contra as palavras do colega.

Dizia o francês: “La France démande aux États-Unis de...” (A França pede aos Estados Unidos que...), frase traduzida em inglês como: “France demands that the United States...” (A França exige que os Estados Unidos...). É que o tradutor confundiu o démande francês com o demands inglês, semelhante na grafia e som mas diferentes em significado. A essa espécie de termos facilmente confundíveis os franceses chamam de “faux amis” (falsos amigos).

Quanto mais técnico e especializado seja o discurso ou o texto, maior deve ser a competência nas duas línguas por parte do tradutor, aliada ainda a um bom conhecimento da matéria tratada.

Muitas vezes também não se traduz ou interpreta de língua original, mas de uma tradução noutra língua. Podem-se facilmente imaginar as divergências que surgem nesse processo. Por exemplo, discursando o representante da Dinamarca, um tradutor português poderá achar mais cômodo traduzir da versão que está fazendo seu colega italiano ou espanhol.

O número de tradutores e intérpretes necessários em qualquer conferência aumenta em progressão geométrica, de fórmula X = N (N – 1), onde N representa o número de línguas usadas.

Daí para quatro línguas, por exemplo, da OEA:
X = 4.(4 – 1) = 4 x 3 = 12.

E para as 24 atuais da União Europeia:
X = 24. (24-1) = 24 x 23 = 552.

Quando se traduz de determinada língua para outra neutra, uma língua-ponte, e em seguida desta para cada uma das demais, isto possibilita uma grande economia de tempo, dinheiro, material (recursos naturais) e funcionários recursos humanos).

Como acabamos de ver e constatar, recorrer a tradutores e intérpretes, sempre em demanda crescente, não garante perfeita satisfação e envolve investimentos pesados. Derivou-se então para as possibilidades da tradução mecânica através da versatilidade dos computadores.


Utilização da informática nas traduções

Evidentemente ninguém espera que um programa de computador produza textos literários... Feita essa ressalva, em matérias técnicas e científicas, torna-se aceitável obter uma tradução um tanto tosca mas inteligível ao especialista. A grande dificuldade da tradução por computador ou máquinas está na linguagem humana, frequentemente ilógica e ambígua.

O computador poderá mesmo reproduzir a piada do estudante de inglês que, ouvindo bater a sua porta, folheia rápido o dicionário procurando a palavra “Entre!” e grita... “Between!”. A confusão aqui feita entre verbo e preposição pode repetir-se com muitas outras palavras. O português “como”, dependendo do contexto, será traduzido em inglês pela forma verbal “I eat”, pelo advérbio “how” ou pelas conjunções “as, like”.

A palavra “alto” poderá ser os adjetivos “high, tall”, que tem uso diferenciado (edifício alto é high building, mas homem alto é tall man), ou o substantivo “top” ou a interjeição “halt!”.

A tradução também não pode ser simplesmente a substituição de uma palavra por outra. A frase em inglês “At last he wakes up!” (Finalmente ele desperta!) poderia terminar como “Em lastro ele acorda para cima”, ou seja, um completo disparate.

Ainda outro problema é que muitas vezes não há correspondência perfeita entre as palavras de duas línguas. Por exemplo, a palavra inglesa room (Raum em alemão), imediatamente vertida como “sala” ou “quarto” por alguém que tenha estudado um pouco de inglês. Ocorre, porém, que o significado básico desta palavra é “espaço”, como na frase “It took up much room!” (Ocupou muito espaço!), que uma tradução desastrada, palavra por palavra, transformaria em algo como “Ele tomou em cima muita sala!”, isto é, outro absurdo!

NOTA (Erick Fishuk): Naturalmente a evolução dos tradutores eletrônicos modernos, que envolvem o cruzamento entre línguas, o acréscimo de situações contextuais e o input (honesto) de um número maior de pessoas, tornou raros alguns desses absurdos mais evidentes.

Outras vezes a tradução pressupõe conhecimentos gerais, como é o caso de um texto alusivo à Guerra de Troia, no qual a passagem “Paris’ Arrow” foi vertida como “Flecha de Paris”, capital da França, quando o legítimo significado era “Flecha de Páris”, aquela envenenada com que o príncipe troiano Páris acertou o calcanhar de Aquiles.

Por último, cabe comentar as tentativas de solucionar a questão da língua comum internacional através de uma língua planejada, sem as irregularidades das línguas naturais e dotada de um caráter de neutralidade.


