domingo, 30 de outubro de 2016

Mitterrand corrige o intérprete nos EUA


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Respeitemos os intérpretes, pois nas mais diversas e opressivas situações eles passam perrengues ao ter de traduzir oralmente na hora ou pouco depois, do modo mais fiel possível, a fala de todo tipo de pessoa, seja em formação, sotaque, importância e outras peculiaridades próprias ou sociais. Alguns confessam mesmo: as condições são tão ruins que às vezes inventam a interpretação...

Mas infelizmente isso nem sempre dá certo. O moço convidado pra exercer o trabalho na ocasião deve ter pensado que tudo correria bem por se tratar de um presidente da França, cargo cujos ocupantes raramente falam um inglês fluente, e por ser interpretação consecutiva, dando um tempo pra pensar (e certamente o velhinho não ia entender o resultado). Porém, François Mitterrand, um dos mais notáveis presidentes da República franceses, surpreendeu mais uma vez retificando uma tradução não errada, mas imprecisa.

Em 26 de março de 1984 o socialista Mitterrand continuava sua viagem oficial aos Estados Unidos e em São Francisco, Califórnia, recebeu da prefeita Dianne Feinstein a chave da cidade e a proclamação dos dias 24, 25 e 26 de março “jornadas Mitterrand”. Ele terminou seu discurso em frente à prefeitura falando uma coisa e o intérprete modificou “um pouco”, mas ele não esperava que sua imprecisão seria cutucada de forma bem-humorada!

Eu cortei apenas a parte em que há o episódio, mas o vídeo completo é uma breve reportagem televisiva francesa jogada no YouTube pelo canal Ina Politique, do Instituto Nacional do Audiovisual francês, que publica muita coisa histórica e jornalística interessante. Pra quem entende a língua, recomendo visitar bastante! Depois eu mesmo transcrevi, traduzi, legendei e postei no meu canal O Eslavo no YouTube. Antes do vídeo legendado, as falas em francês e inglês:


– J’irai le répétant... sans cesse: nous aimons le peuple américain.

– The message is simple, that we love the United States.

– United States... and... American people!




quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Pesem o Titu (Canção para Tito) – 1944


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No fim do mês passado, essa foi minha primeira legendagem a partir do esloveno, e também minha primeira legendagem feita por conta própria tratando de algo sobre a antiga Iugoslávia, porque o hino nacional deste país, assim como o da Eslovênia independente, fiz em grande parte baseado em outras versões. Há muito eu queria também começar a legendar canções partisans do período do Marechal Tito.

Esta se chama Pesem o Titu, que se pode traduzir como Canção sobre Tito ou, como é mais corrente, Canção para Tito. A gravação é de 1961, pelo Partizanski Invalidski Pevski Zbor (IPZ, Coral Partisan de Inválidos), hoje mais conhecido como Partizanski Pevski Zbor (PPZ, Coral Partisan). Infelizmente não achei mais informações sobre os compositores nem sobre esse coral, apenas achei numa página russa que a canção talvez fosse de 1944.

Eu conhecia uma interpretação com banda e coro militares, mas achei esta versão bem mais legalzinha, só com voz e acordeão. Lembra muito música russa, ou eslava em geral. Não preciso falar muito do marechal Josip Broz Tito, que desde o fim da 2.ª Guerra Mundial até 1980, quando morreu, governou autoritário a Iugoslávia, sob um regime socialista um tanto diferente, mais aberto ao mercado e ao resto do mundo do que o soviético. Embora inimigo de Stalin, também permitiu culto a si mesmo e em 1955 se reconciliou com a URSS.

Eu tirei deste vídeo o áudio, e nele há também a capa do disco do IPZ em que está a canção. A letra em esloveno pode ser achada em várias fontes, mas ela também segue abaixo, junto com a tradução em português, após o vídeo-montagem que fiz com o áudio e várias imagens de Tito e carreguei no meu antigo canal do YouTube:



Versão que legendei em dezembro de 2017, a partir deste vídeo:

1. Tam nekje med svobodnimi polji,
kjer iz zemlje klije mlada rast,
njemu, ki vodnik nam je najbolji,
smo zložili pesem to na čast.

Refren (2x)
Tito, naša svetla bojna slava,
Tito, naša dika in naš vzor,
koder vodi tvoja nas zastava,
za teboj pojoč gremo navzgor!

