quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Батарейка (Bateria), rock russo (1999)


Link curto para esta postagem: fishuk.cc/batareika

Esta linda canção romântica foi gravada pela banda russa Zhuki em 1999 e composta pelo seu fundador, Valeri Petrovich Zhukov, conhecido músico moderno atuante desde a dissolução da União Soviética. O nome da música é “Батарейка” (Batareika), que pode significar “pilha” ou “bateria”, mas em todo caso o termo é uma metáfora contemporânea que alude ao esgotamento de um amor para o qual não há mais volta (“acabou a bateria do nosso amor”). A banda de rock Zhuki, liderada por Zhukov desde o início, foi fundada em 1991, mas só gravou seu primeiro álbum em 1999, chamado justamente Batareika e que lhe deu fama em toda a Rússia. Desde os anos 2000, vários outros álbuns foram gravados.

As meninas russas do vídeo, que têm um canal no YouTube chamado “3/4”, já são famosas no meu canal O Eslavo por eu já ter legendado outros vídeos delas cantando, encontrados ocasionalmente enquanto eu procurava canções soviéticas em outras interpretações. Bem jovenzinhas, “musicando” por amor e prazer, elas postam vídeos sem compromisso ou ambição, apenas como lazer, e cantam e tocam violão muito bem, com uma clara e bonita pronúncia da língua russa, o que as torna um ótimo material ao estudante estrangeiro. Recomendo que vejam os outros vídeos com elas, legendados no meu canal, é só procurar “meninas russas” na busca do YouTube!

Eu tirei a letra em russo desta página e baixei o vídeo das meninas, sem legendas, deste endereço. Depois traduzi a letra e com o texto, sem alterações, fiz a legenda, que pode ser vista abaixo, seguida dos textos em russo e português (tradução não totalmente literal):



Холодный ветер с дождём
Усилился стократно,
Всё говорит об одном,
Что нет пути обратно.
Что ты не мой лопушок,
А я не твой Андрейка,
Что у любви у нашей
Села батарейка.

О-о-и-я-и-ё батарейка,
О-о-и-я-и-ё батарейка.

Я тосковал по тебе
В минуты расставанья,
Ты возвращалась ко мне
Сквозь сны и расстоянья.
Но несмотря ни на что
Пришла судьба-злодейка,
И у любви у нашей
Села батарейка.

О-о-и-я-и-ё батарейка,
О-о-и-я-и-ё батарейка.

И вроде, всё как всегда,
Всё те же чашки-ложки,
Всё та же в кране вода,
Всё тот же стул без ножки.
И всё о том же с утра
Щебечет канарейка,
Лишь у любви у нашей
Села батарейка.

О-о-и-я-и-ё батарейка,
О-о-и-я-и-ё батарейка.
О-о-и-я-и-ё батарейка,
О-о-и-я-и-ё батарейка.

____________________

O vento frio com chuva
Aumentou cem vezes,
Tudo mostra somente
Que não tem mais volta.
Você não é minha florzinha
E eu, não seu Andrezinho,
Que acabou a bateria
Do nosso amor.

Ô, ô, iá, iô... bateria,
Ô, ô, iá, iô... bateria.

Eu tinha saudades suas
Na hora da separação,
Você voltava pra mim
Em sonhos e ao longe.
Mas apesar de tudo
O destino foi malvado
E esvaziou a bateria
Do nosso amor.

Ô, ô, iá, iô... bateria,
Ô, ô, iá, iô... bateria.

Parecem estar como antes
O mesmo conjunto de chá,
A mesma água na torneira,
A cadeira sem uma perna.
E desde manhã sobre isso
Ainda canta o canarinho,
Apenas que o nosso amor
Está sem bateria.

Ô, ô, iá, iô... bateria,
Ô, ô, iá, iô... bateria.
Ô, ô, iá, iô... bateria,
Ô, ô, iá, iô... bateria.




domingo, 25 de setembro de 2016

Жить стало лучше (A vida melhorou)


Link curto pra esta postagem: fishuk.cc/zhit


Fala-se muito da propaganda soviética sob o governo de Iosif Stalin, mas pouco se conhecem no Brasil os materiais videográficos a respeito. Nos últimos anos, esperei ter suprido algo dessa falta, tendo postado em meu antigo canal do YouTube vários documentários, mais ou menos curtos, sobre a vida da época ou figuras comunistas quase mitológicas, como Vladimir Lenin. Uma das canções mais interessantes então produzidas, que cantava os presumidos feitos da era staliniana, era “Жить стало лучше” (Zhit stalo luchshe), A vida ficou melhor ou A vida melhorou, ou se queremos ser mais literais, “Viver ficou melhor”. Ela foi composta em 1936 por duas pessoas que conhecemos bem aqui no blog como trovadores da “edificação socialista”, Aleksandr Aleksandrov (melodia) e Vasili Lebedev-Kumach (letra), o primeiro por ter composto a melodia do hino soviético, e o segundo por ter escrito poemas e canções que estão entre os mais conhecidos dos nostálgicos ou especialistas da URSS fora da Rússia.

