quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Carta sobre a origem do esperanto


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Aqui está outro texto que publiquei num antigo site sobre esperanto por mim mantido entre 2005 e ca. 2007. Trata-se do famoso excerto de uma carta privada de L. Zamenhof ao russo Nikolái Afrikánovich Boróvko, escrita talvez em 1895 e impressa com permissão de ambos os correspondentes. Vladímir Gernét a traduziu do original russo (cujo texto, porém, se perdeu) pro esperanto e a publicou na revista Lingvo Internacia (Língua Internacional), n. 6-7, p. 115-119. Gernet é indicado como o tradutor, e certamente o próprio Zamenhof e o marquês de Beaufront revisaram o texto, e eu o traduzi pro português. Leia abaixo uma pequena introdução em esperanto e a íntegra da carta!


Jen alia teksto, kiun mi publikigis en malnova retejo pri Esperanto de mi subtenita inter 2005 kaj ĉ. 2007. Temas pri celebra eltiro el privata litero de L. Zamenhof al la ruso Nikolaj Afrikanoviĉ Borovko, skribita eble en 1895 kaj presita kun permeso de ambaŭ korespondantoj. Vladimir Gernet tradukis ĝin el la rusa originalo (kies teksto, tamen, perdiĝis) al Esperanto kaj publikigis ĝin en la revuo Lingvo Internacia, n. 6-7, p. 115-119. Gernet estas indikata kiel la tradukinto, kaj certe Zamenhof mem kaj la Markizo de Beaufront revizis la tekston, kaj mi tradukis ĝin al la portugala. Ĉi-sube vi povas legi la tutan tradukon:



...O senhor me pergunta: como apareceu em mim a ideia de criar uma língua internacional e como foi a história da língua esperanto do momento de seu nascimento até hoje? Toda a história pública da língua, isto é, começando do dia em que saí abertamente com ela, é ao senhor mais ou menos conhecida; aliás, por muitas causas, é ainda inoportuno tocar neste período da língua; por isso, vou contar ao senhor, em traços comuns, somente a história do nascimento da língua.

Será difícil para mim contar ao senhor tudo isso em detalhes, pois muita coisa eu mesmo já esqueci: a ideia à qual dediquei toda minha vida para sua efetivação apareceu em mim – é engraçado dizê-lo – na mais tenra infância e, a partir desse tempo, nunca me abandonou; eu vivi com ela e nem posso me imaginar sem ela. Essa circunstância esclarecerá ao senhor em parte por que eu trabalhei sobre ela com tanta obstinação e porque eu, apesar de todas as dificuldades e da amargura, não abandonei essa ideia, tal como muitos outros fizeram tendo trabalhado no mesmo campo.

Nasci em Białystok, província de Grodno. Este lugar de meu nascimento e de meus anos infantis deu a direção a todos os meus objetivos futuros. Em Białystok, a população é formada de quatro elementos distintos: russos, poloneses, alemães e judeus; cada um desses elementos fala uma língua própria e se relaciona sem amizade com os outros elementos. Em tal cidade, mais do que em qualquer outro lugar, a natureza impressionante sente a pesada infelicidade da diversidade linguística e se convence a cada passo de que a diversidade de línguas é a única, ou ao menos a principal causa que dispersa a família humana e a divide em partes inimigas. Fui educado como um idealista; ensinaram-me que todos os homens são irmãos e, enquanto isso, na rua e no quintal, a cada passo tudo me fazia sentir que os homens não existem: existem somente russos, poloneses, alemães, judeus etc. Isso sempre atormentava fortemente minha alma infantil, embora muitos possivelmente rirão desta “dor pelo mundo” na infância. Por então me parecer que os “adultos” possuíam uma espécie de força todo-poderosa, eu constantemente repetia a mim mesmo que, quando eu fosse adulto, sem falta afastaria esse mal.

É claro que pouco a pouco eu me convencia de que nem tudo se faz tão fácil como parece a uma criança; fui jogando fora diversas utopias de criança, uma após a outra, e só o sonho por uma língua humana nunca pude jogar fora. De um modo confuso, eu de certa forma me atirei a ele, embora, é claro, sem quaisquer planos definidos. Não me lembro quando, mas em toda a ocasião, suficientemente cedo se formava em mim a consciência de que a língua única só pode ser neutra, não pertencendo a nenhuma das nações hoje vivas. Quando passei da Escola Real de Białystok (ela ainda era ginásio) para o segundo ginásio clássico de Varsóvia, fui durante algum tempo seduzido por línguas antigas e sonhava em um dia viajar pelo mundo inteiro e, com discursos flamejantes, inclinaria os homens a reviver uma dessas línguas para uso comum. Posteriormente, já não lembro quando, cheguei a uma firme convicção de que isso era impossível, e comecei a sonhar ocultamente com uma língua nova e artificial. Então, frequentemente começava alguns testes, elaborava riquíssimas declinações e conjugações artificiais. Mas uma língua humana com sua infinita, como me pareceu, pilha de formas gramaticais, com suas centenas de milhares de palavras, com as quais os grossos dicionários me atemorizavam, pareceu-me uma máquina tão artificial e colossal, que não foi só uma vez que eu dizia a mim mesmo: “Fora, sonhos! Esse trabalho não está conforme às forças humanas!” e, todavia, eu sempre voltava a meu sonho.

Eu aprendi alemão e francês na infância, quando ainda não se pode comparar e fazer conclusões; mas estando na 5.ª série do ginásio, quando comecei a aprender inglês, a simplicidade de sua gramática lançou-se em meus olhos, principalmente graças à íngreme passagem através dela das gramáticas latina e grega. Então, notei que a riqueza de formas gramaticais é apenas um cego acaso histórico, mas não é necessária à língua. Sob tal influência, comecei a vasculhar a língua e retirar as formas desnecessárias, e notei que a gramática sempre mais e mais derretia em minhas mãos, e logo cheguei à menor gramática possível, que ocupava, sem ser inútil à língua, não mais do que algumas páginas. Então, comecei mais seriamente a abandonar meu sonho. Mas ainda os léxicos gigantes nunca me deixavam tranquilo.

Uma vez, quando eu estava na 6.ª ou 7.ª série do ginásio, eu por acaso desviei a atenção à inscrição “shveytsarskaya” (portaria), que eu já tinha visto muitas vezes, e depois à tabuleta “konditorskaya” (doceria). Esse “skaya” despertou-me interesse e mostrou-me que os sufixos dão a possibilidade de se fazerem, de uma palavra, outras palavras que não precisam ser aprendidas separadamente. Esse pensamento me possuiu por inteiro, e subitamente senti o chão sob os pés. Sobre os terríveis léxicos gigantes caiu um raio de luz, e eles rapidamente começaram a encolher diante de meus olhos.

“O problema está resolvido!” – então eu disse. Eu captei a ideia dos sufixos e comecei a trabalhar bastante nessa direção. Eu compreendi que grande significado pode ter para uma língua criada conscientemente o uso pleno dessa força, cuja eficácia nas línguas naturais é pouca, cega, irregular e incompleta. Comecei a comparar palavras, procurar entre elas relações constantes e definidas, e todo dia eu retirava do vocabulário uma nova série enorme de palavras, substituindo esse colosso por um sufixo que significava uma certa relação. Então, notei que uma pilha muito grande de palavras puramente radicais (ex. “mãe”, “estreito”, “faca” etc.) podiam ser facilmente transformadas em palavras compostas, formadas [em esperanto, patrino, mallarĝa, tranĉilo], e desaparecer do léxico. A mecânica da língua estava diante de mim como que sobre as palmas das mãos, e já começava agora a trabalhar regularmente, com amor e esperança. Logo depois eu já tinha escrita toda a gramática e um pequeno dicionário.

A propósito, aqui eu direi algumas palavras sobre o material para o vocabulário. Muito antes, quando eu procurava e descartava tudo de inútil da gramática, eu quis usar os princípios da economia também para as palavras e, convencido de que tanto faz que forma terá essa ou aquela palavra se somente concordarmos que ela expressa a ideia dada, simplesmente inventava palavras, penando que elas fossem as mais curtas possíveis e não tivessem um número desnecessário de letras. Eu disse a mim mesmo que ao invés de usar palavras de 11 letras, como interparoli [conversar], podemos muito bem expressar a mesma ideia, por exemplo, com uma palavra de duas letras, como “pa”. Por isso, simplesmente escrevia a série matemática dos conjuntos de letras mais curtos, mas facilmente pronunciáveis, e a cada um eu dava o significado de uma palavra definida (ex. a, ab, ac, ad, ... ba, ca, da, ... e, eb, ec, ... be, ce, ... aba, aca, ... etc.). Mas eu logo descartei essa ideia, pois os testes feitos comigo mesmo me mostraram que tais palavras inventadas são muito difíceis de ser aprendidas e ainda mais difíceis de ser memorizadas. Então, já me convencia de que o material para o léxico deveria ser latino-germânico, sendo mudado só o quanto pedissem a regularidade e outras condições importantes da língua. “Já estando sobre essa terra”, logo notei que as línguas modernas possuem uma enorme provisão de palavras prontas já internacionais, que são conhecidas por todos os povos e constituem um tesouro para uma futura língua internacional – e obviamente me utilizei desse tesouro.

No ano de 1878, a língua já estava mais ou menos pronta, embora entre a então “lingwe uniwersala” [língua universal] e o atual esperanto ainda havia uma grande diferença. Eu a divulguei entre meus colegas (eu então estava na 8.ª série do ginásio). A maioria deles foi seduzida pela ideia e pela incomum facilidade da língua, o que os percutia, e começaram a aprendê-la. Em 5 de dezembro de 1878, nós todos solenemente festejamos juntos a santificação da língua. Durante essa festa, houve discursos na nova língua, e com entusiasmo cantamos o hino, cujas palavras iniciais eram as seguintes:


“Malamikete de las nacjes
Kadó, kadó, jam temp’ está!
La tot’ homoze in familje
Konunigare so debá.”

(“A inimizade entre as nações
Caia, caia, já é tempo!
Toda a humanidade, em uma só família,
Deve se unir.”)


Sobre a mesa, além da gramática e do dicionário, repousavam algumas traduções na nova língua.

Assim se encerrou o primeiro período da língua. Então, eu ainda era muito jovem para sair publicamente com meu trabalho, e eu decidi esperar ainda cinco, seis anos e, durante esse tempo, cuidadosamente testei a língua e plenamente a trabalhei na prática. Meio ano depois da festa de 5 de dezembro, acabamos o curso ginasial e nos dispersamos. Os futuros apóstolos da língua experimentaram falar um pouco da “nova língua” e, deparando-se com as zombarias dos adultos, eles logo se apressaram em desconfessar a língua, e eu fiquei totalmente só. Prevendo só zombarias e perseguições, decidi esconder meu projeto de todos. Durante 5 anos e meio de minha permanência na universidade, nunca falava com ninguém sobre meu trabalho. Esse tempo foi muito difícil para mim. A “clandestinidade” me atormentava; obrigado a cuidadosamente esconder meus pensamentos e planos, quase não permanecia em nenhum lugar, não participava de nada, e a mais bela época da vida – os anos de estudante universitário – foram para mim os mais tristes. Às vezes eu tentava me distrair na sociedade, mas me sentia como um estranho, suspirava e ia embora, e de tempos em tempos acalmava meu coração com algum poema na língua trabalhada por mim. Mais tarde, coloquei um desses poemas (Mia penso, “Meu pensamento”) na primeira brochura editada por mim; mas aos leitores que não sabiam em que circunstâncias esse poema foi escrito, ele obviamente aparenta ser estranho e incompreensível.

