domingo, 30 de julho de 2017

Московские окна (Janelas moscovitas)


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Eu descobri esta linda canção quando legendei um vídeo de Putin “tocando” piano na China. Na ocasião, ele dedilhou parte da melodia numa casa que os chefes de Estado usam pra receber visitas estrangeiras. Ela se chama “Московские окна” (Moskovskie okna), As janelas moscovitas, e faz referência ao fascínio que muitos sentiam na capital da URSS ao admirar as janelas iluminadas dos prédios à noite. Embora parecessem algo impessoal, por trás de cada uma se escondiam vidas (pessoas, famílias, trajetórias etc.), algo fascinante especialmente pra quem saía do campo e ia se aventurar numa cidade em crescimento. A música foi composta em 1956 por Mikhail Matusovski (letra) e Tikhon Khrennikov (melodia), e no mês passado eu postei no meu antigo canal do YouTube duas versões legendadas: uma com o artista soviético azerbaijano Muslim Magomaiev, e outra com a banda soviética bielo-russa Pesniary.

É interessante como os arranjos modernos e ocidentalizados, sejam mais clássicos e cheirando a jazz ou mais próximos do pop e até meio bossa nova, contrastam com as canções de propaganda dos anos 30 e 40, sob Stalin, que pareciam melodias folclóricas retrabalhadas. Pode-se pensar ainda que em 1956 tinha início o “degelo” soviético, ou seja, a busca por extinguir os traços mais autoritários do regime staliniano, e se aceitava gravar músicas com descrições subjetivas, sobre temas urbanos, não partidários etc., agora que a URSS realmente se tornava uma sociedade citadina e razoavelmente desenvolvida, consolidando as radicais mudanças no modo de vida das décadas anteriores.

O primeiro vídeo é um excerto da Avtorski vecher (Noite do autor), espetáculo dedicado às canções de certo compositor, gravada em 1973 pra Khrennikov. Magomaiev aí faz barítono sobre o homem que gosta das iluminadas janelas dos prédios de Moscou, ou seja, que não admira nem faz serenata à moça “esperando na janela”, mas às próprias janelas... Segundo o youtuber que pôs o vídeo sem legendas, ele mesmo tirou do site pessoal de Magomaiev, que tem muito mais informações sobre a vida e carreira do cantor. O segundo vídeo é uma das muitas apresentações, com um público bem controlado, feitas com música nacional-popular na Sala das Colunas da Casa dos Sindicatos, em Moscou, nos anos 70 e 80. Trata-se da banda Pesniary, composta por bielo-russos e liderada pelo bigodudo Vladimir Muliavin, num show de 1976, cujo vídeo sem legendas eu baixei desta página.

Muslim Magometovich Magomaiev (1942-2008) nasceu em Baku, capital do Azerbaijão, numa família com várias gerações de músicos e artistas, tendo o pai morrido na 2.ª Guerra Mundial. Fez estudos em conservatório musical e nos anos 60 começou a embalar sua carreira, tendo inclusive se apresentado no exterior, não sem chiados da emigração anticomunista. Foi condecorado Artista Popular da URSS (1973), Artista Popular da RSS do Azerbaijão (1971) e com a Ordem da Honra (2002) pelo próprio Putin. Em 1998 encerrou voluntariamente a carreira, tendo se dedicado à pintura e a correspondências até morrer do coração. A banda bielo-russa Pesniary (algo como “cancioneiros”) foi fundada em Minsk, em 1969, pelo cantor, guitarrista, compositor e músico Vladimir Georgievich Muliavin (1941-2003), que foi condecorado Artista Popular da URSS em 1991. Tendo raízes na música tradicional de Belarus, mas também se dedicando a variantes do pop, rock e folk, a banda foi muito famosa, ganhou muitos prêmios e participou de muitos filmes, até se dissolver em 1998. Ela se enraizou na memória dos bielo-russos e atualmente pelo menos cinco bandas reivindicam sua herança e têm “Pesniary” em seu nome, tocando ainda suas canções. Atualmente a posse comercial da marca “Pesniary” pertence a um grupo musical estatal.

Mikhail Lvovich Matusovski (1915-90) e Tikhon Nikolaievich Khrennikov (1913-2007) foram um poeta-letrista e um pianista soviéticos de família russa, muito famosos, reconhecidos e condecorados durante a existência da URSS (Khrennikov tornou-se Artista Popular da RSFS da Rússia em 1954 e da URSS em 1963). Fiéis ao regime comunista, ambos entraram no partido logo após a Segunda Guerra e levaram humildemente os últimos anos de suas vidas. Eu mesmo traduzi e legendei os dois vídeos, tendo ainda recortado o novo enquadramento das imagens. Existem pelo menos duas versões desta letra, por motivos que desconheço, cada uma cantada nos dois vídeos, e pra tentar padronizá-las, utilizei duas transcrições incompletas, uma aqui e outra aqui. Seguem abaixo as duas legendagens, a letra em russo e a tradução em português, ambos os textos com notas que indicam as diferenças na versão dos Pesniary:




Вот опять небес темнеет высь,
Вот и окна в сумраке зажглись.

2x:
Здесь живут мои друзья,
И, дыханье затая,
В ночные окна
Вглядываюсь я.

Я могу под окнами мечтать,
Я могу, как книги, их читать.

2x:
И, заветный свет храня, (*)
И волнуя, и маня, (**)
Они, как люди,
Смотрят на меня.

(*) Na versão dos Pesniary: “И, заветный час храня”.
(**) Na versão dos Pesniary: “И волнуясь, и маня”.

(*) Я как в годы прежние опять
Под окном твоим готов стоять,

2x:
И под свет его лучей
Я всегда спешу быстрей,
Как на свиданье
В юности моей.

(*) Estas duas próximas estrofes não são cantadas por Magomaiev.

Я любуюсь вами по ночам,
Я желаю, окна, счастья вам...

(*) 2x:
Он мне дорог с давних лет,
И его светлее нет –
Московских окон
Негасимый свет.

(*) Esta estrofe é pulada pelos Pesniary.

Он мне дорог с давних лет,
И его яснее нет –
Московских окон
Негасимый свет.

____________________


O alto dos céus escurece de novo,
E as janelas acenderam no escuro.

2x:
Aqui vivem meus amigos,
E prendendo o ar,
As janelas noturnas
Eu fico olhando.

Posso sonhar sob as janelas,
Posso lê-las como livros.

2x:
E guardando a cara luz, (*)
Comovendo, seduzindo, (**)
Elas, como pessoas,
Olham para mim.

(*) Na versão dos Pesniary: “E mantendo o caro tempo”.
(**) Na versão dos Pesniary: “Tremulando, seduzindo”.

(*) E como outros anos de novo
Me ponho a ficar sob sua janela,

2x:
E sob a luz de seus raios
Sempre corro apressado,
Como a um encontro
Na minha juventude.

