Traduções de Erick Fishuk
quinta-feira, 5 de dezembro de 2024
quarta-feira, 4 de dezembro de 2024
Using the Arabic “tanvin” in Persian
I wrote this “ad hoc” text as a comment on the platform “Chai and Conversation”, created by Leyla Shams for online teaching of the Persian language. On one of the forums for interaction between students, a girl from a country of Latin America (I forgot the names of the girl and of her country…) asked about the use of “tanvin”, a sign of Arabic origin, in the Persian language, and whose pronunciation is always “-an” (at the end of the words, most often adverbs). Even if her mother tongue was Spanish, and because I know some Arabic, I decided to help her in English hoping that my explanation would also be useful to other users. With little modifications, here is the full content of the “comment”, which fit for a separate post due to its length:
Source: Wikipedia.
[In Spanish] ¡Saludos! Te voy a responder en inglés para que otras personas también puedan ser ayudadas.
As you may suppose, Persian inherited many Arabic words keeping the original orthography, but changing their pronunciation. Look on the second letter (consonant) [of the word “lotfan” (لطفا)], tā: it has no sense of being in Persian, because it represents an Arabic glottal “t” absent in Persian. The same occurs when Western languages inherit English loanwords, without (at some degree) changing its orthography.
My learning path was quite different in the sense that I first learned the Arabic script, and then the Persian one. In this way, we can understand more easily some otherwise strange features. In written Arabic, there is a feature called “tanwiin”, i. e. a case marker which, with the indefinite sense (like the articles “a”, “un/a” etc.), makes pronounce a vowel followed by an “n” sound, though not written with the standard nuun letter.
Generally, these case markers are not pronounced in colloquial Arabic, but it is important to learn recognizing them. In Arabic, the marker “-an” means the accusative case, which also has some other functions, among them forming adverbs (more or less like the “-ly” in English and the “-mente” in Spanish and Portuguese). However, depending on the final words, this “doubled zebār” must come followed by a mute alef in Arabic, and so does in Persian.
Only to summarize, you must only keep in mind that this grapheme must always be pronounced “-an” and that it is generally an adverbial marker. Orthography, as in many languages, unfortunately must be just learned by heart, but indeed very few Persian words bear this feature. It can be found in many other common Arabic expressions, such as شكرا (shukran, “thank you”), عفوا (ᶜafwan, “please/you are welcome”) etc. In Arabic itself, “lotf” (لطف) means “kindness”, and its singular indefinite accusative form “lotfan” (لطفا) has the same meaning in Persian.
P.S. This feature is called “fatha tanwiin” in Arabic, because fatha is the Arabic name for the “a” vowel marker. Because Persian inherited only this marker (and not the marker tanwiin for the other vowels), it is just called “tanvin” (or “tanvin-e nasb”) and generally is written down with the double zebār above the alef. In Arabic, the tanwiin can ride either the (mute) alef or the final consonant.
terça-feira, 3 de dezembro de 2024
Produtividade na Banânia, guerra na Síria...
O “Mix de política ao redor do mundo”, que agora não mais reúne só vídeos e tem muito mais pitaco do que outra coisa, está completando sua maioridade! Pra alegria do projeto não projetado, a geopolítica vai de mal a pior, assim como a sociedade em geral, e esta publicação vai exatamente na referida direção. A imagem acima foi copiada de um vídeo do canal Hikma History, sobre história do mundo muçulmano e centro-asiático e de que gosto muito. Sugiro fortemente que, apesar da narração tediosa e da duração de mais de uma hora, você veja seu mais novo documentário:
Nova edição do podcast “O Assunto”, apresentado ontem por Natuza Nery. Gostei do conteúdo, mas não pude deixar de fazer as seguintes observações:
Guerra civil na Síria voltou a escalar. Como programei a publicação pra terça de manhã (Brasil), os fatos podem envelhecer a qualquer momento:
[Cortou este pedaço:] E são exatamente
os "terroristas sunitas" do Hamas que foram
adubados por Netanyahu, contra a Autoridade
Palestina e, em particular, o Fatah laico.
Alguém avisa pra Múmia Ambulante que no Dia de Ação de Graças era pra perdoar um peru, e não o próprio filho??? Rs:
Demorou pra começar a baixaria contra a atriz, só porque ela defende posições progressistas e porque ela é protagonista de um filme contra a ditadura civil-militar cotado pra ganhar o Óscar. Nem de longe essa sujeirinha mal desenhada lembra um beque (nunca fumei, juro!), além do que os alertas de feiques contra Torres dispararam nos últimos meses. Mesmo assim, não posso garantir que esse “contexto” (um dos poucos reais recursos de “democracia de massas” que o Ilomasque deixou no hospício digital) não tenha sido massivamente forçado por usuários a favor dela:
E pra terminar com muito bom humor, apesar do banho de água fedida, lute como uma georgiana!!!
segunda-feira, 2 de dezembro de 2024
Metralhadora humana georgiana
Se esta publicaçãozinha servir de consolo, já que sei muito pouco da língua georgiana, a crise política na Geórgia gerou, a meu ver, pelo menos um meme linguístico. Foi na edição noturna de 30 de novembro de 2024 do Moambe (lit. “O Narrador”), jornal que passa ao vivo na conta do YouTube do Canal 1 (Pirveli Arkhi), o qual, embora seja de propriedade pública (estatal), faz oposição ao atual governo do partido Sonho Georgiano.
