segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Abdel Halim Hafez – Sora, sora (final)


Endereço curto: fishuk.cc/sorasora


Esta montagem, publicada por um usuário anônimo do YouTube e intitulada “A Tribute to Gamal Abdel Nasser”, foi um dos primeiros vídeos que, ainda como jovem graduando em História, consegui encontrar na plataforma sobre o presidente do Egito de 1956, quando ele deu um golpe de Estado no antecessor, a 1970, quando faleceu. Pra nossos padrões, Nasser foi praticamente um ditador, mas é difícil conceber outra forma de governo naquela época, naquele lugar e naquelas circunstâncias, tanto mais que até hoje o povo o considera como herói, apesar de sua brutalidade com a oposição (não muito diferente, aliás, da exercida pelo atual presidente Sissi). Durante o breve período de 1958 a 1961, o Egito e a Síria compuseram a chamada República Árabe Unida, dissolvida com um golpe de Estado em Damasco. O Egito manteve o nome e sigla “R.A.U.” até 1971, quando Anwar al-Sadat, sucessor de Nasser, retomou o antigo nome, e por isso, em livros antigos, ainda vemos esse nome ou os dois: “Egito (R.A.U.)”.

Por anos, tentei descobrir de que música se tratava no começo e no final do vídeo, mas só há alguns meses, com o avanço dos recursos do YouTube, observei que o áudio foi vinculado a alguma faixa musical. Trata-se da canção Sora, sora (صورة، صورة), ou Um retrato, um retrato (abaixo, traduzi como “foto”), interpretada pelo célebre músico egípcio Abdel Halim Hafez, apelidado carinhosamente de “Rouxinol Moreno”, e composta em 1966 pelo poeta Salah Jahin (letra) e pelo compositor Kamal al-Tawil (melodia). Transliterações são sempre arbitrárias, mas o “s” de sora (ص) tem uma pronúncia chamada “enfática”, em que a língua também recua consideravelmente dentro da cavidade bucal. Em tese, consoantes com as mesmas características não existem nas línguas europeias (nem mesmo em maltês, uma língua semítica), por isso, é convenção geral colocar um ponto embaixo das letras. Porém, pra não entupir este texto de informação gráfica, apenas transcrevi o “u” original como “o”, que é a pronúncia que ele geralmente toma junto dessas consoantes.

Pro padrão da cultura de massas ocidental, as “canções” de Hafez são longuíssimas, algumas durando sete ou 15 minutos, meia hora ou até mais. De fato, na verdade são verdadeiras peças com orquestra, e por isso são muito bonitas em geral. Também famoso como ator, Hafez (1929-1977) apoiava o regime socializante e pró-URSS de Nasser e compôs e cantou muitas músicas em louvor ao líder e a seus feitos, na mesma trilha da artista Umm Kulthum (1898-1975), sobre quem tanto a NPR (em inglês) quanto a RFI (em francês) recentemente lançaram podcasts. Por isso, além do “culto à personalidade”, muitas letras exalam metáforas e enredos bem bobos. Sora, sora começa: “Todos nós queremos um retrato do povo feliz sob a bandeira vitoriosa.” O “retrato fotografado pelo tempo” traz uma nova imagem (outra tradução possível de sora) do Egito e de seu povo após a “revolução” de 1952 (na verdade, um golpe militar que derrubou o monarca), especialmente dos novos líderes que teriam saído diretamente do seio do povo.

Sora, sora, na verdade, tem passagens com diversos ritmos e arranjos, e a que selecionei é minha preferida, por ter sido usada na referida montagem antiga do YouTube. Por isso, só traduzi o trecho concernente da letra e também cortei a última repetição do refrão. Curiosamente, tempos depois de eu fazer a seleção, tanto o áudio quanto o clipe oficiais foram removidos da plataforma, mesmo após muitos anos no ar. Por isso, o material abaixo atualmente é uma raridade! Segundo o verbete em árabe padrão sobre a canção, o qual traduzi usando o Google, Hafez apresentaria todo mês de julho, a partir de 1961, pelo menos uma canção patriótica comemorando o dia da “revolução” e geralmente aludindo aos princípios socialistas iniciais. Porém, vendo que o regime estava cada vez mais se degenerando em burocratismo e corrupção, o povo começou a enjoar da ideologia, e o próprio “socialismo” não é mencionado em Sora, sora. O próprio músico al-Tawil contaria, anos depois, que fez a melodia de mau humor, pois teria sido impedido de viajar antes que completasse a encomenda.

Na festa do 23 de Julho em 1966, Hafez estreou Sora, sora e interpretou mais duas canções românticas, mas aquela seria a última de tom patriótico que apresentaria em feriados da “revolução”, já que a derrota na Guerra dos Seis Dias (1967) impediria a realização de concertos semelhantes. Após a morte de Nasser, a própria canção caiu na obscuridade e chegou a ser censurada, já que seu nome é aí mencionado várias vezes (vai entender esses militares, né). Em 2002, nos 50 anos da “revolução”, a TV egípcia voltou a transmitir Sora, sora (a Wikipédia não menciona se se trata do clipe), mas tendo cortado a parte que menciona Nasser. E a única que o menciona é exatamente a que prefiro e que trouxe aqui traduzida... Curiosamente, a Wikipédia em árabe egípcio traz apenas os nomes do cantor e dos compositores, além da letra completa (ausente na versão padrão), que inclui o típico uso local de “ى” final sem pontos (idêntico ao chamado “alif maqsora”) no lugar do “ي” (y) padrão. Recoloquei este último onde fosse necessário.

Como texto-base, usei o dado na Wikipédia em árabe egípcio e joguei no Google Tradutor, tendo confrontado o resultado com uma tradução em inglês que achei, atribuída a um perfil assinado apenas como Farah. Quando necessário, procurei palavras isoladas no Wiktionary ou traduzi no próprio Google mesmo, chegando a um resultado que pode não estar literal, mas parece “soar melhor” em português, embora meu árabe ainda seja incipiente. Não procurei evitar as repetições ao trazer as duas letras: muito pelo contrário, diferente do que acontece nas transcrições, sempre reescrevi os versos repetidos ou indiquei quando isso acontecia.