(*) Estas duas próximas estrofes não são cantadas por Magomaiev.

Admiro vocês toda noite,
Desejo-lhes, janelas, felicidade...

(*) 2x:
Gosto dela há muitos anos,
Ninguém brilha mais que ela:
Das janelas moscovitas
A luz inextinguível.

(*) Esta estrofe é pulada pelos Pesniary.

Gosto dela há muitos anos,
Nada clareia mais que ela:
Das janelas moscovitas
A luz inextinguível.




quarta-feira, 26 de julho de 2017

Tu je nasza zemia (canção da Cachúbia)


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Mais uma raridade. No começo do ano, procurei por curiosidade algumas canções no idioma cachubo (ou cassubo), uma língua eslava ocidental falada em alguns povoados do norte da Polônia. Essa língua, aliás, é muito aparentada ao polonês, e se lê facilmente por quem fala ou entende polonês. Guardei várias músicas nos meus favoritos, mas só em junho tive tempo de legendar uma delas, a de que mais gosto. Ela se chama Tu je nasza zemia (Aqui é nossa terra), e é muito famosa entre os nativos. Há várias montagens no YouTube com fotos da Cachúbia (ou Cassúbia) e essa canção de fundo. Ela foi composta por Janina Cyskòwskô (letra) e Józef Roszman (melodia).

Foi a primeira vez que traduzi e legendei alguma coisa pro meu canal O Eslavo (YouTube) num idioma eslavo dito minoritário, ou seja, que não é oficial em nenhum Estado-nação da Europa. Na verdade, eu traduzi a letra dessa música por meio de duas traduções em polonês, língua que traduzir eu pelo menos consigo. Contudo, a única transcrição em cachubo que achei na internet tinha várias diferenças com o áudio, e uma das traduções polonesas reproduzia, ao que parece, o significado dele. É que essas palavras diferentes eram praticamente iguais em polonês. Outro problema era que havia várias inconstâncias na grafia em cachubo, pelo que pude perceber do som e da gramática, e assim tive de recorrer a dicionários e, na Wikipédia, a informações sobre a fonologia e a gramática pra poder uniformizar a letra. Aparentemente, como o idioma é muito pouco falado, é natural que não haja alguém pronunciando “corretamente”, e o próprio cantor, o qual não pude identificar, ora altera a pronúncia “padrão”, ora fala algumas palavras como em polonês.

Baseado nas duas letras em polonês, eu usei este dicionário online polonês-cachubo (2 volumes) pra normatizar a ortografia. Por isso, às vezes pode ocorrer do cantor não pronunciar como “esperado”. Eu tirei o áudio deste ótimo canal administrado por um ucraniano, que tem canções eslavas de vários povos. A letra discrepante em cachubo e em polonês está nesta página, e a letra em polonês na qual me baseei grandemente pra traduzir está na descrição deste vídeo. Eu mesmo traduzi e legendei a partir do polonês e entendendo algumas coisas em cachubo que eram comuns a outras línguas eslavas.

O cachubo é um idioma eslavo ocidental que pertence, dentro desse grupo, ao subgrupo lequítico, que abrange o próprio polonês, o pomerano (que evoluiu no cachubo atual), o silésio e o extinto polábio. Os outros subgrupos eslavos ocidentais são o tchecoslovaco (tcheco e eslovaco) e o sórbio, com suas duas variantes. Isso explica por que todas essas línguas se assemelham tanto, e por que o cachubo parece tanto com o polonês, embora sua pronúncia e ortografia pareçam ser bem mais “bizarras” e difíceis do que as do já complexo polonês. Não há consenso sobre número exato de falantes, mas aproximadamente 106 mil pessoas o falam em casa, e o grau de proficiência é variado. Como os outros idiomas eslavos ocidentais, se escreve com o alfabeto latino acrescido de vários diacríticos, e tem ainda muito vocabulário alemão. Seus falantes se concentram na região histórica da Cachúbia (Kaszëbë em cachubo), atualmente integrada à província polonesa da Pomerânia. Historicamente, os cachubos são incluídos entre os povos pomeranos, nome que vem da expressão polonesa pra “banhado pelo mar”, e por isso o idioma cachubo também é chamado “pomerano”. Mas não é o “pomerano” falado no Brasil, que se trata de um idioma germânico, aparentado ao holandês e ao alemão do norte.

Segue abaixo a legendagem bilíngue que carreguei, com a letra reconstituída em cachubo e a tradução em português, e na sequência novamente a letra em cachubo, minha tradução e as versões polonesas em que me baseei. Entre parênteses estão os versos cujo sentido não é cantado ou que aparecem diferente na fonte secundária, e onde em português não são indicadas diferenças, é porque o sentido das duas versões em cachubo ou polonês é o mesmo:



There is also a translation into English. Spread it among your friends!

Tu, dze jistnieje
(Tu, dze so leżi)
Półwisep Hélsczi
Dze Wisła wpôdô w mòrzë
Tu, dze są łowi
Flądrë i slédze
Łosose i wãgòrzë

2x:
Tu je nasza zemia
Kòchanô òjczëzna
Bò to tu są nasze
Rodzinne Kaszëbë!

Każdi z nas kòchô
Mòwã kaszëbską
I gôdô bez sromòtë
Czë chtos pòdriwô
W tuńcu dze grają
(Czë to je w tuńcu
Czë to je w polu)
Czë to je kòl robòtë

2x:
Tu je nasza zemia
Kòchanô òjczëzna
Bò to tu są nasze
Rodzinne Kaszëbë!

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Aqui é onde fica
A península de Hel
E o Vístula cai no mar
Aqui, onde se pescam
Linguados e arenques
Salmões e enguias

2x:
Aqui é nossa terra
A pátria querida
Pois aqui é a nossa
Cachúbia nativa!

Todos estimamos
A língua cachuba
E usamos sem receio
Seja paquerando
Divertindo na dança
(Seja dançando
Seja lavourando)
Ou trabalhando

2x:
Aqui é nossa terra
A pátria querida
Pois aqui é a nossa
Cachúbia nativa!

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Tu, gdzie se leży
(Tam gdzie istnieje)
Półwysep Helski
Gdzie Wisła wpada w morze
Tu, gdzie się łowi
Flądry i śledzie
Łososie i węgorze

2x:
Tu jest nasza Ziemia
Kochana ojczyzna
Bo to tu są nasze
Rodzinne Kaszuby!

