quarta-feira, 26 de março de 2025

Votos de Vladimir Putin pra 2001


Endereço curto: fishuk.cc/novygod2001


Dando sequência a meu projeto documental, estou publicando na página os discursos com os votos de Feliz Ano Novo dos presidentes da Federação Russa a partir de 2000, no caso, apenas Vladimir Putin e, no curto interregno de 2008 a 2012, Dmitri Medvedev, ambos do partido Rússia Unida. Eu já publiquei os votos de Boris Ieltsin pro ano 2000 transmitidos em 1999, discurso que teve uma tripla importância: foi o último de Ieltsin pro grande público, foi o anúncio de sua renúncia do cargo e foram os primeiros votos de Putin dados logos depois, enquanto primeiro-ministro que assumia interinamente até as próximas eleições. Sem surpresa, ele não saiu mais do cargo...

Fazendo a busca no site do Kremlin, percebemos que o material a partir do ano 2000 é extremamente organizado, muito mais, por exemplo, que no portal do Élysée francês. Sublinho que entre os navegadores Chrome e Edge, neste a navegação é otimizada, e fica ainda melhor se você puder acionar seu VPN pra se localizar na Rússia. Os votos russos costumam ser bem mais curtos e com pouca variação vocabular, sem grandes balanços políticos nem desculpas sinceras, mas nem todos estavam disponíveis em resolução HD. Apenas a partir de 2005 (votos pra 2006) aparece a abertura com a Fanfarra Presidencial e o encerramento com os sinos do Kremlin tocando e a execução do hino nacional (tudo tornando o vídeo em si bem mais longo).

Eu traduzi o texto a partir do original disponível e baixei o vídeo da publicação oficial contendo os votos presidenciais pro Ano Novo de 2001, transmitidos na noite de 31 de dezembro de 2000. Todas as publicações desse tipo contêm o mesmo título “Новогоднее обращение к гражданам России” (Novogódneie obraschénie k grázhdanam Rossíi), Alocução de Ano Novo aos Cidadãos da Rússia:


Caros amigos! Estimados cidadãos da Rússia!

Nestes minutos, não apenas verificamos nossos relógios, verificamos nossos pensamentos e sentimentos, verificamos nossas expectativas com o que temos na realidade.

Mais um ano ficou para trás – um ano de eventos alegres e trágicos, um ano de decisões difíceis. E, no entanto, o que há bem pouco tempo parecia quase impossível está se tornando um fato em nossas vidas. Elementos notáveis ​​de estabilidade surgiram no país, e isso vale muito – para a política, para a economia e para cada um de nós. Entendemos o quanto é importante e o quanto é valorizada a dignidade de um país.

Vocês e eu sabemos que nesta noite festiva nem todos têm uma mesa rica, nem todos os lares têm felicidade e sucesso, devemos lembrar disso. Não podemos esquecer que ainda temos muito trabalho a fazer, mas somente juntos conseguiremos todos realizá-lo. E então certamente chegará o momento em que ficaremos tranquilos com relação a nossos idosos e nossas crianças.

Caros amigos!

Eu sei que vocês já estão todos olhando para seus relógios. De fato, em poucos segundos entraremos ao mesmo tempo em um novo ano, um novo século e um novo milênio. Isso não acontece com frequência e só se repetirá com nossos descendentes, cujas vidas são difíceis até de imaginarmos hoje em dia. É a eles que deixaremos de herança nossos sucessos e nossos erros. Mas nestes instantes, cada um de nós pensa nos entes queridos e nos próximos.

Quero desejar a vocês o que geralmente se deseja aos parentes e amigos: saúde, paz, bem-estar e, claro, sorte. Felicidades e Feliz Ano Novo para vocês!


terça-feira, 25 de março de 2025

Hino da RSS da Moldávia (1945-1980)

Esta é a primeira versão (original) do Hino Nacional da República Socialista Soviética da Moldávia (Imnul de Stat al Republicii Sovietice Socialiste Moldovenești), formada em 1940 com partes da Bessarábia e partes da RSS Autônoma da Moldávia, que integrava a RSS da Ucrânia. A Bessarábia era uma região histórica pertencente à Romênia, anexada então pela URSS na sequência da guerra contra os romenos, que tinham um governo aliado ao Eixo. Atualmente, a maior parte da antiga Bessarábia pertence à Moldova (por vezes ainda chamada pelo nome russo “Moldávia”), e outra parte pertence à Ucrânia. Essencialmente, a “língua moldova” (ou moldava) é o nome local dado ao romeno, e no país hoje também se fala russo e outras línguas. Atualmente, a Moldova é um dos países mais pobres da Europa.

O hino foi composto e adotado em 1945, com letra dos poetas Emilian Bucov e Bogdan Istru, e melodia de Ștefan Neaga. Em 1980, o compositor Eduard Lazarev, pretextando uma “renovação musical”, foi autorizado pelo governo local a mudar todo o hino, deixando o ritmo mais lento, cortando a letra pela metade e mudando substancialmente o texto, que passou a conter apenas uma estrofe melódica dividida em três partes. Conhecida por suas primeiras palavras, Moldova Sovietică (Moldávia Soviética), a nova letra sem menções a Stalin só seria usada até 1991, com a independência do país. (Nota: o brasão acima, usado de 1957 a 1981, só difere do usado de 1981 a 1990 no desenho dos raios do Sol...)

Ambas as versões do hino da RSS da Moldávia não foram exceção em mencionar os russos, o Partido, o futuro glorioso rumo ao comunismo, o florescimento nacional, a “união fraternal dos povos” e a felicidade incontida. Na Moldova, são constantes as tentativas de “descomunização”, mas não obtêm muito sucesso: em 2012, uma lei proibiu o uso dos símbolos comunistas e soviéticos, mas ela foi derrubada em 2013. Após a crise econômica vivida sob o presidente socialista pró-Rússia Igor Dodon (2016-2020), ele perdeu a reeleição pra liberal e pró-União Europeia Maia Sandu, eleita majoritariamente pela diáspora ao redor do mundo e reeleita em 2024. Atualmente ela segue um rumo modernizador, ocidentalizante e anticorrupção, apoiando a Ucrânia após a invasão russa e, por isso, entrando em maior tensão com a região separatista da Transnístria.

Esta versão do hino, usada de 1945 a 1980, menciona Stalin e a guerra explicitamente e tem uma estrutura mais parecida com a dos hinos de outras RSS: uma primeira estrofe louvando os russos, um refrão louvando a URSS, uma segunda estrofe louvando Lenin (e Stalin, até quando o politicamente correto permitiu) e uma terceira estrofe militarista, em velada alusão à vitória contra os nazistas (mudada na década de 1970 pela alusão ao “radiante futuro comunista”). Em 2012, o historiador e político moldovo Valeriu Passat afirmou que os autores teriam sido forçados a compor o hino por Iósif Mordóvets, major-general ucraniano, organizador do aparelho de segurança soviético e chefe do KGB na RSS da Moldávia. De 1953 até a adoção do novo hino, a melodia original era executada sem letra, devido à “desestalinização” comandada por Nikita Khruschov.

Eu traduzi diretamente do texto romeno disponível no verbete da Wikipédia em inglês sobre a canção. Fui procurando as palavras no dicionário, porque as traduções (mais ou menos) literais oferecidas em inglês e russo não batem nem entre si nem com o que entendi da letra. Quase não há gravações de época disponíveis, mas o YouTube disponibilizou uma versão que parece ter sido feita por inteligência artificial. Como a achei interessante enquanto documento histórico, assim como as outras gravações contidas na mesma playlist, decidi fazer a tradução.

Ao criar a Moldávia, Stalin tentou ao máximo separá-la culturalmente da Romênia, inclusive estimulando um “idioma moldávio”, escrito numa adaptação do alfabeto cirílico russo (a qual, particularmente, acho feia). Como os setores pró-Kremlin ainda se apegam a essa escrita, seguem abaixo a letra em cirílico pros curiosos, junto com o áudio, a letra no alfabeto latino e a tradução em português:


1. Молдова ку дойне стрэбуне пе плаюрь,
Ку поамэ ши пыне пе дялурь ши вэй.
Луптынд ку-ажуторул Русией мэреце,
А врут неатырнаря пэмынтулуй ей.

Рефрен:
Славэ ын вякурь, Молдовэ Советикэ,
Креште ку алте републичь сурорь,
Ши ку драпелул Советик ыналцэ-те,
Каля сэ-ць фие авынт крятор.

2. Пе друмул луминий ку Ленин ши Сталин,
Робия боерилор крунць ам ынвинс.
Пе ной дин избындэ-н избындэ ынаинте,
Не дуче слэвитул партид комунист.

(Рефрен)

3. Ын армия ноастрэ, луптынд витежеште,
Пе душманий цэрий ый вом бируй,
Ши-н маря фамилие а Униуний,
Молдова Советикэ-н вечь а-нфлори.

(Рефрен)

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1. Moldova cu doine străbune pe plaiuri,
Cu poamă și pâne pe dealuri și văi.
Luptând cu-ajutorul Rusiei mărețe,
A vrut neatârnarea pământului ei.

Refren:
Slavă în veacuri, Moldovă Sovietică,
Crește cu alte republici surori,
Și cu drapelul Sovietic înalță-te,
Calea să-ți fie avânt creator.

2. Pe drumul luminii cu Lenin și Stalin,
Robia boierilor crunți am învins.
Pe noi din izbândă-n izbândă înainte,
Ne duce slăvitul partid comunist.

(Refren)

3. În armia noastră, luptând vitejește,
Pe dușmanii țării îi vom birui,
Și-n marea familie a Uniunii,
Moldova Sovietică-n veci a-nflori.

(Refren)

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1. Moldávia, com doinas ancestrais pelos planaltos,
Com uva e pão pelos pelas colinas e vales.
Lutando com a ajuda da grande Rússia,
Desejou a independência de sua terra.

Refrão:
Glória pelos séculos, Moldávia Soviética,
Que cresce com outras repúblicas irmãs,
E se eleva com a bandeira soviética,
Que seu caminho seja um ímpeto criador.

2. Pelo caminho iluminado com Lenin e Stalin,
Vencemos a escravidão dos cruéis aristocratas.
De vitória em vitória, sempre em frente,
Nos conduz o glorificado partido comunista.

(Refrão)

3. Em nosso exército, lutando heroicamente,
Derrotaremos os inimigos do país,
E na grande família da União [a URSS],
A Moldova Soviética florescerá eternamente.

(Refrão)



Bandeira da RSS da Moldávia de 1940 a 1952, período da adoção do hino.

segunda-feira, 24 de março de 2025

Votos de fim de ano dos presidentes da França desde 2008


Endereço curto: fishuk.cc/voeux


Esta publicação reúne a tradução direta do francês pro português de todos os discursos de fim de ano dos presidentes da República Francesa de 2007 a 2024, e ao longo dos anos pode seguir sendo atualizada. Desde que o Pan-Eslavo Brasil, meu canal no YouTube, foi “suicidado” pelo Google em agosto de 2021, tomei como tradição obrigatória publicar aqui, todo começo de ano, pelo menos os discursos comemorativos dos presidentes da França, da Rússia, da Bulgária e da Moldova. Os dois últimos, por mera afinidade cultural, e os dois primeiros, devido a minha familiaridade com suas línguas e meus longos anos de pesquisa sobre a antiga URSS e de contato com a história da Rússia contemporânea.

