domingo, 29 de maio de 2016

Hino Nacional da Ucrânia (versão 2003)


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No meu canal, postei duas legendagens do atual Hino Nacional da Ucrânia: uma em 2011, montagem com áudio e imagens acrescidos de legendas no Windows Movie Maker e fora das regras do ofício, e outra em 2016, legendando com técnica profissional o trecho de uma das propagandas lançadas em 2010 pelo canal televisivo Inter, o maior da Ucrânia, comemorando o aniversário da independência do país. Esta segunda, como se nota, tem tecnologia mais moderna e letra corrigida, traduzida de modo mais leve, e a particularidade de pessoas de várias etnias e nações cantando o hino! Além disso, em 2016 eu já tinha estudado muito mais o ucraniano.

Eis alguns fatos sobre a história do hino, que postei junto com o segundo vídeo, mas não com o primeiro. Inspirado por algumas canções patrióticas eslavas (entre elas o atual hino da Polônia) que se cantavam então na Europa Central e Oriental, caldeirão étnico retalhado entre grandes impérios, o etnógrafo ucraniano Pavlo Chubynsky escreveu o poema Shche ne vmerla Ukraina (A Ucrânia ainda não morreu) em 1862. Publicado no ano seguinte, conheceu larga difusão, e o padre Mykhailo Verbytsky logo decidiu musicalizá-lo.

A nova canção foi executada em coral pela primeira vez no Teatro Ucrânia, em Lviv, em 1864, e assim se tornou patrimônio da cultura ucraniana. Gravada em disco pela primeira vez em Nova York, em 1916, ela se tornaria o hino nacional de repúblicas ucranianas independentes de curta duração entre 1917 e 1920 e em 1939. Banida totalmente pelos bolcheviques para “inibir o separatismo” (o hino da Ucrânia soviética, que também legendei, nunca ficou popular), teve a melodia adotada oficialmente como hino da Ucrânia independente em 15 de janeiro de 1992 e consagrada na Constituição de 1996.

Contudo, a carta magna delegou que lei posterior fixasse a letra definitiva, o que só ocorreu em 6 de março de 2003, quando o parlamento finalmente aprovou a lei “Sobre o Hino da Ucrânia”. O poema original publicado em 1863 tinha quatro estrofes e um refrão que tinha duas vezes o tamanho do atual; até 2003, era usada como hino não oficial uma versão com três estrofes, apenas a primeira mantida como antes, e o refrão sem a segunda metade; desde então (veja os vídeos e o texto), usa-se apenas a primeira estrofe, com ligeiras modificações, e o mesmo novo refrão.

Infelizmente, não me lembro mais de onde tirei o áudio do primeiro vídeo. Nesta página está o vídeo completo da propaganda do segundo, e nele os atores de várias origens também conduzem um diálogo. Eu mesmo traduzi e legendei os dois vídeos, cotejando com versões em outras línguas, e eles estão abaixo, seguidos da letra em ucraniano e da tradução não encurtada em português:




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Ще не вмерла України і слава, і воля,
Ще нам, браття молодії, усміхнеться доля.
Згинуть наші воріженьки, як роса на сонці.
Запануєм і ми, браття, у своїй сторонці.

Душу й тіло ми положим за нашу свободу,
І покажем, що ми, браття, козацького роду.
Душу й тіло ми положим за нашу свободу,
І покажем, що ми, браття, козацького роду.

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Ainda não morreram nem a glória nem a vontade da Ucrânia,
Ainda outra vez, jovens irmãos, o destino vai sorrir para nós.
Nossos inimigos vão se esvair como o orvalho sob o sol.
Também nós, irmãos, vamos reinar em nossa própria terra.

Vamos sacrificar corpo e alma por nossa liberdade
E mostrar que nós, irmãos, somos da linhagem cossaca.
Vamos sacrificar corpo e alma por nossa liberdade
E mostrar que nós, irmãos, somos da linhagem cossaca.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Religião e vida (poema irreligioso meu)


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Este é um longo poema antigo meu que escrevi a 9 de julho de 2010, no auge da minha contestação religiosa e leitura de livros ateístas. Espero que gostem! Divulgação livre, desde que citada a fonte e o autor. Uns anos atrás o mandei para publicação na revista eletrônica Arcádia, do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL/Unicamp), mas eles amigavelmente recusaram dizendo que era ousada hoje em dia a iniciativa de criar uma peça com rima e métrica certinhas, mas que justamente esse formato não combinava com o tema e vocabulário “prosaicos” que eu estava abordando. (Sei bem o que pessoas desacostumadas a ler ou escrever mais de meia página não acham “prosaico”, e sei do deboche com que nossos meios “artísticos” tratam hoje o lado da transpiração exigido outrora pela poesia...)

