terça-feira, 12 de agosto de 2025

Alguém achou uma boceta por aí?


Endereço curto: fishuk.cc/boceta

Não conhecia este professor, mas como gerencio o Instagram da União Brasileira Pró-Interlíngua, naturalmente vai aparecer no feed muita coisa relacionada a gramática e idiomas. Não que eu fique o tempo todo rolando a tela, mas apenas por acaso bati o olho na seção de sugestões e me apareceu isso... A título de curiosidade, e como gosto de fazer um “humor culto” por aqui de vez em quando, segue sua publicação “Por que o nome abaixo passou a designar também o órgão genital feminino?”, reproduzida em imagem e texto:



O anúncio antigo da imagem traz a expressão “Boceta perdida” e refere-se, no corpo do texto, a uma “boceta d’ouro para tabaco”. No português de época, “boceta” não possuía a conotação sexual que hoje lhe é associada no uso coloquial. Tratava-se de um substantivo feminino empregado para designar uma pequena caixa, cofre ou bolsa portátil, geralmente de uso pessoal, na qual se guardavam objetos de valor, como joias, tabaco ou moedas. Essa acepção é registrada em dicionários antigos e deriva do francês “bocette”, diminutivo de “boce” (caixa), que por sua vez tem origem no latim “buxida”, ligada a “buxis” (caixa de buxo, madeira nobre utilizada para pequenos recipientes). Portanto, no contexto do anúncio, “boceta” significava apenas um pequeno recipiente valioso e não possuía carga erótica.

A passagem de “pequena bolsa” ou “estojo” para a designação de parte da anatomia feminina foi motivada por metáfora baseada em forma e função. O mesmo se observa no caso da palavra “vagina”, que hoje designa um órgão do sistema reprodutor feminino, mas cuja origem latina “vagina” significava “estojo” ou “bainha”, usada para guardar espadas ou facas. Essa origem, por sua vez, conecta-se à ideia de invólucro protetor, conceito também presente na palavra “vagem”, que se refere à estrutura vegetal que contém e protege sementes. A associação metafórica entre recipiente e órgão feminino decorre do fato de ambos funcionarem como espaço que abriga e protege algo, seja um objeto, uma lâmina, sementes ou, no caso anatômico, um pênis durante o ato sexual e o feto durante a gestação.

Assim, tanto “boceta” (que na oralidade é dita com inicial “bu”) quanto “vagina” e “vagem” têm, em suas origens, a ideia de “estojo” ou “recipiente protetor”.