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quinta-feira, 13 de junho de 2024

Meu Big Brother Brasil dos sonhos


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/mix-politica11



Quem nunca pensou em sua própria lista pro Big Brother Brasil, ou quem nunca brincou com novas possibilidades bizarras entre amigos? Inspirado numas conversas que tive com um amigo, fiz minha própria lista com personalidades mais ou menos conhecidas da internet e do mundo da cultura, sabendo que pensei em muitas outras mais e que você pode a achar incompleta e ter esperado outros nomes, rs. Mesmo tentando ser representativo entre gênero, sexualidade, ideologia, idade e cor, foi a isto que cheguei. Uma das primeiras montagens dessa monta que consegui fazer, relembrando a primeira edição, única da qual tenho alguma “nostalgia”:


Foi revelado que Liza, filha de Dmitri Peskov, porta-voz de Vladimir Putin pra imprensa, está sob sanções ocidentais (porque ela vive nas custas do papai, e como este está sancionado...), mas ainda consegue fazer compras de luxo no Cazaquistão. As fotos mostradas outro dia na Radio Svoboda são tão fofas que decidi fazer uma montagem orkutizada com o trecho, usando uma canção ainda mais brega de Rick & Renner sobre o “amor de pai”, rs:


Até o cacique Raoni, agora “Cavaleiro da Legião de Honra” da França (seja lá o que isso signifique numa República), tá mandando o Lula acordar diante da queda livre da popularidade do governo. Olhe a cara de medo da Jararaca, até o Macron precisa “traduzir” o apelo, rs:


Andréia Sadi, alguns anos atrás, involuntariamente resumia no Jornal Hoje como todos os partidos alternantes sempre tentam “mamar nas tetas do Estado”, sem exceção alguma (ignore o “TV Eslavo” de meu antigo YouTube):


A canção Moshiach (ou Mashiach, “Messias”), típica do judaísmo hassídico, é interpretada nesta versão pelo cantor Mordechai Ben David, também conhecido como MBD. Há também a versão mais célebre de Eitan Masuri, com tradução em português no link, mas em todo caso, pra quem não sabe do que se trata nem entende hebraico, não vai distinguir do tema de abertura de qualquer desenho japonês que fazia sucesso na extinta TV Manchete na primeira metade da década de 1990, rs. Só agora estou publicando, mas faz um tempo que fiz esta montagem com parte do primeiro áudio pra mostrar como pode não fazer nenhuma diferença. Meu próprio amigo que me apresentou a música adorou a montagem, e outros comentaristas nos vídeos da gravação também acharam parecida com o gênero nipônico:


As prisões francesas são condenadas na TV estatal por acolherem cecço, dorgas e... telefone, rs:


sexta-feira, 5 de abril de 2024

Pica-Pau em árabe + abertura nashiid


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/picapau-ar


Eis aqui um conteúdo interessante que até poderia viralizar se tivesse sido botado no YouTube, mas vamos ficar por aqui mesmo... Há alguns anos, viralizou um vídeo mostrando como foi dublado em vários países um dos surtos de raiva da vilã Carminha, interpretada por Adriana Esteves na novela Avenida Brasil (2012). Grande interesse foi revelado nos comentários, sobretudo, pela versão em árabe (um padrão simplificado, acredito), que pros ouvidos brasileiros soava muito engraçada!

Não sei bem se foi por causa disso ou se foi por alguma outra razão que ou achei por acaso, ou procurei os desenhos do Pica-Pau dublados em árabe, que não são poucos: só este vídeo, por exemplo, tem quatro horas e quinze minutos, e provavelmente contém todos os episódios já exibidos no Brasil. Selecionei abaixo apenas os momentos mais conhecidos, ou que pelo menos acho mais engraçados, e no final coloquei também a parte mais famosa do episódio do “rachador”, em que o Pica-Pau dirige que nem um louco numa estrada e é parado por um guarda.

Em árabe, o bichinho é chamado نقار الخشب (naqqaar al-khashab), bem literalmente “bicador/batedor de madeira”. Pra quem entende um pouco como a língua funciona, naqqaar (نقار) é o chamado “substantivo ocupacional” (ou seja, “o que faz alguma coisa”) relativo à raiz verbal naqara (نقر) (bater, bicar). Khashab (خشب), acima com o artigo definido, é a madeira processada ou na natureza, enquanto produto de consumo, ou a árvore vista como fonte de produção da madeira.

No total deu quase 8 minutos, e você pode baixar o vídeo, se desejar, pra usar algum trecho nas redes sociais ou fazer memes, rs. Logo depois estão indicados os minutos (a ser acessados, infelizmente, de forma manual) em que aparecem as cenas famosas, geralmente conhecidas como bordões na cultura pop brasileira. São versões mais recentes do cartoon, portanto infelizmente não consegui achar o clássico Bathing Buddies (“boliña de gorfe”) com o Leôncio, que é mais antigo... Se você entende árabe ou conhece alguém que entenda, e acha interessante ter os trechos transcritos e traduzidos ao pé da letra, pode entrar em contato comigo também (ver canto superior direito). Bom divertimento!


Início: Zé Jacaré faz seu “vodu” dentro de uma caverna e canta aquele verso que pra nós (mas não em árabe!) parece algo como “Rígbi, rígbi, rígbi tchu!”

10 seg: Gina Estafa começa seu programa de rádio sobre “o culto do voduísmo”.

17 seg: “Vodu é pra jacu!”

23 seg: Wild Bill Hiccup: canção do início e momentos em que o caubói começa a soluçar ao falar ou ouvir o próprio nome.

45 seg: O cachorro da empresa telefônica dizendo “Testando: um, dois, três” (Ikhtibaar: waahid, ithnaan, thalaatha).

47 seg: Idem, dizendo “Em todos esses anos nesta indústria vital, esta é a primeira vez que isso me acontece.”

55 seg: Pica-Pau hipnotiza o Zé Jacaré cantando: “Dorme, filhinho do coração. Não tenha medo do Bicho Papão!”

1 min 6 seg: Acontece um acidente na obra em que o único operário (!) dizia nunca ter sofrido um acidente: “Não vá sofrer um acidente... Sofreu!”

1 min 14 seg: Episódio do pai e filho ursos que parecem comer só quando os visitantes do parque lhes dão alguma coisa. Logo no início, o filho: “Esse é meu pai!” (Haadhaa huwa abii!), e logo a seguir, “Hmmm, bolo de morango!”, que ficou engraçada porque todo mundo parece escutar “bolho de murango”, rs.

1 min 21 seg: “Agora uma palavra do nosso patrocinador: Socorro!”

1 min 26 seg: Náufrago que habitava uma ilha e só comia coco, e quando vê o Pica-Pau chegando, quer comê-lo devorá-lo. Quando criança, eu gostava do nome do episódio: “Pica-Pau tropical”, rs.

1 min 42 seg: GRANDE CLÁSSICO: “Chamando o doutor Hans Chucrutes!”

1 min 51 seg: Canção em que no começo o Pica-Pau canta que “só tem azar”, e depois, quando acha um trevo de quatro folhas, canta “sorte grande, sorte grande!”.

2 min 23 seg: O show do mágico que o Pica-Pau interrompe com o barulho da pipoca: “Obrigado (Shukran lakum), obrigado. Como meu primeiro truque...”

2 min 37 seg: Episódio “Em Roma, faça como os pica-paus”, em que o pássaro faz diversos penteados e um número de “exibição” circense com um leão que pertencia a um imperador assemelhado a Nero.

3 min 40 seg: Pra se livrar do frio, Pica-Pau vai jogando na lareira o álbum de família dizendo: “Adeus, fulano! Adeus, beltrano!” Mas quando vê o tio (’amm, subentende-se “tio paterno”, o que nem o inglês, nem o português precisa) Scrooge, pega-o de volta e vai o procurar em sua mansão.