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Aos que acreditam no além deste mundo,
Advertência dou em boa hora:
Porquanto o fim de tudo é o moribundo,
Melhor viver com fé o aqui e agora. (*)

Tivemos sempre mil necessidades,
Como a de dominar a natureza:
Assim, o ser humano, em tenra idade,
Sacralizou-a em toda inteireza.

Qualquer cultura tinha seu sagrado
Nas preces, danças e feitiçaria,
E junto às gentes construiu-se o fado
De conviver com toques de magia.

Os povos sedentários, mais complexos,
A isso deram ar de instituição
Com o poder de irradiar reflexos
No Estado, em artes e na produção.

Os deuses clássicos são forte exemplo
Da busca por fartura nesta vida:
Terrenos eram rituais e templos
Com sexo, oferendas e bebidas.

Mas coetâneo era o “povo eleito”,
Destino cujo foi vagar a esmo
No mundo, professando seu deus feito
À semelhança e imagem de si mesmo.

Seu fruto sumo foi um bom profeta
De confissão também monoteísta.
O seu caráter e conduta reta
Tomaram dimensão jamais tão vista.

Porém, a consequência foi conforme
Ao que seu coração na Bíblia almeja?
Literalmente é justo que se tome
“És Pedro, em ti construo minha igreja”?

A glória deu-se em mãos de um tarsiota
De ideias duvidosamente sãs
E de um imperador que logo enxota
Herança e civilização pagãs.

Trezentos anos vão-se, e entra em cena
No meio de um ardente e vil deserto
Um mercador de fúria não pequena,
Mas com um raciocínio muito esperto.

Em seu entorno reuniu soldados
Com um objetivo bem preciso:
Erguer um grande império, califados,
Em troca do mais belo Paraíso.

O mundo, todavia, é mais diverso
Do que vos mostra este ocidental
Que se manteve, nestes pobres versos,
Nos que gestaram um poder global.

Xamãs, Confúcio, Buda e os hindus
Conceitos tinham sobre a transcendência,
E os xintos, persas, índios e vodus
Buscavam a seu modo a excelência.

Mas permiti-me agora retornar
A um contexto rude noutras terras:
Se as crenças dão de se diferenciar,
Já há motivos para muitas guerras.

Na Renascença débil, pois, floresce
A primazia da inteligência:
A ignorância um pouco se arrefece,
Mas as fogueiras teimam na indecência.

Nesse intervalo, um monge irrequieto
Cindiu os europeus cristãos em dois.
Noventa e cinco teses de protesto
Instaram mais rebeliões depois.

Só no contexto revolucionário
Apareceu ideia mais prosaica:
Do mando de arcebispos e vigários
Passar à consciência livre e laica.

A dica, difundida por libelos,
Abriu picadas para o mais moderno,
Mas se um tirano pôs-se a promovê-lo,
Não se mostrou solidamente eterno.

A Aliança Santa, por si só,
Por muitas décadas paralisou
De um ideário o grandioso sol
De paz, justiça, liberdade e amor.

Contudo, o Oitocentos da ciência,
De Comte, Darwin, Marx e outros seus
Legou, com todas essas experiências,
Descrença, incerteza, o “fato ateu”.

Salvar os cânones supersticiosos
Só trouxe o envolvimento em grandes tramas,
Conluio co’os poderes mais maldosos,
Contradição, vergonha, erro e dramas.

Aumenta a gama de contestadores
Das regras e tolices ressentidas:
Repulsa a formas tão plurais de amores
E uma suposta “defesa da vida”.

Por outro lado, o dos aiatolás,
Os partidários da tal “guerra santa”
Explodem prédios, brincam com antraz,
Se tornam bombas por besteiras tantas.

Não nego o mérito de muitos gênios
De religiosidade angelical,
Mas mente aberta faz com que condene-os
A ortodoxia oficial.

Os deuses certamente são engodo
E os livros santos, ídolos de barro:
Derretem fácil, fluem como lodo
Na exposição ao mais humilde sarro.