Pra quem não esteve na Terra desde meados ou fins de outubro, uma súmula: o partido Sonho Georgiano, presidido pelo oligarca Bidzina Ivanishvili (que fez sua fortuna na Rússia), embora fosse criado com uma linha pró-UE, tomou progressivamente o caminho da colaboração mais estreita com Putin e da adoção de leis que contrariam o espírito daquela união (contra os direitos das mulheres, as comunidades de gênero, os críticos do governo etc.). Tendo à frente o primeiro-ministro Iracle Cobacri... Cobaquídzi...
Irakli Kobakhidze (enfim, o “Milei do Cáucaso”), o “Sonho” é inimigo ferrenho do Movimento Nacional Unido, partido ainda pró-europeu do ex-presidente Mikheil Saakashvili (então jovem líder da “Revolução das Rosas” em 2003), o qual se encontra em prisão hospitalar sob acusações de corrupção.
No fim de outubro de 2024, embora boa parte da opinião estivesse voltada contra o governo, ele ganhou as eleições parlamentares com maioria absoluta, sob suspeitas de fraude escancarada e perseguição a opositores. A presidente da República (que tem menos poderes do que o premiê e é eleita pelo Parlamento), Salome Zurabishvili, é contra Moscou e a favor dos protestos, e deveria deixar o cargo no início de 2025, mas se recusa, por considerar ilegítima a nova legislatura. No fim de novembro, a crise chegou ao ápice com o “Sonho” suspendendo até 2028 (segundo diz) as negociações pra entrar na UE, o que somou ainda mais raiva aos manifestantes já opostos às fraudes e os segurou nas ruas durante toda a semana que passou. A noite e a madrugada deste domingo (na capital Tbilisi estão 7 horas a mais que Brasília) foram de protestos violentos e insistentes.
A comparação com a Ucrânia de 2014 é inevitável, tanto mais que dois territórios ao norte da Geórgia e etnicamente não georgianos (a Abecásia e a Ossétia do Sul) estão ocupados pela Rússia desde o fim da URSS, e embora se declarem independentes, quase ninguém no mundo os reconhece. Apesar disso, Kobakhidze descarta uma repetição do “Euromaidan” e se recusa a convocar novas eleições. O impasse pode ter repercussões internacionais, e é bom os nerds em geopolítica acompanharem (de preferência, não em mídias que puxem muito pro lado do Kremlin ou de Bruxelas).
Mas um dos manifestantes irados conseguiu em rede nacional berrar por nove minutos seguidos, em tom sempre crescente, contra o governo e quase sem interrupções (há umas quedinhas de sinal também), num georgiano que naturalmente já parece um som de xingamento... Não sei de quem se trata (nem o cara de óculos e cachecol), não entendi patavinas, mas segue o trecho que consegui destacar pra sua diversão:
sábado, 30 de novembro de 2024
Fora do cavalo, dentro do homem...
Direto do Insta do centro hípico de minha antiga escola básica, uma dose de filosofia equina (e um tanto infeliz) pra começar o fim de ano com humor e energia, rs! Andressa Urach ia adorar essa dica, com todo seu dinamismo no ramo cinematográfico em que atua...
E pra completar, um conhecido meu também publica isto. Sei, imagino de que vício deva se tratar, rs...
segunda-feira, 25 de novembro de 2024
Prevenção da demência
Foi publicada hoje, no site da National Public Radio (NPR) dos Estados Unidos, uma reportagem assinada por Alisson Aubrey, editada em texto por Jane Greenhalgh e que pode ser ouvida em formato podcast na própria página. Em tradução livre pro português, seu título poderia ser “Você pode reduzir o risco de adquirir demência. Veja como começar” e fala de um estudo sobre como a demência e outras doenças cerebrais podem ser evitadas ou adiadas com simples mudanças nos hábitos cotidianos. Não são aqueles anúncios “pegadinha” miraculosos que pululam no Google, mas estudos sérios que achei por bem partilhar aqui, mesmo sem autorização da NPR, rs.
Eu usei o Google Tradutor pra obter a base do texto, mas fiz o que todo mundo devia fazer após usar ferramentas de IA: revisar manualmente pra não ficar algo antinatural ou simplesmente passado “na máquina”... Além disso, imprimi ao conjunto meu próprio estilo de redação e simplifiquei o texto quando possível, mesmo que o resultado “robótico” fosse totalmente aceitável. Mantive todos os links originais, sem traduzir, portanto, os textos aos quais eles levam. Cabe aqui observar que segundo a legislação americana, e ao contrário do que acontece na Europa e no Brasil, uma public radio como a NPR não é exatamente uma entidade estatal, mas uma empresa privada sem fins lucrativos que sobrevive de doações de indivíduos, empresas e organizações e de repasses do Estado. Este artigo (entrevista) recente de pesquisadora Gislene Nogueira fala exatamente do exemplo da NPR como importante pra manutenção das democracias.
Um dos segredos pro envelhecimento saudável é manter a mente afiada.