4 min: Scrooge (óbvia inspiração no romance de Charles Dickens e mesmo nome original do Tio Patinhas) é tão sovina que até os mergulhos (!) do torrão de açúcar no café devem ser contados. O mordomo dá “dois mergulhinhos” e Scrooge tem um chilique, dizendo que “um mergulho basta”.

4 min 10 seg: Pica-Pau vende esculturas de madeira e está esculpindo um índio. Ele atende ao telefone: “Alô? Eu não ouço nada! (Sopra.) Melhorou”, que muita gente também escuta “melholou”, rs.

4 min 16 seg: O delegado: “Tentando me enganar com um índio de madeira!” Mais pra frente ele também lê na caixa: “Um índio de madeira” (Hindiyyun khashabiyyun waahad). Pros estudantes: o numeral waahid (waahad consta ser dialetal sul-levantino) é usado depois, como substantivo, pra ressaltar a unidade, o caráter isolado. A noção de indefinição é dada pela simples ausência de determinantes, em especial do artigo al- prefixado.

4 min 23 seg: O delegado: “Um índio de papel!” Desta vez é um hindiyyun waraqiyyun, que vem de waraq (papel).

4 min 28 seg: “De volta à fase de planejamento!” Em outros momentos do episódio, o funcionário diz “De volta ao planejamento!”

4 min 33 seg: OUTRO CLÁSSICO! Aquele episódio em que o casal se chama mutuamente de “mãe” e “pai” (algo considerado “caipira” no Brasil...), e que tem tanta parte engraçada que nem vou apontar cada uma, rs. Quando eles se batem, “Foi você sim!” (quem comeu a comida) é Akaltahaa! (lit. “Você a comeu!”), e “Não fui eu!” é Lam aakulhaa! (lit. “Eu não a comi!”).

5 min 14 seg: “Meu pangaré é um cavalo amigo que anda, que anda comigo...”

5 min 39 seg: “O meu pangaré é uma boa comida, me enche, me enche a barriga...”

5 min 53 seg: “Éééé, eu sou o Lobo Mau e vou comer uma vovó bem gorda no jantar, hehehe!”

6 min 3 seg: Músicas que o Pica-Pau canta, e parte final onde ele leva sacos de ouro pra vender na cidade, mas descobre que é “ouro dos tolos”.

7 min 18 seg: O policial (shurtiyy) rodoviário está procurando um “rachador”, que na verdade é o Pica-Pau fazendo barbeiragens na estrada.



Isto é bizarro: abertura em árabe do Pica-Pau, provavelmente de algum momento da década de 1990, em versão “islâmica”, ou seja, só a cappella, inscrições em árabe e cenas de episódios. Um verdadeiro nashiid...

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

O último discurso (“O grande ditador”)


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/chaplin-discurso

Aqui está outro texto que publiquei num antigo site sobre esperanto por mim mantido entre 2005 e ca. 2007. Trata-se do belo discurso proclamado por Charles Chaplin, no papel de Adenoid Hynkel, no filme O grande ditador, em que ele parodia Adolf Hitler e seus objetivos totalitários. O interessante é que no bairro dos judeus na “Tomânia”, muitas placas e nomes de lojas estão escritos num esperanto mais ou menos correto! Quem traduziu o discurso pro esperanto foi o esperantista alemão Hans-Georg Kaiser (n. 1954), também conhecido pelo pseudônimo “Cezaro”. Infelizmente o endereço original não existe mais, mas você ler seu blog atual e a tradução em português do texto de Chaplin. Seguem abaixo esta tradução (atualizei a ortografia), a tradução de Kaiser e uma pequena introdução em esperanto!


Jen alia teksto, kiun mi publikigis en malnova retejo pri Esperanto de mi subtenita inter 2005 kaj ĉ. 2007. Temas pri la bela alparolo proklamita de Charles Chaplin, rolanta Adenoid Hynkel, en la filmo La granda diktatoro, en kiu li parodias Adolfon Hitleron kaj liajn totalismajn celojn. Interese, ke en la kvartalo de la gejudoj en “Tomania”, multaj afiŝoj kaj nomoj de vendejoj estas skribitaj en pli-malpli korekta Esperanto! La Esperanta tradukinto de la alparolo estas la germana Esperantisto Hans-Georg Kaiser (n. 1954), ankaŭ konata sub la kromnomo “Cezaro”. Bedaŭrinde la originala adreso ne plu ekzistas, sed vi povas legi lian nuntempan blogon kaj la portugallingvan tradukon de la teksto de Chaplin:



Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, o gentio... negros... brancos.

Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar ou desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover todas as nossas necessidades.

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma do homem... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas duas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.

A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A próxima natureza dessas coisas é um apelo eloquente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhões de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: “Não desespereis!” A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem os homens, a liberdade nunca perecerá.

Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas ideias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como um gado humano e que vos utilizam como carne para canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos.

Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No capítulo 17 do Evangelho de São Lucas, está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou um grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de fazê-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.

É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, mas escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos.

Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontres, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!


Mi petas pri pardono, sed mi ne deziras esti imperiestro. Tio ne estas mia afero. Mi volas regi aŭ konkeri neniun. Mi volonte helpus al ĉiu, – se eblas. Al judoj, ne-judoj... nigruloj... blankuloj.

Ni ĉiuj volas helpi al ni reciproke: Homaj estaĵoj estas tiel. Ni volas vivi en reciproka feliĉo, ne per reciproka enmizerigo. Ni ne deziras hati kaj malestimegi nin. En ĉi tiu mondo estas loko por ĉiu. Kaj la bona tero estas riĉa kaj povas provizi ĉiujn.

La maniero de l’ vivo povas esti libera kaj agrabla, sed ni perdis la vojon. Avido venenis la homajn animojn, barikadis per malamo la mondon, puŝis nin en mizeron kaj al sangoverŝado. Ni evoluis rapidecon, sed enfermis nin mem. Maŝinoj, kiuj donas abundon, postlasis nin en bezono. Nia scio faris nin cinikaj, niaj sperto kaj lerto duraj kaj malafablaj. Ni pensas tro multe, ni sentas tro malmulte. Pli ol maŝinoj ni bezonas humanecon. Pli ol lerto kaj sperto ni bezonas afablecon kaj ĝentilecon. Sen tiuj kvalitoj vivo estos violenta kaj la volo de ĉiu perdita.

La aviadilo kaj la radio pli proksimigis nin. La vera naturo en tiuj aĵoj ja krias al homa boneco, krias al la universala frateco, al la unueco de ni ĉiuj. Jam nun mia voĉo atingas milionojn da senesperaj viroj, virinoj, kaj etaj infanoj - en la tuta mondo, viktimojn de sistemo, kiu torturas homojn kaj enkarcerigas senkulpulojn. Al tiuj, kiuj povas aŭskulti min, mi diras: “Ne malesperiĝu!” La mizero, kiu venis super nin, estas nenio alia krom la pasado de avido – la amareco de homoj, kiuj timas la homan progreson. La hato de la homaro pasos, kaj la diktatoroj elmortos, kaj la potencon, kiun ili forprenis de la homoj, revenos al la homoj. Kaj tiom longe, kiom homoj scios morti, la libero ne pereos.

Soldatoj! Ne fordonu vin al la bestaĉoj! kiuj malestimegas kaj sklavigas vin – kiuj komandas viajn vivojn, kiuj diras al vi, kion vi devas fari, kion pensi kaj kion senti. Kiuj severe trejnas kaj endietigas vin, kiuj traktas vin kiel bruton kaj nutras kanonojn per vi. Ne fordonu vin al tiuj kontraŭnaturaj uloj, al tiuj maŝinuloj kun maŝinmensoj kaj maŝinkoroj! Vi ne estas maŝinoj. Vi estas homoj! Kun la amo al la humaneco en viaj koroj! Ne malamu! Nur la ne-amataj malamas, kaj la kontraŭnaturaj!

