Todos pensam que você vai estar estudando pro ENEM:
Mas você também poderia se embebedar:
Se drogar:
Assistir ao Brasileirão:
Ir ao cinema rever clássicos dos anos 80:
Tomar uma chuveirada de um helicóptero:
Escorregar num tobogã de gelo:
Ver jornais pra se informar melhor:
Frequentar o clube de conversação em inglês:
Fazer compras e reclamar dos preços:
Afogar as mágoas numa churrascaria (ATENÇÃO, quase três minutos do Craque Neto e outros Donos da Bola metendo o pau na “picanha de ouro” do Ronaldo Fenômeno logo após a eliminação da Seleção no Qatar, coletânea provavelmente única do gênero!):
Ir pro culto:
Consertar o carro:
Fazer hora extra no Bairro da Luz Vermelha:
Ou tacar aquele phodasse pros colegas de escola ou empresa:
Beirute, capital do Líbano (um Estado que hoje só existe no papel): os chefes terroristas do Hamas, do Hezbollah e da Jihad Islâmica conferenciando diante dos retratos dos aiatolás do Irã, um Estado terrorista. E tem trouxa na Banânia que nega a guerra proxy de Teerã e repete essa mentira de “resistência” 🤡🤡🤡
Eu não acredito que essa canalha com livre curso em nossas universidades tá usando a palavra de uma senhora atordoada e uma peça de propaganda bem montada do Hamas pra passar pano pro terrorismo! Que nojo dessa “gente”! E eles omitem, claro, que durante a captura elas apanharam com pedaço de madeira e que elas mesmas disseram que o cativeiro “foi um inferno”. A máquina de desinformação do Prigozhin fez escola nos Trópicos...
Parafraseando o comunista José Saramago sobre a Igreja Católica, as insolências mentirosas de uma certa ex-querda ocidental que perdeu sua bússola confortante com o fim do pesadelo soviético e recaiu na legitimação do que há de pior e mais assassino no mundo precisam ser combatidas insolentemente com a recordação de valores óbvios, como a humildade, o antiautoritarismo e o ceticismo, a sinceridade que a faça reaprender a encarar o contraditório e a rejeição à mentira e à manipulação, mesmo que se arrogue um duvidoso objetivo ou caráter “de classe”.
Será que pra certos “cronistas visuais da barbárie”, vidas ucranianas valem menos do que vidas palestinas? Mariupol e Bakhmut valem menos do que Gaza e Khan Yunis? O Teatro Dramático Acadêmico da Região de Donetsk, onde Putin bombardeou mais de 300 pessoas, inclusive mulheres e crianças refugiadas, vale menos do que o Hospital Al-Ahli Arab, onde centenas também teriam se refugiado?... Por isso, é com alegria que eu soube que o público tá tomando um pouco de consciência e enchendo a orelha daquela rede que pregava “liberdade de expressão” até pra pior extrema-direita:
Mas quando um adulto entra numa rede que tem regras específicas, não as lê, quebra-as e depois fica chorando por causa da punição, a gente não pode esperar mais do que uma atitude mentalmente de “quinta série”. O caso do presidente da EBC, aquela mesma em que uma âncora de jornal falou “célebro”, o qual se demitiu após compartilhar uma das barbáries latuffianas (não vi o original e não sei se tem a ver com a imagem que El Cruenista pôs junto) e ser criticado por membros do próprio governo, é emblemático: o autor comemorou em público por ter avacalhado a aula, mas quem ter sido expulso da sala foi o colega que apenas riu da brincadeira. Em outras palavras, não foi Latuff quem perdeu o emprego, então mostrou abertamente que K-gol pro ex-presidente:
Eu sei que a cada dia a nova guerra (que na verdade não começou agora e nunca chegou a “terminar”) entre Israel e grupos terroristas que dizem apoiar o povo palestino tá ficando cada dia mais cruenta, com cada vez mais vítimas inocentes e com os dois lados, inclusive o governo extremista de Netanyahu, tendo cada vez menos razão. Eu sei que isso não é motivo pra brincadeira ou zombaria, mas infelizmente, pelo menos pra nós, brasileiros, a maioria dos quais não tá sofrendo diretamente na pele o conflito, um pouco de ironia crítica não faz mal, sobretudo porque muita gente tá sofrendo de burnout informativo de tanto material desencontrado que recebe, mas não consegue deglutir pelas mídias sociais. E estranhamente, mesmo que os bananeiros nem sempre vivam as guerras e conflitos diretamente, sempre acham que devem ter opinião formada e razão sobre absolutamente tudo, só pra ostentar isso em seus perfis pessoais. Assim, ao invés de aproveitarem a oportunidade pra se informar mais de forma vagarosa e com material de qualidade, perdem tempo na tentativa de arrastar os outros pro próprio sentimentalismo.
Não existe um bordão humorístico no Brasil chamado “Devolvam o Brasil aos índios nativos”? Pois bem, o mapa acima demonstra minha “opinião” (no meio de tanta gritaria vazia) sobre o que fazer com Israel/Palestina: claro que eu poderia escrever um longo texto sobre o que penso e o que sei (duas coisas não necessariamente coincidentes) sobre um assunto em que, ao contrário da Europa Oriental e dos regimes socialistas europeus, incluindo a URSS, não sou especialista. Mas não só não acho que vai acrescentar algo de bom ou útil em meio a tantos estudiosos credenciados pró-Israel ou pró-Palestina (no meio do barulho tóxico, claro), como só tenho tempo pra fazer expressões mais breves, menos elaboradas, geralmente com um tom mais cômico. Na verdade, rir (quem quiser) pra não chorar...
Mas quem mais tá sofrendo na cobertura belicosa é a chamada “mídia hegemônica ocidental”, isto é, grosso modo, Globo, Folha, Estadão, Veja, CNN, BBC etc.; ontem, uma repórter da Sky News britânica, que ainda por cima é privada, quase chorou indignada diante da “impassividade” de um conselheiro de Netanyahu ante a explosão do hospital em Gaza! Pra ex-querda mimada, por mais que ela não pare de mostrar mortos, escombros, protestos e bombardeios nos territórios palestinos, sua cobertura é “pró-Israel”, trata os árabes como “sub-humanos” e todos os canais teriam a mesma opinião. O coitado do Jorge Pontual, por exemplo, só em dois textos pró-Palestina que recebi pelas redes, foi malhado por sua “cobertura parcial” (como se houvesse mídia ou pessoa imparcial!) e pela “passagem de pano” pra Israel. Ataques pessoais mesmo, que ignoram suas épicas “atuações” com o Gangnam Style em 2012, quando ele virou hit mundial (tela quadrada!), ou imitando a Chewbacca em 2016. Tudo ao vivo na TV de quem paga pra isso mesmo...