Durante seis anos trabalhei aperfeiçoando e testando a língua, – e eu tive bastante trabalho, embora no ano de 1878 me parecesse que a língua já estava totalmente pronta. Fiz muitas traduções para minha língua, escrevi nelas obras originais e vários testes me mostraram que o que me parecia totalmente pronto na teoria, ainda não estava pronto na prática. Tive de esculpir, substituir, corrigir e transformar radicalmente muita coisa. Palavras e formas, princípios e exigências impeliam e atrapalhavam uns aos outros, enquanto na teoria, tudo separadamente e em pequenos testes, eles me parecessem totalmente bons. Tais objetos, como a preposição universal je [usada quando nenhuma das outras consegue expressar o sentido desejado], o verbo elástico meti [pôr, colocar, meter], a terminação neutra, mas definida, -aŭ etc., provavelmente nunca mergulhariam teoricamente em minha cabeça. Algumas formas, que para mim pareciam uma riqueza, agora se mostravam, na prática, um peso morto; assim, por exemplo, tive de jogar fora alguns sufixos desnecessários. No ano de 1878, parecia-me que, para a língua, era suficiente ter gramática e léxico; eu atribuía a sobrecarga e a deselegância da língua somente ao fato de que eu ainda não a dominava bem o suficiente; então, a prática sempre mais e mais me convencia de que a língua ainda precisava de uma espécie de “algo” insondável, o elemento de coligação que dava à língua vida e um “espírito” definido, totalmente formado. (O desconhecimento do espírito da língua é a causa pela qual alguns esperantistas, que leram muito pouco na língua esperanto, escrevem sem erros, mas em um estilo pesado, desagradável – enquanto os esperantistas mais experientes escrevem em um estilo bom e totalmente idêntico, qualquer que seja a nação à qual eles pertençam. Sem dúvida, com o tempo, o espírito da língua, embora aos poucos e imperceptivelmente, mudará muito; mas se os primeiros esperantistas, pessoas de diversas nações, não encontrassem na língua um espírito fundamental todo definido, cada um começaria a puxar para seu lado e a língua permaneceria eternamente, ou ao menos durante um tempo muito longo, uma coleção de palavras desengonçada e sem vida.) Então, comecei a evitar traduções literais desta ou daquela língua e penei em pensar diretamente na língua neutra. Depois, notei que a língua, em minhas mãos, já deixava de ser uma sombra sem fundamentos desta ou daquela língua, com a qual eu estava lidando neste ou naquele minuto, e recebia seu próprio espírito, sua própria vida, a própria fisionomia definida e claramente expressa, já independente de qualquer tipo de influência. A fala já fluía sozinha, flexível, graciosa e totalmente livre, como uma língua materna viva.

Por um longo tempo, uma circunstância ainda me fazia adiar minha saída pública com a língua: durante um longo tempo, um problema não ficou resolvido, e que tem um enorme significado para uma língua neutra. Eu sabia que todos me diriam: “Sua língua só será útil para mim quando o mundo inteiro a aceitar; por isso, não posso aceitá-la até que o mundo inteiro a aceite.” Mas dado que o “mundo” não é formado sem “unidades” antes separadas, a língua neutra não podia ter futuro até que conseguisse tornar-se útil para cada pessoa à parte, independentemente se já é uma língua aceita ou não pelo mundo. Fiquei muito tempo pensando nesse problema. Finalmente, os chamados “alfabetos secretos”, que não exigem que o mundo os aceite de antemão e dão a um destinatário totalmente desinformado a possibilidade de entender tudo o que você escreveu somente se você lhe passar a “chave” com os significados, conduziu-me a pensar em arranjar também a língua aos modos de tal “chave”, que, contendo em si não somente todo o léxico, mas também toda a gramática de elementos separados, totalmente independentes e ordenados em ordem alfabética, daria a possibilidade do destinatário/leitor totalmente desinteressado, de qualquer nação, compreender imediatamente sua carta.

Terminei a universidade e comecei minha prática médica. Agora, já começava a pensar na saída pública com meu trabalho. Aprontei o manuscrito de minha primeira brochura (Dr. Esperanto – Uma língua internacional: Prefácio e manual completo) e comecei a procurar um editor. Mas pela primeira vez, eu aqui encontrei a amarga prática da vida, a demanda financeira com a qual, posteriormente, ainda devia e devo batalhar muito fortemente. Durante dois anos, em vão procurei um editor. Quando eu já tinha encontrado um, ele aprontou minha brochura para edição durante meio ano e, ao fim, recusou. Finalmente, depois de longos esforços, eu mesmo consegui editar minha primeira brochura em julho do ano de 1887. Antes disso, eu estava muito excitado; eu sentia que estava diante do Rubicão (*) e que do dia em que aparecesse minha brochura, eu já não teria a possibilidade de regressar; eu sabia que sorte esperava um médico que depende do público, se esse público via nele um fantasioso, um homem que se preocupa com “causas apensas”; eu sentia que estaca pondo em jogo toda a tranquilidade futura e as existências minha e de minha família; mas eu não podia deixar a ideia que adentrou meu corpo e meu sangue, e... eu atravessei o Rubicão. (*)


Luís Lázaro Zamenhof.


(*) Nota de tradução – “Atravessar o Rubicão” (em esperanto, transiri Rubikonon: frase que se costuma proferir quando se toma uma decisão arrojada e decisiva, em referência a um pequeno rio que separava a Itália da Gália Cisalpina. (Dicionário Completo Esperanto-Português, Federação Espírita Brasileira, 1996.)



quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

A carta de Satanás pra Jair Bolsonaro


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Há alguns dias, recebi este poema em estilo cordel num grupo de esquerda, de autoria atribuída a um nordestino (de que estado?...) que usa o nome “Zé de Quinó” e que não fazia ideia de quem era. A mensagem vinda junto com os versos era a seguinte (ortografia adaptada): “Carta do Demo pro Bozo. É demais! Que talento deste poeta Zé de Quinó! Maravilhoso cordel! Viva o poeta nordestino!” Curiosamente, a elite cultural do Sul e do Sudeste sempre foi criticada por folclorizar e marginalizar um “Nordeste” genérico, mas na verdade muito variado; e eis aqui novamente, com sinal invertido, a mesma generalização, sem que sequer saibamos onde vive Zé de Quinó, do que se alimenta, como se reproduz...

Na verdade, uma rápida busca no São Google nos revela uma infinidade de respostas. Mais corretamente “Zé de Quinô” (com “o” fechado, e não aberto), este é na verdade Daniel Alves dos Santos, natural e residente de Arapiraca, agreste de Alagoas, mestre em História e professor, que também se define como “cordelista e poetizador”. Sua foto de perfil num “Portal de Escritores” não deixa dúvida sobre sua opção política, mas o cordel que estou aqui republicando data, na verdade, mais ou menos de 17 de novembro de 2022, logo após a derrota do Inelegível e quando Zé de Quinô o lançou em seu Instagram. Na conta, também podemos ver que ele é casado e pai de uma linda cacheadinha. Aliás, a fictícia carta também foi editada em formato impresso, e no ano seguinte ela ganhou até uma resenha acadêmica, veja só!

Paro por aqui, e deixo que você mesmo procure pelas redes do Daniel/Zé de Quinô. Depois do longo poema, fiz uma montagem com a gadociata de 25 de fevereiro na Paulista, que era pra conter apenas o Pai da Mentira dando gritinhos que jamais o vi emitir na vida, mas acabou tomando uma dimensão bem maior, como você vai ver, rs:




Saudações aqui do Inferno
Te escrevo de coração
Para dar a ti os pêsames
Por conta da eleição
Nessas breves tortas linhas
Meu maldito Capitão.

Torci por ti e foi muito
Pena tu não ter vencido
Sou seu admirador
Meu fascista preferido
Tu tem cadeira cativa
No meu caldeirão fervido.

Espero que esta carta
Aumente mais sua dor
Piorando esse teu choro
Meu maldito enganador
Me admira tua sanha
Teu sonho de ditador.

Quero aqui te relatar
Como admiro a ti
Nessas linhas vou dizer
Apenas sobre o que vi
Durante esse teu mandato
Muita coisa eu escrevi.

Adoro esse teu racismo
E tua cara de pau
Esse teu descaramento
Não existe nada igual
Tu falas com tanto ódio
E isso é fundamental.

Seu machismo é outro ponto
Que chamo de admirável
Gostei do dia que disse
Que tu eras “imbrochável”
Isso é baixo, vil, rasteiro
Foi um dia memorável.

Agora vou relembrar
O tempo da pandemia
Era lindo tu zombando
Do doente em agonia
Assim como não ligando
Pra multidão que morria.

Imitar o agonizante
Que sofria com covid
Registrei isso também
Para que ninguém duvide
Nunca vi tão insensível
És terrível quando agride.

Dizer que o pranto dos entes
Era mero “mi-mi-mi”
Foi o que de mais perverso
Que na morte eu já ouvi
Isso para mim foi lindo
Aplaudi você daqui.

A maldade que carregas
Faz de ti mais que rasteiro
Tu nem sequer lamentou
Os mortos do mundo inteiro
Quando questionado, disse:
“E daí, não sou coveiro”.

Você é meu grande líder
Te admiro de paixão
Parece feito de lixo
Um verme sem coração
Que sabe zombar dos mortos
Da tua própria nação.

E por falar em Nação
Meu velho amigo fascista
Gostei de tuas ideias
De perseguir comunista
De incitar os teus lacaios
A matar quem for petista.

Pra mim outra qualidade
Que você sempre carrega
É dizer coisas terríveis
E depois tu vem e nega
Tu é mesmo coisa ruim
Pior que peixeira cega.

Falou que uma colega
Aquela tal deputada
Não merecia a desgraça
De por ti ser estuprada
Depois quando questionado
Disse que não falou nada.

Cortou verba da saúde
Ciência e educação
Botou século de sigilo
Pra toda tua podridão
E de forma descarada
Diz: “Não há corrupção”.

Bolsonaro meu amigo
A ti tiro meu chapéu
Te considero o melhor
Mais querido xeleléu
Desculpe se a emoção
Gotejar nesse papel.

Não se turbe com a derrota
E nem fiques magoado
Seu lugar tá garantido
À direita, do meu lado
Nunca vi um presidente
Que deixou pior legado.

Tua fama me comove
Nunca vi gente pior
Dos canalhas que admiro
Pra mim tu é o maior
Pois de tudo que ensinei
Tu aprendeste de cor.

Outra coisa que tu faz
Que me alegra o coração
É mentir desordenado
E se fingir que é cristão
Assim tu ganha o apoio
De uma grande multidão.