Każdy z nas miłuje
(Każdy z nas kocha)
Mowę kaszubską
I mówi bez wstydu
Czy ktoś podrywa
W tańcu gdzie grają
Czy też gdzie jest pełno roboty
(Czy to jest w tańcu
Czy to jest w polu
Czy to jest przy robocie)




domingo, 23 de julho de 2017

Budi se istok i zapad (canção partisan)


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Em comemoração ao Dia da Vitória da URSS e de outras forças antifascistas na Segunda Guerra Mundial, postei no dia 8 de maio deste ano, no meu canal O Eslavo (YouTube), esta canção partisan que conhecia há muitos anos, mas que só então entendi o que significa. Ela se chama Budi se istok i zapad (cirílico: Буди се исток и запад), que significa O leste e o oeste despertam em sérvio e é uma versão da canção revolucionária russa “Смело, товарищи, в ногу!” (Smelo, tovarischi, v nogu!), Juntos avante, camaradas!, composta por Leonid Radin em 1896. A versão servo-croata data dos anos 1940, e provavelmente foi feita dentro do movimento da Resistência.

Por causa do prestígio da União Soviética, mesmo canções patrióticas ou de guerra compostas nos tempos do Império Russo terminaram sendo resgatadas no estrangeiro e ganhando traduções e conteúdos novos, sobretudo nos meios antifascistas. A 2.ª Guerra Mundial viu proliferarem essas iniciativas, tendo sido a mais famosa, certamente, a feita com a canção A despedida da eslava (veja aqui os links pra todas as versões no blog), que ganhou, inclusive em russo, uma versão antinazista. Os exércitos de resistência contra a expansão do Eixo na Europa traduziam e cantavam essas canções, tendo-se tornado patrimônio da cultura comunista e de esquerda. Na época da Segunda Guerra e durante o regime iugoslavo de Josip Broz Tito, muitas dessas músicas foram traduzidas ou compostas em servo-croata e em esloveno, tornando-se um rico acervo da chamada “cultura partisan”, muito admirada também no Brasil, mas ainda pouco estudada.

Leonid Petrovich Radin (1860-1900) foi um revolucionário, poeta e inventor russo, tendo recebido aulas, entre outros, do famoso cientista Dmitri Mendeleiev na universidade. Seu pai era dono de uma destilaria e de um moinho, por isso foi cedo encaminhado pra química, mas também usou seus talentos pra tipografia, em serviços especiais pro Partido Operário Social-Democrata da Rússia, que seria o núcleo do futuro Partido Bolchevique. Por isso, Radin foi preso em 1896, e no mesmo ano, na Prisão de Taganka, compôs Smelo, tovarischi, v nogu!, canção cuja letra fala da luta pela liberdade em geral, já aludindo à bandeira vermelha, tão corrente na cultura socialista. Ela pode ser escutada nesta página. Radin foi solto só em 1900, mas já com a saúde debilitada, foi tratar-se na Crimeia e logo morreu em Ialta.

Eu baixei o áudio em servo-croata deste vídeo, em cuja descrição está também a letra escrita. A língua servo-croata era o que se chama hoje de sérvio e croata como idiomas distintos, por vezes se falando ainda de bósnio e montenegrino. O padrão linguístico era unificado, mas a base do que se chamava “servo-croata” era um dialeto setentrional do que hoje se chamaria “sérvio”, como se pode notar bem pelo vocabulário e pela característica “ekaviana” da pronúncia. Uma das diferenças básicas é que a base literária do sérvio é o dialeto “ekaviano”, em que a vogal “iat” do protoeslavo evoluiu pra “e”, enquanto a do croata é o dialeto “ijekaviano”, em que a mesma vogal evoluiu pra “ije” (= iê). Notar a diferença entre cvet e cvijet (flor) ou, na canção, entre slep (que aparece) e slijep (cego).

Eu mesmo traduzi e legendei a música. No vídeo, fiz uma montagem com duas legendas, em servo-croata e português, botando a primeira em alfabeto latino pra comodidade de vocês. Vejam o vídeo duas vezes, lendo uma legenda de cada vez! A canção também ficou famosa em língua alemã, sob o título Brüder, zur Sonne, zur Freiheit. Seguem abaixo a legendagem bilíngue, a letra em servo-croata nos alfabetos latino e cirílico, e a tradução em português:



Budi se istok i zapad,
budi se sever i jug!
Koraci tutnje u napad,
napred, uz druga je drug!
Koraci tutnje u napad,
napred, uz druga je drug!

Napred, sve bliže i bliže,
čuje se koraka bat!
Glas miliona se diže,
dole fašizam i rat!
Glas miliona se diže,
dole fašizam i rat!

Drhti od našega hoda
fašizam i krvav, i slep!
Čeka nas, druže, sloboda,
naš biće čitavi svet!
Čeka nas, druže, sloboda,
naš biće čitavi svet!

Složno smrt gvozdenoj peti,
nestaće jauk i glad!
Nov ćemo život početi:
sloboda, drugarstvo i rad!
Nov ćemo život početi:
sloboda, drugarstvo i rad!

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Буди се исток и запад,
буди се север и југ!
Кораци тутње у напад,
напред, уз друга је друг!
Кораци тутње у напад,
напред, уз друга је друг!

Напред, све ближе и ближе,
чује се корака бат!
Глас милиона се диже,
доле фашизам и рат!
Глас милиона се диже,
доле фашизам и рат!

Дрхти од нашега хода
фашизам и крвав и слеп!
Чека нас, друже, слобода,
наш биће читави свет!
Чека нас, друже, слобода,
наш биће читави свет!

Сложно смрт гвозденој пети,
нестаће јаук и глад!
Нов ћемо живот почети:
слобода, другарство и рад!
Нов ћемо живот почети:
слобода, другарство и рад!

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Leste e oeste despertam,
norte e sul despertam!
Passos rugem ao ataque,
avante, ombro a ombro!
Passos rugem ao ataque,
avante, ombro a ombro!

Avante, se aproximando,
ouvem-se botas batendo!
Milhões exigem em coro:
fora o fascismo e a guerra!
Milhões exigem em coro:
fora o fascismo e a guerra!

Nossa marcha assusta
o fascismo cruel e cego!
Seremos livres, camarada,
o mundo todo será nosso!
Seremos livres, camarada,
o mundo todo será nosso!

Matemos o tacão de ferro,
dor e fome desaparecerão!
Começaremos vida nova:
amigos trabalhando livres!
Começaremos vida nova:
amigos trabalhando livres!




quarta-feira, 19 de julho de 2017

Emmanuel Macron vence eleições 2017


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No dia 7 de maio deste ano, os franceses elegeram em segundo turno seu novo Presidente da República, que sucedeu o famigerado François Hollande (Partido Socialista), sobre o qual pesaria uma herança de terrorismo e estagnação econômica. O escolhido foi Emmanuel Macron (En Marche!), com 66,1% dos votos, enquanto a candidata Marine Le Pen (Front National) obteve 33,9%. Pela primeira vez, os dois principais partidos da França (PS e Republicanos, antiga UMP) ficaram de fora do segundo turno, revelando clara insatisfação popular com a política e a situação do país. O índice de abstenção nessa etapa também foi um dos mais altos da história, chegando a 25,44% do eleitorado.