Esta peça soviética de propaganda estatal aludindo aos supostos progressos humanos e sociais da era Stalin nos anos 1930 teve o título inspirado numa frase de discurso do líder, pronunciado a 17 de novembro de 1935 por ocasião da 1.ª Conferência de Trabalhadores e Trabalhadoras Stakhanovistas. Na ocasião, o georgiano disse o seguinte: “Жить стало лучше, товарищи. Жить стало веселее. А когда весело живётся, работа спорится” (A vida ficou melhor, camaradas. A vida ficou mais alegre. E quando se vive feliz, disputa-se no trabalho). Muitos interpretaram o dito como um “humor negro” por ter sido pronunciada pouco antes de se chegar ao pico da repressão em massa, enquanto Stalin teria lhe dado um “otimismo mentiroso” por tentar ocultar as penúrias que grande parte do povo ainda passava.

Para todos os efeitos, tendo a expressão caído na boca do povo por causa da ampla difusão impressa que tinham os discursos de Stalin (e ela é popular ainda hoje, sob muitas variantes, algumas até mesmo irônicas), surgiu a canção aqui legendada, e cuja melodia, de quebra, ainda inspiraria o futuro hino do partido comunista soviético, composto pelos mesmos autores em 1939, este servindo de base, por sua vez, ao hino nacional de 1944 a 1991 (sem letra a partir de 1956 e com letra modificada a partir de 1977) e novamente ao hino da Rússia a partir de 2000. Parece que Aleksandrov gostava de reciclar suas obras, não?... Na letra é citado Kliment Iefremovich Voroshilov, Comissário do Povo (Ministro) para a Defesa soviético de 1925 a 1940, que teve significativo papel nos expurgos de fins dos anos 1930 e também seria Presidente do Presidium do Soviete Supremo da URSS de 1953 a 1960. Aqui mesmo no blog, o célebre trecho com Stalin pode ser assistido e lido em russo e português nesta postagem, na qual há também informações sobre o stakhanovismo.

A legendagem abaixo também foi um dos primeiros vídeos do meu canal e fez muito sucesso entre os amantes brasileiros da URSS nas redes sociais, mas só agora estou postando no blog, após ter refeito a descrição no próprio canal, a qual serviu mesmo de base para esta postagem. Eu traduzi a letra diretamente do russo, baixei o vídeo sem legendas desta página e então legendei com a primária técnica do Windows Movie Maker, sem grande respeito pelos padrões de legendagem. Nesta página também pode ser baixada a mesma versão em áudio que aparece no vídeo e ser lida a letra, que em todo caso também postei depois do vídeo, sem acompanhá-la da tradução:


Звонки как птицы, одна за другой,
Песни летят над советской страной,
Весел напев городов и полей –
Жить стало лучше, жить стало веселей!
Весел напев городов и полей –
Жить стало лучше, жить стало веселей!

Дружно страна и растёт и поёт,
С песнею новое счастье куёт.
Глянешь на солнце – и солнце светлей.
Жить стало лучше, жить стало веселей!
Глянешь на солнце – и солнце светлей.
Жить стало лучше, жить стало веселей!

Знай, Ворошилов, мы все начеку,
Пяди земли не уступим врагу
Силушка есть у отцов и детей.
Жить стало лучше, жить стало веселей!
Силушка есть у отцов и детей.
Жить стало лучше, жить стало веселей!

Хочется всей необъятной страной
Сталину крикнуть “Спасибо, Родной!”
Долгие годы живи, не болей
Жить стало лучше, жить стало веселей!
Долгие годы живи, не болей
Жить стало лучше, жить стало веселей!

Звонки как птицы, одна за другой,
Песни летят над советской страной,
Весел напев городов и полей –
Жить стало лучше, жить стало веселей!
Весел напев городов и полей –
Жить стало лучше, жить стало веселей!

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Катюша (Katiusha) – canção soviética


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/katiusha


Uma das canções russas mais populares do mundo, “Катюша” (Katiusha), isto é, forma afetiva de Katia, por sua vez forma reduzida de Ekaterina, foi considerada em 2015, segundo pesquisa da revista de sociologia Russki reportior, a 13.ª composição poética mais popular da Rússia, alocando-a também como um clássico universal. Ela foi composta em 1938 por Matvei Blanter (melodia) e Mikhail Isakovski (letra), tendo sido estreada mais provavelmente em 27 de novembro de 1939, na voz de Valentina Batischeva cantando na Sala das Colunas da Casa dos Sindicatos, mas segundo outras fontes os primeiros cantores foram Vera Krasovitskaia, Georgi Vinogradov (o que canta no vídeo) e Vsevolod Tiutiunnik em 28 de novembro de 1938.