Enganar, mentir, zombar
São tuas grandes qualidades
Gosto de teu descontrole
Em negar todas verdades
De gritar alto e bom tom
As tuas insanidades.

Quero te dizer mais uma
Meu corrupto favorito
Que como miliciano
Você é mais que maldito
Finge ser um cabra honesto
Que às vezes quase acredito.

Eu sou o pai da mentira
Isso não há quem conteste
Mas confesso, sou teu fã
Mesmo que alguém te deteste
E acho que pro Brasil
Você é a pior peste.

Termino aqui esta carta
Que escrevi com muito esmero
Aceite minha amizade
Saiba que te considero
E estar sempre do teu lado
É tudo que eu mais quero.

Não vejo dia nem hora
Já até comprei meu terno
Que tu chegue por aqui
Pra queimar no fogo eterno
Assinado: Satanás
Presidente do Inferno.



Enquanto os “gadultos” puderam soltar sua libido reprimida e mal resolvida gritando pra idolatrar um militar e político fracassado, as crianças tiveram um espaço recreativo destinado exclusivamente a elas pra brincarem protegidas e supervisionadas:


Se tratando ainda por cima da Pauliceia (mais que Desvairada, nesse caso...), é claro que além de hidratação, os esportistas de Zap-Zap também precisaram de alimentação adequada. Veja qual foi a combinação mais pedida:


Finalmente, o transporte público foi incrementado e garantido pra que todos os cidadãos de bem pudessem voltar com segurança e conforto pra seus currais. Muitos quiseram evitar a tigrada corintiana que gritava contra o Mytho nas principais estações do subterrâneo, mas infelizmente o portão 9 ¾ pro Expresso Hogwarts estava fechado aquele dia...



Golpista Mourão tem uma projeto de lei pra anistiar os terroristas do Oito de Janeiro. Entre com sua conta GOV.BR ou e-Cidadania e VOTE NÃO a esse lixo na consulta pública, pelo menos, pra mostrar a força de quem paga o salário dele!


terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Como Zamenhof criou o esperanto?


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Aqui está outro texto que publiquei num antigo site sobre esperanto por mim mantido entre 2005 e ca. 2007. Trata-se de dois textos escritos originalmente em esperanto pelo brasileiro Antônio Luís Lourenço dos Santos, pelo qual ele descreve o material usado por Zamenhof pra criar aquela língua, quais sejam as origens etimológicas do vocabulário e o conhecimento linguístico do médico. Seus títulos em português são “Origem e internacionalidade do esperanto” (escrito e publicado em 1989 pela revista Brazila Esperantisto) e “Conhecimento linguístico de Zamenhof”. Eu os traduzi em português e dei o novo título “Como Zamenhof criou o esperanto?”. Seguem abaixo uma pequena introdução em esperanto e a tradução dos dois textos, com a ortografia e a redação atualizadas!


Jen alia teksto, kiun mi publikigis en malnova retejo pri Esperanto de mi subtenita inter 2005 kaj ĉ. 2007. Temas pri du tekstoj verkitaj originale en Esperanto de la brazilano Antônio Luís Lourenço dos Santos, per kiuj li prisrkibas la materialon uzatan de Zamenhof por krei tiun lingvon, nome la etimologiajn devenojn de la vortaro kaj la lingvoscion de la kuracisto. Iliaj titoloj estas “Deveno kaj internacieco de Esperanto” (verkita kaj publikigita en 1989 de la revuo Brazila Esperantisto) kaj “Lingvoscio de Zamenhof”. Mi tradukis ilin al la portugala lingvo kaj donis la novan titolon “Kiel Zamenhof kreis Esperanton?”. Ĉi-sube vi povas legi miajn du tradukojn al la portugala, nur kun etaj ĝisdatigoj en la ortografio kaj la redaktostilo:



1. Origem e internacionalidade do esperanto

Introdução – Muitos esperantistas, principalmente iniciantes, têm curiosidade em saber como Zamenhof criou o esperanto. A curiosidade não é sobre a história em si da língua, que é muito bem divulgada, mas a origem internacional, ou, em outras palavras, de que línguas vêm a gramática, os afixos, os radicais, os correlativos e outros aspectos linguísticos.

Os esperantistas sabem bem que Zamenhof era um homem genial que dominava muito bem muitas línguas naturais, como o russo (sua língua materna), o alemão, o hebraico, o ídiche (judeu-alemão), o polonês, o francês, o latim e o grego. Além disso, ele sabia um pouco do inglês e do aramaico. Zamenhof usou esse vasto conhecimento pra criar o esperanto. Todavia, dois aspectos então o deixavam com medo: gramática e grandes vocabulários. Investigando a literatura esperantista, encontram-se várias informações dignas de conhecimento, que, embora incompletas, nos dão muitas explicações. Pode-se resumi-las no seguinte:

Gramática – L. L. Zamenhof sabia muito bem o hebraico e, por isso, uma parte importante da gramática vem dessa língua. Os conhecimentos de hebraico foram muito úteis ao Doutor Zamenhof: ele aproveitou muito mais do que externamente parece pra simplificar a língua conforme os moldes hebraicos. Pro vocabulário, o hebraico não pôde ajudar de forma alguma, pois seus radicais não são internacionais; mas a gramática hebraica deu uma enorme inspiração a Zamenhof. Mencionemos somente alguns pontos:

  1. O hebraico não tem artigo indefinido e tem somente um único artigo definido imutável, tal como no esperanto.
  2. No hebraico não há ditongos, pois as letras “ŭ” (ŭo; pronuncia-se “uô”) e “j” (jo; pronuncia-se “iô”) são consoantes, tal como no esperanto.
  3. O hebraico não possui o modo subjuntivo, e o esperanto também não.
  4. Tal como o hebraico, o esperanto também não possui formas especiais simples pra distinguir perfeito e imperfeito nos verbos.
  5. O hebraico e o esperanto só possuem os casos nominativo e acusativo.
  6. A terminação “u” pro imperativo é hebraica e árabe, e não uma invenção caprichosa de Zamenhof.
  7. Tal como no esperanto, o vocabulário hebraico é disposto conforme os radicais. (1)

Entre as experiências do autor do esperanto, houve também a que tratava da necessidade de um “Fundamento Intocável”, que no hebraico é a “Bíblia”, na qual ninguém tem o direito de mudar ou corrigir coisa alguma; nunca se corrige nem o erro mais evidente na língua hebraica. Somente se menciona na borda da página como se deve ler corretamente a palavra errada, mas esta permanece e é eternamente copiada ou representada sem mudanças. Essa intocabilidade do texto modelar eternizou a unidade da língua hebraica através do mundo. Zamenhof criou o “Fundamento Intocável” pro esperanto, e ainda traduziu a Bíblia, que, para muitas pessoas, ainda é um modelo imutável. Certamente a língua vai crescer no uso moderno, todavia, sempre vão se respeitar os modelos intocáveis. Pra nós, esses modelos são o Fundamento do Esperanto, a Crestomatia Fundamental (2) e outras obras de nosso genial mestre.

Esses princípios experimentados no hebraico através de milênios de vivência consideravelmente simplificaram e facilitaram a gramática do esperanto; mas o aspecto externo da língua, aparentemente, é totalmente ocidental, pois os radicais, afixos e terminações gramaticais internacionais são ocidentais. Dizemos “aparentemente”, pois a aglutinação (3) em esperanto também não é ocidental, mas oriental.

Outros pontos gramaticais consideráveis são os seis particípios e a conjunção kaj (e), que Zamenhof tirou do grego, e as formas unidas de uma preposição com o artigo, que se baseiam no italiano, como, por exemplo, ĉe l’ (em casa de), tra l’ (através de), de l’ (de).

Em relação à terminação substantiva “o” e à plural “j”, o sr. N. Z. Majmon forneceu uma suposição muito interessante aos estudos esperantológicos. No perfeito livro de estudos de Gaston Waringhien, Língua e Vida – Ensaios Esperantológicos, o sr. Majmon defende a hipótese de que Zamenhof poderia ter fornecido o final substantivo em esperanto “o” e o plural “j” conforme o modelo do aramaico. Teria eleito Zamenhof, conforme esse modelo, a terminação substantiva singular “o” e a plural “oj”? Seria mais lógico supor que, destinando o esperanto primeiramente ao público europeu, Zamenhof retirou a terminação “o” do italiano (uomo = homo = homem, amico = amiko = amigo, angelo = anĝelo = anjo) ou do espenhol (canto = kanto, estilo = stilo, mano = mano = mão). Todavia, pode ser que inconscientemente justamente a terminação aramaica “o” pra muitos substantivos, com seu “j” no plural, fixando-se na memória subconsciente do mestre durante sua tenra juventude, passando pelos modelos italiano e espanhol, tenha ditado ao mestre sua decisão. Seja assim, seja de outra forma, mas a hipótese do sr. Majmon sem dúvida nos salta aos olhos.

Afixos – Com relação aos grandes vocabulários, o problema foi resolvido ao acaso. O próprio Zamenhof conta esse acontecimento em uma carta de 1895 ao sr. Nikolai Afrikanovich Borovko:

Certa vez, quando estava na 6.ª ou 7.ª série do ginásio, desviei minha atenção por acaso à inscrição “shveytsarskaya” (portaria), que eu já vi muitas vezes, e depois a tabuleta “konditorskaya” (doceria). Esse “skaya” me despertou interesse, e mostrei a mim mesmo que os sufixos dão a possibilidade de, a partir de uma palavra, fazer outras que não precisam ser decoradas separadamente. Este pensamento me possuiu por inteiro, e subitamente senti a terra sob os pés. Sobre os terríveis vocabulários gigantescos caiu um raio de luz, e eles começaram a encolher rapidamente diante de meus olhos. “O problema está resolvido!” – então eu disse. Captei a ideia dos sufixos e comecei a trabalhar muito nesta direção. Compreendi que grande significado pode ter para a língua conscientemente criada o pleno uso dessa força que em línguas naturais funciona só em parte, cegamente e de forma vazia.

Em línguas nacionais, há afixos que frequentemente têm significados diferentes, e, do contrário, também existem vários afixos que expressam a mesma ideia; então, das muitas línguas que Zamenhof sabia, ele pegou seus afixos pra economizar ao aprendiz a aquisição de muitas palavras à parte. Ele escolheu os afixos que têm similares em muitas línguas diversas, facilitando assim a memorização de palavras pra diversos povos. Sobre a etimologia dos afixos, observemos a lista abaixo, não esquecendo que alguns afixos foram processados por Zamenhof e outros foram oficializados pela Academia de Esperanto:

a) Do francês: bo - ad - aĵ - on.
b) Do alemão: ge - mis - ej - em - er - ig - in - ing.
c) Do russo: pra - ar - ĉj - eg - il - nj.
d) Do latim: dis - mal - re - an - ind - ist - ul - um - fi - end.
e) Do grego: ek - id - ism.
f) Do inglês: ebl.
g) Do italiano: aĉ - ec - estr.
h) Das línguas românicas: eks - et.
i) Das línguas eslavas: uj.
j) O sufixo “iĝ”, usado pra ideia de “tornar-se”, aproxima-se de um sufixo italiano, embora isso seja mera coincidência.
k) O sufixo “obl” é composto pela vogal alemã “o” e pelas consoantes “bl” do inglês (doppelt = double = duobla = duplo).
l) O sufixo “op” é uma inversão da preposição distributiva “po”, que em esperanto tem o mesmo significado da equivalente russa. No Plena Ilustrita Vortaro (Dicionário Ilustrado Completo), encontramos um exemplo dela: Ili marŝis po kvar en vicoj = Ili marŝis kvarope en vicoj (Eles marcharam em filas de quatro).