Nosso amigo indiano, abaixo, usou a bandeira palestina correta no emoji de um chat ao vivo pra demonstrar solidariedade. Mas nosso amigo paquistanês, acima, usou a bandeira dos Emirados Árabes Unidos: não sei se o Hamas ou o Fatah ia gostar, rs.
Acima, apenas uma opinião que desejei expressar! E, abaixo, os dados num vídeo didático que achei por acaso no YouTube:
E pra finalizar, um documentário breve, mas ótimo, em russo lançado pela mídia exilada Nóvaia Gazeta Ievropa revela a ascensão e os podres de Ramzan “Don-Don” Kadyrov, o playboyzinho terrorista que Putin entronizou como subditador da Chechênia pra compensar o fato de, mesmo após o massacre indiscriminado de civis locais, não ter conseguido ganhar as duas guerras contra os separatistas. Como eu disse, meu senso de humor pode não ser exatamente o seu, mas uma das passagens mostra um de seus filhos, Adam, “lutando MMA” aos nove anos de idade, em 2016, provando como a autocracia familiar é levada ao extremo da barbárie! É o mesmo Adam a quem, hoje com 15 anos, foi permitido encher de socos e chutes Nikita Zhuravél, morador de Volgogrado a quem ocorreu queimar em público uma cópia do Alcorão, mas foi levado pra prisão e julgamento por “blasfêmia” em Grozny, só porque era uma região “de maioria muçulmana” (então por que não o Tartaristão ou outro recôndito centro-asiático da vida?). E isso sob a filmagem aprovativa e mediatizada do cosplay de Fofão...
E nasce de um trecho do documentário o “meme”, se é que assim pode ser chamado, MMA de criancinha ou infanto-MMA. Adivinha quem ganhou, não há dúvidas:
À guisa de disclaimer, gostaria apenas de ressaltar algumas ideias, em parte fatos constatados, em parte posições minhas:
Os ataques do Hamas a Israel devem ser condenados, em qualquer hipótese, por qualquer ser pensante; não se precisa “apoiar” nenhum dos lados pra condenar as violências de ambos.
Os abusos de Israel ao longo das décadas não justificam nem podem ser vistos como tendo esses ataques por “cúmulo” ou “resposta legítima”; o Hamas não pensa na população, e sim em poder, e essa “mostra de força” visa lhe dar mais capital político.
Os usos que o bolsonarismo tem feito da imagem de Israel, desde sempre até esta guerra, são nojentos.
A destruição de fato da Faixa de Gaza, que está em curso, é uma resposta errônea e, longe de resolver, vai agravar o problema.
A criação de Israel em si não foi “um erro”, mas como todo Estado recém-criado, tem problemas e comete erros; e já havia ampla imigração judia do mundo todo pra lá, fugindo do antissemitismo, antes mesmo da fundação do movimento sionista.
O direito dos povos palestino e judeu terem seus próprios Estados são igualmente legítimos e não podem conhecer hierarquia entre si.
A Autoridade Palestina, comandada pelo Fatah e adversária do Hamas, o qual não controla, está corrompida e fraca, e está desacreditada entre os próprios palestinos; os terroristas são tão repulsivos que até o Egito, com medo de fugas, está atravancando a abertura da fronteira com Gaza, já que conhece as “belezas” da Irmandade Muçulmana, irmã do Hamas.
As maiores culpadas pela briga entre os dois povos são as grandes potências, sobretudo o Reino Unido (quando governou a Palestina no entreguerras) e os EUA, que apoiou cegamente todos os governos israelenses; mas também as potências regionais, como Egito, Irã, Síria e Arábia Saudita, que instrumentalizaram a causa palestina quando convinha ou botaram lenha na fogueira.
Binyamin Netanyahu não representa toda a história de Israel, muito menos seu povo, que no geral o detesta e o acha incompetente; em vários momentos ele executou políticas repulsivas quanto aos terroristas, seja “comprando” o Fatah, seja deixando livre o Hamas pra enfraquecer aquele.
A ditadura terrorista do Irã jamais deve ser defendida sob o pretexto de um falso “anti-imperialismo”, e sendo um regime em crise, está promovendo esta guerra por procuração, já que morre de medo de encarar Israel de frente.
Síria e Irã também combatem o Daesh, mas assim como os EUA, por interesse próprio: al-Assad foi o tirano que, com a cobertura de Putin, lançou bombas de fósforo contra a própria população, e Ali Khamenei sustenta a “rebelião” xiita no Iêmen, parte de cujo lema é “Morte a Israel, malditos sejam os judeus”.
Dito isto, gostaria de mostrar uma coisa que, nessa semana tão violenta, finalmente lavou minha alma e provavelmente não vai aparecer nas mídias bananeiras, nem na hegemônica, nem na “alternativa”! No Estádio Azadi de Teerã, no dia 8 de outubro de 2023, no dia seguinte do ataque do Hamas a Israel, os esbirros da guarda “revolucionária” da ditadura terrorista do Irã (um país não árabe) tentaram distribuir bandeiras da Palestina à torcida e instigá-la a expressar apoio ao Hamas. Porém, nesse jogo entre o Gol Gohar e o Persepolis, a torcida deste tomou coragem e desafiou os mulás cantando: “Enfie essas bandeiras palestinas no c..., enfie no c..., enfie no c...!” Nos últimos dias, o regime promoveu “manifestações” de rua que, na verdade, foram recheadas de militares e funcionários públicos sem muita escolha, mas o povo já esmagado pela repressão tem simplesmente ignorado essas mascaradas.
Eis a versão Zaratustra do “You can shove your coronation up your arse!” entoado recentemente nos estádios escoceses, quando da entronização de Charles 3.º! Segundo uma amiga minha iraniana, que mora na Turquia e confirmou a veracidade do vídeo (que está circulando em diversos perfis de iranianos), esta é a transcrição:
پرچم فلسطین را بکن تو کونت بکن تو کونت
Cuja transcrição pra você cantar é: Parcham-e felestin (r)â bokon to kunet, bokon to kunet!Emily Schrader, jornalista e ativista israelense, publicou a versão mais replicada na rede X, mas o fato também foi amplamente noticiado tanto na mídia iraniana exilada quanto na imprensa israelense, das quais tirei as informações fatuais. Pra mim o negócio funciona mesmo na base do deboche e da zoeira, mas reitero que não tenho nenhuma intenção de ofender a causa palestina (a qual, infelizmente, não merece os “defensores” que tem), e sim a instrumentalização que criminosos como o ditador do Irã fazem dela, bem percebida por seu povo que não aguenta mais essa hipocrisia sanguinária pra ex-querdista ver.