Nas décadas seguintes, a canção seria cantada por muitos outros artistas, inclusive nosso famoso Eduard “Trololo” Khil. Ela homenageia o sofrimento das jovens esposas de soldados de fronteira que vão defender o país de invasões estrangeiras, mas o tema não se limita à proximidade da 2.ª Guerra Mundial, quando a música se difundiu ainda mais, pois ele está presente em todas as culturas, em todas as nações. Foi traduzida para inúmeras línguas, especialmente no contexto da resistência militar antifascista, e além de figurar em filmes também foi cantada ou conhecida com outras versões de algumas estrofes. Muitas paródias também foram feitas, usos da melodia em composições musicais ou televisivas e ainda popularização em festivais, torcidas organizadas etc.

Matvei Isaakovich Blanter (1903-1990) foi um compositor laureado com o Prêmio Stalin em 1946 e como Artista Popular da URSS em 1975. Filho de atriz, já cantava desde criança, fez depois estudos superiores em teoria musical e composição e se tornou diretor de setores musicais de vários teatros. Abraçou o estilo “realista socialista” nos anos 1930 e progressivamente granjeou fama como um dos maiores compositores da URSS, também pertencendo à União dos Compositores e sendo um antissionista militante. Mikhail Vasilievich Isakovski (1900-1973), laureado com o Prêmio Stalin em 1943 e 1949 e membro do partido comunista desde 1918, nasceu em pobre família camponesa, tendo estudado com muito custo, mas ótimos resultados, trabalhado em jornais e publicado poesias, em especial para músicas. Seguiu escrevendo muitos livros, traduziu poetas bielo-russos, canções populares sérvias e parte da obra de Taras Shevchenko, além de ser esperantista habilidoso e apaixonado.

A legendagem da canção, que segue abaixo, foi um dos primeiros vídeos de meu antigo canal do YouTube e sempre foi um dos mais vistos e curtidos, mas só agora estou publicando na página, após ter refeito a descrição no próprio canal, a qual serviu mesmo de base para esta postagem. Fiz uma montagem com a execução de Vinogradov, colocando várias imagens relativas a moças camponesas e soldados no front, mas tudo com a fuleira tecnologia do Windows Movie Maker e, é claro, sem a menor noção de gráfica ou de padrões para legendas. Eu tirei o áudio desta página, cujo link para baixar está perto da palavra “Скачать”, e lá mesmo pode-se ter acesso à letra da canção clicando em “Текст”. Em todo caso, após o vídeo, inseri também a letra em russo dessa versão mais célebre:



Adendo (4/3/2018): Em novembro de 2017, fiz uma nova tradução, mais abreviada e mais moderna, da canção Katiusha e legendei três vídeos com o texto, pelos padrões profissionais da legendagem. Trata-se, respectivamente, da cantora Katerina Zolotar, de uma garotinha anônima do Coral Cossaco de Kuban e da cantora Ielena Vaienga, intepretando em diversas ocasiões. Seguem as três novas legendas naquela ordem mencionada, e o texto escrito dessa nova versão:




Расцветали яблони и груши,
Поплыли туманы над рекой.
Выходила на берег Катюша,
На высокий берег, на крутой.

Выходила, песню заводила
Про степного, сизого орла,
Про того, которого любила,
Про того, чьи письма берегла.

Ой ты, песня, песенка девичья,
Ты лети за ясным солнцем вслед.
И бойцу на дальнем пограничье
От Катюши передай привет.

Пусть он вспомнит девушку простую
И услышит, как она поёт,
Пусть он землю бережёт родную,
А любовь Катюша сбережёт.

Расцветали яблони и груши,
Поплыли туманы над рекой.
Выходила на берег Катюша,
На высокий берег, на крутой.
Выходила на берег Катюша,
На высокий берег, на крутой...

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Floresciam macieiras e pereiras,
Pairavam névoas sobre o rio.
Katiusha saía para a margem,
Para a margem alta e íngreme.

Ela saía entoando uma canção
Sobre a águia cinza da estepe,
Sobre aquele que ela amava
E cujas cartas ela guardava.

Ó, cançãozinha de donzela,
Voe em busca do Sol claro,
Ao lutador na distante fronteira
Mande lembranças de Katiusha.