Ainda lembremos, algumas vezes, que embora um sufixo ou outro venha de uma língua definida, pode-se encontrar esse mesmo afixo em várias outras línguas.

Tabela dos correlativos – Também é mencionável a origem da “tabela dos correlativos”. Zamenhof não a inventou arbitrariamente, e seus elementos não foram escolhidos ao acaso. Há tabelas incompletas em línguas eslavas, como, por exemplo, no búlgaro, no russo, no letão, no lituano, no checo, no sérvio e no eslovaco. Zamenhof as estudou e processou logicamente. Vejamos abaixo:

  • “I” – a letra inicial “i” vem do alemão irgendein (de alguma forma), irgendeiner (alguém).
  • “Ĉ” – poderia bem ser do polonês wszyscy (todos).
    “ES” – a terminação “es” concorda com o genitivo do alemão wessen (de quem?), des, dessen (dessa pessoa).
  • “IE” – a terminação “ie” faz lembrar o polonês gdzie (onde?), nigdzie (em nenhum lugar).
  • “K” – a letra inicial “k” corresponde à palavra interrogativa kia (como? de que tipo?).
  • “T” – a letra inicial “t” corresponde à palavra demonstrativa tia (desse tipo).
  • “NEN” – negativa “nen”.

Estas três últimas (K, T, NEN) são comuns a muitas línguas, como o búlgaro, o português, o russo, o italiano, o lituano, o esloveno, o checo, o croata, o letão, o sérvio, o espanhol, o romanche (ou rético), o francês, o polonês e o eslovaco.

Conclusão – De tudo dito acima, podem-se ver diversos aspectos da origem das palavras em esperanto, e principalmente a genialidade de nosso caro e memorável Mestre Zamenhof, que não foi somente um homem genial, mas também possuiu desde a juventude saberes que vários linguistas nunca adquirem sobre a existência e a estrutura de línguas que funcionam internacionalmente; por isso, ele criou nossa admirável língua com perfeita segurança, conforme modelos vivos, e nossa língua internacional viva já se tornou centenária (atualmente com 112 anos).


2. Conhecimento linguístico de Zamenhof

Nosso caro Mestre Zamenhof, o criador do esperanto, tinha ótimos conhecimentos linguísticos que podemos constatar pela compilação abaixo:

Ídiche – Zamenhof sabia bem o ídiche. A primeira língua do menino Lázaro foi um jargão que ele aprendeu de sua mãe, Liba, do bairro em que ele nasceu e na escola hebraica elementar.

Alemão – Zamenhof sabia perfeitamente o alemão. De sua mãe, Liba, ele o aprendeu. Ele estudou o alemão no Ginásio Real de Białystok (três anos), no 2.º Ginásio Masculino de Varsóvia (cinco anos) e na Universidade de Moscou (um ano).

Russo – Zamenhof sabia bem o russo, pois era sua língua materna. Em carta de 8 de março de 1906 a Th. Thorsteinsson, Zamenhof diz: “Minha língua materna é a russa”. O prof. G. Waringhien, em seu estudo sobre Lázaro Zamenhof, publicado em Esperanto, n. 649, de dezembro de 1959, diz: “Zamenhof sempre enxergou o russo como sua língua materna [...] e sentia a Lituânia como sua pátria”. Em carta de 21 de fevereiro de 1905 a A. Michaux, Zamenhof conta: “A língua materna sempre foi para mim o objeto mais querido do mundo. Sempre amei mais essa língua, na qual fui educado, isto é [...] a língua russa; eu a aprendi com o maior prazer; já sonhei em tornar-me um grande poeta russo. Também aprendi com prazer diversas outras línguas, mas elas me interessavam mais na teoria do que na prática [...] Em minha infância muito amei de paixão a língua russa e todo o reino russo; mas logo me convenci de que pagam meu amor com ódio”.

Hebraico – Zamenhof sabia muito bem o hebraico. Em escolas judaicas, a língua hebraica era obrigatoriamente ensinada aos garotos. Zamenhof frequentava a escola elementar hebraica e aprendia o hebraico. Marcos, pai de nosso mestre, foi um ótimo hebraísta, ensinou o hebraico a seu filho e, por isso, Zamenhof o aprendeu a fundo.

Francês – Zamenhof sabia bem o francês. Ele o aprendeu de sua mãe, Liba. Seu pai, na escola estatal de ensino médio, ensinava geografia e línguas modernas, e ajudou seu filho a aprender o francês. Ele estudou francês no Ginásio Real de Białystok e no 2.º Ginásio Masculino de Varsóvia.

Polonês – Zamenhof sabia bem o polonês. Ele o aprendeu já em Białystok, na Rússia (hoje Polônia). Em carta de 21 de fevereiro de 1905, ele revelou a A. Michaux que falava fluentemente em polonês. Com seus familiares, Zamenhof falava o russo, a língua do Estado, pois Varsóvia pertencia à Rússia. Só quando havia um visitante polonês, Zamenhof, por gentileza, usava o polonês. Por isso, os visitantes poloneses na casa de Zamenhof ouviam a língua polonesa.

Latim – Zamenhof sabia bem o latim. Em dezembro de 1873, Zamenhof se mudou pra Varsóvia e começou a aprender latim sozinho. De agosto de 1874 até junho de 1879, ele o estudou no 2.º Ginásio Masculino de Varsóvia. Numa entrevista de agosto de 1907, Zamenhof contou que, na universidade, ele dedicou atenção especial à língua latina.

Grego – Zamenhof sabia muito bem o grego. Em dezembro de 1873, Zamenhof começou a aprendê-lo por conta própria. Ele também o estudou no 2.º Ginásio Masculino de Varsóvia. Apesar de Zamenhof ter boas notas principalmente em grego, ele não se julgou competente o suficiente pra fazer uma tradução do Novo Testamento da língua grega. No prefácio a Gênesis – Primeiro livro de Moisés, Zamenhof conta: “Há tempos atrás já pensava em começar uma tradução sistemática da Bíblia. Deixando o Novo Testamento a outros tradutores mais competentes, escolhi o Antigo Testamento”.

Inglês – Zamenhof lia a língua inglesa. Em carta de 1895 a N. Borovko, Zamenhof diz: “Estando na 5.ª série do ginásio, comecei a aprender inglês”. Em carta de novembro de 1902 a E. A. Lawrence, Zamenhof escreve: “Perdoe por lhe escrever em esperanto, pois domino muito pouco a língua inglesa”.

Italiano – Não há indícios diretos de que Zamenhof soubesse italiano. No artigo “Essência e Futuro da Ideia de uma Língua Internacional”, escrito em 1899, Zamenhof diz:

No que consiste a superioridade do esperanto diante do volapuque (4), é claro que não podemos analisar aqui em todos os detalhes; como exemplo, mostrarei que, enquanto o volapuque soa muito selvagem e indelicado, o esperanto é cheio de harmonia e estética, e por si faz-nos lembrar do italiano.

No artigo “Esperanto: A New International Language”, publicado em The Independent, Nova York, agosto de 1904, Zamenhof, entre outras coisas, escreve: “Apesar de sua construção puramente matemática, todavia, o esperanto agrada aos ouvidos. Sua sonoridade é muito parecida com a do italiano”. A língua italiana é reconhecida como a que soa mais belamente. Exemplos citados acima nos fazem crer que Zamenhof estudou italiano.

Outras línguas – Zamenhof conhecia vários outros idiomas, não como um especialista profissional. Entre eles estão: espanhol, holandês, mordoviano, (5) lituano, árabe, norueguês, dinamarquês, islandês e aramaico. Dessas línguas ele pegou muitas palavras, afixos e a gramática.


Notas (clique pra voltar ao texto)

(1) Por exemplo: a palavra pano (pão) vem antes da palavra paneo (pane, falência), pois o radical da primeira (pan-) é alfabeticamente anterior ao da segunda (pane-).

(2) Crestomatia Fundamental é uma grande coletânea das obras de Zamenhof unidas numa só coleção, que tratam em especial do esperanto.

(3) Fenômeno muito comum em línguas como o húngaro, o alemão e o turco, em que podemos formar infinitas palavras por meio da simples junção de radicais, afixos etc. Exemplos: sukero (açúcar) + kano (cana) = sukerkano (cana de açúcar).

(4) ”Volapuque” (ou volapük = vol, mundo + pük, fala) foi um idioma inventado em 1879 pelo alemão Johann Martin (João Martinho) Schleyer com a mesma finalidade do esperanto, obtendo um certo sucesso até a criação do idioma de Zamenhof, quando muitos clubes volapuquistas começaram a usá-lo.

(5) Refazendo esta nota em 2024, ressalto que o então chamado “mordoviano” (ou mordovínico) era considerado um idioma do grupo fino-úgrico (o mesmo do finlandês e do húngaro) da família urálica de línguas do mundo, nativo da atual República da Mordóvia, na Rússia. Porém, novas classificações falam num ramo “mordoviano” ou “mordovínico” dentro do grupo fino-úgrico, em que se encaixariam dois idiomas, muito pouco falados e não inteligíveis entre si: o moksha e o erzia (ou erzya).

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

ANISTIA É O CAZZO!!!












Por décadas, defendeu a tortura, defendeu uma “guerra civil que matasse 30 mil”, desprezou as famílias dos desaparecidos políticos (“Quem procura osso é cachorro”), elogiou Augusto Pinochet e Alfredo Stroessner, sugeriu “fuzilar a petralhada do Acre”, banalizou o crime de estupro, promoveu a misoginia e o ódio a grupos historicamente discriminados, deixou a pandemia correr solta pra matar o máximo de trabalhadores, planejou um golpe de Estado da forma mais descarada, e a lista tá longe de ser exaustiva.

Mas hoje, chorando na Avenida Paulista e rodeado pelo chorume da escumalha do restolho do milho de cocô daquilo que chamam de “política brasileira”, o Bunda Suja quer anistia! (A referência explícita é aos golpistas do 8 de Janeiro, mas subentende-se que também é pra ele e seus cúmplices mais próximos...)

Pra bom descendente de italiano, que ele também é, mezza parola basta. Portanto, pra evitar o baixo calão num espaço tão digno, ANISTIA É O CAZZO!!! Todo mundo que colaborou com os crimes dos Bolsonaro nestes últimos cinco anos ou mais deve pagar definitivamente, pra que não tenhamos novos 1930, 1937, 1955, 1964, 2016 ou 8 de Janeiro! Haja Hemovirtus pra tanta hemorroida, kkkkk!


Golpista Mourão tem uma projeto de lei pra anistiar os terroristas do Oito de Janeiro. Entre com sua conta GOV.BR ou e-Cidadania e VOTE NÃO a esse lixo na consulta pública, pelo menos, pra mostrar a força de quem paga o salário dele!


domingo, 25 de fevereiro de 2024

Se as cédulas tivessem desenhos...


