Link curto para esta postagem: fishuk.cc/tema-pesquisa
Com longa carreira acadêmica, educacional e autoral, Cintra foi professora da ECA/USP e na época do artigo era pesquisadora do IBICT. De 2012 a 2016 foi reitora da PUC-SP, tendo sido escolhida por dom Odilo Scherer mesmo ficando em terceiro lugar na lista tríplice. A greve de professores e estudantes contra sua nomeação, que foi bastante turbulenta, tomou repercussão midiática nacional, mas acabou derrotada na Justiça.
Resumo: A escolha de um tema de pesquisa depende dos valores do pesquisador, de sua relação com o universo. Em qualquer nível, a pesquisa exige independência, criatividade e a integração do tema no dia a dia do pesquisador. Os guias para pesquisas auxiliam na parte formal. Entretanto não existe e é pouco provável que venha a existir um método que permita a reconstrução lógica de novas idéias.
Descritores [palavras-chave]: Pesquisa cientifica; Determinação do tema de pesquisa.
Abstract: The choice of a research topic depends on the researcher’s own values, it depends on the relationship he keeps with his environment. At any level, a research project requires independence, creativity, and integration of the research topic with the researcher’s day-to-day life. Research guides can help only with the development of the formal part of a research project. But one does not find, and probably never will find, a method that leads to the logical rebuilding of new ideas.
“Eu sustento que a única
finalidade da ciência está em aliviar
a miséria da existência humana”. (Brecht)
Decidir sobre um tema de pesquisa é tarefa relativamente fácil para quem está envolvido numa determinada área. Entretanto, aquele que se inicia na vida científica tem de suportar o conflito entre a aquisição de novos conhecimentos e os prazos acadêmicos. Em muitos casos falta tempo e experiência para uma boa opção.
Na tentativa de encontrar coordenadas que nos deem a dimensão do problema, faremos algumas reflexões sobre ciência e pesquisa científica.
O procedimento científico, segundo Nagel, (1) orienta-se simultaneamente por três princípios: o controle prático da Natureza, o conhecimento sistemático e seguro dos fatos e um método próprio.
Sem muito esforço, podemos imaginar que o controle prático da Natureza leva ao avanço tecnológico e a uma melhoria das condições de vida, embora com o risco de ser o cientista tomado como uma espécie de feiticeiro.
Em virtude da complexidade do Universo, cabe ao cientista encontrar formas para organizar o conhecimento, para descobrir os fenômenos. E isto é feito através de raciocínio sistemático.
Os fenômenos a serem estudados para controle devem ser submetidos a uma metodologia bem definida, que corresponde a um caminho delineado para a execução de uma pesquisa.
Paradoxalmente, a ciência que persegue objetivamente um conhecimento sistemático e seguro dos fatos está continuamente por se fazer, e só a existência de um método garante o controle ordenado do Universo, uma vez que os fenômenos são tratados por raciocínios que seguem, aproximadamente, os mesmos princípios de objetividade e testabilidade. É, no entanto, a própria objetividade que impõe o estado sempre provisório de todo o conhecimento.
Mesmo com os riscos de feitiçaria, por razões éticas, não podemos aceitar a ciência pela ciência, (2) pois se o homem busca através do raciocínio organizar de alguma forma os fenômenos do Universo, há de ser para dominá-los, para conhecer-lhes as regras e assim orientar sua relação com e no Universo.
Identificar algo como objetivo de pesquisa não é das coisas mais difíceis. A dificuldade maior reside em manter coerentemente um tratamento metodológico rigoroso. Daí que frequentemente o comportamento científico acaba sendo confundido com o rigor metodológico, em detrimento da importância do objeto, do tema e do próprio conhecimento produzido a partir da pesquisa. (3)
Longe de nós tentar colocar em dúvida a importância do método. O que julgamos indispensável, no entanto, é aliar o rigor metodológico a uma avaliação da relevância da pesquisa, pois questões de total irrelevância, como conhecer a cor da camisa dos universitários brasileiros em dia de prova, pode receber tratamento rigoroso.
“[...] o ponto inicial de uma pesquisa não pode e não deve ser a metodologia, mas antes a relevância do problema”. (4)
Assim, antes de qualquer coisa, torna-se necessário decidir sobre os problemas que devem ser pesquisados e é preciso observar que essa capacidade de discriminar entre o relevante e o irrelevante não nos vem da ciência. Esta “só nos pode oferecer métodos para explorar, organizar, explicar e testar problemas previamente escolhidos”. (5)
A escolha prévia do problema depende do pesquisador. É em função de seus valores, de sua relação com o universo que nascem seus temas de pesquisa. Isso é que faz do ato de pesquisa um ato político.
