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terça-feira, 19 de agosto de 2025

Mais um dia comum em Quiévi... ops, Kyiv


Endereço curto: fishuk.cc/sirenes

Esses dias, Vitório Sorotiuk, ex-presidente da Representação Central Ucraniano-Brasileira (RCUB) e de quem já publiquei vários textos aqui na página, esteve na capital ucraniana e registrou pra posteridade (e pros idiotas que ainda não acreditam) uma cena que tem se tornado cotidiana: as sirenes que tocam a qualquer momento do dia e da noite, indicando a possível iminência de um bombardeio ruSSo e a necessidade de se abrigar numa das muitas estações de metrô feitas igualmente à maneira de um bunker. É curioso como ele registra a aparentemente tranquilidade dos passantes e dos motoristas e, ao final, fala que finalmente ele não pode adiar a busca por um abrigo antiaéreo.

Por prosaica que possa parecer, a cena é triste, na medida em que meu amigo Claudio, que me repassou o vídeo, ressaltou que eles acabaram se “habituando” a essa situação. Pra mim, também é indignante, pois sabemos como os zumbis de Putler não só atacam deliberadamente alvos civis não usados pra fins militares, mas também aprenderam a sobrevoar o espaço aéreo ucraniano de forma a apenas “despertar” as sirenes e gerar um falso alerta de bombardeio!

Ah, e se você quer uma dica de pronúncia aproximada, basta mandar um Quíiv ou Quêiv mesmo...


Embora na sexta-feira passada tenha havido o vergonhoso encontro entre Trump e o ditador do Kremlin no Alasca, e na segunda-feira o encontro da Galinha Ruiva com Zelensky e outros governantes europeus, não fiz nenhum conteúdo especial a respeito. Porém, não pude deixar de trazer algumas coisas, como a animação humorística de André Guedes ainda relativa ao primeiro encontro fracassado em fevereiro (repassada por uma amiga) e duas montagens referentes ao fato de Sergei Lavrov ter ido aos EUA com um moletom com as iniciais da URSS em russo (o apelido oficial do Claudio ao diplomata é justamente “cara de cavalo”, rs):






Outro babado forte foi a justa verbal em inglês que os ministros do Exterior da Hungria, Péter Szijjartó, e da Ucrânia, Andrii Sybiha, tiveram no Équis na segunda-feira após um ataque ucraniano ter atingido um oleoduto que leva petróleo da Rússia até o país de Viktor Orbán e à Eslováquia. As duas nações se recusaram a condenações mais firmes à invasão moscovita e à redução de seus intercâmbios com o agressor.

Não é citado o local, mas acredito que embora ele passe pela Ucrânia, tenha sido avariado na Rússia, interrompendo temporariamente o fornecimento no domingo anterior. Após a típica passada de pano no genocida, o que em qualquer hipótese o faz perder toda a razão, o cabelo de Pica-Pau levou uma fantástica invertida do ucraniano, apesar da tréplica chorosa:






sexta-feira, 11 de abril de 2025

Vitório Sorotiuk – 3 anos da invasão


Endereço curto: fishuk.cc/vitorio-ua

Meu amigo Claudio me mandou o arquivo Word original deste discurso proferido pelo então presidente da Representação Central Ucraniano Brasileira (RCUB), Vitório Sorotiuk (que deixaria o cargo alguns dias depois), na manifestação da comunidade no dia 22 de fevereiro de 2025, às 16h, na Praça da Ucrânia em Curitiba, PR. Gostaria de o republicar não somente porque admiro a figura desse ex-militante estudantil e opositor da ditadura civil-militar de 1964-85, mas também porque resume o óbvio sobre essa agressão bárbara que, infelizmente, precisamos estar todo santo dia lembrando nas redes, mesmo entre grupos que se dizem “progressistas”. Cada mínima manifestação da verdade pode nos fazer vencer em número... Infelizmente tive de corrigir alguns erros de redação mais evidentes, mas o estilo é completamente o do Vitório, e não o meu, que costumo imprimir a certas traduções:



Caros membros da comunidade ucraniana brasileira.
Amigos da comunidade ucraniana brasileira e da Ucrânia.


Segunda feira, dia 24 de fevereiro, completam-se três anos da agressão militar massiva da Rússia contra o território da Ucrânia e o seu povo, em continuidade à agressão sofrida a partir do ano de 2014.

Essa agressão provocou o maior deslocamento populacional na Europa, para o exterior e para o interior de um país, desde o fim da segunda grande guerra mundial em 1945. Mais de seis milhões de ucranianos saíram para o exterior. Além dos milhares de mortos em conflito, segundo a Escola de Economia de Kyiv (KSE), a guerra de agressão em grande escala da Rússia causou US$ 170 bilhões em danos diretos à infraestrutura da Ucrânia até novembro de 2024.

Assim, são dois os grandes objetivos presentes: buscar a paz com garantia de segurança permanentes à Ucrânia e a reconstrução da Ucrânia.

A Assembleia Geral da ONU, na sua resolução de 2 de março de 2022, qualificou imediatamente a guerra da Rússia contra a Ucrânia como um ato de agressão em violação do artigo 2.º da Carta da ONU e, na sua resolução de 14 de novembro de 2022, reconheceu a necessidade de responsabilizar a Federação Russa pela sua guerra de agressão, bem como legal e financeiramente responsável pelos seus atos internacionalmente ilícitos, e que a Rússia deve pagar reparações pelos ferimentos e danos causados.

Vivemos um momento delicado, em que os fiadores da soberania da Ucrânia estão colocando seus interesses econômicos oligárquicos acima das normas internacionais e dos tratados que assinaram.

Em 1994, no Memorando de Budapeste, quando a Ucrânia entregou o seu arsenal nuclear à Rússia em troca de respeito à sua soberania, cujo documento assinaram a Rússia, os Estados Unidos, o Reino Unido e posteriormente a França e a China, ficou estabelecido e escrito que reconheciam e garantiam a soberania da Ucrânia sobre o seu território. Em 1997, a Rússia e a Ucrânia assinaram o Tratado de Cooperação e Amizade e as partes acordaram respeitar a integridade territorial um do outro, a inviolabilidade das fronteiras, a solução pacífica de controvérsias e o não uso da ameaça ou força.

Mas, no momento, todo o avanço civilizatório através das leis e da construção de organismo internacionais de convivência entre os povos é deixado de lado para se colocar em primeiro plano a força militar e econômica. Apesar da adversidade, não podemos deixar de reivindicar as normas internacionais de convivência estabelecidas na Carta da ONU e de invocar as punições devidas ao agressor previstas no Estatuto de Roma, pois a Rússia cometeu o crime de agressão, crimes militares, crimes contra a humanidade e genocídio ao sequestrar milhares de crianças.

