segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Reforçar a solidariedade à Ucrânia


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Tomei a liberdade de publicar, após autorização prévia do autor, o artigo “Reforçar a solidariedade à Ucrânia”, escrito pelo ucraino-descendente Vitorio Sorotiuk, presidente da Representação Central Ucraniano-Brasileira, e destinado inicialmente à publicação no jornal Prácia (em ucraniano, “trabalho”), quase todo escrito nessa língua eslava e em cujo site podem ser lidas edições recentes anteriores. O sr. Sorotiuk é politicamente ativo no campo democrático e progressista, foi vítima da criminosa ditadura civil-militar instalada no Brasil em 1964 e defende os interesses dos ucranianos e dos descendentes de ucranianos no Brasil. Tomei igualmente a liberdade de fazer algumas correções e modificações na redação (ortografia, sobretudo), e não no conteúdo, pra corresponder à linha editorial desta humilde página. Agradeço novamente ao amigo Cláudio pelo contato com o importante ativista social, e reitero que me alinho completamente às posições expostas neste artigo!



O mês de setembro foi altamente significativo para a Ucrânia demonstrar ao mundo a sua capacidade de resistência e determinação pela preservação da sua soberania. Mas foi também um mês de altas revelações. Revelou-se que a Rússia é um gigante de pés de barro e sua vocação imperialista pode ser vencida. A contraofensiva no oeste e no sul da Ucrânia demonstra que corpo e alma não são só palavras do refrão do hino nacional da Ucrânia, mas espírito vivo de uma nação que se levanta contra o inimigo. Revelou-se mais uma vez o caráter terrorista e genocida da agressão russa à Ucrânia com as descobertas de valas comuns na região de Kharkiv liberada.

Revela-se também quão perniciosa e nociva é a política de neutralidade frente à agressão russa para a paz mundial. O Presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky, em seu discurso perante a 77.ª Sessão Plenária das Nações Unidas, foi primoroso ao dizer: “Aqueles que falam de neutralidade quando os valores humanos e a paz estão sob ataque significam algo completamente diferente. Eles falam sobre indiferença. Cada um por si. Aqui está o que eles dizem. Eles não estão condicionalmente interessados nos problemas uns dos outros. Eles cuidam um do outro formalmente. Protocolo simpatizar. E é por isso que eles fingem proteger alguém, mas na verdade apenas seus próprios interesses mesquinhos. É isso que cria as condições para a guerra. É isso que precisa ser corrigido para criar condições para a paz.”

Como revela-se, a manifestação do Presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky na 77ª Sessão Plenária das Nações Unidas é um apelo a você, leitor, para que se levante do sofá e passe a agir com mais empenho para reforçar a solidariedade à Ucrânia. Pois não se trata tão só do destino dos ucranianos que estão lá no território da Ucrânia, mas do destino da humanidade. Como escreveu o jornalista Thomas L. Friedman e foi publicado no dia 21 de setembro no jornal O Estado de S. Paulo: “Você pode não se interessar pela guerra na Ucrânia, mas a guerra na Ucrânia se interessará por você, na energia que você consome, nos preços dos alimentos que você come e, mais importante, na humanidade a que você pertence ‒ conforme descobriram até mesmo as ‘neutras’ China e Índia.”

O Brasil inscreveu nas páginas de sua história como momento de glória a participação de seus pracinhas, entre os quais duas centenas de descendentes de ucranianos, na luta nos campos da Itália pela democracia e contra o nazifascismo. Dos escombros do terror do 3.º Reich nasceu a Organização das Nações Unidas para preservar os valores humanos e a paz. Nesse processo, o Brasil teve papel de destaque e ganhou o direito desde então de ser o primeiro a discursar nas sessões plenárias das Nações Unidas. Ninguém imaginaria que o Chefe da Nação do país fosse falar de guerra na Ucrânia, e não de guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, que fosse falar de guerra na Ucrânia, e não dos crimes cometidos pelo agressor contra o povo ucraniano. Ninguém imaginaria que na última sessão do Conselho de Segurança no dia 22 de setembro, o Embaixador do Brasil Carlos França continuasse ambíguo ao não condenar a agressão russa e os crimes de torturas, sequestros, violações às mulheres e morte de crianças e velhos, enfim, da destruição da infraestrutura civil e da cultura do país com ataques a universidades, museus e igrejas.

Frente a tragédias humanas de tal dimensão, a voz do brasileiro Castro Alves assim se levantou quando escreveu o poema Navio Negreiro:


Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus...


O Brasil não pode continuar sequestrado pela política do balcão de negócios de vender soja e carne e comprar ureia e potássio, de aproveitar a ocasião para comprar diesel mais barato quando as violações do direito de soberania de uma nação são reveladas, quando os valores humanos são pisoteados. O Brasil é bem maior que um balcão de negócios. Quem quer que seja o ocupante do Planalto, seja de direita, centro ou esquerda, não tem o direito de cuspir e pisotear no artigo 4.º da Constituição Federal da República, como está sendo feito. Estão inscritos em nossa Carta Magna os princípios da prevalência dos direitos humanos, autodeterminação dos povos, não intervenção, igualdade entre os Estados, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos e repúdio ao terrorismo e ao racismo.

Quem defende a política de neutralidade e seus executores exerce a traição aos princípios constitucionais e aos valores universais da democracia e dos direitos humanos. É uma negação bem maior que dar as costas aos princípios da Constituição de nosso país e dar as costas à luta do povo ucraniano pela sua soberania e cultura; é negar a civilização humana. Como afirmou o Presidente da Ucrânia na 77.ª Sessão Plenária da ONU, é colocar o mesquinho à frente da grandeza humana.

Esse é o nosso desafio para os meses a seguir: reforçar a solidariedade ao povo ucraniano. Essa tarefa deve ser feita com a luta pela mudança da política nacional para que venha o país a condenar claramente a agressão russa e apoiar a política de punição por agressão; proteção da vida; restauração da segurança e integridade territorial da Ucrânia; garantias de segurança à Ucrânia, ou seja, com a determinação de reforçar o apoio e a solidariedade ao povo ucraniano que demonstra todo dia sua bravura e destemor para manter a soberania do seu país e defender seu povo e sua cultura.

A Rússia está determinada a continuar com a agressão, ameaça o planeta com armas nucleares, está convocando 300 mil reservistas de imediato para manter a ocupação de 20% do território da Ucrânia. A nossa determinação em reforçar o apoio e solidariedade ao povo ucraniano deve estar à altura da resistência heroica que o povo ucraniano vem demonstrando no campo de batalha diariamente. Vamos combater a mesquinhez e elevar o sentimento da grandeza humana.

Слава Україні! Героям Слава!
[Glória à Ucrânia! Glória aos heróis!]


Vitorio Sorotiuk
Presidente da Representação
Central Ucraniano-Brasileira

rcubras(a)gmail.com