domingo, 29 de março de 2015

Veillons au salut de l’Empire (tradução)


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Esta é uma canção revolucionária francesa cuja letra foi escrita nos últimos meses de 1791 por Adrien-Simon Boy, cirurgião-chefe do Exército do Reno, sobre a melodia da romança (canção sentimental) Vous qui d’amoureuse aventure, courez et plaisirs et dangers, da comédia Renaud d’Ast, composta em 1787 por Nicolas Dalayrac. Muito tocada em eventos oficiais do Primeiro Império de Napoleão Bonaparte, quase virou de vez o hino nacional no lugar da Marselhesa.

Originalmente, a palavra empire (império) do título e do primeiro verso, com E minúsculo, que cumpria essencialmente a função da rima, tinha o sentido de “pátria”, ou, no sentido mais geral, de “pátria de todos os homens livres”. Com o E de Empire tornado maiúsculo, a referência passou a ser ao império napoleônico.

Esta versão da música foi gravada em 1989 no álbum La Révolution française en chansons, protagonizado pelo Chorale Populaire Paris, pelo Sextuor de la Cité e por Bernard Demigny. A quarta estrofe não é cantada, enquanto o estribilho da terceira, que é diferente, aparece igual, sendo originalmente “Liberté, liberté ! que ce nom sacré nous rallie/Poursuivons les tyrans, punissons leurs forfaits/Nous servons la même patrie/Les hommes libres sont Français” (Liberdade, liberdade! Que esse nome sagrado nos una/Persigamos os tiranos, punamos seus desmandos/Nós servimos à mesma pátria/Os homens livres são franceses). Leia aqui a letra integral em francês!

Eu baixei o áudio para legendagem a partir deste vídeo, traduzi e legendei. Logo abaixo meu próprio vídeo, além da letra em francês e em português, apenas com as estrofes cantadas no vídeo:


1. Veillons au salut de l’Empire,
Veillons au maintien de nos lois ;
Si le despotisme conspire,
Conspirons la perte des rois !

Refrain (2x):
Liberté, liberté ! que tout mortel te rende hommage !
Tyrans, tremblez ! vous allez expier vos forfaits !
Plutôt la mort que l’esclavage !
C’est la devise des Français.

2. Du salut de notre patrie
Dépend celui de l’univers ;
Si jamais elle est asservie,
Tous les peuples sont dans les fers.

(Refrain 2x)

3. Ennemis de la tyrannie,
Paraissez tous, armez vos bras.
Du fond de l’Europe avilie,
Marchez avec nous aux combats.

(Refrain 2x)

____________________


1. Cuidemos da salvação do Império,
Cuidemos para manter nossas leis;
Se o despotismo conspirar,
Conspiremos a ruína dos reis!

Refrão (2x):
Liberdade, liberdade! Todo mortal lhe renda homenagem!
Tremam, tiranos! Vocês pagarão por seus desmandos!
Antes morte do que escravidão!
Esse é o lema dos franceses.

2. Da salvação de nossa pátria
Depende a do universo;
Quando ela é escravizada,
Todos os povos são agrilhoados.

(Refrão 2x)

3. Inimigos da tirania,
Apareçam todos, peguem em armas.
Do fundo da Europa humilhada,
Marchem conosco nos combates.

(Refrão 2x)



domingo, 22 de março de 2015

Le Chant du départ (tradução)


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Esta é uma canção revolucionária francesa composta em 1794 por Étienne Nicolas Méhul (melodia) e Marie-Joseph Chénier (letra), que sobreviveu à época da Revolução e do Primeiro Império (período napoleônico), tendo sido usada em diversas situações com vários fins e simbologias. Também conhecida como Hymne à la liberté (Hino à liberdade), era muito tocada em eventos do governo de Napoleão Bonaparte, e por isso é conhecida como um de seus hinos não oficiais.

A canção tem um formato pelo qual cada estrofe é cantada por uma personagem diferente, alusiva à história da Revolução Francesa e da população local, enquanto o refrão é cantado por um conjunto de guerreiros, visto ser uma canção de combate. Na versão que legendei, são cantadas a primeira (deputado do povo), a segunda (mãe de família), a quarta (um menino), a sexta (uma moça) e a sétima (três guerreiros) estrofes. Leia aqui a letra integral em francês!

Esta versão da música foi gravada no álbum Révolution Française em 1990 pelo Coral e Orquestra do Capitólio de Toulouse, então regidos pelos maestros Michel Plasson e Marcel Seminara.