Quem quer que seja, mesmo o menino de escola fundamental quando vai fazer um trabalho sobre a II Grande Guerra Mundial e se debruça sobre a problemática das razões do conflito, vai encontrar a resposta que o motivo principal da guerra está na ideologia nazista. O filósofo Slavoj Žižek disse que não há que se subestimar o poder material da ideologia na atual guerra de agressão russa à Ucrânia. É no ideário forjado pela elite russa em substituição à ideologia da antiga União Soviética que se deve buscar o principal motivo da guerra de agressão russa à Ucrania.

A Verkhovna Rada – parlamento supremo da Ucrânia – adotou, no início do mês de maio de 2024, uma resolução “Sobre o uso da ideologia do ruscismo pelo regime político da Federação Russa, condenando os fundamentos e práticas do ruscismo como totalitários e misantrópicos”. São consequência dessa ideologia a violação em massa e sistemática dos direitos humanos, tanto dentro da Federação Russa quanto nos territórios ocupados da Ucrânia. As liberdades de reunião, manifestação e partidária, assim como o feminismo e a liberdade sexual e comportamental, são vistas pela Rússia como “degeneração” da sociedade ocidental. A menor dissidência na Rússia é vista como traição aos interesses nacionais. Atualmente, está proibida a palavra “guerra”, e quem a usa está sujeito à prisão. Os oponentes políticos ou são mortos, envenenados ou presos quando têm sorte.

No texto de 44 mil caracteres que alcançam 20 páginas aproximadamente e que Vladimir Putin publicou antes da invasão massiva, e nas entrevistas concedidas, ele exprimiu com todas as letras que a Ucrânia é uma criação de Lenin, que a Ucrânia não existe. Como bem lembrou a Resolução do Parlamento Europeu em 23 de janeiro deste ano, o nacionalismo russo é a base da ideologia do Estado em que se aplica o conceito do “Russkiy Mir” – “mundo russo”. O autoengrandecimento da Rússia e dos russos às custas da opressão violenta, da negação do direito à autodeterminação ou, em geral, do direito à existência de outros povos

Por maior que fosse o esforço de diplomacia da Ucrânia nas negociações com a Rússia, não havia como demovê-la de seu apetite de agressão enquanto permanecer a ideologia do ruscismo. Assim como ocorreu quando a Alemanha foi conduzida pelos nazistas, não foram falhas de negociação dos demais países que provocaram a guerra, mas a ideologia nazista.

Apelamos para que os membros da comunidade busquem unir todas as forças para o apoio à Ucrânia. Não importa aqui se a pessoa é de direita, de centro ou de esquerda. Nosso combate é contra o totalitarismo de esquerda ou o fascismo de direita. O que importa é que esteja a favor da democracia e das normas internacionais. Temos que falar com todas as forças políticas. Nosso único lado é a defesa da paz, da democracia e da soberania da Ucrânia sobre todo o seu território.

A paz para a Ucrânia não pode ser a paz dos cemitérios e nem a paz do agressor. A paz para a Ucrânia deverá ser a paz de sua soberania sobre todo o seu território e garantias reais de segurança. A paz para a Ucrânia não pode ser o texto sem garantias do Memorando de Budapeste. O custo da guerra não poderá ficar em cima do ombro da Ucrânia, mas do agressor. Os crimes de agressão, de guerra, contra a humanidade e o genocídio não podem ser transacionados, mas investigados e punidos. A paz para a Ucrânia não pode ser aquela que beneficie o agressor, pois continuará a ser não só uma perda para a Ucrânia, mas também uma ameaça contínua à Europa e à paz mundial.

Apelamos para que a nossa comunidade se mantenha ativa e mobilizada em defesa da Ucrânia.

Apelamos para que o Brasil se mantenha dentro das normas do Direito Internacional como fundador da Nações Unidas – ONU, como também é a Ucrânia.


Слава Україні! Slava Ukraini! Viva a Ucrânia!
Героям Слава! Heroiam Slava! Vivam os Heróis!

Sábado, 22 de fevereiro
de 2025 – Praça da Ucrânia
Vitório Sorotiuk
Presidente da Representação
Central Ucraniana Brasileira



Ah, e antes que eu me esqueça...

sábado, 22 de fevereiro de 2025

Atos sobre os 3 anos da invasão


Endereço curto: fishuk.cc/ua25



Como disse minha amiga belarussa, que fez esta maravilhosa arte e vai participar das manifestações contra a invasão da Ucrânia em Salvador nesta virada de semana, “vamos sambar na cara desses ditadores”, rs. Por isso, começo com as coordenadas do ato na capital baiana, e seguem outros pelo Brasil, começando por São Paulo capital, cedidos por meu amigo Claudio. Aos dois, agradeço por toda informação, pois agora ela está centralizada pra quem deseja se informar e pra quem deseja informar os companheiros.

Sei que infelizmente muitas dessas manifestações estão juntando cada vez menos gente, mas a meu ver, mais importante é ser poucos, mas seguir falando e sendo vistos, do que silenciar e dar a impressão que acabou tudo. Se puder, compartilhe esta publicação, não por mim, mas por todos nós. Tanto mais que o fascista da White Power House, cuja cachola é imprevisível, está (por enquanto...) ameaçando pôr tudo a perder!





















quarta-feira, 4 de setembro de 2024

MEU AMIGO FEZ VARÉNYKY!


Endereço curto: fishuk.cc/varenyky

Conteúdo incomum, assunto incomum, rs. Semana passada, o Claudio me mandou estas fotos pelo WhatsApp pra provar que é um ótimo cozinheiro, sorte de sua esposa paranaense e descendente de ucranianos! Me autorizando a publicá-las aqui, ele apresenta seus “varényky”, (вареники) prato típico do oeste da Ucrânia e de países eslavos vizinhos, também escrito “vareniki” por muitos. É chamado ainda de “pyrohý” (пироги), ambos os substantivos sendo plurais, e por influência da cultura polonesa, costuma também levar aqui o nome de “pierogi” ou “pirogues”.

Também perguntei pra ele se era similar aos “pelméni”, conhecidos raviólis russos, mas ele respondeu que este, na verdade, se faz com carne “e é bem russo” (acho que ele quis dizer “tipicamente russo”, sem relação com as regiões que citei acima), e “a forma é diferente”. Os varényky do Claudio, segundo ele, têm recheio “de batata com bacon e cebola fritos”. Em todo caso, existem vários relatos a respeito e receitas em sites de cultura ou culinária eslava ou geral, que podem ser encontrados na primeira página de uma busca no Google. Entre eles, o Sauerkraut (Fábio Flatschart, 2022), o Estadão (Jim Webster, 2022), o caderno F5 (Irina Ignatenko, 2018) e o Clube Eslavo (Snizhana Maznova, 2017).

Nas três primeiras fotos, podem-se ver o recheio e a massa, e a seguir a confecção dessa delícia. Ele não deu a receita, mas sugiro que fiquem com os links acima e apreciem esta beleza por simples fruição cultural, rs. Bom proveito e, se resolver preparar, boa sorte!



















