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quinta-feira, 12 de junho de 2025

Novo hino dos golpistas africanos


Endereço curto: fishuk.cc/hino-aes


Outro dia, ouvindo a RFI, soube que foi lançado um novo hino pra chamada “AES” (Aliança – às vezes “Confederação” – dos Estados do Sahel), entidade dissidente e alternativa à ECOWAS ou CÉDÉAO (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental) e fundada pelas juntas militares que assumiram o poder nos últimos anos no Mali, no Burquina-Fasso e no Níger. Lideradas atualmente pelos respectivos oficiais Assimi Goïta, Ibrahim Traoré e Abdourahamane Tiani, ascenderam sob o pretexto de combater o jihadismo à própria maneira e dispensar a presença militar francesa que travava, sem grandes resultados, o mesmo combate. Além disso, carregaram no discurso anticolonial e crítico do domínio econômico que Paris ainda mantém na região, sobretudo pelo uso do franco CFA como moeda.

A ECOWAS também é acuada de corrupção, inação e vassalagem perante a Europa. Até aí tudo bem. Não fossem sutis detalhes, como a presença em massa de mercenários russos (primeiro sob o rótulo Wagner, depois com o infeliz nome Africa Corps – em inglês), que, depois dos crimes de guerra na Ucrânia, matam civis inocentes, roubam as riquezas minerais dos países e são eles mesmos frequentemente mortos ou capturados, entre outros, pelo Daesh. Todas as juntas também são acusadas (que novidade!) de prender e matar civis sem critério, sobretudo opositores, e não serem mais eficazes que a França no combate antijihadista. Quanto às promessas anticoloniais e reformadoras, o balanço é mais matizado, mas tende a ser insuficiente (e certamente vai ser negativo, na ausência de instituições democráticas), mesmo quando elas foram mais ressaltadas, como ocorreu no Burquina-Fasso. Sobre o país, o italiano Simone Guida fez um ótimo vídeo bem mais imparcial do que eu, rs.

Como sempre, minha birra principal é com a célebre “ex-querda bananeira”. A imagem mais trabalhada nas redes sociais foi a de Traoré, que ainda é capitão, tem minha idade (37 primaveras) e se apresenta como a reencarnação de Thomas Sankara, outro oficial burquinense golpista e “anticolonialista”, relativamente jovem, da década de 1980, mas que tinha um tino social mais refinado e terminou assassinado. Jones “PCBR” Manoel, embora seja um admirador de Sankara, pelo menos no começo teve um pé atrás com Traoré, e hoje parece (prudentemente) publicar pouca coisa sobre o tema, assim como fecha o bico sobre Putin e a Ucrânia. Já Silvio Almeida, pra minha surpresa, parece desorientado com a vida e recentemente publicou em seus stories do Instagram trechos de discursos legendados do Napoleão complexado, como tem feito boa parte dos radicais chic de sofá. Pra quem acompanha há anos notícias direto da francofonia, é triste ver fanáticos ideológicos pegando o bonde andando...



De um ponto de vista mais técnico, queria chamar a atenção pra esta “reportagem” laudatória da Aliança dos Golpistas do Sahel e vergonhosamente publicada por nossa mídia estatal. O jornalista tem passagem por outros produtores de falsidades, como o Vermelho e o Brasil de Fato, e trata o processo como algo normal: cedo pra chamar de “ditaduras” (igual ao “governo” corrupto e assassino de Gaddafi), chama os golpes de “levantes com apoio popular”, ignora que Mohammed Bazoum, por exemplo, foi democraticamente eleito no Níger e some com os abusos de direitos humanos. Sem entrar em detalhes, o “dois pesos, duas medidas” de que tanto acusam a direita lhes cairia bem caso se olhassem no espelho: afinal, a mesma retórica, os mesmos métodos (incluindo “transições” que nunca acabam) e as mesmas justificativas foram usados pelos milicos em Mianmar, Coreia do Sul, Europa Meridional e América Latina durante o século 20. A junta argentina de Videla, por exemplo, se autodenominava “reorganização”, exatamente como a EBC parece descrever Traoré...

Vou ser claro como fui várias vezes aqui, me lixando pro que pensem radicais, revolucionários ou comunazis: não existe ditadura nem golpe militar “com conteúdo de classe”, pois não há desenvolvimento baseado no arbítrio ou na mera força de vontade. Ou existem instituições democráticas (por mais imperfeitas que sejam), ou não existem. O “jorna-lulista” chega à desfaçatez de assimilar as juntas militares com a experiência do Senegal, que na verdade sempre foi considerado uma exceção “democrática” na região e cujos atuais presidente e primeiro-ministro, apesar da retórica nacionalista anti-França, tinham sido perseguidos pelo antecessor e ascenderam após eleições justas. E nem nesse país, nem no Gabão, onde outro golpista, um ano depois, recentemente se “elegeu” com mais de 90% dos votos, havia bandeiras ruSSas por todo lado. A esquerdalha vai dizer que “eles têm direito de trocar de mestre”, mas quem acompanha o putinismo há anos, sabe que ele é traiçoeiro e te larga nos piores momentos.

Essa linha “democracia pra nós, ditadura pra eles” não passou despercebida por um colunista do Völkischer Beobachter curitibano, que comentou a mesma “reportagem”, mas entrou em mais detalhes sobre a conjuntura no Sahel e as contradições de nossos “militontos”. Ele chama Traoré, frequentemente comparado a Che Guevara, de “novo ditador queridinho da esquerda brasileira”, porém, ignora todo o contexto neocolonial que prendia a África Ocidental à França (abordagem aliás, muito distinta da adotada pela Commonwealth britânica) e a arrogância repugnante de Macron ao lidar com qualquer ser vivo não originário de Amiens. Além disso, e esse tópico é o que mais me atiça, a real vassalagem se revela no modo como “Os Três Patetas” não apenas se abstêm, mas votam contra qualquer condenação da invasão à Ucrânia (país não muito priorizado por nossos “conservadores”) em votações na ONU. Acompanham Belarus, Nicarágua e Coreia do Norte.

Após tentar mostrar como bolsofachos e stalinetes igualmente instrumentalizam democratismo e autoritarismo pra suas próprias paranoias, lembro que tudo começou com uma “musiquinha”, rs. Segundo a RFI, o hino, batizado na língua bambara como Sahel Benkan (A Aliança do Sahel, “entente” em francês), mas todo redigido no idioma de Molière, surgiu exatamente pra motivar as populações do Mali, do Níger e do Burquina-Fasso, sobretudo os jovens, a atuarem como bucha de canhão se engajarem pessoalmente no combate ao jihadismo, cujo foco hoje é justamente o Sahel, e não mais os países árabes e muito menos o Ocidente desenvolvido. Este artigo, que também revela como a composição ficou a cargo de uma equipe dirigida por Amadou Mailallé, mostra que Sahel Benkan substitui outra canção usada desde um ano atrás e é erroneamente chamada nas redes sociais de La Confédérale (A Confederal).

O nigerino Mailallé, que parece partilhar o colonialismo linguístico de Léopold Sédar Senghor, é o mesmo especialista em hinos “peidados” que usou igual procedimento coletivo pra compor a nova canção nacional de seu país, em 2023. A partir deste artigo com outras informações, traduzi o texto do original francês, que também segue abaixo, junto com dois vídeos igualmente acompanhados da letra e, ao final, a primeira execução pública instrumental presidida por nosso polêmico Ibrahim Traoré. Vejam a cara de animação do povo ao qual foi permitido testemunhar tamanho evento histórico...




1) Homenagem ao povo do Sahel
Herdeiro dos grandes impérios
Portador de um tempo novo
Que anuncia liberdade e progresso
Sob o estandarte de combates épicos

2) Povo da AES
Intrépido e soberano
Pelo verbo [i.e. persuasão] e pelas armas
Rompa as correntes que o prendem
Para que suas riquezas voltem a você
E que resplandeça o espírito fértil da África

Refrão:
Todos nós somos soldados
Determinados, resilientes e unidos
Para que a AES permaneça
Um Espaço, Um Povo, Um Destino

3) Povo da AES
Povo da África, de tenacidade
De sangue e de suor
Você vai escrever a história
Para que, orgulhosos de seu passado,
Seus filhos forjem o presente
E construam um mundo melhor

(Refrão)

Povo da AES!

____________________


1) Hommage au peuple du Sahel
Héritier des grands empires
Porteur d’un temps nouveau
Qui annonce liberté et progrès
Sous l’étendard de combats épiques

2) Peuple de l’AES
Intrépide et souverain
Par le verbe et par les armes
Brise les chaines qui te tiennent
Pour que tes richesses te reviennent
Et que scintille l’esprit fertile de l’Afrique

Refrain :
Soldats, nous le sommes tous
Déterminés, résilients et unis
Pour que l’AES demeure
Un Espace, Un Peuple, Un Destin

3) Peuple de l’AES
Peuple d’Afrique, de ténacité
De sang et de sueur
Tu écriras l’histoire
Pour que fiers de leur passé
Tes enfants forgent le présent
Et bâtissent un monde meilleur.

(Refrain)

Peuple de l’AES !



terça-feira, 8 de abril de 2025

Hino do Afeganistão socialista, 1978-92


Endereço curto: fishuk.cc/garamshah


Esta bela e edificante canção na língua pastó (mais conhecida como “pashto”), reconstituída por este canal com partes de diversas origens, se chama “گرم شه، لا گرم شه” (Garam shah, laa garam shah), que significa mais ou menos Fique ardente, fique mais ardente. Trata-se do hino nacional que vigorou na então chamada República Democrática do Afeganistão, existente de 1978 e 1992, baseada no modelo soviético e que muitos consideram justamente um Estado-fantoche da antiga URSS. A letra é do político e poeta comunista Sulaiman Laiq e a melodia é de Jaleel Ghahland, consistindo num refrão que, curiosamente, começa a canção e se toca antes das outras estrofes.

Estado culturalmente muito diverso, mas cujas línguas predominantes ainda hoje são o pastó (um parente distante do persa e do curdo) e o dari (o dialeto nacional do persa, muito parecido com o tajique), o Emirado do Afeganistão se tornou uma monarquia constitucional em 1926. Em 1973, o general e ex-premiê Mohammad Dawood Khan derrubou o rei, instaurou uma república ditatorial e fundou o Partido Revolucionário Nacional, único permitido. Em 1978, ele mesmo foi derrubado e morto com a maior parte de sua família, num golpe conhecido como “Revolução de Sawr” (mês do calendário zoroastrista) e conduzido por oficiais comunistas da fração partidária conhecida como Khalq. A palavra significa “povo” e aparece escrita em amarelo na parte superior esquerda da bandeira vermelha, bem como no centro do brasão nacional, vigentes até 1980.