Segundo a Wikipédia em francês, a palavra barrière logo no primeiro verso, que traduzi como “paliçada”, tem o sentido de “liça”, ou seja, uma área em torno dos castelos fortificados, cercada por paliçadas de madeira, em que se realizavam torneios, combates e justas. Em francês, lice nomeia essa paliçada ou a área que ela circula, enquanto em português “liça” designa o local de combate, e “paliçada” é um sinônimo seu. Barrière também poderia ser uma referência à fronteira norte da França, regida pelo “Traité de la Barrière” (Tratado da Barreira) de 1715, que visava impedir invasões francesas aos Estados limítrofes locais.

Midi designa correntemente o Sul da França, daí eu ter traduzido du nord au midi como “de norte a sul”. Bara e Viala são Joseph Bara e Joseph Agricol Viala, dois adolescentes republicanos mortos no início dos anos 1790 em conflitos com realistas, e cuja mitologia foi amplamente desenvolvida na posteridade. Hyménée, ou “himeneu”, é um sinônimo de “matrimônio”, e fer, ou “ferro”, traduzi como “espada”, da qual acredito que seja sinônimo.

Eu baixei o áudio para legendagem a partir deste vídeo, traduzi e legendei. Logo abaixo meu próprio vídeo, além da letra em francês e em português, apenas com as estrofes cantadas no vídeo:


(Un député du Peuple)
La victoire en chantant nous ouvre la barrière.
La Liberté guide nos pas.
Et du nord au midi, la trompette guerrière
A sonné l’heure des combats.
Tremblez, ennemis de la France,
Rois ivres de sang et d’orgueil !
Le Peuple souverain s’avance ;
Tyrans descendez au cercueil.

Chant des guerriers (Refrain) :
La République nous appelle
Sachons vaincre ou sachons périr
Un Français doit vivre pour elle
Pour elle un Français doit mourir.
Un Français doit vivre pour elle
Pour elle un Français doit mourir.

(Une mère de famille)
De nos yeux maternels ne craignez pas les larmes :
Loin de nous de lâches douleurs !
Nous devons triompher quand vous prenez les armes :
C’est aux rois à verser des pleurs.
Nous vous avons donné la vie,
Guerriers, elle n’est plus à vous ;
Tous vos jours sont à la Patrie :
Elle est votre mère avant nous.

(Refrain)

(Un enfant)
De Bara, de Viala le sort nous fait envie ;
Ils sont morts, mais ils ont vaincu.
Le lâche accablé d’ans n’a point connu la vie :
Qui meurt pour le peuple a vécu.
Vous êtes vaillants, nous le sommes :
Guidez-nous contre les tyrans ;
Les républicains sont des hommes,
Les esclaves sont des enfants.

(Refrain)

(Une jeune fille)
Et nous, sœurs des héros, nous qui de l’hyménée
Ignorons les aimables nœuds ;
Si, pour s’unir un jour à notre destinée,
Les citoyens forment des vœux,
Qu’ils reviennent dans nos murailles
Beaux de gloire et de liberté,
Et que leur sang, dans les batailles,
Ait coulé pour l’égalité.

(Refrain)

(Trois guerriers)
Sur le fer devant Dieu, nous jurons à nos pères,
À nos épouses, à nos sœurs,
À nos représentants, à nos fils, à nos mères,
D’anéantir les oppresseurs :
En tous lieux, dans la nuit profonde,
Plongeant l’infâme royauté,
Les Français donneront au monde
Et la paix et la liberté.

(Refrain)

____________________


(Um deputado do Povo)
A vitória, cantando, nos abre a paliçada.
A Liberdade guia nossos passos.
E de norte a sul, o clarim de guerra
Anunciou a hora dos combates.
Tremam, inimigos da França,
Reis ébrios de sangue e orgulho!
O Povo soberano avança;
Tiranos, desçam à tumba.

Canto dos guerreiros (Refrão):
A República nos chama
Saibamos vencer ou perecer
Um francês deve viver por ela
Por ela um francês deve morrer.
Um francês deve viver por ela
Por ela um francês deve morrer.

(Uma mãe de família)
Não temam as lágrimas de nossos olhos maternais:
Não temos nenhum sofrimento vil!
Devemos triunfar quando vocês pegarem em armas:
São os reis que devem chorar.
Nós demos a vida a vocês,
Guerreiros, mas não é mais sua;
Todos os seus dias são da Pátria:
Ela é sua mãe antes de nós.

(Refrão)

(Uma criança)
Nós invejamos o destino de Bara e de Viala;
Eles morreram, mas venceram.
Um covarde bem vivido não sabe nada da vida:
Quem morre pelo povo é que viveu.
Vocês são valentes, e nós também:
Guiem-nos contra os tiranos;
Os republicanos são homens,
Os escravos são crianças.

