Uma das manifestações artísticas mais admiradas pelos simpatizantes do bolchevismo ou simples interessados em sua história (ideologia e regimes) são os cartazes de propaganda estatal ou mobilização política. Além disso, as frases costumam ser curtas e têm um vocabulário padronizado, tornando sua tradução, portanto, muito mais fácil e rápida. Há muitos anos, quando ainda tinha o canal Pan-Eslavo Brasil, pensei em fazer um megavídeo com uma sucessão de cartazes traduzidos, enquanto marchas militares soviéticas tocavam ao fundo, mas o projeto não foi pra frente, embora já tivesse reunido parte do material. Quanto a ajudar outros historiadores brasileiros – muitos deles com simpatias comunistas – com traduções de documentos e outros materiais a partir do russo, a história também tem sido conturbada, e muita coisa ficou pelo caminho.
Especificamente sobre os cartazes, três iniciativas se destacam. A primeira conduzi há alguns anos pelo Facebook com um comunista paranaense, que gerenciava uma página chamada “Ilustrações da Era Comunista”, hoje desativada. Deve ter sido em inícios desta década, e na época eu usava um perfil não muito ativo que mantive de dezembro de 2018 a inícios de 2022, quando o apaguei em definitivo. Ele inclusive fez um grupo privado pra que fôssemos reunindo cartazes de todo o antigo Leste Europeu, dividindo-os de acordo com o país e deixando as traduções em comentários às imagens. Os devidos créditos eram sempre concedidos, e a página ajudou a projetar um pouco meu nome.
Deixei várias traduções prontas no grupo, mas meu amigo virtual parecia lidar com problemas de depressão e sequer programava conteúdos que podiam ser rapidamente publicados. Eu mesmo não quis tomar a responsabilidade pela página, e mesmo um outro administrador indicado sequer continuava o serviço. Quando apaguei esse meu perfil, todo o conteúdo produzido por mim no Facebook sumiu, isto é, também as traduções que eu já tinha deixado no grupo privado. Nunca mais falei com esse conhecido e não sei o que ele pensou ao perceber o sumiço, mas minha paciência pra produzir material a ser divulgado por comunistas estava cada vez mais se esgotando, dada minha crescente antipatia a Lenin e a Stalin. Invasão da Ucrânia e “marxistas” de todos os países defendendo o genocídio putinista, né? Tempos depois, verifiquei que “Ilustrações da Era Comunista”, curtida até pela pesquisadora Sabrina “Tese Onze” Fernandes, continuou se atualizando com materiais nem sempre traduzidos, até que um belo dia a página desapareceu de vez.
A segunda iniciativa data do primeiro semestre de 2024, seguindo as datas que você pode ver abaixo, quando eu já tinha defendido minha tese de doutorado. Por mero acaso, achei no Instagram o perfil de um artista plástico baiano que estava fazendo doutorado na UnB sobre a estética dos cartazes soviéticos, mas não sabia russo e recorria às traduções de um amigo que nem sempre estava disponível. Ele tinha um perfil pessoal, mas aquele integrava a pesquisa e era pra “guardar” os cartazes e depois adicionar a tradução. Várias vezes nos últimos anos usei perfis anônimos nessa rede, com diversos nomes e temáticas, visando divulgar algum tipo de conteúdo educativo ou cultural, mas minha paciência terminava logo e eu acabava apagando, pra me dedicar exclusivamente a esta página, ao estudo de idiomas e à preparação pra concursos.
O idiota aqui, que às vezes se dá a arroubos de generosidade e trabalho impulsivo, achou esse Insta por acaso e começou a traduzir os cartazes nos comentários. Finalmente, acabamos entrando em contato pessoal e ficou combinado que eu faria as traduções nos comentários pra ele ir usando ou colocando na descrição depois. Em etapa posterior, conversamos por WhatsApp e mandei mais uma leva de cartazes soviéticos (mas não de outros países) traduzidos, pelo que ele me agradeceu, mas jamais publicou os resultados. Aparentemente, o perfil ficou parado e algumas traduções feitas por outra pessoa (o amigo dele?) foram aparecendo, mas não as minhas. O fato de, pra variar, eu ter apagado o perfil que aparece abaixo, portanto, também os comentários, não justifica, pois eu já tinha feito backup de todo o conteúdo e lhe entregado.
