sábado, 22 de setembro de 2018

Mina – Tintarella di luna (Banho de Lua)


Link curto para esta postagem: fishuk.cc/tintarella


É evidente que traduções sempre enriquecem uma cultura, e no caso do Brasil, a versão de músicas italianas dos anos 50 a 70 fez nossa história, sobretudo pelo estilo da “jovem guarda”. Eu queria saber se vocês reconhecem esta canção, que talvez muitos nem saibam que foi traduzida do italiano, mas que a maioria dos jovens hoje nem deva conhecer. Portanto, mostre o vídeo pro seu avô ou sua avó, e espere a resposta. Eles se lembraram da canção Banho de lua, que estourou na voz de Celly Campello? Pois acertaram!

Esta linda moça, que parece estar recebendo um caboclo e parece um clone da atriz e youtuber Kéfera Buchmann, se chama Mina Anna Maria Mazzini, mais conhecida pelo nome artístico Mina. Ela gravou Tintarella di luna (literalmente, Bronzeado de Lua ou Bronzeada pela Lua) num compacto de 1959, junto com a faixa Mai (Nunca). A letra é de Franco Migliacci e a melodia é de Bruno De Filippi, com arranjos de Tony De Vita. Mina, que também tem nacionalidade suíça desde 1989 e se especializou em pop e na chamada “música leve”, começou sua carreira em 1958, aos 18 anos. Tornada com os anos a mais exitosa cantora italiana, adotou vários ritmos, gravou mais de 1500 músicas, vendeu mais de 150 milhões de discos entre álbuns e compactos e também atuou no rádio, no cinema e em programas de TV. Atuou com artistas consagrados do mundo inteiro, teve uma agitada vida privada (embora sempre se esforçasse por guardar discrição) e foi pioneira nos costumes: além dessa roupa e cabelo que seriam modernos ainda hoje, Mina foi a primeira na Itália a usar minissaia na mídia.

Meio ao estilo de um “hino dos supremacistas brancos” ou no mínimo um “consolo às meninas branquelas”, numa cultura que valoriza as peles bronzeadas sexy (tanto lá como aqui), Mina faz também um trocadilho com os dois sentidos de cândida, que são “branca”, “alva”, e “pura”, “imaculada”. Outras bandas já a executavam em seus shows, mas ao ouvir a primeira vez, Mina se apaixonou pela canção e pediu permissão pra gravar, já parecendo que tinha sido feita especialmente pra ela. A faixa termina sendo sua marca registrada, lança a garota nacionalmente e a distingue entre tantas artistas parecidas, na véspera do boom econômico dos anos 60. A melodia foi composta primeiro, e então deixada à genialidade de Franco Migliacci, já consagrado com Domenico Modugno como coautor da celebérrima Nel blu dipinto di blu. Além da própria trama incomum, criou o “tin tin tin” que deveriam ser os “raios de Lua” batendo no corpo da moça.

A canção também foi traduzida em francês como Un petit clair de lune, e em português como Banho de Lua (versão de Fred Jorge), gravada em 1969 pelo grupo tropicalista brasileiro Os Mutantes, mas celebrada já em 1960 quando nascia a “jovem guarda”, na voz de Celly Campello (nome artístico, 1942-2003), eternizada como “Namoradinha do Brasil”. Cantando e atuando no rádio e TV desde criança, Celly estourou no país com Estúpido Cupido em 1959 e se tornou a precursora do rock nacional. Coisas do destino: encerrou a carreira no auge, aos 20 anos, pra se casar e ir morar em Campinas, perdendo, por isso, a chance de apresentar o mítico programa Jovem Guarda de Roberto e Erasmo Carlos. Todas as vezes em que tentou relançar-se, inclusive em 1976, na época da novela Estúpido Cupido, quando voltou aos holofotes, não obteve sucesso, e terminou falecendo de câncer de mama.

Eu mesmo traduzi e legendei, tendo copiado o texto italiano do ótimo site musical Rockol.it e baixado este vídeo sem legendas. Seguem abaixo a legendagem no meu canal Eslavo (YouTube), o original em italiano e a tradução em português:


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Abbronzate, tutte chiazze,
Pelli rosse un po’ paonazze
Son le ragazze che prendono il sol,
Ma ce n’è una
Che prende la luna.

Tintarella di luna,
Tintarella color latte
Tutta notte sopra il tetto,
Sopra al tetto come i gatti.
E se c’è la luna piena,
Tu diventi candida.

Tintarella di luna,
Tintarella color latte
Che fa bianca la tua pelle,
Ti fa bella tra le belle.
E se c’è la luna piena,
Tu diventi candida.

Tin tin tin,
Raggi di luna,
Tin tin tin,
Baciano te.
Al mondo nessuna è candida come te.

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Bronzeadas, bem manchadas,
Peles vermelhas, meio roxas
São as meninas que tomam Sol,
Mas uma delas
Toma banho de Lua.

Bronzeada pela Lua,
Bronzeada cor-de-leite
Toda noite no telhado,
No telhado como os gatos.
E se a Lua está cheia,
Você se torna cândida.

Bronzeada pela Lua,
Bronzeada cor-de-leite
Que deixa sua pele branca
E te faz a mais bela mulher.
E se a Lua está cheia,
Você se torna cândida.

Tim, tim, tim,
Raios de Lua,
Tim, tim, tim,
Beijam você.
Ninguém no mundo é cândida como você.