(Refrão)

(Uma moça)
E nós, irmãs dos heróis, nós que ignoramos
Os amáveis laços do matrimônio;
Se, de se unir um dia a nosso destino,
Os cidadãos expressarem o desejo,
Que voltem para nossa cidade
Adornados de glória e liberdade,
E que seu sangue, nas batalhas,
Tenha corrido pela igualdade.

(Refrão)

(Três guerreiros)
Pela espada, ante Deus, juramos a nossos pais,
A nossas esposas, a nossas irmãs,
A nossos representantes, a nossos filhos, a nossas mães
Aniquilar os opressores:
Em todo lugar, na noite profunda,
Submergindo a infame realeza,
Os franceses darão ao mundo
A paz e a liberdade.

(Refrão)



Marianne, símbolo feminino da República na França.

domingo, 15 de março de 2015

Garçom/Reginaldo Rossi em esperanto


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Mais uma de minhas traduções de músicas brasileiras para o esperanto. Hoje apresento a vocês uma peça no mínimo pitoresca: uma versão da música Garçom (Kelnero), composta e cantada por Reginaldo Rossi, que fiz em 7 de dezembro de 2002. Um grande sucesso do brega! Nesta página você pode ler a letra em português, e abaixo a letra em esperanto e o vídeo com a música.

Ĉi tiu kanzono estas granda sukceso de muziko “bizara” en Brazilo, kantata kaj komponita de Reginaldo Rossi, kies tradukon de la portugala lingvo al Esperanto mi faris la 7-an de Decembro 2002. La originala titolo en la portugala estas Garçom, kiu ankaŭ signifas “kelnero”. Ĉi-paĝe vi povas legi la tekston en la portugala, kaj ĉi-sube vi rigardos videon kun la kanzono kaj legos tekston en Esperanto.


Kelnero

1. Kelner’,
Ĉe tiu ĉi tablo malnova
Al vi historioj sin ŝovas
Kaj centoj parolas pri am’.
Kelner’,
Drinkejoj nin vidas egale.
Mi diras okazojn banale.
Aŭskultu min, jen mia dram’.

Rekantaĵo/Refrão:
Mia virin’ edziniĝos hodiaŭ por ĝoj’,
Letero pri tio al mi estis voj’
Por la disŝirado de tiu ĉi kor’.
En la drinkejo, ĉe tablo, foriras la trist’.
Mi min ebriigos, fariĝos “drinkist’”
Kaj sur lita planko alvenos la dorm’.

2. Kelner’,
Mi scias, ke mi vin malplaĉas,
Sed la ebriuloj sin aĉas
Kaj tuj venas prav’ kaj kuraĝ’.
Kelner’,
Plorad’, por mi, estas cel’ nura.
Mi donos la monon fakturan.
Min aŭdu, se helpos vin saĝ’.

(Rekantaĵo/Refrão)



domingo, 8 de março de 2015

Stalin diz em 1935 que a vida melhorou


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Breve trecho de discurso do líder soviético Iosif Stalin no último dia da 1.ª Conferência Stakhanovista Pan-Soviética, ocorrida no Kremlin entre 14 e 17 de novembro de 1935. Tendo sublinhado a importância do movimento stakhanovista no incremento da produção industrial soviética, Stalin também aludiu à relativa melhora no padrão de vida dos cidadãos soviéticos ao longo dos anos 1930, em trecho que ficou famoso pela frase inicial “Camaradas, a vida ficou melhor, ficou mais alegre” (Zhit stalo luchshe, tovarischi. Zhit stalo veseleie).

Muitos leram na frase uma espécie de humor negro, por ter sido pronunciada pouco antes de se iniciar a repressão em massa às oposições, entre 1936 e 1938, o que fica ainda mais nítido quando se conhece a famosa canção propagandística que ela inspirou na época, Zhit stalo luchshe (A vida ficou melhorassista ao clipe que eu traduzi. Ainda hoje, no jargão russo, a expressão “Zhit stalo luchshe, zhit stalo veseleie” é usada para se referir a governos que fazem muita propaganda sobre melhorias no padrão de vida da população, mas escondem vários problemas sociais ou realizam o desenvolvimento sob direção autoritária, quando não promovem as duas coisas.

O stakhanovismo, ou movimento stakhanovista, foi uma campanha de massa favorecida pelo governo soviético para aumentar a produtividade no trabalho, marcando a introdução de métodos tayloristas de controle nas indústrias e nas fazendas, sob a inspiração do mineiro de carvão Aleksei Stakhanov, que numa madrugada de 1935 teria ultrapassado 14 vezes sua quota de extração diária. A iniciativa deveria contar com a força de vontade dos próprios trabalhadores, reunidos em “brigadas de choque” para o incremento da produção, mas foi posteriormente abandonada por conta de sua impopularidade e das disparidades que gerou entre os assalariados, sendo estigmatizada pelo sucessor de Stalin, Nikita Khruschov.