E no caso específico da pesquisa acadêmica, como se passam as coisas?
Uma tese de doutorado assim se define por ser volumosa, ou por ter algumas qualidades inerentes à pesquisa científica?
Temos visto com frequência que um mesmo tipo de pesquisa serve a mestrado ou doutorado. E a diferença está, muitas vezes, no volume de dados analisados.
Não podemos concordar com critérios apenas de volume. Na prática, o que ocorre é que há dissertações de mestrado com traços nítidos de uma tese e vice-versa, acorrentadas apenas por razões meramente formais da vida acadêmica.
Na verdade a tese de doutorado deve marcar o grande salto do principiante para a vida de pesquisador independente e, desta maneira o mestrado tem de ser tomado como um exercício que abarca desde a opção temática e o rigor metodológico, até o envolvimento pessoal com relação ao tema.
Trata-se, pois, de uma fase de iniciação à pesquisa, portanto à vida científica. E partindo da definição mesma de mestrado, observamos, em linhas gerais, que os orientadores assumem posições diversas.
Para alguns, a dissertação de mestrado deve versar sobre assunto de interesse do orientador. Normalmente ele responde por uma ou mais pesquisas, sendo possível escolher um aspecto sobre o qual se dedicará o mestrando.
Para outros, o mestrado, como fase de aprendizado, deve demonstrar segurança metodológica, sendo secundário o próprio tema. Desta forma, o aspecto básico a ser considerado é o cumprimento de determinadas etapas, supostamente indispensáveis ao trabalho científico.
Outros ainda, entendem que a dissertação já deve conter em germe a disposição do novo pesquisador para associar firmeza metodológica a uma ação criativa.
Evidentemente, é em decorrência da concepção do orientador que acontecem os temas e mesmo a forma do trabalho acadêmico, que vai desde os formatos calcados em modelos prévios, em que tudo é pré-determinado, até a uma liberdade total, marcada pela inserção dos componentes tidos como básicos – objetivos, metodologia, hipóteses – em situações fora dos modelos.
Vale lembrar que para decisões relativas à parte formal, o principiante dispõe de vários guias, de sorte a poder escolher aquela forma mais adequada a seu trabalho e a seu gosto pessoal. (6)
Mas para decidir sobre o tema de pesquisa, a menos que o orientador forneça um assunto, o principiante não encontra nenhuma orientação específica.
Mas seria possível elaborar com certa precisão um roteiro que levasse à descoberta do tema?
Embora haja bons exemplos de trabalhos oriundos do desenvolvimento de parte de pesquisas do orientador, julgamos que a dissertação de mestrado deve propiciar algumas condições que posteriormente serão exigidas do pesquisador independente. Por isso vemos como salutar ao desenvolvimento da vida científica, que o mestrado sirva de exercício, de sorte a permitir experiência tanto no nível metodológico quanto no nível de definição do tema, ou mesmo de validade de pesquisa.
Nossa concepção tem um pressuposto básico: qualquer pesquisa, em qualquer nível, exige do pesquisador um envolvimento tal, que seu objeto de investigação passa a fazer parte de sua vida. Ou o pesquisador assume o problema que se dispõe a aclarar como seu, integrando seu dia a dia, ou apenas cumprirá preceitos acadêmicos.
Mas aqui entram dois novos conceitos de difícil exploração: independência e criatividade.
Acreditamos que só é possível independência de pesquisa na medida em que o pesquisador assume com liberdade seu objeto de análise e submete-o, por ensaio e erro, a uma verificação.
A criatividade, por seu turno, manifesta-se na escolha do tema (originalidade) ou na tradução do resultado da análise em linguagem verbal.
Mas tudo isso pouco nos ajuda a perceber como se chega ao tema de pesquisa.
Concordamos com Popper quando diz que “o conhecimento só começa a partir da tensão entre conhecimento e ignorância”. (7) De fato, só este tipo de tensão permite a percepção de algo obscuro e justifica nossa iniciativa em tentar clarear.
Evidentemente aquilo que já se sabe, que já se conhece, não precisa ser pesquisado. Em contrapartida, nem tudo o que não se sabe deve ser pesquisado.
Em A Prática da Pesquisa, (8) C. de Moura Castro indica três fatores que devem se associar para que aconteça um trabalho de pesquisa: originalidade, importância (a que chamamos relevância) e viabilidade do tema.
