Entre as várias montagens feitas por IA com a treta de Zelensky com Trump no Saguão Ovíparo, esta parece muito engraçada, de tão infantil, e brinca com a afirmação do Tio Patinhas de que “a Ucrânia não tinha cartas”, figurando a suposta falta de elementos pra sair em vantagem numa hipotética negociação com Putler. Adivinha o que começou a aparecer aos montes: cartas de baralho, rs!
Mas a situação no front, a que mais interessa na prática, está muito mais complicada do que parece, e segui-la é tão estonteante quanto acompanhar cada mudança de tom e linguagem da Bely Dom. Se os ucranianos podem deixar a região russa de Kursk a qualquer momento – por falta de recursos, e não porque “estão cercados”, como quer fazer crer certa propaganda –, a ofensiva invasora praticamente estagnou há semanas. Mesmo na região ucraniana de Donetsk (“DNR” é o ânus da tua genitora!), os porcos estão escorregando e sendo detidos pela defesa patriótica, e sequer a miúda Pokrovsk pôde ser completamente tomada, e nem vai ser, ao que tudo indica. Portanto, com esse virtual “congelamento” (a não ser que um milagre permita a Kyiv retomar territórios), pode-se falar na verdade de uma “guerra de atrição”, sem resultado pra ninguém.
É curioso como o Kremlin quer apresentar a retomada de Kursk, especialmente da cidade de Sudzha, como uma “grande vitória” na parada de Nove de Maio. Na verdade, era uma manobra que ele sequer devia ter permitido, demorou mais de seis meses pra retomar a iniciativa e só agora o Cabeça de Rola resolveu “zelenskizar” e visitar a região totalmente fardado. Antes, em manobras militares, ele aparecia só com um jaquetão camuflado por cima do traje social, mas agora parece que até ele resolveu “dispensar o terno”. Pra piorar, não só o ditador jamais tinha ido visitar os civis afetados, como os próprios propagandistas da TV estatal zombavam da cara deles, dizendo que tinham que “resistir em armas” e que “reclamavam demais”! Pra quem sequer foi visitar o Crocus City Hall depois do atentado (do qual chegaram a acusar até a “junta de Quiévi”), é um passo e tanto, e certamente um indício de fragilidade...
Mas hoje, quem tem a autoridade pra falar em cartas são dois intelectuais muito especiais que quero trazer aqui, embora eu não tenha tido tempo de transcrever nem traduzir o conteúdo. (Se alguém se voluntariar, fique à vontade pra me escrever!) Primeiro, o professor e pesquisador britânico Tarás Kúzio, politólogo de ascendência ucraniana, explicou na edição de 13 de março de 2025 do programa International Edition, da Voice of America, que Putin nunca quis a paz, porque sequer reconhece a existência da Ucrânia enquanto Estado independente e os ucranianos, como um povo diferente dos russos. E segundo, o jornalista e diretor Antoine Vitkine falou na edição de 12 de março do programa francês C dans l’air de sua investigação (Operação Trump: os espiões russos à conquista da América) sobre as relações de um Donald à beira da falência na década de 1980 com a máfia soviética, parte da qual gangrenaria a futura política russa.
“Vovô, deixa eu tirar um pentelho de sacóvski uma casquinha de feijão da sua boca?”
Quinta-feira passada a Palmirinha (com toques de Velha Surda/Boris Casoy, claro!) ressuscitou na TV francesa como “Palmirinho”, o tiozão do churrasco, rs:
O cartaz da época da 2.ª Guerra Mundial acima, que representa a confraternização entre um camponês ucraniano e um soldado do Exército Vermelho (também há originalmente acima deles uma frase de Stalin traduzida pro ucraniano...), geralmente é interpretado pela mauvadêsa ossidentau como “algo a mais”, por assim dizer. Dessa forma, ele foi meu suporte ideal pra que eu pudesse fazer um trocadilho com o Z comumente usado pelos defensores da agressão putinista à Ucrânia e uma frase popular que reza: “Odín raz, ne pidorás” (literalmente, “Uma vez, não (é) veado” – os termos nas duas línguas são pejorativos). Se refere ao (suposto) fato de que, se vocêfoi “sodomizado” só uma vez, não significa necessariamente que você seja homossexual. Infelizmente, a fita de São Jorge da resistência antinazista foi deturpada com esse fim, mas mesmo assim coloquei também na última palavra, já que no final de ambas o som é o mesmo...