Em busca de uma língua auxiliar

No século 18, sábios do porte do francês Descartes, do checo Komensky (mais conhecido como Comenius) e do alemão Leibnitz defendiam a ideia de uma língua filosófica, perfeitamente regular e isenta das ambiguidades dos idiomas nacionais.

Quando os europeus, por meio dos seus missionários, entraram em contato com a escrita ideográfica chinesa, houve quem imaginasse que ali estava a solução para o intercâmbio de ideias entre os povos de idiomas diferentes. Bastaria dividir os conhecimentos humanos em certo número de categorias lógicas e criar símbolos para todos os conceitos. Chama-se a isto pasigrafia, ou escrita universal.

Em 1661, Johannes J. Becher, na Alemanha, criou um sistema em que todas as palavras eram representadas por números. Note-se que o sistema de numeração usado mundialmente funciona como uma pasigrafia. O símbolo “5” evoca em todas as pessoas a mesma ideia, não obstante ser chamado cinco em português, cinq em francês, five em inglês, fünf em alemão, pyat em russo, khamsa em árabe e go em japonês.

Uma utilização moderna dos princípios da pasigrafia pode ser encontrada nos sinais internacionais de trânsito.

No início do século 19, o músico francês François Sudre inventou o “Solresol”, idioma totalmente artificial e baseado nas sete notas musicais que pode ser falado e tocado. Exemplo: “mi sirelasi solresol” significa “Eu falo solresol”.

A primeira língua planejada a ter notável difusão por toda uma década foi o volapuque (“vol” = mundo, pük = fala), a partir de 1880, criado pelo sacerdote bávaro Johann Martin Schleyer, língua extraordinariamente regular e incompreensível para todos os não iniciados, o que pelo menos lhe dá extrema neutralidade: “o pão nosso de cada dia nos dai hoje” em volapuque equivale a “bodi absik vädelik givolös obes adelo”!

O volapuque foi logo em seguida suplantado pelo esperanto, divulgado em 1887 pelo oftalmologista judeu-polonês Lazar Ludwig Zamenhof. Em 1907, surgiu o projeto reformista do esperanto, chamado Ido, por Couturat, cujo pseudoautor era Louis de Beaufront.

Em 1903 o matemático italiano Giuseppe Peano propôs seu projeto naturalista “Latino sine flexione”, mais tarde batizado de Interlingue, que simplesmente usava o vocabulário latino despido de flexões nominais e verbais e livre de quase toda gramática.

O linguista dinamarquês Otto Jespersen, reconhecido internacionalmente como uma das maiores autoridades linguísticas, contribuiu em 1928 com um projeto de sua autoria, o Novial, sob o lema de que “a melhor língua internacional é aquela que em todos os pontos oferece maior facilidade ao maior número de falantes”.

Outro conhecido projetista de língua auxiliar foi o teuto-lituano Edgar von Wahl. Sua criação, o Occidental, aproxima-se de perto da interlíngua. Ele tentou equilibrar as exigências da regularidade da derivação vocabular com a naturalidade do aspecto das palavras.

Cabe também registrar a tentativa de C. K. Ogden, da Universidade de Cambridge, criador do Basic English, em 1935, que reduziu o vocabulário inglês a 850 palavras, das quais apenas 18 eram verbos. Tal simplificação, porém, mostrou-se ilusória, por admitir uma excessiva quantidade de idiomatismos (perífrases) e expressões longas. Por exemplo, a palavra “espelho” (mirror) em BE se diz “luk luk”.

A linguista americana Arika Okrent investigou cerca de 900 projetos inventados nos últimos cem anos. Publicou seu recente ensaio In the Land of Invented Languages (Na terra das línguas inventadas), no qual analisa todos esses códigos desconhecidos e sintetiza por qual razão nenhum deles teve sucesso:

A razão é muito simples, nós nunca falaremos línguas perfeitas porque somos imperfeitos. A evolução humana é imperfeita e a língua é um instrumento da própria evolução, faz parte de um todo: “Taal is aan den het Totaal” (Língua é parte de um todo). Assim como não podemos respirar debaixo d’água ou correr na velocidade de um leopardo, também nós não podemos falar uma língua estranha às nossas imperfeições. A língua não é uma simples ferramenta, mas uma parte da conduta humana. É um instrumento de socialização, não um aparelho que se pode manipular de modo técnico. É o mesmo que querer aguar uma planta de plástico – por mais que se tente, você acredita que ela vai crescer?

Quanto ao projeto da IALA, a interlíngua, iniciaremos o estudo de suas origens no próximo bloco.