Soldatoj! Ne batalu por la sklaveco! Batalu por la libero! En la deksepa ĉapitro de Sankta Luko estas skribite, ke la regno de Dio “...estas inter vi.” Nek en unu homo, nek en homgrupo, sed en ĉiuj! En vi! Vi, la homoj, posedas la povon, la povon krei maŝinojn. La povon krei feliĉon! Vi, la homoj, havas la povon por fari la vivon bela kaj libera, por fari el tiu vivo mirindan aventuron. Do – en la nomo de la demokratio – ni uzu tiun povon. Ni ĉiuj unuiĝu. Ni batalu por nova mondo, por humana mondo, por deca mondo, kiu ebligos al la homoj labori, kiu havigos al la junularo futuron, kaj sekurecon al la maljunularo.

Per tio, ke ili promesis al ni tiujn aferojn, la bestaĉoj transprenis la potencon. Sed ili mensogis! Diktatoroj liberigas sin mem, sed ili sklavigas la popolojn. Ni nun batalu por liberigi la mondon – por ŝiri teren naciajn barojn – por forigi la avidon, la malamon kaj la netoleremon. Ni batalu por mondo de prudento, en kiu la scienco kaj la progreso kondukos al al feliĉo de ĉiuj. Soldatoj, en la nomo de la demokratio, ni unuiĝu!

Hannah, ĉu vi povas aŭdi min? Kie ajn vi estas, rigardu supren al mi, Hannah! La nuboj leviĝas. Aperas la suno! El la tenebro ni eliras en la lumon. Ni alvenas en nova mondo, en pli afabla mondo, en kiu la homaro venkos sian avidon, sian malamon kaj sian brutalecon. Rigardu supren al mi, Hannah! La homa animo ricevis flugilojn kaj finfine ekflugas. Ĝi flugas en la ĉielarko, en la lumo de l’espero. Rigardu supren al mi, Hannah! Rigardu min!



Hannah

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

God Made Trump (E Deus criou Trump)


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/trump-deus


Quando achamos que o bolsotrumpismo já chegou a seus limites de ridículo e de idolatria cega, a conta do ex-presidente dos EUA na rede Truth Social (ou seja, dele mesmo) postou um vídeo de pouco mais de dois minutos, intitulado God Made Trump, literalmente “Deus fez Trump”, mas que na referência ao livro bíblico do Gênesis ficaria melhor “Deus criou Trump”. O sentido é o mesmo, ou seja, de que a galinha ruiva teria sido enviada pelo altíssimo com uma espécie de missão divina pra fazer tudo o que é descrito pelo narrador. Sabemos que esse lance de “monarquia de direito divino” é coisa do Antigo Regime e que os últimos a insistirem nesse tipo de governo literalmente “perderam a cabeça”. Mas quem não se lembra que até no dia de Nossa Senhora de Aparecida, malucos uniformizados e alcoolizados foram alvoroçar o santuário enquanto apontavam pra canecas de cerveja com a cara do Bolsonaro, dizendo “Meu deus tá aqui!”?

Julgo ter sido nosso cúmulo de decadência moral e intelectual. Mas voltando ao Norte, muitos compatriotas também acharam a montagem ridícula e assustadora, fazendo essa associação de uma figura tão caricata e truculenta com uma missão celeste. Mas a linguagem simplória, a referência ao cotidiano popular comum (uma falsa identificação do chefe com seus seguidores), o enredo improvável e as referências bíblicas são exatamente o grosso do repertório mental do trumpista médio. E levando em conta que sua vida psíquica se limita à realidade paralela construída no mundo digital, o impacto pode ser, sim, enorme, ao contrário do que nós, que nos achamos vacinados e instruídos, pensamos do alto de nossas torres de marfim.

Pra piorar, nem se trata de um texto original, e sim da paródia completa de um discurso do celebérrimo radialista americano Paul Harvey (1918-2009) chamado So God Made a Farmer (Então Deus criou um fazendeiro), dado na convenção de 1978 da FFA (Futuros Fazendeiros da América), uma organização juvenil que visa educar pro trabalho e valores do mundo agrícola. Publicado em livro pela primeira vez em 1986, tem uma temática não estranha ao mundo trumpista, que é a idealização do mundo rural e a religiosidade cotidiana, mas a “nova versão” vem inserida num imaginário conspiracionista e negador da realidade. O fato do vídeo ter sido publicado exatamente no aniversário da invasão do Capitólio, 6 de janeiro, torna a coisa ainda mais medonha.

Fora da Bolha do Donald (a Truth Social), a pérola também foi publicada num canal do YouTube que afirma lançar “notícias alternativas” (imagine quais...), bem como num perfil do Équis que reproduz exatamente as trumpadas diárias e no perfil de Marjorie Taylor Greene, deputada federal “MAGA” pelo estado da Geórgia. Este youtuber evangélico brasileiro fez um vídeo de 18 minutos comentando a propaganda como “idolatria humana”, e aos 6 min 44 seg (isto é, no segundo 404) ele exibe o vídeo, mas com as legendas automáticas da plataforma que são bastante imprecisas. Por curiosidade, também incorporei abaixo esse trecho. E de todas as transcrições mais ou menos completas que achei, nenhuma delas corresponde exatamente ao áudio, então fui “caçando” de cada uma o que batia; aí se incluem os artigos de um site chamado Mediaite e das agências Daily Kos e The Independent.

Criando minha própria transcrição que publiquei abaixo e a comparando com o áudio original, joguei no Google Tradutor e fiz diversas correções no resultado, que também segue abaixo. Ontem me dei conta que podia comparar com alguma possível tradução do So God Made a Farmer, e esse pode ser um trabalho futuro meu ou de algum herói que tenha mais tempo e paciência. Mas como meu objetivo é essencialmente informativo, fique com o resultado já alcançado; sugestões provisórias são muito bem-vindas:




E em 14 de junho de 1946, Deus olhou para Seu Paraíso planejado e disse: “Preciso de um zelador”. Então Deus criou Trump.

Deus disse: “Preciso de alguém disposto a acordar antes do amanhecer, consertar este país, trabalhar o dia todo, combater os marxistas, jantar, depois ir ao Salão Oval e ficar até depois da meia-noite em uma reunião dos chefes de Estado.” Então Deus criou Trump.

“Preciso de alguém com braços fortes o bastante para sacudir o Estado Profundo, mas também gentil o bastante para ajudar no nascimento de seu próprio neto. Alguém para irritar e domar o rabugento Fórum Econômico Mundial, voltar para casa com fome, ter que esperar a primeira-dama terminar de almoçar com as amigas, depois dizer às senhoras para ficarem seguras e voltarem logo. E ser sincero.” Então Deus nos deu Trump.

“Preciso de alguém que saiba forjar um machado, mas empunhar uma espada, que teve a coragem de pisar na Coreia do Norte, que possa ganhar dinheiro com o alcatrão da areia, transformar líquido em ouro, que entenda a diferença entre tarifas e inflação, que vai terminar sua semana de 40 horas até terça-feira ao meio-dia, mas depois dedicar mais 72 horas.” Então Deus criou Trump.

Deus precisava de alguém disposto a entrar na toca das víboras, desmentir as notícias falsas vindas de suas línguas tão afiadas quanto a de uma serpente – o veneno das víboras está em seus lábios –, mas ainda assim pará-las. Então Deus criou Trump.

Deus disse: “Preciso de alguém que seja forte e corajoso, que não tenha medo ou pavor dos lobos quando eles atacarem. Um homem que cuide do rebanho. Um pastor para a humanidade que nunca a deixará nem a abandonará. Preciso do trabalhador mais diligente para seguir o caminho e permanecer forte na fé e conhecer a crença em Deus e no país. Alguém que esteja disposto a escavar, trazer de volta a indústria e os empregos americanos, cultivar as terras, proteger nossas fronteiras, construir nossas forças armadas, combater o sistema o dia todo e terminar uma árdua semana de trabalho indo à igreja no domingo.”

E então seu filho mais velho se vira e diz: “Pai, vamos tornar a América grande novamente. Pai, vamos reconstruir um país que seja novamente invejado pelo mundo.” Então Deus criou Trump.