Também é uma forma de criticar aqueles que, embora cultivando a memória da “Grande Guerra Patriótica” (e esquecendo os crimes internos e externos de Stalin de 1939 a 1941), legitimam a invasão em curso, ignoram os efeitos sobre a própria sociedade russa e adotam uma visão de mundo retrógada e reacionária que faria inveja a qualquer fascista da década de 1930. Curioso que muitos “escravocetas” bananeiros tenham essa imagem idealizada da Rússia, não somente das mulheres “loiras, perfeitas e parecendo modelos”, mas também comprem essa visão parcial e idealizada da história e esqueçam os outros povos não eslavos que lá vivem, sobretudo na Sibéria e no Cáucaso. Quem me acompanha desde o Pan-Eslavo Brasil sabe que sempre tentei resgatar os tártaros, chechenos, circassianos etc., tão dignos de serem conhecidos quanto os “rússkie” eslavos. Mais curioso ainda: os “ruscistas” (fascistas russos) gostam de pôr em relevo essa “diversidade de povos” e o “respeito” à mesma diversidade, mas quando acontece alguma coisa envolvendo imigrantes, os inocentes entre estes são os primeiros a apanhar, e os “ruscistas”, os primeiros a bater.
Esses dias tenho mexido um pouco no aplicativo Tandem, pra achar parceiros de prática de idiomas ao redor do mundo. Claro, há vários recursos acessíveis apenas a assinantes (mas há uma semana de teste grátis no começo pra “fazer a festa”!), mas apesar das limitações, na verdade poucas, da conta gratuita, recomendo seu uso. E, sobretudo, se você tiver tempo, ao contrário de mim, de ficar de papo furado na internet com gente desconhecida, desta vez pelo menos com a vantagem de usar outras línguas e conhecer outras culturas, rs. Já usei várias vezes e apaguei a conta por falta de paciência, portanto, não sei até onde vai durar a minha atual. Mesmo assim, com o acesso ao Premium, já fiz alguns experimentos sociológicos interessantes, como colocar o russo como língua materna, o português como língua de aprendizado e ver o que aparecia nas recomendações. Me deparei com esta conta, que desidentifiquei por razões óbvias, mas que comprova a tendência supracitada: a de normalizar qualquer contato com a Rússia num momento em que, além de um genocídio, um culturicídio e, certamente, um ecocídio (barragem de Nova Kakhóvka...), ela está dilapidando sua própria integridade como Estado funcional – a “deliquescência”, no jargão especializado.
Muitos me acusariam de “russofobia”, porque o interesse do rapaz (ele ia levar a família toda?...) seria apenas “na cultura russa”, e não no “regime” ou na “ditadura”. Olha, sinceramente, alguém que está totalmente por fora do caos que a governança moscovita se tornou, e que mesmo assim deseja viver num país que claramente provocou uma guerra não justificável por qualquer outra birra pra com o Ossidentx Mauvadaum, ou é muito burro, ou é cúmplice do putinismo. Ora, cultura russa, excetuada a internet, você encontra em muito lugar com diáspora, não precisa ir se lascar num país empobrecido e que sequer tá recebendo bem estrangeiros, nem mesmo os da Ásia Central.
Grazadeus, não brigo nas redes há anos, mas confesso que umas semanas atrás quase tive uma altercação com um senhor (não especialista, claro, e sob efeito de vinho) de meu bairro, porque estávamos conversando sobre as histórias da URSS e do “começo” da Rússia. Ele começou a defender a agressão militar falando de “neonazismo, OTAN, mísseis apontados” e toda a célebre lorota. Eu fiquei bem perturbado quando percebi que ele tava realmente convencido do que falava, e por isso parei a conversa, e mantivemos nossa relação cordial. Quando expus parte de minha opinião (gente, assisto a TVs russas ou belarussas exiladas todo santo dia!), ele falou que eu não devia ser tão “extremista”, embora eu não saiba por que defender um país agredido seria “extremismo”, apenas porque em tese (e por enquanto!) ele se encontra na órbita de influência dos EUA. O único extremista nesta história é o espião frustrado Vladímir Vladímirovich e toda a cambada de torturadores e ladrões que o rodeia!