Mas mesmo assim me encontro precavido
De todo endeusamento da matéria:
Será que temos um sexto sentido
P’ra ver do cosmos uma parte etérea?

O relevante, enfim, desta obra nova
É o uso da razão como instrumento,
Não crer em qualquer asserção sem provas,
Por mais que sirva de gostoso alento.

O que desejo aqui deixar premente
É muito simples de se assimilar:
Vivei com força o momento presente,
Pois sabe quem se além disso algo há?




(*) Confidências e modéstia à parte, eu queria esta estrofe inscrita em minha lápide...

domingo, 22 de maio de 2016

20.º Congresso do PC soviético (1956)


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Este cinejornal soviético falado em russo mostra os principais momentos da sessão de abertura do 20.º Congresso do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), ocorrido no Kremlin de Moscou entre 14 e 25 de fevereiro de 1956. Em destaque, o informe de atividades (às vezes chamado “relatório de balanço”) do Comitê Central do Partido, lido pelo seu primeiro-secretário (nome usado na época pro “secretário-geral”, chefe partidário máximo) Nikita Sergeievich Khruschov, também líder supremo da URSS, na prática.

Este congresso do PC soviético foi muito marcante, pois foi o primeiro ocorrido após a morte de Iosif Stalin, em 1953, tendo se passado o 19.º Congresso em 1952, e foi no último dia de seus trabalhos que Khruschov leu o famoso texto “Sobre o culto à personalidade e suas consequências”, mais conhecido como “relatório secreto” ou “relatório Khruschov”, em que denuncia a adoração de Stalin como um deus e o que chama de crimes do antigo líder contra inocentes.

O “relatório secreto” causou um grande choque entre os comunistas da URSS e do mundo inteiro, ainda que a alta cúpula do PC soviético não tivesse ficado surpresa com as “revelações”, pois muitos deles, inclusive Khruschov, haviam se envolvido diretamente nos abusos do passado. A iniciativa do primeiro-secretário causou movimentos trânsfugas nos países socialistas do Leste europeu e grande abalo entre os comunistas ocidentais, que até então pouco sabiam o que se passava realmente na União Soviética.

Contudo, sabe-se hoje que os crimes revelados no “relatório secreto” eram apenas uma ínfima parte de todos os abusos cometidos sob o mando de Stalin, e se restringiam apenas a quadros partidários atingidos pela repressão, em especial entre os anos de 1936 e 1938. Ficaram de fora o terror em massa, as deportações étnicas, os abusos na coletivização e, claro, a própria orquestração por Khruschov do terror na Ucrânia na segunda metade dos anos 1930.

Este informe que Khruschov lê no vídeo, na verdade, é bem mais comprido, é um calhamaço, e se trata de uma espécie de prestação de contas que o PCUS faz aos seus membros falando das conquistas soviéticas na arena internacional e na administração nacional. Nos trechos em questão, o líder destaca as grandes mudanças ocorridas no mundo nos últimos anos e avalia que a URSS soube lidar com elas e se adaptar corretamente. Também lista diversos feitos na economia, educação, previdência social, habitação e cultura, reafirmando que os sucessos teriam se devido ao seguimento fiel à doutrina de Lenin e à fé na futura vitória final do comunismo.

Eu baixei o vídeo original deste canal, que aliás no título chama o congresso de “traidor”. Eu transcrevi de ouvido a fala do narrador, e os trechos do informe de Khruschov achei em lugares esparsos na internet, pois não há em russo nenhuma versão em HTML do discurso na íntegra, mas há em português, republicada de uma revista comunista dos anos 1950. Fiz a comparação dos trechos em russo com essa tradução, mas no essencial cheguei a um resultado próprio. Não há o original em russo, mas nesta página podem ser baixados os dois volumes com toda a documentação do congresso (o informe está no volume 1, pp. 9-120). Claro que aí não está o “relatório secreto”, pois embora em 1956 tivessem sido feitas algumas leituras públicas entre diversas camadas do PC soviético, ele só foi publicado nos anos de Gorbachov.