Lembre-se ele da moça simples,
Que ele escute o canto dela,
Que ele guarde a terra natal
E Katiusha guarde seu amor.

Floresciam macieiras e pereiras,
Pairavam névoas sobre o rio.
Katiusha saía para a margem,
Para a margem alta e íngreme.
Katiusha saía para a margem,
Para a margem alta e íngreme...


Adendo (4/6/2023): E lá vem mais uma novidade! Alguns anos atrás (2021, no mais tardar), decidi fazer duas traduções poéticas em português da canção Katiusha, talvez sendo minha intenção inicial legendar no Pan-Eslavo Brasil. Lembro-me de ter mandado pra algumas pessoas que acharam as duas versões ótimas, mas nunca pensei em publicar em outras páginas nem em revistas artísticas ou acadêmicas. Assim, finalmente decidi inseri-las aqui, pra quem tiver curiosidade, sendo a primeira versão a mais literal possível, apenas rimando os versos pares de cada estrofe, e na segunda versão rimei (nem sempre perfeitamente) versos pares com pares, e ímpares com ímpares. Um dos versos tem outra alternativa que parece possível:

Floresciam peras e macieiras,
Flutuava a névoa sobre o rio,
Para a margem acorreu Katiusha,
Margem alta, íngreme subiu.
[Para a margem íngreme subiu.]

Acorreu cantarolando versos
Sobre a águia cinza do interior,
Sobre aquele que mandava cartas,
Para quem guardou completo amor.

Ó, canção, ó canto de mocinha,
Voe logo em direção ao Sol,
E àquele que luta na fronteira
Dê lembranças da Katiusha só.

Que ele se recorde da brejeira
E que ao longe escute seu cantar,
Que defenda a Pátria em perigo
E Katiusha queira sempre amar.

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Peras e maçãs entre as folhagens,
Névoa flutuando sobre o rio
E Katiusha dirigiu-se à margem,
Margem alta, íngreme subiu.
[Para a margem íngreme subiu.]

Foi cantarolando serenatas
Sobre a águia cinza do interior,
Sobre aquele que mandava cartas,
Para quem guardou completo amor.

Canto, ó, canção de rapariga,
Voe logo em direção ao Sol,
E ao que bate o invasor perigo
Dê lembranças da Katiusha só.

Que ele se recorde da brejeira
E que ao longe escute seu cantar,
Que defenda a Pátria na fronteira
E Katiusha queira sempre amar.

domingo, 18 de setembro de 2016

Discursos de Stalin (excertos, 1943-44)


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Este vídeo contém trechos dos informes do líder soviético Iosif Stalin a duas sessões solenes do Soviete de Moscou de Deputados Trabalhadores com organizações partidárias e sociais da cidade de Moscou, uma de 6 de novembro de 1943, e a outra de 6 de novembro de 1944, ou seja, em plena Segunda Guerra Mundial. Stalin informa aos presentes as últimas e principais conquistas na expulsão dos nazistas do território pátrio e preconiza novos e maiores avanços do Exército Vermelho contra os invasores. Os textos integrais dos informes foram publicados nas edições do jornal Pravda do dia seguinte a cada sessão, e as derrotas de Hitler são o tema central.

Dentro das Obras completas de Stalin, os dois informes completos em russo podem ser lidos no tomo 15, editado em Moscou pela Pisatel em 1997, às pp. 162-174 (texto de 1943) e 192-203 (texto de 1944). O título original deles é “Doklad na torzhestvennom zasedanii Moskovskogo Soveta deputatov trudiaschikhsia s partiinymi i obschestvennymi organizatsiami goroda Moskvy, 6 noiabria 1943/1944 goda”. Eu traduzi os textos diretamente do russo e então legendei, tendo baixado o vídeo de 1943 desta página, e o de 1944, cujo áudio está bem pior, desta página. Uni os dois vídeos num só, postei no meu antigo canal do YouTube e ele pode ser visto abaixo, seguido dos trechos em russo dos discursos (em português, só nas legendas):


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Para facilitar a leitura, coloquei os numerais por extenso e indiquei onde deve ser lida a letra Ё (io):

1943: Истекший год – от 25-й (двадцать пятой) до 26-й (двадцать шестой) годовщины Октября – является переломным годом Отечественной войны. Этот год был переломным прежде всего потому, что в этом году Красной Армии впервые за время войны удалось осуществить большое летнее наступление против немецких войск, причём немецко-фашистские войска под ударами наших войск оказались вынужденными поспешно оставлять захваченную ими территорию, нередко спасаться бегством от окружения и бросать на поле боя большое количество техники, складов вооружения и боеприпасов, раненых солдат и офицеров. Теперь, когда Красная Армия, развивая успехи зимней кампании, нанесла немецким войскам могучий удар летом, можно считать окончательно похороненной басню о том, что Красная Армия неспособна будто бы вести успешное наступление в летнее время. Истекший год показал, что Красная Армия так же хорошо может наступать летом, как и зимой.