2. Naša misel širi svetla krila,
mlada moč nam v srcih živo vre,
razorana zemlja obrodila,
bo na jesen kruha nam za vse.

(Refren 2x)

____________________


1. Em algum lugar de livres campos
Onde a mata nova sai da terra
Fizemos esta canção em honra
Desse nosso melhor dirigente.

Refrão (2x):
Tito, nossa clara glória lutadora,
Tito, nossa virtude e exemplo,
Aonde sua bandeira nos levar
Seguiremos cantando, subindo!

2. Nosso pensar cria asas claras,
Força jovem nos arde o coração,
A terra cultivada floresceu,
Todos teremos pão no outono.

(Refrão 2x)



domingo, 23 de outubro de 2016

Larisa Chernikova – Одинокий волк


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Há muitos anos me pediram pra legendar essa música, mas só há pouco tempo tive a chance de legendar. Ela se chama “Одинокий волк” (Odinoki volk), Lobo solitário, aludindo ao marido que deixa a casa de noite pra ir atrás de outro rabo de saia. Quem canta é a popstar russa Larisa Chernikova, que a gravou no seu álbum inaugural de mesmo nome, em 1995. Tendo começado a carreira em 1992, aos 18 anos, tornou-se um ícone dos anos 90 na Rússia, quando a música parecia tão cafona quanto a do Brasil nos anos 80.

A história dessa cantora seria cômica se não fosse trágica. Ela nasceu em Kursk e se mudou pra Moscou com 6 anos com a mãe, que a criava e era pianista clássica de profissão, quando ela arrumou uma boquinha no Ministério da Cultura. Larisa estudou música no ensino básico e depois na faculdade, tendo integrado um grupo de música popular de 1992 a 1994, quando começou carreira solo. Casou-se com um empresário em 1993, mas ele foi assassinado em 1996, o que lhe inspirou a fazer canções e clipes dedicados a ele. Embalou sua carreira, lançou muitos hits e em 2000 conheceu por uma agência de encontros virtuais um empresário americano que só um ano depois, já tendo casado, soube que ela era uma artista famosa. Deu um tempo na carreira, mudou-se pros EUA, teve um filho em 2005 e lançou um álbum isolado em 2008.

Larisa Chernikova tem um site oficial, mas eu baixei desta página o vídeo sem legendas, e tirei desta página o texto em russo pra traduzir. Segue abaixo a legendagem que carreguei no meu antigo canal do YouTube, e em seguida as letras em russo e em português:


1. Ты не веришь мне, но один опять,
С кем бы не был ты, даже если с ней,
Ты живёшь во сне, ты не хочешь ждать,
А глаза пусты, как луна в окне.

Припев (2x):
Одинокий волк, ты боишься дня,
Но приходит ночь и, тоску храня,
Ты уходишь прочь, одинокий волк,
Не гони меня, не гони меня.

2. Ты твердишь себе, что в душе покой,
Но не веришь сам и опять грустишь,
Что печаль – тебе, ты всегда такой,
Места нет мечтам на твоём пути.

(Припев 2x)

3. Темнотой томим, день сгорел дотла,
Как на талом льду миллион свечей,
Я оставлю мир, где всю жизнь жила,
За тобой пойду в темноту ночей.

(Припев 4x)

____________________


1. Você não acredita em mim, mas sozinho de novo,
Com quem quer que seja, até mesmo com ela,
Você vive sonhando, não quer esperar,
E está de olhos brancos, como a lua na janela.

Refrão (2x):
Lobo solitário, você tem medo do dia,
Mas chega a noite e, escondendo a mágoa,
Você corre pra fora, lobo solitário,
Não me mande embora, não me mande embora.

2. Você insiste que está de alma tranquila,
Mas não crê em si e de novo lamenta
Que está aborrecido, você é sempre assim,
Não há lugar para sonhos no seu caminho.

(Refrão 2x)

3. Consumido pelo escuro, o dia virou cinzas,
Como um milhão de velas no gelo derretido,
Vou manter a paz onde vivi a vida toda,
Vou atrás de você na escuridão das noites.