Tenho muito orgulho desta publicação, porque ela fecha um grande ciclo que começou lá em 2007, quando eu mal sabia mexer no YouTube e o Pan-Eslavo Brasil só apareceria em 2010, e chega até aqui, com um mundo de inovações tecnológicas tornando o conhecimento sempre mais acessível. Dedico a você:




2x:
Juro por Deus, estamos tão bonitos
Meus caros, digo do fundo do coração
Juro por Deus, estamos tão bonitos
Meus caros, digo do fundo do coração
Nossa revolução é nossa foto, como é bonita
Nossa revolução é nossa foto, como é bonita
Na moldura da organização popular

Nasser, estamos todos a seu redor
Nasser, Nasser, Nasser
Nossos olhos estão todos sobre nele
Nasser, Nasser, Nasser
A vitória o persegue
Nasser, Nasser, Nasser
O povo é seu guia e inspiração
Nasser, estamos todos a seu redor
Nasser, Nasser, Nasser
Nossos olhos estão todos sobre nele
Nasser, Nasser, Nasser
A vitória o persegue
Nasser, Nasser, Nasser
O povo é seu guia e inspiração
Aproximem-se de seus pensamentos e sonhos
Se vocês vivem falando mal dele
Aproximem-se de seus pensamentos e sonhos
Se vocês vivem falando mal dele
Na foto, o discípulo está na frente dele
Líderes vindos do povo, o que vocês disseram?

Nasser, estamos todos a seu redor
Nasser, Nasser, Nasser
Nossos olhos estão todos sobre ele
Nasser, Nasser, Nasser
A vitória o persegue
Nasser, Nasser, Nasser
O povo é seu guia e inspiração
Aproximem-se de seus pensamentos e sonhos
Vocês que vivem falando mal dele
Aproximem-se de seus pensamentos e sonhos
Vocês que vivem falando mal dele
Na foto, o discípulo está na frente dele
Líderes vindos do povo, o que vocês disseram?

Dissemos: Ó, líder, aqui estão nossos corações
Aqui estão nossos dias e nossas noites
Dissemos: Ó, líder, aqui estão nossos corações
Aqui estão nossos dias e nossas noites
No dia do sangue, nós demos sangue
Por que deveríamos poupar nossas noites?
No dia do sangue, nós demos sangue
Por que deveríamos poupar nossas noites?
Dissemos: Ó, líder, aqui estão nossos corações
Aqui estão nossos dias e nossas noites
No dia do sangue, nós demos sangue
Por que deveríamos poupar nossas noites?

4x:
Agora a foto está completa
Com os pioneiros de mãos dadas com Nasser

3x:
O povo e sua pátria, o povo e sua pátria
Seu tempo e seu trabalho, seu tempo e seu trabalho
Sua esperança e seu herói, o mais corajoso

Tire uma foto, ó, tempo
Tire uma foto, ó, tempo
Tire uma foto, ó, tempo

____________________

2x:
حلوين قوي كده وحياه ربي
يا حبايبى بقولها من قلبي
حلوين قوي كده وحياه ربي
يا حبايبى بقولها من قلبي
ثورتنا صورتنا ومااحلاها
ثورتنا صورتنا ومااحلاها
في اطار التنظيم الشـعبي

ناصر واحنا كلنا حواليه
ناصر ناصر ناصر
وعيونا الدنيا عليه
ناصر ناصر ناصر
والنصر بيسعي اليه
ناصر ناصر ناصر
والشعب دليله والهامه
ناصر واحنا كلنا حواليه
ناصر ناصر ناصر
وعيونا الدنيا عليه
ناصر ناصر ناصر
والنصر بيسعي اليه
ناصر ناصر ناصر
والشعب دليله والهامه
قربوا من فكره واحلامه
ياللي عليكم كل كلامه
قربوا من فكره واحلامه
ياللي عليكم كل كلامه
في الصورة طالبكم قدامه
قيادات شعبية قلتم ايه؟

ناصر واحنا كلنا حواليه
ناصر ناصر ناصر
وعيونا الدنيا عليه
ناصر ناصر ناصر
والنصر بيسعي اليه
ناصر ناصر ناصر
والشعب دليله والهامه
قربوا من فكره واحلامه
ياللي عليكم كل كلامه
قربوا من فكره واحلامه
ياللي عليكم كل كلامه
في الصورة طالبكم قدامه
قيادات شعبية قلتم ايه؟

قلنا يا زعمنا قلوبنا اهي
ايامنا اهى ليالينا اهي
قلنا يا زعمنا قلوبنا اهي
ايامنا اهى ليالينا اهي
في يوم الدم، وهبنا الدم
هنبخل بالليالي ليه؟
في يوم الدم، وهبنا الدم
هنبخل بالليالي ليه؟
قلنا يا زعمنا قلوبنا اهي
ايامنا اهى ليالينا اهي
في يوم الدم، وهبنا الدم
هنبخل بالليالي ليه؟

4x:
والصورة اكتملت بالرواد
مع ناصر وايدهم في ايديه

3x:
الشعب ووطنه، الشعب ووطنه
وزمنه وعمله، وزمنه وعمله
وامله بطله ابو الشجعان

صور يا زمان
صور يا زمان
صور يا زمان



sábado, 8 de fevereiro de 2025

Os caçadores de pepecas ruSSas


Endereço curto: fishuk.cc/pepeca-ru


O cartaz da época da 2.ª Guerra Mundial acima, que representa a confraternização entre um camponês ucraniano e um soldado do Exército Vermelho (também há originalmente acima deles uma frase de Stalin traduzida pro ucraniano...), geralmente é interpretado pela mauvadêsa ossidentau como “algo a mais”, por assim dizer. Dessa forma, ele foi meu suporte ideal pra que eu pudesse fazer um trocadilho com o Z comumente usado pelos defensores da agressão putinista à Ucrânia e uma frase popular que reza: “Odín raz, ne pidorás” (literalmente, “Uma vez, não (é) veado” – os termos nas duas línguas são pejorativos). Se refere ao (suposto) fato de que, se vocêfoi “sodomizado” só uma vez, não significa necessariamente que você seja homossexual. Infelizmente, a fita de São Jorge da resistência antinazista foi deturpada com esse fim, mas mesmo assim coloquei também na última palavra, já que no final de ambas o som é o mesmo...