1944: Решающие успехи Красной Армии в этом году и изгнание немцев из пределов Советской земли были предрешёны рядом сокрушительных ударов наших войск по немецким войскам, начатых ещё в январе этого года и развёрнутых затем в течение всего отчётного года. Первый удар был нанесён нашими войсками в январе этого года под Ленинградом и Новгородом, когда Красная Армия взломала долговременную оборону немцев и отбросила их в Прибалтику. Результатом этого удара оказалось освобождение Ленинградской области.



quarta-feira, 14 de setembro de 2016

E o combate segue de novo (URSS ’74)


Link curto para esta postagem: fishuk.cc/combate



Há alguns anos legendei pro meu antigo canal no YouTube uma animadora canção soviética dos anos 1970 que estava inserida num vídeo com uma sucessão de cartazes de propaganda de regimes comunistas de vários países. Esse vídeo eu baixei de um canal, já estava pronto, apenas inseri as legendas, as quais, aliás, estavam fora do padrão profissional, com um número muito grande de caracteres por linha. Isso significava, claro, que eu traduzi literalmente a canção a partir do russo e depois inseri nas legendas do jeito que estava, sem fazer qualquer redução. Este ano legendei uma outra versão dessa música, agora cantada num show por um famoso artista, e então finalmente produzi um texto mais curto.

Gravada num estilo que era comum na antiga URSS por volta dos anos 1970, a canção se chama “И вновь продолжается бой” (I vnov prodolzhaietsia boi), que na primeira vez traduzi como E o combate prossegue novamente, e na segunda traduzi mais sucinto, como E o combate segue de novo. A letra foi composta por Nikolai Dobronravov e a melodia por sua esposa, Aleksandra Pakhmutova, e quem canta no segundo vídeo é o artista Leonid Smetannikov, famoso por sua voz grave e essas apresentações meio vanguardistas.

A canção foi composta em 1974 pra homenagear Lenin e a Revolução de Outubro, e outros intérpretes famosos foram Iosif Kobzon e Lev Leschenko. Cheia de um vivo otimismo para com o futuro da URSS e as ideias comunistas, a música quase foi proibida por sua estridência e semelhança com o rock, supostamente ofensivas à memória de Lenin, mas foi tocada no encerramento do 17.º Congresso da Juventude Comunista soviética naquele ano.

Após o fim da URSS, várias bandas de rock e punk-rock, algumas com tendências nacionalistas, regravaram a canção na Rússia, mas de fato a relação entre comunismo e rock, ou música mais eletrizante, sempre foi tensa. Essa canção é realmente uma exceção, mas volta e meia os regimes leninistas abriam uma brecha, especialmente pra conquistar os jovens. Da Coreia do Norte, por exemplo, gosto muito de uma música que é traduzida como Arco-íris da reunificação e é famosa por seu raro solo de guitarra. Nesse vídeo vocês podem ver a letra em coreano e algo que parece ser a tradução em inglês.

E o combate segue de novo surgiu em plena “guerra fria” sob Brezhnev. Como se pode notar, a letra é um estímulo pra que os jovens, especialmente os rapazes, estejam sempre prontos pra grandes combates em nome da pátria, não excluindo a possibilidade da guerra (contra os países capitalistas, claro). Embora a URSS não estivesse então participando de nenhuma guerra, a canção era um dos vários instrumentos de preparação psicológica da população pros mais diversos eventos: a “guerra fria” dava margem pra que qualquer briga local se tornasse a ponte pra um grande conflito mundial entre os dois grandes blocos geopolíticos. Assim, era preciso convencer as pessoas a apoiar o governo nas horas de crise, algo feito com o controle sobre a cultura e os meios de comunicação.

Como se lê no final da canção, supunha-se que a solidariedade com o bloco socialista (em última instância, com os soviéticos) nos momentos de assédio se daria em escala mundial, mas o “internacionalismo proletário”, aludido no refrão por meio de Lenin e de “novos Outubros”, era só um eco do áureo período de ascensão do socialismo, de 1917 a 1945: nos anos 1970, o mundo socialista, além de rachado (os “ventos de um ataque impetuoso” poderiam vir até mesmo dos “partidos irmãos”...), vivia a crise que levaria à sua falência 15 anos mais tarde.