Emmanuel Jean-Michel Frédéric Macron, de apenas 39 anos e que faz aniversário no mesmo dia que Stalin, diz que não é “nem de direita, nem de esquerda”, e com um discurso pretensamente renovador, diferente e empreendedor, prefere manter a França dentro do quadro do euro e da União Europeia, ao contrário de Le Pen, que desejava seguir o exemplo do “Brexit” britânico. Sempre é ressaltada sua ligação com os bancos e as altas finanças, bem como sua antiga adesão ao PS e, mais tarde, ao governo Hollande como ministro da Economia, o que frustrou em muitos a esperança de mudança.

Macron nasceu em Amiens, e de profissão é administrador público e banqueiro, e como católico, só foi batizado aos 12 anos. Ele tem duas pós-graduações em Filosofia e estudou no Instituto de Estudos Políticos de Paris e na famosa Escola Nacional de Administração em Estrasburgo, de onde saíram vários ex-presidentes. Macron não tem filhos, mas casou-se em 2007 com Brigitte Trogneux, professora de francês 24 anos mais velha e que ele conheceu em 1993, com apenas 15 anos. Ela e seus três filhos do primeiro casamento participaram ativamente da campanha do En Marche!

Eu mesmo traduzi e legendei o vídeo que se encontra sem legendas nesta página, com sua primeira declaração pública após a confirmação da vitória, na noite do domingo mesmo da eleição. A posse foi em 14 de maio, e ele nomeou Édouard Philippe (Republicanos) primeiro-ministro no dia seguinte. Eu o baixei sem legendas do canal da campanha de Macron. Boa parte do texto eu tirei de ouvido, tendo simultânea e imediatamente traduzido e legendado, mas a versão francesa completa pode ser lida nesta página. Seguem abaixo a legendagem, que carreguei no meu antigo canal do YouTube, e a tradução em português:


Francesas e franceses! Meus caros compatriotas da metrópole, do ultramar e do exterior!

Após um longo embate democrático, vocês decidiram depositar sua confiança em mim, e devo lhes expressar minha profunda gratidão. É uma grande honra e uma grande responsabilidade, pois nada estava predefinido. Quero muito lhes agradecer. Obrigado, do fundo do coração.

Sou grato a todos vocês que me deram seu voto e seu apoio. Não vou me esquecer de vocês. Vou dedicar toda minha atenção e toda minha energia para ser digno de sua confiança. Mas neste instante é a todos vocês, cidadãos de nosso país, que quero me dirigir, qualquer que tenha sido seu voto.

Muitas dificuldades têm nos enfraquecido há tempo demais. Não ignoro nenhuma delas, nem as dificuldades econômicas, nem as fraturas sociais, nem os bloqueios à democracia, nem o enfraquecimento do otimismo do país.

Esta noite quero mandar uma saudação republicana à minha adversária, Marine Le Pen. Sei das divisões de nossa nação, que levaram alguns a votar nos extremos. Eu os respeito. Estou ciente da raiva, da ansiedade e das dúvidas que por isso muitos de vocês exprimiram.

É de minha responsabilidade escutá-los, protegendo os mais frágeis, organizando melhor as solidariedades, combatendo toda forma de desigualdade ou de discriminação, garantindo a segurança de vocês de maneira implacável e decidida e assegurando a unidade da nação. Pois por trás de cada palavra que acabo de pronunciar, sei que há rostos, mulheres e homens, crianças e famílias, vidas inteiras. Aí estão vocês, aí estão os seus.

Esta noite, é a todos vocês que me dirijo, a todos vocês juntos, o povo da França. Nós temos deveres para com nosso país. Somos os herdeiros de uma grande história e da grande mensagem humanista dirigida ao mundo. Nós devemos transmitir essa história e essa mensagem primeiro aos nossos filhos, e mais importante ainda, devemos levá-las para o futuro e lhes dar um novo ânimo.

Vou defender a França, seus interesses vitais, sua imagem e sua mensagem, diante de vocês me comprometo a isso. Vou defender a Europa, essa comunidade de destino de que se proveram os povos de nosso continente. É nossa civilização que está em jogo, nosso estilo de vida, de sermos livres, de portarmos nossos valores, nossas ações comuns e nossas esperanças. Vou trabalhar para restaurar os laços entre a Europa e o povo que a forma, entre a Europa e os cidadãos.

Em nome de vocês, dirijo às nações do mundo a saudação fraternal da França. Digo a seus dirigentes que a França estará presente e atenta à paz, ao equilíbrio entre potências, à cooperação internacional, ao respeito dos compromissos que assumimos sobre desenvolvimento e combate ao aquecimento global. Digo a todos que a França vai estar na primeira fila da luta contra o terrorismo no próprio país e nas ações internacionais. O quanto tiver que durar esse combate, vamos conduzi-lo sem fraquejarmos.

Meus caros concidadãos, está se abrindo uma nova página de nossa longa história esta noite. Quero que ela seja a da esperança e da confiança recuperadas. Renovar nossa vida pública será um dever de todos a partir de amanhã. O moralizar de nossa vida pública, o reconhecimento do pluralismo e a vitalidade democrática serão desde o primeiro dia o esteio de minha ação. Não vou deixar que nenhum obstáculo me detenha. Vou agir com determinação e respeitando cada pessoa. Pois com trabalho, com escola e com cultura, construiremos um futuro melhor.

Francesas e franceses! Meus caros compatriotas!

Esta noite saúdo o presidente Hollande. Ele trabalhou por nosso país durante cinco anos. No novo quinquênio que se abre, minha responsabilidade será a de apaziguar os medos, de fazer com que retomemos o otimismo, de reviver o espírito de conquista que exprime melhor do que tudo o caráter francês.

Meu encargo será unir todas as mulheres e todos os homens prontos para enfrentar os desafios gigantes que nos esperam e para agir. Alguns desses desafios são afortunados, como a revolução digital, a transição ecológica e o relançamento da Europa. Outros são funestos, como o terrorismo. Vou me empenhar com todas as forças contra a divisão que nos racha e nos abate. É assim que poderemos conceder ao povo francês, a cada uma e cada um de vocês, em sua vida profissional, pessoal e familiar, as chances que merecem ter da França.

Amemos a França! Contando a partir desta noite, e nos cinco próximos anos, eu vou com humildade, com devotamento e com determinação servi-la em nome de vocês.

Viva a República!

Viva a França!



A vida é assim: um sai, outro entra, e as coisas se sucedem...

domingo, 16 de julho de 2017

A oração do cossaco (Ойся ты ойся!)