O Afeganistão socialista (nome que prefiro a “comunista”, em se tratando de regimes e países) teve quatro líderes principais, tendo o último sido assassinado pelos Talibã em 1996 e o primeiro, assassinado pelo próprio sucessor. Este, Hafizullah Amin, que governou em 1979, curiosamente foi morto durante a invasão soviética, que teve como pano de fundo a colocação no poder de Babrak Karmal, novo boneco de Moscou (onde terminou morrendo de câncer), mas que misturava diversas razões. Uma delas foi a influência dos EUA no Paquistão, onde treinavam os mujahedin, futuros guerrilheiros muçulmanos que ajudariam a expulsar os soviéticos e derrubariam o regime em 1992. (Não se deve confundir a “República Islâmica” de 1992-96 com o “Emirado Islâmico” dos Talibã, dissidente dos mujahedin, em 1996-2001 e desde 2021.) Os próprios comunistas afegãos viviam se digladiando em pelo menos duas frações ferozmente inimigas.

O interessante vídeo abaixo tem legendas em pastó, inglês e hindi, mas traduzi a partir da versão dari, que coloquei no Google Tradutor e depois comparei com as traduções nas Wikipédias em russo, alemão e espanhol. Até passei o texto pastó no Google, mas ficou quase ininteligível, embora conservasse as ideias essenciais. A tradução na Wikipédia em inglês não fazia muito sentido, e terminei comparando com a das legendas, que parecia mais coerente com as outras. Como o texto na escrita perso-arábica já se encontra nas legendas, também trouxe uma romanização que mistura as feitas nas Wikipédias em inglês e em russo:


Refrão:
Fique ardente, fique mais ardente
Tu, ó, Sol sagrado
Ó, Sol da liberdade
Oh, Sol da felicidade

1. Atravessamos tempestades
Chegamos ao fim do caminho
E atravessamos caminhos escuros
E também o caminho da luz
O caminho vermelho da vitória
O caminho puro da fraternidade

(Refrão)

2. Nossa pátria revolucionária
Está nas mãos dos trabalhadores
A herança dos leões
Agora pertence aos camponeses
A idade da tirania acabou
A era dos trabalhadores começou

(Refrão)

3. Queremos paz e fraternidade
Entre os povos do mundo
Queremos mais liberdade
Para todos os que trabalham
Queremos pão para eles
Queremos casas e roupas para eles

____________________


Korus:
Garam shah, lā garam shah
Ta ai muquadas lamara
Ai da āzādi lamara
Ai da nekmarghi lamara

1. Muzh patufānuno kai
Pri kṛa da bari lāra
Ham da toro shpo lāra
Ham da raṇāyi lāra
Sra da sarbāzi lāra
Pāka dar rori lāra

(Korus)

2. Dā inqilābi Vatan
Os da kārgarāno dai
Dagha da zmaro mirās
Os da bāzgarāno dai
Ter so da sitam daur
Vār da mazdurāno dai

(Korus)

3. Muzh pa nāṛivālo kai
Sola au vrori ghvāṛu
Muzhan ziyār istunko ta
Parākha āzādi ghvāṛu
Muzh varta ḍoḍi ghvāṛu
Kor ghvāṛu kāli ghvāṛu



terça-feira, 25 de março de 2025

Hino da RSS da Moldávia (1945-1980)

Esta é a primeira versão (original) do Hino Nacional da República Socialista Soviética da Moldávia (Imnul de Stat al Republicii Sovietice Socialiste Moldovenești), formada em 1940 com partes da Bessarábia e partes da RSS Autônoma da Moldávia, que integrava a RSS da Ucrânia. A Bessarábia era uma região histórica pertencente à Romênia, anexada então pela URSS na sequência da guerra contra os romenos, que tinham um governo aliado ao Eixo. Atualmente, a maior parte da antiga Bessarábia pertence à Moldova (por vezes ainda chamada pelo nome russo “Moldávia”), e outra parte pertence à Ucrânia. Essencialmente, a “língua moldova” (ou moldava) é o nome local dado ao romeno, e no país hoje também se fala russo e outras línguas. Atualmente, a Moldova é um dos países mais pobres da Europa.

O hino foi composto e adotado em 1945, com letra dos poetas Emilian Bucov e Bogdan Istru, e melodia de Ștefan Neaga. Em 1980, o compositor Eduard Lazarev, pretextando uma “renovação musical”, foi autorizado pelo governo local a mudar todo o hino, deixando o ritmo mais lento, cortando a letra pela metade e mudando substancialmente o texto, que passou a conter apenas uma estrofe melódica dividida em três partes. Conhecida por suas primeiras palavras, Moldova Sovietică (Moldávia Soviética), a nova letra sem menções a Stalin só seria usada até 1991, com a independência do país. (Nota: o brasão acima, usado de 1957 a 1981, só difere do usado de 1981 a 1990 no desenho dos raios do Sol...)

Ambas as versões do hino da RSS da Moldávia não foram exceção em mencionar os russos, o Partido, o futuro glorioso rumo ao comunismo, o florescimento nacional, a “união fraternal dos povos” e a felicidade incontida. Na Moldova, são constantes as tentativas de “descomunização”, mas não obtêm muito sucesso: em 2012, uma lei proibiu o uso dos símbolos comunistas e soviéticos, mas ela foi derrubada em 2013. Após a crise econômica vivida sob o presidente socialista pró-Rússia Igor Dodon (2016-2020), ele perdeu a reeleição pra liberal e pró-União Europeia Maia Sandu, eleita majoritariamente pela diáspora ao redor do mundo e reeleita em 2024. Atualmente ela segue um rumo modernizador, ocidentalizante e anticorrupção, apoiando a Ucrânia após a invasão russa e, por isso, entrando em maior tensão com a região separatista da Transnístria.

Esta versão do hino, usada de 1945 a 1980, menciona Stalin e a guerra explicitamente e tem uma estrutura mais parecida com a dos hinos de outras RSS: uma primeira estrofe louvando os russos, um refrão louvando a URSS, uma segunda estrofe louvando Lenin (e Stalin, até quando o politicamente correto permitiu) e uma terceira estrofe militarista, em velada alusão à vitória contra os nazistas (mudada na década de 1970 pela alusão ao “radiante futuro comunista”). Em 2012, o historiador e político moldovo Valeriu Passat afirmou que os autores teriam sido forçados a compor o hino por Iósif Mordóvets, major-general ucraniano, organizador do aparelho de segurança soviético e chefe do KGB na RSS da Moldávia. De 1953 até a adoção do novo hino, a melodia original era executada sem letra, devido à “desestalinização” comandada por Nikita Khruschov.

Eu traduzi diretamente do texto romeno disponível no verbete da Wikipédia em inglês sobre a canção. Fui procurando as palavras no dicionário, porque as traduções (mais ou menos) literais oferecidas em inglês e russo não batem nem entre si nem com o que entendi da letra. Quase não há gravações de época disponíveis, mas o YouTube disponibilizou uma versão que parece ter sido feita por inteligência artificial. Como a achei interessante enquanto documento histórico, assim como as outras gravações contidas na mesma playlist, decidi fazer a tradução.

Ao criar a Moldávia, Stalin tentou ao máximo separá-la culturalmente da Romênia, inclusive estimulando um “idioma moldávio”, escrito numa adaptação do alfabeto cirílico russo (a qual, particularmente, acho feia). Como os setores pró-Kremlin ainda se apegam a essa escrita, seguem abaixo a letra em cirílico pros curiosos, junto com o áudio, a letra no alfabeto latino e a tradução em português:


1. Молдова ку дойне стрэбуне пе плаюрь,
Ку поамэ ши пыне пе дялурь ши вэй.
Луптынд ку-ажуторул Русией мэреце,
А врут неатырнаря пэмынтулуй ей.

Рефрен:
Славэ ын вякурь, Молдовэ Советикэ,
Креште ку алте републичь сурорь,
Ши ку драпелул Советик ыналцэ-те,
Каля сэ-ць фие авынт крятор.

2. Пе друмул луминий ку Ленин ши Сталин,
Робия боерилор крунць ам ынвинс.
Пе ной дин избындэ-н избындэ ынаинте,
Не дуче слэвитул партид комунист.

(Рефрен)

3. Ын армия ноастрэ, луптынд витежеште,
Пе душманий цэрий ый вом бируй,
Ши-н маря фамилие а Униуний,
Молдова Советикэ-н вечь а-нфлори.

(Рефрен)

____________________


1. Moldova cu doine străbune pe plaiuri,
Cu poamă și pâne pe dealuri și văi.
Luptând cu-ajutorul Rusiei mărețe,
A vrut neatârnarea pământului ei.

Refren:
Slavă în veacuri, Moldovă Sovietică,
Crește cu alte republici surori,
Și cu drapelul Sovietic înalță-te,
Calea să-ți fie avânt creator.

2. Pe drumul luminii cu Lenin și Stalin,
Robia boierilor crunți am învins.
Pe noi din izbândă-n izbândă înainte,
Ne duce slăvitul partid comunist.

(Refren)

3. În armia noastră, luptând vitejește,
Pe dușmanii țării îi vom birui,
Și-n marea familie a Uniunii,
Moldova Sovietică-n veci a-nflori.

(Refren)

____________________


1. Moldávia, com doinas ancestrais pelos planaltos,
Com uva e pão pelos pelas colinas e vales.
Lutando com a ajuda da grande Rússia,
Desejou a independência de sua terra.

Refrão:
Glória pelos séculos, Moldávia Soviética,
Que cresce com outras repúblicas irmãs,
E se eleva com a bandeira soviética,
Que seu caminho seja um ímpeto criador.

2. Pelo caminho iluminado com Lenin e Stalin,
Vencemos a escravidão dos cruéis aristocratas.
De vitória em vitória, sempre em frente,
Nos conduz o glorificado partido comunista.

(Refrão)

3. Em nosso exército, lutando heroicamente,
Derrotaremos os inimigos do país,
E na grande família da União [a URSS],
A Moldova Soviética florescerá eternamente.

(Refrão)



Bandeira da RSS da Moldávia de 1940 a 1952, período da adoção do hino.

terça-feira, 30 de abril de 2024

Hino nacional no fim do J... Nacional?


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/hino-jn


Com a saudação do Bolsonaro trans do portal G1, apresento esta passagem da edição de 25 de abril de 2024 do telejornal das 19h30min da RTS, a estatal informativa da Suíça francófona, apresentada pelo famoso jornalista Philippe Revaz. Sexta-feira, começo de noite, ele já devia estar sonhando com a baladinha do finde, quando entrou ao vivo o repórter Jean-Marc Rossier, noticiando o iminente início da partida de hóquei entre as equipes do Zurich e do Lausanne, a ocorrer na cidade de Zurique. Como informaria mais tarde um artigo escrito da mesma emissora, o Zurich meteria um 3 a 0 no Lausanne na fase final das eliminatórias da Liga Nacional.