Leonid Anatolievich Smetannikov, cantor lírico barítono, nasceu em 1943, filho de uma alemã do Volga, e depois da 2.ª Guerra Mundial trabalhou muito jovem como operário, mas desde criança sempre cantava e no início da idade adulta decidiu seguir a carreira musical. Após terminar os estudos artísticos, tornou-se um cantor muito premiado e famoso, atuou nos melhores eventos e com os cantores mais célebres e mais tarde ocupou cátedras em boas universidades. Foi condecorado Artista Popular da RSFS da Rússia em 1979 e Artista Popular da URSS em 1987, bem como com a Ordem da Amizade em 2000, além de outros prêmios. Nikolai Nikolaievich Dobronravov (n. 1928, poeta, letrista e ator) e Aleksandra Nikolaievna Pakhmutova (n. 1929, musicista) são um casal de compositores juntos ainda hoje e muito famosos por suas centenas de canções que se popularizaram na antiga URSS, bem como na Rússia, com a fama do marido se devendo essencialmente à sua longa colaboração com a celebérrima esposa. Pakhmutova chegou a se tornar Artista Popular da URSS em 1984, mas a láurea maior de Dobronravov foi o Prêmio Estatal da URSS em 1982, e as canções de ambos, muitas vezes feitas com outras parcerias, foram interpretadas por inúmeros cantores.

Seguem o primeiro vídeo que legendei, com os cartazes comunistas, o segundo, com a apresentação de Smetannikov, e a letra em russo da canção, sem as traduções, que podem ser acompanhadas nas legendas. O primeiro vídeo sem legendas pode ser visto nesta página, e o segundo, nesta página. A única diferença entre as duas execuções é que Smetannikov não canta a quarta e última estrofe:





1. Неба утреннего стяг...
В жизни важен первый шаг.
Слышишь: реют над страною
Ветры яростных атак!

Припев (Refrão):
И вновь продолжается бой,
И сердцу тревожно в груди.
И Ленин – такой молодой,
И юный Октябрь впереди!
И Ленин – такой молодой,
И юный Октябрь впереди!

2. Весть летит во все концы:
Вы поверьте нам, отцы, –
Будут новые победы,
Встанут новые бойцы!

(Припев/Refrão)

3. С неба милостей не жди!
Жизнь для правды не щади.
Нам, ребята, в этой жизни
Только с правдой по пути!

(Припев/Refrão)

4. В мире – зной и снегопад...
Мир и беден и богат...
С нами юность всей планеты –
Наш всемирный стройотряд!

(Припев/Refrão)

domingo, 11 de setembro de 2016

Exército Branco, barão negro (URSS)


Link curto para esta postagem: fishuk.cc/barao

Esta é uma gostosa canção que me pediram há muitos anos pra legendar, nesse vídeo mesmo, e só agora tive tempo. Seu nome oficial é “Красная Армия всех сильней” (Krasnaia Armia vsekh silnei), O Exército Vermelho é o mais forte de todos, mas é mais conhecida pelo seu primeiro verso, “Белая Армия, чёрный барон” (Belaia Armia, chorny baron), Exército Branco, barão negro. Se você achou que era uma canção bolchevique dedicada à Guerra Civil Russa (1918-1920), acertou: foi composta justamente em 1920 e os prováveis autores são Pavel Grigorievich Gorinshtein (letra), também conhecido pelo pseudônimo Grigoriev, e Samuil Iakovlevich Pokrass (melodia), famoso por ter composto outras canções soviéticas.

A canção se refere a capítulos da guerra civil na Ucrânia e na Crimeia, no verão de 1920, e era mais conhecida no exterior como Marcha do Exército Vermelho. Mas sua primeira versão impressa só apareceu em 1925, e a partir daí surgiu com vários nomes, tendo sido finalmente fixado O Exército Vermelho é o mais forte de todos em 1937. A autoria foi por muito tempo incerta, mas nos anos 1950 A. V. Shilov a atribuiu a Gorinshtein (1895-1961) e Pokrass (1897-1939), ainda que muitos não tivessem acreditado. Como toda canção soviética, recebeu inúmeras variantes, paródias e traduções, teve a letra ou a melodia usada em outras peças e houve até com refrão aludindo a Trotsky, mas este é quase certamente invenção do início do século 21.

Comparando com a letra no site Sovmusic.ru, há várias diferenças no que é cantado, e até a Wikipédia russa diz que o cantor, por razões religiosas, trocou “igrejas” por “bancos” na terceira estrofe. Eu mesmo, após traduzir literalmente, e já com alguns encurtamentos, encurtei o texto novamente ao legendar, mas sem afetar o sentido. O verso que dá nome à canção, por exemplo, fiz literalmente como “O Exército Vermelho é o mais forte”, mas na legenda ficou “O Exército Vermelho é o maior”. E quando na legenda eu falo “Conselho Militar”, é em russo “Реввоенсовет” (Revvoiensovet), que não tinha como legendar “Conselho Militar Revolucionário”, órgão bolchevique na guerra civil.