And on June 14th [fourteenth], 1946 [nineteen forty-six], God looked down on His planned Paradise, and said: ‘I need a caretaker.’ So God gave us Trump.

God said: ‘I need somebody willing to get up before dawn, fix this country, work all day, fight the Marxists, eat supper, then go to the Oval Office and stay past midnight at a meeting of the heads of State.’ So God made Trump.

‘I need somebody with arms strong enough to rustle the Deep State and yet gentle enough to deliver his own grandchild. Somebody to ruffle the feathers, tame cantankerous World Economic Forum, come home hungry, have to wait until the First Lady is done with lunch with friends, then tell the ladies to be sure and come back real soon. And mean it.’ So God gave us Trump.

‘I need somebody who can shape an ax, but wield a sword, who had the courage to step foot in North Korea, who can make money from the tar of the sand, turn liquid to gold, who understands the difference between tariffs and inflation, will finish his 40-hour [forty-hour] week by Tuesday noon, but then put in another 72 [seventy-two] hours.’ So God made Trump.

God had to have somebody willing to go into the den of vipers, call out the fake news for their tongues as sharp as a serpent’s – the poison of vipers is on their lips –, and yet stop. So God made Trump.

God said: ‘I need somebody who will be strong and courageous, who will not be afraid or terrified of the wolves when they attack. A man who cares for the flock. A shepherd to mankind who won’t ever leave nor forsake them. I need the most diligent worker to follow the path and remain strong in faith, and know the belief of God and country. Somebody who’s willing to drill, bring back manufacturing and American jobs, farm the lands, secure our borders, build our military, fight the system all day, and finish a hard week’s work by attending church on Sunday.’

And then his oldest son turns and says: ‘Dad, let’s make America great again. Dad, let’s build back a country to be the envy of the world again.’ So God made Trump.



Trilha sonora indicada pra esta publicação:




sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Condorito (animação chilena, anos 80)


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/condorito

Criado em 1949 pelo cartunista chileno René Ríos Boettiger (1911-2000), mais conhecido como “Pepo”, o personagem Condorito é o mais famoso dos quadrinhos do Chile, assim como a Mafalda pra Argentina e a Mônica pro Brasil, e já foi publicado em vários países da América Latina e nos EUA. Representado por um condor (condor-dos-andes) antropomorfo, carrega traços de caráter geralmente associados ao homem sul-americano: hábitos e vestimenta simples, jeito leve de levar a vida, humor sutil, astúcia, improviso pra resolver problemas e as mais inusitadas situações vividas no cotidiano. Segundo Pepo, a ideia da criação veio após assistir à animação da Disney Saludos Amigos (1946), em que os célebres personagens viajam por toda a América do Sul, pois achou que o Chile estava mal representado. O condor, afinal, é considerado uma ave-símbolo da região, e além de estar do lado direito do brasão do país, também aparece em outros brasões modernos ou históricos sul-americanos, sobretudo andinos.

Duas de suas marcas mais famosas são o salto pra trás de personagens com a onomatopeia “Plop!”, quando a história termina com a realização da piada, ou a frase “Exijo uma explicação!” dita pelo condor quando seus planos não dão certo. Condorito e as histórias incluindo outros personagens constantes, como seu sobrinho Coné (na verdade uma versão infantil do próprio Condorito), apareceram em tiras de várias publicações periódicas e em revistas próprias, e já nos primeiros anos de expansão do sucesso a equipe de desenhistas teve de aumentar. Mas como desenho animado, não houve grandes iniciativas, sendo a mais bem-sucedida a série de desenhos curtos, de menos de um minuto, que seguem abaixo, produzidos na década de 1980 em coprodução do Canal 13 com a TVE espanhola. Infelizmente, nunca foram transmitidos no Brasil, o que seria bem prático, pois os personagens não falam e há apenas efeitos sonoros relacionados à história e uma música de fundo, tornando-os adequados a quaisquer tipos de crianças, ao estilo da Augusta e do Zeno húngaros.

Aqui, certamente poucos conhecem o Condorito, a não ser que tenham alguma idade: no Brasil, só foram publicadas 12 edições de suas revistas pela Rio Gráfica na década de 1980 e oito edições pela Maltese entre 1991 e 1992. Fora isso, não há referências culturais brasileiras ao Condorito, como há a outros personagens estrangeiros, como a Mafalda, o Garfield e o Snoopy: só quem tem bastante convivência com a cultura chilena vai o conhecer. Somente em 2017 foi lançado em espanhol o longa em 3D Condorito: o Filme, que apareceu, entre vários outros países, em 2018 no Brasil e no Reino Unido, no qual curiosamente recebeu o título de Space Chicken, rs. Acho que minha primeira e única referência na infância foi um dos “gibis” de tamanho grande, que minha mãe me deu em 1993 ou 1994 (provavelmente uma edição da Maltese) e que manuseei tanto que até ficou sem capa! Mas eram historinhas bem legais, e tinham exatamente essa característica de se ambientar num universo adulto, ao contrário da Turma da Mônica e do Menino Maluquinho (Ziraldo), ou seja, as piadas tinham alguma malícia, mas nada que fosse chulo ou grotesco. A gente chamaria hoje de “humor inteligente”...

Como comprovam algumas edições mais recentes que não são montagens, reproduzidas por páginas não oficiais de brasileiros e chilenos, as histórias de Condorito estão bem mais adultas e um pouco mais “politicamente incorretas”, com constantes apelos à sensualidade feminina. Mas abaixo reproduzi apenas as vinhetas oitentistas, a maior parte delas extraída deste canal pessoal que reproduziu a coleção completa, com a (má) qualidade da época, sob o título “Condorito animado clásico”. Mas o canal oficial dos produtores atuais do Condorito também contém playlists com versões remasterizadas sem as aberturas e encerramentos originais (às quais dei preferência pra publicação) e às vezes com os títulos modificados; eu listei os vídeos com os títulos dos anos 80. Há alguns anos eles também lançaram novas historinhas em versão 3D, que decidi não republicar aqui por não serem ainda uma raridade. Bom divertimento!


Abertura (versão 1):


Abertura (versão 2):


Práctica:


Refinamiento:


Justicia:


Guerra:


Tacto:


Desastre:


Alfombra (Tapete):


Emergencia:


Lógica:


Contaminación:


Esfuerzo:


Accidente:


Cuchillos (Facas):


Caza mayor (Caça superior):


Astronautas:


Egoísta:


Ténis:


Precavido:


Bestia (Animal selvagem):


Jinete (Cavaleiro):


Ayudante:


Los bomberos:


Valiente:


Buenas noches:


Larga vida (Vida longa):


La sopa:


Persecución:


Trabajador:


Allá voy (Lá vou eu):


El patrón:


Bien jugado:


El circo:


¡Buaaah! :


Bazar:


Afortunado (Sortudo):


Inútil:


Mayordomo (Mordomo):


Rapuncel:


Desinformados:


Supercondor:


Perdido:


La huida (A fuga):


Trofeo:


Milagro:


Caída libre (Queda livre):


Sorpresa:


¡Graaauuf! :


Molestoso (Irritante):


Flechazo (Flechada de Cupido):


Vaso de agua (Copo d’água):


Superstición:


Gran escape:


Spaghetti:


¡Bang! :


Tren:


Ánimo:


Astuto:


Piloto:


Náufragos:


¡Gooool! :


Distraído:


Descuido:


El tesoro:


Mineros:


Genial:


Recuerdo (Lembrança):


Competidores:


Caja de sorpresas (Caixa de surpresas):


Exigente:


Encerramento:


sábado, 28 de outubro de 2023

É SÁBADO! O QUE VOCÊ VAI FAZER?