Sempre fui muito perfeccionista, portanto, legendar pra mim sempre foi uma atividade meio penosa, mesmo que em se tratando de uma atividade amadora e de uns poucos minutos de audiovisual. Como o Pan-Eslavo Brasil era focado nos países eslavos, os votos de Feliz Ano Novo de Vladimir Putin saíam com maior regularidade, a partir de 2018, 2019, mais ou menos, e, sobretudo, quando chegou em casa a internet por fibra óptica. Além disso, a cada novo ano, seus discursos ficavam mais curtos e mais repetitivos, o que tornava a tarefa ainda mais fácil, sem contar que tenho pleno domínio do vocabulário soviético e burocrático de Putin. Quanto à França, fui deixando de legendar os discursos de Emmanuel Macron, porque ele já começou falando mais do que a média dos anteriores, e a cada ano, ao contrário do Kremlin, aumentava ainda mais, me desanimando num cotidiano cada vez mais premido pelo doutorado.

O YouTube acabou, o doutorado também, mas “Ainda estou aqui” na página, e como ela é hoje meu único meio de comunicação, tento atualizar com uma publicação por dia, por mais besta que seja o conteúdo. Lembra? Começou com uma por semana, depois uma a cada dois dias, depois tive intervalos de longas pausas, e finalmente tô “firmão” aqui, rs. Outra vantagem é que, ao contrário dos discursos anteriores, traduzidos palavra por palavra e com ocasionais consultas ao dicionário, agora tomei a coragem de usar o Google Tradutor, mas de forma sábia: a “máquina” me dá o texto central, mas o reviso todo, confrontando com o original. É o mínimo que se espera de alguém que, mesmo sem formação oficial, se arroga o título de tradutor!

Portanto, esta iniciativa vem preencher uma lacuna, pois em anos anteriores, tanto na página quanto no antigo canal, apareceram discursos isolados com votos de fim de ano de Putin, François Hollande e Emmanuel Macron (sem contar Aliaksandr Lukashenka, dono de Belarus que – pra minha alegria! – só fala russo), também listados abaixo, quando já antigos. A iniciativa também se alinha a minha atividade preferida de tradução, que foi a razão de eu ter fundado tanto meu finado canal quanto está página: disponibilizar ao público leigo ou especializado documentos que podem servir pra pesquisa e compreensão históricas, contornando as barreiras linguísticas e dando a oportunidade pra que todo mundo tire criticamente suas próprias conclusões por meio do acesso direto às fontes. Em cada publicação, estão listadas as fontes dos vídeos e, quando fosse o caso, dos textos já transcritos.

Por enquanto, estou começando com Nicolas Sarkozy e passando por François Hollande e Emmanuel Macron, mas no futuro, se eu achar os vídeos, talvez eu também traduza as alocuções de 1974-1975 a 2006-2007 feitas por Valéry Giscard d’Estaing, François Mitterrand e Jacques Chirac, embora eu não vá legendar o audiovisual. Procurei manter um estilo mais formal e padronizado, sem as constantes abreviações e oralidades que emprego aqui, e com recursos gramaticais que também costumo evitar (futuro do presente simples, pronome enclítico). Cada ano se refere ao que vai começar no dia seguinte, ou seja, pro qual o presidente está fazendo votos ainda na noite de Réveillon (votos pra 2010 feitos em 31/12/2009, votos pra 2025 feitos em 31/12/2024 etc.).

Lembrando, claro, que devido à agilização produtiva, decidi manter sem legendas os vídeos posteriores ao Pan-Eslavo Brasil e publicar apenas os textos. Portanto, se você tem vontade de se voluntariar pra colocar legendas, sinta-se livre pra me contatar! Se você tiver essa coragem, também permito que coloque em seu próprio YouTube ou outra rede social as legendas com meu texto, mas por favor, em prol da educação, pelo menos cite o autor (i.e. eu) e o link da tradução original.


Nicolas Sarkozy (2007-2012)


François Hollande (2012-2017)


Emmanuel Macron (2017-2022 e 2022-2027)



domingo, 23 de março de 2025

Votos de Emmanuel Macron pra 2023


Endereço curto: fishuk.cc/voeux2023

Desde a primeira posse de Emmanuel Macron, em 2017, os registros no site oficial do Elysée começaram a ficar muito bagunçados, e alguns discursos sumiram, outros ficaram mais difíceis de encontrar, não foi constituído um acervo de vídeos históricos etc. Por isso, fiquei dependente do que pude encontrar pelo Google ou no YouTube.

Curiosamente, os europeus pareciam gostar nos anos 2000 muito mais do Dailymotion ou do Vimeo do que do próprio YouTube, portanto, foi muito mais fácil achar os discursos de Sarkozy na primeira plataforma. A partir de 2013, sob François Hollande, ficou mais fácil achar em canais diversos do YouTube, sobretudo de agências de notícias, como estes votos pra 2023. Porém, até hoje não entendo por que nenhum vídeo do presidente Hollande foi publicado no YouTube oficial, enquanto o Dailymotion oficial é o mais completo de todos. Além disso, conforme as datas dos vídeos, há um “buraco” no YouTube entre 28 de janeiro de 2011 e 15 (“Ao vivo”) ou 18 (“Vídeos”) de janeiro de 2019...

O ano de referência sempre é o próximo, ao qual cada presidente está desejando votos, e não o que está acabando, quando o discurso é gravado e lançado. Uso o Google Tradutor pra obter os textos mais rapidamente, mas revisando e confrontando manualmente com os originais. Pra França, a fonte desses textos, como é o caso dos votos pra 2023, está sendo um site de informações políticas, econômicas e sociais chamado “Vie publique”, ligado ao gabinete do primeiro-ministro, mas infelizmente pouco divulgado.

Hoje terminam os votos de fim de ano dos presidentes franceses desde 2007-2008, começando por Nicolas Sarkozy e passando por François Hollande e Emmanuel Macron. Amanhã vão sair na página a publicação oficial, catalogando todos os discursos, e o banner lateral, disponível na seção “Meus chuchus” de principais materiais de pesquisa. No futuro, se eu achar os vídeos, talvez eu também traduza as alocuções de 1974-1975 a 2006-2007 feitas por Valéry Giscard d’Estaing, François Mitterrand e Jacques Chirac, embora eu não vá legendar o audiovisual. Depois desta coleção, vou começar aquela com os discursos de fim de ano de Vladimir Putin e Dmitri Medvedev, presidentes da Rússia desde 2000.



Meus caros compatriotas,

Pela sexta vez, tenho o privilégio de partilhar com vocês esse momento de felicitações.

Com vocês, oficiais e soldados de nosso exército, que nos protegem. Com vocês, policiais civis e militares, bombeiros, forças de segurança e socorristas marítimos, que zelam por esta noite. Com vocês, médicos, cuidadores, pacientes. Com vocês, funcionários públicos que garantem a continuidade de nossos serviços. Com vocês, cidadãos engajados profissionalmente ou em nossas associações. Com vocês, nossos compatriotas do ultramar. Com todos vocês que estão com a família na França ou no exterior, e mais particularmente com vocês cuja vida os fez se sentirem sozinhos esta noite. Vocês que passam por provações e para quem nossos pensamentos se dirigem.

As cerimônias de felicitações têm esta singularidade: obrigam-nos a falar de um futuro que, na verdade, não conhecemos, mas que sabemos com certeza que teremos de enfrentar, com nossas forças e fraquezas, mas como um país unido.

Nas responsabilidades que me são atribuídas, nunca perco de vista esse imperativo de unidade da nação que formamos todos juntos.

Se cedêssemos ao espírito de divisão que nos pressiona por todos os lados, não teríamos quase nenhuma chance de sair dessa, em um mundo tão duro, em tempos tão difíceis. Portanto, desejo que vivamos 2023, tanto quanto possível, como um país unido e solidário, reconhecendo o lugar de cada pessoa e respeitando a todos.

Lembro-me dos votos que fazia a vocês nesta mesma hora, um ano atrás. Quem imaginaria naquele momento que, pensando que saíamos com muita dificuldade de uma epidemia global, teríamos de enfrentar desafios inimagináveis em poucas semanas: a guerra retornando ao solo europeu após a agressão russa mirando a Ucrânia e sua democracia; dezenas, talvez centenas de milhares de mortos, milhões de refugiados, uma terrível crise energética, uma crise alimentar ameaçadora, a invocação das piores ameaças, inclusive nucleares? Quem poderia ter previsto a onda de inflação então desencadeada? Ou a crise climática com seus efeitos espetaculares novamente neste verão em nosso país?

Entretanto, ao longo dessas temporadas de perigo, o que mais uma vez permaneceu constante este ano foi nossa capacidade coletiva de enfrentar juntos esses desafios.

Sim, durante este ano, a França e a Europa levaram juntas a voz do direito e da liberdade para apoiar a Ucrânia; milhares de vocês demonstraram solidariedade ao acolher, em nossas cidades e vilas, refugiados que fugiam da invasão russa.

A solidariedade nacional, financiada pelos contribuintes franceses, permitiu atenuar o aumento dos preços da energia para todos, preservar nossas empresas e, em particular, proteger os rendimentos dos mais modestos entre nós. E graças a nossa ação coletiva, sustentamos o crescimento, contivemos a inflação em níveis abaixo dos de nossos vizinhos e reduzimos o desemprego a seu nível mais baixo em quinze anos. De fato, continuamos a criar empregos este ano, e empregos de qualidade.

A cada desafio, a Europa nos permitiu agir de forma mais rápida e forte, para criar um bloco de resistência unida face à Rússia, reinvestir em nossas indústrias; e, sobretudo, encontrar as respostas aos desafios do século em escala continental. Assim, durante os seis primeiros meses deste ano, enquanto a França presidia o Conselho da União Europeia, tomamos decisões para reduzir em mais da metade nossas emissões de gases do efeito estufa até 2030, promulgamos um imposto de carbono em nossas fronteiras para proteger nossas indústrias e nosso planeta, decidimos juntos criar um imposto mínimo sobre as grandes multinacionais para combater a evasão fiscal e começamos juntos a regular melhor as grandes plataformas digitais.

E apesar de todas essas crises, de todos esses desafios, 2022 também foi, para todos nós, um ano democrático intenso, durante o qual vocês renovaram nossa Assembleia Nacional e decidiram, por ocasião da eleição presidencial desta primavera, confiar-me um novo mandato de cinco anos à frente de nossa nação, o que me honra e me responsabiliza.

2022 também foi mais uma vez um ano de brilho artístico, cultural e esportivo para nosso país, com dois prêmios Nobel e tantos grandes momentos de criação e esporte. Tenhamos orgulho de tudo isso, de tudo o que conquistamos juntos durante o ano que está terminando.

Precisamos nos munir desse orgulho e confiança para enfrentar o próximo ano. Porque acredito que este ano de 2023, antes de tudo, é um ano de questões que sei serem preocupantes e de crises a serem novamente enfrentadas.

Haverá cortes de energia? Se continuarmos a economizar energia, como temos feito há vários meses e como anunciei a vocês em 14 de julho passado, e se continuarmos a reativar nossos reatores nucleares conforme planejado, teremos sucesso. Está em nossas mãos.