A versão tocada neste vídeo é de 2001, na voz de Ivan Baranov, cantor com convicções patrióticas de esquerda, e sob um arranjo bem moderno. A montagem tem extratos dos desenhos animados russos “Goriachi kamen”, “Tebe, Moskva!”, “Orlionok”, “Boievye stranicy” e “Pesnia o iunom barabanschike”, e está sem legendas nesta página. Seguem abaixo a legendagem no meu antigo canal do YouTube, a letra em russo e a tradução menos encurtada, ambos os textos com indicações de como era a letra original:


1. Белая армия, чёрный барон
Снова готовят нам царский трон,
Но от тайги до британских морей
Красная Армия всех сильней.

Припев (2x):
Так пусть же Красная
Сжимает властно
Свой штык мозолистой рукой,
И все должны мы
Неудержимо
Вести последний смертный бой! (*)

(*) Идти в последний смертный бой!


2. Красная Армия, марш вперёд!
Реввоенсовет нас в бой зовёт.
Ведь от тайги до британских морей
Красная Армия всех сильней!

(Припев 2x)

3. Мы разжигаем пожар мировой, (*)
Банки и тюрьмы сровняем с землёй. (**)
Ведь от тайги до британских морей
Красная Армия всех сильней!

(*) Мы раздуваем пожар мировой,
(**) Церкви и тюрьмы сравняем с землёй.


(Припев 2x)

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1. O Exército Branco, barão negro,
Quer nos impor de novo o tsarismo,
Mas da taiga aos mares britânicos
O Exército Vermelho é o mais forte.

Refrão (2x):
E que os Vermelhos
Apertem com força
A baioneta, com mão calejada,
E devemos todos
Impetuosamente
Levar uma decisiva luta de morte! (*)

(*) Ir à decisiva luta de morte!


2. Exército Vermelho, marche avante!
O Conselho Militar nos leva à luta.
Pois da taiga aos mares britânicos
O Exército Vermelho é o mais forte!

(Refrão)

3. Atiçamos o incêndio mundial, (*)
Vamos arrasar bancos e prisões. (**)
Pois da taiga aos mares britânicos
O Exército Vermelho é o mais forte!

(*) Insuflamos o incêndio mundial,
(**) Vamos arrasar igrejas e prisões.


(Refrão)



quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Aprenda búlgaro com Dilma Rousseff


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Foi golpe? Foi impeachment? Contra o poliglotismo, certamente foi um baque! A presidenta Dilma Rousseff, por todo o período em que esteve à frente do Brasil, deixou muitas cenas engraçadas, a começar pela sua dificuldade na expressão oral. Se isso já era muito evidente em português, o que dizer numa língua estrangeira?

No início de 2011, quando iniciou seu primeiro mandato, Dilma fez uma visita a Gabrovo, pequena cidade da Bulgária bem distante da capital Sófia e onde nasceu seu pai, Pedro Rousseff (na verdade Petar Rusev). Me lembro na época que ela disse algo muito breve em búlgaro para um público de cima de um palco, mas não cheguei a entender. Só no fim de junho que eu tive a ideia de pesquisar algum vídeo a respeito e achei muito material da ocasião, especialmente da NBR, emissora do Governo Federal!

Assim, consegui reconstituir mais ou menos os episódios mais interessantes àqueles que curtem línguas eslavas, e o resultado foi este vídeo cômico-instrutivo. Não tomo posição política ou partidária aqui, mas aproveitei pra alfinetar várias lacunas comunicativas da cidadã. Tentando fazer bonito, claro, ensaiou algumas palavras em búlgaro, e aqui veremos o resultado. Mas você é quem ganha aprendendo o idioma mais próximo do eslavo antigo, ou eslavônio!

Aliás, no calor da hora, muitas promessas são feitas, as relações culturais entre o Brasil e a Bulgária iam se aquecer, mas hoje deve tem muito eleitor do PT pensando que a Bulgária nem existe. Por exemplo, alguém sabe que fim levou o tal curso de búlgaro que o governo queria implantar? Eu seria o primeiro interessado nessa informação... Mas em todo caso, agora que Michel Temer se efetivou no cargo, vou aguardar ansioso pelo curso de árabe, língua que ele diz pelo menos entender!