Pode ser lida nesta página a íntegra do referido discurso de Stalin em russo, mas grande parte dele deve ter sido modificada ou mal captada, pois o trecho que legendei, cuja transcrição pode ser vista mais abaixo, está bem diferente do publicado. Eu mesmo traduzi e legendei:


ВОСТОРЖЕННО ВСТРЕТИЛИ СТАХАНОВЦЫ ПОЯВЛЕНИЕ НА ТРИБУНЕ ЛЮБИМОГО ВОЖДЯ И УЧИТЕЛЯ ТОВАРИЩА СТАЛИНА

Жить стало лучше, товарищи. Жить стало веселее. Когда веселее живется, работа спорится. Если бы у нас был кризис, если бы у нас была безработица – бич рабочего класса, если бы у нас было нищенство, если бы наша продукция не росла, если бы у рабочих и крестьян нашей страны не было такого хорошего правительства, которое заботится о них и считается с их нуждами, словом если бы жилось плохо и не весело, то никакого большевистского движения у нас не было бы. Заверяю вас. Не было бы.


OS STAKHANOVISTAS ACOLHERAM COM ENTUSIASMO, AO APARECER NA TRIBUNA, O AMADO GUIA E MESTRE, CAMARADA STALIN

Camaradas, a vida ficou melhor, ficou mais alegre. Vida mais alegre resulta em trabalho produtivo. Se estivéssemos afundados na crise ou no desemprego, flagelo do operariado, se a miséria reinasse entre nós, se nossa produção não crescesse, se nossos operários e camponeses não tivessem tão bom governo que cuidasse deles e considerasse suas necessidades, em suma, se a vida fosse ruim e triste garanto que hoje o movimento bolchevique não existiria.



Aliás, feliz Dia Internacional das Mulheres, meninas do mundo!!! (Foto de 1937)

domingo, 1 de março de 2015

“Escrito nas estrelas” em esperanto


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Há algum tempo não posto coisas relativas a um dos meus passatempos preferidos da adolescência: verter músicas brasileiras para o esperanto. Eu tinha um site em que publicava os textos, mas como hoje ele não existe mais, tenho todas as versões guardadas em meu pendrive e vou continuar as postando aos poucos. Muitos brasileiros, mesmo novos, já ouviram falar da canção Escrito nas estrelas, um sucesso de Tetê Espíndola, composto por Arnaldo Black e Carlos Rennó, que estourou num dos velhos festivais dos anos 1980. Verti esta canção para o esperanto em 27 de agosto de 2004, quando tinha 16 anos, e lhe dei o novo título de Stelaro de l’ pasi’, literalmente Constelação da paixão. Obviamente não é uma tradução literal, mas procurei me manter o mais próximo possível das ideias originais. Você pode ler nesta página a letra em português, e abaixo e abaixo a letra em esperanto e o vídeo com a música.

Nota (23/7/2022): Vim do futuro pra dizer que há muito tempo, pra quase tudo, o pendrive virou nuvem, hehehe.

Ĉi tiu kanzono estis sukceso de la 1980-aj jaroj en brazila muzika festivalo, kantata de Tetê Espíndola kaj komponita de Arnaldo Black kaj Carlos Rennó, kies tradukon de la portugala lingvo al Esperanto mi faris la 27-an de Aŭgusto 2004, kiam mi estis 16-jara. La originala titolo en la portugala, Escrito nas estrelas, signifas laŭlitere Skribita sur la steloj. Ĉi-paĝe vi povas legi la tekston en la portugala, kaj ĉi-sube vi rigardos videon kun la kanzono kaj legos tekston en Esperanto.


Stelaro de l’ pasi’

1. Por mi vi estis la sun’
De tiu nokto sen fin’;
Por mia korpo, rebril’
Relumiginta do min.
Vin plaĉi estas per ĝu’
Ĉi tie mia misi’,
Kunesti ĉie kun vi
Kaj fari nenion pli.

Rekantaĵo/Refrão:
Ni kuniĝis forte, kiel montras kartoj de l’ tarok’:
Amatin’ (*), tia am’
Videbla estas sur la tablo
Nur por ni.
L’ estonteco nin regalis per romana laŭtalvok’.
Amatin’ (*), nia am’
Skribita estis sur stelaro
De l’ pasi’.

2. El vi l’ atento pri mi
Utilis kiel zorgil’:
Per tiu vivmanier’
Ni vivu dum la jarmil’.
Sen vi finiĝas feliĉ’
Kaj tuta mia estec’.
Atentu, ke super ni
Nun ŝvebas geedziĝec’.

(Rekantaĵo/Refrão)

(*) Kantantino uzus anstataŭe/Cantora usaria no lugar: Ho amul’, ho amat’.