Haverá aumento nos preços da energia? Aqui também colocamos em prática respostas concretas. Digo isso a cada um de vocês, pois, embora os preços da energia tenham atingido níveis históricos, o aumento permanecerá limitado em nosso país. Digo isso em particular a nossos autônomos, nossos padeiros, mas também a nossas empresas mais industriais. A partir de amanhã, vocês terão assistência adequada, além do escudo tarifário já em vigor, para que possa ser garantida a sustentabilidade de sua atividade, de nossos empregos e de nossa competitividade. E, sempre que necessário, o governo adaptará suas respostas, como tem feito a cada instante. Acima de tudo, aceleraremos as soluções para deixar nossas dependências e ter um preço de eletricidade correspondente a seu custo de produção.

Teremos outra onda de covid, e a epidemia acabará algum dia? Também seremos capazes de lidar com isso. Primeiro, graças ao uso razoável e apropriado do distanciamento físico contra o vírus, que aprendemos. Depois, graças à vacinação que demonstrou sua eficácia; e esta noite peço a todos os nossos compatriotas com mais de 70 anos, em particular, que tomem a dose de reforço ou se vacinem, caso ainda não o tenham feito. E finalmente, por meio de testes, sequenciamento genético e estabelecimento de controles fronteiriços.

Foi o que o Governo decidiu fazer em nossos aeroportos, a partir de amanhã, para os aviões que chegam da China, onde a epidemia está a todo vapor e onde muitas restrições foram flexibilizadas.

Teremos que trabalhar mais em 2023? Aqui também, como prometi a vocês, este será de fato um ano de reforma previdenciária visando garantir o equilíbrio de nosso sistema pelos próximos anos e décadas. Precisamos trabalhar mais, é o sentido mesmo da reforma do seguro-desemprego que foi apoiada pelo Governo e votada pelo Parlamento. É também o sentido desta reforma, sobre a qual os parceiros sociais e o governo trabalharão nos próximos meses para terminar de implementar as novas regras que serão aplicadas a partir do final do verão de 2023. O objetivo é consolidar nossos regimes de aposentadoria por repartição, que de outra forma estariam ameaçados, pois continuamos financiando-nos a crédito. Para isso, a extensão de nossas carreiras profissionais será gradual e feita por etapas ao longo de quase dez anos. Também será justo, levando em conta carreiras longas, carreiras interrompidas e a dificuldade de certas tarefas e profissões. Mas é isso que nos permitirá equilibrar o financiamento de nossa aposentadoria, em nosso país, e é uma oportunidade, onde vivemos mais, de melhorar a aposentadoria mínima para todas e todos que trabalharam para ter seu sustento e de passar a nossos filhos um modelo social justo e sólido, porque será confiável e financiado no longo prazo.

Na longa história de nossa nação, houve gerações que resistiram, outras que reconstruíram e outras ainda que estenderam a prosperidade alcançada.

No que nos diz respeito, cabe a nós enfrentar esse novo capítulo de uma época difícil e, além das emergências deste ano, que acabei de mencionar em parte, ter a responsabilidade de reconstruir diversos pilares de nossa nação, sejam nossas escolas, nossa saúde, nosso transporte, a gestão de nosso território, nossas indústrias e assim por diante.

Para isso, precisamos permanecer unidos, mas também manter uma ambição coletiva intata, uma ambição de continuar transformando nosso país contra o corporativismo e todas as boas razões para fazer como antes, ou contra a tentação do espírito de derrota.

É assim que seremos úteis a nossos jovens e às gerações futuras. Há cinco anos, iniciamos em grande parte esse trabalho de transformação, simplificação e combate à lentidão. Mas às vezes é muito pouco e, várias vezes, muito lento.

E sou impaciente igual a vocês, mas sem nunca ceder à facilidade ou à fatalidade. Assim, desejo que 2023 seja para nós um ano feliz, com nosso trabalho e empenho em trabalhar para refundar uma França mais forte e mais justa e passá-la para nossos filhos.

É por meio de nosso trabalho e empenho que poderemos aumentar os recursos de nossas forças de segurança interna, de nossa Justiça, de nossas Forças Armadas, diante dos novos desafios geopolíticos e da proliferação dos conflitos.

É por meio de nosso trabalho e empenho que combateremos mais eficazmente o tráfico e a imigração ilegal para a França europeia [Hexagone] e para nossos territórios ultramarinos. Permaneçamos fiéis a nossos valores, sempre. Integremo-nos melhor por meio da língua e do trabalho, protejamos as lutadoras e os lutadores pela liberdade, bem como aquelas e aqueles que vêm do Irã ou de outros lugares, mas mantenhamos o controle de nossas fronteiras, da unidade da nação.

É por meio de nosso trabalho e empenho que também construiremos uma nação produtiva e ecológica. Sendo a transição ecológica uma batalha que deveremos vencer, precisamos travá-la com determinação e método. O planejamento ecológico será o instrumento dessa superação histórica para reduzir nossas emissões de CO2 e salvar nossa biodiversidade. Com nosso plano França 2030, continuaremos investindo, inovando e implantando uma ecologia em escala industrial. E após a lei que visa acelerar a implantação de energias renováveis, a lei sobre a energia nuclear marcará o lançamento da construção de novas usinas elétricas em nosso território.

É por meio de nosso trabalho e empenho que também restauraremos uma nação de confiança, tornando efetiva nossa laicidade todos os dias porque é um princípio de liberdade. E ela não tira em nada o lugar da religião no foro íntimo de cada um, para todos os que creem, e saúdo neste momento a memória de Sua Santidade Bento 16, cujo falecimento, eu sei, afeta muitos católicos na França e no mundo. Essa nação de confiança também será fortalecida por um combate constante a toda discriminação, em uma sociedade de respeito e reconhecimento. Ela também será fortalecida por uma luta diária que continuaremos travando para estar ao lado das pessoas com deficiência.

É por meio de nosso trabalho e empenho que devemos refundar nossos principais serviços públicos para que eles garantam plenamente nosso ideal de igualdade. Com o Conselho Nacional da Refundação, pusemo-nos a renovar o contrato entre as gerações e trabalhar para apoiar melhor nossos idosos em situação de dependência.

Também começamos a reavivar a confiança em nossa Educação Nacional e em nossa saúde, contando com a energia e dedicação de nossos professores e cuidadores. Continuaremos com ardor durante o próximo ano, com escolhas claras e fortes e um trabalho o mais próximo possível dos profissionais.

É por meio de nosso trabalho e empenho que construiremos uma sociedade mais justa. Uma sociedade mais justa é, antes de tudo, uma sociedade onde a igualdade entre mulheres e homens seja efetiva, e essa também, a grande causa de meus dois mandatos de cinco anos, continuará impulsionando o trabalho do Governo e nutrindo a ação todos os dias. Mas uma sociedade mais justa também o é no âmbito social. Não aumentando impostos, não. Nem legando mais dívidas às gerações futuras. Mas melhorando o apoio a nossas crianças e adolescentes, reformando nosso ensino médio profissionalizante e melhorando a orientação de nossos adolescentes para que encontrem o treinamento certo e os empregos certos. Reindustrializando nosso país de modo mais rápido e forte, para oferecer novos empregos e carreiras do futuro. Pois a principal injustiça em nosso país continua sendo o determinismo familiar e a fraquíssima mobilidade social. E a resposta está na escola, na orientação, em nosso ensino superior, em nossa política de inovação e em nossa industrialização.

E como a confiança na vitalidade de nossa vida democrática também diminuiu, sabemos que teremos muito a fazer nos próximos meses. Nas próximas semanas e meses, lançarei as primeiras bases para um Serviço Nacional Universal. Teremos de lançar os ajustes necessários em nossas instituições e em nossa vida pública e cidadã. E com a Assembleia Nacional e o Senado, e também com o Conselho Econômico, Social e Ambiental, teremos de construir um melhor funcionamento dos poderes e uma associação mais frequente dos nossos concidadãos.

A França e a Europa têm um papel eminente a desempenhar neste momento de nossa humanidade, quando tantos regimes autoritários vêm abalar nossas democracias e seus fundamentos. Proteger nossas crianças, proteger nossa informação livre e independente, a ordem livre e justa que permite aos cidadãos serem felizes: eis alguns dos combates de nosso tempo.

Somos obrigados a abarcar tudo isso.

Sim, é por meio de nosso trabalho e empenho que poderemos dar-nos os meios para alcançar nossas aspirações de hoje e nossas ambições de amanhã.

Em suma, em 2023, teremos de consolidar passo a passo nossa independência energética, econômica, social, industrial, financeira e estratégica e fortalecer nossa força de espírito, se assim posso dizer. É isso que devemos a nossos filhos.

Não é, e nunca será, uma corrida por ilusões perdidas de antemão. Pois essa independência francesa deve encontrar seu retransmissor e complemento em nossa Europa. Quando tantos países sonham em ser impérios, quando tantas empresas imaginam ser reinos, temos um continente para formar um espaço de paz e liberdade, de prosperidade, solidariedade, direito e potência. Desde 2017, travamos esse combate para que nossa Europa reúna suas forças. Para que em 27, sejamos mais fortes.

Por isso tenho travado esse combate nos últimos anos, por isso vocês me ouviram também alertar outros europeus para defenderem nossas indústrias e empregos, há algumas semanas, após as decisões de outros continentes, e por isso redobrarei meus esforços nesse início de ano.

Meus caros compatriotas,

Esta noite, em nome de vocês, quero dizer a nossos amigos ucranianos: nós os respeitamos e os admiramos. Sua luta para defender sua nação é heroica e nos inspira. E durante o ano que começa, estaremos inabalavelmente a seu lado. Nós os ajudaremos até a vitória e estaremos juntos para construir uma paz justa e duradoura. Contem com a França e contem com a Europa.

Quanto a nós, sejamos essa geração de construtores.

Nos próximos meses de 2023, as obras de reconstrução de Notre-Dame de Paris, esse canteiro excepcional, caminharão para a conclusão. Nos próximos meses, todo o nosso país se reunirá fraternalmente às vésperas dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos e por ocasião da Copa do Mundo de Rugby na França. Nos próximos meses, graças ao plano França 2030, os primeiros carros elétricos construídos inteiramente em nosso território sairão das fábricas. E muitos outros projetos ocorrerão em todo o nosso território para permitir que a França reduza tanto o carbono quanto o desemprego. Nos próximos meses, em nossas salas de aula, hospitais e consultórios médicos urbanos, vocês verão os primeiros resultados palpáveis da renovação de nossa escola e de nossa saúde.

Por tudo isso, faço para todos nós meus melhores votos de unidade, audácia, ambição coletiva e benevolência. Meus caros compatriotas, juntos já superamos tantas crises. Sei que somos capazes de resolver aquelas diante de nós ser a geração com a responsabilidade de refundar a França e a Europa para transmiti-las mais fortes, mais belas e mais justas para nossos filhos.

Juntos teremos sucesso.

E forte dessa confiança, faço a vocês meus melhores votos para este novo ano.

Viva a República.
Viva a França.



sábado, 22 de março de 2025

Estamos às portas de um “muskolão”?