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/cedulas


Na Índia e no Paquistão, e acredito que em outros países vizinhos, as enormes células de papel pras eleições locais, regionais e nacionais não se contentam em ter os nomes dos partidos e dos candidatos. Quem já leu ou assistiu algo sobre a região, deve ter notado que se imprimem também alguns desenhinhos, em sua maioria com um estilo que consideraríamos de cartilhas infantis de alfabetização, nem sempre com qualquer relação a assuntos eleitorais ou mesmo à ideologia pela qual se deseja votar.

Segundo a Wikipédia em inglês, essas figurinhas se chamam “símbolos eleitorais” e existem porque nesses países, sobretudo Índia e Paquistão, o índice de analfabetismo ainda é bastante alto. Por isso, se não sabem ler os nomes dos partidos e dos candidatos, os eleitores podem associar um desenho (seja um sino, um gato ou mesmo um pneu de carro) a cada um deles, geralmente os conhecendo nas propagandas eleitorais. No Paquistão, por exemplo, esses símbolos (aqui no PDF, há os nomes dos partidos e os nomes dos símbolos, tudo em inglês) são alvo de toda uma deliberação oficial e definidos rigidamente numa longa lista.



Essa sim, é uma escolha difícil, né, Estadão?


Ainda segundo a Wikipédia, os números atribuídos aos partidos brasileiros também são considerados “símbolos eleitorais” que podem facilitar a votação por quem não sabe ou sabe pouco ler ou escrever, e eu diria, quem enxerga mal também. Quando o multipartidarismo voltou ao Brasil, no início da década de 1980, os partidos então existentes receberam algarismos simples: 1 era o PDS (ex-ARENA, partido da ditadura), 2 era o PDT, 3 era o PT, 4 era o PTB (hoje extinto) e 5 era o PMDB (hoje MDB). Porém, com a multiplicação de legendas, precisaram-se de dois algarismos, e nos casos citados, apenas se acrescentou um 1 inicial que segue até hoje: 11 (hoje ligado aos Progressistas), 12, 13, 14, 15...

Atualmente, a existência de números também facilitou o trabalho com as urnas eletrônicas, tecnologia quase única no mundo, que acrescentou ainda as fotos (hoje coloridas!) dos bandidos candidatos, letras bem grandes e teclas em Braille. Porém, como os bolsominions continuam acreditando que deveríamos voltar aos tempos das cédulas, ou pelo menos acrescentar a impressão do voto eletrônico (o que, além de um desperdício, é uma violação do princípio do voto secreto, a não ser que você engula ou enrabe o recibo!), trago aqui uma sugestão. Temendo ferir sensibilidades, podíamos também acrescentar os seguintes desenhos nas cédulas brasileiras, com personalidades do passado e do presente, caso seguíssemos o moderníssimo sistema hindustâni:


Lembrando que essas são as personalidades mais antigas e conhecidas, e certamente não pode ser exaustiva porque não inclui vários políticos mais ou menos jovens de primeiro mandato. Se você tiver sugestões, pode me escrever, pois dependendo do número de figuras, pode surgir toda uma cédula nova. Eu mesmo tive algumas ideias que decidi deixar de fora pra não ficar longo demais, mas resolvi não as externar no momento, rs!


sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Kiu pravas? Ateisto aŭ B. de Menezes?


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/bezerra

Desculpe por eu ter escrito este texto diretamente em esperanto, mas assim que possível vou providenciar uma tradução. Ĉi tiu juna brazila virino havas Jutub-kanalon, en kiu ŝi komentas la librojn pri spiritismo (doktrino de franca deveno, sed tre populara en Brazilo, pri kiu ĝiaj adeptoj diras esti samtempe “scienco, filozofio kaj religio”), kiujn ŝi ĝuste legis, kaj klopodas disvastigi la spiritan doktrinon inter sia publiko. La 11-an de februaro ŝi alŝutis videon pri iu prelego farita de la brazila kuracisto Bezerra de Menezes (1831-1900), unu el la pioniroj de la spiritismo en lia lando, post kiu unu materialista amiko de la viro rifuzis sin kredi je la doktrino. Bedaŭrinde mi ne havas la tempon traduki ŝian videon, sed se vi komprenas la portugalan, rigardu ĝin kaj legu mian respondon, kiun mi sendis al ŝi per retmesaĝo:



Saluton, karega Ĵesika! Kiel vi fartas? Mi esperas, ke vi tre agrable profitas la tempon de Karnavalo per via legado ;)

Mi rigardis vian ĝuigan videon pri la materialisto kaj Bezerra de Menezes. Mi tre ŝatis la historion kaj la manieron, kiel vi ĝin rakontas: vi parolas tre bone kaj via voĉo estas dolĉa! Ŝajnas, ke Menezes estis tre bonkora homo kaj li ne havis alian vivplanon, ol helpi la personojn.

Tamen, kelkaj ideoj venis en mian kapon tiel, ke mi ne scias, ĉu la argumento de Menezes estas tute fidebla:

1) La “materialismo” ne estas doktrino, religio aŭ eĉ vivomaniero: ŝajnas, ke ĉe Menezes ankoraŭ alvenis la konfuzon inter la sciencaj metodoj, kiuj forigas transcendajn hipotezojn por ekspliki la mondon kaj la vivmaniero de iuj, al kiuj gravas nur “materiaj” aferoj (mono, plezuroj, amuzadoj ktp.).

2) Se tiu ne estis la kazo, oni ne povas meti ĉiujn materialistajn pensulojn en la saman sakon: estas diversaj mondrigardoj, kiuj adoptas materialismajn metodojn, sed ne eklaboras el la samaj precipoj. Ekz. oni povas preni la ekonomion, la kulturon, la politkon ktp. kiel precipon por ekspliki la societojn, sed tutegale esti materialisma.

3) Mi timas, ke Menezes erare intermiksis 3 malsamajn aferojn: ekspliko pri la mondo, malpezigo de la homaj suferoj kaj solvo de konkretaj problemoj. Ŝajnas, ke Menezes ne konsideris, ke malpezigi suferojn ne ebligas la solvon de problemoj. Kaj ĉe multaj materialistoj la punkto estas ĝuste ĉi tiu: la mondo estas vere malbela, suferiga, kaj oni devas lerni vivi kun tiaj aspektoj por tiam eltiri fortojn por scii solvi niajn problemojn.

La sciencoj kaj iliaj metodoj ne celas esti “belaj” aŭ “malpezigaj”, sed kiel eble pli precizaj kaj kapablaj solvi konkretajn problemojn. Unu afero estas tio, ĉu la “materialismo” (ŝajne estus pli ĝuste, ke Menezes diru la “scienca metodo”) solvas aŭ ne konkretajn problemojn; alia afero estas tio, ĉu la spiritistoj nomataj de la amiko de Menezes estis aŭ ne trompuloj. Kaj la demando estas simpla: aŭ ili estis trompuloj, aŭ ne. La rakonto pri la konkretaj kazoj ne estas prezentita. Do, oni ne povas konkludi, ĉu Menezes ĝuste defendis tiujn spiritistojn, aŭ ĉu lia amiko povis trafe refuti Menezes-on.

Ĉiuj religiaj kredoj estas respektindaj, ĉar ili klopodas kunigi la personojn ĉirkaŭ komunaj valoroj kaj komunuma sento. Sed laŭ mia opinio, Menezes prezentas ekzistecajn problemojn per iom stranga rakonto: ĉu li pretendas, ke la sciencoj (la “materialismo”) ne povas solvigi ĉiujn problemojn, kaj tiel ignoras, ke la scienca konaĵaro estas senfine kreskanta kolekto? Ĉu li akuzas la sciencojn ne solvi la spiritajn problemojn de la personoj, kaj tiel li ignoras, ke la celo de la sciencoj ne estas la “belo”, sed la precizo kaj la versimilon, ĝuste por solvi la konkretajn problemojn, kiuj plej eble kaŭzas tiujn spiritajn problemojn al la homoj? Aŭ ĉu li ne komprenas la veran esencon de la aserto de sia amiko, nome la spiritisma doktrino, almenaŭ juĝante per la eblaj nenomataj trompuloj, povas esti nekorekta; do, ĝi ne solvus la homajn problemojn, sed faras la homojn forgesi pri ili iomtempe?

Ĉi tiuj ne estas fieremaj asertoj, sed vere instigantaj pensadoj, kiuj al mi venis, kiam mi rigardis vian belan videon. Mi ne petas, ke vi respondu ĉiun el ili, sed nur meditu pri ili, por ke ili servu kiel daŭrigilo de nia kontakto ;) Dankon pro via atenteco, kaj pacon!



quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

HÁ 10 ANOS, ESTE COVARDE FUGIA


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/bezerra


... de um povo revoltado com a insistência do presidente em ser um vassalo da ditadura terrorista de Vladimir Putin e com os mais de 100 manifestantes mortos no movimento conhecido como “Euromaidan”. A desinformação do Kremlin, claro, conseguiu implantar mesmo na cabeça de alguns jovens brasileiros “de esquerda”, que ainda eram crianças na época, que o levante foi “um golpe manipulado pelos EUA e liderado por neonazistas” (como se na Rússia não tivesse muito mais neonazis do que na Ucrânia!).

Hoje, alguns radicalizados que se dizem “defensores dos palestinos” inventaram que o mundo dá mais importância pros mortos ucranianos do que pras vítimas do Hamas e do Tsahal (na verdade, na mídia hegemônica hoje é totalmente o contrário), como se crimes de guerra não fossem crimes de guerra em qualquer lugar, e como se fosse Zelensky quem tivesse começado atacando a Rússia. Acontece que tanto a Geórgia desde 2003 (quando o povo derrubou sua kremlinete Eduard Shevardnadze) quanto a Ucrânia desde 2014 avançaram monstruosamente no combate à corrupção, embora muito ainda precise ser feito, e hoje seu IDH é maior do que o do próprio Brasil, o que antes não era o caso. Não é ser colonizado por Moscou, menos ainda enquanto o ex-agente paranoico do KGB continuar no poder, que vai tornar o mundo melhor!

P.S. A título de ilustração humorística, me lembro de ter visto na TV e na internet que essa “tela” de Víktor Ianukóvych circulou nas manifestações em fevereiro de 2014, rs. Na época, diziam que ela tinha sido roubada pelo povo da residência presidencial (na verdade, um palácio nababesco) de Mezhyhíria, um pouco ao norte de Kyiv e que fora um monastério transformado em residência estatal pelos bolcheviques. Com a fuga do ex-presidente, manifestantes invadiram a casa, hoje um “Museu da Corrupção” aberto ao público, mas pouco visitado, e tiraram fotos e selfies com as centenas de objetos valiosos dentro da casa e nos jardins.