E algumas das melhores estratégias pra evitar demência, AVC e até mesmo depressão na terceira idade se resumem a nossos hábitos diários.
“Você pode reduzir substancialmente os riscos por meio das escolhas que faz no estilo de vida”, diz o dr. Jonathan Rosand, neurologista e cofundador do McCance Center for Brain Health no Massachusetts General Hospital.
Rosand e seus colaboradores desenvolveram um meio de avaliar e rastrear a saúde do cérebro, com uma escala de 21 pontos chamada de pontuação de cuidado cerebral. A pontuação ajuda as pessoas a entenderem a importância de hábitos diários como o sono, a alimentação e os exercícios (você pode calcular sua pontuação em cerca de cinco minutos).
“Todos nós temos uma boa dose de controle”, diz Rosand.
Cerca de 40% dos casos de demência poderiam ser prevenidos ou adiados se atentássemos a 14 fatores de risco modificáveis, de acordo com o relatório de uma comissão da revista The Lancet. E até mesmo pessoas com fatores de risco genéticos podem se beneficiar. Uma pergunta que Rosand costuma ouvir é: “Doutor, o que posso fazer pra não ter demência, como meu pai, meu irmão ou minha irmã?”
Ruth Bernstein conhece essa angústia. “Vimos minha avó ser privada de sua identidade” por causa do Alzheimer, diz. E agora a mesma coisa está acontecendo com sua mãe. “É realmente devastador.”
Sendo mãe de duas crianças, Bernstein quer fazer o possível pra proteger seu cérebro, e o cálculo da pontuação de cuidado cerebral a ajudou a entender os muitos ajustes que ela pode fazer no estilo de vida. “Tem sido superútil”, diz. “Isso realmente me motivou porque eu entendo como tudo isso pode somar.”
Bernstein se vê passando por uma lista de verificação de itens na pontuação: “Tenho evitado o sedentarismo? Como está meu sono? Estou controlando meu estresse?” Num encontro social recente, ela bebeu uma taça de vinho, mas recusou uma segunda. Limitar o álcool a menos de 4 doses por semana ajuda a elevar a pontuação.
Pra calcular sua pontuação de cuidado cerebral, você se classifica em 12 diferentes fatores de risco que passam por alimentação, consumo de álcool, fumo, sono e quantidade de exercícios feita. Pressão arterial, açúcar no sangue, colesterol e IMC também são incluídos. Fatores sociais e emocionais também são envolvidos, incluindo senso de propósito, controle do estresse e conexões sociais. Cada resposta recebe o valor de um ponto, e quanto maior sua pontuação, melhor.
Vários estudos mostram que uma alta pontuação de cuidado cerebral está ligada a um risco significativamente menor de doenças. Por exemplo, um estudo publicado na Frontiers in Psychiatry descobriu que cada aumento de cinco pontos numa pontuação de cuidado cerebral estava associado a um risco 33% menor de depressão na terceira idade e um risco composto 27% menor de demência, derrame e depressão.
“O que nos surpreendeu foi o enorme poder de tudo isso”, diz o dr. Kevin Sheth, diretor do Center for Brain and Mind Health da Universidade de Yale e coautor do estudo recente. “Ter um efeito dessa ordem de magnitude é significativo”, diz.
Um estudo de acompanhamento publicado este mês na revista Neurology, que estratificou os participantes por risco genético, descobriu que uma pontuação mais alta estava associada a um risco menor de doenças cerebrais, incluindo demência e derrame, mesmo entre pessoas que herdaram um risco genético aumentado pra essas doenças.
“A boa notícia é que se você adotar comportamentos saudáveis, vai estar muito mais protegido da demência do que se não fizer essas coisas”, diz o dr. Christopher Anderson, autor do estudo e chefe da Divisão de Derrame e Doenças Cerebrovasculares do Brigham and Women’s Hospital.
“O objetivo é fugir da ideia de determinismo genético”, quando as pessoas sentem que não podem fazer nada contra seus riscos, e enfatizar, em vez disso, o enorme poder das escolhas saudáveis”, diz Anderson.
Kevin Sheth, de Yale, diz que a pesquisa de pontuação cerebral teve um impacto em seus próprios hábitos. Ele trocou sobremesas açucaradas por frutas em algumas refeições e adicionou mais folhas verdes e gorduras saudáveis em sua dieta. “Estou motivado porque conheço os dados”, diz.
Outra forma de aumentar sua pontuação de cuidado cerebral é controlar condições crônicas, como pressão alta e diabetes. Mudanças no estilo de vida podem ajudar, mas muitas vezes as pessoas precisam de remédios. “Se conseguíssemos eliminar a pressão alta”, que é apenas um componente da pontuação, “poderíamos [reduzir] a demência em ordens de magnitude”, diz Sheth. Segundo ele, também é importante reconhecer os desafios que as pessoas podem enfrentar pra mudar de hábitos. Quando se trata de comer bem, nem todos podem comprar muitas frutas e vegetais frescos.
Rosand e Sheth dizem que a pontuação do cuidado cerebral não deve ser vista como um teste em que você pode falhar. “Muito poucos conseguem ter uma pontuação perfeita”, diz Sheth. “O objetivo é ter a melhor pontuação possível e a monitorar ao longo do tempo.”