(Refrão 4x)



quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Пусть всегда будет солнце (URSS ’62)


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Esta é mais uma linda canção soviética, sem alusões partidárias ou doutrinárias, que clama pela paz no mundo e pela fraternidade entre os povos, atitudes naturalmente encontradas nas crianças. Ela tem letra de Lev Oshanin e melodia de Arkadi Ostrovski e foi lançada em 1962, conhecendo rápido sucesso também em países vizinhos. É uma pena que as ideias pregadas nem sempre tenham sido praticadas nem pelo governo soviético, nem pelos regimes ocidentais.

A letra foi inspirada num cartaz pintado por Nikolai Charukhin, que se chamava justamente “Пусть всегда будет солнце” (Pust vsegda budet solntse), Que sempre haja sol, o qual, por sua vez, foi inspirado numa quadrinha de Kostia Barannikov, publicada numa revista de psicologia infantil ainda em 1928 e reproduzindo o que uma criança pensava sobre a palavra “sempre”. A quadrinha, pois, virou o refrão da música.

Essa legendagem é dedicada às crianças que fogem das guerras na África e no Oriente Médio, e às vezes não sobrevivem pra contar história, ou filhas e filhos de imigrantes mal recebidos na Europa, e também, claro, às que ficam nos países de origem e são vítimas de todo tipo de barbárie. Não posso me esquecer da Ucrânia. Logo que baixei o vídeo pra legendar veio esse pensamento na cabeça, mas eu já conhecia a música há alguns anos, quando eu sequer imaginava que o mundo ia voltar a ficar desse jeito.

Eu baixei desta página o vídeo sem legendas, na qual não há mais informações sobre a transmissão, mas diz apenas que foi nos anos 1970. A letra em russo eu tirei desta página pra traduzir, tendo feito umas poucas mudanças, e logo depois legendei em português o vídeo. Segue abaixo a legendagem que carreguei no meu antigo canal do YouTube, e em seguida as letras em russo e em português. No vídeo apenas a segunda estrofe não é cantada:


1. Солнечный круг, небо вокруг –
Это рисунок мальчишки.
Нарисовал он на листке
И написал подписал в уголке:

Припев (2x):
Пусть всегда будет солнце!
Пусть всегда будет небо!
Пусть всегда будет мама!
Пусть всегда буду я!

2. Милый мой друг, юный мой друг,
Людям так хочется мира!
И в тридцать пять, сердце опять
Не устаёт повторять:

(Припев 2x)

3. Тише солдат, слышишь солдат,
Люди пугаются взрывов.
Тысячи глаз в небо глядят,
Губы упрямо твердят:

(Припев 2x)

4. Против беды, против войны
Встанем за наших мальчишек.
Солнце навек, счастье навек –
Так повелел человек:

(Припев 2x)

____________________


1. O sol redondo, o céu em volta:
É o desenho de um menininho.
Ele desenhou numa folhinha
E escreveu num cantinho:

Refrão (2x):
Que sempre haja sol!
Que sempre haja céu!
Que sempre haja mãe!
Que sempre haja eu!

2. Meu jovem amigo, caro amigo,
As pessoas querem tanto paz!
E com 35 anos o coração de novo
Não se cansa de repetir:

(Refrão 2x)

3. Silêncio, soldado, escute,
As explosões assustam as pessoas.
Milhares de olhos se fixam no céu
E os lábios repetem obstinados:

(Refrão 2x)

4. Contra a desgraça e a guerra
Nos poremos por nossas crianças.
Sol e felicidade para sempre,
Assim ordenou o ser humano!

(Refrão 2x)



domingo, 16 de outubro de 2016

Nenhum outro homem (Никой друг) ’13


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Quando eu postei esse vídeo no meu extinto canal do YouTube, deve ter sido uma novidade na videosfera brasileira. É uma canção da artista búlgara Andrea, gravada em 2013 e que se tornou na época um baita sucesso nos Bálcãs. Chama-se “Никой друг” (Nikoi drug), literalmente Ninguém mais ou Nenhum outro, subentendendo-se “nenhum outro homem”, pois a música trata de uma paixão tão forte que, por mais que a mulher tenha sido machucada pelo parceiro, ela não consegue se esquecer nem se separar dele.