Endereço curto: fishuk.cc/muskolao


Segundo matérias investigativas dos jornais The Washington Post (20 de março) e The New York Times (19 de março), o empresário metido a reformador estatal Ilomasque teria “doado” milhares de doletas a deputados e um senador do “GOP” (o “Good and Old Party”, apelido do Partido Republicano) pra votarem a favor de um eventual impeachment de juízes contrários aos ucasses do presidento Tio Patinhas. O que são milhares pra quem tem uma fortuna estimada em centenas de bilhões?

A vontade de destituir juízes “incômodos” é algo novo, mesmo no Bananastão pós-Genossias, mas infelizmente o roteiro de compra de parlamentares nos é longamente conhecido, e perpassa épocas e partidos. O admirável é que isso possa ter ocorrido no “exemplo mundial de democracia” e que muitos dos mesmos críticos ferozes do “mensalão” e do “petrolão” hoje lambem as bolas do “homem mais rico do mundo”. Quem tem senso de humor melhor do que o meu poderia falar que estamos às portas de um “trumpolão”, mas dado que é difícil saber de quem foi a iniciativa, não seria mais exato nos atermos a um “muskolão”? É, cada país tem sua cota merecida de Marcos Valério, irmãos Batista, Geddel, Queiroz...

Aparentemente, esse tipo de doação não é ilegal nos EUA: há várias eleições programadas pra 2025, em diversos níveis, às vezes pra cargos que no Fazendil nem são eletivos. Mas o que está causando arrepios é o fato de justamente esses beneficiários estarem defendendo impeachment de magistrados, algo considerado imoral, ilegal e ineficaz. Os dois jornalões citados acima só podem ser lidos por assinantes. Portanto, cito os links em prol da honestidade, mas seguem abaixo algumas mídias liberais que considero confiáveis e que trouxeram o essencial do conteúdo divulgado.

Recomendo também o artigo “Novos gastos políticos sinalizam que o papel enorme de Elon Musk no Partido Republicano continua crescendo”, de Ben Kamisar e Allan Smith pra NBC News, sobre a máquina financeira que o pai da Vivian tá movendo pra redesenhar a política ianque, rs.



Musk doa milhares para congressistas republicanos pressionarem pelo impeachment de juízes que se opõem a Trump: Reportagem (Josh Marcus, The Independent) – A pressão de Trump pelo impeachment de juízes ocorre enquanto a administração é acusada de desafiar a ordem do tribunal federal sobre voos de deportação

Elon Musk teria feito doações a sete congressistas republicanos, os quais apoiam todos os apelos do governo Trump para demitir ou ignorar juízes federais que interromperam partes da agenda do presidente Donald Trump.

Musk, que afirmou nos últimos dias que tais juízes estão liderando um “golpe judicial”, doou milhares de dólares para os deputados [lá chamados de Representatives] Eli Crane (Arizona), Lauren Boebert (Colorado), Andy Ogles (Tennessee), Andrew Clyde (Geórgia), Derrick Van Orden (Wisconsin) e Brandon Gill (Texas), e o senador Charles Grassley (Iowa), de acordo com o New York Times.

Os supostos beneficiários estão entre as vozes mais agressivas no Congresso pressionando pelo impeachment ou por alguma outra forma de constranger os juízes.

O deputado Gill entrou com um pedido de impeachment contra o juiz distrital federal James Boasberg, que ordenou que o governo Trump cancelasse um grupo de voos de deportação recentes para El Salvador, em meio a uma contestação à invocação da Lei de Inimigos Estrangeiros de 1798 pela Casa Branca para deportações rápidas, uma diretiva que o governo ignorou.

Por sua vez, o deputado do Arizona tentou o impeachment de um juiz federal que restringiu temporariamente o acesso aos dados do Departamento do Tesouro pelo programa do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) de Musk.

“Não fizemos isso para que Elon Musk nos desse uma doação de campanha”, disse Crane ao jornal. “Mas acho ótimo que indivíduos como Elon estejam dando apoio àqueles de nós dispostos a agir.”

O governo Trump e seus aliados têm pressionado intensamente os juízes federais que decidiram contra ele no tribunal, argumentando que os funcionários são partidários e não deveriam ser capazes de refutar a vontade do presidente porque eles próprios não foram eleitos – um grande afastamento do princípio fundamental do sistema dos EUA de separação de poderes.

Musk recentemente repostou uma publicação do ativista conservador Charlie Kirk chamando os juízes federais de “ditadores empunhando martelos”, com o conselheiro não eleito da Casa Branca acrescentando que ele quer que o Congresso efetue o impeachment dos juízes e “restaure o governo do povo”.

Na quarta-feira, a secretária de imprensa Karoline Leavitt acusou aqueles que contestam as ações do governo de tentarem “fazer escolhas de juízes – escolher juízes que estão claramente agindo como ativistas partidários do tribunal, em uma tentativa de atrapalhar a agenda deste presidente”.

Em uma postagem recente no Truth Social, Trump alegou que Boasberg estava tentando ultrapassar sua autoridade.

“Se um presidente não tem o direito de expulsar assassinos e outros criminosos do nosso país porque um juiz lunático da esquerda radical quer assumir o papel de presidente, então nosso país está em apuros e destinado ao fracasso!”, escreveu Trump.

Leavitt se referiu a Boasberg como um “ativista democrata” que foi nomeado pelo ex-presidente Barack Obama. Mas ela foi corrigida na coletiva de imprensa que o juiz foi nomeado por George W. Bush e só mais tarde promovido a seu posto atual por Obama.

Especialistas jurídicos têm alertado que o governo Trump já está desrespeitando ordens judiciais federais, preparando o cenário para uma crise constitucional maior.

No mês passado, Ty Cobb, ex-funcionário do governo Trump, disse Independent que está preocupado que a Casa Branca parece estar pronta para ignorar o judiciário independente na maioria dos casos, embora tenha apontado uma exceção.

“A menos que e até que a Suprema Corte intervenha, porque esse é o único tribunal que ele parece ouvir”, disse Cobb ao Independent.

Esta semana, o juiz da Suprema Corte John Roberts fez uma rara declaração pública, após as tentativas do governo Trump de remover Boasberg do caso de deportações.

“Por mais de dois séculos, está estabelecido que o impeachment não é uma resposta apropriada para discordâncias sobre uma decisão judicial”, escreveu Roberts. “O processo normal de análise de apelação existe para esse propósito.”


Enquanto Elon Musk recompensa os defensores do impeachment judicial, Jim Jordan olha para as audiências (Steve Benen, MSNBC) – As duas pontas são impressionantes: enquanto Musk doa para republicanos que apoiam o impeachment de juízes, o presidente da Comissão de Justiça da Câmara quer audiências.

Depois que o governo Trump perdeu mais uma batalha judicial esta semana, seu principal doador de campanha, Elon Musk, recorreu a uma reclamação conhecida. “Este é um golpe judicial”, escreveu o megadoador republicano por meio de sua plataforma de mídia social. “Precisamos de 60 senadores para destituir os juízes e restaurar o governo do povo.”

Como explicou logo depois meu colega da MSNBC Jordan Rubin, Musk errou todos os detalhes relevantes em sua missiva: não é um “golpe” quando a Casa Branca perde disputas judiciais; os senadores não são responsáveis pelo impeachment de ninguém; e o mínimo para remover do tribunal um juiz em exercício é 67 votos, não 60.

Mas, apesar de sua falta de familiaridade com o processo de impeachment, o bilionário tem avançado com vigor enervante nas últimas semanas a ideia de destituir juízes. De fato, a NBC News observou na quarta-feira que Musk havia postado sobre o impeachment de juízes “17 vezes nas últimas 24 horas”.

Além disso, como relatou o New York Times, ele também está investindo seu dinheiro onde estão seus tuítes:

Elon Musk fez a doação máxima permitida a membros republicanos do Congresso que apoiam o impeachment de juízes federais que estão impedindo ações tomadas pelo presidente Trump, de acordo com cinco pessoas com conhecimento do assunto. Musk deu o que tinha sido até recentemente a doação máxima legal em dólares (6,6 mil) para as campanhas de sete republicanos que ou endossaram o impeachment de judiciais ou pediram alguma forma de “ação” em resposta a decisões recentes contra o governo Trump, incluindo uma decisão do juiz James E. Boasberg, do Tribunal Distrital Federal em Washington, no fim de semana.

De acordo com a reportagem, que não foi verificada de forma independente pela MSNBC ou NBC News, os beneficiários das contribuições de campanha incluem os deputados republicanos Eli Crane (Arizona), Lauren Boebert (Colorado), Andy Ogles (Tennessee), Andrew Clyde (Geórgia), Derrick Van Orden (Wisconsin) e Brandon Gill (Texas). Inesperadamente, Musk também doou ao senador republicano Chuck Grassley (Iowa), que não endossou explicitamente o impeachment de nenhum juiz, mas criticou uma decisão judicial recente no caso da Lei de Inimigos Estrangeiros.

Certamente, o máximo legal para doações em dinheiro é bastante modesto – para alguém com a riqueza de Musk, cheques de US$ 6,6 mil não farão falta –, mas há um significado político mais amplo: o chefe do DOGE acaba de enviar um sinal nada sutil aos congressistas de que os defensores do impeachment de juízes no Capitólio devem esperar ser recompensados pelo maior megadoador republicano de todos.

O portal Politico também noticiou: “O presidente do Judiciário da Câmara, Jim Jordan, disse que planeja realizar audiências sobre decisões judiciais recentes contra a agenda do governo Trump, depois que o presidente Donald Trump, Elon Musk e conservadores pediram o impeachment de juízes federais”.

O republicano de Ohio disse à CNN: “Faremos audiências sobre toda essa questão”, acrescentando que está especialmente interessado “nas 15 liminares que foram feitas em um período de oito semanas”.

É claro que, como já discutimos, o fato de a Casa Branca ter enfrentado tantas liminares em tão pouco tempo é menos evidência de parcialidade judicial e mais evidência de uma administração que continua forçando os limites legais de maneiras radicais e inéditas.

No entanto, a equipe de Trump quer que a ideia de destituir juízes seja levada a sério e, evidentemente, o Comitê Judiciário da Câmara, liderado por Jordan, está preparado para examinar a questão com mais detalhes.

Aparentemente há, no entanto, algumas divisões entre os congressistas republicanos. Em uma reportagem especial esta semana, Politico citou um republicano da Câmara dizendo: “Eu não apoio o impeachment de um juiz em exercício com base apenas em uma decisão com a qual eu discordo.”

O fato de o membro não nomeado ter desejado não ser identificado diz muito sobre o estado atual do partido.


Lauren Boebert entre os republicanos que receberam doações de Musk após apoiarem o impeachment de juízes (Gustaf Kilander, The Independent) – “Em mais de dois séculos, nunca [houve] um abuso tão extremo do sistema legal por ativistas fingindo ser juízes. Destituam-nos”, escreve Musk no X.

Elon Musk está enviando dinheiro para membros do Congresso, incluindo Lauren Boebert, que expressaram apoio ao impeachment de juízes que bloqueiam ações do presidente Donald Trump e de seu governo, disseram cinco pessoas ao New York Times.

