domingo, 2 de novembro de 2025

Quando o JN tenta ser Casseta & Planeta


Endereço curto: fishuk.cc/jn-casseta

No último dia 31 de outubro, bem na festa ianque do Relouim que resolveram bobamente importar pra cá, William Bonner se despediu da bancada do Jornal Nacional, outrora voz da ditadura civil-militar a partir de 1969 e agora o maior telejornal brasileiro visto por quem ainda só entende português e se senta no sofá com o cérebro desligado pra descansar da lida diária. A Grobe é um gigante com ótimos jornalistas de todas as cores, gêneros, origens, sotaques, formas e tamanhos, mas quem foram escolher pra substituir o ex da Fátima? César Tralli, com sua cara de bobo, esguias pernas arqueadas e cujos pitacos irritantes no fim das matérias deixavam o Jornal Hoje com pelo menos 1/3 a mais de duração do que o suficiente.

Você pode estar se perguntando: Ué, o Bonner vai, sair, f*da-se, não tenho nada com isso, já faz sei lá quantos anos que não assisto mais a essa m*rda. Por mais que a famiglia Marinho tenha irritado tanto lulaminions quanto bolsominions meramente por trazer fatos de cuja interpretação podemos duvidar, mas que incomodam a um montão de gente, o JN e seu mais famoso âncora se tornaram parte da cultura popular nos últimos 29 anos. Sem contar Cid Moreira, que apresentou a primeira edição e se tornou um ícone do jornalismo nacional. E em qualquer país é assim, pois seus jornalistas e telejornais noturnos mais famosos de canais abertos sempre viram alvo de piadas, bordões e memes. Até no Orkut, por exemplo, havia uma comunidade chamada “Eu dou boa noite pro Bonner”, e não sei se alguém chegou a fazer um print dela (sinta-se livre pra me enviar). Posso comprovar na prática: minha vó faz isso até hoje, rs.

Embora alguns critiquem Bonemer por seu jeito de trabalhar e atuar, ele tem qualidades que o distinguem de outros colegas, como a boa retórica improvisada (compare-o com o marido da Ticiane falando na edição daquele dia), a inteligência e, o melhor, um senso de humor que transborda até mesmo em reportagens cotidianas. Porém, esse humor aflora mais plenamente nos bastidores, entre quem já o viu imitando até mesmo Paulo Francis e Clodovil, e parece que nessa “festa da firma” ele resolveu mostrar ao país todo seu dom pro stand up. Não passaram despercebidas suas imitações de “si mesmo aos 8 ou 9 anos” cobrindo um piriri do Chapeleta pela primeira vez e de seu próprio companheiro de bancada, o locutor da Bíblia Sagrada, com quem conferenciava sobre o fato de ficar nervoso antes do programa.

Portanto, eu correria o risco de estar sendo redundante, porém, além de meus próprios comentários, só aqui você vê os trechos selecionados sem edição. E decidi aproveitar também a ocasião pra descarregar inúmeros memes vindos de diversos telejornais da Grobe, que estavam represados desde a queda do canal Pan-Eslavo Brasil ou que fui acumulando depois, além de coisas aleatórias mais recentes. Afinal, como já publiquei aqui constantemente, o JN e seus congêneres (H1, JH, JG e sei lá que outras siglas) nem sempre se tornam o Casseta & Planeta Urgente voluntariamente, mas muitas vezes “sem querer querendo”. Diverte-te:



O “beijo no Bonner” que o Genocida queria ter dado em 2022, rs.


O vídeo “principal” (em cujo fim Bonner diz estar nervoso) e outro vídeo em que ele faz uma gracinha com o sucessor (em que ele diz que “finge estar nervoso”, igual o menino fã do Raça Negra que dizia “fingir estar chorando” no Silvio Santos, rs):




Mais recentemente, o repórter Matheus Croce de uma afiliada em São Vicente, SP, quase morreu de susto quando entrou na Mansão do Medo, montada num shopping center bem antes do Dia das Bruxas (edição minha). De fato, segundo o próprio G1, depois ele teve uma queda súbita de pressão e quase passou mal:


Uma das intervenções mais fora de contexto do genro da Garota de Ipanema em 10 de setembro de 2025. Tão fora de contexto que nem me lembro mais de qual reportagem se tratava, rs:


Tirado a partir de um canal nostálgico da década de 1990. A vinheta “Serviço” era uma as que eu mais achava interessantes em minha infância, mas imagine toda reunida a “família tradicional brasileira”, com casal, vó e filhos pequenos, e de repente um locutor de voz cavernosa joga um “mucosa do pênis, vagina e ânus” na cara dura:


Reportagem de 12 de setembro de 2024 em que Renata Vasconcellos quase põe em órbita aquele catarrão logo no começo. Sem muita graça particular:


A mesma, anunciando o novo dono da Grobe:


Ainda a mesma, resumindo a essência do “sotaque paulistano”, mas provavelmente com fome, porque o jornal tava acabando e ela queria confirmar o pedido do Bonner no Aifode:


Maju Coutinho cobrindo um campeonato de arremesso de bebedouro após o jogo de futebol entre um time brasileiro e outro argentino, ou “Gente, foi isso mesmo, um jogador arremessando lá um bebedouro” (JH, 22 de julho de 2021):