Enquanto Rossier falava, o Hino Nacional da Suíça era entoado no ginásio, e a canção parece ser do gosto de Revaz, que dizia que o ambiente estava “muito patriótico” e que ele depois podia continuar no local “cantando o hino com a mão no peito” (e não exatamente “ouvindo”, como legendei). A vontade de ir pro bar devia ser tamanha que o âncora até soltou no fim do jornal que “toda edição devia terminar com o hino nacional”, ideia que ele submeteria a Rossier. Achei a tirada tão engraçada que fiquei imaginando: como seria se isso fosse aplicado ao Jornal Nacional, noticiário noturno mais visto no Brasil?...

Nesse caso até está certo, porque se o jornal é “nacional”, em algum momento tinha que ter o hino “nacional”, rs. Cortei a maior parte da entrada de Rossier, cujo conteúdo era inútil, e deixei apenas o básico pra se entender o contexto, e depois traduzi o encerramento da reportagem e a despedida do jornal, feitos por Revaz. Também não traduzi as últimas palavras que informavam as próximas atrações, mas não tirei pro corte não ficar muito brusco. Quanto ao hino bananeiro aplicado à TV Globo, emendei os instrumentais inicial e final e deixei apenas o que cabia naquele lapso de tempo, tentando não comprometer a fruição musical. Não sei se você vai gostar, mas veja como ficou:



sábado, 30 de setembro de 2023

Hino Nacional no Níger desde 2023


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/hino-niger


Quando a junta militar que governa o Níger há mais de dois meses tomou o poder do presidente Mohamed Bazoum, em mais um enésimo golpe nessa região da África em poucos anos, acabei conhecendo a Télé Sahel, que é o canal de TV oficial daquele país. Ela transmitia a maioria dos eventos políticos de então, às vezes em inumeráveis reprises, com uma versão ao vivo no site oficial e algumas versões gravadas no YouTube. Enquanto ficou disponível na plataforma, consegui baixar uma dessas gravações ao vivo e achei o que descobri ser o hino nacional do Níger recém-adotado, pouco antes do golpe e que agora pode correr o risco de ser associado a esse período. As informações abaixo são traduções das Wikipédias em inglês e alemão, e na maioria das versões há pouca ou nenhuma informação sobre o novo hino. Acredito que em português esta publicação é a primeira, ou uma das primeiras, a explicar a canção e dar sua tradução literal.

L’Honneur de la Patrie (A Honra da Pátria) é o hino nacional da República do Níger, adotado em 22 de junho de 2023 pra substituir La Nigérienne (A Nigerina), adotada em 1961, um ano após o país ganhar a independência e deixar de ser uma colônia da França. De fato, o próprio hino tinha sido composto em 1961 pelos franceses Maurice Albert Thiriet (letra), Robert Jacquet e Nicolas Abel François Frionnet (melodia), na esteira da descolonização dos países da África Ocidental. Em 2019, o presidente Mahamadou Issoufou anunciou que estava planejando substituir La Nigérienne, pois reclamava-se que sua letra podia ser interpretada como uma demonstração de gratidão para com a antiga potência colonial: um dos versos mais visados era sobre serem “orgulhosos e gratos pela recém-obtida liberdade”. Estabeleceu-se um comitê de 15 especialistas nativos pra deliberar sobre o hino de então e, se fosse necessário, criar um novo hino, até que finalmente o parlamento do Níger adotou L’Honneur de la Patrie em substituição a La Nigérienne.

A iniciativa partiu, entre outros, de Assoumana Malam Issa, então Ministro do Renascimento Cultural, e o projeto foi fortemente apoiado por representantes de organizações juvenis e estudantis. O referido comitê incluiu membros do governo, especialistas, artistas e outros trabalhadores da cultura, presididos por Amadou Mailallé, mas com a garantia de que a sociedade civil em todas as regiões do país também se envolvesse sem qualquer pressão com prazos. Não foi especificado desde o início até que ponto as mudanças deveriam ser feitas e se elas afetariam apenas o texto ou a melodia também. O comitê viu uma análise crítica de La Nigérienne como sua tarefa mais importante, mas inicialmente também pediu propostas pra um novo hino nacional e fez uma seleção preliminar de três canções das 38 inscritas. Em fevereiro de 2020, o comitê disse que tinha levantado uma série de metas que iam desde como elaborar um hino até seu conteúdo programático. Após alguns meses de trabalho, o projeto quase foi suspenso.

O governo do presidente Mohamed Bazoum retomou o projeto e, sob a égide do Ministério da Cultura, reativou o comitê de Amadou Mailallé. O amplo envolvimento originalmente planejado do público ou a oportunidade para os indivíduos contribuírem com sugestões não ocorreu. O comitê elaborou em grande parte as etapas finais por conta própria. Em 24 de março de 2022, o governo anunciou que estava elaborando uma emenda constitucional pra um novo hino nacional, intitulado L’Honneur de la Patrie, contendo nova letra e nova melodia.

Em 22 de junho de 2023, a Assembleia Nacional aprovou a emenda constitucional que aboliu La Nigérienne e tornou L’Honneur de la Patrie o hino nacional do Níger. Ao mesmo tempo, foram divulgados o texto e a música elaborados pelo comitê de especialistas. O novo hino almeja promover a igualdade, liberdade, fraternidade, patriotismo e unidade nacional em conexão com o pan-africanismo e captar as dimensões do social, do cultural e da autodeterminação.

Eu mesmo traduzi diretamente a letra do francês, mas não inseri legendas em português no clipe da Télé Sahel (Partout et pour tous: Em toda parte e pra todos, rs). Lembrando que o Níger é o rio que dá nome ao país, e o Ténéré é um grande deserto que cobre parte do Níger e do Chade, nação vizinha. Pra acelerar o serviço, passei o texto no Google Tradutor e depois confrontei com o original pra corrigir as incoerências causadas, em parte, pela ausência de pontuação e de uniformidade ao usar iniciais maiúsculas. A tradução final é de minha lavra, mas mantive parte da falta de pontuação e o uso incoerente de iniciais maiúsculas:


Des rives du Niger aux confins du Ténéré
Frères et sœurs nous sommes
Enfants d’une même Patrie le Niger
Nourris de la sève des mêmes idéaux
Pour un Niger de paix libre fort et uni
Pour un Niger prospère le Pays de nos rêves
Pour l’honneur de la Patrie
Incarnons la vaillance et la persévérance
Et toutes les vertus de nos dignes aïeux
Guerriers intrépides déterminés et fiers
Défendons la patrie au prix de notre sang
Faisons du Niger symbole de dignité
Emblème et flambeau de l’Afrique qui avance
Pour ces nobles idéaux debout et en avant
En avant pour le travail en avant pour le combat
Nous demeurons debout
Portant haut le drapeau de notre cher Pays
Dans le ciel d’Afrique et dans tout l’Univers
Pour construire ensemble
Un monde de justice de paix et de progrès
Et pour faire du Niger la fierté de l’Afrique.

____________________


Das margens do Níger aos confins do Ténéré
Somos irmãos e irmãs
Filhos de uma mesma pátria, o Níger
Nutridos pela seiva dos mesmos ideais
Por um Níger pacífico, livre, forte e unido
Por um Níger próspero, o País de nossos sonhos
Pela honra da Pátria
Encarnemos a valentia e a perseverança
E todas as virtudes de nossos dignos ancestrais
Guerreiros intrépidos, determinados e altivos
Defendamos a pátria à custa de nosso sangue
Façamos do Níger um símbolo de dignidade
Emblema e tocha da África que avança
De pé e avante por esses nobres ideais
Avante pelo trabalho, avante pelo combate
Vamos permanecer de pé
Levando alto a bandeira de nosso querido País
No céu da África e em todo o Universo
Pra construirmos juntos
Um mundo de justiça, paz e progresso
E fazermos do Níger o orgulho da África.

sexta-feira, 14 de julho de 2023

Macron recebeu um presente da Dilma





Neste feriado de 14 de Julho, essa não foi a única mandioca que o presidente francês Mané Marcão Emmanuel Macron recebeu dos BRICS em Paris. Além dessa montagem tosca e infame que fiz com uma conversa sua durante o começo da parada, ele recebeu com toda a pompa Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia e candidato a ditador, que veio fazer gordas comprinhas... e não eram de artigos de luxo! Sua generosidade lhe rendeu o direto de ser convidado de honra da Festa Nacional e de trazer uma pequena amostra de suas tropas pra desfilar nos célebres Champs-Élysées:







Outras versões da referida montagem, feitas por um amigo meu:




E pra não perder o costume: Glória à Ucrânia! rs:




quarta-feira, 31 de maio de 2023

“A Internacional Tuvana” (1921-44)

Só após traduzir Tooruktuğ dolgay tañdım (A floresta cheia de pinhões), hino nacional da República Popular de Tuva (Tıva Arat Respublik) que na verdade vigorou por muito pouco tempo – depois, o pequeno país foi anexado à URSS, apesar da canção seguir em uso –, descobri que na maior parte de sua existência, a nação socialista usou como hino nacional a canção Tıva İnternatsional (A Internacional Tuvana), que não é uma tradução nativa da famosa Internacional, mas um poema próprio executado numa melodia folclórica. Pra você ter noção, quase não há referência a sua composição na internet, nem mesmo em língua russa, da mesma forma que a efêmera República de Tuva quase não deixou registros fonográficos ou filmados. A única versão da Wikipédia que relata sua origem e dá uma tradução numa língua euro-ocidental é em inglês, e curiosamente nem sequer sobre Tooruktuğ dolgay tañdım há um verbete na Wikipédia em russo.

Mesmo na Wikipédia em inglês, a única fonte citada sobre a canção, mas sem menção a páginas, é o volume 1 do livro Where Rivers and Mountains Sing: Sound, Music, and Nomadism in Tuva and Beyond, escrito por Theodore Levin “com” Valentina Süzükei e publicado nos EUA em 2010. A melodia é mencionada como “tradicional”, e nem na Wikipédia, nem em qualquer outro lugar, há alusões ao possível autor da letra. Segundo o site, A Internacional Tuvana foi usada de 1921 a 1944, e apesar do título, não é uma tradução poética da famosa canção operária A Internacional, escrita em francês no século 19 e cuja tradução poética em russo de Arkadi Kots foi o hino da URSS até 1944. Curiosamente, a referência da Internacional original é à Primeira Internacional na qual os próprios Karl Marx e Friedrich Engels atuaram e combateram Mikhail Bakunin e outros anarquistas, enquanto A Internacional Tuvana é dos raros hinos com esse nome cuja referência explícita é à Terceira Internacional, comunista, fundada por Lenin e também chamada “Comintern”.