Esse que quer viver na Rússia, sinceramente espero que obtenha a nacionalidade o mais rapidamente possível, seja astutamente embrulhado num enrosco qualquer que o obrigue a participar da “operação especial” bem na linha de frente e seja honrado eternamente como um defensor da Pátria na lista dos que viraram adubo de viburno...
Em compensação, também encontrei uma acadêmica ucraniana (que estava sob pseudônimo), ainda residente no próprio país e com uma visão bastante reveladora dos machos que usavam o Tandem e, sobretudo, escolhiam o russo como uma das línguas de aprendizado. Segue abaixo a parte principal de nosso diálogo, trazida sem a autorização dela e, portanto, sem identificação fácil de encontrar. Deixo a vocês a tradução, e apenas contextualizo que no início, perguntei sobre o que ela queria conversar, e que quando ela fala em “disputes”, se refere às brigas que acaba tendo com os tipos:
I’m not very used to write in English on my page, but since the story has once again evolved in English, I didn’t want to translate into and explain all of it in Portuguese, hehe. In this amazing edition of an NPR’s program about Latino music, an emotional story about Roberto Carlos’ song Amigo (Friend) is brought by Felix Contreras, in which he tells how a woman got moved by its lyrics in Spanish.
Yes, Roberto has composed most of his songs in Portuguese (he’s recognized as the most prominent Brazilian popular singer), and a great part of them has also been translated into Spanish to attract the rest of Latin America population. However, Contreras presented it as if it were originally written in Spanish and does not relate Roberto and his work to their actual movement, that is, the broad Brazilian ‘MPB.’ After making some corrections, I decided to publish here a letter I sent to NPR’s production, pointing out some major mistakes and omissions:
I have been very delighted this morning in listening to such a kind tribute to the simply most prolific and talented singer, composer, and musician of all Brazilian history. It is also an honor that Roberto Carlos has recorded tracks in so many languages as Spanish, Italian, and French, making him very loved by our friend Hispanic neighbors.
However, even if the woman in the story found Amigo a life-change masterpiece, I cannot help making some remarks on imprecisions and omissions about Roberto and that song, what prevents listeners to find out all complexity behind the topic.
First, you did not even mention that the original language of the song is PORTUGUESE, and I guess you know, as most of Americans, that Brazil’s official language is not Spanish. Fortunately, most of Roberto’s songs were translated into this language to be enjoyed also in the Hispanic world.
Second, ‘Carlos’ is not his last name (or surname), but a second name. His last name is Braga, but Erasmo Esteves (died in 2022) was such a close friend of Roberto’s that they regarded themselves as brothers (irmão or hermano, following the first verse of Amigo). Thus, Erasmo chose ‘Erasmo Carlos’ as his stage name, and that makes no sense in saying that ‘They are not related, despite sharing the same name.’
And third, there is also not a single mention to the movement which Roberto is really linked to, that is, the ‘MPB’ (Brazilian Popular Music), a concept too broad and of complex definition. What I can say is that, despite the undeniable Hispanic influences, any attempt to bound MPB to ‘Latino’ music in general is quite problematic, so is the relationship between Brazilian cultures and the broader Hispanic world.
Indeed, the recent tendence of Brazilians, especially students and scholars, living in the US to identify themselves as ‘Latinos,’ ignoring possible confusions with the Hispanic world, has been rather political than cultural. (But do not understand me wrongly: I do not mean Brazilians cannot anyway be considered ‘Latinos,’ but the point is the total absence of MPB in your story, which is far more relevant to describe Roberto’s work than any affiliation to ‘Latinoity.’ I guess, after all, translating his songs have had much more a financial than an intercultural sense...)
And despite much criticism, mostly against the way he treats other people, Roberto is simply considered the ‘King’ of the MPB, what is not without relevance in Brazil!