Essa moça andou com a “obra” nas manifestações do Euromaidan, mas na verdade se trata de uma criação dela mesma, sem relação com Ianukovych ou a casa, a artista ucraniana Ólga Oléinik, que dizia ter começado há tempos o projeto, de gosto duvidoso, de pintar presidentes pelados (sem modelos vivos, até onde eu saiba!), mas só o revelou depois da insurreição. Ela disse que planejava fazer também um de Poroshénko, presidente que assumiu em junho de 2014, e além do de Ianukovych ela fez junto um de Putin (recomendo que não procurem!!!), divulgado depois da fama súbita. Aí vai mais um exemplar, pro prazer do público, rs:



quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Perguntas/respostas sobre esperanto


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/perguntas-eo

Aqui está outro texto que publiquei num antigo site sobre esperanto por mim mantido entre 2005 e ca. 2007. Seu nome é “Perguntas e respostas sobre o esperanto”, e certamente não é um tom nem um conteúdo que eu externaria atualmente. Mesmo assim, pra fins de registro e memória, decidi o rever, reeditar, corrigir, atualizar e publicar aqui, pois mesmo que eu não seja mais um grande propagandista, acho muito interessantes algumas das ideias que expus aqui:



Até aqui, muitos conceitos e explicações foram apresentados sobre o esperanto, mas não pude deixar de criar uma seção que julguei importante: uma lista das mais frequentes perguntas e suas respostas (ou, como muitos chamam, FAQ – “Frequently Asked Questions” ou “Perguntas Frequentemente Feitas” ou, a título de curiosidade, em esperanto, ODD – “Ofte Demandataj Demandoj”) indagadas por pessoas que pouco ou nunca tiveram contato com esse projeto de idioma internacional. A ideia me veio à cabeça quando muitos colegas de minha escola e outros conhecidos me perguntavam o que é o esperanto, por que ele é parecido com tal idioma, quem o criou, quando ele foi criado e outras perguntas que qualquer pessoa pode fazer a você. Por isso, meu objetivo é não só dar dicas de resposta pra tais perguntas, mas sintetizar boa parte de tudo o que já expressei anteriormente, mas agora de uma forma clara e direta. Se alguém lhe perguntar sobre o esperanto, jamais se embarace! Orgulhe-se de mostrar que você apoia uma solução democrática e fácil pra resolução dos problemas causados pelas barreiras linguísticas!

1) Afinal, o que é o ESPERANTO?
O esperanto é um idioma artificial criado pra ser usado entre pessoas que falam idiomas diferentes, sem que um seja obrigado a saber o idioma do outro, colocando os dois falantes num mesmo nível de comunicação ao minar a dominação de uma determinada língua (um exemplo clássico é quando um turista americano vem ao Brasil: é mais frequente que tentemos falar o inglês ou que ele tente falar o português?).

Um idioma que desempenha tal função é chamado de “idioma internacional”, ou “língua-ponte”, e deve ser neutro, ou seja, não ser ligado a nenhum país ou cultura nem ter elementos de apenas uma ou algumas línguas ou grupos de línguas, para possibilitar essa igualdade de comunicação entre seus usuários. Muitas vezes se lê o termo esperantista, e muitas conotações são dadas a ele, entre práticas e até políticas (como em “comunista”, “nazista” etc.). Prefiro interpretar o termo como “aquele que fala e trabalha em prol do esperanto” (ou seja, não interpretar como “membro de uma filosofia”, mas como “profissional” ou “trabalhador”, como em “maquinista”, “frentista” etc.), não precisando ser aplicado a todos os falantes, que podem usá-lo desde a simples finalidade prática, até trabalhar ativamente dentro do movimento esperantista.

2) Ah, é o “idioma da paz”, né? Mas por que ele é chamado assim?
Muitos conflitos no mundo são causados pelas diferenças culturais, ou seja, ou um povo não tolera os costumes do outro simplesmente porque são diferentes dos seus, ou um povo domina o outro através da potência militar (como no passado) ou da potência midiática e econômica (como ocorre hoje) e a ele impõe sua cultura. Na cultura, está embutida a língua, que também se impõe sobre um povo dominado ou acaba sendo usada em conferências e outros eventos e encontros internacionais, favorecendo apenas o povo que a usa. A imposição de um ou mais idiomas a nível internacional como línguas-ponte acaba apenas acirrando a disputa pela hegemonia cultural dos países, gerando uma discórdia sem fim.

Com o esperanto, nenhum povo ou língua é exclusivamente favorecido, colocando todos os povos no mesmo nível de igualdade de comunicação, o que acontece quando eles se reúnem num plano neutro pra resolver seus problemas. Quando essas disputas culturais por favorecimento internacional acabarem ou forem amenizadas, com certeza isso será um grande passo pro entendimento entre as nações. É claro que muitos falam: “O esperanto não é suficiente pra pacificar o mundo!” É claro que não, mas é um eficaz instrumento pra alcançarmos esse sonho, pois coloca os interlocutores em pé de igualdade, o que é um caminho pro despertar da disposição de todos pra se reunirem e resolverem os problemas do mundo, a começar pelos conflitos culturais! Portanto, um título mais justo pro esperanto seria “a língua da igualdade”.

3) Quando foi criado o esperanto? Quem o criou? Por que ele tem esse nome?
O esperanto foi criado pelo oftalmologista judeu-polonês Ludwig Lejzer (Luís Lázaro ou, em esperanto, Ludoviko Lazaro) Zamenhof, que sabia muitas línguas e a partir delas criou pelo menos dois protótipos (“Lingwe Uniwersala” e “Pra-Esperanto”) antes de chegar ao projeto final, testando diálogos e traduzindo muitas obras antes de divulgá-lo publicamente. A data considerada como o “aniversário” do esperanto é 26 de julho de 1887, quando Zamenhof, com a ajuda do sogro, consegue publicar o Primeiro Livro da Língua Internacional (posteriormente, surge ainda o Segundo Livro, como complemento ao primeiro), que contém gramática básica, vocabulário, textos e exercícios.

Até certo tempo, o esperanto não tinha nome; no Primeiro Livro, Zamenhof ainda não usou seu nome como autor do livro, mas usou o pseudônimo “Doutor Esperanto” (esperanto, na própria língua, significa “aquele que tem esperança”). Algumas pessoas começaram a chamar o idioma de “a língua do Doutor Esperanto”, mas as outras palavras foram caindo até que se chamasse o idioma simplesmente de “Esperanto”. Uma curiosidade: Zamenhof gostava de dizer que ele não era o “criador”, mas o “iniciador” do esperanto.

4) Quantas pessoas no mundo falam o esperanto? Onde ele é falado?
Nunca se chegou a um número preciso sobre seu número de falantes, pois muitas pessoas aprendem o esperanto não só por escolas, mas sozinhas, por meio de cursos por correspondência ou outros métodos autodidáticos [em 2024, por aplicativos como o Duolingo e sites como o Lernu, por exemplo]. Eu mesmo vi num livro o nome “esperanto” pela primeira vez, fui pesquisar na Enciclopédia Barsa pra ver de que língua se tratava, tomei conhecimento de sua estrutura e vasculhei na internet cursos de esperanto pra ter noções básicas e, mais posteriormente, aperfeiçoar-me nos níveis médio e avançado, além de comprar alguns livros e dicionários; resumindo: aprendi sozinho. Enfim, devido à falta de um padrão pra catalogação dos falantes do esperanto e da dispersão dos usuários, os números são calculados usando estimativas de congressos, clubes etc. É comprovado que bem mais de 1 milhão de falantes já usam o idioma de Zamenhof, desde as noções básicas até o emprego em meios técnicos; isso é um dado muito relevante, pois muitos idiomas étnicos (ou seja, falados por minorias étnicas) nem chegam a isso, sendo por isso condenados à extinção (eis também um motivo pelo qual o esperanto pode ser usado pra proteger a memória dessas línguas).

A partir daí, os dados variam muito, com especulações sobre até 10 milhões de falantes, ainda que muitos considerem isso um exagero. Um site [Ethnologue? Omniglot?] diz que o número de falantes varia entre 100 mil (que seria muito pouco) e 3 milhões. Quanto ao lugar onde ele é falado, lembremos que ele não pertence a nenhum grupo étnico nem a país algum, e por isso não pode ser associado a nenhuma região, em especial. Mas em se tratando de locais onde ele é praticado, podemos encontrar esperantistas em todos os continentes (pelo menos nunca ouvi falar de esperantistas na Antártida...), seja em associações sólidas ou em práticas isoladas; os locais onde o movimento mais está presente é na Europa e, acredite, no Brasil, e a sede da Associação Universal de Esperanto (UEA) está em Roterdã, Holanda.

5) De que línguas veio o esperanto?
Sobre isso, você pode ler este texto, disponível em esperanto e em português, com vários detalhes sobre grande parte da gramática do idioma, mas também é possível expressar-se sucintamente quais foram as fontes de inspiração de Zamenhof. Resumindo tudo, costuma-se dizer que 60% do esperanto têm origem latina (latim, francês, espanhol, português, italiano etc.), 30% têm origem anglo-saxônica (inglês, alemão etc.) e 10% têm outras origens. A grande porcentagem latina se deve ao vocabulário, vindo essencialmente dessas línguas, pois os radicais latinos são considerados internacionais.

Mas Zamenhof sabia muitas outras línguas e não deixou de absorver o seu melhor pra criar sua obra-prima. O texto citado acima informa que a língua, por fora, (radicais, afixos, desinências, a conjunção kaj – que significa “e” e vem do grego – e a ordem das palavras) tem aspecto ocidental (línguas indo-europeias), mas sua organização gramatical (organização das palavras conforme os radicais, ausência dos tempos subjuntivos e do aspecto imperfeito aos verbos, aglutinação – aglomeração de radicais pra formação de novas palavras – e grande uso de afixos) sofreu influência oriental (línguas não indo-europeias como o turco e o húngaro, que são respectivamente das famílias túrquica e urálica, à qual também pertence o finlandês, e o hebraico, que é do grupo semítico da família afro-asiática, ao qual também pertencem o árabe e o aramaico). O que é de concordância geral entre os esperantistas é que o grande conhecimento linguístico de Zamenhof fez o esperanto abranger uma vasta gama de elementos facilmente reconhecíveis que não só mostram o quanto ele não está centralizado num grupo exclusivo de línguas, mas como ele é uma ponte eficaz pra rapidez no aprendizado de outros idiomas.