Quem me apresentou por acaso essa canção foi uma garota búlgara de ascendência turca, com quem eu conversava pelo Facebook por volta de 2013, e por muitos anos a escutei sem saber o significado. Só há pouco tempo consegui achar algumas traduções em inglês, tcheco e servo-croata, com que cotejei minha tradução direta do búlgaro!

O nome real da artista Andrea é Teodora Rumenova Andreeva, ela nasceu em 1987 e além de pop-folk (que é um estilo bem notável nessa música, por conta dos instrumentos e da batida) ela também canta pop, dance e house. É muito célebre na Bulgária, concorreu várias vezes ao Eurovision e atua desde 2006, também fazendo duetos e gravações em grupo com outros artistas da região e de outros lugares. Além do próprio site oficial, ela tem também espaços nas redes sociais Facebook, Twitter, YouTube e Instagram.

Eu baixei desta página o vídeo sem legendas, e depois traduzi e legendei em português. Segue abaixo a legendagem, e em seguida as letras em búlgaro e em português:


Колко рани си оставил в мене,
Няма място виждаш ли?
Ако почна сега да броя
Колко пъти съм сама...
Нямат край!
А всеки път се лъжа отново
И всеки път боли, спри!
Ти признаваш и не, не, не, не...
И колкото те мразя,
Не мога с друг не!
Сърцето си не пазя
И мойто тяло не!

Няма да ти кажа не!
Лесно ми разбъркваш мислите!
С дрехите подобно е!
Зная махаш ги добре!

Колко пъти си забравял за мене?
Как се чувствам питаш ли?
Колко нощи приспивам с това,
Че не си ме пожелал!
Нямат край!
А всеки път се лъжа отново
И всеки път боли, спри!
Ти признаваш и не, не, не, не...
И колкото те мразя,
Не мога с друг не!
Сърцето си не пазя
И мойто тяло не!

Няма да ти кажа не!
Лесно ми разбъркваш мислите!
С дрехите подобно е!
Зная махаш ги добре!

____________________


Quantas feridas você me pôs,
Não há vazios, está vendo?
Se eu começo a contar agora
Há quanto tempo estou só...
Não tem fim!
E toda hora me iludo de novo
E dói o tempo todo, chega!
Você também não admite, não, não...
E por mais que eu te odeie,
Não posso estar com outro!
Não controlo meu coração
Nem meu corpo!

Nunca vou te dizer não!
Você tira fácil minhas rédeas!
Assim como minha roupa!
Sei como você a tira bem!

Há muito você me esqueceu?
Não quer saber como me sinto?
Quantas noites dormi pensando
Que você não me queria!
Incontáveis!
E toda hora me iludo de novo
E dói o tempo todo, chega!
Você também não admite, não, não...
E por mais que eu te odeie,
Não posso estar com outro!
Não controlo meu coração
Nem meu corpo!

Nunca vou te dizer não!
Você tira fácil minhas rédeas!
Assim como minha roupa!
Sei como você a tira bem!



quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Khruschov, Stalin e os sufixos do russo


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Este trecho de vídeo raro do líder soviético Nikita Khruschov elogiando seu antecessor Iosif Stalin, que ele terminou detratando no famoso 20.º Congresso do Partido Comunista da URSS, me pareceu no ano passado uma oportunidade pra comentar algo sobre a formação de adjetivos na língua russa por meio de sufixos. Estava no meu antigo canal do YouTube. Aqui nesta postagem, estou expandindo um pouco a explicação e acrescendo algumas informações interessantes.

O vídeo sem legendas está no canal YouTube do usuário Anatoli Ushakov, e infelizmente não consegui identificar a data exata, nem havia menção a ela no vídeo. Tempos depois encontrei o mesmo trecho num breve registro documental a respeito dos 70 anos de vida de Stalin (1949), com trechos esparsos de várias homenagens em russo à época, mas talvez ele possa também estar falando em 1936 ou 1937, não só pela qualidade da imagem, mas também porque ele fala da Constituição Soviética de 1936, chamada “Stalinskaia” (Сталинская), ou “de Stalin”, a qual consolidou o poder do georgiano na URSS. Além disso, há um trecho de discurso (áudio) de 1937, em que ele faz vastos elogios a Stalin e é febrilmente ovacionado. Não tenho certeza se se trata da mesma ocasião.