A prática da vida sempre nos ensina muitas coisas diferentes! Devemos tirar lições da prática e repassar às pessoas de nossa estima. Veja também o exemplo de Amadeu Marques, autor do antigo livro Say It Right! pra ajuda na pronúncia do inglês: ele gosta de indicar as pronúncias corretas por meio da rima com palavras que, em geral, já conhecemos. Infelizmente, na época dele ainda não havia nem smartphones nem essa praga chamada “tigrinho”, e ele não teve oportunidade de fazer uma associação genial:
Nunca é tarde pra trocar de profissão ou começar um novo ofício, vamos parar com o etarismo! Após longos anos fazendo a mesma coisa, temos o direito de mudar de rota e ser acolhidos por aqueles que podem nos ajudar. Os currículos virtuais e as redes sociais profissionais são um grande trampolim nesse sentido, pondo em evidência suas melhores qualidades e facilitando o contato com os empregadores. Aqui segue um exemplo de ampla experiência, mas com urgente necessidade de recolocação na jaula de uma prisão no mercado de trabalho, Arbeit macht frei! (agradeço a um amigo pela sugestão):
Este conteúdo já era pra ter ido ao ar há mais de um ano, mas como você pode pressupor, várias razões alheias a minha vontade impediram que eu o trabalhasse mais atentamente. Nas eleições presidenciais francesas de 2022, um candidato novo de um partido ainda mais novo causou sensação ao tentar se posicionar ainda mais à extrema-direita do que o RN de Marine Le Pen e ter atraído inclusive a sobrinha desta e ex-membro daquele partido, Marion Maréchal. Éric Zemmour (n. 1958), filho de judeus amazigues (ou árabes, segundo alguns historiadores) emigrados da Argélia, é um escritor e jornalista que fundou seu partido “Reconquête” (Reconquista) tendo como bandeira principal o combate à imigração legal e a restrição da imigração em geral, com base na infundada teoria do grand remplacement (grande substituição). Segundo ela, se nada for feito, o número de imigrados, sobretudo árabes e subsaarianos, em algum momento suplantará o de franceses cristãos “de souche” (“da cepa”), destruindo a identidade nacional e “islamizando” a França.
É estranho que um filho de imigrantes de uma ex-colônia francesa, ainda por cima praticante da religião judaica, possa se alinhar com pessoas e ideias que praticamente renegam sua própria pessoa, mas seu histórico de ofensas pessoais, machistas e raciais pode fazer jus às próprias opiniões políticas. Nas citadas eleições de 2022, em que Emmanuel Macron venceu o segundo turno contra Le Pen, Zemmour amargou um quarto lugar atrás do esquerdista radical Jean-Luc Mélenchon, mas ainda assim ficou bem à frente das candidatas dos tradicionais Partido Socialista e Os Republicanos (os quais, em todo caso, têm muito mais enraizamento local e regional). Isso causou o receio de que seu discurso, ainda mais que a França está dilacerada por vários conflitos sociais, fosse normalizado pelo mainstream, como ocorreu com Bolsonaro, mas desde então o partido e seu fundador praticamente hibernaram. Só agora estão acordando sonolentos, com a proximidade das eleições parlamentares europeias, com direito a Marion Maréchal tremulando seus cabelos loiros na ilha de Lampedusa pra fazer populismo eleitoral em cima de refugiados precarizados.
Mas no início de 2022, o que me interessou exatamente foram algumas de suas declarações na sequência do Brexit, argumentando que o inglês tinha sido imposto à União Europeia como língua franca e que o francês deveria ocupar seu lugar, já que teria verbalizado a fundação das instituições da Europa. Mais do que advogar em causa própria, podemos ver que Zemmour exibe aquele batido chauvinismo linguístico, típico de todo reaça, que vê o idioma como sendo ou tendo sido, em algum ponto do tempo, puro e imutável. Não é a primeira vez que isso ocorria na França, a exemplo da fracassada “Lei Toubon” (batizada jocosamente de “Lei All-Good”), e já houve muitos Aldos Rebelos que quiseram banir os estrangeirismos de um Brasil que foi feito por estrangeiros, povos nativos e africanos escravizados.