Na verdade os três fatores estão de tal forma associados, que o prejuízo de um [deles] põe em risco a própria pesquisa.
Originalidade não se confunde com novidade, não decorre do fato acidental de ser nova ou inédita a pesquisa. Original é o que vai às origens, à essência das coisas. (9)
Importância liga-se à necessidade da pesquisa dar ou encaminhar uma resposta para determinada questão prática ou teórica do homem, da sociedade, da natureza. A importância como fator associado à pesquisa científica, ressalta claramente o caráter político da ciência. Não parece justo o pesquisador dedicar-se a um mero exercício inconsequente.
Viabilidade refere-se ao tempo, aos custos, ao preparo específico do pesquisador, à obtenção de dados e bibliografia. A pesquisa inviável corresponde a enorme perda de tempo, tanto para o pesquisador quanto para a sociedade.
Mas ainda estamos contornando o problema sem chegar à questão básica: como nasce o tema de pesquisa?
Quando dissemos que tomávamos como pressuposto o envolvimento pessoal do pesquisador com sua pesquisa, tínhamos claro que acima de tudo é preciso gostar do que pesquisamos, já que durante longo tempo será nosso ser inteiro que irá se voltar para aquele objeto.
“É melhor começar, creio, lembrando aos principiantes que os pensadores mais admiráveis dentro da comunidade intelectual que escolheram não separam seu trabalho de suas vidas. Encaram a ambos demasiado a sério para permitir tal dissociação e desejam usar cada uma dessas coisas para o enriquecimento da outra [...] A erudição é uma escolha de como viver e ao mesmo tempo uma escolha de carreira; quer o saiba ou não, o trabalhador intelectual forma seu próprio eu à medida que se aproxima da perfeição de seu ofício”. (10)
Com certeza poderíamos prosseguir com novas reflexões. No entanto, a questão básica está em que não haverá receitas ou modelos para a criação humana, sob pena de ser decretada a sua morte.
Não existe ainda, e é pouco provável que venha a existir, um método que permita a reconstrução lógica do nascimento de novas ideias. Desta forma, o nascimento do tema de pesquisa é um trabalho artesanal de criação que exige do pesquisador a descoberta de seus valores pessoais, um posicionamento crítico e inquieto diante do Universo e uma disciplina de trabalho que permita equacionar valores pessoais com o objeto e o ato da pesquisa.
Notas (clique no número pra voltar ao texto)
(1) NAGEL, E. Ciência: natureza e objetivo. In: MORGENBESSER, S. Filosofia da Ciência. São Paulo: Cultrix, 1971.
(2) ALVES, R. Conversas com quem gosta de ensinar. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1981, p. 69.
(3) “O ‘método’ procura explicar o seu objeto, quer ser o ‘caminho’ de descoberta do seu ‘objeto’, mas [...] já é hora de pensar num ‘método’ que leve em conta o seu ‘fracasso metodológico’ como momento necessário ao seu próprio êxito”. Cf. KOTHE, Flávio R. Caminhos e descaminhos da crítica; encontro marcado com Heidegger. Reflexão, Campinas, v. 4, n. 15, p. 67-71, set.-dez. 1979.
(5) ALVES, R. Conversas com quem gosta de ensinar. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1981, p. 69.
(6) Destacamos, dentre vários trabalhos, os de: ACOSTA HOYOS, Luís E. Guía práctica para la investigación y redacción de informes. 2. ed. Buenos Aires: Paidós, 1972; ASTI VERA, Armando. Metodologia da pesquisa cientifica. Porto Alegre: Globo, 1973; CASTRO, Cláudio de Moura. Estrutura e apresentação de publicações cientificas. São Paulo: Mc Graw-Hill, 1976; Idem, A prática da pesquisa. São Paulo: Mc Graw-Hill, 1977; MANZO, Abelardo J. Manual para la preparación de monografias. Buenos Aires: Humanitas, 1973; SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 3. ed. São Paulo: Cortez e Moraes, 1978; SPINA, Segismundo. Normas gerais para os trabalhos de grau: breviário para o estudante de pós-graduação. São Paulo: Fernando Pessoa, 1974.
(7) POPPER, K. A lógica das Ciências Sociais. Rio: Tempo Brasileiro, 1978, p. 14.
(8) CASTRO, Cláudio de Moura. A prática da pesquisa. São Paulo: Mc Graw-Hill, 1977, p. 5.
(9) GOMES, R. Crítica da razão tupiniquim. 4. ed. São Paulo: Cortez, 1980, p. 24.
(10) MILLS, W. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1980, p. 211.
CINTRA, Ana Maria Marques. “Determinação do tema de pesquisa”. Ciência da Informação, Brasília, 11 (2), pp. 13-16, 1982.
(Artigo citado por Antônio Joaquim SEVERINO, Metodologia do trabalho científico, 22. ed. rev. e ampl., São Paulo, Cortez, 2002, p. 145.)
Lido, grifado e dividido em itens e subitens a 21 de setembro de 2012.
Fichado entre 25 e 26 de setembro de 2012.
P. 13
Introdução geral
Escolher um tema de pesquisa é relativamente fácil a quem tem inserção numa certa área, mas o iniciante à vida científica geralmente sofre o conflito entre a assimilação de conhecimentos e os prazos acadêmicos, faltando tempo e experiência para uma boa escolha. Refletir sobre ciência e pesquisa científica ajuda a achar coordenadas para dimensionar o problema.
I. Papel e diretrizes do fazer científico
Introdução – Ernest Nagel (1901‒1985) define como princípios do fazer científico:
- O controle prático da Natureza;
- O conhecimento sistemático e seguro dos fatos;
- O método próprio.
Desenvolvimento
- O controle prático da Natureza faz a tecnologia avançar e melhora as condições de vida, o que, porém, arrisca o cientista a ser visto como um tipo de feiticeiro.
- O Universo é complexo, por isso o cientista se vale do raciocínio sistemático para organizar o conhecimento e descobrir os fenômenos.
- Os fenômenos a controlar devem enquadrar-se numa metodologia bem delineada, como parte do caminho para a elaboração de uma pesquisa. Porém, ao mesmo tempo, a ciência que busca conhecer segura e sistematicamente os fatos está sempre se fazendo, e só um método que garanta o controle organizado do Universo pode tratar os fenômenos com a mesma testabilidade e objetividade, a qual, no entanto, impõe a própria provisoriedade de qualquer conhecimento.
Conclusão ‒ Apesar do risco de mistificação do cientista, a “ciência pela ciência” é inaceitável, pois sua função real é conhecer as regras dos fenômenos do Universo para que o ser humano possa coordenar sua relação com ele.
II. Relação entre rigor metodológico e relevância do objeto de pesquisa
Introdução ‒ Mais difícil do que determinar um objeto de pesquisa é manter uma postura metodológica rigorosa e coerente, o que geralmente faz confundir-se comportamento científico com rigor metodológico, e não com o objeto em si.
Nota com citação do artigo de Flávio R. KOTHE, “Caminhos e descaminhos da crítica: encontro marcado com Heidegger”: Um “método” busca explicar seu objeto, mas deve-se hoje pensar num “método” que considere seu “fracasso metodológico” como importante para seu próprio êxito.
P. 13-14
Desenvolvimento ‒ Aqui não se julga que o método não seja importante, mas que é indispensável aliar rigor metodológico e verificação da relevância da pesquisa, já que questões irrelevantes também podem ser rigorosamente abordadas. Em todo caso, é antes pela relevância do problema do que pela metodologia que se deve começar.
P. 14
Conclusão ‒ Por isso, o ponto inicial é a decisão sobre os problemas a serem pesquisados, cuja relevância não é discernida pela própria ciência, a qual só oferece os métodos de exploração, organização, explicação e teste dos problemas. [Ligação com a introdução seguinte.]
III. Responsabilidade pela escolha do tema
Introdução – Na verdade, são os valores e a relação do pesquisador com o Universo que ajudam a escolher previamente o problema, o que torna a pesquisa um ato político.
Desenvolvimento
1. Diferença entre mestrado e doutorado
Introdução ‒ No caso da pesquisa acadêmica em si, surgem questões como: a tese de doutorado é definida por seu volume extenso ou por certas qualidades científicas? De fato, uma mesma pesquisa serve tanto a mestrado quanto a doutorado, diferindo apenas o volume de dados analisados.
Desenvolvimento – O critério de volume não define nada, pois há dissertações com claros traços de tese, e vice-versa, as quais são atadas por mera formalidade acadêmica. O doutorado, na verdade, marca um salto da iniciação para a pesquisa independente, sendo o mestrado um exercício de rigor metodológico, escolha do tema e envolvimento pessoal com ele.
Conclusão e Introdução do próximo item – Assim, o mestrando está se introduzindo na pesquisa e na vida científica, fase em que os orientadores tomam posturas diferentes.
2. Postura do orientador perante o mestrando
Desenvolvimento
- Alguns pensam que o assunto do mestrado deve ser de interesse do orientador, que coordena uma ou mais pesquisas e escolhe um aspecto a que a dissertação deve se ater.
- Outros julgam mais importante a segurança metodológica, secundarizando o tema e transformando o trabalho científico num mero cumprimento de etapas definidas.
- outros ainda consideram a dissertação como o germe de um novo pesquisador que associe corretamente firmeza metodológica e ação criativa.
Conclusão do item III e do subitem 2 – Obviamente os pressupostos do orientador definem os temas e mesmo a forma do trabalho, que obedece desde modelos prévios até a inserção livre de objetivos, metodologia, hipóteses etc. fora de predefinições, enquanto os vários guias, com formatos a escolher, podem muito bem orientar o principiante na parte formal.
IV. Condições subjetivas para o amadurecimento do tema
Introdução – A não ser que o orientador ofereça um tema, o principiante não tem orientações específicas para decidir sobre ele. Mas poderia existir um roteiro preciso para auxiliá-lo?
P. 14-15
Desenvolvimento
1. O mestrado como um aprendizado da autonomia
Mesmo havendo bons mestrados que integram pesquisas do próprio orientador, o ideal é que se cultivem desde já propriedades exigidas depois pela pesquisa independente. Assim, a dissertação deve ser um exercício de experiência na metodologia, na escolha do tema e na consecução de uma pesquisa válida.
P. 15
2. O objeto de pesquisa como parte da vida pessoal
Grandes resultados são obtidos se a pesquisa fizer o objeto integrar o cotidiano, a própria vida do pesquisador, se ele for algo considerado seu, caso contrário, haverá a prisão a meras formalidades acadêmicas.
3. Conceitos de independência e criatividade
Nesse tipo de pesquisa entram dos conceitos novos:
- Independência: o pesquisador adota livremente seu objeto e o submete a uma verificação por tentativa e erro.
- Criatividade: o pesquisador escolhe um tema original e/ou traduz os resultados numa linguagem verbal adequada.
Conclusão do item IV ‒ Apesar dessas orientações, permanece um mistério o caminho ao tema de pesquisa.
V. Condições objetivas para o amadurecimento do tema
Introdução – Karl Popper está certo ao escrever que o conhecimento surge apenas quando entram em tensão o que se sabe e o que não se sabe, ocorrendo a vontade de clarear o que estava obscuro. Por isso, não se precisa pesquisar o que já se sabe, todavia, nem tudo o que se desconhece merece ser objeto de pesquisa.
Desenvolvimento – Cláudio de Moura Castro, no livro A prática da pesquisa, aponta três vetores a convergirem na execução de um trabalho de pesquisa, os quais se associam de forma que todos sejam imprescindíveis:
- Originalidade: não consiste na novidade, mas na propriedade de perscrutar as origens, a essência do objeto.
- Importância: a pesquisa é importante se responde a alguma questão prática ou teórica de caráter humano, social ou natural, o que lhe confere um caráter político e a interdição de consistir num simples exercício inconsequente.
- Viabilidade: concerne a tempo, custos, preparo do pesquisador, bibliografia e obtenção de dados, que devem ser bem equacionados para não apenas se perder tempo.
Conclusão – Mesmo assim, ainda não se esclareceu sobre o nascimento do tema de pesquisa.
VI. O tema como uma escolha pessoal não quantificável
Introdução – O envolvimento pessoal com a pesquisa exige, antes de tudo, o gosto por ela, pois ocupará grande parte do tempo e das energias do estudioso. De fato, como Wright Mills, concorda-se que os melhores pensadores não separam o trabalho da vida geral, os quais se enriquecem mutuamente e colaboram para a correlação entre formação do eu e perfeição do ofício.
Desenvolvimento ‒ Em todo o caso, a criação humana jamais se submete ou se submeterá a receitas e modelos, pois, do contrário, poderá morrer.
Conclusão do item VI e do texto inteiro – Da mesma forma, reconstruir logicamente o nascimento de novas ideias prossegue imune a métodos, sendo o nascimento do tema de pesquisa, assim, uma espécie de criação artesanal que exige a descoberta dos valores pessoais do pesquisador, uma atitude crítica e inquieta perante o Universo e um trabalho disciplinado que equacione valores pessoais com o objeto e a execução da pesquisa.