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Esta canção e esta dança são muito lindas, sendo de extração cossaca e originadas no Cáucaso, parte do qual se situa no sul da Rússia. A música se chama “Казачья молитва” (Kazachia molitva), A oração do cossaco, mas na cultura popular e em suas várias letras com que é conhecida, também é chamada “Ойся ты ойся” (Oisia ty oisia), aludindo a uma interjeição pela qual os russos chamavam os povos locais (tchetchenos, inguches etc.) no século 19. A autoria da canção é totalmente anônima, e acredita-se que tenha sido composta no tempo da Guerra do Cáucaso (1817-1864), quando o Império Russo combateu chefes políticos e religiosos locais a fim de anexar o norte daquela região, o que acabou de fato ocorrendo.

A música e sua dança se dão ao ritmo do gênero lezginka, apanágio popular do povo lezguiano, um dos grupos nativos do Cáucaso, mas esse gênero é difundido por toda aquela região. Entre as várias versões que sempre circularam, uma delas faz referência ao modo como os russos se relacionavam com os povos nativos, dizendo de forma irônica que eles não deviam temer os ocupantes; essa versão foi recentemente usada numa propaganda do governo Putin pra tirar o medo de que estrangeiros possam ser agredidos por hooligans na Copa de 2018 (já postei aqui). Os cossacos usavam a palavra “oisia” pra designar os povos vainaques (ou vaynakh), isto é, tchetchenos e inguches, que ao dançarem a lezginka, emitiam o grito glotal “khorsa!”, daí se originando aquele apelido.

Naquela postagem anterior do meu blog, eu coloquei os links pra várias outras versões disponíveis no YouTube, em situações bem diversas. Uma delas era a comemoração do aniversário do falecido soldado Givi, famoso figurão que combatia junto às tropas de língua russa no conflito do leste da Ucrânia. Outra era um show muito lindo, feito provavelmente pelos cantores e dançarinos do Coral do Exército Vermelho (atual Coral Aleksandrov do Exército Russo) e que não resisti em legendar pro meu canal O Eslavo (YouTube), como vocês podem ver agora. A identificação que fiz é uma probabilidade, pois no próprio canal do qual baixei o vídeo, não há nada descrito.

A característica principal desta versão é que, no refrão, a referência é feita a um cossaco que parte de seu lar pra luta. Por isso, o termo “oisia” não faz exatamente um chamamento ao estrangeiro por meio de um apelido baseado no jeito de falar alheio, mas indica uma interjeição de ânimo, peculiar àquela região mesmo entre os russos. Daí eu ter traduzido por alguns regionalismos do sudeste brasileiro, apenas pra tentar aproximar um pouco do que se quis dizer. De fato, a música tem diversas expressões características do sul da Rússia, como a interrogação “али” (ali) na segunda estrofe, indicando dúvida.

Desta página eu baixei o vídeo sem legendas e copiei a letra da canção, que está na descrição. Eu mesmo traduzi e legendei, mas como a letra apresentada não estava bem disposta, fiz algumas retificações, e ela pode ser lida abaixo, depois da minha legendagem e seguida pela tradução em português:


1. У реки, у Терека
Казаки гуляли
И калёною стрелой
За реку бросали

Припев:
Ойся ты ойся
За меня не бойся
Я вернусь с войны домой
Ты не беспокойся

2. Али мы не казаки?
Али мы не терцы?
Али мы не любим Терек
И Кубань всем сердцем?

(Припев)

3. Казаки не простаки
Славные ребята
Хоть в кармане ни гроша
Но живут богато
На Кавказе все казачки
Самые красивые
На Кавказе казаки
Самые счастливые

(Припев)

4. Шашка острая моя
Верная подруга
Конь горячий вороной
Нет мне лучше друга

(Припев)

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1. No Cáucaso passeavam
Cossacos pelo rio Terek
E como flechas ardentes
Atravessavam suas águas

Refrão:
Eita, meu, eita
Não tema por mim
Volto pra casa ao findar
A guerra, não se preocupe

2. Mas não somos cossacos
Vivendo junto ao Terek?
Não o amamos, e também
Kuban de todo coração?

(Refrão)

3. Cossaco não é bobo
Mas sim, gente fina
Sem tostão no bolso
Mas com a vida rica
As cossacas do Cáucaso
São todas as mais lindas
E os cossacos do Cáucaso
Todos são os mais felizes

(Refrão)

4. A afiada espada curva é
Minha companheira fiel
E não há amigo melhor que
Meu irascível cavalo negro

(Refrão)



Os “tertsy”, como eram conhecidos os cossacos do rio Terek.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

“Nunaj tempoj” (Tempos atuais) soneto


Link curto para esta postagem: fishuk.cc/nunajtempoj


Este é o último soneto meu em esperanto, que achei digno de publicar! Ah, que peninha... Confesso que, além desses sonetos que publiquei nas últimas semanas, fiz mais alguns outros ao longo da minha juventude, mas posteriormente joguei fora, porque por algum motivo eu não quis mais registro deles. Fiz isso, aliás, com vários outros sonetos em português, cujo tema ou abordagem achei muito bobo: mesmo assim, ainda há uma infinidade deles guardados, e pretendo publicar em breve!

Como se pode ver, ao longo de meu incipiente amadurecimento mental e tranquilização espiritual durante meus 17 anos, fui melhorando minha redação e tratando de temas menos banais e mais impessoais, alcançando reflexões interessantes. Desta vez o soneto que apresento se chama “Nunaj tempoj”, os “Tempos atuais”, porque sempre foi moda reclamar indiretamente da atualidade e falar de coisas que no passado seriam supostamente melhores. Na verdade, esse é um daqueles textos, e reconheço com sinceridade, que parece ter sido mais um exercício redacional e linguístico do que um acréscimo artístico. Meu pensamento sobre várias coisas que conheci na vida é organizado de um jeito quadrado e padronizado, até monótono, com terminações que servem só pra rimar.

Até parece estranho eu estar “metendo o pau” no meu próprio poema, né? Hehehe. De fato, olhando em retrospecto com uma lente mais crítica, é o que realmente penso, e até espanta que o telefone celular (mobiltelefono), então sem tecnologia de internet e hoje transmutado já nos smartphones, apareça como um sinal de modernidade. A referência à canção London, London de Caetano Veloso, então, é puramente enchimento de rima, embora se coadune com a referência a uma obra antiga. Mas olhando por outro lado, até que essa intrusão na montagem ficou bonitinha, não?... O conjunto, por vezes forçado, é até interessante, mas talvez forçado porque é meu último soneto registrado, talvez de algum período em meados de 2005, mas provavelmente não do segundo semestre. Nessa época, eu já estava às voltas com o vestibular e só de vez em quando traduzia canções do esperanto pra relaxar: não tinha mais energia pra criações próprias. Estas, como as que já postei aqui há muito mais tempo, só retornariam tarde na minha graduação.