Há muitas sobreposições entre a pontuação e o Life’s Essential 8 da American Heart Association, que inclui medidas cruciais pra melhorar a saúde da coração. Isso faz sentido, diz a dra. Helen Lavretsky, psiquiatra integrativa geriátrica da UCLA, porque está cada vez mais claro que muito do que faz bem pro coração também faz bem pro cérebro.
E nunca é cedo demais pra focar na prevenção. “Quanto mais cedo você começar, melhor”, diz Lavretsky.
quinta-feira, 21 de novembro de 2024
Boris Johnson: entrevista em francês
Achei por acaso esta entrevista que Boris Johnson deu aos jornalistas franceses Nicolas Demorand e Léa Salamé em seu programa matinal na rádio France Inter, no dia 18 de novembro de 2024. Afora o interesse que seu domínio da língua possa causar, a entrevista também importa por dois motivos básicos: ele continua apoiando ferozmente a resistência ucraniana contra a invasão de Putin – e acha inclusive que os líderes ocidentais têm sido muito fracos – e defende seu legado como premiê britânico e as consequências do “Brexit”, de longe rejeitadas pela maioria da população hoje. Há uma oscilação indiscriminada entre o uso de “Grã-Bretanha” e “Inglaterra” (curiosamente, o termo “Reino Unido” só é usado por um ouvinte furioso que telefona), a qual traduzi tal qual aparece.
Fazendo propaganda de sua recém-lançada biografia, “Bo Jo” falou em francês, mas o problema é que sua fluência está meio enferrujada, o que provoca inúmeros lapsos dele e cortes da parte dos âncoras. Por isso, eu mesmo traduzi de ouvido a partir do vídeo que pode ser visto no final da página, mas não pude transcrever cada fala que entrecortava outras (há casos em que inseri entre colchetes no meio da principal), e muito do que foi verbalizado simplesmente não acrescentava nada ao argumento. Da mesma forma, omiti vários cacoetes e deixei detalhezinhos que não entendi, por não serem essenciais, além de pôr ocasionais explicações também entre colchetes. Por fim, apesar do uso geral do pronome vous, decidi traduzir como “você”, pois o clima mais descontraído tornaria muito pesado o uso de “o senhor” e variantes.
Nicolas Demorand – Nesta manhã estamos recebendo um convidado excepcional no programa Grand entretien: ele foi o primeiro-ministro do Reino Unido de 2019 a 2022, prefeito de Londres por muito tempo, chefe do Partido Conservador britânico e, obviamente, um fervoroso defensor do Brexit. Bom dia, Boris Johnson!
Boris Johnson – Bom dia, gentil de sua parte!
Demorand – ... e seja bem-vindo à France Inter!
Johnson – Gentil de sua parte! O café é formidável...
Demorand – O café está bom?
Johnson – Melhor até do que em Londres!
Demorand – Ah, melhor até do que em Londres... Vamos falar com você sobre suas memórias intituladas Indomptable [lit. “indomável”, em inglês Unleashed, ainda não traduzido em Portugal nem no Brasil], publicadas na França pela Stock, e reitero que você vai se expressar em francês esta manhã porque, segundo você escreve no livro, você adora a França e os franceses, e acrescenta que sua queridíssima avó paterna, a quem você chamava “granny Butter”, era francesa. E que todo dia você se esforçava em ler dez páginas de romances franceses. Você lia mesmo dez páginas?
Johnson – Não, eu tento ler em francês, mas pra falar a verdade, não falo muito bem francês. Já faz agora 30 anos que não trabalho em Bruxelas e precisava falar em francês na sala de imprensa, e esqueci tudo, tenho muito medo agora, mas faço um esforço!
Léa Salamé – Você faz um esforço esta manhã?
Johnson – ... porque precisamos falar de coisas muito importantes.
Salamé – Então você fala francês. De qual livro francês, em francês, você lê dez páginas por dia?
Johnson – Romances muito simples de Georges Simenon, de Maigret [personagem detetive muito famoso na pena do escritor belga], mas mesmo aí encontro palavras que não conheço.
Salamé – Pois bem, Indomptable é um livro de memórias de 700 páginas com uma capa em preto e branco ao estilo Barack Obama. Mas quando viramos o livro – porque passamos cinco ou dez minutos vendo essa foto! –, o vemos com os cabelos ao vento, perseguido por um cachorrinho, com esta frase extraída do livro, pronunciada no momento em que você deixou Downing Street... após um escândalo, você saiu citando esta frase do Exterminador do Futuro 2: “Hasta la vista”... Apenas pra situar a decoração desta foto, porque o livro tem seu caráter: desenfreado.
Johnson – Sim, desenfreado. A foto evoca um pouco a ideia de libertação, de desencadeamento de potenciais. E esses são dois ou três temas centrais do livro: na Inglaterra, não temos o mesmo equilíbrio na conjuntura da economia que vocês têm na França. Então, as grandes cidades da Inglaterra... Aqui na França, Bordeaux, Lyon e Marselha têm taxas de produtividade...
Salamé – ... potencial, você quer dizer? E na Inglaterra há apenas Londres?