Fiz também a transcrição completa do texto em russo do vídeo pra estudantes, incluindo numerais por extenso e ocorrências da letra Ё (io), escrita em russo impresso como o Е (ie):


Москва, 14 (четырнадцатое) февраля 1956 (тысяча девятьсот пятьдесят шестого) года, день открытия XX (двадцатого) съезда Коммунистической партии Советского Союза. В Кремль собирались делегаты, прибывшие со всех концов нашей Родины. Лучших сынов и дочерей послала на съезд наша партия, объединяющая в своих передах более семи миллионов человек. Среди делегатов, государственные, партийные и общественные деятели, хозяйственные руководители... новаторы промышленности, по которым равняются в труде миллионы советских людей... прославленные труженики социалистических полей... представители интелигенции, учёные, работники культуры и искусства.

Десять часов утра. Съезд открыл первый секретарь Центрального комитета Коммунистической партии Советского Союза, товарищ Хрущёв. «За период, прошедший с XIX (девятнадцатого) съезда партии», сказал он, «мы потеряли виднейших деятелей коммунистического движения: Иосифа Виссарионовича Сталина, Клемента Готвальда и Кюици Токуда. Прошу почтить их память вставанием.» Товарищ Хрущёв сообщает, что на съезд прибыли представители коммунистических и рабочих партий многих стран мира. Делегаты тепло приветствуют зарубежных гостей. Избираются руководящие органы съезда: Президиум, Секретариат, редакционная и мандатная комиссии. Члены Президиума занимают свои места. Утверждается порядок дня и регламент съезда. Товарищ Булганин предоставляет слово для отчётного доклада Центрального комитета Коммунистической партии Советского Союза Никите Сергеевичу Хрущёву.

«Товарищи! Период, отделяющий нас от XIX (девятнадцатого) съезда партии, по времени не очень большой: три года и четыре месяца. Но по объёму работы, проделанной партией, по значению событий, которые произошли за это время в нашей стране и за её рубежами – это один из важных периодов в истории Коммунистической партии Советского Союза, в истории её борьбы за укрепление могущества нашей Родины, за построение коммунистического общества, за мир во всём мире.»

«В области внутриполитической это были годы, когда партия, исходя из общенародных интересов, критически оценив положение в сельском хозяйстве, в промышленности, предприняла ряд серьёзных мер для того, чтобы, опираясь на достигнутые успехи, сделать новый крупный шаг вперёд в социалистическом развитии страны. При этом партия смело вскрывала недостатки в различных областях хозяйственной, государственной и партийной деятельности, ломала устаревшие представления, решительно отметая всё отжившее, тормозящее наше движение вперёд.»

«Как теперь всем ясно, меры, принятые партией, были правильными и своевременными. Они обеспечили неуклонный рост социалистической экономики, дальнейшее повышение материального благосостояния и культурного уровня советского народа.»

«Важные события произошли за отчётный период и в области внешнеполитической: чреватая большими опасностями напряжённость в международных отношениях, благодаря последовательной миролюбивой внешней политике стран социалистического лагеря, сменилась известной разрядкой. Именно потому, что Советский Союз вместе со своими друзьями – Китайской Народной Республикой и другими странами народной демократии своевременно выступил с рядом последовательных внешнеполитических мероприятий, поддержанных всеми миролюбивыми силами, на международной арене открылись реальные перспективы к лучшему.»

«Всё это показывает, что наша партия правильно учитывает назревшие потребности как внутренней, так и внешней политики и своевременно вырабатывает отвечающие этим потребностям меры. В этом наглядно сказываются тесные, неразрывные связи нашей партии с народом, мудрость её ленинского коллективного руководства, всепобеждающая сила марксистско-ленинского учения, на котором основывается деятельность партии. Все эти годы партия высоко держала великое знамя бессмертного Ленина. Верность ленинизму – вот источник всех успехов нашей партии.»

Первая часть отчётного доклада была посвящена обзору международного положения Советского Союза. Перейдя к внутреннему положению СССР, товарищ Хрущёв характеризует успехи хозяйственного строительства в Советском Союзе. Он говорит о тяжёлой индустрии, преимущественное развитие которой обеспечило и обеспечит впредь дальнейший рост всех других отраслей народного хозяйства. Говоря о подъёме материального благосостояния и культурного уровня советского народа, товарищ Хрущёв сообщил съезду о том, что в плане шестой пятилетки, намечается переход рабочих и служащих на семичасовой рабочий день, коренное улучшение пенсионного дела, мощный размах жилищного строительства. Докладчик говорит о состоянии народного образования, росте культуры и развитии науки. Он подробно анализировал деятельность коммунистической партии и сформулировал стоящие перед ней задачи. В заключительной части доклада, товарищ Хрущёв сказал: «Советское государство растёт и крепнет. Оно высится как могучий маяк, указывающий всему человечеству путь в новый мир.»