6) Quanto tempo se demora pra aprender o esperanto?
Daí, vai depender de muitos fatores. As fontes mais comuns especulam que se possa dominar o básico dentro de pelo menos 6 meses, ou até um ano, devido à regularidade de sua gramática. Mas eu acho que isso pode variar de acordo com muitos fatores:

  1. Origem do falante: Por ser em boa parte europeu, é claro que quem tem mais domínio de tais línguas (em especial dos grupos românico, germânico e balto-eslavo) aprende-o mais rápido, seja no vocabulário, seja na gramática; veja, por exemplo, se você entende as palavras floro, granda, bela, minuto etc. Mas isso não parece ser importante, pois no Extremo Oriente, além do esperanto estar fazendo um grande sucesso, muitos ainda afirmam que o esperanto é o idioma mais fácil que existe!
  2. Conhecimentos linguísticos prévios: Assim como quem aprende esperanto aprende melhor outros idiomas, o contrário também acontece. Sabendo línguas como o francês, o alemão, o inglês, o italiano, o latim e o grego, você de cara entenderá muitas palavras do esperanto sem precisar recorrer ao dicionário. De tais línguas, respectivamente, vêm palavras como dimanĉo (dimanche = domingo; os dias úteis da semana vêm do francês), knabo (Knabe = garoto), fiŝo (fish = peixe), ĝardeno (giardino, com influência do inglês garden = jardim), apud (apud = próximo a) e kaj (και/kai = e).
  3. Aonde você quer chegar: Vai depender também de qual será seu campo e frequência de uso. Você pretende apenas aprender o básico conversacional pra fazer amigos e usar em outras ocasiões cotidianas, deseja participar de congressos pra acompanhar o progresso da língua, que aplicar o esperanto à sua área de trabalho ou passar o tempo como um genuíno esperantólogo (pessoa que sabe bem sobre a história do idioma e do movimento esperantista) e estudar as pessoas de Zamenhof, René de Saussure, Gaston Waringhien, Claude Piron, Julio Baghy, Ivo Lapenna, Boris Kolker, Edmund Grimley Evans ou outros esperantistas eminentes? Eu, por exemplo, que comecei minha jornada em julho de 2000, até o momento em que escrevi este texto, estava lendo um curso de aperfeiçoamento... Enfim, seus objetivos definem se o básico já é contentável ou se é necessário maior aprofundamento na língua.

7) Qual é o símbolo usado pra identificar o esperanto?
É de consenso geral que a cor usada nos símbolos esperantistas é o verde, que é a cor da esperança, incluída no significado da palavra “esperanto”, ainda que ela não seja obrigatória. Mas esse uso se popularizou tanto que é difícil encontrar alguma coisa esperantista que não seja verde. Quanto aos símbolos, com certeza o mais popular consiste na estrela verde de cinco pontas, com ou sem o “e” branco central. Também é muito conhecida a bandeira oficializada no primeiro Congresso Universal, ocorrido em 1905, na França, de proporções 2:3, verde, em cujo canto superior esquerdo se encontra um campo branco com a estrela verde sem o “e” em seu centro.

Outro símbolo usado pra identificar a presença do esperanto é o chamado La Melono (“O Melão”) ou rugbea pilko (“bola de rugby”), ou ainda Esperanto-ovo (ovo esperantista), devido à sua semelhança com esses objetos, que foi criado por um brasileiro pra comemoração do jubileu centenário do esperanto, ocorrido em 1987 (por isso, ele também é chamado de jubilea simbolo, ou “símbolo do jubileu”). Acredito que ele é bem mais adequado, pois, além de possuir uma harmonia simétrica, é um símbolo mais particular do que a estrela, pois nenhuma outra ideia possui símbolo parecido, levando-nos já diretamente à ideia “esperanto”. Já a estrela de cinco pontas, principalmente se ela não leva o “e” central (que a diferenciaria de outras estrelas de cinco pontas) possui muitos outros significados e empregos. Quanto à bandeira, muitos acreditam que, por se tratar de um idioma, o esperanto não necessita de uma, sendo um símbolo simples o meio mais prático de representá-lo.

8) O esperanto não é uma filosofia ou uma religião?
Muitos fatores levam as pessoas a pensar isso, mas a resposta definitiva é não. O primeiro é a alcunha de “idioma da paz” que ele leva, fazendo com que se concretizasse um ideal entre os falantes do esperanto, que é essa tendência pacifista. Esse ideal é interpretado por muitos como uma “religião” ou uma “filosofia”, mas é somente um sentimento que nasce em muitos após o uso de um idioma neutro que não favorece nenhum povo exclusivamente. O que também muitos chamam de “esperantismo” não é só esse sentimento, mas também, segundo Zamenhof, é a crença na eficácia da adoção de um idioma internacional como língua usada pra pacificar lugares dominados pela disputa hegemônica de uma ou outra língua materna e pra publicação de obras de igual interesse a todos os povos. Ele ainda dizia que cada um poderia guardar pra si a definição de esperantismo ou o sentimento que ele desperta em cada um, e que os conceitos expressos por ele não são obrigatórios.

Assim como também nenhum esperantista era obrigado a seguir uma doutrina pacifista criada também por Zamenhof, chamada “homaranismo”, que em si nada tinha a ver com o esperanto. Também é comum a grande relação entre o esperanto e o espiritismo, que usou esse idioma como língua de trabalho e pra divulgar várias obras, e por isso muitos afirmam que ambos são interdependentes, o que não é verdade. Pra mais informações, leia este artigo meu.

9) Por que o esperanto, mesmo tendo tantos falantes e muitas vezes sendo conhecido como “o idioma internacional”, é pouco divulgado e quase não se ouve falar dele?
Uma das hipóteses escrita pra mim por e-mail foi: “será que existem interesses escusos que não permitem uma maior divulgação dele?”. A história do mundo nos fornece muitas explicações pra isso, pois, assim como a história e por ser ligado a ela, o esperanto é um ser “vivo” sujeito a mutações. Pra mim, em primeiro lugar, as duas Guerras Mundiais foram decisivas pro futuro do movimento: na Primeira, tal como ocorreu com vários empreendimentos que poderiam marcar o século 20, foi impossível a reunião de esperantistas de diversos países, principalmente na Europa, foco das duas guerras, atrasando a evolução do movimento; na Segunda, além da impossibilidade de reunião, os esperantistas se viram perseguidos pelas ditaduras de Hitler e de Stalin, um falando que “o esperanto era a língua que os judeus usariam pra dominar o mundo”, e outro afirmando que “o esperanto era uma língua da burguesia cosmopolita”.

Além disso, a imposição das línguas nacionais aos outros povos e o poder de decisão de suas nações não permitiram divulgação e aplicação amplos dele (sobre isso, ler este outro artigo meu), facilitando a expansão de várias ideias erradas sobre o esperanto, tais como “ele não deu certo”, “ninguém o fala”, “ele foi extinto” e outros absurdos. Outro problema também é que, às vezes, alguns membros e clubes do mundo esperantista não investem em divulgação e outros recursos pra atrair falantes, esperando que novos interessados pelo esperanto apareçam por conta própria e fechando o movimento somente àqueles que já falam esperanto, como se ele fosse um grupo filosófico ou, segundo alguns teóricos, um grupo cultural diaspórico, o que não é verdade.

10) Quais são as vantagens da utilização do esperanto?
Muitas vantagens já foram citadas neste e em outros artigos desta página, mas podemos resumi-las nos seguintes itens:

  • Permite que pessoas que falam idiomas diferentes possam entender-se sem que sejam obrigadas a falar o idioma do outro, causando assim uma relação de dominação.
  • O uso de um idioma-ponte neutro permitiria uma grande economia nos setores de tradução das grandes organizações internacionais, como a ONU e a União Europeia, onde atualmente muitos parlamentares lutam por sua adoção no lugar do uso de todas as línguas do continente ou de apenas uma só, pois seus membros não precisariam do serviço de tradutores e compreenderiam diretamente e sem erros os discursos dos colegas. Isso é possível porque Zamenhof não reservou a si os direitos de uso do esperanto, ficando livre a qualquer pessoa ou órgão sua utilização tal como ele(a) ache mais adequado.
  • Ajuda na compreensão mútua de pessoas que falam uma mesma língua, mas um não compreende o dialeto do outro, principalmente se eles são ininteligíveis. Ao invés de predominar um dialeto, o esperanto pode ser usado como língua-ponte. Um exemplo ocorre na China, onde existem em torno de 100 dialetos do chinês e só o mandarim, falado em Pequim, por meio da mídia, acaba predominando sobre os demais.
  • Sendo um idioma fácil e de rápido aprendizado, o custo de sua aquisição é baixo, e permite que não precisemos permanecer durante vários anos aprendendo gramáticas e pronúncias irregulares de idiomas que variam não só de acordo com a época, mas também com o local em que são falados.
  • De modo barato e rápido, o esperanto também permite que tenhamos contato com elementos de outras línguas, mesmo nunca tendo tido contato com elas, e seu domínio faz com que aprendamos mais fácil outros idiomas, em especial os europeus. Uma universidade realizou pesquisas com alunos que aprenderam francês: aqueles que tiveram contato anterior com o esperanto demoraram seis meses a menos pra aprendê-lo do que os alunos que não tiveram contato com o idioma de Zamenhof.
  • Essa comunicação em pé de igualdade sobre bases neutras desperta no falante do esperanto um sentimento de fraternidade ao sentir a possibilidade de poder se comunicar, trocar ideias e fazer amizades com falantes de outros idiomas, esquecendo-se de todas as suas diferenças, o que não ocorre quando nos vemos obrigados a falar um outro idioma imposto pela força política, militar ou econômica.
  • E essa é mais uma vantagem do esperanto: não se impõe como idioma obrigatório às nações e aos povos, ficando livre o arbítrio de cada um ou de cada coletividade sobre sua utilização ou não, com base nos benefícios que seu uso constante pode trazer.

É com muita garra e força de vontade que nós, esperantistas, devemos lutar pela divulgação da ideia de um idioma neutro e internacional pra que enfim resolvamos os problemas gerados pelas diferenças linguísticas. E investir em meios de fazer o público ver que ele é um idioma, e é um idioma vivo, é o melhor meio de fazê-lo. Experimente uma nova perspectiva de intercâmbio cultural e descubra que deixar o exclusivismo nacional é compreender o mundo e ver seus problemas de uma forma nova!



Esperantistas militando esperançosos pelo esperanto.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Donald Barriga y Pesado vs. OTAN


Se o misterioso seu Madruga europeu não pagar o aluguel, vai mandar a Rússia expulsar ele da vila, kkkkk!

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Explicando conceitos sobre esperanto


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/conceitos-eo

Aqui está outro texto que publiquei num antigo site sobre esperanto por mim mantido entre 2005 e ca. 2007. Seu nome é “Explicação de conceitos acerca do esperanto”, e certamente não é um tom nem um conteúdo que eu externaria atualmente. Mesmo assim, pra fins de registro e memória, decidi o rever, reeditar, corrigir, atualizar e publicar aqui, pois mesmo que eu não seja mais um grande propagandista, acho muito interessantes algumas das ideias que expus aqui:



Esta página tem o objetivo de esclarecer a você algumas ideias expressas em vários meios de comunicação acerca do esperanto, sua história e seus usos, que nem sempre são verdadeiras. Devido às pessoas que adotaram e a algumas obras deixadas por Luís Lázaro Zamenhof, é comum que muitas pessoas associem o esperanto à ideia de religião ou de ideal. Parte dessas associações possui algum fundamento, mas várias correlações não possuem o menor cabimento. Cito o caso de um ex-esperantista que resolveu criar seu próprio projeto de idioma internacional [trata-se do “fasile”, do gaúcho Balduino Egon Breitenbach (n. 1949), que foi lançado em 1999 e, na versão mais recente que consegui encontrar, se chama “fasile21”, mas criatura e criador hoje são praticamente ignorados pelas redes modernas] e, em uma página na qual ele compara seu idioma com o esperanto, escreve que, enquanto a criação de Zamenhof possui focos difusos, com ideal e religião, seu próprio idioma possui como único foco a solução prática; com certeza faltou a este homem refletir um pouco mais sobre o caminho que o esperanto percorreu para chegar até nossos dias.