Contudo, sempre que eu fazia um poema em esperanto, é porque eu estava inspirado, e não escrevia nada “por encomenda” de outros ou de minha própria cabeça. Inspiração aí não deve ter faltado, mas o soneto já tem a cara de recordação derradeira de uma época em transição. O que talvez deve ter sido mais importante foi a crítica social insinuada, indicando já o curso de História no qual logo entraria e as opiniões que eu aí sustentaria no início. Indo além, nesse último ano de meu Ensino Médio, principalmente a partir de meados, eu de fato sustentava opiniões socialistas, compartilhadas por outras garotas de minha sala, e as manteria enquanto era “bixo”, chegado até a votar em Heloísa Helena pra presidente. Só em 2007, talvez, fui moldando mais meu jeitão “conservador”, porque a vivência de minha primeira greve universitária trouxe decepções quanto àqueles militantes que se diziam “revolucionários”.

Mas, infelizmente, de novo não sei a data exata do soneto, e ela se me aparece de forma ainda mais imprecisa do que os outros. Pelo assunto e pela linguagem, só consigo concluir, sem certeza, que ele tem um considerável hiato temporal em relação aos anteriores. Abaixo estão o texto em esperanto, no qual só fiz uma alteração mínima, e uma tradução improvisada pro português, só pra dar uma noção do conteúdo pra maioria dos leitores. Assim como fiz com outros poemas, desejo mais pra frente recitar este e outros sonetos pra postar no meu canal O Eslavo (YouTube). Boa leitura, e espero que gostem!



Nunaj tempoj

La moderno regas nian mondon
De milit’ kaj mobiltelefono,
De dubo pri l’ ekzisto de bono,
Kiam la hom’ faras modan fondon.

Jam ne ekzistas plu gramofono,
Nur satelito por fari sondon.
Oni ne kantas plu “London, London”,
Usonaĵoj estas bela sono.

La mondo ne estas plu la sama,
Ĉio ŝanĝiĝis tra la jarcentoj,
Al mon’ cedis lokon sento ama.

Allogas kapitalismaj tentoj
Nin kaj homojn kun menso drama:
Ĉu tio ĉi haltos laŭ la ventoj?

____________________


Tempos atuais

O moderno governa nosso mundo
De guerra e telefone celular,
De dúvida sobre a existência do bem,
Quando o homem faz um cenário de moda.

O gramofone já não existe mais,
Apenas o satélite para fazer sonda.
Não se canta mais “London, London”,
Coisas dos EUA são belo som.

O mundo não é mais o mesmo,
Tudo mudou ao longo dos séculos,
O sentir amoroso deu lugar ao dinheiro.

Tentações capitalistas seduzem
A nós e homens com mente dramática:
Isto vai parar conforme os ventos?




domingo, 9 de julho de 2017

Emmanuel Macron comemora 2.º turno


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Estou postando o outro lado do 1.º turno das eleições presidenciais francesas de 2017, só pra gente relembrar um pouco. No dia 23 de abril, Emmanuel Macron, que se posicionou à frente de Marine Le Pen (Front national) na votação do primeiro turno das eleições francesas, fez uma declaração a seus torcedores logo depois das primeiras previsões se confirmarem. Ex-ministro de François Hollande (Partido Socialista), cujo mandato findou em 14 de maio, Macron surpreendeu ao ter ajudado a tirar da disputa, pela primeira vez em décadas, os dois principais partidos, o socialista (esquerda) e Os Republicanos (direita), que mudou de nome muitas vezes, mas em 2007 elegeu Nicolas Sarkozy sob o nome União por um Movimento Popular.

Surpresa da vez, Macron causou as mais diversas sensações até finalmente vencer o 2.º turno. Em síntese, foi o candidato europeísta, universalista, modernizante, em meio a uma insatisfação geral contra a situação da União Europeia (maior na Inglaterra, claro), aproveitada pelos Le Pen e por Jean-Luc Mélenchon (extrema-esquerda, que também concorreu e perdeu a disputa) pra contestar a situação do bloco. A extrema-direita e a esquerda radical o reputaram um velho candidato dos bancos, das finanças e dos industriais, que queria comprometer de vez a soberania da França e destruir as conquistas sociais e trabalhistas consolidadas. Pra eles, seu discurso de renovação e mudança não convenceu, uma vez que teria meramente saído do seio do antigo poder, ou seja, de um ministério de Hollande.

Tendo sido secretário do gabinete presidencial de 2012 a 2014 e, a seguir, ministro da Economia, Indústria e Tecnologia, Emmanuel Jean-Michel Frédéric Macron deixou a pasta em 2016 pra lançar seu próprio movimento à presidência, chamado En Marche!, conhecido como EM! e não por acaso com as mesmas iniciais de Macron. Ele é um ex-banqueiro nascido em 1977, casado com uma ex-professora de francês 24 anos mais velha, a qual conheceu quando ele tinha apenas 15 anos. Ela tem três filhos do primeiro casamento, mas ele não teve nenhum. Macron ficou conhecido por ter batizado no governo Hollande uma lei de sua iniciativa, que pretendia flexibilizar as relações de trabalho pra deslanchar a economia francesa, que continua, porém, estagnada. Sabemos bem em que país essa novela está se repetindo.

O primeiro turno das eleições presidenciais foi em 23 de abril, um domingo, tendo ficado Macron com 24,01% dos votos e Marine Le Pen, 21,3%, mostrando a divisão e a falta de consenso nacionais. A França tem um sistema presidencialista, onde o Presidente da República, eleito pelo voto popular, escolhe o primeiro-ministro, que vai, por sua vez, formar o governo. Grosso modo, o premiê se ocupa mais com a política interna, e o presidente, com a política externa; já houve casos de ambos serem de partidos diferentes, como Jacques Chirac do UMP e Lionel Jospin do PS. O segundo turno foi em 7 de maio, e muito sangue rolou até a vitória final de Macron.

Baixei o vídeo completo sem legendas do próprio canal da campanha de Emmanuel Macron, e cortei apenas uma parte do começo e do fim, pra manter só o essencial. Ouvi e traduzi de cabeça, tendo feito ao mesmo tempo as legendas. Seguem abaixo a legendagem que postei no meu extinto canal do YouTube e a tradução em português:


Meus caros compatriotas!

Hoje, domingo, 23 de abril, o povo da França se expressou. Enquanto nosso país atravessa um momento inédito na história, marcado pelo terrorismo, pelos desafios econômicos, por chagas sociais e pelo drama ecológico, ele reagiu da maneira mais bela: indo às urnas massivamente. Ele decidiu me botar na frente do primeiro turno dessa eleição! Reconheço a honra e a notável responsabilidade que isso me dá.

Esta noite quero saudar aqui os outros candidatos deste turno: Nathalie Arthaud, François Asselineau, Jacques Cheminade, François Fillon, Nicolas Dupont-Aignan, Benoît Hamon, Jean Lassalle, Jean-Luc Mélenchon e Philippe Poutou. Obrigado por terem acabado de aplaudi-los todos e todas. Isso une vocês. Isso une a nós. Sei como estão despontados eles e seus apoiadores. E agradeço a Benoît Hamon e François Fillon por terem chamado a votarem em mim no segundo turno.