Na época não consegui transcrever o texto de ouvido porque o áudio é muito ruim, mas por sorte alguém postou em comentário o texto do que Khruschov falou, que consistia no seguinte, em alfabeto cirílico e em alfabeto latino no meu sistema de transliteração (a tradução se encontra apenas no vídeo):

“Главное, что нас привело к нашей сталинской конституции, – это наша большевистская ленинская-сталинская партия, это руководство нашего великого товарища Сталина!”

“Glavnoie, chto nas privelo k nashei stalinskoi konstitutsii, – eto nasha bolshevistskaia leninskaia-stalinskaia partia, eto rukovodstvo nashego velikogo tovarischa Stalina!”

Temos aqui um belo exemplo da plasticidade da morfologia russa. Ele usa o adjetivo “stalinski” (сталинский) (aqui na forma feminina “stalinskaia” (сталинская), porque é “a” constituição), que é a adição ao apelido Stalin do sufixo -ski (-ский), prolífico formador de adjetivos. Pode ser traduzido de várias formas, dependendo do contexto: “staliniano” ou apenas “de Stalin”. Acho que “stalinista” fica muito forçado, porque em geral é referência negativa feita por opositores.

Ele faz a mesma coisa com “Lenin” (Ленин) – “leninski” (ленинский), que pode ser traduzido como “leniniano”, “leninista” (neste caso não é forçado, porque naquela época tal forma já era corrente) ou “de Lenin”, como no caso de uma região de Moscou chamada “Leninskie gory” (Ленинские горы), “Colinas de Lenin” (ou mesmo apenas “Colinas Lenin”). Mas na fala de Khruschov há notável junção dos adjetivos em “leninskaia-stalinskaia partia” (ленинская-сталинская партия) como se fossem uma coisa só. Era comum essa referência a Lenin e Stalin como uma só entidade, como se usava em “partia Lenina-Stalina” (партия Ленина-Сталина), literalmente “partido de Lenin-Stalin”. Mas no geral traduzo separado: “partido de Lenin e Stalin”, como no vídeo, com “leninskaia-stalinskaia partia” (ленинская-сталинская партия).


É interessante lembrar que os próprios apelidos de Lenin e Stalin provêm de um sufixo que indica posse e forma adjetivos de pertencimento, também muito empregados como sobrenomes, tais como os nossos sobrenomes antecedidos de “do(s)”, “da(s)” ou “de”. Na língua russa literária são usados os sufixos -ов (-ov), -ев (-ev), -ин (-in) e -ын (-yn) como uma espécie de possessivo junto a qualquer substantivo, tal como o ’s inglês ou o caso genitivo do próprio russo (mas o adjetivo de posse vem antes do substantivo, e o atributo no genitivo, depois). -Ов e -ев se usam com nomes masculinos, -ин e -ын com nomes femininos ou com masculinos de final feminino (-a, -ia); -ев se usa após as chamadas “terminações brandas”, e -ын é mais raro, geralmente empregado apenas após Ц (TS).

O uso desses sufixos é mais comum nas línguas eslavas meridionais, como o sérvio: Titov govor (o discurso de Tito), Lukin album (o álbum do Luka). Em tcheco também se usa para formar sobrenomes de mulheres casadas a partir do sobrenome do marido, em procedimento semelhante ao costume argentino da mulher receber o sobrenome do marido precedido de “de”: Jan Blahuš > Jana Blahušová.

Em russo há mais em sobrenomes ou topônimos consagrados: Иванов (Ivanov, “Ivan”, “de Ivan” ou “dos Ivans”, a partir de Иван/Ivan), Гусев (Gusev, “Ganso” ou “do Ganso”, a partir de гусь/gus), Медведев (Medvedev, “Urso” ou “do Urso”, a partir de медведь/medved), Ленин (Lenin, a partir do rio siberiano Лена/Lena, onde o líder foi desterrado por anos), Сталин (Stalin, “de aço”, a partir de сталь/stal), Царицын (Tsaritsyn, antigo nome de Stalingrado/Volgogrado, relativo ao rio Царица/Tsaritsa, afluente do Volga e cujo nome teria origem túrquica, embora também signifique “tsarina”).