Além da própria Rússia/URSS, a partir da década de 1920 apenas a Mongólia e Tuva (Tannu Tuva até 1926), países recém-criados e de culturas muito semelhantes, tinham conseguido implantar regimes socialistas, e por isso mesmo as duas últimas repúblicas dependiam praticamente em tudo da irmã mais que maior. E justamente em homenagem a ela, também adotaram hinos nacionais chamados A Internacional Tuvana e A Internacional Mongol, esta usada de 1924 a 1950 e que era igualmente uma canção toda nova, aludindo à Comintern. Havia, de fato, uma verdadeira tradução poética mongol da Internacional, mas não em tuvano, até onde eu saiba, e podemos pensar que não faria sentido manter hinos com referências à 3.ª Internacional após ela ter sido extinta por ordem monocrática de Stalin em 1943. Não por menos, quando o país foi anexado pela URSS durante a 2.ª Guerra Mundial, Tooruktuğ dolgay tañdım continuou usada pelo agora Oblast Autônomo de Tuva (cujas fronteiras não correspondiam exatamente às da antiga nação), dentro da RSFS da Rússia, e depois, quando foi promovida a República Socialista Soviética Autônoma de Tuva, em 1961, e finalmente quando foi formada a República de Tuva dentro da Rússia capitalista em 1991. Somente em 2011 a entidade recebeu um novo hino, Men – Tyva Men (Eu sou tuvano).

Pra esta introdução não ficar longa demais, e como você já leu sobre a história de Tannu Tuva na publicação sobre Tooruktuğ dolgay tañdım, vou reproduzir a maior parte da história no fim da página, e agora apenas explicar a parte técnica do trabalho. Neste vídeo, procurei ser mais variado e utilizei a maioria das bandeiras e brasões que foram adotadas pelo país, em ordem cronológica, mas não quis ser exaustivo, e até inseri uma nota de 10 “akchá”, moeda da época, de 1940. A Wikipédia em inglês diz que a última bandeira, com o símbolo da foice e do martelo, pode ter sido uma variante da bandeira final, que em tese incluiria apenas a inscrição “TAP” em cirílico (equivalente a nosso “TAR”): com ela, desejei simbolizar a inserção final dentro da URSS. De fato, houve muitas mudanças de bandeira e brasão, nem sempre registradas no Ocidente, de forma que muita coisa é hoje considerada “reconstituição” (Tannu Tuva era isolada do mundo e praticamente só mantinha comércio com os vizinhos). Tentei também usar um “filtro grunge” que achei por acaso no Google, pra ficar mais ou menos parecido com o aspecto dos vídeos com outros hinos das antigas RSS.

Como diversos hinos do passado recente ou distante, A Internacional Tuvana parece nunca ter tido uma gravação oficial de época, e a única versão existente conhecida parece ter sido gravada em 1993 no álbum 60 Horses In My Herd. Old Songs And Tunes Of Tuva, o primeiro do grupo folclórico tuvano Huun-Huur-Tu (ou Hün Hürtü, “Хүн Хүртү”), fundado em 1992 pelo músico local Kaigal-ool Khovalyg (n. 1960). Ele mesmo é especialista no khöömei, um estilo de canto glotal da região que também foi utilizado no hino, junto à instrumentação que pra nós lembra tribos xamânicas. Este sim, seria um socialismo com traços nacionais... Pra traduzir, usei só a versão em inglês mesmo, porque na maioria das ferramentas online, é impossível utilizar indiretamente qualquer língua aparentada, mesmo o turco, pois as túrquicas siberianas quase não são faladas na atualidade. Da Wikipédia em inglês, também aproveitei o original em cirílico e uma transliteração modernizada, alinhada com outras línguas túrquicas e não usada oficialmente na Rússia, que seguem abaixo:



Na última estrofe, se ouvirmos bem o áudio, não foi pronunciado huvuskaalın, mas alguma palavra que, como comprovamos na tradução, tem a mesma raiz latina que nossa “revolução”. Mas como o sentido é o mesmo e como só existe essa versão da letra por toda a internet, fica aqui a nota, sem mais mudanças.


Ortografia modernizada:

Kadagaatı kargızınga,
Kaçıgdadıp çoraan arat
Kaçıgdaldan çarıp algan.
Kaygamçıktıg İnternatsional!

İştikiniñ ezergeenge
Ezergedip çoraan arat,
Ezergekten çarıp algan.
Enereldig İnternatsional!

Bömbürzektiñ kırınayga
Büdüülükke çoraan arat,
Bürün erge tıpsın bergen.
Büzüreldig İnternatsional!

Ületpürçin taraaçınnın
Ünüp turar huvuskaalın,
Ürülçü-le baştap turar.
Üş-le dugaar İnternatsional!


Alfabeto cirílico de 1943:

Кадагааты каргызынга,
Качыгдадып чораан арат
Качыгдалдан чарып алган.
Кайгамчыктыг Интернационал!

Иштикиниң эзергээнге
Эзергэдип чораан арат,
Эзергэктен чарып алган.
Энерелдиг Интернационал!

Бөмбүрзектиң кырынайга
Бүдүүлүкке чораан арат,
Бүрүн эрге тыпсын берген.
Бүзүрелдиг Интернационал!

Үлетпүрчин тараачыннын
Үнүп турар хувускаалын,
Үргүлчү-ле баштап турар.
Үш-ле дугаар Интернационал!


Tradução aproximada:

Sob tiranos estrangeiros
Os altivos camponeses sofrem
Massacrados pelo mal.
A fascinante Internacional!

Tensionados dentro do país
Os altivos camponeses oprimidos
São sobrecarregados às custas do povo.
A graciosa Internacional!

À corrupção global
E às pessoas ignorantes
Traz alternativas totalmente novas
A Internacional independente!

Os camponeses proletários
Formam uma arena revolucionária
Na qual dure eternamente
A Terceira Internacional!



Conhecido como “Tannu Tuva” ou “Tannu-Tuva” até 1926, foi um pequeno país socialista que chegou a existir de 1921 a 1944 após a Revolução de Outubro, etnicamente povoado por tuvanos, mongóis e russos. Hoje quase ninguém sabe de sua existência, porque de fato apenas a própria URSS e a República Popular da Mongólia o reconheciam e mantinham relações diplomáticas com ele, sendo no final das contas, assim como a própria Mongólia, basicamente um satélite soviético. Até 1911, fez parte da Mongólia, esta por sua vez incorporada à China imperial, e naquele ano, com a proclamação da República chinesa, Mongólia e Tuva também se declararam repúblicas independentes. Em 1914, Tuva passou a ser um protetorado do Império Russo, e durante a guerra civil entre monarquistas e bolcheviques, estes terminaram ocupando a região, onde em 14 de agosto de 1921 foi declarada a independência da “República Popular de Tannu Tuva”, sob os auspícios da Rússia. Com a adoção da constituição de 1924, confirmou-se a formação de um governo de partido único nos moldes soviéticos, e em 1926 adotaram-se os primeiros brasão e bandeira, e a capital foi renomeada Kyzyl (“vermelho” em tuvano). O akşa (“akchá”) foi a moeda usada de 1934 a 1944.

De 1925 a 1929, o primeiro-ministro Donduk Kuular, ex-lama do budismo tibetano, tentou implementar políticas mais nacionalistas, buscou obrigar todas as crianças tuvanas a chuparem sua língua fazer do budismo tibetano a religião de Estado e procurou estreitar laços com a Mongólia, coisas que iam na contramão da evolução da URSS sob Stalin. Assim, com apoio soviético, cinco burocratas que tinham estudado em Moscou derrubaram Kuular e formaram uma espécie de junta até 1932, quando um deles, Salchak Toka, chegou à liderança do partido único e Kuular foi fuzilado. Iniciou-se uma política de perseguição à religião e de busca por coletivizar os camponeses nômades, e abandonou-se o mongol como língua culta escrita, adotando-se pra isso o alfabeto latino pra escrever o tuvano. Em 1943, um dos passos rumo à incorporação à URSS foi a adoção do alfabeto cirílico, usado até hoje em Tuva.

Salchak Toka, como líder do partido único da República Popular de Tuva desde 1932, passou a comandar o país na prática, apesar da existência de outras instituições. Solidário ao esforço de guerra soviético desde 1941 e promotor da absorção de seu país pela URSS, continuou liderando o Partido Comunista nos períodos do oblast autônomo e da república autônoma até morrer, em 1973. O mando de Toka se estendeu a essas sub-regiões também, e desde a stalinização de Tuva, deu-se também a russificação de sua cultura, política e instituições.

Provavelmente bastante antiga, a língua tuvana, porém, só foi mencionada pela primeira vez em fontes do início do século 19, e sua primeira forma escrita surgiu no início do século 20, com uma adaptação do alfabeto mongol, escrito verticalmente, pelo acadêmico Nikolaus Poppe. Tradicionalmente mais próximos dos mongóis, os tuvanos, que passaram por vários jugos imperiais, usavam o mongol (ele mesmo escrito hoje no alfabeto cirílico) como língua escrita, até a adoção do latino em 1930, no qual muito pouca coisa foi impressa. Pra piorar, o tuvano faz parte da grande família túrquica, mas do grupo siberiano, o mais oriental de todos e cujos membros só muito recentemente têm recebido mais atenção acadêmica. São línguas com apenas umas centenas de falantes, muito idosos, e o próprio tuvano, dependendo da fonte, teria entre 240 mil e 283 mil falantes por volta de 2010-12. Isso o coloca no primeiro grau de vulnerabilidade ao desaparecimento. Sergei Shoigu, atual ministro da defesa de Putin, nasceu em Tuva e tem pai tuvano e mãe russa nascida na Ucrânia, mas pelo que consta, ele não fala tuvano, e nesta matéria de 2012 informa-se que além do russo, ele dominaria inglês, japonês e turco.