Também é uma forma de criticar aqueles que, embora cultivando a memória da “Grande Guerra Patriótica” (e esquecendo os crimes internos e externos de Stalin de 1939 a 1941), legitimam a invasão em curso, ignoram os efeitos sobre a própria sociedade russa e adotam uma visão de mundo retrógada e reacionária que faria inveja a qualquer fascista da década de 1930. Curioso que muitos “escravocetas” bananeiros tenham essa imagem idealizada da Rússia, não somente das mulheres “loiras, perfeitas e parecendo modelos”, mas também comprem essa visão parcial e idealizada da história e esqueçam os outros povos não eslavos que lá vivem, sobretudo na Sibéria e no Cáucaso. Quem me acompanha desde o Pan-Eslavo Brasil sabe que sempre tentei resgatar os tártaros, chechenos, circassianos etc., tão dignos de serem conhecidos quanto os “rússkie” eslavos. Mais curioso ainda: os “ruscistas” (fascistas russos) gostam de pôr em relevo essa “diversidade de povos” e o “respeito” à mesma diversidade, mas quando acontece alguma coisa envolvendo imigrantes, os inocentes entre estes são os primeiros a apanhar, e os “ruscistas”, os primeiros a bater.

Esses dias tenho mexido um pouco no aplicativo Tandem, pra achar parceiros de prática de idiomas ao redor do mundo. Claro, há vários recursos acessíveis apenas a assinantes (mas há uma semana de teste grátis no começo pra “fazer a festa”!), mas apesar das limitações, na verdade poucas, da conta gratuita, recomendo seu uso. E, sobretudo, se você tiver tempo, ao contrário de mim, de ficar de papo furado na internet com gente desconhecida, desta vez pelo menos com a vantagem de usar outras línguas e conhecer outras culturas, rs. Já usei várias vezes e apaguei a conta por falta de paciência, portanto, não sei até onde vai durar a minha atual. Mesmo assim, com o acesso ao Premium, já fiz alguns experimentos sociológicos interessantes, como colocar o russo como língua materna, o português como língua de aprendizado e ver o que aparecia nas recomendações. Me deparei com esta conta, que desidentifiquei por razões óbvias, mas que comprova a tendência supracitada: a de normalizar qualquer contato com a Rússia num momento em que, além de um genocídio, um culturicídio e, certamente, um ecocídio (barragem de Nova Kakhóvka...), ela está dilapidando sua própria integridade como Estado funcional – a “deliquescência”, no jargão especializado.

Muitos me acusariam de “russofobia”, porque o interesse do rapaz (ele ia levar a família toda?...) seria apenas “na cultura russa”, e não no “regime” ou na “ditadura”. Olha, sinceramente, alguém que está totalmente por fora do caos que a governança moscovita se tornou, e que mesmo assim deseja viver num país que claramente provocou uma guerra não justificável por qualquer outra birra pra com o Ossidentx Mauvadaum, ou é muito burro, ou é cúmplice do putinismo. Ora, cultura russa, excetuada a internet, você encontra em muito lugar com diáspora, não precisa ir se lascar num país empobrecido e que sequer tá recebendo bem estrangeiros, nem mesmo os da Ásia Central.

Grazadeus, não brigo nas redes há anos, mas confesso que umas semanas atrás quase tive uma altercação com um senhor (não especialista, claro, e sob efeito de vinho) de meu bairro, porque estávamos conversando sobre as histórias da URSS e do “começo” da Rússia. Ele começou a defender a agressão militar falando de “neonazismo, OTAN, mísseis apontados” e toda a célebre lorota. Eu fiquei bem perturbado quando percebi que ele tava realmente convencido do que falava, e por isso parei a conversa, e mantivemos nossa relação cordial. Quando expus parte de minha opinião (gente, assisto a TVs russas ou belarussas exiladas todo santo dia!), ele falou que eu não devia ser tão “extremista”, embora eu não saiba por que defender um país agredido seria “extremismo”, apenas porque em tese (e por enquanto!) ele se encontra na órbita de influência dos EUA. O único extremista nesta história é o espião frustrado Vladímir Vladímirovich e toda a cambada de torturadores e ladrões que o rodeia!

Esse que quer viver na Rússia, sinceramente espero que obtenha a nacionalidade o mais rapidamente possível, seja astutamente embrulhado num enrosco qualquer que o obrigue a participar da “operação especial” bem na linha de frente e seja honrado eternamente como um defensor da Pátria na lista dos que viraram adubo de viburno...



Em compensação, também encontrei uma acadêmica ucraniana (que estava sob pseudônimo), ainda residente no próprio país e com uma visão bastante reveladora dos machos que usavam o Tandem e, sobretudo, escolhiam o russo como uma das línguas de aprendizado. Segue abaixo a parte principal de nosso diálogo, trazida sem a autorização dela e, portanto, sem identificação fácil de encontrar. Deixo a vocês a tradução, e apenas contextualizo que no início, perguntei sobre o que ela queria conversar, e que quando ela fala em “disputes”, se refere às brigas que acaba tendo com os tipos:




terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

A mãe do caçula de Lukashenka


Endereço curto: fishuk.cc/abelskaia

Certa vez, brinquei com uma amiga belarussa chamando Aliaksandr Lukashenka de “bátska” (algo como “papai”, “painho”, equivalente ao russo “bátko”), que é como o gado dele, seus apoiadores e a propaganda oficial em Belarus o chamam. Ela me respondeu rispidamente, sem perder o afeto: “Ninguém o chama de batska, afinal ele não é pai de ninguém. Aqui, nós o chamamos de dyktátar mesmo.” Sim, “ditador”, como ele mesmo várias vezes assumiu descaradamente ser.

E como todo ditador, incluindo Putin, sua vida privada, especialmente a familiar, é mantida no mais rígido sigilo, sem a preocupação de passar a imagem de “família nuclear cristã tradicional” (embora, ao contrário da Rússia, a religião não seja necessariamente uma coluna da ditadura de Lukashenka) que eles tentam impor ao vulgo. E também como todo ditador, incluindo novamente Putin, e mais uma vez em contraste com a rigidez moral que se pretende passar, as puladas de cerca são recorrentes, sem a mínima necessidade de prestar contas às esposas oficiais.

Caso você não saiba, foi descoberta uma suposta filha do inquilino do Kremlin nascida em 2003, Elizavéta (Liza) Krivonógikh, do sobrenome da mãe, Svetlána, ex-faxineira, formada em Economia e acionista do banco Rossía, não por acaso, administrado por um amigo de Putin. Também conhecida nas redes como Luíza Rózova, estaria vivendo em Paris sob o nome Elizaveta Rudnóva, sobrenome emprestado a mais um próximo do ditador, já falecido. A semelhança visual com o jovem de cara lambida espantou a todos, mas quando sua possível paternidade se tornou pública, ela começou a esconder o rosto, apagar as fotos da cara e, enfim, fechou os perfis. Tire você mesmo as conclusões sobre ambas...