Musk entregou a maior doação possível em dinheiro vivo permitida, US$ 6,6 mil, a sete republicanos e suas campanhas depois que eles apoiaram o impeachment de juízes ou pediram que “ações” fossem tomadas contra eles. Isso ocorre após decisões recentes contra o governo Trump, como uma decisão, no fim de semana, do juiz James Boasberg no Tribunal Distrital Federal na capital do país.

Boasberg decidiu no sábado que a administração devia cancelar voos que transportavam supostos membros de gangues venezuelanas para El Salvador, mas a administração não cumpriu, levando a preocupações sobre uma possível crise constitucional. Trump então argumentou nas mídias sociais que Boasberg devia sofrer impeachment.

[Aqui são novamente citados os congressistas já listados acima.] Gill apresentou um pedido de impeachment contra o juiz depois que ele emitiu uma ordem bloqueando temporariamente o uso de Trump da Lei de Inimigos Estrangeiros de 1798 para deportar os venezuelanos. Boebert apoiou o pedido de impeachment contra o juiz, com Musk usando o X para expressar sua aprovação.

Crane apresentou o pedido de impeachment contra o juiz Paul Engelmayer, do Tribunal Distrital do Distrito Sul de Nova York, depois que ele limitou temporariamente o acesso aos sistemas de pagamento e de dados do Departamento do Tesouro pelo Departamento de Eficiência Governamental, o instrumento de Musk para diminuir o tamanho do Estado.

“Não fizemos isso para que Elon Musk nos desse uma doação de campanha”, disse Crane ao Times. “Mas acho ótimo que indivíduos como Elon estejam dando apoio àqueles de nós dispostos a agir.”

Clyde disse ao jornal que não tinha “nenhum conhecimento prévio de que Elon Musk faria uma doação de campanha”, mas acrescentou: “Estou muito grato por ele ter feito isso.”

Ogles apresentou uma resolução para permitir que Trump cumprisse outro mandato na Casa Branca. Ele disse ao Times que a “dedicação de Musk não é apenas louvável, mas também vital para o futuro de nossa República”.

“Em mais de dois séculos, nunca [houve] um abuso tão extremo do sistema legal por ativistas fingindo ser juízes. Destituam-nos”, disse Musk pelo X na quarta-feira.

Grassley é o presidente da Comissão de Justiça do Senado. Ele não pediu o impeachment de Boasberg, mas escreveu no X: “Mais um dia, mais um juiz decidindo unilateralmente a política para todo o país. Desta vez para beneficiar membros de gangues estrangeiras. Se a Suprema Corte ou o Congresso não derem um jeito, estamos caminhando para uma crise constitucional. A Comissão de Justiça do Senado está tomando medidas.”

Musk gastou quase US$ 300 milhões nas eleições de 2024, e seu “super PAC” [comitê de ação política que permite a doação ilimitada de empresas de indivíduos, mas sem que estes direcionem a partidos ou candidatos] indicou que se concentrará em pleitos municipais e estaduais neste ano. O bilionário dono da Tesla e da SpaceX geralmente prefere apoiar seus próprios grupos em vez de entregar dinheiro diretamente aos políticos. Inicialmente, ele não doou para a campanha de Trump em 2024, e em vez disso, apoiou seu “super PAC” que apoia Trump.

O presidente pediu o impeachment de Boasberg na terça-feira.

“Esse juiz, como muitos dos juízes corruptos perante os quais sou forçado a comparecer, deveria ser DESTITUÍDO!!!” escreveu o presidente no Truth Social.

Isso levou o presidente da Suprema Corte, John Roberts, a dizer em uma declaração que “Por mais de dois séculos, está estabelecido que o impeachment não é uma resposta apropriada para discordâncias sobre uma decisão judicial”.

“O processo normal de análise de apelação existe para esse propósito”, disse Roberts.



sexta-feira, 21 de março de 2025

Votos de Emmanuel Macron pra 2022


Endereço curto: fishuk.cc/voeux2022

Desde a primeira posse de Emmanuel Macron, em 2017, os registros no site oficial do Elysée começaram a ficar muito bagunçados, e alguns discursos sumiram, outros ficaram mais difíceis de encontrar, não foi constituído um acervo de vídeos históricos etc. Por isso, fiquei dependente do que pude encontrar pelo Google ou no YouTube.

Curiosamente, os europeus pareciam gostar nos anos 2000 muito mais do Dailymotion ou do Vimeo do que do próprio YouTube, portanto, foi muito mais fácil achar os discursos de Sarkozy na primeira plataforma. A partir de 2013, sob François Hollande, ficou mais fácil achar em canais diversos do YouTube, sobretudo de agências de notícias, como estes votos pra 2022. Porém, até hoje não entendo por que nenhum vídeo do presidente Hollande foi publicado no YouTube oficial, enquanto o Dailymotion oficial é o mais completo de todos. Além disso, conforme as datas dos vídeos, há um “buraco” no YouTube entre 28 de janeiro de 2011 e 15 (“Ao vivo”) ou 18 (“Vídeos”) de janeiro de 2019...

O ano de referência sempre é o próximo, ao qual cada presidente está desejando votos, e não o que está acabando, quando o discurso é gravado e lançado. Uso o Google Tradutor pra obter os textos mais rapidamente, mas revisando e confrontando manualmente com os originais. Pra França, a fonte desses textos, como é o caso dos votos pra 2022, está sendo um site de informações políticas, econômicas e sociais chamado “Vie publique”, ligado ao gabinete do primeiro-ministro, mas infelizmente pouco divulgado.



Francesas, franceses,

Meus caros compatriotas da metrópole, do ultramar e do exterior,

Mais uma vez, esta última noite do ano é marcada pela epidemia e pelo aumento das restrições que pesam sobre nosso dia a dia. Assim, neste momento, dedico acima de tudo uma lembrança a nossos 123 mil compatriotas cujas vidas foram ceifadas pelo vírus. Uma lembrança a todos os que estão agora atravessando o luto, a dor ou a solidão.

Também não me esqueço daqueles entre vocês que foram afetados pela covid longa, bem como os que estão sofrendo as consequências psicológicas da crise sanitária.

Esta noite, quero mais uma vez, em nome de todos vocês, expressar nossa gratidão a nossos profissionais de saúde, nossas forças armadas, nossas autoridades policiais, nossos bombeiros, nossos cuidadores, nossos auxiliares domiciliares e tantas outras profissões, todas empenhadas neste 31 de dezembro, como em todos os dias, para nos proteger e cuidar de nós.

Todos sabemos que as próximas semanas serão difíceis: o vírus está circulando e circulará cada vez mais, medidas foram tomadas pelo governo para enfrentá-lo e peço que todas e todos fiquem alerta, setores como cultura, esporte, restaurantes, hotelaria, turismo ou eventos sofrerão novamente as consequências econômicas dessa situação. Nós os ajudaremos como devemos e como temos feito desde o início dessa pandemia.

Muitas de nossas atividades também ficarão desorganizadas devido a essa nova variante altamente contagiosa. Nesse contexto, garantiremos a continuidade dos serviços públicos e da vida da Nação. Mas, em comparação com o mesmo período do ano passado, quando as restrições eram muito mais fortes, temos a arma da vacina a nosso lado e as lições da nossa experiência coletiva. E, portanto, razões reais para ter esperança.

Enquanto falo com vocês esta noite, temos mais de 53 milhões de pessoas totalmente vacinadas, o que coloca nosso país no pelotão de elite mundial. Somos 24 milhões de pessoas que receberam uma dose de reforço e nossa meta é permitir que todos sejam vacinados e recebam o reforço.

Assim, poderemos superar essa onda, limitando as restrições o máximo possível. Continuando como temos feito desde o início, fazer de tudo para preservar a atividade e o que temos de mais precioso, que é a escola, a educação de nossos filhos.

Portanto, esta noite, quero repetir com grande força e convicção: a vacinação é nosso atributo mais seguro. Reduz significativamente a transmissão e divide por 10 o número de formas graves. Por isso, mais uma vez, apelo à 5 milhões de pessoas não vacinadas: faça esse gesto simples. Por vocês. Por seus compatriotas. Por nosso país. Toda a França conta com vocês.

A vacinação por si só é suficiente? Não. Por isso, respeitar o distanciamento físico contra o vírus continua sendo essencial, em particular o uso de máscara.

Todos juntos, portanto, passaremos por essa nova provação seguindo os mesmos princípios do primeiro dia.

Primeiro, nos protegermos. Proteger os mais vulneráveis, proteger nossos hospitais com seus profissionais, que estão sob grande pressão, mesmo quando precisam tratar outras doenças. Proteger também nossa economia e nossos empregos, como fizemos com o “custe o que custar”.

Depois, com base nos fatos e na ciência, concentrarmo-nos em tomar medidas proporcionais. Foi exatamente o que o Primeiro-Ministro e os ministros fizeram nos últimos dias. Fazer de tudo para evitar impor restrições que esmaguem nossas liberdades e garantir que todos os nossos princípios democráticos sejam respeitados.

Por fim, contarmos com a responsabilidade de todos, principalmente vacinando-se, por si e pelos outros. Ser um cidadão livre e sempre ser um cidadão responsável por si mesmo e pelos outros; os deveres têm precedência sobre os direitos.

Outro motivo de esperança é que, apesar da provação sanitária, apesar do cansaço e do desgaste, nosso país continua avançando. Não paramos de trabalhar para atrair empresas e investimentos, abrir fábricas e criar empregos. O desemprego nunca foi tão baixo em quinze anos. A reindustrialização de nosso país é de fato uma realidade.

Protegemos os trabalhadores, ajudamos os mais pobres entre nós, investimos para defender a dignidade de nossos compatriotas com deficiência, tomamos medidas e decisões claras para proteger melhor nossas crianças e acompanhar nossos idosos.

Nós treinamos nossos jovens. De fato, quem imaginaria que em cinco anos conseguiríamos dobrar o número de aprendizes: quase 700 mil aprendizes nos últimos doze meses. que seríamos capazes de inventar um programa, “1 jovem, 1 solução”, que em um ano e meio ajudou mais de 3 milhões de franceses a obterem emprego ou treinamento?

Embora pudéssemos ter adiado tudo, nunca renunciamos a nossa ambição coletiva.

Trabalhar com a reforma do seguro-desemprego e o contrato de engajamento juvenil que será implementado no início de março próximo; o poder de compra com compensação inflacionária, cheques de energia, aumentos salariais para os servidores públicos mais pobres; a emergência ecológica e climática com a renovação de nossa frota automotiva, o desenvolvimento das energias renováveis, os reparos no aquecimento das moradias e, em 1.º de janeiro, o fim das embalagens plásticas, bem como novas medidas inéditas para o bem-estar de nossos animais. Nossa agricultura com o seguro de safra e aposentadoria mínima de 1 000 euros; a implantação de 2 mil sedes da France Services, o pagamento automático de pensões alimentícias que beneficiará especialmente as mães solo; a contracepção gratuita para mulheres de até 25 anos; e a reforma do Estado, de nossa Alta Administração Pública, com, entre outras coisas, a criação do Instituto Nacional da Administração Pública, só nas últimas semanas e nos próximos meses, decisões de que se fala às vezes há décadas e que eu vim aqui para tentar reunir tempestivamente, foram tomadas, serão tomadas e mudarão vidas.

Portanto, apesar das provações, a França está mais forte hoje do que há dois anos.