Curiosamente, a República Popular de (Tannu) Tuva foi um dos três primeiros países socialistas do mundo, junto com a URSS e a Mongólia, mas assim como esta, ela afinal tinha sua existência dependente dos soviéticos. Essa fragilidade se reflete nas muitas mudanças de bandeira e brasão, de forma que tive de escolher arbitrariamente como ilustraria esta publicação e o vídeo (ver abaixo). Tanto que hoje, a República de Tuva (ou Tyva em russo e tuvano) é uma das regiões mais pobres da Rússia e tem o menor IDH da federação. Apesar dos obstáculos de Moscou, os tuvanos têm no geral uma tendência à independência, como se verificou em 1990 durante violências contra a população russa local. Este vídeo de um canal de geografia traz uma breve história ilustrada de Tannu Tuva, embora a dicção do narrador seja sofrível. Meu interesse no extinto país surgiu justamente quando visitava a página da Wikipédia sobre as repúblicas soviéticas, na qual descobri, além da SSR Carelo-Finlandesa, outras unidades que existiram brevemente após a revolução ou tentaram ser independentes em 1990 e não chegaram a ter hino.


quinta-feira, 27 de abril de 2023

Hino da República Popular de Tuva

A canção Tooruktuğ dolgay tañdım (A floresta cheia de pinhões) serviu de hino nacional da República Popular de Tuva (Tıva Arat Respublik), um pequeno país socialista que chegou a existir de 1921 a 1944 após a Revolução de Outubro. Hoje quase ninguém sabe de sua existência, porque de fato apenas a própria URSS e a República Popular da Mongólia o reconheciam e mantinham relações diplomáticas com ele, sendo no final das contas, assim como a própria Mongólia, basicamente um satélite soviético. Esse “hino”, baseado numa melodia popular tuvana, foi adotado em 1944 e tem letra da maestrina e diretora artística Ayana Samiyaevna Monguş (em cirílico, “Аяна Самияевна Монгуш”), que é ou foi diretora da Orquestra Nacional de Tuva e cuja biografia praticamente inexiste na internet. Quando o país foi anexado pela URSS durante a 2.ª Guerra Mundial, o hino continuou usado pelo agora Oblast Autônomo de Tuva (cujas fronteiras não correspondiam exatamente às da antiga nação), dentro da RSFS da Rússia, e depois, quando foi promovida a República Socialista Soviética Autônoma de Tuva, em 1961, e finalmente quando foi formada a República de Tuva dentro da Rússia capitalista em 1991. Somente em 2011 a entidade recebeu um novo hino, Men – Tyva Men (Eu sou tuvano).

Conhecida como “Tannu Tuva” ou “Tannu-Tuva” até 1926, era etnicamente povoada por tuvanos, mongóis e russos. Até 1911, fez parte da Mongólia, esta por sua vez incorporada à China imperial, e naquele ano, com a proclamação da República chinesa, Mongólia e Tuva também se declararam repúblicas independentes. Em 1914, Tuva passou a ser um protetorado do Império Russo, e durante a guerra civil entre monarquistas e bolcheviques, estes terminaram ocupando a região, onde em 14 de agosto de 1921 foi declarada a independência da “República Popular de Tannu Tuva”, sob os auspícios da Rússia. Com a adoção da constituição de 1924, confirmou-se a formação de um governo de partido único nos moldes soviéticos, e em 1926 adotaram-se os primeiros brasão e bandeira, e a capital foi renomeada Kyzyl (“vermelho” em tuvano). O akşa (“akchá”) foi a moeda usada de 1934 a 1944.

De 1925 a 1929, o primeiro-ministro Donduk Kuular, ex-lama do budismo tibetano, tentou implementar políticas mais nacionalistas, buscou obrigar todas as crianças tuvanas a chuparem sua língua fazer do budismo tibetano a religião de Estado e procurou estreitar laços com a Mongólia, coisas que iam na contramão da evolução da URSS sob Stalin. Assim, com apoio soviético, cinco burocratas que tinham estudado em Moscou derrubaram Kuular e formaram uma espécie de junta até 1932, quando um deles, Salchak Toka, chegou à liderança do partido único e Kuular foi fuzilado. Iniciou-se uma política de perseguição à religião e de busca por coletivizar os camponeses nômades, e abandonou-se o mongol como língua culta escrita, adotando-se pra isso o alfabeto latino pra escrever o tuvano. Em 1943, um dos passos rumo à incorporação à URSS foi a adoção do alfabeto cirílico, usado até hoje em Tuva.

Salchak Toka, como líder do partido único da República Popular de Tuva desde 1932, passou a comandar o país na prática, apesar da existência de outras instituições. Solidário ao esforço de guerra soviético desde 1941 e promotor da absorção de seu país pela URSS, continuou liderando o Partido Comunista nos períodos do oblast autônomo e da república autônoma até morrer, em 1973. O mando de Toka se estendeu a essas sub-regiões também, e desde a stalinização de Tuva, deu-se também a russificação de sua cultura, política e instituições. Antes da adoção de A floresta cheia de pinhões, a Tuva comunista usou a canção Tıva İnternatsional (A Internacional Tuvana), que não é uma tradução nativa da famosa Internacional, mas um poema próprio executado numa melodia folclórica.

Provavelmente bastante antiga, a língua tuvana, porém, só foi mencionada pela primeira vez em fontes do início do século 19, e sua primeira forma escrita surgiu no início do século 20, com uma adaptação do alfabeto mongol, escrito verticalmente, pelo acadêmico Nikolaus Poppe. Tradicionalmente mais próximos dos mongóis, os tuvanos, que passaram por vários jugos imperiais, usavam o mongol (ele mesmo escrito hoje no alfabeto cirílico) como língua escrita, até a adoção do latino em 1930, no qual muito pouca coisa foi impressa. Pra piorar, o tuvano faz parte da grande família túrquica, mas do grupo siberiano, o mais oriental de todos e cujos membros só muito recentemente têm recebido mais atenção acadêmica. São línguas com apenas umas centenas de falantes, muito idosos, e o próprio tuvano, dependendo da fonte, teria entre 240 mil e 283 mil falantes por volta de 2010-12. Isso o coloca no primeiro grau de vulnerabilidade ao desaparecimento. Sergei Shoigu, atual ministro da defesa de Putin, nasceu em Tuva e tem pai tuvano e mãe russa nascida na Ucrânia, mas pelo que consta, ele não fala tuvano, e nesta matéria de 2012 informa-se que além do russo, ele dominaria inglês, japonês e turco.

Curiosamente, a República Popular de (Tannu) Tuva foi um dos três primeiros países socialistas do mundo, junto com a URSS e a Mongólia, mas assim como esta, ela afinal tinha sua existência dependente dos soviéticos. Essa fragilidade se reflete nas muitas mudanças de bandeira e brasão, de forma que tive de escolher arbitrariamente como ilustraria esta publicação e o vídeo (ver abaixo). Tanto que hoje, a República de Tuva (ou Tyva em russo e tuvano) é uma das regiões mais pobres da Rússia e tem o menor IDH da federação. Apesar dos obstáculos de Moscou, os tuvanos têm no geral uma tendência à independência, como se verificou em 1990 durante violências contra a população russa local. Este vídeo de um canal de geografia traz uma breve história ilustrada de Tannu Tuva, embora a dicção do narrador seja sofrível. Meu interesse no extinto país surgiu justamente quando visitava a página da Wikipédia sobre as repúblicas soviéticas, na qual descobri, além da SSR Carelo-Finlandesa, outras unidades que existiram brevemente após a revolução ou tentaram ser independentes em 1990 e não chegaram a ter hino.

Nesta página, usei as últimas versões do brasão e da bandeira antes da anexação à URSS, tanto que estão até com o alfabeto cirílico. No vídeo, usei a primeira bandeira com o primeiro brasão, que traz inscrições no alfabeto latino, e a penúltima bandeira, igual à última, apenas com a sigla “TAR” no alfabeto latino, e não cirílico. Tentei também usar nestas um filtro “grunge” que achei com o Google, pra ficarem mais ou menos parecidas com as dos outros hinos. As execuções atuais no estilo glotalizado local são de difícil apreciação ao ocidental (pelo menos pra mim), e esta versão, que foi executada, se os créditos estiverem certos, pela artista tuvana Sainkho Namchylak (n. 1957), hoje radicada na Áustria, me pareceu mais palatável. Pra traduzir, só mesmo com as versões em inglês e russo da Wikipédia, já que é impossível utilizar indiretamente qualquer língua aparentada no Google Tradutor, mesmo o turco, pois as túrquicas siberianas inexistem aí. Nesta página mesma, com as letras e as traduções russas do hino antigo e do atual, o texto é igual ao da Wikipédia, e alguns fóruns explicam que a discrepância de tamanho se deve ao caráter sintético da língua tuvana.

Por isso mesmo, dependente dessas duas traduções, obtive duas letras com significado igual, mas tamanho bem diferente: a versão em inglês está bem resumida, com versos do tamanho dos originais (não é poética), e a versão russa, que acredito ser mais fiel, parece bem mais explicativa e precisa. Não pude verificar essas “fidelidades” de forma alguma, dado o isolamento genético do tuvano, então me arrisquei a publicar aqui as duas traduções, chamando-as de “resumida” (que usei no vídeo) e “detalhada”. Além disso, nenhuma língua usa hoje o alfabeto latino criado pra várias línguas túrquicas na década de 1920 (nem o próprio tuvano), o que pode tornar a leitura difícil pra quem tem alguma base das túrquicas. Assim, baseado no turco e no cazaque, fiz outra transliteração pro vídeo e que também segue abaixo, com a ortografia de 1930, a versão em cirílico e as duas traduções:


Pro meu ouvido, a cantora não usa Dorukturza no quarto verso, e sim Azıraza, como no oitavo. Então, o vídeo contém dois Azıraza, mas as duas formas se mantém abaixo. E por fim, se você se perguntar “Onde foram parar os pinhões?”, que de fato existem em Tuva, sinceramente não sei, e não foi explicado em nenhum site!


Ortografia modernizada:

Tooruktuğ dolgay tañdım
Dolganzımza todar-la men
Tos-la çüzün malımaynı
Dorukturza bayıır-la men

Eziriktiğ eer-le tañdım
Ergilzimze todar-la men
Ereen-şokar malımaynı
Azıraza bayıır-la men


Alfabeto latino de 1930:

Tooruktuƣ tolgaj taꞑdьm
Tolganzьmza todar-la men
Tos-la cyzyn malьmajnь
Torukturza pajььr-la men

Eziriktiƣ eer-le taꞑdьm
Ergilzimze todar-la men
Ereen-şokar malьmajnь
Azьraza pajььr-la men.


Alfabeto cirílico de 1943:

Тооруктуг долгай таңдым
Долганзымза тодар-ла мен
Тос-ла чүзүн малымайны
Доруктурза байыыр-ла мен.

Эзириктиг ээр-ле таңдым
Эргилзимзе тодар-ла мен
Эрээн-шокар малымайны
Азыраза байыыр-ла мен.