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/sabadou

Todos pensam que você vai estar estudando pro ENEM:


Mas você também poderia se embebedar:


Se drogar:




Assistir ao Brasileirão:


Ir ao cinema rever clássicos dos anos 80:


Tomar uma chuveirada de um helicóptero:


Escorregar num tobogã de gelo:


Ver jornais pra se informar melhor:


Frequentar o clube de conversação em inglês:


Fazer compras e reclamar dos preços:


Afogar as mágoas numa churrascaria (ATENÇÃO, quase três minutos do Craque Neto e outros Donos da Bola metendo o pau na “picanha de ouro” do Ronaldo Fenômeno logo após a eliminação da Seleção no Qatar, coletânea provavelmente única do gênero!):


Ir pro culto:


Consertar o carro:


Fazer hora extra no Bairro da Luz Vermelha:


Ou tacar aquele phodasse pros colegas de escola ou empresa:


terça-feira, 23 de maio de 2023

Florence Foster Jenkins, avó do Vitas


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/jenkins-vitas


Uns anos atrás, numa noite de sábado, minha família estava na sala vendo o filme Florence: Quem É Essa Mulher?, estrelado por Maryl Streep (papel principal) e Hugh Grant em 2016, que conta a comovente história da socialite estadunidense Florence Foster Jenkins (1868-1944), cujo sonho era ser cantora lírica, mas dados os péssimos resultados das aulas, nunca foi permitida por seu pai quando era criança. Apenas quando seu pai morreu e ela herdou sua fortuna pôde se dedicar ao “hobby” com mais liberdade, mas só tinha um porém: ela nunca deixou de cantar mal pra caramba, e só ganhou notoriedade por causa das roupas bizarras com que dava shows e dos gritos que na verdade eram seu “canto”! Felizmente, a maioria das apresentações era pra conhecidos que ganhavam o ingresso, e a renda ia pra instituições de caridade.

Porém, dada sua triste história de vida, persistiu nas aparições pra públicos cada vez maiores, dando finalmente um show especial no Carnegie Hall pouco tempo antes de morrer, em prol dos soldados feridos e mutilados que voltavam da 2.ª Guerra Mundial. Florence os alegrou bastante das chagas físicas e mentais e chegou até a gravar alguns discos, mas sua trajetória, pouco conhecida no Brasil, ficou mais pra coleção de curiosidades mesmo. O filme de Maryl Streep ajudou a divulgar a história, e hoje podem até ser achados alguns dos áudios remasterizados de Florence no YouTube, como da própria ária Queen of the Night, que aparece no vídeo acima. Só que ao passar pela sala de minha família, pensei: “Cara, essa mulher deve ter sido a avó fracassada do Vitas, o cantor-meme russo de que ainda falam tanto aqui!”

Portanto, segue aqui esta pérola, pra quem ainda não tinha visto o filme, que eu espero se tornar mais um meme emplacado, rs. Aquela que foi então chamada pelos jornais americanos de “a pior cantora do mundo”! O mais mágico é que tanto Meryl Streep está “cantando” de verdade, e não sendo dublada, quanto o ator pianista sabe realmente tocar. Do vídeo original, só cortei o quadro, o comecinho e o fim, e aumentei (como se precisasse...) o volume. O endereço indicado no Facebook é inválido:


sexta-feira, 10 de março de 2023

“Hava nagila” (Xuxa) + Chuck e Larry


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/havanagila


O vídeo original sem legendas, na fonte de onde eu o tirei, atualmente está privado, e não sei se é porque foi bloqueado por razão de direitos autorais. Trata-se de um clipe inusitado, talvez incluído na famosa coleção Xuxa Só Para Baixinhos: é a canção judaica Hava nagila (hebraico: הבה נגילה), título que significa Alegremo-nos ou Vamos nos alegrar. Todo mundo já escutou em algum momento da vida essa melodia, na verdade baseada numa canção folclórica ucraniana em estilo niggun da região da Bucovina, cuja autoria alguns atribuem aos judeus hassídicos locais. A letra, porém, possui muitas variações ao redor do mundo, e a mais conhecida e aqui apresentada pode ter sido escrita em 1918 pelo etnólogo e músico judeu de origem letã Abraham Zevi Idelsohn (1882-1938).

O compositor viveu na Palestina de 1905 a 1922 e teria composto Hava nagila em comemoração a dois eventos ocorridos 1917: a Declaração de Balfour, na qual o Império Britânico apoiava a causa de um Estado judeu na região, e a vitória britânica local sobre o Império Otomano durante a 1.ª Guerra Mundial. A partir de então, com a vigência do mandato britânico na Palestina até 1948, ano de criação do Estado de Israel, começaria uma emigração judaica massiva saída, sobretudo, da Europa. Entre eles estavam os judeus hassídicos mencionados, dos quais Idelsohn escreveu, em 1932, ter sido inspirado por aquela canção. Outros, porém, afirmam que a letra é de Moshe Nathanson, que tinha sido aluno universitário de Idelsohn em Jerusalém.

Hava nagila se tornou uma das primeiras canções folclóricas de Israel escritas em hebraico, tornando-se presença obrigatória em festas de casamentos judeus e em celebrações do bar-mitzvá. A letra é baseada no versículo 24 do salmo 18 da Bíblia hebraica, que na edição católica da Paulus (1990) tem a seguinte redação: “Este é o dia em que Javé agiu: exultemos e alegremo-nos com ele.” (Na igreja, durante o salmo responsorial, eu também ouvia a versão cantada “Este é o dia que o Senhor fez para nós,/Alegremo-nos e nele exultemos.”) Curiosamente, a primeira gravação comercial de Hava nagila foi feita em Berlim, em 1922.

A dança das crianças é assaz peculiar, e não sei que jovem atualmente consegue ler caracteres em estilo analógico. A letra, a tradução e as informações estão na Wikipédia em português e inglês, esta sendo mais rica nos relatos. Apenas fiz algumas adaptações nas legendas, e no vídeo original há também a letra em transliteração do hebraico, por isso não vou pôr aqui embaixo. De acordo com a língua, dado que a pronúncia é “naguila” com “g” gutural, às vezes a palavra pode estar grafada com ou sem o “u” (como se em italiano escrevêssemos “naghila”). Depois das legendas em português, o texto em hebraico, sem os niqqud que indicam os sons vocálicos:


2x:
הבה נגילה
הבה נגילה
הבה נגילה ונשמחה

2x:
הבה נרננה
הבה נרננה
הבה נרננה ונשמחה

!עורו, עורו אחים
עורו אחים בלב שמח
עורו אחים בלב שמח
עורו אחים בלב שמח
עורו אחים בלב שמח
!עורו אחים, עורו אחים
בלב שמח


Muitos jovens não conhecem o filme I Now Pronounce You Chuck and Larry, produzido nos EUA em 2007 e lançado no Brasil como Eu os declaro marido... e Larry. Pra quem gosta de zoar com o português europeu, pode deliciar-se com o fato dele ter sido chamado em Portugal como Declaro-vos Marido e... Marido, perdendo boa parte da graça. Na época ele foi um baita sucesso nacional de bilheteria, e deu espaço aos ainda ignorados direitos das comunidades de gênero, mas ainda assim recebeu críticas pelos estereótipos que usou dos gays e asiáticos.

O célebre judeu Adam Sandler interpreta o bombeiro Chuck, que trabalha no Brooklyn e certo dia teve sua vida salva pelo colega Larry, papel de Kevin James. Chuck é solteiro e gosta de farrear com mulheres, enquanto Larry cria sozinho dois filhos e tem problemas pra colocá-los como beneficiários de um seguro de vida. Pra driblar a burocracia, e como forma de retribuição, Chuck aceita fingir com o amigo um casamento gay só pra assinar os papéis, chegando inclusive a fazer uma “festa” pra enganar os fofoqueiros. Todo o enredo gira em torno dessa peripécia pra escapar dos desconfiados ante a farsa, e é muito divertido, apesar das cenas de humor dito “grosseiro”!