No caso de Lukashenka, a coisa é mais complexa. Oficialmente, ele se casou com a pedagoga Halína Zhauniaróvich (nome de solteira) em 1975 e ela ocupa, portanto, o cargo de primeira-dama de Belarus. Seus dois filhos, Víktar e Dzmítry, têm alguma relação direta ou indireta com a política estatal, sendo Víktar, por exemplo, acusado de colaborar na cruenta repressão às manifestações de 2020. Porém, desde 1994 (ou seja, quando o ditador foi democraticamente eleito e tomou posse), e apesar de jamais se ter anunciado publicamente o divórcio, eles não vivem juntos, e também juntos quase não são vistos em eventos públicos, preferindo o ditador participar deles como se fosse solteiro. Assim como o suserano do Leste...

Porém, há muitos anos, Lukashenka aparece acompanhado de um menino loiro e elegante, posando como “filho”, e atualmente ele está muito alto e bastante atlético, embora também seja discreto nas redes sociais e praticamente não dê entrevistas. Trata-se de Mikalái Lukashenka (em russo, seria “Nikolái”, por isso também é chamado de “Kólia”), nascido em 2004 de uma suposta relação extraconjugal com Irýna Abélskaia, pediatra, endocrinóloga e sua ex-médica pessoal (pensou na semelhança com algum Gaddafi?...) que tinha assumido o posto em 1994. Ela também raramente aparece ao lado de qualquer um dos varões, embora leve igualmente uma vida de luxo, tal como a “oficial” do ditador e a ex de Putin.

Segue abaixo a tradução de três fontes, as quais misturei e privei de repetições, sobre a biografia de Abelskaia, o “aparecimento” de Mikalai e sua relação com Lukashenka, a começar pela própria Wikipédia em russo. Também me vali de um artigo assinado por Anna Konakova pro portal 24SMI e de um artigo (versão em russo) assinado por Katsiaryna Hardzeieva pro portal belarusso de oposição Nasha Niva. Quando achei importante, também adicionei precisões por conta própria, e sempre que possível, transliterei os nomes próprios conforme sua versão em belarusso, e não em russo.



Num dos perfis ativos de Mikalai, esta última atualização antiga na comemoração do Dia da Vitória contra os nazistas recebeu um comentário mais ou menos recente: “O filho é digno do pai e da mãe que tem.” Outro, cujo nome de usuário curiosamente significa em belarusso “A ditadura vai ruir”, responde: “As p*tas vão parar na cadeia.”


De nome completo Irýna Stsiapánauna Abélskaia, nasceu em Brest em 6 de setembro de 1965. Com doutorado em Medicina, de 2001 a 2007, e novamente desde 2009, é médica-chefe do Centro Médico Republicano da Administração Presidencial da República de Belarus. Sua nomeação aos 36 anos pro cargo foi considerada fulgurante, pois esse centro, desde os tempos soviéticos, tratava tradicionalmente de altos funcionários, políticos, artistas, atores e cientistas. Sua mãe, Liudmýla Postoiálko, nascida na província ucraniana de Poltava, foi ministra da Saúde de Belarus de 2002 a 2005, e sua fulgurante ascensão é atribuída por muitos justamente à carreira da filha. No final de 2005, Postoialko deixou o ministério por estar gravemente doente com câncer, mas curiosamente manteve a cadeira no Conselho da República, câmara alta do parlamento, até sua morte, em 2007. Não surpreende que Abelskaia seria eleita pro mesmo conselho em 2024: seus membros são escolhidos indiretamente pelos órgãos locais ou, numa cota de oito membros, nomeados diretamente pelo presidente.

De 1994 a 2001, Abelskaia trabalhou como médica no hospital da direção central de um dos complexos médicos da administração presidencial e, ao mesmo tempo, como médica pessoal de Lukashenka. Com o estabelecimento do cargo de preisdente de Belarus, que substituía o de presidente do antigo Soviete Supremo, decidiram também lhe guarnecer de um médico pessoal, e a Administração Presidencial decidiu (sabe-se lá por que critérios) que o perfil ideal pro cargo seria uma mulher divorciada, mas sem companheiro, com cerca de 30 anos, boa aparência (!) e mãe de uma criança, de preferência menino. Após busca em todas as clínicas da capital Minsk, a escolha recaiu sobre Abelskaia. No outono de 1994, ela foi transferida com urgência pra trabalhar na comissão médica e foi designada pra equipe do departamento de endocrinologia como médica de categoria superior. Ela quase nunca aparecia na clínica, mas desde então começou a acompanhar sempre o futuro ditador por todo lado.

Abelskaia era frequentemente vista ao lado de Lukashenka, mesmo durante viagens internacionais, e aos poucos começou a ser considerada uma das mulheres mais próximas dele. Assim, o administrador da Presidência de Belarus, Iván Tsitsiankóu, embora formalmente superior à médica, recordou que “transmitia através de Irýna Stsiapánauna” as demandas feitas ao presidente. Que ela era responsável não só pela saúde do ditador ficou claro durante sua primeira e única visita oficial à França, em 1996. Violando todos os cânones diplomáticos, Lukashenka ordenou que o ministro do Exterior belarusso fosse tirado de seu quarto pra que Abelskaia se deslocasse pra lá: o quarto ficava ao lado do quarto do próprio Lukashenka. Depois disso, ninguém ficou surpreso quando soube que ela tinha se mudado pra residência presidencial em Drazdý, distrito de elite em Minsk onde vivem funcionários do governo e pessoas intimamente ligadas ao ditador.

Enquanto estava na faculdade, Abelskaia conheceu seu futuro marido, Iauhén Abélski. Logo depois, se casaram e tiveram o filho Dzmitry Abelski. No entanto, logo se divorciaram e sozinha ela criou o filho, que se tornaria oftalmologista. Abelskaia é dona de uma villa em Drazdý. Quanto à religião, ela se declara ortodoxa praticante. Quem a conheceu pessoalmente, afirma que ela permaneceu uma pessoa modesta e tranquila, pra alguém que ascendeu à Administração Presidencial de Belarus.

Em 31 de agosto de 2004, ela teve outro filho, Mikalai: segundo a mídia independente, trata-se do segundo filho ilegítimo de Lukashenka (ver abaixo sobre o primeiro). Os boatos surgiram no final dos anos 2000, até que o ditador apareceu pela primeira vez em público com o menino em abril de 2008, quando ele tinha 3 anos e 7 meses. Lukashenka logo confirmaria que sim, Kolia era seu filho, mas não revelou o nome da mãe, dizendo apenas que trabalhava como médica. Isso deu motivos pra pensar que Abelskaia tinha dado à luz o herdeiro mais jovem do ditador, mas nada jamais foi oficialmente confirmado. Mikalai aparece em eventos com o pai, mas não há fotos do jovem junto com a suposta mãe em fontes oficiais.