Este conteúdo já era pra ter ido ao ar há mais de um ano, mas como você pode pressupor, várias razões alheias a minha vontade impediram que eu o trabalhasse mais atentamente. Nas eleições presidenciais francesas de 2022, um candidato novo de um partido ainda mais novo causou sensação ao tentar se posicionar ainda mais à extrema-direita do que o RN de Marine Le Pen e ter atraído inclusive a sobrinha desta e ex-membro daquele partido, Marion Maréchal. Éric Zemmour (n. 1958), filho de judeus amazigues (ou árabes, segundo alguns historiadores) emigrados da Argélia, é um escritor e jornalista que fundou seu partido “Reconquête” (Reconquista) tendo como bandeira principal o combate à imigração legal e a restrição da imigração em geral, com base na infundada teoria do grand remplacement (grande substituição). Segundo ela, se nada for feito, o número de imigrados, sobretudo árabes e subsaarianos, em algum momento suplantará o de franceses cristãos “de souche” (“da cepa”), destruindo a identidade nacional e “islamizando” a França.
É estranho que um filho de imigrantes de uma ex-colônia francesa, ainda por cima praticante da religião judaica, possa se alinhar com pessoas e ideias que praticamente renegam sua própria pessoa, mas seu histórico de ofensas pessoais, machistas e raciais pode fazer jus às próprias opiniões políticas. Nas citadas eleições de 2022, em que Emmanuel Macron venceu o segundo turno contra Le Pen, Zemmour amargou um quarto lugar atrás do esquerdista radical Jean-Luc Mélenchon, mas ainda assim ficou bem à frente das candidatas dos tradicionais Partido Socialista e Os Republicanos (os quais, em todo caso, têm muito mais enraizamento local e regional). Isso causou o receio de que seu discurso, ainda mais que a França está dilacerada por vários conflitos sociais, fosse normalizado pelo mainstream, como ocorreu com Bolsonaro, mas desde então o partido e seu fundador praticamente hibernaram. Só agora estão acordando sonolentos, com a proximidade das eleições parlamentares europeias, com direito a Marion Maréchal tremulando seus cabelos loiros na ilha de Lampedusa pra fazer populismo eleitoral em cima de refugiados precarizados.
Mas no início de 2022, o que me interessou exatamente foram algumas de suas declarações na sequência do Brexit, argumentando que o inglês tinha sido imposto à União Europeia como língua franca e que o francês deveria ocupar seu lugar, já que teria verbalizado a fundação das instituições da Europa. Mais do que advogar em causa própria, podemos ver que Zemmour exibe aquele batido chauvinismo linguístico, típico de todo reaça, que vê o idioma como sendo ou tendo sido, em algum ponto do tempo, puro e imutável. Não é a primeira vez que isso ocorria na França, a exemplo da fracassada “Lei Toubon” (batizada jocosamente de “Lei All-Good”), e já houve muitos Aldos Rebelos que quiseram banir os estrangeirismos de um Brasil que foi feito por estrangeiros, povos nativos e africanos escravizados.
Embora afirme conhecer o hebraico (provavelmente o bíblico), Zemmour não parece primar pelo poliglotismo, e antes de finalizar esta publicação, acabei achando o trecho de uma entrevista em que ele afirma falar o inglês “trop mal” (ruim demais). Porém, quando achei os primeiros materiais sobre sua relação com a língua inglesa, quis também saber se ele falava mesmo outros idiomas, e mesmo não sendo exatamente um esclarecimento, e sim uma opinião política, esta resposta de um certo Chris Price à pergunta “Éric Zemmour fala bem inglês?” na rede social Quora, dada em 15 de setembro de 2021, dá uma medida dos valores em jogo (que o leitor julgue sua veracidade):
Je n’ai jamais entendu Éric Zemmour parler anglais et je ne pense pas qu’il le parle couramment. Il peut probablement le déchiffrer à l’écrit comme la plupart des journalistes français, mais son nationalisme exacerbé, sa xénophobie et son manque d’ouverture aux cultures extérieures ne lui permettrait pas de le parler couramment. Pour bien parler une langue étrangère, il faut être ouvert, ne pas avoir peur de se mettre en échec, accepter d’avoir tort et être capable de penser différemment, toutes choses qu’Éric Zemmour montre qu’il est incapable de faire.
Nunca ouvi Éric Zemmour falar inglês e não acho que ele fale fluentemente. Provavelmente ele consegue o decifrar por escrito, como a maioria dos jornalistas franceses, mas seu nacionalismo exacerbado, sua xenofobia e sua falta de abertura às culturas externas não lhe permitiriam falá-lo fluentemente. Pra falar bem uma língua estrangeira, é preciso ser aberto, não ter medo de falhar, aceitar errar e ser capaz de pensar de formas diferentes, todas coisas que Éric Zemmour mostra ser incapaz de fazer.
Seguem os vídeos e seus respectivos títulos, originais ou atribuídos, de uma crônica matinal e do trecho de uma entrevista, que eu mesmo transcrevi (ótima ferramenta pra estudantes) e traduzi pro português:
L’insupportable domination de l’anglais (A insuportável dominação do inglês), rádio RTL, rubrica “Zed comme Zemmour” (Zê de Zemmour) do programa matinal, 8 de fevereiro de 2012.
– Bom dia, Éric Zemmour!
– Bom dia!
– Bem, você vai ficar feliz, como todos nós aqui na RTL, em saber que nosso amigo Stéphane Bern recebeu ontem o Prêmio Roland-Dorgelès, que prestigia os profissionais do audiovisual especialmente vinculados à língua francesa. Porque esta manhã parece que você está chateado após Luc Châtel ter apresentado o relatório da Comissão Estratégica de Línguas, relatório que recomenda o aprendizado de uma segunda língua desde o sexto ano, Éric.