Adendo (4/10/2024): Hoje o Claudio me repassou este vídeo publicado no Instagram pelo presidente da Representação Central Ucraniano-Brasileira, Vitório Sorotiuk, com uma matéria do jornal Meio-Dia Paraná do canal RPC, afiliado à TV Globo. Apresentada pela simpática Dulcinéia Novaes, que tanto já participou também do Globo Repórter, mostra como descendentes de ucranianos em Curitiba preparam os varényky aos quilos pra vender. As senhoras trabalham ao som do próprio canto da música folclórica Chórni óchka, iák terén, e desta vez temos uma receita de primeira mão, publicada no perfil do Vitório:

Ingredientes:
Massa:
1 kg de farinha de trigo
1 colher (sopa) de manteiga
1/2 colher de sal
1 copo de água fervida e levemente morna
2 gemas
1 ovo inteiro
Recheio:
1/2 kg de batata
1/2 kg de requeijão

Modo de preparo: Primeiro faça o recheio: cozinhe a batata com sal, escorra e passe pelo espremedor. Depois misture bem com o requeijão. Em seguida faça a massa: misture as gemas, a manteiga, o sal e a água. Bata bem.

Vá acrescentando a farinha, até que dê pra amassar. Amasse bastante com as mãos até que fique bem lisa e firme. Abra a massa com um rolo e corte em rodelas com um copo.

Coloque no meio de cada rodela um pouco de recheio, dobre em forma de pastel apertando as bordas com os dedos e vá colocando sobre um pano. Coloque para ferver meia panela de água com sal. Assim que estiver fervendo, vá jogando os pastéis. Quando a água ferver novamente e os pastéis subirem à tona, retire-os com o auxílio de uma escumadeira, regue com manteiga derretida e sirva com nata, ou com pedacinhos de bacon frito, ou com molho de carne, ou com cebola frita no azeite.


terça-feira, 6 de junho de 2023

Rússia destrói barragem e afoga povo


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/kakhovka

Na madrugada de 6 de junho de 2023, a barragem da Usina Hidrelétrica de Nova Kakhovka, cidade ucraniana na beira do rio Dnipró, foi destruída por explosões que imediatamente causaram inundações mortíferas, espalharam substâncias tóxicas nocivas ao meio-ambiente regional e ameaçaram o sistema de resfriamento da já prejudicada Usina Nuclear de Zaporizhia. Construída na época soviética, a barragem terá de ser toda refeita, não tem como ser apenas consertada, e seu rompimento já era algo temido pelos analistas militares. Numa semana em que a contraofensiva da Ucrânia tem ganhado mais visibilidade, o Kremlin tratou imediatamente de culpar Kyiv por um “bombardeio” intencional, mas ao que parece, a estrutura explodiu de dentro, isto é, entre as análises mais aventadas estão a ativação de bombas que já teriam sido colocadas pelos invasores (já que a região está sob controle russo) ou o possível colapso de alguma operação de reparo, conserto ou mudança que deu errado, muito errado.

Seja como for, Zelensky e o Ocidente tratam o fato como mais um “atentado terrorista de Putin”, mas observando melhor, a tragédia corre o risco muito mais de arruinar de vez a ocupação russa (soldados já teriam morrido, a população da região teve de ser evacuada e, o principal, a Crimeia vai ficar sem abastecimento de água limpa) do que atrasar a contraofensiva ucraniana, mesmo que não esteja claro se o Kremlin teve essa intenção. É mais um dos reflexos da bagunça que virou o front russo, com tropas abandonadas, comandantes incompetentes e relapsos, falta de equipamentos e briga entre exército oficial e milícias criminosas. Penso pessoalmente que Putin, ou quem quer que esteja controlando, já perdeu as esperanças de manter o controle das regiões ocupadas (o qual, de fato, nunca se consolidou), e que, talvez preparando uma retirada, vai pelo menos deixar tudo em ruínas. Não deixa de ser um crime, em todo caso, que futuramente vai cair na conta do ditador da Rússia.

Esta declaração do Ministério das Relações Exteriores ucraniano sobre o incidente foi traduzida por Vitório Sorotiuk, de quem já publiquei vários artigos aqui, e ressalta o lado terrorista do que pode ter sido uma explosão provocada pelos russos. Infelizmente, tá difícil receber boas notícias sobre essa invasão criminosa, e agradeço ao amigo Claudio pelo envio dos textos. Apenas adicionei algumas notas e fiz algumas mudanças redacionais pra adequar ao estilo da página.



Rússia realiza ato terrorista contra o povo ucraniano

Declaração do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia sobre o ato terrorista da Rússia na Usina Hidroelétrica de Kakhovka

Na noite de 6 de junho, a Federação Russa explodiu a barragem da Usina Hidroelétrica de Kakhovka, localizada perto da cidade de Nova Kakhovka, no território temporariamente ocupado da região de Kherson.

Dezenas de assentamentos em ambos os lados do Dnipró correm risco de inundação.

Unidades da Polícia Nacional e do Serviço de Emergência do Estado da região de Kherson estão tomando medidas urgentes para evacuar a população civil de possíveis zonas de inundação. Moradores da margem esquerda [em relação ao curso do rio rumo ao mar] temporariamente ocupada da região de Kherson estão sendo alertados.

Consideramos a detonação da Usina Hidrelétrica de Kakhovka pela Federação Russa como um ato terrorista contra a infraestrutura crítica ucraniana, que visa causar o maior número possível de vítimas e destruição. O ataque terrorista à Usina Hidroelétrica de Kakhovka foi anteriormente discutido ativamente no nível das forças de ocupação na região de Kherson e propagandistas na televisão russa, o que indica que foi planejado com antecedência.

O enfraquecimento da barragem Usina Hidrelétrica de Kakhovka é um terrorismo ecológico causado pelo homem, o maior desastre causado pelo homem na Europa nas últimas décadas, outra manifestação do genocídio da Rússia contra os ucranianos. Esta é a resposta do Kremlin aos países que pedem negociações de paz com a Federação Russa.

Devido à diminuição do nível da água no reservatório de Kakhov, pode haver o perigo de um incidente em outro objeto crítico de infraestrutura ocupado pela Rússia – a Usina Nuclear de Zaporizhia.

Apelamos à comunidade internacional para condenar veementemente o ataque terrorista russo à Usina Hidrelétrica de Kakhovka.

O crime cometido pelo homem na Federação Russa confirma a alta relevância da Fórmula da Paz do Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Apelamos aos parceiros internacionais para que se associem à sua implementação o mais rapidamente possível, em particular nos pontos de combate ao ecocídio, segurança nuclear e energética.

A Rússia terá que compensar todas as consequências de seu crime: tanto para as pessoas quanto para a infraestrutura e o meio ambiente.

Apelamos também aos países do Grupo dos Sete [G7] e à UE para que considerem urgentemente a imposição de novas sanções de longo alcance à Federação Russa, em particular à indústria russa de mísseis e à indústria nuclear.