Agora um pouco de “trivia”, rs. Pra manter a forma, Abelskaia abriu mão de farinha e doces, além de batatas, o que é considerado impensável pra uma representante da nacionalidade belarussa. Todos os dias, acorda às 5h30min e começa o dia com uma caminhada na companhia de seu cachorro. Ela tenta caminhar pelo menos 5 km e, quando tem tempo livre, anda de bicicleta.


  

Infelizmente, como revelou a agência Nexta em abril de 2021, toda essa história também tem um lado triste. Lukashenka e Abelskaia teriam outro filho juntos, mais velho do que Mikalai, mas cujo destino seria totalmente desconhecido do público. Segundo a Nexta, teria sido registrado como Matséi (Matvéi, em russo) Postoiálko, nascido em 30 de novembro de 2002, e sofreria de autismo, retardo mental e microtia (subdesenvolvimento do ouvido externo). Ele foi registrado com o sobrenome de solteira de sua mãe porque o “casal” temia que uma criança deficiente prejudicasse a carreira política de seu pai.

Na época da primeira foto, revelada apenas muitos anos depois, Matsei tinha 10 ou 11 anos, e a segunda foto consegui localizar numa espécie de base de dados russa, não tendo relação, portanto, com a Nexta. Depois, nenhuma outra foto do menino jamais apareceu em qualquer veículo ou plataforma.

Vejam só, aquele que é chamado de “batska” pela propaganda abandonou um filho inválido! Matsei vive atualmente no internato psiconeurológico pra idosos e deficientes n.º 2 na rua Vaupshásava, em Minsk, mas nada faltaria pra seu cuidado, tratamento e alimentação. Porém, quando Lukashenka soube da gravidez de Mikalai, teria chegado a entrar em altercação com Abelskaia, pois tinha medo que o mesmo fenômeno se repetisse. Por isso mesmo, dizem, ele teria demorado anos pra mostrar Kolia ao público, esperando que não demonstrasse problemas em seu desenvolvimento...


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Redes sociais manipulam opinião?


Endereço curto: fishuk.cc/rede-manipula


A imagem acima não é manipulada: eu mesmo encontrei em fontes diferentes e coloquei lado a lado Donald Trump e Saddam Hussein, duas mentalidades autoritárias, segurando um sabre em posição erguida. Sim, Trump fez isso no dia da posse, e quando o inacreditável vídeo apareceu num programa francês, foi a primeira coisa que pensei, e curiosamente um dos participantes teve a mesma ideia. A tradução que fiz desta entrevista em francês foi o ensejo pra que eu pudesse publicar as duas fotos lado a lado.

A entrevista foi publicada no portal da RFI em 17 de janeiro de 2025, como parte do programa Por que a RFI está falando isso?, apresentada pela jornalista Juliette Rengeval, que conversou com Steven Jambot, repórter de mídias digitais da mesma emissora. Eles abordam a sobrevivência dos grandes veículos de informação numa época em que as pessoas parecem só se informar nas redes sociais, geralmente com conteúdo produzido de qualquer jeito e por pessoas não especializadas. Dada a importância do conteúdo, publiquei abaixo tanto a tradução quanto a transcrição do áudio original, cujo trecho separei do resto do podcast e pode também ser ouvido a seguir:


Juliette Rengeval – Nos Estados Unidos, a ascensão de Donald Trump ao poder tem raízes sociais e econômicas, mas foram também as redes sociais que lhe deram a vitória: X, Facebook, Instagram, inicialmente redes para socializar, depois para se informar e que podem transformar numa máquina formidável de manipulação da opinião. Em todo caso, a perspectiva preocupa a União Europeia e os profissionais da imprensa. Olá, Steven Jambot! Toda semana, você analisa em seu programa as notícias sobre a mídia na era digital. Que papel, então, uma mídia tradicional como a nossa pode desempenhar em nossos tempos?

Steven Jambot – Então, pra simplificar, se olharmos, por exemplo, um site de notícias como o da RFI, se olharmos o público do site da RFI, ele se divide de três maneiras, digamos: 60% do tráfego no site da RFI é o que chamamos de “consciência de marca” [brand awareness], ou seja, pessoas acessando a página inicial da RFI ou abrindo o aplicativo da RFI. Então, isso é 60% do público. 30% do público vêm da pesquisa, de mecanismos de busca – Google, em sua grande maioria. E os 10% restantes vêm de redes sociais ou outras fontes de tráfego, como newsletters ou outros. Eis que essa proporção é o tráfego de entrada no site da RFI. Isso é pra dar uma ideia da proporção, pra dizer que sim, as redes sociais estão aí, são hiperpresentes, mas também não representam tudo. Então, se amanhã fosse feita a escolha de não estar mais nesta ou naquela plataforma, bem, também não cortaríamos um braço, já que as pessoas sabem que veículos como a RFI têm ambientes próprios. E o desafio agora é dizer que nem tudo acontece nas redes sociais, que existem também nossos sites, nossos aplicativos, que são ambientes sobre os quais nós, as agências, temos o controle e pelos quais difundimos a você informação de qualidade, produzida com rigor e honestidade, com padrões de ética e conduta profissional que nem todos necessariamente compartilham.

Rengeval – Tem-se a impressão que as redes se tornaram uma máquina formidável de fabricação da opinião e, talvez, nem tanto de difusão de informações que iluminem o mundo. Pra uma empresa como a Rádio França Internacional, pra qual você e eu trabalhamos, é complicado?

Jambot – Digamos que é complicado, porque de fato as redes sociais têm sido uma oportunidade pra muitas pessoas ao redor do mundo: lembramos das “primaveras árabes”, por exemplo, que aconteceram no Facebook. E então, nós, jornalistas, tivemos que utilizar as redes sociais e as utilizávamos como um território de investigação e reportagem, já que antes das redes sociais, era o jornalista quem escrevia o primeiro rascunho da história. Mas com as plataformas sociais, qualquer pessoa com um celular estava em posição de mencionar o presente, tirar fotos, gravar vídeos. E então nós, jornalistas, tivemos que nos apoderar que dessas plataformas pra contar a história, contá-la de outro jeito. E agora percebemos que essas plataformas estão sendo cada vez mais usadas pra espalhar desinformação. Então temos que estar mais vigilantes do que antes.

