domingo, 9 de agosto de 2015

Lukashenko fala no Dia da Vitória 2010


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Discurso pronunciado por Aleksandr Grigorievich Lukashenko, Presidente da República de Belarus, na parada das tropas da Guarnição de Minsk, capital do país, em comemoração aos 65 anos da vitória soviética (Belarus era uma república da URSS até 1991) na Segunda Guerra Mundial, em 9 de maio de 2010. O título russo do discurso é “Vystuplenie A. Lukashenko na parade v oznamenovanie 65-i godovschiny Pobedy v Velikoi Otechestvennoi voine”.

Lukashenko inicia pela honra da memória dos que morreram em combate ou em campos de concentração e defende a importância de se recordar o conflito como forma de celebrar o triunfo da civilização sobre a barbárie. Ressalta ainda que Belarus foi um dos países que mais sofreu em perdas materiais e humanas e que não cabe dúvidas de que a União Soviética, com todos os seus povos unidos, especialmente os eslavos, foi a maior responsável pela vitória dos Aliados, não cabendo qualquer tipo de revisão da história nem o desprezo dela como lição para o futuro. O presidente alude a um contexto geopolítico difícil, diante do qual é necessário conservar as conquistas da “geração dos vencedores”, reforçar a defesa nacional e evitar a intromissão estrangeira nos assuntos internos e na construção do bem-estar. Elogiando o povo belarusso como “invencível e autoconfiante”, termina o discurso com exortações otimistas ao futuro nacional e com a maior gratidão aos veteranos que ainda estavam vivos e presentes no desfile.

Os belarussos, uma etnia eslava oriental outrora chamada de “russos brancos” (que é o que significa literalmente seu nome), supõem que sua primeira existência como Estado teria sido o Grão-Ducado da Lituânia, que existiu até 1795, mas uma República Popular Bielorrussa independente só existiria entre 1918 e 1919, ano em que se tornou uma república soviética. A nova Bielorrússia independente seria rebatizada como “Belarus” em 1991 e governada pelo presidente do Soviete Supremo até 1994, quando foi criado o cargo de Presidente de Belarus, desde então ocupado por Aleksandr Lukashenko. Tendo servido no Exército Soviético nos anos 1970 e 1980, e sendo hoje “Marechal de Belarus”, Lukashenko havia sido o único deputado do país a votar contra a dissolução da URSS, e como presidente manteve diversas políticas estatistas e antiliberais soviéticas, e é acusado de censurar e perseguir a oposição política e jornalística.

As duas línguas oficiais de Belarus são o belarusso e o russo, porém mais de 70% da população usa o russo em sua vida diária, língua dominante no governo e na mídia e na qual Lukahsenko fez este discurso. Mesmo entre os belarussos étnicos, apenas pouco mais de 26% usa o belarusso em família, mas este influencia fortemente o russo local, quando não ocorrem misturas entre os dois.

O texto em russo publicado na época pode ser lido nesta página. Eu baixei o vídeo do “Canal da Vitória”, administrado pelo Cristiano Alves, tradutor que admira muito a Rússia e o período soviético, e que já havia feito uma primeira tradução, com a qual cotejei meu trabalho. Abaixo está minha versão legendada, pro meu antigo canal do YouTube, tendo sido feitas no texto, como sempre, as necessárias adaptações a esse tipo de mídia:


Caros veteranos! Camaradas soldados, sargentos, suboficiais, oficiais e generais! Estimados compatriotas e convidados estrangeiros!

Felicito-os de coração pelos 65 anos da Grande Vitória.

Todo ano, na data sagrada de 9 de maio, rendemos nossas maiores homenagens a essa inigualável façanha do povo soviético. Inclinamos nossas cabeças ante os mortos nos campos de batalha e os mártires dos campos de concentração. Honramos e glorificamos todos os que contribuíram para livrar a humanidade do nazismo.

A memória popular guardará para sempre a abnegação e a coragem dos que suportaram as piores provações e venceram a guerra mais cruel do século passado.