De acordo com os resultados da reunião do Conselho de Segurança Nacional e Defesa da Ucrânia na manhã de 6 de junho, a lista de ações do MRE da Ucrânia, propostas pelo Ministro das Relações Exteriores, sr. Dmytró Kuleba, no contexto da resposta, incluirá, em particular, a convocação de uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU pela Ucrânia e trazer a questão do ataque terrorista russo para a reunião do Conselho de Governadores da AIEA, bem como acionar o Mecanismo de Defesa Civil da União Europeia.



sábado, 20 de maio de 2023

V. Sorotiuk sobre o ruscismo (рашизм)


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/rashizm


Tomei a liberdade de republicar sem autorização prévia “Le mort saisit le vif ! (Os mortos apoderam-se dos vivos!): O ruscismo”, mais um artigo de Vitório Sorotiuk, presidente da Representação Central Ucraniano-Brasileira, que circulou nas redes sociais. Seu objetivo é explicar o conceito de рашизм (rashízm), um neologismo criado pelos ucranianos que mistura as palavras “russo” e “fascismo”, com alusão à pronúncia inglesa de Russia, que é “râsha”. Não sei se essa era a versão definitiva, mas eu mesmo fiz correções e adaptei ao estilo da página.

O aportuguesamento da palavra saisit do francês levou à existência do termo “saisina” que, em termos populares, significa o direito de herança. Estabelece nosso Código Civil no artigo 1784 que, “Aberta a sucessão, a herança transmite-se desde logo aos herdeiros legítimos e testamentários.” E, além dos cuidados com o legado que os herdeiros se apossam, os que mais se identificam com o de cujus tomam muito cuidado com os seus restos mortais e sua memória.

Os restos mortais do príncipe russo Grigori Aleksandrovich Potiomkim (1739-1791) repousavam em uma catedral de pedra do século 18, em Kherson, até recentemente. Com a contraofensiva ucraniana que reocupou a cidade, uma missão especial dada às forças armadas russas foi roubar a ossada de Potiomkim para levá-la à Rússia. Foi Grigori Potiomkim quem convenceu a sua amante, a imperatriz russa Catarina, a Grande (1729-1796), a anexar a Crimeia, em 1783, e buscou criar uma Nova Rússia – um domínio que se estendia pelo território que hoje é o sul da Ucrânia, margeando o mar Negro. Quando Vladimir Putin determinou a invasão da Ucrânia, em fevereiro de 2022, evocou a visão de Potiomkim.

Antes, Vladimir Putin havia determinado a transferência dos restos mortais do “ideólogo” Ivan Ilin (1883-1954) da Suíça para a Rússia; e, em 2009, consagrou o seu túmulo. Putin vem mencionando e citando Ivan Ilin em seus discursos desde 2005. Encerrou o seu discurso em 30 de setembro de 2022, quando da anexação ilegal das províncias de Luhansk e Donetsk, o citando novamente. Seus livros são leitura obrigatória para todos os funcionários do governo. Ivan Ilin foi expulso da Rússia, em 1922, por determinação de Vladimir Lenin (1870-1924); e no exílio tornou-se o ideólogo do Movimento Branco, facção monarquista que defendia o retorno do tsarismo e um defensor da ideologia fascista. Foi defensor de Hitler, Mussolini e Franco mesmo depois do fim da Segunda Guerra Mundial.

As características imperialistas e fascistas do novo regime russo, alicerçado após o fim da União Soviética, compõem, sem dúvida alguma, o acervo da herança guardada com zelo por Vladimir Putin. O historiador Timothy Snyder afirmou, em artigo publicado no New York Times, que “a Rússia de hoje atende à maioria dos critérios que os estudiosos tendem a aplicar. Tem um culto em torno de um único líder, Vladimir Putin. Possui um culto aos mortos, organizado em torno da Segunda Guerra Mundial. Tem um mito de uma era de ouro passada de grandeza imperial, a ser restaurada por uma guerra de violência curadora – a guerra assassina na Ucrânia.” Os filósofos e cientistas sociais, sem desconsiderar essa herança, se debruçam, entretanto, para caracterizar o novo regime sob outra denominação tendo em vista as características atuais do fenômeno social e político russo.

A Verkhovna Rada, parlamento supremo da Ucrânia, adotou, no início deste mês de maio, uma resolução “Sobre o uso da ideologia do ruscismo pelo regime político da Federação Russa”, condenando os fundamentos e práticas do ruscismo como totalitários e misantrópicos. A letra “f” da palavra “fascismo” foi substituída pelo “r” em referência à Rússia (фашизм = рашизм). Para o português seria mais literal o “rascismo”, mas a tradução como ruscismo dá o real conteúdo de referência expressa pelos ucranianos. O termo ruscismo começou a ser usado no discurso público após a guerra de 2008 na Geórgia; ganhou maior popularidade após a anexação da Crimeia pela Rússia e o início da agressão russa, em 2014; e, agora, é termo oficial por lei na Ucrânia.

A conceituação estabelece que o ruscismo é a ideologia usada pelas autoridades da Federação Russa e a forma do atual fascismo russo. São consequência dessa ideologia a violação em massa e sistemática dos direitos humanos, tanto dentro da Federação Russa quanto nos territórios ocupados da Ucrânia. As liberdades de reunião, manifestação, partidária, assim como o feminismo e a liberdade sexual e comportamental são vistas pela Rússia como “degeneração” da sociedade ocidental. A menor dissidência na Rússia é vista como traição aos interesses nacionais. Atualmente, está proibida a palavra “guerra” e quem a use está sujeito à prisão. Os oponentes políticos ou são mortos envenenados ou presos quando têm sorte.

O nacionalismo russo é a base da ideologia do Estado onde se aplica o conceito do Russki mir (o “Mundo Russo”): o autoengrandecimento da Rússia e dos russos às custas da opressão violenta, da negação do direito à autodeterminação ou, em geral, do direito à existência de outros povos. A Ucrânia, para Vladimir Putin, é uma invenção de Lenin. Essas ideias agora estão sendo plantadas agressivamente nos territórios ocupados da Ucrânia e são acompanhadas pela proibição de tudo o que é ucraniano.

“Entendemos o ruscismo como um novo tipo de ideologia e prática totalitária, que está no cerne do regime que se formou na Federação Russa, sob a liderança do presidente V. Putin; e é baseado nas tradições do chauvinismo e do imperialismo russos, nas práticas do regime comunista da URSS e do nacional-socialismo”, diz, em comunicado oficial, a Verkhovna Rada.

Segundo Anne Applebaum, em entrevista concedida à BBC: “ruscismo é uma forma de colonialismo ou ‘hiperimperialismo’ da Rússia moderna. Este é um Estado que se percebe tão superior aos seus vizinhos, pelo menos se falamos da sua elite, que se julga no direito de os apagar da face da terra, do mapa-múndi, de destruí-los à vontade, para matar seus civis – e não apenas soldados.”