Tudo isso graças a vocês, graças a todos nós, graças a nosso espírito de resistência, a nossa solidariedade, civismo, empenho e espírito empreendedor.

Assim, enquanto falo com vocês esta noite, quero dizer-lhes que estou decididamente otimista quanto ao ano que virá. Otimista por nossa Nação, não apenas para 2022, mas para os próximos anos. Pois a ambição e a solidariedade que temos demonstrado constantemente nos permitem ter toda a esperança.

2022 poderá ser o ano em que sairemos da epidemia, quero acreditar nisso com vocês; o ano em que poderemos ver o resultado desse dia sem fim.

Em nosso país, implementando as campanhas da dose de reforço e nos organizando como devemos para domar o vírus e encerrar sua disseminação. E em nível mundial, agindo para vacinar a humanidade. A França, que desde abril de 2020 está na vanguarda da doação de doses aos países pobres, e estaremos a postos para aumentar o esforço e, assim, nos permitir vislumbrar o fim desse vírus em sua forma grave.

2022 deverá ser o ano de uma virada europeia.

Nosso continente tem sido tão difamado nos últimos anos. Dizem que ele está dividido, incapaz de projetos coletivos e em vias de sumir da História.

Bem quando celebramos os 20 anos da introdução do euro, nossa moeda comum que nos deu estabilidade monetária e posição internacional inéditas, a crise demonstrou que, unida, nossa Europa podia não apenas ser útil, mas também trazer esperança a todos.

Sem a Europa, não teríamos hoje vacinas suficientes disponíveis, nem mesmo para organizar campanhas de reforço.

Sem a Europa, não teríamos conseguido elaborar planos de recuperação em todo o nosso continente, que estão entre os mais ambiciosos do mundo, e alcançar os resultados econômicos – crescimento e criação de emprego – que estamos conhecendo.

Pois bem, a partir da meia-noite, a França assumirá a Presidência da União Europeia e vocês podem contar com meu total compromisso para fazer desse momento, que só acontece uma vez a cada 13 anos, um tempo de progresso para vocês. Um tempo de progresso para o controle de nossas fronteiras, nossa defesa, a transição climática, a igualdade entre mulheres e homens, a construção de uma nova aliança com o continente africano, uma fiscalização melhor das principais plataformas de internet e a cultura na Europa.

Sim, estou convencido de que os valores que nossa União defende – a democracia, o equilíbrio entre liberdade e solidariedade, uma certa ideia do Homem – são os que nos permitirão enfrentar nossos desafios contemporâneos. E nossa Europa é exatamente o único caminho pelo qual a França será mais forte perante o alvoroço do mundo e das grandes potências.

2022 será um ano decisivo para a França.

Um ano de ação, agora e sempre. Forte de sua confiança, atuarei até o último dia do mandato para o qual vocês me elegeram. Claro, para manter o rumo e tomar todas as decisões necessárias diante da epidemia. E também teremos de preparar o futuro, implementando o plano de investimentos França 2030, que visa ao mesmo tempo tornar nossa Nação forte nas tecnologias do futuro e ampliar nossa independência. Teremos de investir ainda mais do que antes em educação, pesquisa pública, saúde, cultura e inclusão de todos os franceses.

Teremos de tomar novas decisões para combater o radicalismo islâmico, fortalecer a ordem, a segurança e a tranquilidade para todos e melhor proteger vocês.

Teremos de fazer novas escolhas industriais, particularmente em termos de energia, algo sem precedentes, para cumprir nossos compromissos climáticos.

Finalmente, 2022 será um ano de eleições.

Na próxima primavera, deveremos eleger o Presidente da República e, a seguir, nossos representantes na Assembleia Nacional. Apesar da pandemia, esses pleitos essenciais deverão ocorrer nas melhores condições possíveis e todas as sensibilidades políticas do país devem trabalhar para isso. Darei especial atenção a isso.

Este ano, portanto, teremos de fazer escolhas cruciais para nossa Nação. Faremos essas escolhas convencidos de que a França tem um caminho único e singular a seguir. Faremos isso, eu sei, permanecendo fiéis ao espírito de resistência, ao espírito de tolerância e à escolha de nosso futuro comum que sempre nos inspiraram. De minha parte, seja qual for meu lugar e as circunstâncias, continuarei a servi-los. E da França, nossa pátria, ninguém poderá arrancar meu coração.

Meus caros compatriotas,

Trabalhei e trabalhamos incansavelmente durante quase cinco anos para que a França seja ouvida e respeitada na Europa e no concerto das Nações. Ela o é.

Para fazer nosso país avançar na unidade também. Um caminho muito difícil, pois é muito fácil opor gerações, categorias sociais, origens e regiões. Mas necessário, pois, quando o povo francês está unido, nada pode se opor a ele.

Ao desejar-lhes esta noite um ano cheio de felicidade e realizações pessoais, faço, portanto, estes votos para todos nós: continuemos a respeitar nossas diferenças, a ter confiança no que somos e a olhar para nosso futuro com coragem, audácia e lucidez para poder agir. Decidamos por nós mesmos estar ao mesmo tempo enraizados em nossa língua, cultura e laicidade, mas apaixonados pela liberdade, pelo universal e pela criatividade.

Permaneçamos unidos, atenciosos e solidários. Escolhamos o lado da vida. É isso que devemos a nós mesmos.

Portanto, 2022 será o ano de todas as possibilidades.

Viva nossa Europa.
Viva a República.
Viva a França.



quinta-feira, 20 de março de 2025

Votos de Emmanuel Macron pra 2021


Endereço curto: fishuk.cc/voeux2021

Desde a primeira posse de Emmanuel Macron, em 2017, os registros no site oficial do Elysée começaram a ficar muito bagunçados, e alguns discursos sumiram, outros ficaram mais difíceis de encontrar, não foi constituído um acervo de vídeos históricos etc. Por isso, fiquei dependente do que pude encontrar pelo Google ou no YouTube.

Curiosamente, os europeus pareciam gostar nos anos 2000 muito mais do Dailymotion ou do Vimeo do que do próprio YouTube, portanto, foi muito mais fácil achar os discursos de Sarkozy na primeira plataforma. A partir de 2013, sob François Hollande, ficou mais fácil achar em canais diversos do YouTube, sobretudo de agências de notícias, como estes votos pra 2021. Porém, até hoje não entendo por que nenhum vídeo do presidente Hollande foi publicado no YouTube oficial, enquanto o Dailymotion oficial é o mais completo de todos. Além disso, conforme as datas dos vídeos, há um “buraco” no YouTube entre 28 de janeiro de 2011 e 15 (“Ao vivo”) ou 18 (“Vídeos”) de janeiro de 2019...

O ano de referência sempre é o próximo, ao qual cada presidente está desejando votos, e não o que está acabando, quando o discurso é gravado e lançado. Uso o Google Tradutor pra obter os textos mais rapidamente, mas revisando e confrontando manualmente com os originais. Pra França, a fonte desses textos, como é o caso dos votos pra 2021, está sendo um site de informações políticas, econômicas e sociais chamado “Vie publique”, ligado ao gabinete do primeiro-ministro, mas infelizmente pouco divulgado.



Francesas, franceses,

Meus caros compatriotas da França europeia [hexagone], do ultramar e do exterior,

Esta noite, não estamos vivendo um 31 de dezembro como os outros.

Onde, em nossas cidades e vilas, normalmente é época de grandes reuniões, elas estão proibidas este ano pela epidemia: as praças de nossas cidades estão escuras, e nossos lares menos alegres do que o normal.

O ano de 2020, portanto, termina como começou: com esforços e restrições. E, por meio das decisões que tive que tomar, estou plenamente consciente dos sacrifícios que pedi a vocês.

Acredito sinceramente que fizemos as escolhas certas nos momentos certos e quero agradecer vocês por seu civismo, por esse espírito de responsabilidade coletiva com o qual salvamos tantas vidas e que hoje nos permite resistir melhor do que muitos diante da epidemia.

Em nome de vocês, dedico esta noite uma lembrança às 64 mil vítimas desse vírus, em suas famílias e entes queridos. Pais, amigos e setores inteiros do imaginário francês nos deixaram nos últimos meses.

Sim, este ano de 2020 foi difícil. Ele nos lembrou de nossas vulnerabilidades. Foi ainda mais injusto com os mais vulneráveis. Mas juntos saímos dessa ainda mais unidos e tendo aprendido muito.

Dedico também uma lembrança a todos os nossos compatriotas que vivem na precariedade, por vezes na pobreza, para quem a crise que atravessamos torna o dia a dia ainda mais difícil.

Quero expressar nossa gratidão aos que se mobilizaram para cuidar, alimentar, educar, proteger, a todos os que, por meio de seu trabalho e empenho, nos permitiram permanecer firmes e unidos durante esses meses difíceis. E que esta noite, mais uma vez, estão fazendo tudo isso pela Nação.

Aos nossos concidadãos que trabalham nos setores da cultura, do esporte, dos restaurantes, da hotelaria, do turismo ou de eventos, aos estudantes que sofreram e sofrem ainda mais do que outros, quero dizer-lhes novamente que estaremos aí.

Obviamente, para podermos sair dessa situação o mais rápido possível.

E para que eles possam lidar com esse período tão difícil e injusto para eles, quando pedimos que trabalhem de forma diferente e, às vezes, até mesmo que deixem suas atividades.

Essa provação histórica também revelou a solidez de nossa Nação.

Apesar da pandemia, nunca desistimos de perseguir nossa ambição de progresso para todos, reduzindo impostos, concedendo novos direitos, como férias para cuidadores e a extensão da licença-paternidade, apoiando por meio de bônus a conversão de nossa frota automotiva, abrindo sedes da France Services em todo o país, investindo em nossa soberania e em nossa pesquisa de forma histórica e agindo para produzir mais na França, na Europa.

Nosso setor de saúde não apenas resistiu, mas também empreendemos nele uma transformação profunda e investimentos históricos, cuja relevância se tornará evidente nos próximos anos.

Nosso país foi um dos que mais interveio para proteger e apoiar jovens, trabalhadores e empreendedores. Assumo esse “custe o que custar”, pois permitiu preservar vidas e proteger empregos. Teremos que construir juntos as respostas que permitirão não tornar isso um fardo para as gerações futuras.

Esta noite, pela primeira vez, um país, o Reino Unido, deixará a União Europeia. Há alguns dias, selamos um acordo para organizar nossas futuras relações com ele, defendendo nossos interesses, nossos industriais, nossos pescadores e nossa unidade europeia. O Reino Unido continua sendo nosso vizinho, mas também nosso amigo e aliado. Essa escolha de deixar a Europa, esse Brexit, foi fruto do mal-estar europeu e de muitas mentiras e falsas promessas. Quanto a mim, quero dizer-lhes muito claramente: o nosso destino está, antes de tudo, na Europa.

Nossa soberania é nacional e farei tudo para retomemos o controle de nosso destino e de nossas vidas. Mas essa soberania também exige uma Europa mais forte, mais autônoma e mais unida. Foi isso que construímos em 2020.