Enfim, o contato foi amainando e, no fim, se encerrou naturalmente, como no caso do paranaense. Não me agradava ele ficar o tempo todo (mas com razão) xingando Netanyahu em privado após o Sete de Outubro, mas jamais ter feito qualquer crítica à agressão russa e, ao que parece, estar completamente desinformado sobre este tema. Alguma surpresa pra quem dizia “estar se tornando comunista”, isto é, comprando um tablet e tentando instalar o Windows 95 nele?...
A iniciativa final no início deste 2025, cujo encerramento me fez jurar pra mim mesmo que jamais voltaria a empreender algo semelhante, foi outra efêmera conta que mantive no Instagram, bem como páginas gêmeas no Facebook e no Équis (ambas seguidas por zero pessoas), chamadas “Cartazes comunistas”: nome original, não? Queria fazer a experiência de simplesmente traduzir e deixar o material disponível pra consulta pública, revezando diariamente entre os idiomas de diversos países socialistas da Europa e, em menor grau, até mesmo China e Coreia do Norte, se eu já achasse as traduções prontas. Deixei programada boa parte do conteúdo, dispensando a entrada diária nas redes sociais, e até que estava fazendo algum sucesso no Insta, após eu curtir vários perfis esquerdistas pra atrair inscritos, com os cartazes bastante curtidos e compartilhados.
Porém, você já me conhece. Primeiro, embora a atividade até fosse agradável, o excesso de esmero tomava um tempo que eu já estava querendo e precisando dedicar a outras atividades, além do que, ao entrar nas redes sociais, inevitavelmente passamos um tempo navegando pra ver outras coisas. Segundo, a evolução dos acontecimentos geopolíticos, sobretudo a completa falta de empatia por esses “libertários” ao sofrimento que se tornava cada vez mais pungente na Ucrânia – e a total desproporção com a irritação que Gaza lhes causava, embora eu não negue a criminalidade do Bibi do Hamas – mais uma vez tirou minha vontade de lidar com propaganda comunista. Podia ter simplesmente “abandonado” os conteúdos pra usufruto de usuários futuros, mas foi esse despeito que me fez justamente mandar tudo pro saco.
E terceiro, o conteúdo mais recente com que eu tomava contato em perfis de “esquerda” se tornava cada vez mais tóxico, odioso, superficial, intolerante e pouco criativo, tornando irrespirável a simples entrada nas redes. Quando vi Silvio Almeida partilhando nos stories trechos traduzidos de discursos de Ibrahim Traoré, assassino do próprio povo a soldo de Moscou que posa de “anticolonialista”, percebi que era hora de encerrar minha carreira de perfis pessoais (anônimos ou não) no conglomerado do Tio Zuck.
Feita essa digressão existencial-filosófica, outro dia tive uma grande surpresa ao fazer uma limpa geral num grande backup de vídeos que estavam destinados à legendagem no Pan-Eslavo Brasil ou à simples tradução após sua extinção. Não sabia que ainda tinha guardados os prints, que eu tinha feito pro baiano, de todas as traduções após o apagamento do referido “Gramática eslava” (no qual pretendia colocar materiais leves sobre diversos aspectos das línguas eslavas). O próprio endereço que ele oferece também não existe mais, mas se não me engano também o tinha curtido quando fiz os “Cartazes comunistas”: ou ele mudou o nome de usuário, ou o deixou privado, ou simplesmente o apagou...
Como era um material que, devido à trabalheira que deu pra fazer (o de minha última conta, infelizmente, foi pra sempre pro beleléu!), não valia a pena ser jogado fora, estou o republicando aqui, com mínimas alterações, sem mesmo mexer nos comentários feitos. Finalmente, ele vai ser a justiça que vou fazer com o fato de jamais ter deixado publicada qualquer coisa relativa a cartazes de países socialistas, nem mesmo aqui, em que várias vezes pretendi lançar algo do tipo. Não custa lembrar que são cartazes apenas da URSS, portanto, todos traduzidos do russo. Devido ao layout escroto do Instagram, meu conhecido deixou várias imagens cortadas, mas usando o Google Lens, você pode facilmente encontrar as obras inteiras:




