Tradução resumida:

Quando caminho em minhas florestas
Sempre estou satisfeito
Pois minhas florestas são ricas
De animais e de tudo de que preciso

Nasci lá entre os montes, rochedos e a taiga
Eu sou forte por causa disso
Vou criar nove animais diferentes e ficar rico
Se eu cuidar deles, vou ficar rico


Tradução detalhada:

Quando caminho em minhas florestas
Sempre estou satisfeito
Pois minhas florestas são ricas
      [de animais e de tudo de que preciso
Nasci lá entre os montes, rochedos e a taiga

Eu sou forte por causa disso
Vou criar meu gado doméstico e vou ficar rico
Nove animais diferentes,
      [se eu os pastorear e alimentar
E cuidar deles como de meus parentes, vou ficar rico



terça-feira, 25 de abril de 2023

Hino Nacional, RSS Carelo-Finlandesa

Este é o Hino Nacional da República Socialista Soviética Carelo-Finlandesa (Karjalais-suomalaisen sosialistisen neuvostotasavallan hymni), também conhecido por seu primeiro verso, Oma Karjalais-suomalaiskansamme maa (Nossa terra dos povos carelo-finlandeses). Essa desconhecida RSS, também chamada apenas de “Carélia” ou “Carélia Soviética”, resultou da fusão de territórios da Carélia histórica que já pertenciam à RSFS da Rússia com o resto da Carélia e outros territórios que até 1940 pertenciam à Finlândia, um país independente do antigo Império Russo desde 1917. Após a chamada “guerra de inverno” entre o país e a URSS (1939-1940), a paz foi assinada, em contrapartida da concessão daqueles territórios aos soviéticos, que chegaram a ser retomados com a ajuda da Alemanha nazista em 1940-44, mas caíram de novo com o selamento definitivo do Armistício de Moscou. Nos dois períodos, boa parte da população careliana e finlandesa foi evacuada pra Finlândia.

Além de perder vários territórios, Helsinki também teve de tomar medidas políticas internas favoráveis à URSS (legalização do Partido Comunista, prisão de fascistas e julgamento de políticos ligados aos planos bélicos) e manter a neutralidade na “guerra fria”, este último fator cessando no último abril de 2023, com a adesão do país à OTAN. A intenção de Stalin era anexar toda a Finlândia, de forma que estabeleceu na cidade de Terijoki, antes que tomasse a capital, um governo-fantoche liderado por Otto Wille Kuusinen (1881-1964), mas com a derrota, o governo ficou limitado à que se tornaria a RSS Carelo-Finlandesa (ou RSS da Carélia) em 1940. Kuusinen foi o líder supremo dessa república durante toda a existência dela, tendo outros membros de governo a seu lado. Por razões ainda hoje especuladas, a RSS Carelo-Finandesa foi “rebaixada” à República Socialista Soviética Autônoma da Carélia em 1956, dentro da RSFS da Rússia, e parte de seu território foi incorporada aos oblasts (províncias) de Leningrado e de Murmansk, ambos também russos. Atualmente, a antiga RSSA constitui a República da Carélia, dentro da Federação Russa.

Exceto em 1941-44, a capital da RSS Carelo-Finlandesa foi Petrozavodsk, chamada “Petroskoi” em finlandês e ainda hoje capital da citada república. Como se podem ver no vídeo e na publicação, a bandeira foi usada de 1953 a 1956, e o brasão de 1941 a 1956. O caso dessa RSS foi inédito durante a história soviética, em que foi a única a ter sido rebaixada a RSSA e a única RSS em que sua etnia nominal não era nem numerosa nem, em sua terra, majoritária, e nem tinha sido uma nação independente separada no passado. E justamente, como boa parte da população tinha sido evacuada pra Finlândia, e como a Carélia começou a ser povoada por outros povos da URSS, a existência da RSS perdia a razão de ser, além de ser muito dispendiosa.

Quanto a sua criação, importa reter um aspecto: mesmo não conseguindo anexar a Finlândia de imediato, Stalin ainda pensava em fazê-lo no longo prazo, e a RSS Carelo-Finlandesa seria um “trampolim” pra seus planos, o ponto de partida pra uma futura anexação. Por isso mesmo, quando essa pretensão perdeu o sentido, e quando Khruschov visava distender suas relações com Helsinki, o “rebaixamento” da RSS acenava na direção da renúncia ao expansionismo. Importa determo-nos também um pouco mais na figura de Otto Kussinen: nascido na Finlândia tsarista, fugiu pra Rússia soviética em 1918, após liderar um fracassado intento de transformar o novo país numa república socialista (tipo a Hungria de Béla Kun em 1919), levando a uma guerra civil no começo do ano. Na URSS, tornou-se uma figura de destaque na liderança da Internacional Comunista, escapou aos expurgos de 1936-38 e sempre foi fiel a Stalin, jamais sendo depois perseguido por Khruschov por isso. Kuusinen foi “plantado” como líder do governo moscovita na Finlândia, e com o fracasso da invasão, terminou com a chefia da RSS Carelo-Finlandesa mesmo. Após 1956, continuou no “topo do topo” da cúpula do PC soviético, editou obras sobre o marxismo-leninismo e entrou pra Academia de Ciências.

Voltando ao hino nacional: assim como os hinos das RSS da Geórgia e da Estônia, era dos poucos que não mencionava o povo russo. Pelo contrário, há muitas referências à mitologia nórdica que preciso explicar. A segunda estrofe cita Kaleva (ou Kalevi, Kalev), um antigo governante mítico finlandês, e os poemas rúnicos, uma espécie de versificação nórdica e anglo-saxã, mais raramente finlandesa, ligada à ordem alfabética da escrita rúnica, embora em finlandês runo signifique “poema” em geral. A terceira estrofe cita o sampo (Sammon com dois “m” é uma declinação especial), uma espécie de misterioso objeto mágico que traria sorte e riqueza a seu detentor. Kaleva e o sampo aparecem na Kalevala, a epopeia nacional finlandesa e careliana, publicada no século 19 por meio de pesquisa sobre o folclore dos dois povos. Na classificação mais aceita, finlandês e careliano são línguas-irmãs da família urálica, grupo balto-fínico, ramo fínico setentrional (o estoniano é do ramo fínico meridional), ambas escritas no alfabeto latino, e mais raramente no cirílico. Enquanto a maioria dos finalndeses é luterana ou irreligiosa, os carelianos são mais ortodoxos orientais, mas ao longo dos séculos 20 e 21 os carelianos têm se assimilado aos russos ou aos finlandeses.

O Hino Nacional da RSS Carelo-Finlandesa tem melodia de Karl (Kalle) Rautio (1889-1963), músico e maestro de etnia careliana, e letra do poeta, escritor, jornalista e ativista finlandês Armas Äikiä (1904-1965). A competição pra adoção de um hino foi lançada em 1945, quando esta canção foi adotada, mas ela logo seria abandonada em 1956. Havia também a letra em careliano e uma tradução poética em russo, mas a finlandesa era a oficial, e notavelmente não tem uma versão sem a menção a Stalin, por razões óbvias. Isso segundo a Wikipédia, pois em extensa pesquisa feita pelo youtuber DeroVolk e publicada em seu blog, ele conclui que não há evidências de qualquer adoção oficial do hino pelas autoridades da Carélia Soviética. Primeiro, porque não há nenhuma legislação dispondo sobre sua adoção e popularização, como era então comum. Segundo, porque após a letra de Äikiä ter sido encomendada, quem teria ganhado o concurso pra adaptar uma melodia não teria sido Rautio (que teria ficado em segundo lugar), e sim o compositor de origem judaica Ruvim Pergament (1906-1965). Um dos motivos registrados pra rejeição teria sido a complexidade de execução e aprendizado da melodia, mas pairam suspeitas sobre rixas entre músicos locais e uma campanha antissemita velada.

E terceiro motivo, e mais evidente, não foi deixada nenhuma gravação de época do hino carelo-finlandês, nem instrumental, nem vocal, de forma que, como também DeroVolk publica em outro artigo, houve tentativas pós-soviéticas de reconstituir a canção por meios digitais. De fato, existe um arquivo instrumental gerado com sintetizador pelo canal GETchan ainda em 2016, e por cima dele o administrador do canal Der Klaviermusiker carregou em 2021 legendas com sua voz cantando. Pra fazer meu vídeo, apenas a título ilustrativo, achei esta versão a mais palatável, apesar dele não ser um falante nativo e falar meio “abatatado”. Quanto à tradução, fiz a partir do russo e comparei com a inglesa e a alemã (que dizem ter sido feita direto do finlandês), tudo na Wikipédia, não vendo diferença nas outras línguas. Também joguei o texto direto no Google Tradutor, o que só me iluminou em alguns pontos, e aproveitei meu conhecimento mínimo da língua em pesquisas pontuais.

Como sempre, seguem o vídeo, a letra em finlandês e a tradução:


1. Oma Karjalais-suomalaiskansamme maa,
Vapaa Pohjolan Neuvostojen tasavalta.
Kotimetsäimme kauneus öin kajastaa
Revontultemme taivaalta leimuavalta.

Kertosäe:
Neuvostoliitto on voittamaton,
Se kansamme suur-isänmaa ijät on.
Sen Tienä on Kansojen Kunniantie,
Se Karjalan Kansankin voittoihin vie.

2. Isänmaa Kalevan, kotimaa runojen,
Jota Leninin Stalinin lippu johtaa.
Yli kansamme uutteran onnellisen
Valo kansojen veljeystähdestä hohtaa.

(Kertosäe)

3. Kotimaamme loi uudeksi kansamme työ,
Tätä maata me puollamme kuin isät ammoin.
Sotasuksemme suihkavat kalpamme lyö.
Asemahdilla suojaamme Neuvosto-Sammon.

(Kertosäe)

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1. Nossa terra dos povos carelo-finlandeses,
Livre república nórdica dos Sovietes!
À noite a beleza de nossas florestas se reflete
Em nosso céu que brilha com a aurora boreal.

Refrão:
A União Soviética é invencível,
É pra sempre a grande Pátria de nosso povo.
Seu caminho é o caminho glorioso do Povo
Que leva também o povo da Carélia às vitórias.

2. Pátria de Kaleva, nação dos poemas rúnicos,
Está agora sob a bandeira de Lenin e Stalin.
A luz da estrela da fraternidade das pessoas
Clareia nossa gente trabalhadora e alegre.

(Refrão)
O esforço de nosso povo reavivou nossa Pátria,
Defendemos esta terra como o fizeram nossos pais.
Nossos céus sussurram, nossas espadas golpeiam.
Com forças guerreiras defendemos o sampo soviético.