A todos os que desde abril de 2016 me acompanharam, criando e dando vida ao En Marche!, esta noite quero dizer umas palavras. Em um ano, mudamos o rosto da vida política francesa. O sentimento profundo, orgânico, milenar que sempre guiou nosso povo, o compromisso com a pátria, a energia pelo interesse coletivo para além das divisões, venceram esta noite. Nunca vou esquecer a vontade obstinada e a energia exigente que milhares de vocês gastaram para que isso acontecesse.

Desde um ano atrás, por toda a França, vocês tomaram sua parte no destino nacional, souberam mostrar que confiar em nosso país não era utópico, inútil ou fantasioso, mas era uma vontade persistente e benévola. Vocês doaram os seus dias. Quando eles não bastavam, vocês doaram as suas noites. Esta noite, meus amigos, sei que devo tudo isso a vocês.

Vocês devem manter esse compromisso vibrante até o fim e ir além. Não desistir nunca, jamais esquecer estes meses durante os quais vocês mudaram o curso de nosso país e abalaram o status quo. Manter-se corajosos e exigentes como estão. Desde já compete a vocês prosseguir nesse caminho.

Esta noite, me comprometo a ir além e unir todos os franceses. Nunca vou ficar longe de vocês. E sempre vou precisar de vocês. Às milhões de francesas e franceses que confiaram em mim esta noite dando seu voto, quero dar meu obrigado. Quero dizer que reconheço o peso disso e esta noite eu sou tomado por uma alegria séria e lúcida. Em nome de vocês, vou levar para o segundo turno desta eleição a exigência do otimismo e a voz da esperança que queremos para nosso país e para a Europa!

Agradeço a meus parentes, ainda vivos ou já falecidos. Ninguém faz nada de bom caso esqueça quem é e de onde veio. A toda minha família e à minha Brigitte, sempre presente, e mais ainda, sem a qual não seria o que sou. A partir de hoje, meus amigos, devo criar uniões ainda mais amplas, reconciliar nossa França para ganhar em 15 dias, e amanhã, para presidir nosso país.

Percebi durante esses últimos meses, e ainda hoje, os receios, a raiva, o medo do povo da França, bem como sua ânsia por mudança. Esta foi o que o levou esta noite a tirar da corrida os dois grandes partidos que governam há mais de 30 anos. Esta noite quero falar a todos os cidadãos da França. Tanto da Metrópole quanto do Ultramar. Sei que vocês esperam.

Desejo em 15 dias tornar-me seu presidente! O presidente de todo o povo da França, o presidente dos patriotas, face à ameaça nacionalista! Um presidente que proteja, que transforme e que construa. Um presidente que permita aos que querem criar, empreender, inovar e trabalhar, fazer tudo isso mais rápido e facilmente. Um presidente que ajude os que têm menos e são mais frágeis ou são perturbados pela vida, por meio da escola, do trabalho, da saúde e da solidariedade.

Ouvi vocês reclamarem por uma verdadeira alternância, pela vitalidade democrática, por cuidados com a ecologia e a economia. Para formar um futuro possível, que tornará a França mais forte, numa Europa que proteja, vou precisar do voto de vocês, vou precisar da confiança de vocês.

Meus caros compatriotas, vou trabalhar nos próximos 15 dias para que juntos possamos reunir o máximo de pessoas em torno de minha candidatura. A força dessa união será determinante para presidir e para governar. A partir desta noite, o desafio não será ir votar contra quem quer que seja. O desafio será decidir romper até o fim com o sistema que não soube reagir aos problemas do país em mais de 30 anos. O desafio será abrir uma nova página de nossa vida política e agir para que cada um, com justiça e eficácia, possa achar seu lugar na França e na Europa! Esse é nosso desafio!

Meus caros compatriotas, é por isso que quero construir desde já uma maioria de governo e de transformação nova. Ela será feita de novos rostos, de novos talentos. Cada uma e cada um pode ter aí seu lugar. Não vou perguntar àqueles que me acompanharem de onde vêm, mas se concordam em renovar nossa vida política, em garantir a segurança dos franceses, em livrar o trabalho, em refundar a escola, em deixar cada um progredir na sociedade, donde quer que venha, e relançar a construção europeia!

Assumam já esta noite a parte de risco que lhes cabe para me seguirem, assim como à maioria parlamentar que vou construir a partir de amanhã!

Meus caros concidadãos, vocês conseguiram! Vocês nos conduziram! Vocês provaram que em nosso país nada era impossível de mudar! Vocês são esse rosto da renovação! Vocês são esse rosto da esperança francesa, a qual em 15 dias vou levar à vitória!

Meus caros concidadãos! Não há várias Franças. Há apenas uma, a França, a nossa, a França dos patriotas, numa Europa que protege e a qual teremos que refundar. A tarefa será imensa. Ao lado de vocês, estou pronto a enfrentá-la. O combate sobre quem merece conduzir nosso país começa esta noite. E vamos ganhá-lo!

Viva a República!

Viva a França!



quarta-feira, 5 de julho de 2017

Pluveto saŭdada: música em esperanto


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Eis uma de minhas traduções muito incomuns pro Esperanto! É a canção brega Chuva de saudade, cantada pelo baiano Cristiano Neves (ele a compôs junto com Denilson Gomes), que há muitos anos vive em São Paulo. Quando eu estava no fim do meu Ensino Médio, gostava muito de escutar músicas do Norte e do Nordeste, principalmente nos ritmos mais inusitados, alguns dos quais gerariam o atualmente popular arrocha. Mas os meus preferidos eram forró, brega, calipso, tecnomelody etc., talvez pra contrariar um pouco o senso comum de meus colegas adolescentes no rock e no pop. Eu escrevi a tradução em 29 de janeiro de 2005, e em muitos pontos ela não está nada literal. A começar pelo título, que de Chuva de saudade virou Pluveto saŭdada, ou seja, “Garoa de saudade” ou “Garoa saudosa”. Vocês podem ler nesta página a letra em português (embora mal escrita), e abaixo seguem um vídeo com Cristiano Neves cantando a música num show e a letra em esperanto. Com a letra um pouco diferente, há também nesta página uma versão em estúdio.