Johnson – É a mesma coisa na Alemanha, nos EUA, na Itália... E na Inglaterra, a economia e a produção se concentraram em Londres e no Sudeste. Portanto, uma de minhas ambições quando eu era primeiro-ministro era nivelar pelo alto, dar às regiões mais poder [Salamé: mais autonomia], mais infraestrutura etc. Em segundo lugar, há uma ideia de liberdade constitucional pro Reino Unido. Conto [em meu livro] a luta pelo Brexit, a liberdade pra fazer coisas diferentes, em especial... Agora tudo isso está sendo esquecido, porque são outros anos, mas quando houve a pandemia, graças ao Brexit, tivemos a possibilidade de conduzir a vacinação na Inglaterra muito antes da... [Europa].
Salamé – Você está começando a defender sua posição pró-Brexit. Vamos voltar a ela, que não é mais tão defendida, talvez sequer mais defendida, na Inglaterra, quer dizer, o voto dos ingleses de 2016 evoluiu um pouco, se olharmos as pesquisas.
Johnson – Mas se você olhar as pesquisas antes do Brexit, eram a mesma coisa. Eu lhe juro que os britânicos jamais vão retornar à União Europeia, porque era preciso votar pra dar 20 milhões de libras esterlinas pra ter o privilégio de ceder o controle das leis, das fronteiras e aderir à zona do euro. Isso nunca vai acontecer!
Demorand – Em todo caso, entendemos que você não se arrepende de nada.
Johnson – OK, não me arrependo. E em meu livro explico o que ocorreu com a vacinação.
Salamé – Sim, vamos voltar à covid, pois isso também causou sua demissão, Boris Johnson. Mas talvez... Você foi muito comparado a Donald Trump, não somente por suas excentricidades capilares.
Johnson – Essas analogias são muito traiçoeiras. Constato apenas que Trump, em minha opinião, talvez não vá ser tão ruim como vocês temem, francesas e franceses. Vejam o que ele fez e o que ele disse enquanto estava na Casa Branca. No plano econômico, ele falou muito em tarifas alfandegárias, mas fez um acordo de livre comércio com a China. Quanto às relações exteriores, em minha opinião, vi que de fato ele era mais duro que os democratas, como Obama e Biden, quanto a certos assuntos muitíssimo importantes. Veja a Síria: Bashar al-Asad empregou armas químicas contra seus próprios cidadãos e não fizemos nada. Obama não fez nada, nós em Londres não fizemos nada. Mas Donald Trump bombardeou com tanta violência que Bashar al-Asad nunca mais voltou a utilizar armas químicas. Esse é o primeiro ponto. Segundo ponto, o Irã: o JCPOA, o acordo pra interditar as armas nucleares ao Irã, nunca funcionou, mas vocês se lembram que Trump decidiu liquidar esse sujeito chamado Qasem Soleimani, chefe da Guarda Revolucionária Iraniana, de quem só restou o anel distintivo. E todo mundo disse em Londres: “O que está acontecendo? Trump estava certo!” Terceiro ponto, a Ucrânia, muito importante. Depois que ele matou Qasem Soleimani, o Irã ficou mais tranquilo. Mas quanto à Ucrânia, constato que foi Trump, e não Obama ou Joe Biden, quem lhes deu os mísseis antitanque muito importantes na luta por Kyiv, que ajudaram muito os ucranianos a manterem os russos fora de Kyiv. Foi Trump quem fez isso. Portanto, vejam o que ele fez, e não o que ele disse.
Salamé – Contudo, Trump tem pra si que em geral ele também faz o que ele diz, quer dizer...
Johnson – Então, você está certa, mas o que ele está dizendo agora?
Demorand – “Eu vou acabar com isso em um dia, salvar a Ucrânia em 24 horas!” Isso é o que ele diz.
Johnson – Mas isso não quer dizer nada, é retórica. Me pergunto como um sujeito como Donald J. Trump podia inaugurar seu mandato com uma capitulação, com uma humilhação pros EUA, pra OTAN e pra si mesmo se desse a Putin a possibilidade de vencer a Ucrânia. É o que todo mundo diz: seu orgulho... Espero que ele jamais aceite ser derrotado por Putin.
Salamé – Desculpe, Boris Johnson, mas quando lemos seu livro, as páginas sobre a Ucrânia são muito interessantes e mesmo apaixonantes, pois você sempre foi, tal como a opinião pública britânica, muito pró-ucraniano desde o primeiro dia. O retrato que você faz de Zelensky... No dia da invasão, quando ele lhe telefona, você lhe diz: “Quais armas devemos lhes fornecer?” E ele lhe responde: “Quaisquer armas.” E você escreve em seu livro que não se fez nem se deu o suficiente pela Ucrânia. E em seu livro e esta manhã, você nos explica que não devemos ter tanto medo de Donald Trump. Mas você não pensa que ele vai forçar os ucranianos a assinarem uma paz com Putin, uma paz em que eles vão perder o máximo de territórios – o Donbás e outros –, sob as condições de Putin... portanto, você não pensa que isso é o que vai acontecer?