É mais raro com substantivos comuns: папин дом (papin dom, “a casa do pai”, a partir de папа/papa), дядин труд (diadin trud, “o esforço do tio”, a partir de дядя/diadia), дедов портрет (dedov portret, “o retrato do avô”, a partir de дед/ded), отцов характер (ottsov kharakter, “o caráter do pai”, a partir de отец/otets). É mais corrente em expressões consagradas: Христов день (Khristov den, “o dia de Cristo”, isto é, a Páscoa, a partir de Христос/Khristos, sem o -os), сукин сын (sukin syn, “filho da mãe”, a partir de сука/suka – cadela, vagabunda, vadia).

Para se referir a mulheres (com o sobrenome vindo do pai ou do marido) ou ao gênero feminino, basta acrescentar o -a: Иванова (Ivanova), Гусева (Guseva), Медведева (Medvedeva), папина жизнь (papina zhizn, “a vida do pai”), дедова жена (dedova zhena, “a esposa do avô”), Христова невеста (Khristova nevesta, “noiva de Cristo”, isto é, “freira” ou “solteirona”). Cumpre destacar que o gênero dos sufixos se refere ao substantivo originário, e não ao portador da palavra: “Guseva” é uma mulher, embora a palavra “gus” seja masculina e, por isso, receba -ev; “Stalin” é um homem, embora a palavra “stal” seja feminina e, assim, demande -in. Não vou abordar a declinação desses substantivos, que segue um paradigma especial, pois é um tema complexo que não cabe no escopo deste blog.



domingo, 9 de outubro de 2016

Dima Bilan – Поздравляю! (Parabéns!)


Link curto pra esta postagem: fishuk.cc/pozdravliaiu


Posso dizer que esse foi um dos “fiascos” do meu antigo canal no YouTube, pois embora eu tenha postado o vídeo no finzinho de dezembro de 2011, até o final ele teve um número de curtidas e visualizações que em nada equivaliam ao longo tempo de existência... Na verdade, só legendei porque eu precisava encher o canal, e eu já tinha trabalhado essa música no curso de russo da Unicamp no segundo semestre de 2007, então poupei um bom tempo.

Mas essa canção é mais antiga, foi gravada no álbum Na beregu neba de 2004 (faixa 14) pelo famoso cantor pop russo Dima Bilan, que acredito ser muito pouco conhecido no estrangeiro, em especial no Brasil. Ela se chama “Поздравляю!” (Pozdravliaiu!), palavra que literalmente significa “parabenizo” ou “congratulo”, mas em geral se usa como nossa expressão “parabéns!”, tanto em aniversários quanto em outras situações cotidianas. O álbum foi produzido por Iuri Aizenshpis, e o clipe por Georgi Toidze, dois produtores que em grande parte da carreira o acompanharam. Dima Bilan também canta em inglês, língua na qual até gravou três faixas bônus nesse álbum.

Na própria época meu professor de russo já achava “brega” o estilo e atuação daquele que nasceu Viktor Nikolaievich Belan em 1981 e mudou seu nome de registro para Dima Nikolaievich Bilan em 2008 (na língua russa oral, “Belán” se pronuncia “Bilán” mesmo), porque desde criança ele dizia preferir ser chamado de “Dima”, forma afetiva de Dmitri, nome de seu avô materno que ele tanto amava. Desde adolescente já estudava e lidava com música, mas fez uma formação específica apenas de 2000 (quando também começou a carreira profissional) a 2005, e entre clipes, shows e inúmeros álbuns viveu o ápice do sucesso na segunda metade dos anos 2000. Ganhou o concurso Eurovision em 2008 com a canção Believe, participou outras vezes antes e depois da vitória e promoveu também diversos projetos musicais com outros artistas na Rússia. Posicionou-se politicamente em vários momentos, apoiou a eleição de Putin em 2012, reprovou a manifestação das meninas do Pussy Riot numa igreja, mas foi contra sua prisão, e embora dissesse respeitar os direitos homoafetivos, apoiou a lei que proibia a “propaganda do homossexualismo” em 2013. O cantor possui também um site oficial.