Fora do mundo, Ana Maria Braga anuncia no Mais Você de 28 de junho de 2021 a captura e execução sumária do assassino em série Lázaro Barbosa de Sousa, que fez uma fuga espetacular pelo país e atemorizou os moradores por onde passava. Primeiro ela diz que “Lázaro não tinha relação com Lázaro”, e depois tenta chamar o repórter ao vivo dizendo “Oi, Lázaro, temos Lázaro?”:


Em meados de julho de 2021, no auge da segunda grande vaga da covid-19 com que o desgoverno nos tinha presenteado, Bonner afirma que “a Terra é redonda” e recomenda que todos tomem a segunda dose da vacina:


De novo Bonner, mas ainda sem a barba que o caracterizaria nos últimos anos, anuncia em 26 de dezembro de 2019 um “eclipse solar com Lula”, mal disfarçando que já sentia saudades e não via a hora do retorno do “ex-presidiário”:


Na década de 1980, Renato Machado está em Xernobiu Chornobyl tempos depois da explosão. Mas, como disse certa vez um inscrito de meu YouTube, parecia que ele estava descrevendo o Twitter, invertendo o famoso meme de Éric Jacquin usado quando alguma discussão estava ficando tóxica demais:


Além do “ônibus” (2006) e do “avião do JN” (2010), em que Bonner percorria o Brasil todo queimando a fortuna dos Marinho, entre as muitas iniciativas ridículas lançadas em época de eleições presidenciais estava a vinheta “O Brasil que eu quero” de 2018. Esta era muitíssimo mais econômica, pois em todos os telejornais apareciam vídeos breves de celular, com pedidos que os cidadãos faziam aos candidatos a diversos cargos. Um dos melhores certamente foi o da estudante paraense “Maria Bolacha”:


Após (uma das muitas) enchentes na periferia de São Paulo, em março de 2019, uma senhora identificada como “dona Florentina” elogia a ajuda que a Igreja Universal do Reino de Deus estava dando aos desabrigados ou prejudicados. A graça não está nisso, mas em que o repórter da GloboNews, por mais que tente tirar a IURD da conversa, se vê frustrado e constrangido pela insistência da idosa, rs:


No JH de 13 de fevereiro de 2020, Andréia Sadi e “o nome cotado para a vaca” involuntariamente resumiam como todos os partidos alternantes, sem exceção, sempre tentam “mamar nas tetas do Estado”:


O Fantástico entrevistava um eleitor de Joe Biden nas eleições americanas de 2020, quando uma passante patriota bolsonarista apoiadora de Trump, sem ser chamada, foi argumentar na única linguagem que sabe usar. Spoiler: a polarização mencionada só ia piorar e Biden daria tanta vergonha alheia que o Laranjão voltaria em 2024.


No JH de 2 de junho de 2020, Maju inventou um novo ministério pro milico golpista Augusto Heleno, que era o do “Gabinete de Segurância Institucional”:


Alguém consegue falar diretamente pra ele a “verdade coprológica”?

Vamos mudar de canal (e de país, e de língua). Na ditadura dinástica totalitária do Tajiquistão, mais uma daquelas Boratlândias de economia dependente da Rússia, o telejornal noturno da TV estatal conseguiu dedicar uma edição inteira somente à inauguração de inúmeros prédios frescos, incluindo escolas, numa cidade perdida chamada Danghara.

Óbvio que o dono do país, Emomali Rahmon, devia estar lá, e a lambeção de saco, que passa pela linguagem e pela reverência temerária, chega à recitação decorada de versos laudatórios (de fato, uma tradição do mundo persa) e a apresentações dignas de uma festa de formatura de pré-escola brasileira. Escolha seu ritmo preferido entre uma batida mais tradicional ou uma mixagem techno:




No fim de outubro, viralizou um vídeo em que um prefeito Mamãe Falei calvo de cidade russa destrata e demite em público um burocrata de cujo trabalho ele não gostou. Não lembro mais do que se tratava a obra, mas sinta-se livre pra usar o corte da Radio Svoboda, totalmente fora de contexto, “– O que é isto? – É uma pedra” (“– Что это такое? – Камень”):


E pra terminar de um jeito nada a ver, é curioso como entre as recomendações de canais do WhatsApp, o recurso mais mal copiado pra tentar fazer frente ao Telegram, aparecem coisas completamente aleatórias, sem relação com interesses gerais ou mesmos os seus próprios e de conteúdo absolutamente carente de nexo. Um desses “buracos” (nome mais apropriado) que me sugeriram foi um chamado “Meu FC [fã clube] Do Daily da Vavá”, o troço mais orkutizado que já vi desde a emergência das novas redes sociais. Não faço ideia de quem seja a Vavá, quem faça parte de seu fã clube e se a foto de perfil é da Vavá ou de alguma fã dela.

Embora eu tenha algum receio que isso seja um golpe ou um perfil falso, talvez até escondendo uma situação de abuso (eu denunciei à Meta), é incrível como de fato alguns adolescentes, sobretudo meninas, se expõem elas mesmas dessa maneira, apesar dos discursos mainstream sobre “adultização”. Mais cômico ainda é o pedido pra que os internautas parem de reagir com “emojis inapropriados” (o que é comum, aliás, quando canais bizarros são sugeridos do nada), solenemente desobedecidos com ainda mais berinjelas e dedos medianos. É mais uma prova de que os memes não são feitos, mas aparecem: