Foi publicado ontem um artigo no site da Rádio França Internacional (RFI), que é a transcrição de parte de um podcast sobre tecnologia e informática. A autoria é de Sarah Cozzolino, correspondente do veículo na cidade do Rio de Janeiro, e se chama « Jogo do bicho » : un jeu de hasard illégal en plein essor au Brésil (“Jogo do bicho”: um jogo de azar ilegal em plena ascensão no Brasil); ela se esqueceu de dizer que, exceto as loterias, todos os jogos de azar são ilegais no país... Como se trata da Banânia, resolvi traduzir e republicar aqui, fazendo algumas adaptações e, quando necessário, notas explicativas ou opinativas entre colchetes. Espero que aproveite o texto!
![https://s.rfi.fr/media/display/605a7b38-8481-11ee-b0df-005056a90284/w:980/p:16x9/Un%20ticket%20du%20jeu%20Jogo%20do%20bicho.webp](https://s.rfi.fr/media/display/605a7b38-8481-11ee-b0df-005056a90284/w:980/p:16x9/Un%20ticket%20du%20jeu%20Jogo%20do%20bicho.webp)
O jogo do bicho (“jogo do animal”, pela tradução literal francesa) é um jogo de azar ilegal que está avançando pelas redes sociais no Brasil. As apostas são feitas pelo Instagram, pelo Facebook e pelo YouTube. Do que se trata e como tudo isso funciona? A correspondente no Rio de Janeiro explica.
Verdadeira instituição brasileira, uma espécie de patrimônio imaterial ilegal existente há mais de 125 anos no país, o jogo que se assemelha à tômbola consiste em apostar em animais associados a números. No jogo do bicho, cada um dos 25 animais corresponde a quatro números: do avestruz (1 a 4) à vaca (97 a 100), pode-se apostar qualquer quantia, o que torna esse jogo muito acessível. E ao contrário de um bingo, os sorteios ocorrem todos os dias, ou mesmo várias vezes por dia.
Segundo um estudo de 2014, esse tipo de loteria clandestina permitiu a arrecadação de até 3 bilhões de reais, ou seja, 568 milhões de euros.
Quais são as ligações que esse jogo de azar entretém com o crime organizado? – O jogo do bicho, se não é autorizado, é ao menos “tolerado”... Oficialmente, as penas vão de quatro meses a um ano de prisão simples, mas raramente elas são aplicadas.
Os “bicheiros”, que gerem as “bancas” do jogo, encabeçam uma verdadeira máfia, um comércio ilegal ligado a certas personalidades políticas, à polícia e também às milícias, especialmente no Rio de Janeiro.
Corrupção, lavagem de dinheiro... Os bicheiros geralmente são intocáveis graças a suas ligações estreitas com certos políticos municipais. Desde a década de 1930, o jogo do bicho é inclusive uma das fontes de financiamento das escolas de samba, que precisam levantar quantias enormes de dinheiro pra organizar seus desfiles, e entretêm fortes conexões com a máfia dos jogos ilegais.
Ao se desenvolver nas redes sociais, o jogo se torna incontrolável? – Tradicionalmente, os bicheiros são bastante identificáveis: sentados numa cadeira, numa esquina de rua movimentada, com uma calculadora na mão e uma maquininha de cartão na outra. Quando a polícia passa, a cadeira continua na rua vazia, mas quando o jogo atinge o pico, multidões se aglomeram.
Hoje, encontram-se anúncios pagos pro jogo do bicho no Facebook e no Instagram, prometendo ganhar facilmente quantias que batem os mil euros [o euro fechou a R$ 5,28 em 16/11]. Uma simples pesquisa no Google permite o acesso a sorteios de resultados ao vivo pelo YouTube, perfis ou grupos comerciais no WhatsApp... As apostas podem ser feitas com muita rapidez, via transferências bancárias gratuitas [acho que ela se refere ao pix]. Mas os golpes também são frequentes.
A empresa Meta, dona do WhatsApp e do Instagram, não quis se pronunciar sobre o assunto [por que $$$erá, né???], mas os promotores do jogo parecem se aproveitar de um vácuo jurídico. É que as plataformas de anúncios são registradas onde os jogos de azar são legais, sobretudo em Curaçao.
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Com esse patrimônio da humanidade, eu queria encerrar a parte propriamente da tradução, rs. Se você ainda duvida de que a simples pesquisa no Google vai revelar a proliferação descarada do Bicho 2.0, veja estes resultados que obtive, simplesmente ao tentar confirmar a tradução de uma palavra:
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