A importância dessa Vitória para toda a humanidade é eterna. Ela se tornou um símbolo do triunfo da vida sobre a morte, da liberdade sobre a escravidão, do humanitarismo sobre o racismo. Realizou uma justa represália à agressão e à violência e fez uma crítica severa das ambições e ideias insanas de dominação mundial.

Para o povo belarusso, o Dia da Vitória tem um significado especial. Nossa república sofreu nos anos terríveis da guerra como nenhum país no mundo. Por causa desse genocídio desumano, o país perdeu um terço de sua população. Foi destruída toda a infraestrutura, lembrada apenas por cinzas de aldeias incendiadas e ruínas de cidades outrora prósperas.

Muitos países participaram do combate ao agressor. Mas a verdade histórica consiste em que o papel decisivo na luta antifascista coube à União Soviética. Exatamente ela se tornou a força que mudou o curso da Segunda Guerra Mundial, selando seu desenlace e o destino não apenas de nossa Pátria, mas também de muitos outros Estados e povos, em suma, de toda a comunidade internacional.

Infelizmente, cada vez mais pessoas têm buscado substituir a verdade paga com milhões de vidas por variantes que rebaixam a importância da Grande Façanha de nossos soldados e guerrilheiros clandestinos, denegrindo os patriotas que lutaram para libertar seu país. Pior ainda, tais esforços têm se tornado uma real orientação política.

Hoje é indispensável fazer todo o possível para deter o revisionismo histórico.

Assim, em 1941, ocorreu não um simples conflito entre Estados e enormes potenciais bélicos, mas um embate universal entre sistemas políticos diferentes, entre valores morais e espirituais opostos. E nesse embate alcançamos a vitória.

À defesa da Pátria se ergueu todo o povo, e por isso mesmo essa guerra entrou para sempre na história como a Grande Guerra Patriótica.

O principal ingrediente da vitória foi a sólida fraternidade entre os soviéticos das diversas nacionalidades. O 9 de Maio é uma festa partilhada entre Belarus, Rússia, Ucrânia e todos os países da Comunidade de Estados Independentes. E hoje, na parada solene em Minsk, Moscou e Kyiv, ombro a ombro se postam os militares dos países eslavos irmãos.

A lembrança dessa heroica façanha é sagrada. Porém, para evitar erros trágicos, é indispensável tirar da experiência do passado as conclusões corretas.

Conclamamos todos os países do mundo a não ignorar as novas afrontas e tendências perigosas que ameaçam nossa segurança.

Caros compatriotas!

O complicado contexto atual apresenta elevadas exigências de fortalecermos a capacidade defensiva de nosso Estado, para o que realizaremos todo o necessário, com atenção especial em garantir um alto nível de incremento das Forças Armadas.

Recordando as lições da guerra, nos damos conta que nada nos importa mais do que conservar a paz, o bem-estar do povo e a independência de nosso Estado. É exatamente esse o sentido de nossa política.

A preciosa herança da liberdade e independência, além de venerada, deve ser defendida de ameaças políticas e econômicas como for possível.

Caros amigos!

O sentido básico de todos os nossos planos é conseguir criar condições dignas de vida ao povo belarusso.

Nós mesmos, e não os estrangeiros, firmaremos nosso bem-estar. Só com um esforço obstinado, cotidiano e eficiente tornaremos a pátria belarussa num Estado forte e próspero.

Precisamos crer nas próprias forças, consolidar a unidade nacional e a coesão social. Só assim se atinge a vitória. Essa é a manifestação do mais alto ânimo de um povo invencível e autoconfiante!

Otimismo e consolidação de forças são a chave do sucesso. Esse lema da geração dos vencedores será sempre atual e oportuno.

Honra e glória aos defensores da Pátria!

Suprema gratidão a vocês, caros veteranos, por terem nos presenteado com a vida. Podem estar certos que em Belarus a imperecível façanha do povo soviético será sempre honrada.

Saúde, paz, felicidade e sucesso a todos, caros amigos.

Viva a nossa Pátria, a República de Belarus!

Hurra, camaradas!