– Sim, we are ridiculous, “nous sommes nuls” [somos uns idiotas], em francês. Há anos não param de nos dizer, os relatórios se acumulam pra repeti-lo: tanto os ministros de direita quanto os de esquerda se sucedem pra nos causar vergonha. E nós também somos sempre idiotas: nos prometem línguas estrangeiras no primário, depois no maternal, e em breve na barriga de nossa mãe. Mas de nada adianta: idiotas. Não se consegue ensinar o inglês corretamente pra nos ajudar, nos prometem duas línguas vivas a partir do sexto ano – e por que não três? De fato, a questão das línguas estrangeiras é posta de maneira muito hipócrita: na verdade, o que se coloca é a questão do inglês. O inglês, o latim dos tempos modernos, a língua do Império, não o Romano, mas o Americano. O objetivo de nossos dirigentes políticos, econômicos e universitários é de transformar os pequenos franceses em perfeitos franco-americanos, como houve os galo-romanos. Mas eles não conseguem. Então dão um jeito, eliminando os jovens avessos ao inglês das escolas superiores, mesmo se isso também as priva de sujeitos brilhantes; mesmo se o aprendizado de uma língua estrangeira é um revelador formidável das desigualdades sociais. Nos grandes grupos franceses do CAC 40 [principal índice da Bolsa de Paris], os conselhos de administração são realizados em inglês, mesmo em Paris, mesmo entre franceses. Ao mesmo tempo, o ensino da língua francesa é desdenhado, desprezado. As gerações jovens balbuciam uma sintaxe truncada, um vocabulário empobrecido. Ao contrário do inglês, língua sem academia, à sintaxe do simplismo, que era popular, o francês foi uma língua forjada pelas elites, cujas complexidades ortográficas, por exemplo, foram multiplicadas pra que fosse digna do latim admirado e substituído. Hoje o francês está se despedaçando, morrendo, como se ele não resistisse ao menosprezo das elites contemporâneas.
– Concordo quanto ao francês, Éric, mas espere: basta irmos pro exterior pra constatarmos que falamos muito menos inglês do que outros.
– Sim, sim, mas uma língua não é apenas um meio de comunicação. Também é uma ferramenta pra formar os cérebros, os espíritos, definir uma cultura, uma civilização. Língua é visão de mundo. Língua é política. O inglês, ou mais exatamente o “globish English” papagaiado em toda parte, é a língua da mundialização do sistema econômico liberal e global que nos governa. Foi pra afirmar a soberania da França que o rei Francisco 1.º, em seu famoso Édito (ou Ordenação) de Villers-Cotterêts em 1539, impunha a língua francesa no lugar do latim. O retorno a um bilinguismo semioficial inglês-francês é um símbolo formidável da submissão à ordem do mundo. Segundo um estudo recente realizado na União Europeia, os franceses são, junto com os espanhóis, os que menos sentem vontade de utilizar outra língua senão a própria. Deveríamos acrescentar aí os ingleses, mas ninguém exige que os ingleses falem uma língua estrangeira. Os dois povos europeus mais avessos são, pois, justamente os que tiveram vastos impérios e cuja língua, em certo momento da história, foi considerada como uma linguagem universal. Como se falar inglês consagrasse seu rebaixamento histórico, sua provincialização. A última moda nas famílias burguesas francesas é empurrar seus rebentos pro aprendizado do chinês, como se eles já quisessem se precipitar aos pés dos próximos senhores do mundo.
– Bonjour, Éric Zemmour !
– Bonjour !
– Alors, ça va vous faire plaisir, comme à nous tous ici à RTL, de savoir que notre ami Stéphane Bern a reçu hier le Prix Roland-Dorgelès, qui recompense les professionnels de l’audiovisuel particulièrement attachés à la langue française. Parce que je vous sens chagriné ce matin après la présentation par Luc Châtel du rapport de la Commission stratégique des langues, rapport qui prône l’apprentissage de la deuxième langue dès la sixième, Éric.
– Oui, we are ridiculous, “nous sommes nuls”, en français. Depuis des années on ne cesse de nous le dire, les rapports s’accumulent pour le répéter : les ministres de gauche comme de droite se succèdent pour nous faire honte. Et nous sommes toujours aussi nuls : on nous promet les langues étrangères en primaire et puis en maternelle, bientôt dans le ventre de notre mère. Mais rien n’y fait : nuls. On n’arrive pas à apprendre l’anglais correctement pour nous aider, on nous promet deux langues vivantes dès la sixième – et pourquoi pas trois ? La question des langues étrangères est en fait posée de manière très hypocrite : c’est la question de l’anglais qui se pose en réalité. L’anglais, le latin du temps moderne, la langue de l’Empire, non pas Romain, mais Américain. L’objectif de nos dirigeants politiques, économiques, universitaires est de transformer les petits Français en parfaits Franco-Américains, comme il y eut des Gallo-Romains. Mais il n’y arrivent pas. Alors ils manient la trique, éliminent les jeunes gens rétifs à l’anglais des grandes écoles, même s’ils se privent ainsi de sujets brillants ; même si l’apprentissage d’une langue étrangère est un formidable révélateur des inégalités sociales. Dans les grands groupes français du CAC 40, les conseils d’administrations se déroulent en anglais, même à Paris, même entre Français. Au même moment, l’enseignement de la langue française est dédaigné, méprisé. Les jeunes générations ânonnent une syntaxe trunquée, un vocabulaire appauvri. Contrairement à l’anglais, langue sans académie, à la syntaxe du simplisme, parce que populaire, le français fut une langue façonnée par les élites, dont les complexités orthographiques, par exemple, firent multipliées à loisir pour être digne du latin admiré et remplacé. Aujourd’hui le français s’étiole, se meurt, comme s’il ne résistait pas au mépris des élites contemporaines.
– D’accord pour le français, Éric, mais attends : il suffit d’aller à l’étranger pour constater qu’on parle beaucoup moins l’anglais que d’autres.