O historiador Timothy Snyder diz que “fascistas chamando outras pessoas de fascistas” é o fascismo levado ao seu extremo ilógico como um culto à irracionalidade. É um ponto final onde o discurso de ódio inverte a realidade e a propaganda é pura insistência. É o apogeu da vontade sobre o pensamento. Chamar os outros de fascistas, sendo fascista, é a prática essencial de Putin. Jason Stanley, um filósofo americano, chama isso de “minar a propaganda”. Chamei isso de “esquizofascismo”. Os ucranianos têm a formulação mais elegante: eles chamam isso de ruscismo (“rashism” em inglês).

O fascínio com as obras de Ivan Ilin revela a paixão pelo chauvinismo russo e a busca pelo retorno à “grandeza” do Império Russo, sepultado pela revolução de 1917. O esforço de Vladimir Putin para trazer à Rússia os restos mortais do ideólogo do Estado forte e defensor do nazismo e fascismo indica claramente a assunção da herança do nazifascismo de Hitler e Mussolini. O roubo dos restos mortais de Gregori Potiomkim, em Kherson, revela a assunção da herança imperialista e despótica da Rússia.

Esse acervo hereditário, misturado com revanchismo contra a história, onde a Rússia caiu por seus próprios pecados, edificou a nova ideologia e prática denominada de ruscismo. O ruscismo é nome do coquetel venenoso que embebedou a elite russa com a maldita herança da maldade humana.



segunda-feira, 24 de abril de 2023

A proposta de criação de grupo de países amigos da Paz


Link curto pra esta publicação: fishuk.cc/lula-ucrania2


O Brasil voltou à cena internacional, diz o atual Presidente Luís Inácio Lula da Silva. Na verdade, não saiu, estava ali como peso morto e omisso em questões vitais para a humanidade. A volta de uma presença mais ativa na cena internacional teve um primeiro round muito positivo com a assunção dos compromissos mundiais com a agenda ambiental e cresceu com a ação pronta e imediata no socorro aos índios ianomâmis e aos vitimados pelas enchentes em São Sebastião e outras localidades. E veio, em seguida, a abordagem da questão da paz, da guerra na Ucrânia que geraram expectativas positivas. Porém, as declarações quando da visita à China e na recepção ao Chanceler Sergei Lavrov da Rússia em Brasília levaram o Brasil, objetivamente, a favorecer o agressor russo Vladimir Putin. E o Presidente Luís Inacio Lula da Silva começou a cair no crédito internacional. Já a comunidade ucraniana brasileira ficou indignada, tanto a parte que votou contra ele como a parte da comunidade que votou nele.

Na visita de Sergei Lavrov, o Brasil somente fez uma declaração pedindo o cessar-fogo, como continuidade da responsabilização por igual na continuidade da guerra para a Rússia e Ucrânia e responsabilidade da continuidade da guerra aos Estados Unidos e Europa por fornecer armas para a Ucrânia. As críticas se fizeram sentir por todos os lados, e na recepção ao Presidente da Romênia, o Presidente foi obrigado a ler texto onde afirmava o reconhecimento da integridade territorial da Ucrânia e Celso Amorim sair em campo para explicar o inexplicável. Antes, enviou o Celso Amorim a Moscou, sem visitar Kyiv ao mesmo tempo, repetindo o que fez Bolsonaro. Enfim, o Brasil ainda não firmou uma posição que o coloque no campo da democracia mundial e possa de fato favorecer o caminho da paz e da justiça.

Há um desconhecimento da história da Ucrânia e da Rússia e uma grande intoxicação, não sanada, pelas concepções stalinistas e da atual propaganda do FSB (ex-KGB) sobre a expansão da OTAN, os Estados Unidos terceirizando a guerra contra a Rússia e outras. A responsabilidade pela expansão da OTAN é da própria Rússia. Basta ver as duas últimas adesões, Suécia em curso e Finlândia já efetivada. Elas se deram não por vontade dos membros da OTAN, mas por decisão dos povos desses dois países para terem segurança frente à ameaça que representa a vizinha Rússia. E assim foi com os países bálticos, a Polônia e era a vontade da Ucrânia. Ninguém buscou a OTAN para agredir a Rússia, mas para se proteger dela. O problema para a Rússia é a própria elite russa e seu projeto.

A agressão da Rússia à Ucrânia vem desde a independência em 1991, não começou em 24 de fevereiro de 2022 nem em 2014, mas antes, está fundada em um projeto desenvolvido no âmbito do governo russo após a dissolução da União Soviética. Não se pode também esquecer o passado imperial tsarista, a crítica dos revolucionários de 1917 à elite russa por sua concepção de superioridade racial, o Holodomor e o totalitarismo stalinista. Atualmente, verificando-se o círculo no entorno de Vladimir Putin encontramos os conservadores chauvinistas russos Vladimir Iakunin, o Padre Tikhon Shevkunov e Vladislav Surkov, defensor convicto da narrativa “não há Ucrânia”, que levou Putin a escrever um texto de 20 páginas afirmando que a Ucrânia é uma invenção de Lenin. A citação mais frequente nos discursos de Putin é a de Ivan Ilin (1883-1954). Ilin foi expulso da Rússia soviética em 1922. No exílio, em Berlim e depois na Suíça, conectou-se aos emigrados russos contrarrevolucionários e abraçou o pensamento fascista. Em 1950, escreveu um ensaio que viria a ser repetidamente citado por Putin. Outros citados são Nikolai Danilevski, que pregou o messianismo da cultura eslava, Lev Gumiliov, expoente do eurasianismo, ou Konstantin Leontiev, filósofo russo monarquista conservador que defendia uma união monárquica conservadora entre a Rússia e o Oriente contra o que ele acreditava serem as catastróficas influências igualitárias, utilitárias e revolucionárias do Ocidente. Analisando-se atentamente os discursos dos últimos 20 anos de Putin, constata-se um pensamento formado em um coquetel de superioridade étnica russa, conservadorismo e expansionismo. Daí por que a ocupação da Ucrânia é uma peça no projeto eurasiático com centro em Moscou por parte de Vladimir Putin. Aleksandr Dugin disse isso com todas as tintas: “a guerra à Ucrânia como uma pré-condição para o renascimento do Império Russo.”

Sobre o dever de oferecer armas à Ucrânia. Uma situação é o fornecimento de armas para um país que agride outro, e outra situação é o fornecimento de armas para a defesa de um país agredido. No caso, os Estados Unidos, a Inglaterra, a França, a China e a Irlanda do Norte têm obrigação de fornecer armas para a Ucrânia se defender. A razão está que a Ucrânia aparece no cenário internacional em 1991 como a terceira potência nuclear do planeta, pelo número de ogivas nucleares existentes em seu território. Em 5 de dezembro de 1994, com a adesão da Ucrânia ao tratado de não proliferação de armas atômicas, a Rússia reconheceu as fronteiras da Ucrânia, incluindo a Crimeia. Em 5 de dezembro de 1994 é assinado o Memorando de Budapeste: “1. A Federação Russa, o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e os Estados Unidos da América reafirmam seu compromisso com a Ucrânia, de acordo com os princípios da Ata Final da Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa, em respeitar a independência e soberania e as fronteiras existentes da Ucrânia [...]”. Depois aderem ao memorando a França e a China.