Rengeval – Como podemos ser mais vigilantes do que antes? Quais são as boas armas pra um jornalista usar nas redes sociais, agora que, seja no X ou no Facebook, vemos que não há mais checagem de fatos [fact-checking], ou que logo não vai haver mais?

Jambot – É sempre uma questão de estar vigilante, de demonstrar bom senso, de se perguntar várias vezes: “Este material, esta foto que estou vendo, o que é? Quem está a divulgando? Existe algo, alguém ou uma ideia por trás?” E também é bom pegar o telefone às vezes só pra fazer ligações, descobrir se é verdade, sim ou não, e ir até o local, encontrar as pessoas pra fazer nosso trabalho, que é a investigação e a reportagem.

Rengeval – Falamos das redes sociais, que são uma fonte de informação pra muitos ouvintes, jovens ou nem tanto. Essa é a principal fonte de informação hoje?

Jambot – Digamos que é uma fonte de informação gratuita para todos: você não paga pra se registrar no Facebook, no Twitter ou no WhatsApp. Portanto, não há custo de entrada, como às vezes acontece quando compramos um jornal e pagamos pra ter acesso a esta ou aquela fonte de informação. Então isso é verdade pra muitas pessoas: a primeira coisa que elas fazem de manhã é pegar o celular e olhar suas contas do Facebook. Elas consomem informações nas redes sociais. Então sim, podemos dizer que eles se informam por essas redes, quer queiram ou, às vezes, não. Elas nem sempre tomam a iniciativa de recorrer à mídia tradicional, assistir à televisão, ouvir rádio e se preocupar em se informar bem com fontes consideradas confiáveis. Mesmo quando não queremos nos informar, as informações chegam até nós e, às vezes por aí mesmo, muita desinformação também.

Rengeval – Você estava falando sobre o custo, mas ouvir a RFI ou acessar o site da RFI é de graça.

Jambot – Sim, de fato, é gratuito, mas nem todo mundo necessariamente toma mais essa atitude. Alguns veículos também precisam se questionar. Então, como jornalistas, sempre nos perguntamos: com quem estou falando e como estou falando com essa pessoa? Então, alguns veículos estão começando a falar diferente, a mudar o formato, o modo como produzem informações, às vezes a maneira como falam no microfone. E é aí que alguns veículos conseguem se superar trabalhando o tom, por exemplo, falando diferente, tentando falar com as pessoas estando mais próximos delas. Tem que soar verdadeiro, e nós, como jornalistas, temos que voltar ao básico: é bom sair e encontrar pessoas, produzir informação de qualidade, deixar falarem as vozes de um lado, as vozes do outro. Por quê? Tentando nivelar nossos ouvintes por cima, dizendo a nós mesmos que todos são inteligentes, não nos pomos a dizer às pessoas como elas devem pensar, mas a lhes dar as chaves pra que possam ter êxito no quê? Em ser cidadãos, pessoas bem informadas e esclarecidas.

Rengeval – Pra ajudar as pessoas que, apesar de tudo, vão continuar nas redes sociais, precisamos da educação midiática, aumentar as ações de checagem de fatos?

Jambot – Olha, pra mim, a educação midiática é realmente fundamental. E em todas as idades, já que sempre costumamos dizer: “Educação midiática, devemos ensinar os jovens a se informarem bem, os estudantes do ensino fundamental e médio e os jovens universitários devem saber aonde ir pra se informarem bem.” E, de fato, estudos mostraram que quem mais espalha desinformação são pessoas de 50, 60 anos, geralmente homens, que espalham tudo e qualquer coisa de seus computadores. Então sim, a educação midiática e informativa é fundamental. O que isso significa? Saber o que é um veículo de qualidade e, portanto, questionar quem é o dono desse veículo. Significa também saber diversificar suas fontes de informação. No mundo de hoje, temos uma infinidade de veículos nos quais podemos encontrar informações de qualidade.

A seguir, a checagem de fatos: você a via por toda parte, de fato, é fundamental fazer checagem de fatos, mas às vezes os jornalistas não podem desperdiçar energia demais querendo checar fatos desinteressantes ou que são justamente informações falsas produzidas de propósito pra fazer os verificadores perderem tempo com esses conteúdos. Então, os jornalistas devem se questionar, saber distinguir quando há um sinal forte, um sinal fraco, se há uma empresa de desinformação enviando conteúdo de desinformação, essencialmente bombas de desinformação. Se dezenas de milhares de postagens são enviadas a um determinado lugar, pode valer a pena dominá-las. Mas é preciso ter cuidado pra não perder de vista que, por vezes, essa desinformação é produzida deliberadamente com esse aspecto de “carpet bombing” [técnica militar dos bombardeios de saturação] pra que jornalistas e verificadores se precipitem, de cabeça baixa, com o risco de deixarem passar outra informação, essa sim, muito mais interessante e importante.

Rengeval – Certo. Então, checagem de fatos, sim, mas é preciso identificar com sabedoria as informações que são válidas. Pode nos dar um exemplo de informação que não precisaria ser verificada?

Jambot – Se eu lhe dissesse, por exemplo, que hoje em Paris havia torrentes de lama descendo do Sacré-Cœur em Montmartre até o Moulin Rouge. Que eu lhes transmita um vídeo, mostre um vídeo e lhes diga: "Olhe essas imagens, é incrível" e tudo mais, e que esse vídeo foi muito compartilhado por pessoas do outro lado do mundo. Vale mesmo a pena checar esses fatos ou perder tempo telefonando pra Prefeitura de Paris? Cabe a nós, jornalistas, ir lá tirar uma foto do Sacré-Cœur, do Moulin Rouge, e ver que, realmente, não há água nenhuma correndo. Hoje, aliás, na verdade nem choveu, então não houve dilúvio algum em Paris. Não vou perder tempo verificando esse tipo de coisa, há muitas outras coisas que merecem atenção. E também precisamos admitir que produzir imagens, sejam fotos ou vídeos, usando inteligência artificial está ficando cada vez mais barato. Então, entendemos por que vemos cada vez mais material sendo difundido nas redes sociais e, portanto, cabe a nós, jornalistas, ficar cada vez mais alerta.



Juliette Rengeval – Aux États-Unis, l’arrivée au pouvoir de Donald Trump a des racines sociales et économiques, mais ce sont aussi les réseaux sociaux qui ont fait son élection : X, Facebook, Instagram, des réseaux pour socialiser d’abord, ensuite pour s’informer et qui pourraient se transformer en une formidable machine à manipuler l’opinion. La perspective inquiète, en tout cas, l’Union européenne et les professionnels de la presse. Bonjour, Steven Jambot ! Vous auscultez l’actualité des médias à l’ère du numérique toutes les semaines dans votre émission. Quel rôle peut alors jouer un média traditionnel comme le nôtre, dans notre époque ?