Talvez a cena mais engraçada seja a da contratação de uma agência de casamento só pra tirar fotos das bênçãos, do bolo e da dança. O caricato ministro religioso com feição de asiático genérico, personagem controverso, trocando os erres pelos eles (piada que quase custou a cabeça de Abraham Weintraub, a qual só caiu depois de chamar o STF de “vagabundos”...), conduz a cerimônia, enquanto uma velha que parece ser sua mãe toca órgão. Após o rito em modelo evangélico, pro qual até um mendigo idoso aleatório foi convidado, começa ao som de Hava nagila a “dança” forçadamente encenada por Chuck e Larry. Tendo dormido, o mendigo acorda com um flash da câmera e de repente começa a dançar à moda “russa”, até enfim “queblar a pelna”.

E é essa dança cômica que eu também trouxe aqui! Infelizmente, sem ser apenas o sermão do “cílculo”, em boa qualidade só achei em inglês, embora as falas importantes em português sejam apenas “Bem judaico!” e (com sotaque) “Ele queblou a pelna!”, que inseri pra maior clareza. Vejam também em espanhol.


Agora um bônus pra meus leitores!

Sergei Lavrov: Tenho amigos judeus que me disseram que Zelensky não é um judeu de verdade, que ele lhes dá vergonha!

Zelensky:


quinta-feira, 2 de março de 2023

O universo comunista em vídeos (2)


Endereço curto: fishuk.cc/video-comuna2

Lancei esta publicação em abril de 2019 como um primeiro repositório de vídeos variados ou engraçados sobre o mundo comunista antigo e moderno, mas ainda com imagens incorporadas a partir de meu antigo canal no YouTube. Como o Google resolveu apagá-lo em agosto de 2021, comecei aos poucos a redirecionar os arquivos do Drive do próprio Google. Estou relançando bem aos poucos (porque realmente é muita coisa!) na página tudo o que tinha lá, com ou sem as descrições originais, apenas pra fins culturais e memoriais, sem pretensões de viralizar. Na publicação de hoje, seguem alguns vídeos de teor histórico, e não humorístico, relacionados à história do bolchevismo e dos países concernidos ao longo do século 20. Bom proveito!



Este canal publicou a principal cena do filme Outubro, filmado e dirigido na URSS em 1927 pelo célebre Sergei Eisenstein, em que aparece a tomada do Palácio de Inverno pela população e por tropas comandadas pelos bolcheviques. Existe uma lenda segundo a qual teriam morrido mais pessoas nessa filmagem do que nos próprios acontecimentos reais, dos quais infelizmente não há registros midiáticos, rs.

Costuma-se dizer que no início do século 20 a Rússia teve três revoluções: a de 1905, que arrancou algumas migalhas democráticas da autocracia retrógrada do tsar Nicolau 2.º; a de fevereiro (março) de 1917, que derrubou a monarquia e instaurou uma república comandada por frágil coalizão; e a de outubro (novembro) de 1917, que foi comandada por Vladimir Ilich Ulianov (dito Lenin) e seus companheiros, afastando o governo provisório com o apoio da maioria do povo. Por vários acasos da revolução, os bolcheviques acabaram impondo um Estado autoritário a partir de 1918, mas aí já é outra história.

O Palácio de Inverno em Petrogrado (depois Leningrado, hoje São Petersburgo), antiga residência imperial e de onde o governo provisório republicano despachava, foi facilmente tomado pela turba na madrugada de 6 pra 7 de novembro (segundo nosso calendário) de 1917, de tão impotente e ignorado que estava o comando de Aleksandr Kerenski, desacreditado pela fome e pelas derrotas na 1.ª Guerra Mundial.

No primeiro trecho, temos a própria cena da tomada bélica do palácio, e no segundo, que encerra o filme, Lenin faz a proclamação do “poder dos sovietes” e anuncia enfim a vitória de seu golpe e de seu partido, em frente ao famoso letreiro escrito na ortografia russa pré-1918: “Todo o poder aos sovietes!”. Veja também os papéis que aparecem no final, onde estão contidos o “Decreto sobre a paz” e o “Decreto sobre a guerra”.




Este vídeo bem curto mostra o momento da chegada das tropas soviéticas em frente ao Reichstag, o parlamento alemão, em Berlim, no dia 9 de maio de 1945, encerrando assim a Segunda Guerra Mundial (ao menos na Europa) iniciada em 1939.

Iosif Stalin, o ditador soviético que também exercia no momento o comando-em-chefe das Forças Armadas, tinha ordenado ao Exército Vermelho hastear a Bandeira da Vitória sobre o Reichstag, como símbolo do triunfo definitivo sobre o poderio alemão. Como visto, seus soldados cumpriram a ordem. Este vídeo, que foi minha fonte, provavelmente deve ser parte de um documentário maior, que não descobri qual é, eu apenas baixei e legendei. O locutor diz as seguintes frases em russo:

“У всех сейчас только одна мысль, одно стремление - водрузить Знамя Победы над Рейхстагом!... Водрузить Знамя Победы над Рейхстагом!... Водрузить Знамя Победы над Рейхстагом!... Знамя Победы над Рейхстагом водружено! Приказ товарища Сталина выполнен!”


Estes são trechos da grande parada militar comemorando os 40 anos da libertação da Iugoslávia contra o jugo nazista e fascista, ocorrida em 9 de maio de 1985, quando o país ainda era uma república federal socialista. Fundada em 1943 pelo líder da Resistência e militante comunista Josip Broz, mais conhecido como Marechal Tito, estava comemorando o aniversário sem o antigo ditador, falecido em 1980. É uma das demonstrações mais famosas do JNA, o Exército Popular Iugoslavo, que nos tempos da “guerra fria” chegou a ser o quarto maior do mundo.

Embora os modelos comunistas do antigo Leste europeu tenham se inspirado basicamente na URSS, muitos deles tinham particularidades nacionais marcantes, como o iugoslavo, em que havia alguma liberdade de mercado, Tito era um líder carismático e a memória da Libertação antifascista moldou a cultura socialista local, sobretudo na Eslovênia. Em 1974, foi estabelecida uma “presidência coletiva” na Iugoslávia, mas como o próprio Tito foi escolhido pra presidir esse órgão, ele passou a ser considerado “presidente vitalício”, enquanto à chefia dessa presidência coletiva, que passava a ser rotativa entre as várias unidades da Iugoslávia, competia o cargo de vice-presidente geral. Quando Tito morreu, quem ocupava o cargo era o presidente da Macedônia (hoje a Macedônia do Norte independente), Lazar Koliševski, então ele passou a exercer a liderança dessa presidência coletiva, dando origem a essa bizarra instituição da “presidência da presidência” cujo ocupante era trocado anualmente.

Nos 40 anos da Libertação, quem “presidia a presidência” da Iugoslávia era o montenegrino Veselin Đuranović, e em 15 de maio seria escolhido Radovan Vlajković, da Voivodina. No primeiro trecho toca-se uma marcha militar que foi colocada por cima da imagem do vídeo e que, segundo a fonte em que apurei, foi composta por Stanislav Binički. No segundo trecho (hoje apagado do YouTube), além do Hino Nacional da Iugoslávia (Hej, Slaveni) no início do vídeo e das evidentes marchas militares, podem-se ouvir também canções no estilo dito “koračnica”, ou seja, em ritmo de marcha ou bater dos pés (korak = passo, marcha), como Po šumama i gorama e, no finzinho, Moj je otac bio partizan.




Eu achei este vídeo por acaso, num canal húngaro, e apenas cortei o quadro e tirei uma parte apenas com imagens e uma música protegida por direitos autorais. Trata-se de propagandas e produtos antigos, transmitidos na TV e vendidos na Hungria durante as décadas de 1970 e 1980, as finais sob o regime comunista comandado por János Kádár, chefe do partido único. Infelizmente, por falta de tempo e conhecimento, não fiz a tradução das falas. Mas pra quem tem um bom faro visual e artístico, já será um belo material de divertimento e aprendizado histórico!