A Rússia não cumpre leis e tratados internacionais. Desde 1991 nenhuma das guerras da Rússia terminou em paz negociada estável. A Rússia tende a congelar conflitos, mantê-los como desestabilizadores enquanto chantageia o mundo. Foi assim com a Moldova em 1992, conflito congelado até hoje; a Chechênia, onde a Rússia forçou a aceitar a ocupação depois de vários anos; a Geórgia em 2008, mais de 20% do território da Geórgia permanece ocupado; a Rússia ocupou a Crimeia em 2014 e se infiltrou no leste, em Donetsk e Luhansk, e depois de manter a guerra semicongelada por 8 anos, invadiu a Ucrânia em 2022 tentando derrubar o governo e ocupar o país. Portanto, se a Ucrânia parar de resistir, só serve à tática e estratégia russa de manter conflitos para mais adiante avançar mais. Cessar fogo, com soldados russos em terras ucranianas, sem exigência de desocupação total do território ucraniano pelas forças armadas russas, é favorecer a estratégia russa.

Para a constituição e sucesso de um grupo de países amigos da Paz, há que se redefinir rumos, enviar Celso Amorim de imediato a Kyiv, o Presidente deve aceitar o convite e ir à Ucrânia. E o Brasil precisa estudar mais a história da Ucrânia e considerar o que significam o governo russo para a democracia e o desenvolvimento social e cultural da humanidade e a sua política imperial belicosa. A Ucrânia precisa de amigos da paz, e não de amigos da tática e estratégia russa. Os 10 pontos da fórmula da Paz proposta pelo Presidente Zelensky conduzem à paz, e a fórmula de congelamento do conflito faz perdurarem a instabilidade e a durabilidade da guerra de agressão.


VITÓRIO SOROTIUK / Curitiba, 21 de abril de 2023
Presidente da Representação
Central Ucraniano-Brasileira



terça-feira, 18 de abril de 2023

Lavrov não deveria estar no Brasil


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Resolvi republicar este artigo de opinião que saiu na Folha de S. Paulo de ontem, dia 17, e que meu amigo Cláudio, defensor dos ucranianos, me recomendou pelo WhatsApp. Seu título é “Chanceler russo não deveria ser recebido pelo Brasil” e foi escrito pela socióloga Svetlana Ruseishvili, que tem origens russas, ucranianas e georgianas, é professora de pós-graduação na UFSCar e com quem já mantive contato em redes socias. Ele resume exemplarmente minha própria visão sobre a guerra em curso e sobre as falas inconsequentes de Lula (embora eu prefira suas besteiras às crises diplomáticas que Bolsonaro causava...), e por isso também estou enriquecendo com outros vídeos que o Cláudio mandou depois. A caricatura abaixo é igualmente parte de uma das imagens que ele postou em seu story no aplicativo! Apenas retoquei as transliterações e parte da redação, mas não mexi no estilo.



Sergei Lavrov é o porta-voz da política externa russa desde 2004 e, assim como o presidente russo, Vladimir Putin, está sob sanções individuais por parte de União Europeia, Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e outros países. Lavrov é um dos ministros mais duradouros e importantes no governo Putin: comandava a pasta quando a Rússia anexou a Crimeia em 2014; quando bombardeou a população civil com as armas proibidas na Síria, em 2015; quando iniciou a guerra criminosa contra a Ucrânia, em 2022.

A sua visita ao Brasil é desnecessária e será taticamente usada pelo regime de Putin para fortalecer o seu argumento antiocidental, que tem se tornado uma armadilha ideológica para os países do “Sul Global”.

No dia 13 de abril, a Folha publicou uma carta de Lavrov (“Cooperação da Rússia com América Latina baseia-se em abordagem desideologizada e não ameaça ninguém”) endereçada aos latino-americanos às vésperas de sua visita à região. Além de mentiras costumeiras, o texto retoma o raciocínio adotado no discurso de Putin em 30 de setembro de 2022, quando o presidente russo lançou mão da retórica anticolonial para culpar o Ocidente de ter explorado, escravizado e expropriado povos não ocidentais.

Ele também usou os princípios do relativismo cultural para defender os “valores tradicionais” russos (fundamentalismo religioso, família heteronormativa, autoritarismo político) contra a “degradação moral” do Ocidente representada pelos direitos humanos, feminismo, movimento LGBTQIA+, liberdade de expressão e outros direitos sociais. Tudo aquilo para, enfim, legitimar o seu direito soberano de invadir, interferir e restringir os direitos da população nos países que se encontram em sua “zona de influência”. Putin nunca quis combater o imperialismo, mas sim ter direito de exercer o seu próprio imperialismo de forma legitimada pela “nova” ordem internacional.

Assim mesmo, lemos na carta de Lavrov que “hoje, a questão em jogo é o caráter da ordem mundial: seria ela justa, democrática e policêntrica de verdade, como exige a Carta da ONU, que consagra a igualdade soberana de todos os Estados?”. Pois bem, que “igualdade soberana de todos os Estados” tem em mente Lavrov quando ele se refere à Carta da ONU? Não é a Rússia que interfere desde 2014 na política interna de um país soberano vizinho até iniciar a invasão em larga escala? O que exatamente significa a ordem “democrática” para o chanceler de um país, que encarcera a oposição, estigmatiza os ativistas de movimentos sociais como “agentes estrangeiros”, censura a imprensa livre, descriminaliza a violência doméstica, persegue as minorias religiosas, étnicas e sexuais?

Perguntem para os ativistas tártaros da Crimeia, o povo muçulmano originário da península, o que de fato significa a ordem “democrática” para o Kremlin. Eles têm sistematicamente denunciado as perseguições, acusações de terrorismo, deslocamentos forçados de suas casas e suas aldeias e encarceramento em massa de ativistas perpetrados pelo regime russo após a ocupação da península.

Quanto à ordem “policêntrica” de verdade, à qual se refere Lavrov, está claro que ela diz respeito não à ordem sem imperialismos, mas sim a uma divisão do mundo interimperialista na qual a Rússia possa reinar em sua área de controle de forma ilimitada. Quando Lavrov pergunta se “seria permitido que EUA e a coligação por eles liderada prossigam sua agenda em detrimento de outros, drenando recursos alheios a seu favor?”, ele só esquece de complementar: “sem que a mesma conduta seja permitida também para outros países?”. Que a sociedade democrática brasileira não se engane, pois essa é a verdadeira reivindicação de Putin!