Steven Jambot – Alors, pour faire simple, si on regarde par exemple un site d’informations comme celui de RFI, si on regarde les audiences du site internet de RFI, elles se divisent de trois façons, on va dire : 60% du trafic sur le site internet de RFI est ce qu’on appelle la « notoriété de marque », c’est-à-dire des gens qui vont sur la page d’accueil de RFI ou qui ouvrent l’application de RFI. Voilà, ce sont 60% de l’audience. 30% de l’audience, c’est de la recherche, des moteurs de recherche – Google, dans son immense majorité. Et les 10% restants, ce sont des réseaux sociaux ou d’autres sources de trafic de type infoletter, newsletter ou autre. Voilà donc, cette proportion-là, c’est le trafic entrant du site internet de RFI. C’est pour vous dire un peu la proportion, de vous dire que les réseaux sociaux, certes, sont là, ils sont hyperprésents, mais ils ne représentent pas non plus tout. Donc si demain le choix était fait de ne plus aller sur telle ou telle plateforme, eh bien, on ne se couperait un bras non plus, puisque les gens savent que les médias comme RFI ont des environnements propres. Et l’enjeu actuellement, c’est de dire que tout ne se passe pas sur les réseaux sociaux, qu’il y a également nos sites, nos applications qui sont des environnements sur lesquels nous, médias, avons la main et sur lesquels nous vous diffusons de l’information de qualité, produite avec rigueur, avec honnêteté, avec des standards d’éthique et de déontologie que tout le monde ne partage pas forcément.

Rengeval – On a l’impression que les réseaux sont devenus une formidable machine à fabriquer de l’opinion et peut-être plus tellement à fournir de l’information qui éclaire sur le monde. Pour une entreprise comme Radio France Internationale, pour laquelle on travaille, vous et moi, c’est compliqué ?

Jambot – On va dire que c’est compliqué, parce qu’effectivement les réseaux sociaux ont été une chance pour de nombreuses personnes à travers le monde : on se souvient des « printemps arabes », par exemple, qui se sont passés sur Facebook. Et donc pour nous, journalistes, on devait se servir des réseaux sociaux et on se servait des réseaux sociaux comme un territoire d’enquête, de reportage, puisqu’avant les réseaux sociaux, c’est le journaliste qui rédigeait le premier brouillon de l’histoire. Mais avec les plateformes sociales, tout et chacun avec un téléphone portable était en mesure de référencer le présent, de prendre des photos, de faire de la vidéo. Et donc nous, journalistes, on a dû se saisir de ces plateformes-là pour raconter l’histoire, raconter l’histoire autrement. Et on se rend compte maintenant que ces plateformes-là sont de plus en plus utilisées pour diffuser de la désinformation. Donc on doit faire preuve de davantage de vigilance qu’auparavant.

Rengeval – Comment on fait preuve de plus de vigilance qu’auparavant ? C’est quoi, les bonnes armes d’un journaliste pour aller sur les réseaux sociaux, alors, que ce soit X ou que ce soit Facebook, on voit qu’il n’y a plus de fact-checking, ou qu’il n’y en aura plus bientôt ?

Jambot – C’est toujours déjà d’être vigilant, de faire preuve de bon sens, de se poser plusieurs fois la question de savoir : « Cette matière-là, cette photo que je vois, qu’est-ce que c’est ? Qui la diffuse ? Y a-t-il quelque chose, quelqu’un, une idée derrière ? » Et puis aussi, c’est bien de décrocher son téléphone parfois tout simplement pour passer des coups de fil, savoir si c’est vrai, oui ou non, et d’aller sur le terrain, d’aller à la rencontre des gens pour faire notre métier, qui est l’enquête, le reportage.

Rengeval – On parle des réseaux sociaux, c’est une source d’information pour de nombreux auditeurs, jeunes ou moins jeunes. Est-ce que c’est la principale source d’information aujourd’hui ?

Jambot – On va dire que c’est une source d’information qui est gratuite pour tous et chacun : on ne paye pas pour s’inscrire sur Facebook, sur Twitter, sur WhatsApp. Donc il n’y a pas ce cout à l’entrée que représente le fait parfois d’acheter un journal, de payer pour avoir accès à telle ou telle source d’information. Donc c’est vrai pour plein de gens : la première chose qu’ils font le matin, c’est de prendre leur téléphone portable et de regarder leurs comptes Facebook. Ils consomment de l’information sur les réseaux sociaux. Donc oui, on peut dire qu’ils trouvent de l’information sur ces réseaux-là, qu’ils le veuillent parfois ou non. Ils ne font pas toujours la démarche d’aller sur des médias traditionnels, de regarder la télévision, d’écouter la radio et de faire attention à bien s’informer sur des sources qualifiées de fiables. Même quand on ne veut pas s’informer, on a de l’information qui vient à nous et parfois beaucoup du coup de désinformation aussi.

Rengeval – Vous parliez du cout, mais écouter RFI ou aller sur le site de RFI, c’est gratuit.

Jambot – Oui, effectivement, c’est gratuit, mais tout le monde n’a plus forcément cette démarche-là. Il faut que certains médias aussi se remettent en question. Donc on se pose toujours la question en tant que journaliste : à qui je parle, et comment je parle à cette personne ? Alors, certains médias se mettent à parler autrement, à changer leur format, la façon de produire l’information, la façon parfois de parler dans le micro. Et c’est là que certains médias réussissent à tirer leur épingle du jeu en travaillant le ton, par exemple, à parler autrement, essayer de parler aux gens étant plus proche d’eux. Il faut que ça sonne vrai, et pour nous il faut revenir aux fondamentaux en tant que journalistes : c’est bien d’aller à la rencontre des gens, de produire de l’information de qualité, de faire entendre les voix d’un côté, les voix de l’autre. Pourquoi ? En essayant de tirer nous auditeurs par le haut, en se disant que tout le monde est intelligent, on n’est pas là pour dire aux gens comment ils doivent penser, mais leur donner les clés pour qu’ils réussissent à faire quoi ? À être des citoyens, des gens bien informées qui soient éclairées.

Rengeval – Est-ce que pour aider les gens qui vont, malgré tout, aller toujours aussi sur les réseaux sociaux, il faut de l’éducation aux médias, il faut multiplier les actions de fact-checking ?