Johnson – Isso seria um desastre pra Europa, pro mundo e, claro, pros EUA, porque se é feita uma paz dessa maneira – territórios em troca da paz –, Putin continuaria numa posição de ameaça perpétua ao resto da Ucrânia. Portanto, só é possível haver paz se for dada aos ucranianos uma garantia de segurança. Ontem à noite, Joe Biden deu permissão, e isso é bom...
Demorand – É boa a autorização pra utilizar mísseis americanos de longo alcance contra o território russo?
Johnson – Isso devia ter sido feito há 18 meses, em absoluto. Mas hoje, nossos governos francês e britânico deveriam hoje dar permissão pra usarem os Scalps, os mísseis de cruzeiro – pra nós são os Stormy Shadows, a mesma coisa – contra as bases russas em território russo, utilizadas pra empreenderem os bombardeios contra as posições ucranianas. Isso que é preciso fazer hoje. Em segundo lugar, é preciso construir um grande acordo financeiro pra Ucrânia, como o Lend-Lease aos ingleses durante a 2.ª Guerra Mundial: os americanos dão um tanto de dinheiro... eles emprestaram um tanto de dinheiro, nós vamos pagar pra reconstruir a Inglaterra. A Ucrânia é um país muito rico, eles podem os ressarcir, é preciso fazer isso. E em terceiro, as garantias de segurança. Insisto que é absolutamente necessário ser claro com os ucranianos, porque o problema com a Ucrânia é que ninguém sabe o que ela é: um país-tampão ou uma parte do Ocidente?
Demorand – Boris Johnson, o chanceler alemão Olaf Scholz agiu errado, na semana passada, ao telefonar a Vladimir Putin? Ele “abriu a caixa de Pandora”, como disse o presidente ucraniano Zelensky?
Johnson – Em minha opinião, como escrevi nas páginas de Unleashed, foi um erro. Porque vocês veem que, antes da invasão de 2022, havia o Processo (ou Formato) da Normandia, vocês se lembram, eram os franceses e alemães que geriam esse acordo. Era como se os russos e os ucranianos fossem dois cônjuges fazendo terapia de casal? Não! O problema é que um poder, a Rússia, e um autocrata, Putin, invadiram um país totalmente inocente com uma violência inacreditável. Vocês viram o que aconteceu antes de Joe Biden [autorizar ataques à Rússia com mísseis americanos]: bombardeios inacreditáveis, muitos cidadãos totalmente inocentes mortos por Putin. E não acredito que Donald Trump possa dar a vitória...
Salamé – É uma questão de ego pra Trump, isso é o que você escreve, ele não pode aceitar uma capitulação do Ocidente diante de Putin. Vamos ver...
Johnson – Talvez seja ingenuidade minha, mas vamos ver.
Salamé – Vamos ver. Mas a verdade é que queremos falar de outras coisas, pois seu livro tem 700 páginas, é muito denso, por vezes muito excessivo, engraçado, também surpreendente...
Demorand – Excessivo é um elogio! (Risos) Sobre a própria natureza do livro, Boris Johnson, essas memórias são sua maneira de defender seu balanço, de redourar seu brasão junto aos britânicos, superar a polêmica do “Partygate”...?
Johnson – Ninguém mais vai fazer isso!
Demorand – Você mesmo precisa fazer isso. Você foi muito criticado por ter mentido ao organizar festas durante a covid em Downing Street... É também uma maneira de redourar sua imagem junto a quem não o perdoa pelo Brexit ou é um livro que anuncia seu retorno à política?
Johnson – Não, pra mim é muito importante relembrar o que o Brexit causou, e lembro a vocês que naquela época... Em janeiro de 2021, pudemos dar a autorização pra vacinação com várias semanas de antecedência em relação aos 27 [países-membro da UE]. Portanto, o Brexit salvou vidas.
Salamé – Na Europa também vacinamos. Na UE também vacinamos. Não foi só na Grã-Bretanha que houve vacinação.
Johnson – Sim, porém mais tarde. Portanto, lhe dou os números: em março de 2021, por termos começado antes, vacinamos 45% dos adultos e quase 100% dos maiores de 80 anos. Na UE, a cifra era de 10%, e eles ficaram muito zangados com a gente. É um pequeno problema político, e eles realmente tentaram...
Salamé – Entendi, Boris Johnson, é seu ponto de vista, você o defende sinceramente, não faz um mea culpa do Brexit, você continua pensando que foi uma coisa boa. Mas os britânicos condenam em maioria esmagadora, são as pesquisas que dizem que a saída da UE não foi uma coisa boa, que ela não permitiu resolver a imigração, não melhorou o sistema de saúde britânico, como você tinha prometido durante a campanha... Apenas um em cada dez britânicos na última pesquisa Opinion avalia que a saída da UE melhorou sua própria situação financeira e melhorou os salários. Apenas um em cada dez pensam que isso melhorou. Os outros pensam que isso piorou. Estão todos enganados?
Johnson – Como acabei de lhe dizer, havia pesquisas antes do Brexit que davam uma maioria contrária. Quando eles [os britânicos] tiveram de fazer a decisão, os britânicos votaram pra deixar a UE por uma margem enorme: 17,4 milhões de pessoas, é mais do que os votos em todas as eleições da história de meu país.