Embora afirme conhecer o hebraico (provavelmente o bíblico), Zemmour não parece primar pelo poliglotismo, e antes de finalizar esta publicação, acabei achando o trecho de uma entrevista em que ele afirma falar o inglês “trop mal” (ruim demais). Porém, quando achei os primeiros materiais sobre sua relação com a língua inglesa, quis também saber se ele falava mesmo outros idiomas, e mesmo não sendo exatamente um esclarecimento, e sim uma opinião política, esta resposta de um certo Chris Price à pergunta “Éric Zemmour fala bem inglês?” na rede social Quora, dada em 15 de setembro de 2021, dá uma medida dos valores em jogo (que o leitor julgue sua veracidade):
Je n’ai jamais entendu Éric Zemmour parler anglais et je ne pense pas qu’il le parle couramment. Il peut probablement le déchiffrer à l’écrit comme la plupart des journalistes français, mais son nationalisme exacerbé, sa xénophobie et son manque d’ouverture aux cultures extérieures ne lui permettrait pas de le parler couramment. Pour bien parler une langue étrangère, il faut être ouvert, ne pas avoir peur de se mettre en échec, accepter d’avoir tort et être capable de penser différemment, toutes choses qu’Éric Zemmour montre qu’il est incapable de faire.
Nunca ouvi Éric Zemmour falar inglês e não acho que ele fale fluentemente. Provavelmente ele consegue o decifrar por escrito, como a maioria dos jornalistas franceses, mas seu nacionalismo exacerbado, sua xenofobia e sua falta de abertura às culturas externas não lhe permitiriam falá-lo fluentemente. Pra falar bem uma língua estrangeira, é preciso ser aberto, não ter medo de falhar, aceitar errar e ser capaz de pensar de formas diferentes, todas coisas que Éric Zemmour mostra ser incapaz de fazer.
Seguem os vídeos e seus respectivos títulos, originais ou atribuídos, de uma crônica matinal e do trecho de uma entrevista, que eu mesmo transcrevi (ótima ferramenta pra estudantes) e traduzi pro português:
L’insupportable domination de l’anglais (A insuportável dominação do inglês), rádio RTL, rubrica “Zed comme Zemmour” (Zê de Zemmour) do programa matinal, 8 de fevereiro de 2012.
– Bom dia, Éric Zemmour!
– Bom dia!
– Bem, você vai ficar feliz, como todos nós aqui na RTL, em saber que nosso amigo Stéphane Bern recebeu ontem o Prêmio Roland-Dorgelès, que prestigia os profissionais do audiovisual especialmente vinculados à língua francesa. Porque esta manhã parece que você está chateado após Luc Châtel ter apresentado o relatório da Comissão Estratégica de Línguas, relatório que recomenda o aprendizado de uma segunda língua desde o sexto ano, Éric.
– Sim, we are ridiculous, “nous sommes nuls” [somos uns idiotas], em francês. Há anos não param de nos dizer, os relatórios se acumulam pra repeti-lo: tanto os ministros de direita quanto os de esquerda se sucedem pra nos causar vergonha. E nós também somos sempre idiotas: nos prometem línguas estrangeiras no primário, depois no maternal, e em breve na barriga de nossa mãe. Mas de nada adianta: idiotas. Não se consegue ensinar o inglês corretamente pra nos ajudar, nos prometem duas línguas vivas a partir do sexto ano – e por que não três? De fato, a questão das línguas estrangeiras é posta de maneira muito hipócrita: na verdade, o que se coloca é a questão do inglês. O inglês, o latim dos tempos modernos, a língua do Império, não o Romano, mas o Americano. O objetivo de nossos dirigentes políticos, econômicos e universitários é de transformar os pequenos franceses em perfeitos franco-americanos, como houve os galo-romanos. Mas eles não conseguem. Então dão um jeito, eliminando os jovens avessos ao inglês das escolas superiores, mesmo se isso também as priva de sujeitos brilhantes; mesmo se o aprendizado de uma língua estrangeira é um revelador formidável das desigualdades sociais. Nos grandes grupos franceses do CAC 40 [principal índice da Bolsa de Paris], os conselhos de administração são realizados em inglês, mesmo em Paris, mesmo entre franceses. Ao mesmo tempo, o ensino da língua francesa é desdenhado, desprezado. As gerações jovens balbuciam uma sintaxe truncada, um vocabulário empobrecido. Ao contrário do inglês, língua sem academia, à sintaxe do simplismo, que era popular, o francês foi uma língua forjada pelas elites, cujas complexidades ortográficas, por exemplo, foram multiplicadas pra que fosse digna do latim admirado e substituído. Hoje o francês está se despedaçando, morrendo, como se ele não resistisse ao menosprezo das elites contemporâneas.