Jen unu el miaj tre nekutimaj tradukoj al Esperanto! Ĝi estas la kanzono en stilo “brega” Chuva de saudade, laŭlitere “Pluvo de saŭdado”, kantata de Cristiano Neves (li komponis ĝin kune kun Denilson Gomes), kiu naskiĝis en la brazila ŝtato Bahio kaj de multaj jaroj vivas en la urbo San-Paŭlo. Dum la lastaj jaroj de mia mezgrada studado, mi tre ŝatis aŭskulti muzikon de la Norda kaj la Nordorientaj regionoj de Brazilo, surtute en la plej bizaraj ritmoj, inter kiuj estis la fontoj de la nuntempe populara “arrocha”. Sed miaj preferataj ritmoj estis “forró”, “brega”, “calipso”, la tiel nomata “tecnomelody” ktp., verŝajne por iom kontraŭi la komunan guston de miaj plenkreskantaj kolegoj por rok- kaj pop-muziko. Mi skribis la tradukon la 29-an de Januaro 2005, kaj en kelkaj frazoj ĝi estas tute ne laŭlitera. Komence per la titolo, kiu de “Pluvo de saŭdado” (Chuva de saudade) devenis Pluveto saŭdada. Vi povas legi ĉi-paĝe la portugallingvan tekston (kvankam malbone skribita), kaj ĉi-sube estas video kun Cristiano Neves kantanta la kanzonon dum spektaklo kaj la teksto en Esperanto. Kun la teksto iom malsama, ĉi-paĝe estas ankaŭ studia versio.


Pluveto saŭdada

Ho, stel’ de sonĝoj miaj,
Mi kion faru por
Vin tuj rekonkeradi,
Ĉe brak’ vin tenadi?
Al mi diru, do!

Dolorigis saŭdado min,
Doloris tre!
Dolorigis saŭdado min,
Doloris tre!
Dispeciĝis mia kor’,
La eroj restis for
Post ega solec’.
Dispeciĝis mia kor’,
La eroj restis for
Post ega solec’.

Falas la pluveto,
Malsekiĝas plank’.
La pluvet’ saŭdada,
Al la kor’ ne dank’.
Falas la pluveto,
Malsekiĝas plank’.
Min soleco vundas,
Likas mia sang’.

2x:
Revenu tuj,
Estu la uj’
De mia pasi’,
La stelo multkolora,
Kial’ de bato kora,
Sonĝ’ mia estas vi!

Falas la pluveto,
Malsekiĝas plank’.
La pluvet’ saŭdada,
Al la kor’ ne dank’.
Falas la pluveto,
Malsekiĝas plank’.
Min soleco vundas,
Likas mia sang’.

2x:
Revenu tuj,
Estu la uj’
De mia pasi’,
La stelo multkolora,
Kial’ de bato kora,
Sonĝ’ mia estas vi!

2x:

Falas la pluveto,
Malsekiĝas plank’.
La pluvet’ saŭdada,
Al la kor’ ne dank’.
Falas la pluveto,
Malsekiĝas plank’.
Min soleco vundas,
Likas mia sang’.



domingo, 2 de julho de 2017

Francisco Franco proclama sua vitória


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A alocução da qual o vídeo abaixo é apenas um trecho, pronunciada em 1939, costuma ser chamada “discurso da vitória”, em que o general Francisco Franco Bahamonde, após ter vencido a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) contra o governo republicano de esquerda, do qual era adversário, proclama os princípios do novo Estado que deseja implantar, sob inspiração dos vitoriosos regimes nazista e fascista, em voga naquele momento. O alemão Hitler e o italiano Mussolini, aliás, ajudaram abertamente as tropas de Franco com munição e homens.

O general Franco, servindo na parte do Marrocos que pertencia em 1936 à Espanha, sublevou-se nesse ano contra o governo republicano da Frente Popular, eleito recentemente por sufrágio universal. O temor de Franco, das Falanges que o ajudaram, de várias forças reacionárias e direitistas e da Igreja Católica era o de que, ideologicamente à esquerda, esse governo se aproximasse cada vez mais da União Soviética e implantasse no país um regime comunista. Na época, entre os conservadores ocidentais, o bolchevismo era o maior medo político, associado à ditadura, ao coletivismo e ao terror estatal. Alcançando a península Ibérica, Franco e suas tropas, porém, encontraram séria resistência de comunistas (trotskistas e stalinistas), anarquistas e socialistas armados, além das Brigadas Internacionais reunidas pela Comintern pra defender o regime legal.

Ocorreu que os governos de extrema-direita da Alemanha e da Itália forneceram uma incondicional ajuda crucial pra que as tropas revoltosas chegassem facilmente a Madri e derrubassem, em três anos, o governo republicano, enquanto França e Inglaterra, mesmo contrariadas com o nazifascismo, abstiveram-se de intervir. Além disso, temendo desagradar a ingleses e franceses, dos quais se aproximava lentamente, Stalin teve uma postura ambígua no conflito, ao apoiar as Brigadas, fornecer clandestinamente material bélico às esquerdas e, mais tarde, cessar sua intervenção e mandar os voluntários retirarem-se ainda em 1938. Pra piorar, as rixas dos stalinistas com os trotskistas e anarquistas enfraqueceram as fileiras defensivas e, em meio a sabotagens e atentados mútuos, abriram a via pro avanço franquista.

A vitória direitista foi arrasadora, milhões de refugiados deixaram a Espanha (muitos, fugidos pra França, teriam de sair daí novamente com a invasão nazista em 1940) e Franco, denominando-se Caudillo (o equivalente ao Führer e ao Duce), tomou sozinho o governo e buscou edificar um governo baseado no fascismo, embora não idêntico a ele. No final dos anos 60, Juan Carlos foi designado rei pra sucedê-lo, o que ocorreu com a morte do general, em 1975, iniciando a transição do país pra uma democracia rica, após a ditadura pobre. Alguns dos slogans do governo de Franco, ainda usados por seus admiradores, são ¡Viva España! (Viva a Espanha!) e ¡Arriba, España! (Avante, Espanha!).

Como eu disse, este vídeo é apenas um trecho do “discurso da vitória”, o único disponível no YouTube. Na resolução original e sem legendas, ele se encontra nesta página. Eu mesmo traduzi o texto, sem buscar ser totalmente literal, e legendei o vídeo, postando-o então no meu antigo canal do YouTube. Seguem abaixo a legendagem, o texto em espanhol (que retirei da seção pra Francisco Franco do Wikiquote) e minha tradução em português:


Un estado totalitario armonizará en España el funcionamiento de todas las capacidades y energías del país, en el que, dentro de la Unidad Nacional, el trabajo, estimado como el más ineludible de los deberes, será el único exponente de la voluntad popular. Y merced a él, podrá manifestarse el auténtico sentir del pueblo español a través de aquellos órganos naturales que, como la familia, el municipio, la asociación y la corporación, harán cristalizar en realidades nuestro ideal supremo.

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Um Estado totalitário viabilizará na Espanha a ativação de todas as capacidades e energias do país, na qual, dentro da Unidade Nacional, o trabalho, reputado como o mais inescapável dos deveres, será a única expressão da vontade popular. E graças a ele, poderá florescer a verdadeira opinião do povo espanhol por meio daqueles órgãos naturais que, como a família, o município, a associação e a corporação, farão tornar-se uma realidade nosso ideal supremo.