«Будущее за нами, ибо мы уверенно идём вперёд по единственно правильному пути, указанному нашим учителем великим Лениным. Вокруг нас и наших друзей объединяются сотни миллионов людей, воодушевлённых идеями справедливого общественного устройства, идеями демократии и социализма. Под знаменем преобразующего мир учения марксизма-ленинизма Коммунистическая партия Советского Союза приведёт советский народ к полному торжеству коммунизма.»



domingo, 15 de maio de 2016

Stalin discursa e molha o gogó (1937)


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No dia 5 de março a morte de Stalin completou 63 anos, e na ocasião carreguei no meu extinto canal do YouTube uma legendagem com as últimas imagens que consegui do líder discursando. Novas possibilidades de alocuções com legendas, eu só faria com áudio.

Em 12 de dezembro de 1937 houve eleições gerais para o Soviete Supremo da URSS, órgão legislativo máximo do país. Um dia antes, Stalin discursou no Teatro Bolshoi para os votantes de um distrito eleitoral de Moscou, chamado “Stalinski”, isto é... “Stalin”, “de Stalin”.

Como em vários outros países, a votação na URSS, que existia para casas legislativas em todos os níveis, era baseada em distritos eleitorais espalhados pelo território. Porém, naquele ano houve grande perseguição a candidatos ou manifestantes de oposição por se estar no meio dos grandes expurgos iniciados em 1936. O próprio Stalin foi candidato nesse pleito, e como vemos, ele faz suas promessas e agradece pelo apoio dado aos bolcheviques.

Em alguns discursos, é comum ver Stalin tomando uns copos, mas neste vídeo aparece claramente a garrafa do líquido que estava consumindo. Será que se tratava da tubaína São Bento, outrora produzida na cidade de Socorro - SP, ou de sua concorrente Krill?...

Nas Obras completas de Stalin (Moscou, Pisatel, 1997), o nome completo é “Discurso na reunião pré-votação dos eleitores do Distrito Eleitoral Stalin da cidade de Moscou, 11 de dezembro de 1937”, e foi desta página que tirei os trechos em questão. O vídeo, na verdade, eram dois que baixei separados e depois uni num só, tendo aumentado o volume do segundo. Não sei por que foram feitos à parte, mas é a mesma ocasião, com textos na ordem em que foram falados. A primeira parte tem a cor mais esverdeada e o áudio melhor, enquanto a segunda parte tem alguns problemas nos quadros iniciais e o áudio mais abafado. Nas Obras completas, o primeiro trecho está na p. 239, e o segundo, nas pp. 241-242. Seguem a legendagem, o texto em russo e a tradução escrita, a qual abreviei nas legendas:


[...] [Разрешите] принести вам глубокую большевистскую благодарность за то доверие, которое вы оказали партии большевиков, членом которой я состою, и лично мне как представителю этой партии.

Я знаю, что значит доверие. Оно, естественно, возлагает на меня новую, дополнительную обязанность и, стало быть, новую, дополнительную ответственность. Что же, у нас, у большевиков, не принято отказываться от ответственности. Я её принимаю с охотой.

Со своей стороны я хотел бы заверить вас, товарищи, что вы можете смело положиться на товарища Сталина. Можете рассчитывать на то, что товарищ Сталин сумеет выполнить свой долг перед народом, перед рабочим классом, перед крестьянством, перед интеллигенцией.

[...] [Избиратели,] народ должнен требовать от своих депутатов, чтобы они оставались на высоте своих задач, чтобы они в своей работе не спускались до уровня политических обывателей, чтобы они оставались на посту политических деятелей ленинского типа, чтобы они были такими же ясными и определёнными деятелями, как Ленин; чтобы они были такими же бесстрашными в бою и беспощадными к врагам народа, каким был Ленин; чтобы они были свободны от всякой паники, от всякого подобия паники, когда дело начинает осложняться и на горизонте вырисовывается какая-нибудь опасность, чтобы они были так же свободны от всякого подобия паники, как был Ленин; чтобы они были так же мудры и неторопливы при решении сложных вопросов, где нужна всесторонняя ориентация и всесторонний учёт всех плюсов и всех минусов, каким был Ленин; чтобы они были так же правдивы и честны, каким был Ленин; чтобы они так же любили свой народ, как любил его Ленин.