Infelizmente não me lembro de que canal tirei o vídeo sem legendas, mas eu mesmo fiz a forma final da tradução e legendei, ainda naquela velha tecnologia do Movie Maker mesmo e sem seguir os padrões profissionais. Abaixo pode ser vista a legendagem e depois a letra em russo, sem a tradução escrita:


1. У тебя сегодня день рождения,
Любимая моя, и я тебе желаю
Чтобы всë-таки сбылись твои мечты
И всë, что хочешь ты, но я тебя теряю

Припев (Refrão):
Поздравляю с днëм рожденья тебя!
Умоляю, будь счастливей меня
И я знаю, не завянут цветы
Оставляю в сердце наши мечты

2. Ну, давай поговорим наедине
Ты подойди ко мне, ведь мы же не чужие
Расскажи мне, почему же вышло так
Ну, вроде бы пустяк, а мы совсем другие

Я бессмысленно меняю города
Меняю имена, и жизнь свою меняю
Расскажи мне, почему же вышло так
Ну, вроде бы пустяк, а я тебя теряю

(Припев/Refrão 2x)

3. В небе полуночная звезда
Может быть, укажет мне дорогу
Знаю я никто и никогда
Не любил тебя так сильно
Не любил тебя

(Припев/Refrão)

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Эшелонная (Canção sobre Voroshilov)


Link curto pra esta postagem: fishuk.cc/echelon

Eu traduzi e legendei esta canção há muito tempo já, no final de dezembro de 2011, e sempre tinha sido muito pouco visualizada no meu antigo canal do YouTube porque o que a torna chatinha de ouvir são tanto o chiado da gravação quanto o baixíssimo volume com que ela começa e depois termina. Em russo ela se chama “Эшелонная песня” (Eshelonnaia pesnia), ou só “Эшелонная”, que significam Canção do Echelon, também conhecida como “Песня о Ворошилове” (Pesnia o Voroshilove), Canção sobre/para Voroshilov, ou “Боевая красногвардейская” (Boievaia krasnogvardeiskaia), (Canção) de guerra dos guardas vermelhos. Foi composta em 1933 por Aleksandr Aleksandrov (melodia) e Osip Kolychev (letra), dedicada ao famoso marechal da URSS Kilment Voroshilov.

Uma das muitas canções populares lembrando a Guerra Civil Russa (1918-1920), ela trata do que é chamado em inglês railway warfare, e em russo eshelonnaia voina, isto é, a condução e provimento da guerra com amplo papel dos trens (“escalões” de trens, ou “echelons”, palavra de origem francesa) em territórios isolados e com difícil acesso a necessidades básicas. Essa estratégia, essencial no conflito russo, teve lugar em especial na Batalha de Tsaritsyn (1918), quando, segundo a historiografia soviética, Voroshilov e Stalin se tornaram amigos. Vale lembrar que Tsaritsyn, famosa cidade às margens do rio Volga, foi chamada de Stalingrado entre 1925 e 1961, e em 1962 passou a se chamar Volgogrado. A melodia, primeiramente acelerando e aumentando de volume, e depois desacelerando e diminuindo de volume, foi feita justamente para lembrar o som das locomotivas.

Kliment Iefremovich Voroshilov (1881-1969), famoso e heroico marechal soviético, atuou nas duas Guerras Mundiais, na Guerra Civil Russa ao lado dos bolcheviques, na Guerra Russo-Polonesa em 1919-21 e na Guerra de Inverno contra a Finlândia em 1939-40. Foi Comissário do Povo (Ministro) para a Defesa soviético de 1925 a 1940, teve significativo papel nos expurgos de fins dos anos 1930 e também seria Presidente do Presidium do Soviete Supremo da URSS de 1953 a 1960, sendo citado em muitas canções populares da época, entre elas a célebre “Жить стало лучше” (Zhit stalo luchshe), A vida melhorou, ponto alto da propaganda stalinista já publicado aqui. Caído em desgraça durante a era Khruschov, voltou à atividade política sob Brezhnev até morrer, tendo a famosa cidade ucraniana de Luhansk até mesmo se chamado de “Voroshilovgrad” por dois breves períodos.

Antes de escrever esta postagem, não cheguei a fazer uma revisão da tradução, mas apenas o texto apresentado acima, e por isso abaixo segue apenas a letra em russo, devendo ser lida no vídeo a letra em português. Provavelmente eu baixei o áudio no famoso site SovMusic.ru, de onde tirei várias canções nos primeiros tempos do canal. Como se pode notar, o design do vídeo corresponde bem à fuleiragem de minhas estreias, mas descontado o áudio chato, a música agrada bem por ter um caráter bem típico da cultura russa:


Эшелон за эшелоном,
Эшелон за эшелоном,
Путь-дорога широка...