Assim, a abertura que o governo Lula dá ao Kremlin deveria preocupar os movimentos sociais e a parcela da população para qual a democracia representa mais que mera representatividade eleitoral. Não é por coincidência que Lavrov irá visitar na mesma viagem, além da Cuba, parceira histórica da Rússia, a Venezuela de Maduro que tem gerado a crise migratória sem precedentes no continente, com mais de 5 milhões de deslocados no mundo; e a Nicarágua, onde o regime de Daniel Ortega tem perseguido e assassinado ativistas dos movimentos sociais e da oposição.

Os malabarismos retóricos usados pelo Kremlin para disfarçar suas atitudes autoritárias e agressivas não deveriam enganar a sociedade brasileira que preza pela democracia. Assim como a extrema-direita mundial instrumentalizou o discurso feminista para legitimar as políticas anti-imigratórias e islamofóbicas na Europa, o putinismo se vale da retórica e dos sentimentos antiestadunidenses na América Latina para legitimar a expansão territorial de seu regime conservador e autoritário.

Ávido por retomar o seu papel reconciliador na arena internacional, o Brasil deveria primeiramente condenar qualquer pretensão imperialista e defender a segurança e o direito das nações pequenas à autodeterminação, em vez de apertar a mão ensanguentada do representante de um país agressor neoimperialista criticado pela comunidade internacional pelos crimes de guerra.




Também ontem, Vitório Sorotiuk, presidente da Representação Central Ucraniano-Brasileira e de quem eu já publiquei alguns textos aqui, fez um tour de mídias pra explicar ao máximo possível de pessoas sua visão sobre o assunto, a mesma de Ruseishvili, e denunciar o supremacismo de Putin. O primeiro vídeo, de mais de 15 minutos, foi gravado na Band News, que eu acho que faz o melhor jornalismo do Brasil (mil vezes melhor que o Grupo Globo!), e o segundo, de apenas pouco mais de 5 minutos, na Jovem Pan, cuja triste fama nem preciso apresentar...


Esta foto também está dando muito o que falar. O mesmo Sorotiuk escreveu o seguinte nas mídias sociais:

“Um chanceler de um país que vem em visita oficial a outro país e desce do avião, em recepção oficial, vestido como quem vai ao boteco, não respeita o anfitrião. Como já afirmei, a visita mais parece uma ida à Penitenciária de Brasília, visitar o seu xará Sergei Cherkasov – espião russo, preso por infiltração no Tribunal Penal Internacional por falsificação de documentos brasileiros, com os quais se passava por Viktor Müller Ferreira –, do que visita respeitosa a outro país.”

A revista Crusoé, por meio da página O Antagonista, também comentou:

“A vestimenta casual não pode ser encarada como algo corriqueiro. Se turistas têm todo o direito de usar roupas mais à vontade em voos longos, o ministro de Relações Exteriores de um país é o representante de um Estado e deve se comportar como tal. Na diplomacia, afinal, gestos, roupas e frases são de extrema importância, porque carregam mensagens poderosas. Sendo assim, a imagem de Lavrov descendo do avião como se estivesse em um shopping center já está sendo vista como sinal do desprestígio da diplomacia petista.”


E pra encerrar, este vídeo mandado pelo amigo Raphael, do Rio de Janeiro, que infelizmente não tem fontes nem créditos pela produção. Ele mostra como alguns russos comuns regaem espontaneamente contra a afirmação do Kremlin de que a Ucrânia está “cheia de nazistas” e como não acreditam nas propagandas do próprio governo, mas também são críticos quanto à do Ocidente. Como também disse o Cláudio, essa pode não ser uma amostra representativa dos russos, mas a meu ver, tirando os que realmente são racistas ou se deixam enganar por Putin, a maioria que não concorda simplesmente se aprisiona no silêncio, e também a Rússia como federação é muito mais diversa, com dezenas de outros povos além dos russos propriamente étnicos.


quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Ucranianos pedem apoio de Lula


Link curto pra esta postagem: fishuk.cc/lula-ucrania

Estou fazendo esta publicação extra pra divulgar uma carta que meu amigo Claudio, do Paraná, me passou pelo WhatsApp. É um pedido assinado em 20 de janeiro de 2023 por Vitório Sorotiuk, presidente da Representação Central Ucraniano-Brasileira, e por Paul Grod, presidente do Congresso Mundial dos Ucranianos, pra que o presidente Lula apoie mais explicitamente os esforços de paz do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e as tentativas internacionais de condenação e punição da invasão de Vladimir Putin à Ucrânia e sua decorrente carnificina.

Infelizmente, não tenho grandes esperanças de progresso, dado que a atual elite diplomática, de matiz notadamente esquerdista, é muito ignorante quanto a assuntos de países eslavos, e que o agronegócio (que alimenta mais a China e a Europa do que o Brasil, convenhamos) vai chiar ante a possível restrição de produtos químicos se Moscou e Minsk se sentirem muito contrariadas. Em todo caso, recomendo que passe esta publicação pro máximo possível de contatos, ou pelo menos as imagens abaixo que aqui estão contidas:





segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Sangue ucraniano suja nosso diesel


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Vitório Sorotiuk, presidente da Representação Central Ucraniano-Brasileira (RCUB), solicitou a divulgação desta breve reflexão sobre a postagem presidencial acima (embora eu duvide que Lula, um dos arquitetos dos BRICS, fizesse e falasse diferente). Eu divulguei aqui, e espero que você faça o mesmo:

Não adianta hastear a bandeira da Ucrânia e dizer que apoia a Ucrânia se seus atos são de apoiar a quem ajuda a Rússia na guerra contra a Ucrânia. O financiamento da Rússia para manter a guerra se dá pela venda do gás e do petróleo. Por isso o pedido do Presidente da Ucrânia para boicotar a compra desses dois produtos.

O que faz Bolsonaro? Vem comprando diesel da Rússia. Bolsonaro vem financiando a guerra da Rússia contra a Ucrânia. Quando no início do ano ia visitar Putin, a RCUB protocolou requerimento para que, já que estava na Europa, que visitasse Zelensky também. Visitou a Rússia e disse que era solidário com a Rússia. Não visitou a Ucrânia também, como fizeram outros líderes europeus. Visitou outro país europeu sim. A Hungria, também de extrema-direita, que é o único país europeu que não apoia a Ucrânia.

Depois debochou do povo ucraniano dizendo que tinham eleito um ator. Esse ator debochado virou um herói e gigante. Agora na ONU, quando Zelensky pediu para falar virtualmente, não apoiou a Ucrânia, se absteve; a Rússia anexou ilegalmente quatro províncias ucranianas e fez o Brasil se abster no Conselho de Segurança da ONU, não condenou a Rússia; na OEA, semana passada, se absteve de assinar declaração condenando a agressão russa e de solidariedade com a Ucrânia.