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[...] [Permitam-me] profundamente agradecê-los como bolchevique, pela confiança que depositaram em nosso Partido, do qual faço parte, e em minha pessoa, como representante dele.

Sei o que implica a confiança. Ela naturalmente me impõe um novo encargo a mais, portanto uma nova responsabilidade a mais. Nós, bolcheviques, não admitimos renunciar à responsabilidade. Vou assumi-la com gosto.

De minha parte, camaradas, quero lhes garantir que podem confiar sem medo no camarada Stalin. Estejam certos de que o camarada Stalin saberá cumprir seu dever perante o povo, os operários, os camponeses e os intelectuais.

[...] [Eleitores,] o povo deve exigir de seus deputados que estejam à altura de suas tarefas, que ao atuar não baixem ao nível dos políticos pequeno-burgueses, que cumpram o papel de atores políticos de tipo leninista, que ajam de forma tão clara e precisa quanto Lenin; que sejam tão intrépidos na luta e tão inclementes com os inimigos do povo quanto Lenin; que se livrem de todo pânico ou algo parecido quando tudo vai se complicando e surge à vista qualquer perigo, sem nenhum pânico, como Lenin; que sejam tão sábios e ponderados quanto Lenin ao tomar decisões complexas que exijam variação ao se orientar e pesar todos os prós e contras; que sejam tão francos e íntegros quanto Lenin; e que amem seu povo tanto quanto o amou Lenin.



domingo, 8 de maio de 2016

У дальних окраин (Em longes confins)


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Esta música é especial para mim, porque em 2007, quando comecei a aprender russo, foi uma das primeiras que meu professor Nivaldo dos Santos nos apresentou em sala de aula para traduzirmos. Na época, ela me agradou muito, porque na minha visão subjetiva parecia muito com umas canções pop rock que tocavam na Malhação no começo dos anos 2000, quando eu era adolescente. Não que eu assistisse, mas meus colegas de escola sim, então isso me envolvia direto.

A banda é a russa Severo-Vostok (Северо-Восток), literalmente “Sudeste”, mas não sei o porquê do nome. A música se chama “У дальних окраин” (U dalnikh okrain), Em confins distantes, e foi gravada no álbum Vniz po reke (Rio abaixo) em 2006. A melodia é de Sergei Sedykh, líder da banda, e a letra é de Iulia Lomanova. Pela data em que o vídeo original foi postado, e pela vocalista que a postou, deve ter sido gravado em 2011, ou até o começo de 2012.

Severo-Vostok é uma banda de art rock com raízes na música folk, que canta essencialmente em russo e em 2005 sucedeu à banda In Folio, cujo primeiro álbum havia saído em 1994. O líder Sedykh também é professor de música, escritor de livros para guitarristas iniciantes e produtor de álbuns para outras bandas. Eles sempre participaram de vários festivais russos importantes e atualmente contam ainda com Aleksandra Komarova (a vocalista que postou o vídeo), Grigori Gornostaiev, Igor Shatov e Alisa Miller.

O vídeo sem legendas está no canal da vocalista, que após um tempo longe da banda, voltou a cantar em 2015. A letra em russo, que tirei de um site musical, e a tradução em português estão mais abaixo, logo após a legendagem que postei num antigo canal do YouTube:


Нет времени помнить
Ушедшие в воду пути.
Всех кораблей имена
Нет времени помнить.

Нет времени спорить
С усталостью мыслей и рук.
Если устал – отдохни.
Нет времени спорить.

Отстанем от стаи,
У дальних окраин
Дорогой, где берег ещё не земля...

Нет времени верить
Сомнениям лучших друзей.
Смыслу всех прожитых слов
Нет времени верить.

Нет времени видеть,
Как море меняет свой цвет.
Дальних земель города
Нет времени видеть.

Отстанем от стаи,
У дальних окраин
Дорогой, где берег ещё не земля...

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Não há tempo de recordar
Os caminhos que saem ao mar.
Os nomes de todos os navios
Não há tempo de recordar.

Não há tempo de resistir
Ao cansaço de mãos e mente.
Se está cansado, descanse.
Não há tempo de resistir.