– Concordo quanto ao francês, Éric, mas espere: basta irmos pro exterior pra constatarmos que falamos muito menos inglês do que outros.
– Sim, sim, mas uma língua não é apenas um meio de comunicação. Também é uma ferramenta pra formar os cérebros, os espíritos, definir uma cultura, uma civilização. Língua é visão de mundo. Língua é política. O inglês, ou mais exatamente o “globish English” papagaiado em toda parte, é a língua da mundialização do sistema econômico liberal e global que nos governa. Foi pra afirmar a soberania da França que o rei Francisco 1.º, em seu famoso Édito (ou Ordenação) de Villers-Cotterêts em 1539, impunha a língua francesa no lugar do latim. O retorno a um bilinguismo semioficial inglês-francês é um símbolo formidável da submissão à ordem do mundo. Segundo um estudo recente realizado na União Europeia, os franceses são, junto com os espanhóis, os que menos sentem vontade de utilizar outra língua senão a própria. Deveríamos acrescentar aí os ingleses, mas ninguém exige que os ingleses falem uma língua estrangeira. Os dois povos europeus mais avessos são, pois, justamente os que tiveram vastos impérios e cuja língua, em certo momento da história, foi considerada como uma linguagem universal. Como se falar inglês consagrasse seu rebaixamento histórico, sua provincialização. A última moda nas famílias burguesas francesas é empurrar seus rebentos pro aprendizado do chinês, como se eles já quisessem se precipitar aos pés dos próximos senhores do mundo.
– Bonjour, Éric Zemmour !
– Bonjour !
– Alors, ça va vous faire plaisir, comme à nous tous ici à RTL, de savoir que notre ami Stéphane Bern a reçu hier le Prix Roland-Dorgelès, qui recompense les professionnels de l’audiovisuel particulièrement attachés à la langue française. Parce que je vous sens chagriné ce matin après la présentation par Luc Châtel du rapport de la Commission stratégique des langues, rapport qui prône l’apprentissage de la deuxième langue dès la sixième, Éric.
– Oui, we are ridiculous, “nous sommes nuls”, en français. Depuis des années on ne cesse de nous le dire, les rapports s’accumulent pour le répéter : les ministres de gauche comme de droite se succèdent pour nous faire honte. Et nous sommes toujours aussi nuls : on nous promet les langues étrangères en primaire et puis en maternelle, bientôt dans le ventre de notre mère. Mais rien n’y fait : nuls. On n’arrive pas à apprendre l’anglais correctement pour nous aider, on nous promet deux langues vivantes dès la sixième – et pourquoi pas trois ? La question des langues étrangères est en fait posée de manière très hypocrite : c’est la question de l’anglais qui se pose en réalité. L’anglais, le latin du temps moderne, la langue de l’Empire, non pas Romain, mais Américain. L’objectif de nos dirigeants politiques, économiques, universitaires est de transformer les petits Français en parfaits Franco-Américains, comme il y eut des Gallo-Romains. Mais il n’y arrivent pas. Alors ils manient la trique, éliminent les jeunes gens rétifs à l’anglais des grandes écoles, même s’ils se privent ainsi de sujets brillants ; même si l’apprentissage d’une langue étrangère est un formidable révélateur des inégalités sociales. Dans les grands groupes français du CAC 40, les conseils d’administrations se déroulent en anglais, même à Paris, même entre Français. Au même moment, l’enseignement de la langue française est dédaigné, méprisé. Les jeunes générations ânonnent une syntaxe trunquée, un vocabulaire appauvri. Contrairement à l’anglais, langue sans académie, à la syntaxe du simplisme, parce que populaire, le français fut une langue façonnée par les élites, dont les complexités orthographiques, par exemple, firent multipliées à loisir pour être digne du latin admiré et remplacé. Aujourd’hui le français s’étiole, se meurt, comme s’il ne résistait pas au mépris des élites contemporaines.