– Oui, oui, mais une langue n’est pas seulement un moyen de communication. C’est aussi un outil pour former les cerveaux, les esprits, définir une culture, une civilisation. Une langue, c’est une vision du monde. Une langue, c’est de la politique. L’anglais, ou plus précisément le “globish English”, recraché partout, est la langue de la mondialisation du système économique libéral et global qui nous régit. C’est pour affirmer la souveraineté de la France que François Ier, dans son fameux Édit de Villers-Cotterêts en 1539, imposait la langue française à la place du latin. Le retour à un bilinguisme quasi-officiel anglais-français est un formidable symbole de soumission à l’ordre du monde. Selon une étude récente réalisée dans l’Union européenne, les Français sont, avec les Espagnols, ceux qui ressentent le moins l’envie d’utiliser une autre langue que la leur. On devrait y ajouter les Anglais, mais personne ne demande aux Anglais de parler une langue étrangère. Les deux peuples européens les plus rétifs sont donc justement ceux qui ont eu de vastes empires et dont la langue, à un moment de l’histoire, fut considérée comme un langage universel. Comme si parler anglais consacrait leur rabaissement historique, leur provincialisation. La dernière mode dans les familles bourgeoises françaises est de pousser leurs rejetons vers l’étude du chinois, comme s’ils voulaient déjà se précipiter aux pieds des prochains maitres du monde.
“L’anglais a complètement écrabouillé les autres langues” (O inglês esmagou completamente as outras línguas), programa de debates do canal CNEWS, 16 de fevereiro de 2021.
L’anglais a complètement écrabouillé les autres langues, et en particulier le français, et effectivement si les Anglais n’étaient pas sortis, s’il n’y avait pas eu le Brexit, on n’aurait même pas cette discussion. C’était acté pour tout le monde, et les Français, une fois de plus, pour la plupart, avaient accepté leur défaite. C’est uniquement parce que les Anglais sont sortis qu’il ne reste, en vérité, que deux pays, Malte et Irlande, à parler anglais. Donc ça fait 5 [cinq] millions d’habitants sur 540 [cinq-cent-quarante] millions, 544 [cinq-cent-quarante-quatre] millions, donc ça fait pas lourd ! Qu’on commence à se dire : “Mais tiens, on pourrait opter de parler autre chose que l’anglais”, voyez ! Et que les esprits s’échauffent. Donc je pense effectivement que c’est le moment de lancer une controffensive en faveur du français, de rappeller que le français était la langue originelle des institutions européennes, que l’anglais ne devait pas le remplacer et qu’il n’y a aucune raison de parler anglais alors que les Anglais en sont sortis. Bien, c’est l’occasion rêvée, encore faut-il la souhaiter et engager le combat.
O inglês esmagou completamente as outras línguas, e em especial o francês. Definitivamente, se os ingleses não tivessem saído, se não tivesse havido o Brexit, sequer estaríamos tendo essa discussão. Todo mundo já tinha percebido, e os franceses, mais uma vez, em sua maioria, tinham aceitado sua derrota. É unicamente porque os ingleses saíram que só restam, na verdade, dois países, Malta e Irlanda, que falam inglês. E isso dá 5 milhões de habitantes entre os 540, 544 milhões, portanto não é muita coisa! Comecemos a dizer: “Mas veja, podíamos escolher falar outra coisa que não fosse inglês”, entendam! E que os espíritos se inflamem. Então penso definitivamente que é hora de lançarmos uma contraofensiva a favor do francês, de lembrar que o francês era a língua original das instituições europeias, que o inglês não deveria o substituir e que não há nenhuma razão pra falar inglês agora que os ingleses as deixaram. Bem, é a chance dos sonhos, falta ainda velar por ela e travar o combate.
Ontem cheguei a escrever um texto em tom de desabafo, acusando certos perfis do Instagram de apologia do terrorismo e instando o leitor a denunciá-los com as ferramentas oferecidas pela rede, e até o tinha programado pra sair hoje de manhã. Porém, com medo de sofrer um processo judicial por possíveis acusações infundadas e pensando se muitas das reflexões históricas que fiz não seriam puro achismo (de fato, assisti a alguns vídeos de “defensores” esquerdistas dos palestinos que, contudo, trouxeram informações interessantes), preferi não emitir nenhuma opinião apaixonada sobre o assunto, em nenhuma rede, exceto ocasionais afirmações cômicas ou amostras da incoerência de certas partes.
Ocorre que hoje, quando xeretei a aba Comunidade do canal do Jones Manoel, vi um anúncio seu de que hoje sairia um vídeo sobre a questão (gente, comunista realmente entende de tudo, de arqueologia egípcia a astrofísica quântica!) às 17h, e um dos comentários, muito longo (um “textão”, de fato), me chamou a atenção. Nem vou ver o vídeo, porque já sei que é “mais do mesmo” do pessoal que se diz “marxista-leninista” e porque tenho muito mais informação jornalística séria, em várias línguas, pra consumir. Mas pra suprir a falta de um posicionamento meu, me permito reproduzir ipsis litteris o textão da conta assinada como Marina Reis, que parece ter lido exatamente meu pensamento, e uma resposta mais curta que fiz. Sou responsável por ocasionais alterações na forma da intervenção da moça.
Dixit Ioannes:
Em matéria de política internacional, três temas separam quem tem compromisso real com a emancipação humana e quem no fundo não quer mudar o mundo:
– apoio irrestrito à luta palestina; – condenar o bloqueio contra Cuba; – ser contra todas as sanções e bloqueios dos EUA.
Quem vacila em qualquer um desses temas, cedo ou tarde, vai se mostrar um gestor da ordem burguesa, seja indivíduo, seja uma organização política.
Não vou entrar no mérito do reducionismo abissal de uma pessoa cuja mãe lhe deu um sobrenome como prenome: há dezenas de “povos sem país” que parecem não entrar no metro do Senhor das Esquerdas, Cuba é uma ditadura, e os EUA não são o único “mounstro malvadaum” do planeta. Segue o poema em prosa, que sinceramente me tocou:
Eu observei quando a guerra na Ucrânia começou, como parte da esquerda fez questão de dizer algo como: “É claro que a guerra atinge principalmente os ucranianos e nem precisamos dizer que somos contra guerra no geral, mas... deixando a questão moral de lado, é importante apontar a participação das potências ocidentais e do próprio governo ucraniano na deflagração do conflito. Se o povo ucraniano sofre hoje é porque o seu governo subestimou a Rússia, o seu poder militar, e a defesa do seu território e interesses, o que é, inclusive, o que os EUA fazem o tempo inteiro sem protestos das mesmas pessoas que agora choram pela Ucrânia.”
Estou apontando isso, porque, por óbvio, depois de o Hamas matar e sequestrar centenas de pessoas em consequência, sim, da opressão sistemática e inaceitável do povo palestino, mas matar e sequestrar centenas de pessoas reforçando a pecha de terrorista, o que vai acontecer?