Porque fomos capazes de liderar as transformações necessárias e fortalecer nossa credibilidade, fomos capazes de convencer a Alemanha, e depois os outros membros da União Europeia, a elaborarem um plano de recuperação único e massivo e a decidirem sobre uma dívida comum e solidária para preparar melhor nosso futuro, empenhando-nos na transição ecológica e digital e criando o máximo de empregos possível para nossos jovens.

Sim, este ano de 2020 não se resume à epidemia, mesmo que ela tenha mudado nossas vidas.

A meu ver, ela também revelou caminhos exemplares que são como bússolas para os próximos tempos.

De fato, nosso maior orgulho são as francesas e os franceses. Vocês.

Marie-Corentine tem 24 anos. Na primavera passada, esta enfermeira de Limoges recém-formada não hesitou em deixar tudo para ajudar as equipes do hospital de Créteil, sobrecarregadas pela afluência de pacientes com o vírus.

Jean-Luc é motorista de coleta de lixo na Guiana. Junto com seus colegas Anthony e Maxime, eles nunca pararam de trabalhar desde o início da pandemia. No auge do confinamento, constituíam essa “segunda linha” que permitiu ao país continuar a viver, e à vida continuar.

Gérald é um empresário perto de Angers. Para atender à demanda por máscaras, ele conseguiu, com seus funcionários, a façanha de abrir suas fábricas 24 horas por dia, 7 dias por semana e, mais recentemente, inaugurar outra em tempo recorde.

Lucas tem 11 anos e mora em Béthune. Ao descobrir a situação de isolamento de idosos com covid-19 no hospital de sua cidade, ele não hesitou um segundo e doou seu tablet para que eles pudessem se comunicar com seus entes queridos e voltar a sorrir. Ele foi seguido por muitos outros.

Rosalie vende livros em Bagnolet, em Seine-Saint Denis. Como todos os seus colegas, ela sofreu muito com o fechamento do comércio, apesar das ajudas, e ela soube inovar. Lançou um site para possibilitar vendas takeaway durante as semanas mais difíceis. E os clientes, no Natal, atenderam ao chamado.

Romain é um policial em Tende, nos Alpes Marítimos. Na noite de 2 para 3 de outubro, enchentes ameaçaram destruir uma casa de repouso. Correndo grande risco de vida, ele conseguiu evacuar mais de 70 moradores, salvando suas vidas. Com os policiais de Nice, que puseram fim ao atentado à Basílica de Notre-Dame de l’Assomption, com Arno, Cyrille e Rémi, policiais mortos enquanto socorriam uma mulher espancada em Puy de Dôme, com Tanerii, Dorian e Quentin, militares mortos na última segunda-feira numa operação no Mali, eles são heróis da Nação.

Medhi é professor de economia e ciências sociais nos bairros do norte de Marselha. Como milhares de professores, poucos dias após o assassinato de Samuel PATY, ele teve de organizar um curso sobre a laicidade. Para fazer isso, ele reservou um tempo para treinar com outros professores e inspetores escolares. Com coragem, ele então relembrou a seus alunos nossos valores, sua história. Assumindo essa alta missão de nossa escola, de nossos professores: formar republicanos.

Wendie é uma jogadora de futebol. Como todos os atletas amadores e profissionais, ela teve uma temporada difícil, com treinos impossíveis, competições adiadas e partidas sem público. Porém, ela encontrou dentro de si a força de espírito para ir ganhar sua sétima Liga dos Campeões com seu clube de vida, um recorde, e para nos fazer sonhar neste período obscuro.

Mauricette tem 78 anos. Ela mora numa casa de repouso em Sevran e alguns dias atrás, como todos vocês viram, assim como eu, ela foi a primeira francesa a ser vacinada contra a covid-19, enviando, contra o obscurantismo e o conspiracionismo, uma magnífica mensagem de esperança para o ano que começa.

Todos esses nomes, esses rostos, são os de sua irmã, de sua vizinha, de seus amigos, desses milhares de anônimos que, empenhados e unidos, sustentaram nosso país durante essa provação.

Todos esses nomes, esses rostos, são os da esperança. Os da França.

Meus caros compatriotas,

Nossa Nação atravessou este ano com tamanha unidade e resiliência que nada pôde se opor a ela.

Nossa Nação tem sido capaz, nestes tempos difíceis, de tanta inovação, inventividade e generosidade: tudo lhe é possível.

Em 2021, portanto, aconteça o que acontecer, saberemos como enfrentar as crises – sanitária, econômica e social, terrorista, climática – que não terminarão no dia 1.º de janeiro. Os primeiros meses do ano serão difíceis e, pelo menos até a primavera, a epidemia continuará pesando muito na vida de nosso país.

Em 2021, aconteça o que acontecer, visto que nos preparamos para isso, também seremos capazes de enfrentar os desafios que virão:

– a transição ecológica e a proteção da biodiversidade, com a implementação das propostas da convenção cidadã, e outras reformas.

– a luta pela República e por nossos valores, pela laicidade, pela fraternidade, por mais segurança.

– a continuação de nosso compromisso com o mérito, o trabalho, a igualdade de oportunidades e o combate a todas as desigualdades e discriminações.

As provações que enfrentamos podiam ter diminuído nosso entusiasmo e amainado nossa esperança. Não foi esse o caso.

A esperança está nessa vacina que a genialidade humana criou em apenas um ano. Isso era impensável há apenas alguns meses. E eu lhes digo com muita determinação esta noite: não deixarei ninguém brincar com a segurança e as boas condições, supervisionadas por nossos cientistas e médicos, nas quais a vacinação deverá ocorrer. Menos ainda permitirei que haja uma lentidão injustificada pelos motivos errados: todo francês que quiser ser vacinado deve poder ser vacinado. Com segurança e na ordem correta, começando pelos grupos de risco.

A esperança está aí, e a cada dia cresce a esperança nessa recuperação que já está fervendo na França mais do que em outros lugares e que nos permitirá, a partir da primavera, inventar uma economia mais forte, ao mesmo tempo criadora de empregos, mais inovadora, mais respeitosa do clima e da biodiversidade e mais solidária. E sei que o Primeiro-Ministro e o governo estão totalmente mobilizados.

A esperança reside na liberdade que reencontraremos, na força de nossa cultura e de nossa arte francesa de viver, também nas lições de maior simplicidade, eficiência e, às vezes, simplesmente bom senso que aprenderemos com essa crise.

A esperança reside em nossa juventude. Nós lhe exigimos tanto: sacrifícios, renúncia aos encontros que são, nessa idade mais do que em outras, o sal da vida. Nós lhe exigimos tanto que salvassem vidas, especialmente as de nossos idosos mais frágeis. Portanto, nossas escolhas futuras guardam uma dívida para com ela, e eu a assumo: é por nossa juventude que devemos continuar agindo, transformando, avançando. Ao custo da crise, não adicionaremos o da inação.

Combatendo o vírus, atacando suas consequências econômicas e sociais e refundando uma sociedade mais forte, fraterna e sustentável, é a França de 2030 que construiremos. Esse é nosso rumo.

Portanto, juntos, em concórdia, olhemos para frente, olhemos para nosso futuro, preparemos desde já a primavera de 2021 que será o início de uma nova aurora francesa, de um renascimento europeu.

Continuemos sendo esse povo unido, solidário, orgulhoso de sua história, seus valores e sua cultura, confiante no futuro e no progresso, seguro de seu talento e sua energia e ambicioso por si mesmo. Aconteça o que acontecer.

Tenhamos orgulho. Orgulho de sermos “nós”, os franceses, a França.

É isso, meus caros compatriotas.

Feliz Ano Novo a todos.

Que 2021 seja um ano feliz para todas e todos, e um ano útil para nosso país.

Viva a República.

Viva a França.



quarta-feira, 19 de março de 2025

Votos de Emmanuel Macron pra 2020


Endereço curto: fishuk.cc/voeux2020

Desde a primeira posse de Emmanuel Macron, em 2017, os registros no site oficial do Elysée começaram a ficar muito bagunçados, e alguns discursos sumiram, outros ficaram mais difíceis de encontrar, não foi constituído um acervo de vídeos históricos etc. Por isso, fiquei dependente do que pude encontrar pelo Google ou no YouTube.

Curiosamente, os europeus pareciam gostar nos anos 2000 muito mais do Dailymotion ou do Vimeo do que do próprio YouTube, portanto, foi muito mais fácil achar os discursos de Sarkozy na primeira plataforma. A partir de 2013, sob François Hollande, ficou mais fácil achar em canais diversos do YouTube, sobretudo de agências de notícias, como estes votos pra 2020. Porém, até hoje não entendo por que nenhum vídeo do presidente Hollande foi publicado no YouTube oficial, enquanto o Dailymotion oficial é o mais completo de todos. Além disso, conforme as datas dos vídeos, há um “buraco” no YouTube entre 28 de janeiro de 2011 e 15 (“Ao vivo”) ou 18 (“Vídeos”) de janeiro de 2019...

O ano de referência sempre é o próximo, ao qual cada presidente está desejando votos, e não o que está acabando, quando o discurso é gravado e lançado. Uso o Google Tradutor pra obter os textos mais rapidamente, mas revisando e confrontando manualmente com os originais. Pra França, a fonte desses textos, como é o caso dos votos pra 2020, está sendo um site de informações políticas, econômicas e sociais chamado “Vie publique”, ligado ao gabinete do primeiro-ministro, mas infelizmente pouco divulgado.



Francesas, franceses,

Meus caros compatriotas da França europeia [hexagone] e do Ultramar,

Pela terceira vez desde o início de meu mandato, tenho a honra de me dirigir a vocês no dia 31 de dezembro.

Nesta época de festas de fim de ano, quando a maioria de vocês está reunida com a família ou entes queridos, gostaria primeiramente de mandar uma lembrança calorosa para aquelas e aqueles que estão doentes ou sozinhos.

Gostaria de saudar nossos compatriotas que, novamente esta noite, estão em seus postos. Nossos militares, nossos policiais civis e militares, nossos bombeiros, nossos profissionais de saúde, funcionários ou assalariados do setor privado ou associativo estão cuidando de nós, novamente esta noite, para que possamos viver estas poucas horas tranquilamente.

Todos nós precisamos disso. Pois durante o ano que está terminando, passamos por momentos de provação – a morte de nossos soldados no combate ao terrorismo, o assassinato de nossos policiais na Delegacia de Paris, a violência que perturbou a vida de nosso país, os desastres naturais que afetaram a França europeia e ultramarina; momentos de emoção também – o falecimento do presidente Chirac ou o incêndio que consumiu Notre-Dame.

Com o Grande Debate Nacional, diante da indignação expressa pelo movimento dos coletes amarelos, conseguimos estabelecer um diálogo respeitoso e republicano, sem precedentes numa democracia, e tomar decisões importantes.

Ao mesmo tempo, começamos a notar, em nossas vidas concretas, os primeiros resultados do esforço de transformação empreendido nos últimos dois anos e meio.

Mais de 500 mil empregos foram criados desde maio de 2017, muitas vezes beneficiando pessoas que estavam fora do mercado de trabalho há muito tempo; cada vez mais empresas sendo criadas; investimentos internacionais em nossa economia maiores do que os registados por nossos vizinhos; fábricas que estão reabrindo e permitindo que regiões em dificuldade recobrem a esperança: há anos a França não conhecia tamanho impulso.