Demorand – Vamos passar aos padrões, porque muitos ouvintes da France Inter desejam dialogar com você, Boris Johnson. Bom dia, Roger!
Roger (ouvinte) – Bom dia, France Inter! Bom dia, Boris Johnson! Precisamos admitir que o Brexit foi uma catástrofe pro Reino Unido, por exemplo, pra pesquisa e inovação, que se beneficiavam muito amplamente do financiamento da Europa. Eu mesmo fui vítima disso: vivi 23 anos no Reino Unido, trabalhava na pesquisa e voltei à França em 2019 porque o ambiente se tornou realmente muito tóxico. Muitos adeptos do Brexit, como acabamos de ouvir, se arrependeram de seu voto, e você diz que não se arrependeria, mas então você se desculparia um dia de ter embarcado seu país nessa aventura construída sobre mentiras populistas, como a dos 350 milhões [de libras esterlinas] pro NHS? [Johnson e outros defendiam que era a quantia enviada a Bruxelas toda semana e que podia ser reinvestida, por exemplo, na saúde.]
Johnson – Primeiramente, sinto muito que você tenha deixado a Inglaterra, mas pelo contrário: como acabamos de dizer, havia uma imigração muito grande na Inglaterra, porque todo mundo queria morar em nosso país. E quanto à questão da pesquisa, temos um setor de alta tecnologia em Londres, na Inglaterra, maior do que o da França, Alemanha e Israel juntos. A cada duas semanas é aberta uma “startup unicórnio”, isto é, com valor de mercado de 1 bilhão de dólares ou mais. Sr. Roger, você é cientista...
Demorand – Boris Johnson, ele chamou de “mentiras populistas”! Você disse “mentiras populistas”! Isso não lhe causa mal ou...
Johnson – Não, de forma alguma! Nós é que dissemos a verdade! Eles é que querem permanecer na UE e disseram: “Vai haver um milhão de desempregados”, vocês lembram! Muita gente ficaria sem emprego. É uma bullshit, não é verdade. Quando deixei de ser primeiro-ministro, a taxa de desemprego estava no nível mais baixo em 50 anos, a taxa de desemprego entre os jovens estava no nível mais baixo em 45 anos, e me lembro que havia 620 mil pessoas a mais com emprego do que durante a pandemia. Eles é que mentiram, eles é que disseram “mentiras populistas”, e por que vocês que ficaram não pedem desculpas?
Salamé – É preciso ler seu livro, você tem sua posição, você a defende claramente em seu livro, muitos franceses e europeus não entenderam a posição dos britânicos em 2016, mas não tem problema. Temos apenas um minuto, e eu queria dizer aos ouvintes que você faz retratos mordazes de vários dirigentes do mundo inteiro que você conheceu, especialmente franceses, entre eles Michel Barnier [atual premiê da França], conhecido como “Sr. Brexit” e que você descreve com três adjetivos: “ombrageux, cartésien, méfiant” [sombrio/irritadiço, cartesiano, desconfiado]. E no retrato que você faz de Emmanuel Macron, diz que você estava “um pouco apaixonado, conduzido por seu charme”, e depois você diz: “Tentei lhe propor coisas bilaterais e ele nunca aceitou”...
Johnson – Você vê que quando entramos na Comunidade Europeia [antecessora da UE], os franceses impuseram termos muito duros, e quando saímos, eles fizeram a mesma coisa! Não tem problema: eu gosto muito de Emmanuel Macron e dos franceses... Pra voltar à questão do Brexit: o problema da Europa é que sua taxa de crescimento é muito inferior à dos EUA. Desde os anos da crise financeira de 2008, os EUA e a UE tinham ambos quase o mesmo PIB, 14 trilhões de dólares. Agora, a UE tem cerca de 15, 16 trilhões de dólares, mas os EUA, 26 trilhões. Precisamos nos perguntar por quê: é porque há uma cultura de regulação que não é... [Salamé: Sim, é uma defesa do liberalismo, é claro que seu livro também é uma defesa do liberalismo] e é preciso pensar nisso, porque se queremos crescimento, deve haver liberdade.
Demorand – Última pergunta sobre a rainha da Inglaterra, Elizabeth 2.ª, morta pouco depois de você deixar Downing Street. Você relata seu último encontro com ela dois dias antes de sua morte e ela lhe deu um conselho: “A amargura não serve pra nada.” Você entendeu o que ela quis dizer, Boris Johnson?
Johnson – Sim, e é uma completa verdade. Se todos entendessem isso, o mundo seria melhor. Mas ela disse também uma coisa muito útil. Não sei se nossos ouvintes têm medo de gralhas [pie, variante antiga da palavra magpie], os pássaros preto e branco [os âncoras: Não]. Na Inglaterra, se você vê uma gralha sozinha, [supõe-se por superstição que] vai ter azar durante o dia. Então ela me deu um conselho, uma fórmula mágica pra evitar o medo da gralha sozinha: se você a vê, tem que lhe dizer “Bom dia, sra. Gralha!” [“Good Morning, Mr. Magpie”, no original em inglês]. Hoje é segunda-feira, 18 de novembro, e some tudo: é o tipo de conselho que ela me deu, a tip from the top.