A montagem que você viram acima foi postada no meu antigo canal do YouTube, onde também colocava legendagens traduzidas de vários materiais dos países eslavos e da era soviética, desde canções e hinos até discursos e eventos engraçados! Seguem abaixo também os endereços dos vídeos que baixei do YouTube para tirar trechos da minha montagem:

http://youtu.be/c4_92yhA6CY
http://youtu.be/dmVqMmEq8gs
http://youtu.be/TE478pOLZFI
http://youtu.be/bpNjabm7p4o
http://youtu.be/MS_JMSQMaWo

Independência ou morte!



domingo, 4 de setembro de 2016

Я уже устал (Já cansei), música russa


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Mais um vídeo mara com as meninas russas do canal YouTube “3/4”, nome que talvez seja referência ao fato delas fazerem um trio e aludindo ao compasso musical ternário. Elas afirmam postar os vídeos como uma iniciativa pessoal, quando resolvem cantar e gravar alguma coisa e então postar na rede, sem grandes pretensões. Quando elas criaram o canal, em 2013, elas afirmavam ter 18 anos. Também apareceram em outra postagem mais antiga aqui do blog.

Esta música popular se chama “Я уже устал” (Ia uzhe ustal), Já estou cansado ou Já cansei, e foi composta pelo artista russo Sergei Trofimov, que atua sob o pseudônimo de Trofim. Ela faz referências claras à fé cristã e à ideia de vida após a morte, mas pode ser expandida para a compreensão de outras religiões, bem como constitui uma linda peça ecumênica, pois não há menção a elementos específicos do catolicismo, ortodoxia ou protestantismo. Acho até que mereceria alguma difusão nos meios religiosos jovens ou revivalistas, ou mesmo uma tradução poética para o português.

Sergei Viacheslavovich Trofimov (Trofim) nasceu em Moscou em 1966 e desde menino tem formação musical e artística, geralmente levada na própria capital nacional. Teve outras profissões e já cantou em igreja, mas deslanchou mesmo cantando e compondo rock, pop, blues, reggae, canções populares e hits para outros artistas. Ganhou muitos prêmios, inclusive o título de Artista Emérito da Federação Russa em 2011, e colaborou em álbuns com vários astros e estrelas do país. Lançou seu primeiro álbum em 1995 (Aristokratia pomoiki – 1), embora tivesse um não editado em 1993 (Takaia ranniaia vesna), e também é ator, toca guitarra, violão e piano. Desde 2001 é membro da União dos Escritores da Rússia e hoje apoia publicamente toda a política interna e externa do presidente Putin, inclusive sua atuação na Ucrânia e Crimeia. Seu site pessoal tem biografia, fotos, músicas, fã-clubes, fatos da carreira, avisos de próximos shows e dados para contato.

É gostosa a pronúncia do russo delas e sua voz aconchegante. O vídeo sem legendas foi postado no canal delas em 2014 e tirei de uma página de música a letra em russo, mas ela também segue abaixo do vídeo legendado, junto com a tradução. A tradução literal ficou com versos muito compridos para pôr na legenda, então no vídeo encurtei bem, mas mantendo o sentido. Como as outras legendagens, também postei esta no meu antigo canal do YouTube:


1. Я уже устал, от распада и тлена,
Хочется творить, каждый день по весне,
Радугою выкрасить серые стены,
Чтобы белый свет не терялся в окне.
Я хочу любить, разве это так сложно?
Видеть вместо масок доверчивость лиц,
И тогда наверное станет возможным,
Выучиться жить у деревьев и птиц.

Припев:
Может я останусь, может встречу старость,
Если перестану, жить кое-как,
И пойму однажды, как же было важно
Сделать к небу по земле, первый шаг.

2. Всё-таки весна, это чудо от Бога,
Тайна мироздания в улыбке Творца,
А земная жизнь это просто дорога,
Только долгий путь от креста до венца.
И в конце пути ощущенье свободы
От того, что там где рождается вновь.
За меня дурного, над всем небосводом.
Тело держат гвозди, а душу любовь.

(Припев)

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1. Já cansei da queda e corrupção,
Quero criar por toda a primavera,
Pintar de arco-íris muros negros
Pra luz branca não sair pela janela.
Quero amar, será tão complicado?
Não ver máscaras, mas rostos confiantes,
E talvez então seja possível
Saber viver com as árvores e pássaros.

Refrão:
Talvez eu persista, talvez fique velho,
Se desistir, vivo de forma capenga,
E um dia entendo como era importante
Dar pela Terra o primeiro passo ao céu.

2. No entanto é primavera, milagre divino,
Segredo do Universo no rir do Criador,
E a vida na Terra é só um caminho,
Só uma longa via da cruz à coroa.
E no final a gente se sente livre
Daquilo que espera o recém-nascido.
Atrás de mim o mal, sobre tudo o céu.
Pregos sustêm o corpo, e o amor a alma.

(Refrão)