Fizemos tudo isso juntos. Pois esses bons números que a cada dia tornam a França mais forte pertencem, antes de tudo, a vocês, são fruto de seu trabalho, dos riscos assumidos por nossos empresários, nossos autônomos, nossos comerciantes, nossos agricultores, fruto do gênio criativo de nossos inventores e artistas, do empenho dos trabalhadores, assalariados e engenheiros.

Esses números também constituem um incentivo para continuar o movimento já iniciado.

Eu dizia a vocês que são os terceiros votos que lhes dirijo. Geralmente é a época do mandato em que paramos de agir com vigor, sobretudo para não desagradar a mais ninguém à medida que se aproximam os futuros pleitos eleitorais – municipais, senatoriais, departamentais, regionais e, enfim, presidenciais.

Não temos o direito de ceder a essa fatalidade. É o oposto que deve acontecer.

Esta noite, assumo diante de vocês o compromisso de dedicar toda a minha energia para transformar nosso país, tornando-o mais forte, mais justo e mais humano.

Estou ciente de que as mudanças frequentemente perturbam. Mas as preocupações não devem levar à inação. Pois há coisas demais para fazer.

Também entendo como as decisões tomadas podem às vezes ser chocantes, despertar medos e oposição. Deveríamos por isso desistir de mudar nosso país e nosso dia a dia? Não. Pois significaria abandonar aqueles que o sistema já abandonou, trair nossos filhos, seus filhos depois deles, que então teriam de pagar o preço de nossa omissão.

Por isso, a reforma da previdência com que me comprometi diante de vocês e que está sendo conduzida pelo Governo será levada a cabo.

Porque é um projeto de justiça e progresso social.

Um projeto de justiça e progresso social porque garante a universalidade: trata-se de fazer com que um euro de contribuição paga abra os mesmos direitos para todos desde a primeira hora de trabalho. Está longe de ser o caso hoje. Um projeto de justiça e progresso social porque resulta em maior equidade: levaremos em conta trabalhos árduos para permitir que aqueles que os realizam se aposentem mais cedo, sem que isso esteja vinculado a uma categoria ou a uma empresa. Queremos que cada um possa se beneficiar de uma aposentadoria digna, especialmente as mulheres, esquecidas pelo sistema atual e cujas aposentadorias são quase metade das dos homens; aqueles que fracassaram na carreira, os lojistas, os autônomos, os agricultores que nos alimentam, mas após toda uma vida de trabalho recebem apenas algumas centenas de euros de aposentadoria por mês; ou, finalmente, os milhões de franceses hoje forçados a trabalhar além dos 64 anos para receber sua aposentadoria integral.

Um projeto de justiça e progresso social, finalmente, porque se baseia num princípio de responsabilidade: trata-se de garantir o equilíbrio do sistema de repartição que usamos desde o Conselho Nacional da Resistência e, portanto, sua solidez ao longo do tempo. É a base da solidariedade entre gerações. Significa garantir que aqueles que trabalham sejam capazes de pagar a nossos idosos uma aposentadoria justa, num mundo – e isso é uma sorte – onde estudamos cada vez mais tarde e vivemos cada vez mais.

Portanto, não se enganem: ouço os medos e ansiedades que estão surgindo sobre esse assunto tão importante, que está no cerne da identidade francesa. Também ouço muitas mentiras e manipulações.

O apaziguamento deve sempre ter precedência sobre o confronto. Apaziguamento não significa desistir, mas respeitar uns aos outros em nossas divergências. Minha única bússola é e será o interesse de nosso país, nossa capacidade de garantir a melhor aposentadoria possível para nossos idosos, a defesa dos que nem sempre têm a capacidade de se expressar, ou seja, nossos filhos.

Por isso, juntamente com as organizações sindicais e patronais que o desejam, espero que o Governo de Édouard Philippe encontre em prol de vocês o caminho rumo a um compromisso rápido, respeitando os princípios que acabo de recordar.

Meus caros compatriotas, em algumas horas começará uma nova década.

Vejo as expectativas, a impaciência e, assim como vocês, estou ansioso para ver a situação melhorar mais rapidamente para todos nós, e especialmente para os mais vulneráveis entre nós. Estamos mudando as coisas, mas às vezes precisamos recuperar o tempo perdido. Isso não acontece da noite para o dia.

Assim, no raiar desta nova década, quero lhes garantir que não vou ceder ao pessimismo ou ao imobilismo. Sou o fiador do que faz de nosso país a França: nossas instituições, nossas forças vitais, nossa previdência social, nossa cultura, nossa laicidade, a igualdade entre mulheres e homens, nossa solidariedade. Assim como você, importo-me com o que nos liga, o que nos une, o que somos. Não devemos nos adaptar ao jeito que as coisas são – isso não é a França! –, mas permanecer fiéis ao que somos, construindo uma sociedade nova que responda de acordo com nossas escolhas às convulsões em curso.

Mais do que nunca, será essencial colocar o trabalho e o mérito no centro de nossa ação. O Governo fez muito para que mais franceses trabalhassem e para que o trabalho pagasse melhor. Devemos continuar nesse caminho. A redução do imposto de renda e a abolição completa do imposto de moradia para a grande maioria de vocês se tornarão realidade em 2020.

Quero que continuemos a estimular a iniciativa, a simplificar, a permitir mais inovação, a permitir que se trabalhe melhor, a compartilhar a riqueza criada em todas as empresas, a ajudar nossos agricultores e pescadores a viverem dignamente de seu trabalho, assim como todos os empreendedores e assalariados. É a condição para uma Nação forte e independente.

Se quisermos combater eficazmente as injustiças, o fato de crianças demais em nossa República verem seu destino definido no dia de seu nascimento, temos de continuar investindo mais na educação e na saúde. Educar, instruir, treinar, cuidar e apoiar são missões essenciais. Continuaremos fazendo da escola, da formação e do aperfeiçoamento por toda a vida a base de nossa sociedade. Iniciaremos a revalorização e transformação das carreiras dos professores, docentes universitários e cuidadores. Seguiremos uma política ambiciosa para os hospitais, que tanto me importam, e para uma medicina mais humana e centrada no paciente.

Este ano também teremos de tomar decisões essenciais para nossos concidadãos com deficiência e para nossos idosos dependentes.

2020 também será o ano em que um novo modelo ecológico deverá ser implantado. Muitas decisões foram tomadas nesse sentido: fechamento de termelétricas a carvão, interrupção de novas perfurações, e não listarei tudo aqui. Tenho grandes expectativas quanto às propostas que estão sendo preparadas por 150 de nossos compatriotas que estiveram envolvidos na Convenção Cidadã e estão trabalhando incansavelmente há várias semanas. Na próxima primavera, caberá a nós afirmar novas e fortes escolhas, uma estratégia plurianual para reduzir nossas emissões de gases do efeito estufa e combater o aquecimento global, bem como trabalhar em prol da biodiversidade. Essa estratégia nacional deve ser ecológica e econômica: ou seja, devemos preservar o planeta criando novos empregos. Deve ser ecológica e social: devemos mudar nossos hábitos ajudando os mais pobres a ter transporte e moradia mais baratos e menos poluidores. Deve ser ecológica e cultural: uma nova política para nosso paisagismo, a redescoberta da beleza e a reinvenção de uma qualidade de vida à francesa. Vocês não esperaram o Governo para se envolver na questão; vocês estão na vanguarda de todos esses combates: diariamente, por meio de suas escolhas alimentares, de gestos simples e essenciais que vocês realizam, como os jovens nos mostraram pelo exemplo, numa mobilização sem precedentes. Devemos ampliar esse movimento e acelerá-lo em todos os níveis: local, nacional, europeu, internacional.

Por fim, 2020 deve abrir a década da unidade redescoberta da Nação.

Vejo divisões demais em nome de origens, religiões e interesses. Lutarei resolutamente contra as forças que minam a unidade nacional e, nas próximas semanas, tomarei novas decisões sobre essa questão.

O Estado e os serviços públicos têm um papel essencial no fortalecimento dessa unidade francesa. Sei que nessa questão também posso contar com todos os políticos eleitos. Esta noite, gostaria de mandar uma lembrança calorosa aos prefeitos da França. Em algumas semanas, muitos deles sairão após um ou vários mandatos, outros pedirão a confiança de vocês. Que esta noite sejamos novamente agradecidos a todos eles; são os pilares da República cotidiana, das regiões. Precisamos tanto disso.

E sei também que posso contar com vocês, meus caros compatriotas, sim, para garantir a unidade da Nação; lembremo-nos sempre de que temos mais deveres do que direitos para com a França. Nosso compromisso, nosso senso de dever e nosso senso de respeito pelos outros cidadãos são valores essenciais para nossa unidade e nossa concórdia. Esses valores estão no cerne do serviço nacional universal que será implementado ao longo do próximo ano e ao qual atribuo a maior importância.

Lembro-me daqueles dias de primavera, quando a torre de Notre-Dame queimou antes de desabar. A onda de emoção foi imediatamente seguida por uma onda de entusiasmo para reconstruir rapidamente essa joia nacional para os próximos mil anos. Porque todos viram em Notre-Dame a marca do espírito francês, algo além de nós.

Somos um povo de construtores, conscientes de nossa vocação universal. Um povo de longa data que, por saber de onde vem, sabe se projetar. Um povo que sempre sabe se elevar à altura das circunstâncias.

Esse senso de história, essa unidade muitas vezes testada, serão nossos maiores trunfos para enfrentar os tempos que virão.

Quando a história se acelera, o espírito francês não cede nada ao fatalismo.

Demonstramos isso preservando o Acordo Climático de Paris, influenciando a resolução das crises na Ucrânia, no Irã, na Líbia e na Síria, que têm impacto direto em nossa segurança, e nos engajando resolutamente contra o terrorismo no Sahel.

Teremos que demonstrar isso novamente nas próximas semanas e meses.

Em particular, para que se construa uma Europa soberana em termos de defesa, segurança, clima e tecnologia digital, uma Europa que, orgulhosa de seu modelo democrático que combina liberdade e solidariedade, seja ao mesmo tempo nosso escudo e nosso porta-voz. Nesse sentido, a saída do Reino Unido da União Europeia é um teste. Trabalharei para manter um relacionamento forte entre nossos dois países.

Meus caros compatriotas, se assim escolhermos e se nos unirmos, a década que se inicia pode ser a nossa, e nossa Nação poderá se tornar a que inventa os meios para vivermos fortes e felizes nestes tempos de grande convulsão.

Precisaremos saber fazer escolhas claras, investir no futuro, em nossa juventude, em nossa pesquisa e em novos modelos e projetar tendo esta década como horizonte.

Sim, acredito em nós, em nossa capacidade de construirmos a França juntos.

Juntos, façamos da década que está começando uma década francesa e europeia!

Cada um de vocês tem um papel a desempenhar, cada um de vocês é essencial para alcançar isso.

Portanto, desejo paz e felicidade a todos vocês. Quanto a mim, saibam o quanto aprecio a cada dia a imensa honra que me é concedida de lhes servir, presidir nossa República e preparar o futuro de nossa Nação. Dedicarei toda a minha energia a isso, com muito coração, portando todos os dias o entusiasmo e as exigências de vocês.

Desejo a vocês um Feliz Ano Novo de 2020.

Viva a República!

Viva a França!