terça-feira, 19 de novembro de 2024
Zelensky: mil dias da invasão russa
À guisa de discurso especial lembrando o milésimo dia da invasão em larga escala da Rússia pela Ucrânia (já parcialmente tomada nas regiões de Donetsk, Luhansk e Crimeia desde 2014) em 24 de fevereiro de 2022, a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, convocou uma sessão especial pra que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky seguisse tentando convencer os legisladores a fazerem tudo pra cortar as asas de Putin. Dispensando sua típica gravação pelas redes sociais, sua exortação foi muito mais moral, já que não apresentou elementos novos, salvo o aparecimento dos militares norte-coreanos, no contexto em que os EUA acabam de dar mais liberdade pra que Kyiv use foguetes contra alvos dentro da Rússia. Eu traduzi a partir do inglês com a ajuda das legendas automáticas que apareciam no YouTube (o vídeo segue no final), e por vezes recorri às legendas em ucraniano pra tirar uma dúvida específica em meio a uma pronúncia não perfeita:
Estimadas senhoras e senhores, estimados amigos, nossos amigos, amigos da Ucrânia.
Obrigado por apoiarem a Ucrânia. Obrigado, Roberta [Metsola, presidente do parlamento], por convocar esta seção extraordinária do Parlamento Europeu para marcar o milésimo dia da guerra em larga escala. Obrigado por garantir que nem um único desses mil dias dessa terrível guerra se tornasse de traição a nossos valores europeus comuns. Provamos que esses valores não são apenas palavras, não algo abstrato. Os valores e o modo de vida europeus, quando passados à prática, protegem a vida das pessoas reais. Muito obrigado.
Juntos, a Ucrânia, a Europa inteira e todos os nossos parceiros nos EUA e no mundo todo conseguimos não apenas impedir que Putin tomasse a Ucrânia, mas também defender o território de todas as nações europeias. Mesmo unido ao norte-coreano Kim Jong-un, o campo de Putin continua menor do que a força da Europa unida. Advirto-os para que não esqueçam isso, não esqueçam o quanto a Europa é capaz de alcançar. E se pudermos deter a decadência do modo europeu de vida, certamente poderemos impelir a Rússia a uma paz justa.
A paz é o que mais desejamos. Dois anos atrás, propusemos a Fórmula da Paz, e sou grato a todos na Europa e a cada parceiro que a apoiou. E os srs., no Parlamento Europeu, estiveram entre os primeiros a apoiar a Fórmula da Paz. E a única que se opõe a ela foi aquela que começou esta guerra: a Rússia. E devemos impelir a Rússia a uma paz justa.
Cada ataque e cada ameaça vindos da Rússia devem ser respondidos com duras sanções. Pois mil dias foram cruciais para reduzir radicalmente a capacidade da Rússia de financiar sua guerra por meio da venda de petróleo. O petróleo é o sangue que circula pelas veias do regime de Putin, e a frota oculta de navios-tanque é o que o mantém vivo. Enquanto esses navios-tanque estiverem operando, Putin vai continuar matando. Sanções pesadas são essenciais.
Obrigado a cada um dos srs., obrigado novamente, Roberta, e obrigado a cada um dos srs. que apoia nosso povo, nossa resiliência, nossa capacidade de restaurar a segurança, mesmo após os mais devastadores ataques massivos da Rússia. Juntos realizamos muitas coisas, mas não devemos ter medo de fazer ainda mais. Agora, Putin trouxe 11 mil militares norte-coreanos até a fronteira com a Ucrânia. Esse contingente deve atingir os 100 mil. Enquanto alguns líderes europeus pensam em eleições ou algo similar às custas da Ucrânia, Putin está focado em vencer esta guerra. Ele não vai parar por conta própria: quanto mais tempo ele tiver, piores vão se tornar as condições.
Todo “hoje” é o melhor momento para impelir a Rússia com mais força, e está claro que sem certos fatores-chave, a Rússia vai se privar de uma real motivação para se empenhar em negociações significativas. Sem incêndios em seus depósitos de munição em território russo, sem o desmantelamento de sua logística militar, sem bases aéreas russas destruídas, sem a perda de sua capacidade de produzir mísseis e drones e sem o confisco de seus ativos [no exterior], os srs. sabem muito bem que Putin menospreza as pessoas ou as regras. Ele só valoriza o dinheiro e o poder. Isso é tudo de que devemos privá-lo para restaurar a paz.
Se alguém na Europa pensa que pode vender para Moscou a Ucrânia ou qualquer outro país como os Estados bálticos, os Bálcãs, a Geórgia, ou a Moldova e ganhar algo em troca, que se lembre-se desta simples verdade: ninguém pode desfrutar de águas calmas em meio a uma tempestade, e devemos fazer de tudo para terminar esta guerra de forma honesta e justa, como a sra. disse, Roberta, e juntos, claro. Mil dias de guerra é um tremendo desafio. A Ucrânia merece que o próximo ano seja tornado o Ano da Paz.
Obrigado novamente, muito obrigado, obrigado por suas resoluções, suas decisões, seus princípios, suas visitas à Ucrânia durante a guerra, durante seu primeiro ano, o qual foi particularmente tão difícil, e obrigado por sua fé na Ucrânia. Muito obrigado, Slava Ukraini!