Ucraniano que apoia Bolsonaro está traindo nosso povo, pois Bolsonaro apoia a Rússia e ajuda-a a financiar a guerra contra a Ucrânia. Se não votar no Lula tem que votar nulo. Pois votar e fazer campanha para Bolsonaro é trair de fato a Ucrânia.



segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Reforçar a solidariedade à Ucrânia


Link curto pra esta postagem: fishuk.cc/apoio-ucrania

Tomei a liberdade de publicar, após autorização prévia do autor, o artigo “Reforçar a solidariedade à Ucrânia”, escrito pelo ucraino-descendente Vitório Sorotiuk, presidente da Representação Central Ucraniano-Brasileira, e destinado inicialmente à publicação no jornal Prácia (em ucraniano, “trabalho”), quase todo escrito nessa língua eslava e em cujo site podem ser lidas edições recentes anteriores. O sr. Sorotiuk é politicamente ativo no campo democrático e progressista, foi vítima da criminosa ditadura civil-militar instalada no Brasil em 1964 e defende os interesses dos ucranianos e dos descendentes de ucranianos no Brasil. Tomei igualmente a liberdade de fazer algumas correções e modificações na redação (ortografia, sobretudo), e não no conteúdo, pra corresponder à linha editorial desta humilde página. Agradeço novamente ao amigo Cláudio pelo contato com o importante ativista social, e reitero que me alinho completamente às posições expostas neste artigo!



O mês de setembro foi altamente significativo para a Ucrânia demonstrar ao mundo a sua capacidade de resistência e determinação pela preservação da sua soberania. Mas foi também um mês de altas revelações. Revelou-se que a Rússia é um gigante de pés de barro e sua vocação imperialista pode ser vencida. A contraofensiva no oeste e no sul da Ucrânia demonstra que corpo e alma não são só palavras do refrão do hino nacional da Ucrânia, mas espírito vivo de uma nação que se levanta contra o inimigo. Revelou-se mais uma vez o caráter terrorista e genocida da agressão russa à Ucrânia com as descobertas de valas comuns na região de Kharkiv liberada.

Revela-se também quão perniciosa e nociva é a política de neutralidade frente à agressão russa para a paz mundial. O Presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky, em seu discurso perante a 77.ª Sessão Plenária das Nações Unidas, foi primoroso ao dizer: “Aqueles que falam de neutralidade quando os valores humanos e a paz estão sob ataque significam algo completamente diferente. Eles falam sobre indiferença. Cada um por si. Aqui está o que eles dizem. Eles não estão condicionalmente interessados nos problemas uns dos outros. Eles cuidam um do outro formalmente. Protocolo simpatizar. E é por isso que eles fingem proteger alguém, mas na verdade apenas seus próprios interesses mesquinhos. É isso que cria as condições para a guerra. É isso que precisa ser corrigido para criar condições para a paz.”

Como revela-se, a manifestação do Presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky na 77ª Sessão Plenária das Nações Unidas é um apelo a você, leitor, para que se levante do sofá e passe a agir com mais empenho para reforçar a solidariedade à Ucrânia. Pois não se trata tão só do destino dos ucranianos que estão lá no território da Ucrânia, mas do destino da humanidade. Como escreveu o jornalista Thomas L. Friedman e foi publicado no dia 21 de setembro no jornal O Estado de S. Paulo: “Você pode não se interessar pela guerra na Ucrânia, mas a guerra na Ucrânia se interessará por você, na energia que você consome, nos preços dos alimentos que você come e, mais importante, na humanidade a que você pertence ‒ conforme descobriram até mesmo as ‘neutras’ China e Índia.”

O Brasil inscreveu nas páginas de sua história como momento de glória a participação de seus pracinhas, entre os quais duas centenas de descendentes de ucranianos, na luta nos campos da Itália pela democracia e contra o nazifascismo. Dos escombros do terror do 3.º Reich nasceu a Organização das Nações Unidas para preservar os valores humanos e a paz. Nesse processo, o Brasil teve papel de destaque e ganhou o direito desde então de ser o primeiro a discursar nas sessões plenárias das Nações Unidas. Ninguém imaginaria que o Chefe da Nação do país fosse falar de guerra na Ucrânia, e não de guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, que fosse falar de guerra na Ucrânia, e não dos crimes cometidos pelo agressor contra o povo ucraniano. Ninguém imaginaria que na última sessão do Conselho de Segurança no dia 22 de setembro, o Embaixador do Brasil Carlos França continuasse ambíguo ao não condenar a agressão russa e os crimes de torturas, sequestros, violações às mulheres e morte de crianças e velhos, enfim, da destruição da infraestrutura civil e da cultura do país com ataques a universidades, museus e igrejas.

Frente a tragédias humanas de tal dimensão, a voz do brasileiro Castro Alves assim se levantou quando escreveu o poema Navio Negreiro:


Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus...


O Brasil não pode continuar sequestrado pela política do balcão de negócios de vender soja e carne e comprar ureia e potássio, de aproveitar a ocasião para comprar diesel mais barato quando as violações do direito de soberania de uma nação são reveladas, quando os valores humanos são pisoteados. O Brasil é bem maior que um balcão de negócios. Quem quer que seja o ocupante do Planalto, seja de direita, centro ou esquerda, não tem o direito de cuspir e pisotear no artigo 4.º da Constituição Federal da República, como está sendo feito. Estão inscritos em nossa Carta Magna os princípios da prevalência dos direitos humanos, autodeterminação dos povos, não intervenção, igualdade entre os Estados, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos e repúdio ao terrorismo e ao racismo.

Quem defende a política de neutralidade e seus executores exerce a traição aos princípios constitucionais e aos valores universais da democracia e dos direitos humanos. É uma negação bem maior que dar as costas aos princípios da Constituição de nosso país e dar as costas à luta do povo ucraniano pela sua soberania e cultura; é negar a civilização humana. Como afirmou o Presidente da Ucrânia na 77.ª Sessão Plenária da ONU, é colocar o mesquinho à frente da grandeza humana.

Esse é o nosso desafio para os meses a seguir: reforçar a solidariedade ao povo ucraniano. Essa tarefa deve ser feita com a luta pela mudança da política nacional para que venha o país a condenar claramente a agressão russa e apoiar a política de punição por agressão; proteção da vida; restauração da segurança e integridade territorial da Ucrânia; garantias de segurança à Ucrânia, ou seja, com a determinação de reforçar o apoio e a solidariedade ao povo ucraniano que demonstra todo dia sua bravura e destemor para manter a soberania do seu país e defender seu povo e sua cultura.

A Rússia está determinada a continuar com a agressão, ameaça o planeta com armas nucleares, está convocando 300 mil reservistas de imediato para manter a ocupação de 20% do território da Ucrânia. A nossa determinação em reforçar o apoio e solidariedade ao povo ucraniano deve estar à altura da resistência heroica que o povo ucraniano vem demonstrando no campo de batalha diariamente. Vamos combater a mesquinhez e elevar o sentimento da grandeza humana.

Слава Україні! Героям Слава!
[Glória à Ucrânia! Glória aos heróis!]


Vitorio Sorotiuk
Presidente da Representação
Central Ucraniano-Brasileira

rcubras(a)gmail.com