Jambot – Alors, l’éducation aux médias, pour moi, effectivement, elle est fondamentale. Et à tous les âges, puisqu’on a toujours tendance à dire : « L’éducation aux médias, il faut apprendre aux jeunes à bien s’informer, aux collégiens, aux lycéens, aux jeunes étudiants de savoir où aller pour bien s’informer ». Et en fait, des études ont montré que celles et ceux qui diffusent le plus de désinformation sont plutôt des gens de 50, 60 ans, souvent des hommes, d’ailleurs, qui derrière leurs ordinateurs diffusent tout et n’importe quoi. Donc oui, l’éducation aux médias et à l’information est fondamentale. Ça veut dire quoi ? Savoir qu’est-ce qu’un média de qualité, donc se poser la question de à qui appartient ce média. Ça veut dire aussi savoir diversifier ses sources d’informations. On a dans le monde actuel pléthore de médias sur lesquelles on peut trouver de l’information de qualité.

Ensuite, le fact-checking : vous en voyait partout, effectivement, c’est fondamental que de faire du fact-checking, mais il faut que les journalistes parfois ne perdent pas trop d’énergie à vouloir fact-checker des choses qui sont sans intérêt ou alors qui sont justement de la fausse information qui est produite à dessein pour faire que des fact-checkeurs perdent leurs temps sur ces contenus-là. Donc se poser la question pour les journalistes, savoir ce qui est de l’ordre du signal fort, du signal faible, s’il y a une entreprise de désinformation et que l’on envoie des contenus de désinformation, envoyant de façon majeure des bombes de désinformation, des dizaines de milliers de posts envoyés à tel endroit, cela peut valoir le cout de s’emparer. Mais il faut faire attention de ne pas perdre de vue que parfois cette désinformation, elle est produite volontairement avec ce côté « tapis de bombes » pour que des journalistes et des fact-checkeurs foncent dedans, tête baissée, avec le risque qu’ils passent à côté d’une autre information beaucoup plus intéressante et importante, celle-là.

Rengeval – D’accord. Donc des fact-checkings, oui, mais à bon escient il faut repérer l’information qui est valable. Est-ce qu’on peut citer un exemple d’information qui on n’aurait pas besoin d’aller fact-checker ?

Jambot – Si je vous disais, par exemple, qu’aujourd’hui à Paris il y a eu des torrents de boue qui ont dévalé du Sacré-Cœur de Montmartre jusqu’au Moulin Rouge. Que je vous diffuse une vidéo, je vous montre une vidéo et je vous dis : « Regarde ces images, c’est incroyable » et tout, et que cette vidéo-là, elle est très partagée par des gens à l’autre bout du monde. Est-ce que ça vaut vraiment la peine de fact-checker ça ou de perdre du temps à appeler à la mairie de Paris ? À nous, journalistes, se rendre sur place pour prendre une photo du Sacré-Cœur, du Moulin Rouge, de voir qu’effectivement, oui, il n’y a pas d’eau qui est en train de couler. Actuellement, d’ailleurs, il n’a pas vraiment plu aujourd’hui, ça n’a pas été le déluge à Paris, non. Je ne vais perdre le temps de fact-checker ce genre de chose, il y a beaucoup d’autres choses qui méritent de l’intérêt. Et il faut aussi réaliser que produire des images, que ce soient des photos ou des vidéos à partir d’intelligence artificielle cout de moins en moins cher. Donc on comprend pourquoi on voit de plus en plus de matières sur les réseaux sociaux qui sont diffusées, et donc à nous journalistes d’être de plus en plus vigilants.



domingo, 2 de fevereiro de 2025

Sexo e religião em good vibes...


Endereço curto: fishuk.cc/sexo-religiao


Pra voltar com as publicações regulares, um pouco de humor nesta página, rs. Às vezes pessoas comuns falam coisas aleatórias tão sábias, que mereciam viralizar mais, ou mesmo virar memes! Pra começar, um amigo meu me mandou um tempo atrás a entrevista de um ex-ator pornô chamado Alexandre Senna, cuja fonte não consegui encontrar, mas que deve datar do final dos anos 2000. Ou seja: pelas cercas de mil (!) cenas de sexo que ele teria rodado, seu trabalho deve remontar à época do VHS que se vendia escondido atrás da parece frontal das bancas de revista...

Não vou julgar sobre onde meu amigo obtém esse tipo de conteúdo... mas parece ter saído de uma página de entretenimento (como chamaríamos hoje) LGBT, ou sopas de letrinhas maiores. Senna estava na inauguração de uma boate em São Paulo capital, que incluía, além de outras “diversões adultas”, atrações como esta, na qual ele está debruçado: uma piscina de água quente. Confesso que não é o tipo de conteúdo que curto muito, mas como o ex-ator pronunciou a sábia cena que separei abaixo, não pude deixar de compartilhar, sobretudo com essa proliferação de neoinquisidores como a Ana Campagnolo vindos de todos os lados.

O segundo achei por acaso, procurando outro conteúdo, mas é um senhorzinho anônimo cujo estado não localizei, mas que se identifica como José “Dudé” Tavares. Na publicação de 2017, e aparentemente sem a integridade de suas faculdades mentais, ainda assim (no meio de uma faladeira muito maior) ele diz algo que deveria derreter até o mais duro dos corações bolsonaristas. Se alguém souber de quem ele está falando, ficaria muito feliz de ser informado nos comentários... Divirta-se:


Sexo não tem nada a ver com vida pessoal, não tem nada a ver com família, não tem nada a ver com profissão. Sexo é quando você fecha a porta, é um mundo aonde você viaja, aonde [sic] você faz o que você quer. Se é algo que não vai te prejudicar, algo que não vai te ferir, tá aberto a tudo.


Gente, quando eu digo assim: “Tudo bem, eu não sou contra você ter uma religião ou não.” Mas não é... coloque na sua cabecinha: não é a religião, ou evangélica, ou católica, ou espírita, ou budista que salva, não! Bispo, papa, padre, pastor não salvam ninguém, sabe por quê? Porque são homens, e homem é pecador! Só tem um homem na Terra que cura, porque esse tem o dom de Deus, ele nasceu com o dom de Deus para ser médico, então esse cura. Esse sara e esse cura, é o único. Mas pastor, padre, papa, bispo não cura ninguém. Igreja não ajuda ninguém. Igreja, me desculpe, só atrapalha a vida das pessoas.


O pior é que depois ele “canta” também, rs. Vai encarar???