Sem misticismo, poesia, romantismo ou idealismo excessivo, procurarei explicar com os conhecimentos que adquiri por que normalmente se pensa que o esperanto é um ideal ou o idioma de uma filosofa ou religião. Acredito que há dois motivos principais para que se façam tais associações: 1) O conjunto de obras de cunho filosófico deixadas por Zamenhof; 2) A adoção do esperanto pelos espíritas para a publicação de várias obras.

Esperanto: uma doutrina? – As idéias de Zamenhof são inicialmente fundamentais pro entendimento do “idealismo esperantista”. O criador do esperanto foi, antes de tudo, um filósofo por natureza. Desde criança, sempre conviveu com os conflitos étnicos dentro da região onde morava: a Polônia dominada pelo Império Russo, onde vários grupos étnicos viviam sobre o mesmo chão, era palco de várias disputas entre tais grupos e das opressão tsarista, que procurava manter uma hegemonia cultural nos territórios dominados. Além do mais, Zamenhof, por ser judeu, já sofria desde criança as perseguições dos vizinhos. Nesse clima de total desigualdade, nossa criança-prodígio sempre meditava sobre as causas de tais conflitos e como um idioma-ponte poderia resolver todos esses problemas, pra que as etnias em atrito pudessem se entender mutuamente. Por isso, desde a época ginasial, Zamenhof já havia começado a criar seu projeto de idioma internacional (a pouco conhecida “Lingwe Uniwersala”), tendo que reconstrui-lo após várias perseguições por parte de seu pai. Mesmo formado médico e especializado como oftalmologista, nunca deixou seu trabalho pelo esperanto de lado, vendo o fruto de seu trabalho refletido nos diversos congressos e encontros que realizou na Europa e nos EUA.

Daquela velha ideia de sua infância, vemos nossa conhecida frase: “A diversidade de línguas é a única, ou ao menos a principal causa da dispersão da família humana e de sua divisão em partes inimigas”, expressa em uma carta escrita em russo a um conhecido, onde ele conta vários detalhes de sua vida e da criação do esperanto. Daí, surgiu o que se chamou de “idéia interna” do esperanto ou “esperantismo”. Segundo Zamenhof, “a essência do esperanto é a plena neutralidade, e a ideia do esperantismo apresenta somente um sentimento de fraternidade indefinido e uma esperança que são naturalmente geradas pelo constante encontro sob um fundamento linguístico neutro e que todo esperantista tem o pleno direito não só de comentar a si tal como ele queira, mas até de geralmente aceitá-lo ou não”. Por isso, temos aqui uma prova da conceituação de Zamenhof de um idioma internacional como auxiliar nos processos de paz por ajudar reunir as culturas numa base neutra: uma ideia naturalíssima que já expressei neste artigo e que, como disse Zamenhof, pode ser aceita ou não. Por isso muitos chamam o esperanto de “língua da paz”.

Esperanto: uma religião? – O trabalho de Zamenhof não se limitou ao esperanto e seus benefícios, mas à elaboração de um sistema filosófico que ele chamou de homaranismo, pois, como eu já disse, ele era um filósofo nato. Basicamente, a ideia do homaranismo é a de que o homem, acima de todas as suas características pessoais (raça, cor, língua materna, religião etc.), é parte integrante da humanidade: Zamenhof era um humanitarista! Composta de doze dogmas, sua base filosófica, chamada de “Declaração de homarano” (em esperanto, homarano significa “membro da humanidade”), expressa várias ideias e visões sobre ideais humanos, preconceito entre os povos, igualdade, direito à escolha de língua e religião, nacionalidade e mais. A principal correlação do esperanto com religião são os fatos do homaranismo apresentar uma ideia pra proposição de uma religião neutra, em que pessoas de todos os credos possam se unir em princípios filosóficos neutros, e de Zamenhof ter escrito a maior parte desses documentos em esperanto; mas em seus vários escritos sobre o homaranismo, Zamenhof deixa claro que devemos separar o esperanto do homaranismo, pois ele diz: “o homaranismo é um programa político-religioso especial e totalmente definido [em detrimento da idéia interna, que representa pra ele apenas um sentimento], que apresenta meu credo puramente privado e que totalmente não concerne aos outros esperantistas”.

A declaração ainda expressa como um idioma internacional é fundamental na concretização dos ideais do homaranismo, por este ser um programa cultural de bases neutras, mas, pra mostrar como o esperanto não tem nenhuma ligação estrutural com o homaranismo, Zamenhof escreveu no 9.º dogma: “Os novos homaranistas, que não dominam ainda a ‘língua dos homaranos’, podem em um primeiro tempo usar nas reuniões a língua que eles quiserem (...). Como atualmente só existe uma língua neutra, chamada ‘esperanto’, os homaranistas justamente a aceitam; todavia, eles reservam a si o direito de substitui-la algum tempo depois por outra língua, se isto se mostrar útil”. Conclusão: quem fala esperanto não precisa seguir os princípios do homaranismo, e quem possui as mesmas ideias filosóficas de Zamenhof não é obrigado a falar esperanto.

Um bom livro pra que você possa conhecer mais sobre as ideias de Zamenhof e de seu homaranismo é Homaranismo; a ideia interna, do espírita Délio Pereira de Souza, (Rio de Janeiro, Spirita Eldona Societo F. V. Lorenz, 1992). Apesar de ser o melhor comentário contemporâneo sobre o homaranismo na visão do espiritismo, o autor mistura os conceitos de “ideia interna” e homaranismo, a começar pelo título do livro. Ele ainda escreve na página inicial: “Despretensioso comentário à ideia interna do esperanto, segundo seu criador, Dr. Lázaro Luís Zamenhof”. É claro que o criador do esperanto deu total permissão pra que cada um interprete a “ideia interna” tal com queira, mas o livro inteiro praticamente só fala das concepções filosóficas de Zamenhof concernentes ao homaranismo, enquanto a “ideia interna” é algo relacionado à língua esperanto. Apesar disso, não deixe de ler esta genial obra, que apresenta uma alternativa pra este mundo tão conturbado.

Esperanto: uma língua de espíritas? – Coincidência ou não, o Brasil é o país onde se desenvolveu o espiritismo e onde se encontra o maior número de espíritas do mundo, mesmo seguindo uma doutrina criada por um francês, Allan Kardec, e é também o país onde podemos encontrar o maior número de esperantistas (por isso se diz também no meio esperantista que o Brasil é a capital da “Esperantolândia”). Possivelmente, isso se explica pelo fato dos espíritas terem adotado o esperanto como uma de suas línguas de trabalho, através da qual eles escrevem livros, fazem palestras etc., apoiando intensamente seu uso e sua difusão. Assim, nas principais livrarias espíritas, podemos encontrar vários livros sobre ou em esperanto: eu mesmo, quando ia pra Mongaguá, no litoral paulista, gostava muito de visitar a livraria espírita que havia no local não pra comprar livros espíritas, mas sim pra encontrar materiais sobre ou em esperanto (sejam livros espíritas ou não) e conversar com professores e alunos do “idioma da paz”.

Como sabemos, os espíritas têm um ideal e, segundo eles, pra concretizar esse ideal, o esperanto seria uma ferramenta muito eficaz, pois sua neutralidade pode fazer com que ele colabore, ainda que com pouca intensidade, no processo de paz mundial. A ideia é parecida com a do homaranismo: tem-se uma ideia e um idioma que ajudará na concretização desse ideal. Devido a essa estreita relação entre o esperanto e os ideais pacifistas, muitos acabam confundindo as coisas e pensando que o esperanto é um sistema filosófico. Ora, lemos que Zamenhof já separava o esperanto do homaranismo e disse que os homaranistas podem usar qualquer idioma; assim, provamos que o esperanto não tem o rígido caráter doutrinário ou filosófico, mas é apenas um instrumento destinado a essas e a outras realizações, de acordo com o desejo do falante, seja na religião, no turismo, na diplomacia etc. Uma famosa frase diz que “o esperanto não é de ninguém, mas de todos”, ou seja, ninguém possui propriedades exclusivas sobre o idioma, com relação a alterações, vendas de materiais etc., mas ao mesmo tempo todos têm o direito de aprender e colaborar pro crescimento do esperanto; por isso, não se pode dizer que o esperanto é “língua dos espíritas”, mas, se me permitem, que os espíritas são do esperanto, assim como todos aqueles que se dedicam a trabalhar por ele.

Não, esperanto: uma língua DE TODOS! – “O esperanto não pertence a ninguém, mas ao mesmo tempo pertence a todos”. Sabendo disso, em 1912, durante o 8.º Congresso de Esperanto, Zamenhof se abstém da liderança das causas esperantistas e dispensa o constante título de “Mestre”, como nos informa o livro Doutor Esperanto, de Walter Francini (São Paulo, Associação Paulista de Esperanto, 1973): “Não envolver o esperanto com as ideias filosóficas de seu criador, evitar que o mundo considere ‘esperantismo’ [que Francini também define com o esforço pra expansão da língua neutra, resultando na compreensão mútua e na troca de informações úteis entre os povos] e ‘homaranismo’ como uma coisa só. Fora da posição de líder do esperanto, ele teria mais liberdade para defender o seu ideal ético. Ele também quer dar mais liberdade aos esperantistas, possibilitando-lhes tomar decisões próprias, desligadas de qualquer influência dele, mesmo involuntária”. Zamenhof concebeu sua obra-prima como um presente à humanidade, algo a que todos pudessem ter acesso facilmente, sendo recompensados pelas grandes facilidades e vantagens que seu uso proporciona, e não com um instrumento pro benefício de poucos, apenas aos quais o uso do idioma “internacional” estaria restrito. Portanto, associar o esperanto a uma filosofia, religião ou outro tipo de entidade fechada é um grave erro!

Quem fala esperanto deseja ver a humanidade mais unida, sejam quais forem suas características pessoais, não se digladiando por motivos fúteis, mas promovendo um grande intercâmbio cultural por meio de bases linguísticas neutras! O mundo atual precisa de uma ponte que una a todos com justiça, e o esperanto é um grande auxiliar nesse objetivo. Sua grande mobilidade faz com que qualquer setor seja beneficiado por seu uso: a diplomacia, a cultura, o turismo, a amizade, a religião, a economia e qualquer outro, sendo o idioma independente de qualquer filosofia ou sistema filosófico: separar o esperanto dos idealismos de Zamenhof, mas compreender sua utilidade pra eles e pra qualquer outra causa honesta é compreender como o mundo possui um grande instrumento pro progresso, mas está dando pouco valor a ele, ou o está usando de forma errada.

Conclusão – Espero que com este documento você tenha se esclarecido sobre algumas ideias confusas que o principiante pode ter a respeito do esperanto, pra que ele possa aprendê-lo livremente e sem medo de se prender a determinados preceitos ético-filosóficos. Lembre-se: o esperanto não é uma filosofia, uma religião ou uma doutrina, mas o idioma de quem deseja se sentir um verdadeiro cidadão do mundo sem deixar de ser o que é e entendendo as diferenças entre todos nós, respeitando os preceitos particulares de cada um.