(Refrão)



domingo, 23 de abril de 2023

Hino Nacional da RSS do Usbequistão

Este é o Hino Nacional da República Socialista Soviética do Usbequistão (Ўзбекистон Совет Социалистик Республикасининг давлат мадҳияси, Oʻzbekiston Sovet Sotsialistik Respublikasining davlat madhiyasi), uma das componentes da URSS formada logo no início da união e com cultura e língua túrquicas. Em 1940, foi imposto o alfabeto cirílico por Stalin, mas desde 1992, após a independência do país, o cirílico conviveu com versões do alfabeto latino sucessivamente reformadas, prevendo-se o abandono completo do cirílico em 2023. O hino usbeque soviético foi composto e adotado em 1947, com letra de Temur Fattoh e Turob To‘la (Turab Tula) e melodia de Mutal Burhonov. A partir de 1956, o hino passou a ser executado sem letra, e um novo texto sem menções a Stalin, que é o apresentado aqui, foi adotado em 1978.

Em 1992, como hino do Usbequistão independente, decidiu-se manter a melodia, mas substituir a letra por outra escrita por Abdulla Oripov. O Usbequistão foi um dos poucos países que, após a dissolução da URSS, continuou usando a melodia do hino soviético regional no hino da nação independente, junto com Tajiquistão e Belarus. A Rússia, que nunca teve um hino regional quando era a “RSFSR”, só readotaria a melodia do Hino da URSS em 2000.

Antes de traduzir pro português, comparei entre si as traduções em inglês, espanhol, ucraniano e belarusso que encontrei na Wikipédia (a versão russa era “poética”, não literal, portanto evitei). Como pareciam não dizer coisa com coisa, descartei logo de cara os textos em inglês e espanhol, e me baseei nos textos ucraniano e belarusso, que, porém, não batiam entre si. Acabei traduzindo a partir desses dois, comparei de novo com o inglês e joguei o original usbeque no Google Tradutor pra ver o que dava. O jeito que eles se expressam é que parecia diferente, então só adequei o conteúdo semântico à sintaxe “ocidental”. Eu mesmo também legendei e montei o vídeo, que segue abaixo junto com o original em cirílico e a tradução em português:


1. Ассалом, Рус халқи, буюк оғамиз,
Барҳаёт доҳиймиз Ленин, жонажон, жонажон!
Озодлик йўлини Сиз кўрсатдингиз,
Советлар юртида Ўзбек топди шон!

Refrão:
Партия раҳнамо, жон Ўзбекистон,
Серқуёш ўлкасан, обод, баркамол!
Тупроғинг хазина, бахтинг бир жаҳон,
Советлар юртида сенга ёр иқбол!

2. Серқуёш ўлкада кўрмасдик зиё,
Дарёлар бўйда эдик сувга зор, сувга зор.
Тонг отди, Инқилоб, Ленин раҳнамо,
Раҳнамо Лениндан халқлар миннатдор!

(Refrão)

3. Коммунизм гулбоғи мангу навбаҳор,
Тоабад қардошлик – дўстлик барҳаёт, барҳаёт!
Советлар байроғи ғолиб, барқарор,
Бу байроқ нуридан порлар коинот!

(Refrão)

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1. Paz a você, povo russo, nosso grande irmão!
Viva nosso genial e queridíssimo Lenin!
Você nos mostrou o caminho da liberdade,
O usbeque é celebrado pelo País dos Sovietes.

Refrão:
Ó, Partido, você conduz nosso Usbequistão,
Ele floresce, dotado de um destino feliz.
É um lugar de tesouros terrestres banhado de Sol,
Tenha sempre sucesso no País dos Sovietes!

2. Em dias claros, a luz do Sol era escondida de nós,
Passávamos sede junto a rios caudalosos.
Lenin nos abriu a aurora de Outubro,
Nosso povo é grato ao grande Lenin.

(Refrão)

3. O comunismo é a primavera eterna na Terra,
Com fraternidade eterna e amizade vivíssima.
A bandeira soviética é vitoriosa e resistente,
O Universo resplandece a luz dessa bandeira!

(Refrão)



sexta-feira, 21 de abril de 2023

Hino Nacional da RSS da Ucrânia

Este é o Hino Nacional da República Socialista Soviética da Ucrânia (Державний гімн Української Радянської Соціалістичної Республіки, Derzhavny himn Ukrainskoi Radianskoi Sotsialistychnoi Respubliky), adotado em 1949 com letra do poeta Pavló Hryhorovych Tychyna e melodia feita por um coletivo de compositores dirigido por Anton Dmytrovych Lebedynets. A primeira versão continha menções ao então governante Stalin, e assim como ocorreu com os outros hinos de RSS, inclusive o da própria URSS, a letra foi reelaborada em 1978 por Mykola Platonovych Bazhan, pra excluir essa e outras menções agora incômodas. O hino vigorou até 1992, ano em que a Ucrânia se tornou um país independente e adotou uma lei deliberando sobre o novo hino. Desde 2015, por força das leis de “descomunização”, a execução pública do antigo hino foi proibida, assim como a ostentação de outros símbolos soviéticos.

O hino da RSS da Ucrânia jamais se tornou amplamente estimado, e conviva lado a lado com muitas outras canções que davam uma identidade nacional-popular. Nos tempos soviéticos, a maioria das manifestações culturais puramente ucranianas era considerada expressão de “nacionalismo burguês”, mas a postura de Moscou pra com elas oscilou muito ao longo das décadas. O teatro, a música e a literatura, por exemplo, floresceram, mas sob os olhares atentos e o controle dos bolcheviques, de forma que a predominância política, científica e diplomática da língua russa se mantinha imune. Eu traduzi direto do ucraniano, que é muito próximo do russo, e legendei o vídeo em português e, pra seu conforto, numa transliteração ucraniana que eu mesmo criei. Seguem o vídeo, a letra em cirílico e a tradução:


1. Живи, Україно, прекрасна і сильна,
В Радянськім Союзі ти щастя знайшла.
Між рівними рівна, між вільними вільна,
Під сонцем свободи, як цвіт розцвіла.

Refrão:
Слава Союзу Радянському, слава!
Слава Вітчизні на віки-віків!
Живи, Україно, радянська державо,
В єдиній родині народів-братів!

2. Нам завжди у битвах за долю народу
Був другом і братом російський народ,
Нас Ленін повів переможним походом
Під прапором Жовтня до світлих висот.

(Refrão)

3. Ми славим трудом Батьківщину могутню,
Утверджуєм правду безсмертних ідей.
У світ комунізму – величне майбутнє –
Нас ленінська партія мудро веде.

(Refrão)

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1. Viva, Ucrânia, belíssima e forte,
Que encontrou a felicidade na União Soviética.
Igual entre iguais, livre entre livres,
Sob o sol da liberdade abriu-se em flor.

Refrão:
Glória à União Soviética, glória!
Glória à Pátria pra todo o sempre!
Viva, Ucrânia, Estado soviético,
Numa família unida de povos irmãos!

2. Nas lutas pelo destino de nosso povo
O povo russo sempre foi amigo e irmão,
Lenin nos conduziu numa marcha vitoriosa
Sob a bandeira de Outubro a luminosas alturas.

(Refrão)

3. Honramos a poderosa Pátria com o esforço,
Afirmamos a verdade de ideias imortais.
Ao mundo comunista, um imponente futuro,
O partido leninista nos conduz sabiamente.

(Refrão)



quarta-feira, 19 de abril de 2023

Hino Nacional, RSS do Turcomenistão

Este é o Hino Nacional da República Socialista Soviética do Turcomenistão (Түркменистан Совет Социалистик Республикасы Дөвлет Гимни, Türkmenistan Sowet Sotsialistik Respublikasy Döwlet Gimni), formada como uma república autônoma em 1924 a partir da junção de outras entidades menores, incluindo parte da famosa RSS Autônoma do Turquestão. Na era comunista, a região também era conhecida pelo nome russificado “Turcomênia” ou “Turkmenia”. Como a maioria das repúblicas vizinhas, hoje países independentes, com nomes terminados em “-istão”, é de maioria cultural túrquica, sendo a língua turcomena pertencente ao ramo oghuz das línguas túrquicas, ou seja, é mais próxima do turco, do azerbaijano e do gagaúzo do que das outras línguas túrquicas dos países vizinhos, quase todas pertencentes aos ramos kipchak ou karluk. O turcomeno recebeu uma primeira versão do alfabeto latino em 1928, mas passou ao cirílico em 1940, até readotar o latino em 1993, que sofreu algumas modificações em 1999.

O Hino Nacional da RSS do Turcomenistão foi composto e adotado em 1946, com letra escrita por vários autores, dos quais o principal foi Aman Kekilow, e melodia de Welimuhammet Muhadow (também conhecido como Veli Mukhatov). Como ocorreu com todos os outros hinos das antigas RSS, foi adotada uma nova letra em 1978 sem menções a Stalin, que vigorou até a independência do Turcomenistão, em 1991. A melodia sem letra continuou sendo usada como hino da república independente até 1996, quando foi adotado um novo, com melodia do mesmo Muhadow e letra de Saparmyrat Nyýazow (Saparmurat Niyazov), ditador praticamente desde 1985 até sua morte, em 2006. Ironicamente, o hino era em geral chamado por seu primeiro verso, A grande criação do “Türkmenbaşy”, sendo Türkmenbaşy (Líder dos Turcomenos) o título honorífico atribuído a Nyýazow. Seu sucessor, Gurbanguly Berdimuhamedow, que governou igualmente como um ditador e pôs seu filho na sucessão praticamente sem concorrência em 2022, ordenou em 2008 a alteração na letra de forma que fosse revomida do refrão a referência a Nyýazow e suprimida a última estrofe.

Como não sei turcomeno nem qualquer um dos idiomas túrquicos a fundo, traduzi a partir da versão em russo na Wikipédia, que acredito ser mais confiável devido ao antigo passado soviético, e porque é a que textualmente faz mais sentido, porque olhando as outras versões que consultei (francês, espanhol e italiano), não diziam coisa com coisa. A versão em inglês, que tinha alguma coerência, não era igual à russa, mas pelo menos me serviu de amparo, embora o russo tivesse dado a palavra final. Concluído o trabalho, joguei o próprio texto turcomeno completo no Google Tradutor, e ele não fez sentido em nenhuma língua pra qual traduzi... Seguem abaixo o vídeo, a letra em cirílico turcomeno e a tradução em português:


1. Дең хукуклы халклармызың достлугы
Совет илин бир машгала өвүрди!
Бу достлугың аркадагы Рус халкы
Эгсилмез доганлык көмегин берди.

Refrão:
Яша сен, кувватлан, эй азат Ватан!
Баряң Коммунизмиң еңшине бакан.
Ленин партиясындан гүйч алян, өсйән,
Совет Ватанымыз, җан Түркменистан!

2. Бейик Ленин ачды азатлык ёлун,
Бизе бакы ягты дурмуш гетирди.
Галкындырып әхли халкы хак ише,
Еңише, зәхмете, багта етирди.