Eles mataram e sequestraram civis. “Ahh, mas estamos falando de pessoas em assentamentos, não de qualquer civil.” Civis. Não são soldados, não são pessoas armadas e treinadas, prontas para o combate. Civis. Centenas de civis. [Acrescento: e nem colonos eram!]
Incluindo pessoas que estavam em uma rave e estrangeiros que desapareceram, entre eles um brasileiro.
Agora, pra surpresa de ninguém, a comunidade internacional que já era indiferente ao sofrimento palestino parece pronta para dar um passo ainda mais tenebroso e ignorar o genocídio que vai piorar.
Eu abri meu celular hoje de manhã e vi comandantes israelenses falando que “não tem água, não tem comida, não tem eletricidade, não tem combustível”. Eles estão intensificando o bloqueio. A situação das instalações médicas do povo de Gaza já era periclitante e está piorando.
Vai ser um massacre. Dá desespero.
E pior, metade das vozes que estão se levantando contra isso são de antissemitas mal disfarçados, reduzindo [eu diria: anulando] a legitimidade dos apelos humanitários.
Isso não significa que os ataques foram não-provocados como a mídia tenta pintar, mas me poupem desses discursos de que apoiar a atuação do Hamas é belo e moral, como se as ações do grupo fossem apenas estratégicas e em favor do povo palestino e quem não apoia “não quer mudar o mundo”.
Apoio à luta palestina e ao povo palestino não é apoio irrestrito à luta palestina, incluindo a atuação do Hamas. Nem de um ponto de vista estratégico, nem de um ponto de vista ético.
Os comandantes do Hamas, incluindo Yahya al-Sinwar, que ficou preso décadas, e Mohammed Deif, que perdeu mulher e filhos bebês no conflito, não estão simplesmente atuando em favor dos interesses do seu povo, prestes a ser massacrado. Existe um componente de vingança forte provocado pelo próprio Estado israelense, e como esses dois comandantes a gente vê que logo outros vão aparecer nesse ciclo sem fim, porque é isso que todas essas mortes vão provocar.
Eu não tenho soluções, e a minha solidariedade está com todo o povo que sofre nesse momento, inclusive os israelenses que perderam seus amigos e familiares e não devem ser desumanizados na defesa dos palestinos e da sua justíssima luta. Deve ser porque eu não quero mudar o mundo.
Minha resposta que provavelmente ela nem vai ler:
Bravo, tirou as palavras da minha boca! Gosto do trabalho militante do Jones, mas às vezes ele recai nesses simplismos típicos da antiga esquerda soviética que, infelizmente, ainda predomina no Brasil. Eu, por exemplo, me identifico com bandeiras sociais e identitárias ditas “de esquerda”, mas também com pautas econômicas e estruturais chamadas “de direita”, não dá pra ver o mundo de forma binária! E como descendente de ucranianos, me enoja que tudo o que se opõe aos interesses dos EUA, só por essa razão, deva ser automaticamente apoiado por quem se diz “de esquerda”, das piores ditaduras às mais cruéis carnificinas, passando por obscurantismo religioso (valei-me, Marx!) e negacionismo histórico. Parte da nossa “ex-querda” ainda vê a Rússia e enxerga a URSS, vê Putin e enxerga Lenin, Stalin, o que valha.
Infelizmente, como viajamos pouco pro exterior, falamos poucas línguas e temos o hábito de chamar de “imperialista” ou “burguês” tudo o que venha de fora, nossos movimentos sociais, no que toca a geopolítica, ficam reféns de narrativas malfeitas e totalmente enviesadas; praticamente o Grupo Globo ao avesso. Não duvido que tenha grana estrangeira rolando por aqui, mas é incrível como certos “cartunistas” enxergam tão fácil os abusos de Israel, mas se recusam a ver o caráter expansionista, genocida e ilegal da agressão de Putin; e não só na Ucrânia (onde eles racionalizam com essa história de “colônia ou proxy da OTAN”), mas também nos Bálticos, na Moldova, na Geórgia e agora, certamente, na Armênia. Ou seja, praticamente uma recriação do Império Tsarista que as esquerdas tanto criticam! E acabam, assim como as potências capitalistas, criando critérios próprios e subjetivos sobre quem “pode” e quem “não pode” ser considerado país ou povo...
Enfim, é só um lapso intelectual que quero apontar, não estou falando de lados nem de culpas, obrigado por esse alívio na minha segunda!
Porém, conforme umas xeretadas que dei em contas “pró-Palestina”, é incrível como a narrativa, além do cinismo, evoluíram a passos largos nesse comecinho de semana, rs:
Em 3 de outubro de 1993 (ou seja, há pouco mais de 30 anos) estourou a crise constitucional que em outra publicação chamei de “Os 13 dias em que a URSS quase voltou” e que levou Boris Ieltsin a receber muito mais poderes como presidente, sistema que vigora até hoje (com as reformas que Putin impôs em 2020), esmagando o antigo Soviete Supremo. Neste “parto dolorido” em que literalmente um país estava aos trancos e barrancos nascendo a partir de outro e cuja transição, a meu ver, jamais se completou, a URSS literalmente tava caindo de pau contra a Rússia moderna pra ressuscitar e não morrer mais, rs! (Contexto: um tiozinho manifestante tava batendo num policial, enquanto o Exército bombardeava o prédio do Parlamento...)
Se depender deste senhor, parece que começaremos nos próximos tempos a ver “lulaciatas” e até “chuchuciatas”. É oportuni$$$mo que isso chama???
Após a fuga massiva de todos os armênios da região azerbaijana então conhecida como República do Artsakh (agora uma finada entidade política jamais enraizada), sua capital autoproclamada, Stepanakert, que pelo jeito vai ser mais conhecida no futuro pelo nome túrquico Khankendi, agora está assim. Vazia, suja, bagunçada e abandonada, como mostram alguns poucos youtubers que ainda andam por lá.
Mais uma direto do centro acadêmico de graduação das Humanas na Unicamp. O Google pira tanto com o tal “gênero neutro” (que não é a mesma coisa que linguagem neutra!) que ele nem consegue reconhecer como português, rs. Querem revolucionar nosso coitado idioma, mas saberem usar corretamente a crase que é bom, nada, né?
E falta reestudar a concordância também...
Em dois dias, uma húngara ganha um Nobel de Medicina e um húngaro ganha um Nobel de Física. Ambos são pesquisadores que vivem e trabalham fora da Hungria. A primeira teve a bolsa cortada pelo governo, pesquisando sobre a covid!