Após as revoltas de 1956, em que a população húngara conseguiu depor o ditador stalinista Mátyás Rákosi e depois resistiu à invasão de tanques soviéticos pra tirar o reformista Imre Nagy do governo, chegou-se a uma solução de compromisso. A Hungria não sairia do Pacto de Varsóvia e os políticos rebelados seriam executados, mas lhe seria permitido adotar uma forma mais branda do comunismo, com mais abertura de mercado e atenção maior aos bens de consumo. Apesar da crise do endividamento externo na década de 1980, a chamada “Era Kádár” foi considerada por muitos uma era de ouro do comunismo húngaro, e até hoje é lembrada com nostalgia pelos cidadãos comuns.

Esquerdistas brasileiros desonestos pegam esses relatos positivos como uma pintura do comunismo europeu como um todo, mas a situação era bem diferente nos vários países do bloco, tanto pela economia quanto pela cultura ou dependência diante de Moscou. É claro que a Hungria sofreu fortemente no início da implantação do capitalismo, e que hoje muitos consideram o extremista Viktor Orbán como até pior do que os comunistas. Mas lembremos que esse “comunismo gulache”, mais brando, apesar da repressão política, foi uma conquista popular arrancada de maneira rara da URSS, cujo regime nunca foi muito bem aceito num país que nem é de cultura eslava.


Poucos devem saber, mas o célebre meme do “Mr. Trololó”, que viralizou com o falecido cantor soviético Eduard Khil em 2010 fazendo uma vocalização sem letra, foi retirado de uma transmissão completa relembrando diversas outras composições de Arkádi Ilích Ostróvski (1914-1967). O compositor russo de origem judaica escreveu em 1966 a canção “Я очень рад, ведь я, наконец, возвращаюсь домой” (Estou feliz porque finalmente estou voltando pra casa), que falava de um caubói nos EUA. Mas por diversas razões decidiu-se gravá-la sem a letra, apenas com a “vocalização” da melodia, o que foi feito por Khil, Valeri Obodzinski, Muslim Magomaiev e outros cantores. Caubói, EUA, “guerra fria”... censura não muito diferente da atualidade!

Em 1976, em memória de Ostrovski, Khil gravou o referido especial, que recomendo ver de ponta a ponta! Nos anos 2000, o especial foi retransmitido pelo canal retrô russo “Vrémia”, no programa Nas ondas de minha memória, e no fim de 2009 alguém colocou a vocalização de Khil no YouTube. Nascia assim o meme do “Mr. Trololó”, que ganhou a simpatia do Ocidente, e agora você pode ver um raro registro dele falando em tom normal nessa época!

Khil está introduzindo a coletânea especial, e eu mesmo transcrevi e traduzi o texto e legendei o trecho que tirei daquele vídeo maior. Versão russa:

“Сегодня я вам хочу напомнить некоторые песни Аркадия Ильича Островского. Это песни, которые были написаны в середине 60-х [шестидесятых] годов. Песни, которые прошли испытание временем. Эти песни очень добрые, очень светлые, я бы сказал, «солнечные» песни, и они надолго останутся в нашей памяти и в нашем сердце.”

(Hoje quero lhes recordar algumas canções de Arkadi Ilich Ostrovski. São canções que foram compostas em meados dos anos 60. Canções que resistiram à prova do tempo. Essas canções são muito boas, muito luminosas, canções “ensolaradas”, eu diria, e por muito tempo elas vão ficar em nossa memória e em nosso coração.)


domingo, 29 de janeiro de 2023

Cenas engraçadas do filme “For All”


Link curto pra esta postagem: fishuk.cc/forall



Certo dia, me lembrei desta cena do filme For All: O Trampolim da Vitória, gravado em 1997 e lançado em 1998, que assisti numa tarde de domingo da TV Globo quando eu era criança. De modo romantizado, o premiado e elogiado filme trata da chegada de soldados norte-americanos ao Rio Grande do Norte durante a 2.ª Guerra Mundial, quando formaram aí a então maior base militar dos EUA fora do país pra combater as forças do Eixo nazifascista. Recomendo muito que historiadores e curiosos assistam ou exibam, pois é uma riqueza esquecida da nossa cultura!

Este maravilhoso longa conta com o brilho de muitos astros de nosso cinema, TV e teatro, como Edson Cellulari, Diogo Vilela, Betty Faria e Ney Latorraca, bem como de alguns já partidos da Terra (José Wilker, Luiz Carlos Tourinho e Caio Junqueira). Óbvio que pelas cenas picantes e palavrões seria hoje classificado pra maiores de 16 anos, mas ele foi exibido em pleno horário nobre! For All... mostra um lado cultural da presença dos EUA que não se amarra na crítica do imperialismo e do capitalismo, mas se foca nos aportes linguísticos, musicais, materiais e amorosos. Note-se bem que há muitas cenas com bailes de forró, e que se supõe como uma das origens do nome “forró” a expressão inglesa for all, indicando essas festas “para todos”.

Nesta cena, o jornalista e poeta João Marreco, que tem a mesma pinta do professor Girafales do seriado Chaves, está dando uma aula de português pros soldados, ofício pro qual ele foi encarregado durante a estadia deles. Ele é apaixonado por Iracema, filha do italiano pró-fascista Giancarlo Sandrini, que o vê como melhor genro, mas ela acaba gostando do tenente norte-americano Robert Collins, posteriormente morto em combate. Nesta cena, João acaba descobrindo que um dos militares é Robert, e no impulso o chama de “filho da p...”. Questionado, acaba tendo que traduzir o son of a bitch na cara do rival confuso, e assim começa a zoeira dos Marines.


Depois de ter procurado e achado aquela cena, acabei achando outras que poderiam muito bem virar ótimos memes! Nesta outra, novamente João Marreco aparece dando uma aula de português pros soldados, e Luiz Carlos Tourinho interpreta Sandoval, que arrumou um emprego de faxineiro na base militar, lugar procurado também por outros moradores locais. Embora seja gay, Sandoval tem profunda admiração pela cantora e atriz estadunidense Jay Francis, que também veio ao Brasil, e pede a João que lhe ajude a escrever pra ela uma carta em inglês. Diante da recusa, Sandoval sai da sala nervoso dizendo: “O senhor pode seguir a sua reta, mas a Terra é redonda.”

Ou seja, um sujeito simples no início da década de 1940, interpretado num filme dos anos 90, poderia receber com escárnio a ideia hoje ruminada de que nosso planeta é plano/chato! Ele de cara e inocentemente “refuta” os atuais terraplanistas, rs. Curiosamente, fiquei sabendo esses dias numa curta entrevista com o autor de um livro francês sobre teorias da conspiração nas redes sociais que 1 em cada 6 jovens franceses até 24 ou 30 anos “julga possível” que a Terra seja plana. A tese é a de que haja uma fratura geracional em que os jovens estejam se informando cada vez mais por “fontes” ruins, como o TikTok, mas que a vulnerabilidade ao conspiracionismo seja forte igualmente em outras gerações, sobretudo se a escolaridade é menor.


Nesta última cena, Miguel Sandrini (interpretado por Caio Junqueira), que ao que tudo indica é um moço virjão, está praticando o onanismo vendo uma revista com a foto da atriz e cantora estadunidense Carol Byington com um maiô curto e apertado. Miguel é filho de Giancarlo Sandrini (papel de José Wilker), italiano residente no Brasil e que apoia o regime fascista de Benito Mussolini, ficando assustado com a perseguição aos compatriotas pela ditadura de Getúlio Vargas. Depois fiz inclusive um corte, passando logo pra outra cena em que Miguel encontra Carol pessoalmente, numa das festas promovida na base militar pra entreter os combatentes.

Interessante que nem na década de 1940 nem na de 1990 nenhum marmanjo se vitimizava como incel, culpando a sociedade por não transar: ou mandava no 5 contra 1 mesmo, ou saía por aí dando a cara a tapa.