(Refrão)

3. Коммунизме баглап арзув–эркимиз,
Айдың гелҗегмизи дөредйәс, гуряс.
Гызыл байдагы биз берк тутуп голда,
Биз бейик максада ынамлы баряс.

(Refrão)

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1. O esteio da amizade dos povos é indestrutível,
Toda a União Soviética se tornou uma só família!
E o povo russo se tornou o bastião da amizade,
Somos abençoados e felizes em nossa Pátria.

Refrão:
Cantem à Pátria ensolarada e livre!
O partido de Lenin é um sábio timoneiro.
Vocês vão vitoriosamente rumo ao comunismo,
Floresça, terra soviética, nosso Turcomenistão!

2. Lenin nos indicou o claro caminho da liberdade
E nos trouxe a uma eterna vida feliz.
Ele educou os povos pra lutarem pela justiça,
Inspirando-os a atitudes e ao triunfo do trabalho!

(Refrão)

3. Servimos abnegadamente à causa do Comunismo,
Ligamos nosso destino ao dia de sua realização.
E com a bandeira vermelha, a bandeira da Pátria,
Seguimos bravamente rumo ao Grande Objetivo!

(Refrão)



segunda-feira, 17 de abril de 2023

Hino Nacional da RSS do Tajiquistão

Este é o Hino Nacional da República Socialista Soviética do Tajiquistão (Суруди миллии Ҷумҳурии Шӯравии Сотсиалистии Тоҷикистон, Surudi millii Jumhurii Shūravii Sotsialistii Tojikiston), a mais pobre da antiga URSS, encravada no meio da Ásia Central e de cultura essencialmente persa (ou seja, muçulmana e com uma variante da língua ainda falada no Irã). Essa república foi desdobrada em 1929 da antiga RSS do Uzbequistão, de cultura túrquica, dentro da qual tinha sido antes uma RSS autônoma desde 1924. A capital, hoje chamada Dushanbe (“segunda-feira”), se chamou Stalinabad até 1961, e em fevereiro de 1990 ocorreram aí tumultos que levaram a 26 mortes. Em 24 de agosto de 1990 o Tajiquistão declarou soberania sobre seu próprio território, em 31 de agosto de 1991 adotou o nome de “República do Tajiquistão” e em 9 de setembro declarou sua independência da URSS. Eu prefiro escrever “Tajiquistão”, sem “d”, e não “Tadjiquistão”, que não soa natural em nossa língua.

O Hino Nacional da RSS do Tajiquistão foi composto e adotado em 1946, com letra do poeta e ativista Abulqosim Lohutī (1887-1957), nascido no Irã, e melodia do compositor Suleyman Yudakov (1916-1990), que era da etnia judia de Bukhara. Em 1977 a letra foi levemente modificada no final da segunda estrofe pra tirar as referências a Stalin, algo que ocorreu nos hinos de todas as outras repúblicas soviéticas. A versão deste vídeo é exatamente a modificada. O Tajiquistão é um dos poucos países que manteve a mesma melodia do hino soviético, apenas adotando em 1994 uma nova letra, chamada simplesmente de Hino Nacional (Surudi Millī) e composta pelo poeta Gulnazar Keldī (1945-2020), que morreu de covid. Assim como nas outras repúblicas centro-asiáticas, a execução e exibição públicas de antigos símbolos soviéticos não é criminalizada, e o próprio ditador nepotista atual, Emomali Rahmon, tinha sido um burocrata comunista.

O hino da RSS tajique é um dos poucos que destoa da estrutura poética dos outros hinos, consistindo de três estrofes com seis versos cada, sem um refrão. Mas a temática, como vemos, não muda. O tajique é apenas uma variante do persa, língua nacional do Irã, portanto guarda também um distante parentesco com o português. A diferença é que se escreve em alfabeto cirílico, e não numa modificação do árabe, mas como só tenho um conhecimento primário de ambos, traduzi a partir das versões em russo (literal, não poética) e inglês da Wikipédia, apenas jogando depois o original no Google Tradutor pra ver o resultado. A transliteração que usei é a mais comum, incluindo o uso de “ī” e “ū” pras vogais nativas “ӣ” e “ӯ”. Seguem abaixo o vídeo, a letra em cirílico tajique e a tradução:


1. Чу дасти рус мадад намуд,
Бародарии халқи совет устувор шуд,
Ситораи ҳаёти мо шарорабор шуд.
Гузаштаҳои пурифти хори мо
Ба ҷилва омаданду дар диёри мо, диёри мо
Мустақил давлати тоҷикон барқарор шуд.

2. Ба ҳоли таб даруни шаб
Садои раъди давъати Ленин ба мо расид,
Зи барқи байрақаш сиёҳии ситам парид.
Саодати ҷовидон дар ин замин
Зи партия ба мо расид, ба партия сад офарин
Марду озода моро чунин ӯ бипарварид.

3. Шиори мо диҳад садо:
Баробарӣ, бародарӣ миёни халқи мо.
Зи хонадони мо касе намешавад ҷудо,
Ягонагиро ба худ сипар кунем.
Ба сӯи фатҳи коммунизм сафар кунем, сафар кунем.
Зинда бод мулки мо, халқи мо, Иттиҳоди мо.

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Quando a mão da Rússia nos ajudou,
Formou-se a irmandade do povo soviético,
Iluminou-se a estrela de nossa vida.
Nosso passado glorioso veio à tona
E em nossa terra, em nossa terra
Criou-se o Estado independente dos tajiques.

Fervendo em plena noite
Ressoou com força o chamado de Lenin,
A luz de sua bandeira deu fim às trevas da opressão.
A eterna prosperidade nesta terra
Foi obtida do Partido pra nós, parabéns ao Partido,
É a pessoa generosa que nos educou como novos.

Nosso lema vai se erguer:
Igualdade, fraternidade entre nosso povo.
Ninguém de nossa família vai ficar de lado,
Vamos fazer um escudo de unidade.
Seguimos à vitória sob o comunismo, sempre adiante.
Vivam nossa família, nosso povo, nossa URSS.



sábado, 15 de abril de 2023

Hino Nacional da RSS do Quirguistão

Este é o Hino Nacional da República Socialista Soviética do Quirguistão (Кыргыз Советтик Социалисттик Республикасынын Мамлекеттик Гимни, Qyrğyz Sovettik Sosialisttik Respublikasynyn Mamlekettik Gimni), uma das mais esquecidas encravada no meio da Ásia Central. Seu desdobramento da antiga RSFS da Rússia se deu em 1924, mas ainda como província autônoma, até que se tornou uma república autônoma em 1926 e uma RSS de pleno direito em 1936, estatuto que manteve até a dissolução da URSS.

Como a maioria das repúblicas vizinhas, hoje países independentes, com nomes terminados em “-istão”, é de maioria cultural túrquica, sendo a língua quirguiz pertencente ao ramo kipchak das línguas túrquicas. Irmã do tártaro, do cazaque, do tártaro da Crimeia e outras línguas menores, guarda um grau razoável de inteligibilidade mútua com todas essas. A única língua soviética vizinha um pouco mais distante é o usbeque, do ramo túrquico karluk e mais próxima do uigur, e o tajique, como sabemos, não é túrquico, é indo-europeu (persa). O quirguiz continua sendo escrito numa adaptação do alfabeto cirílico, mas há também uma versão da escrita árabe, usada em países vizinhos, e uma transliteração latina.

O Hino Nacional da RSS do Quirguistão foi composto e adotado em 1946, com o incrível número de 4 autores da letra (Qubanyçbek Malikov, Tügölbaj Sydyqbekov, Muqambet Toqtobaev e Aaly Toqombaev) e 3 compositores da melodia (Vladimir Vlasov, Abdylas Maldybaev e Vladimir Fere). Foi usado até 1992, quando foi composto um novo hino especialmente pra República do Quirguistão independente, que declarou sua soberania em 1990 e sua independência em 1991. Assim como nas outras repúblicas centro-asiáticas, a execução e a exibição públicas de antigos símbolos soviéticos não são criminalizadas no país. O topônimo corrente atual é “Quirguistão” (país dos quirguizes) ou “República Quirguiz”, e embora haja a variante “Quirguízia”, esta é mais pertinente à língua russa.

Como não sei quirguiz (e nem avancei no estudo de seu irmão tártaro), traduzi a partir da versão em inglês na Wikipédia, que depois descobri, porém, que era a tradução literal da versão poética em russo. Mas comparando com o que o Google Tradutor me dava ao jogar aí o texto quirguiz, não ficou muito distinto, e decidi manter, dado o interesse mais histórico do que linguístico de minha iniciativa. Quando montei o vídeo, usei uma transliteração no alfabeto latino que acredito não ser hoje a mais usada (não sei se há uma oficial), e este site oferece tabelas e conversores pros três alfabetos, e a partir dele fiz a nova romanização dos nomes dos autores. Seguem abaixo o vídeo, o original em cirílico e a tradução em português. Caso lhe desperte a curiosidade, basta jogar o texto quirguiz no site a que me referi:


1. Азаттыкты Кыргыз эңсеп турганда,
Ала-Тоого Октябрдын таңы аткан.
Улуу орус достук менен кол берип,
Ленин бизге бак-таалайга жол ачкан.

Refrão:
Жаша, Кыргызстаным,
Ленин туусу колуңда.
Алгалай бер, гүлдөй бер,
Коммунизм жолунда!

2. Эмгек, эрдик, күрөштөрдө такшалтып,
Таалай берген улуу Совет калкына.
Жеңиштерден жеңиштерге алпарат,
Элдин күчү - Лениндик партия.

(Refrão)

3. Эл достугун болоттон бек ширетип,
Көп улуттан Союз курдук урагыс.
Жандай сүйүп даңктуу Ата Мекенди,
Түбөлүкке Коммунизм курабыз.

(Refrão)

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1. Ansiando por liberdade, o quirguiz se levantou,
Brilharam as luzes de Outubro feitas nos montes Alatau.
O grande povo russo nos aqueceu com a amizade,
Lenin abriu o caminho da felicidade pra todos nós.

Refrão:
Glória a você, nosso Quirguistão,
Levante a bandeira de Lenin.
Marche adiante e prospere,
Trilhe o caminho do comunismo!

2. Crescido nas façanhas de coragem e trabalho,
Dando felicidade ao povo soviético,
Levando nosso país a novas vitórias
Está o partido de Lenin, o poder do povo.

(Refrão)

3. A amizade de nossos povos é forte como o aço,
A união nas nações livres é indestrutível.
Amamos abnegadamente nossa Pátria-Mãe,
Vamos construir o comunismo pra todo o sempre.

(Refrão)