O ditador reacionário e clerical Orbán está acabando com a pesquisa científica na Hungria. Imaginem se Bolsonaro governasse mais um fulo ano na Banânia? Tendo nos tornado um pântano feudal obscurantista, todos os cientistas teriam fugido. Mas como temos concidadãos participando de importantes projetos coletivos ao redor do mundo, não duvido que nessa brincadeira poderíamos ter sacado um Nobel!
E pra encerrar, um pouquinho de humor popular dos comentários do YouTube com nossa comediante Neusa Araújo “3811”, rs. Bom finde!
Smartphone, gênere neutre e professor andando armado: isso tudo parece ter se tornado corrente na Universidade Estadual de Campinas nos primeiros anos da década de 2020, mas eram impensáveis em meados dos anos 2000. Ainda se vivia a ilusão de progresso democrático, diplomático e tecnológico lineares, a crise de 2008 não tinha estourado e as divergências político-partidárias não se traduziam em inimizades existenciais: teu amigo podia ser petista e você tucano, e tava tudo bem; Alckmin dizia que Lula “queria voltar à cena do crime”, e no fim ambos se apertavam as mãos.
Eu entrei sem cursinho e de primeira chamada na graduação em História da Unicamp em 2006, e até 2012, quando defendi minha monografia (TCC), muitas dessas ilusões continuavam. Pra muita gente de esquerda, até a “primavera árabe” era vista como um sinal do “progresso inelutável” da “democracia” em escala global. Mas num tempo de Orkut e celulares Nokia de telinha azul, o mais importante eram camaradagem e espírito esportivo, com as discordâncias acabando em boas risadas sentados na cantina do IFCH – pelo menos em minha turma. É claro que “greves estudantis” já incomodavam, até porque nunca morei em Barão Geraldo; mas ainda não eram motivo, dependendo do “lado da barricada”, pra atacar o colega como fascista ou comunista. Ainda...
E era com minha câmera digital Olympus ganhada no começo daquele ano, cujas fotos depois eu alegremente passava com um cabo USD pra meu barulhento computador de mesa, que eu registrava bobamente em muitos lugares as pessoas e os eventos! Com ela até adotei a prática da selfie antes mesmo da palavra existir, rs. E no dia 25 de abril de 2006, lá fui eu pra mais uma manhã na faculdade, e antes da entrada às 8h, quando as conversas ainda supriam os mundinhos digitais de bolso, todo mundo ficava louco pra ser registrado. Sem medo de espionagem pelas big techs!
Originalmente tinha pensado apenas em publicar essas primeiras imagens loucas que obtive há alguns dias, mostrando como a Unicamp parece ter virado de pernas pro ar (mais do que geralmente costuma virar...). Eu hein, preferia a época em que o único motivo de espanto era o “baseado”! Mas aproveitei a ocasião pra enfim legar ao público estas fotos raras, que volta e meia reapareciam em redes sociais que eu chegava a manter e que carreguei pela primeira vez no meu perfil do Fotoblog da conta do UOL; de 2000 a 2011, fui usuário com o endereço fiszuk@uol.com.br antes de ceder ao monopólio do Google e, em parte, do Facebook/Meta. Esta primeira série (literalmente!) foi tirada no andar de cima do prédio das salas de aula da graduação, e apenas coloquei os primeiros nomes e apelidos pra evitar possíveis transtornos à privacidade. Todos foram de minha turma!
Gostaria de começar com esta, embora não fosse a primeira na ordem de surgimento, pra homenagear nosso colega Everaldo Dolensi Junior, com o qual tive muito poucas conversas e que se suicidou no próprio câmpus em 18 de setembro de 2006. Ouvi que ele sofria de depressão, quando as doenças mentais não tinham a mesma atenção do público do que agora. Se a família ou próximos chegarem a esta foto, fica minha homenagem e respeito. De rosa, a Talita.
Esq. à dir.: Cláudio, Silas, Marcos e Caetano
Sandra Vilela Resende (de rosa), a “Sandrinha” que também nos deixou muito cedo, e Letícia
Talita e Caio sentados, e o Rodolfo que achou o chão mais confortável, rs
Arthur (esq.) e Gustavo
Leandro (tinha um Leonardo que faltou, rs)
Bruno (esq.) e Cláudio
Da esq. à dir.: Letícia, Gabriela, Sandrinha, Natália e Bruna (bixete de Ciências Sociais)
As meninas da frente (esq. à dir.): Joice, Alexandra “Xanda”, Letícia e Ana Carolina. Os meninos de trás (esq. à dir.): uma “meia cara” do Frederico “Fred Buritama” (outro que nos deixou) entre a Joice e a Xanda, Gustavo “Gustavê”, Rafael “Batata”, Ismael e Eduardo
Da esq. à dir.: Gustavê, Ismael, Leandro, Eduardo e Batata.
Num belo 17 de abril de 2007, eu estava vivendo minha primeira greve, à qual nossa sala aderiu em massa, exceto pelo papai aqui e pelas duas meninas da foto abaixo que se recusaram expressamente a ser fotografadas: a mesma Ana Carolina de cima (esq.) e a Laura. Porém, o que me deixou mais feliz foi poder livremente fazer este registro de José Alves de Freitas Neto, o “Zé”, intelectual público, um de meus professores preferidos e que teve frustrado aquele dia seu intento de dar mais uma aula de Teoria da História I...
No mesmo dia, outro registro de valor sentimental inestimável pra mim: uma das aulas de meu primeiro semestre de Russo I no Centro de Ensino de Línguas com o professor e tradutor Nivaldo dos Santos! Na época, ele ainda usava as fitas cassete da famosa coleção soviética O russo para todos, mas depois um aluno digitalizou os áudios pra ele, e hoje nem o método o Nivaldo usa mais. Não me lembro mais do nome nem do curso dessa moça, que era muito bonita, mas infelizmente só fez o primeiro semestre, e também me esqueci do nome do rapaz alto, só sei que fazia Medicina.
Da esq. à dir.: Isabel, Everton, a conjugação do verbo ulybátsia (“sorrir”, nosso primeiro reflexivo!), Nivaldo e... !
Igor Dodon, então presidente da República da Moldova e comandante-em-chefe das Forças Armadas, condecorou o contingente de soldados e oficiais que participaram da parada celebrando os 75 anos do Dia da Vitória na 2.ª Guerra Mundial em Moscou, no 24 de junho anterior. O evento se deu no dia 16 de julho de 2020 na capital Chișinău, e logo depois foi postado no canal oficial do presidente. Eu apenas suprimi a parte em que Dodon discursa, mas o próprio vídeo original já é um resumo do evento.