– D’accord pour le français, Éric, mais attends : il suffit d’aller à l’étranger pour constater qu’on parle beaucoup moins l’anglais que d’autres.
– Oui, oui, mais une langue n’est pas seulement un moyen de communication. C’est aussi un outil pour former les cerveaux, les esprits, définir une culture, une civilisation. Une langue, c’est une vision du monde. Une langue, c’est de la politique. L’anglais, ou plus précisément le “globish English”, recraché partout, est la langue de la mondialisation du système économique libéral et global qui nous régit. C’est pour affirmer la souveraineté de la France que François Ier, dans son fameux Édit de Villers-Cotterêts en 1539, imposait la langue française à la place du latin. Le retour à un bilinguisme quasi-officiel anglais-français est un formidable symbole de soumission à l’ordre du monde. Selon une étude récente réalisée dans l’Union européenne, les Français sont, avec les Espagnols, ceux qui ressentent le moins l’envie d’utiliser une autre langue que la leur. On devrait y ajouter les Anglais, mais personne ne demande aux Anglais de parler une langue étrangère. Les deux peuples européens les plus rétifs sont donc justement ceux qui ont eu de vastes empires et dont la langue, à un moment de l’histoire, fut considérée comme un langage universel. Comme si parler anglais consacrait leur rabaissement historique, leur provincialisation. La dernière mode dans les familles bourgeoises françaises est de pousser leurs rejetons vers l’étude du chinois, comme s’ils voulaient déjà se précipiter aux pieds des prochains maitres du monde.
“L’anglais a complètement écrabouillé les autres langues” (O inglês esmagou completamente as outras línguas), programa de debates do canal CNEWS, 16 de fevereiro de 2021.
L’anglais a complètement écrabouillé les autres langues, et en particulier le français, et effectivement si les Anglais n’étaient pas sortis, s’il n’y avait pas eu le Brexit, on n’aurait même pas cette discussion. C’était acté pour tout le monde, et les Français, une fois de plus, pour la plupart, avaient accepté leur défaite. C’est uniquement parce que les Anglais sont sortis qu’il ne reste, en vérité, que deux pays, Malte et Irlande, à parler anglais. Donc ça fait 5 [cinq] millions d’habitants sur 540 [cinq-cent-quarante] millions, 544 [cinq-cent-quarante-quatre] millions, donc ça fait pas lourd ! Qu’on commence à se dire : “Mais tiens, on pourrait opter de parler autre chose que l’anglais”, voyez ! Et que les esprits s’échauffent. Donc je pense effectivement que c’est le moment de lancer une controffensive en faveur du français, de rappeller que le français était la langue originelle des institutions européennes, que l’anglais ne devait pas le remplacer et qu’il n’y a aucune raison de parler anglais alors que les Anglais en sont sortis. Bien, c’est l’occasion rêvée, encore faut-il la souhaiter et engager le combat.
O inglês esmagou completamente as outras línguas, e em especial o francês. Definitivamente, se os ingleses não tivessem saído, se não tivesse havido o Brexit, sequer estaríamos tendo essa discussão. Todo mundo já tinha percebido, e os franceses, mais uma vez, em sua maioria, tinham aceitado sua derrota. É unicamente porque os ingleses saíram que só restam, na verdade, dois países, Malta e Irlanda, que falam inglês. E isso dá 5 milhões de habitantes entre os 540, 544 milhões, portanto não é muita coisa! Comecemos a dizer: “Mas veja, podíamos escolher falar outra coisa que não fosse inglês”, entendam! E que os espíritos se inflamem. Então penso definitivamente que é hora de lançarmos uma contraofensiva a favor do francês, de lembrar que o francês era a língua original das instituições europeias, que o inglês não deveria o substituir e que não há nenhuma razão pra falar inglês agora que os ingleses as deixaram. Bem, é a chance dos sonhos, falta ainda velar por ela e travar o combate.