Deixemos ir o bando,
Em confins distantes
Numa via ainda sem terra à margem...

Não há tempo de crer
Nas dúvidas dos melhores amigos.
No sentido de toda palavra usada
Não há tempo de crer.

Não há tempo de olhar
O mar mudando de cor.
As cidades de terras distantes
Não há tempo de olhar.

Deixemos ir o bando,
Em confins distantes
Numa via ainda sem terra à margem...



domingo, 1 de maio de 2016

Edoardo Vianello – “O mio Signore”


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Mais uma das minhas músicas italianas preferidas, com clipe de um “Mr. Trololo italiano”... É o célebre artista Edoardo Vianello, com uma de suas canções mais conhecidas no Brasil desde os anos 1960 e presente em qualquer coletânea do gênero, O mio Signore (Ó, meu Senhor), em que o intérprete diz estar com a vida muito feliz, mas precisa de sua amada consigo para tudo ficar completo. Foi composta pelo próprio Vianello e pelo compositor, escritor e produtor Mogol.

A canção, gravada em 1963 no compacto O mio Signore/Non esiste più niente, chegou a ficar em primeiro lugar nas paradas por duas semanas em 1964, mas o vídeo é de 1966 ou 1967. Como eu disse, quem conhece o velho vídeo-meme do Mr. Trololo, ou seja, o grande cantor soviético Eduard Khil, vai notar que o estilo de roupa e encenação do clipe são bem semelhantes. Não sou um especialista na cultura de então, mas talvez houvesse alguma tendência compartilhada no gênero pop mundial, cuja fonte eu não sei informar.

Edoardo Vianello (entre em seu site oficial), nascido em 24 de junho de 1938 em Roma, é um cantor e ator italiano ativo desde 1957 e um dos que mais vendeu cópias de álbuns no país, tendo sido a mais célebre sua gravação Abbronzatissima, também de 1963, reputada a sexta mais cantada por italianos no exterior. Dono de uma grande discografia, gravou junto com muitas estrelas conterrâneas, também teve composições gravadas por elas e tem um estilo mais dançante e informal, ao contrário de outros artistas da mesma geração.

Giulio Rapetti Mogol, nascido em 17 de agosto de 1936 em Milão, também é muito famoso pelas composições que foram gravadas por celebridades nos anos 1960, bem como em décadas posteriores, as quais ainda hoje lhe rendem homenagens. Tradutor de vários sucessos internacionais para o italiano, também se dedica à formação de jovens artistas e a atividades beneficentes.

Baixei desta página o vídeo para traduzir e legendar. A letra que usei como base para confirmar o significado é desta página, que traz ainda a cifra para os músicos de plantão. Em todo caso, depois do vídeo legendado no meu antigo canal do YouTube, reproduzi abaixo a mesma letra (conforme cantada no vídeo) e a tradução em português:


O mio Signore
In questo mondo
Io non ho avuto tanto
Eppure sono contento
Sono contento

O mio Signore
Io ti ringrazio
Di ogni cosa che ho avuto
Grazie per tutto quello
Che Tu hai fatto per me
Per me...

Però se questa sera
Posso farti una preghiera
Fa che domani
Fa che domani
Lei ritorni da me

O mio Signore
Io ti ringrazio
Di ogni cosa che ho avuto
Grazie per tutto quello
Che Tu hai fatto per me
Per me

Però se questa sera
Posso farti una preghiera
Fa che domani
Fa che domani
Lei ritorni da me

Fa che domani
Fa che domani
Lei ritorni da me

Da me...
Me...

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Ó, meu Senhor
Neste mundo
Eu nunca tive muita coisa
Mesmo assim, sou feliz
Sou feliz

Ó, meu Senhor
Eu o agradeço
Por tudo o que tive
Obrigado por tudo aquilo
Que você fez por mim
Por mim

Porém, se esta noite
Puder lhe fazer uma oração
Peço que faça amanhã
Peço que faça amanhã
Ela voltar para mim

Ó, meu Senhor
Eu o agradeço
Por tudo o que tive
Obrigado por tudo aquilo
Que você fez por mim
Por mim

Porém, se esta noite
Puder lhe fazer uma oração
Peço que faça amanhã
Peço que faça amanhã
Ela voltar para mim

Peço que faça amanhã
Peço que faça amanhã
Ela voltar para mim

Para mim...
Mim...