Como este vídeo é uma republicação de meu finado canal Pan-Eslavo Brasil, cabem aqui alguns esclarecimentos. Primeiro, a parada foi realizada em junho provavelmente por causa de alguma restrição, vigente durante a data original (9 de maio), contra a pandemia de covid-19 que estava se alastrando pelo mundo. O jubileu de diamante da Vitória acabou sendo publicamente celebrado, mas certamente o deslocamento da data frustrou Putin, pois quase todo seu capital político depende dessa exploração desonesta da história nacional, que culminou, como vemos hoje, na “caça aos nazistas” inventada na Ucrânia. Ademais, a Rússia demorou a tomar medidas efetivas contra a doença (praticamente ninguém estava usando máscara na Praça Vermelha), e sua celebrada vacina Sputnik V não tem eficácia comprovada.
Dodon é reconhecidamente pró-Moscou e perdeu as eleições no final de 2020 pra candidata europeísta, Maia Sandu, que está promovendo reformas muito positivas no país, apesar das inúmeras resistências conservadoras. Eles também tinham disputado o segundo turno em 2016, mas a candidata perdeu. O canal de Dodon continua ativo, mas vejam só: no ápice do Pan-Eslavo Brasil, cheguei a ter mais de 42 mil inscritos, enquanto o ex-presidente moldovo não chega a 19 mil, rs. Inclusive, ficou por um bom intervalo sem novas publicações, provavelmente porque Dodon chegou a passar um tempo preso por acusações de corrupção (ele mesmo alegou perseguição política, pra variar), e não sei como terminou solto. Ainda hoje lidera o PSRM (Partido Socialista da República da Moldova), que faz oposição ao PAS (Partido Ação e Solidariedade) de Sandu.
Outrora integrando a região histórica da Bessarábia, pertencente à Romênia (que lutou junto ao Eixo) e fazendo fronteira com o oeste da Ucrânia, a República Socialista Soviética da Moldávia foi integrada à URSS após a guerra mundial, e inclusive adotou uma variante do alfabeto cirílico pra escrever seu dialeto local do romeno. Em 1991 o país obteve a independência, mudando seu nome pra Moldova e adotando o regime parlamentarista. Igor Dodon pertence ao Partido Socialista, mas teve algumas ações autoritárias questionadas em vários domínios.
Devido a esse pertencimento à URSS, os moldovos também comemoram o Dia da Vitória e por vezes enviam participantes à parada solene na capital da Rússia. Muitos moldovos ainda falam russo, como o ex-presidente Dodon, de forma bem fluente, e inclusive a região separatista da Transnístria é majoritariamente russófona. Sandu também fala russo, por ter crescido e sido educada nos tempos soviéticos, mas obviamente se sente bem menos à vontade do que, por exemplo, com o inglês, língua que usou ao estudar no Reino Unido. A invasão da Ucrânia afetou parte da popularidade de Sandu, pois a Moldova dependia inteiramente do gás russo, e tendo o cortado subitamente, precisou correr atrás de outros fornecedores, e o preço ao consumidor subiu. Porém, dada a condenação da invasão e o giro pró-Europa, as relações com Moscou quase já não existem, e não raro o Kremlin critica abertamente a presidente. Há um grande cerco a forças subversivas pró-Rússia, e inclusive foi fechado o partido de Ilan Shor, oligarca pró-Putin e propagador de desinformação que se exilou em Israel.
Estou relançando estes dois vídeos didáticos sobre a língua russa que estavam em meu extinto canal do YouTube, o Pan-Eslavo Brasil, com suas respectivas descrições levemente modificadas. Única correção: Como não posso mudar os vídeos, mudei apenas nos textos a forma “bielo-russo” como adjetivo de Belarus pra “belarusso”, que meus amigos imigrantes do país alertaram que já existia. O primeiro vídeo se chamava Breve história da língua russa: do século 9 à expansão do letramento (século 20).
Vocês já pararam pra pensar de onde veio a língua russa como usamos hoje? Quais foram os seus princípios, e por que mudanças passou ao longo de mil anos?
Neste rápido vídeo explicativo eu sintetizo algumas coisas que já publiquei em minha página pessoal. Vamos passar pelo trabalho dos monges Constantino (Cirilo) e Metódio com seu alfabeto glagolítico no fim do século 9, pela evangelização da Grã-Morávia e a conversão do príncipe Rostislav, pelo eslavo antigo e o eslavo eclesiástico como línguas escritas, pela Rus Kievita e pelo Reino (Tsarstvo) da Rússia, pela adoção do russo como língua burocrática por Pedro 1.º, o Grande, e pela alfabetização universal que os bolcheviques promoveram ao longo do século 20.
O russo literário contemporâneo, que aprendemos no estrangeiro, é fruto da língua culta universalizada e, no passado, influenciada pelo eslavo eclesiástico, que tinha matriz meridional, muito próxima do búlgaro e macedônio contemporâneos. As línguas eslavas orientais (russo, belarusso e ucraniano) começaram a se separar por volta do século 16, e até o século 20 eram muito parecidas na fala camponesa popular. Na era soviética, a variante literária russa se expandiu, mas ao mesmo tempo o ucraniano e o belarusso literários modernos foram muito influenciados pelo russo emanado da capital Moscou.
O segundo vídeo se chamava Como escrever no alfabeto cirílico usando o site russo Translit.net, sem instalar nada, e o fiz pra que você possa usar uma ferramenta básica de conversão do teclado latino pro alfabeto cirílico russo (e alguns outros cirílicos) sem precisar instalar programas ou extensões de navegadores: é o siteTranslit.net, que também pode ser acessado pelo link Translit.ru. Basta usar um sistema baseado no alfabeto latino, e a escrita cirílica vai aparecer direto na caixa de texto!
Assistindo a este vídeo, você vai aprender a usar a maioria dos recursos interessantes do site, inclusive a possibilidade de escrever também em cirílico ucraniano. Há outros recursos a serem explorados, mas não achei muito úteis por enquanto. A única coisa chata de escrever em cirílico é que em geral algumas letras de uma língua faltam em outra língua, então não dá pra escrever russo usando o teclado ucraniano, nem ucraniano usando o teclado belarusso, e assim vai... Mas eu espero que só esse site, além de uma variante dele, possam ser úteis pra você.