Командарм велел – и точка!
Машет беленьким платочком
Дона синяя рука.
Командарм велел – и точка!
Машет беленьким платочком
Дона синяя рука.

Нас с тобою, Ворошилов,
Жизнь походная сдружила,
Вместе в бой летали вскачь.

Вспоминает враг с тоскою
Бой под Белой Калитвою,
Бой под станцией Калач!
Вспоминает враг с тоскою
Бой под Белой Калитвою,
Бой под станцией Калач!

За Царицын, за Царицын
Дни и ночи будем биться,
Пики с пиками скрестя,

И не смыть ее дождями,
На бугре и в волчьей яме –
Кровь рабочих и крестьян!
И не смыть ее дождями,
На бугре и в волчьей яме –
Кровь рабочих и крестьян!

Командарм велел – и точка!
Машет беленьким платочком
Дона синяя рука.

Эшелон за эшелоном,
Эшелон за эшелоном,
Путь-дорога широка...
Эшелон за эшелоном,
Эшелон за эшелоном,
Путь-дорога широка...



Voroshilov está no canto direito da foto. Simplões esses bolcheviques!

domingo, 2 de outubro de 2016

Hino do Partido Comunista da URSS


Link curto para esta postagem: fishuk.cc/hino-pcus

Esta canção foi composta em 1938 por dois senhores russos já muito conhecidos em nosso blog, Aleksandr Aleksandrov (melodia) e Vasili Lebedev-Kumach (letra), por ocasião do 18.º Congresso do partido comunista soviético, que ocorreria em março de 1939. Sua introdução foi baseada em outra canção de propaganda dos mesmos autores, Zhit stalo luchshe (já publicada aqui também), e foi por eles denominada “Песня о партии” (Pesnia o partii), Canção sobre o partido, recebendo um ritmo de marcha militar. Porém, o próprio Stalin aconselhou que a execução fosse feita no ritmo de um hino solene e que a música se chamasse Hino do partido bolchevique, condição que na verdade ela não ocupava oficialmente, tendo sido a Internacional em russo (ouça aqui a música) aprovada como hino partidário em 1943 após seu uso como hino soviético desde 1918.

Sergei Mikhalkov, um dos compositores da letra do Hino Nacional da URSS que seria adotado em 1943, admitiu que a Canção sobre o partido teve influência nessa encomenda, a qual aproveitou dela a primeira estrofe e a estrutura musical quase inteira, também composta por Aleksandrov. Como sabemos, o hino soviético ganhou uma nova letra em 1977 e a melodia foi novamente adotada para o Hino Nacional da Rússia em 2000, o qual, portanto, tem como raiz distante este hino dos bolcheviques. Por isso, a canção postada aqui hoje, embora não tenha nenhum emprego institucional atual, é um monumento muito interessante da história cultural russa e comunista.

Eu fiz esta tradução e legendagem há muito tempo, em 2011, e o vídeo sem legendas está nesta página. Fiz a tradução da letra, depois legendei e postei no meu canal O Eslavo no YouTube, como pode ser visto abaixo. Segue depois a letra em russo, sem a tradução escrita, que pode ser lida nas legendas:



1. Страны небывалой свободные дети,
Сегодня мы гордую песню поём
О партии самой могучей на свете,
О самом большом человеке своём.

Припев (Refrão):
Славой овеяна, волею спаяна,
Крепни и здравствуй во веки веков
Партия Ленина, партия Сталина
Мудрая партия большевиков!

2. Страну Октября создала на земле ты
Могучую Родину вольных людей.
Стоит как утёс государство Советов,
Рождённое силой и правдой твоей.

(Припев/Refrão)

3. Изменников подлых гнилую породу
Ты грозно сметаешь с пути своего.
Ты гордость народа, ты мудрость народа,
Ты сердце народа и совесть его.

(Припев/Refrão)

4. И Маркса и Энгельса пламенный гений
Предвидел коммуны грядущий восход.
Дорогу к свободе наметил нам Ленин
И Сталин великий по ней нас ведёт.

(Припев/Refrão)