Nas três cenas, eu fiz o corte do quadro e aumentei um pouco o volume do vídeo original completo. Só consegui fazer a segunda e a terceira descrições com a ajuda da tese de doutorado de Thiago Gobet Spada sobre a trilha musical de For All... e desta reportagem da Folha Ilustrada sobre o lançamento do filme.


sábado, 21 de janeiro de 2023

Cena de casório do filme “Al-Huduud”


Endereço curto: fishuk.cc/alhuduud


Sempre gostei muito deste vídeo que achei por acaso, mas cujo contexto nunca consegui descobrir. Só hoje que resolvi cortar o quadro e repostar aqui, pra que vocês possam conhecer, e obter algumas informações sobre o referido filme. Trata-se de uma cena de casamento do filme árabe Al-Huduud (A Fronteira), produzido na Síria em 1984 e que foi estrelado pelo famoso comediante e diretor sírio Duraid Lahham (o senhor de bigode) no papel de Abdulwadud. Segundo a sinopse em inglês no site do IMDb, “Um viajante entre dois países fictícios chamados ‘Orientistão’ e ‘Ocidentistão’ perde seu passaporte e documentos pessoais. Preso entre os dois países, ele não pode nem cruzar a fronteira nem voltar pro lugar de onde veio. Ele teve de acampar numa área neutra entre os dois países, encarando inúmeras situações cômicas na estadia. O filme satiriza a ideologia da unidade e cooperação árabes no nível dos Estados.”

De fato, a República Árabe Unida, um Estado soberano que existiu de 1958 a 1971, foi inicialmente uma união política entre o Egito e a Síria, até que esta rompeu a ligação após o golpe de Estado de 1961, mas o nome continuou sendo usado oficialmente pelo Egito até 1971. Seu líder foi o presidente egípcio Gamal Abdel Nasser, e a RAU também integrou os Estados Árabes Unidos, uma frágil confederação com o Reino Mutawakkilita do Iêmen também dissolvida em 1961. A bandeira era exatamente a mesma da Síria atual, inclusive as duas estrelas verdes no meio, e foi o ápice da ideologia nacionalista e esquerdista do “pan-arabismo”, da qual Nasser era um fervoroso adepto, assim como o ditador líbio Muammar al-Gaddafi (líder em 1969-2011).

Duraid Lahham nasceu em Damasco em 1934, ficando muito famoso por fazer o personagem “Ghawwar” em inúmeros filmes e séries. De mãe libanesa, atuou ativamente com a dança folclórica dabke enquanto frequentava a faculdade de Química, e então se apaixonou pela dramaturgia. Lahham apareceu na primeira exibição de TV da Síria, em 1960, e atuou em várias peças políticas populares em todo o mundo árabe, como crítica da situação que se produzia nessa região. Em 1999 ele foi indicado pela UNICEF como Embaixador da Boa Vontade pro Oriente Médio e África do Norte, visitando o sul do Líbano em 2004 e fazendo aí um polêmico discurso contra George W. Bush e Ariel Sharon, primeiro-ministro de Israel. Lahham também recebeu condecorações de ditadores como Hafez al-Assad (pai do sírio Bashar), Habib Bourguiba (Tunísia) e Gaddafi.

A linda moça que faz o papel de Sodfah é a atriz Raghda Mahmoud Na’na, mais conhecida apenas como Raghda, também síria e nascida em 1957 em Aleppo. Formada em literatura árabe no Cairo, atualmente mora no Egito e seu papel mais conhecido foi o da Rainha Zenóbia de Palmira na novela síria Al-Ababeed (A Anarquia, 1997). Uma das maiores estrelas do cinema egípcio e árabe das décadas de 1980 e 1990, é uma ativista a favor de Bashar al-Assad, enquanto seu próprio pai é um opositor. Espero que você tenha gostado deste vídeo, e que entenda minha vontade de trazer coisas diferentes pra ampliar o conhecimento!




A segunda versão acima foi feita com as legendas da letra em árabe da canção, que também pode ser lida e copiada em texto abaixo. Se alguém quiser me contatar fornecendo uma boa tradução como conhecedor(a) de árabe, antes que eu mesmo improvise uma, fique à vontade:

يا موشحة بثوب القصب ريح النفس قطر ندى
من هامتك غار القصب ما عاد على أهلو اهتدى
رشينا دربك بالورود و عملنا عرسك عالحدود
يا ال عريسك عبد الودود متلو قمر ما في حدا
صدفة اجت متل الصدف بين ليل و صبح ما انعرف
قلبها من الصدر انخطف لما عريسها وعدا
عريسنا بليلة صفا عاهد عروسو عالوفا
و بنظرة محبة اكتفى وراهن حياتو يسعدا
عروسنا بدر السما باللولو خلطت مبسما
ولما عبد الودود وما طير الهوى أصدر شذا
يا من وعدنا بالأمس نشبع فرح يوم العرس
ريتو العمر ورد و شمس ومروج ربيعها إبتدا
عيشو الهوى من أولو صدفة الهوى ما أجملو
تهنوا بالعرس الحلو تبقوا حبايب على المدى


quinta-feira, 3 de novembro de 2022

Ciranha, ou como sabotar campanhas


Link curto pra esta postagem: fishuk.cc/ciranha


Lula ganhou, a campanha presidencial acabou, mas os memes, gafes e figuras folclóricas de cada eleição sempre ficam, pelo menos por um tempo, na memória do povo, e agora podem ser eternamente registrados com o aperfeiçoamento tecnológico na produção de vídeos e com as novas mídias da internet, sejam as redes sociais ou o YouTube. Se em 2022 tivemos o Padre “de festa junina” Kelmon, em 2018 tivemos o Cabo Daciolo com seu plano contra a “URSAL” e em 2014, quando penso que nosso abismo civilizatório começou, tivemos o finado Levy Fidelix dizendo que “filho não pode ser feito pelo aparelho excretor” (o fiofó, na verdade, fica no sistema digestório...). A diferença da última corrida foi que as mídias digitais exerceram o papel preponderante na propaganda e no convencimento, mais até do que em 2018, tornando até risível a contestação de Bolsonaro quanto às inserções em rádio e TV.

Porém, outra peça de marketing que ficou muito famosa por um tempo foram as animações feitas por um certo Cartunista Tímido (imagino o porquê do nome) pra campanha de Ciro Gomes (PDT), cujo marqueteiro era então João Santana, ex-colaborador de Lula. Rolou uma hipótese de que o profissional queria sabotar a campanha do trabalhista, o qual sempre foi um crítico violento do PT, apesar de seu passado em governos de Lula e do apoio a ele em 2002. Pode até ser verdade: os cartuns lançados no canal oficial de Ciro pareciam mais peças voltadas pra crianças, sem qualquer humor que pudesse seduzir um adulto saudável, e como alguém disse em ataque, “criança não vota”. O nome dado à encarnação do Homem Aranha pelo candidato, então, “Ciranha”, já é ridículo pela própria sonoridade, imagine ainda “Lulatman”, “Bolsoringa”... Até os trocadilhos rasos do saudoso Casseta & Planeta eram mais agradáveis aos ouvidos!

Se pesquisarmos no Google, o Ciranha foi alvo de muita zoeira, sobretudo de charges que ficaram muito engraçadas e aludiam até a um suposto conluio dele com Bolsonaro. Se o resultado historicamente amargo do quarto lugar se deveu a esse escorregão (sem contar as patadas em gente da ala progressista e sua dificuldade em encarnar o “Ciro Games”), podemos discutir, mas meu medo de que esse material simplesmente sumisse ou fosse apagado me levou a fazer um backup e o trazer de volta a você. Uma recordação da última campanha, e um pouco de alívio depois desse clima de estresse político! Não coloquei os vídeos exatamente na ordem em que foram postados, mas no quanto ficaram famosos ou estouraram primeiro na série. Divirta-se, e um ótimo começo de novembro!


Chega de assombração

A escalada (o mais comentado, devido ao uso da canção infantil)

Superamigos

Vote em 1, se livre dos 2

Política barata

Caverna do Brasil

Política da pedra lascada

Ciro beleza (putz, kkkkk)