Na bela manhã de ontem, acordei com esta tentadora proposta de anúncio ou guestpost pago sugerida pra minha página. Inicialmente não estranhei, porque certa vez também recebi proposta parecida pra lançar conteúdo, mas cujo pagamento sequer achei necessário, por se tratar de assunto corriqueiro:

Após o espanto inicial, alguns poucos detalhes de fizeram desconfiar de que pudesse ser um golpe. Primeiro, as condições de “não dizer que era patrocinado” ou “só poder pagar por Paypal”; bem, sendo internacional, até entendo, mas se nosso Allen Marvin conhece português, por que não poderia ser outro meio de pagamento existente no Brasil?
allenmarvinlife@gmail.com também é um endereço que não levanta tantas suspeitas, pois tem o mesmo nome do remetente, ao contrário de outras fraudes em que o remetente (às vezes uma instituição) é um, mas o endereço é outro ou mesmo, como recebi outro dia pra outro tipo de golpe, uma simples combinação aleatória de letras e/ou números. Mesmo assim, o fato de haver esse “life” no final pode ter a finalidade de não vincular diretamente ao nome “original”, que em todo caso pode ser de outra pessoa, ou de tornar o rastreamento mais difícil; não faço ideia, não sou especialista.
Contudo, vejamos outra coisa que acho importantíssimo pra quem quer reconhecer golpes ou, em todo caso, pra estudiosos da linguagem em geral: o registro linguístico não corresponde exatamente ao de um falante nativo médio de português brasileiro, mesmo que gramaticalmente o texto não contenha erro algum. Isso mostra como a convivência com um idioma não ensina somente sobre fazer-se entender, mas também como formalmente as ideias são expressas (“modos de dizer”). Esse “robotismo” pode ocorrer com falantes não proficientes, mas por que um estrangeiro ia querer publicar aqui?
O brasileiro médio, infelizmente, não reconhece ou não repara em erros óbvios de gramática e/ou digitação quando cai em golpes virtuais, mas reconhecer linguagem incomum, convenhamos, já é outro level. Vamos a mais um item que quase me fez responder ao sujeito: afinal, o que ele queria me fazer publicar? Por que não apresentou parte de seu trabalho, sua profissão, a natureza do conteúdo etc.? A extrema vagueza também levantou suspeita.
Quando simplesmente já estava desanimado o suficiente pra “aceitar” a “proposta”, resolvi fazer o básico do básico: jogar o endereço eletrônico no Google, de preferência entre aspas, e ver o que acontecia. Qual não foi minha surpresa ao me deparar, primeiramente, com uma publicação em alemão falando de crimes virtuais, especificamente do tal Allen Marvin!
Pelo que verifiquei, a fraude tá operando pelo menos desde fins de 2024. Confesso que tô aprendendo alemão, mas ainda não leio tão bem, por isso recorri ao tradutor automático, e parte do resultado é o que você pode ver abaixo. Não me incomodei em ver se a tradução ficou pior que o próprio texto do golpista, mas acredito que o conteúdo manteve o essencial:





O mais surpreendente foi que também encontrei um comentário público num blog holandês sobre recreação, com um conteúdo quase idêntico (faltam alguns detalhes que apareceram no meu). O primeiro reclamante disse que recebeu a mensagem em alemão, enquanto aqui temos diretamente em holandês (que também traduzi com o Google).
Mais abaixo, outra versão neerlandesa apareceu num portal de jogatina, acrescida de uma cópia com outro endereço e nome. Mesmo não sabendo qual é a “verdadeira” nacionalidade de Allen Marvin, desta vez decidi não traduzir, pra que você possa apreciar a beleza do idioma.
Moral da história: não acredite em nada recebido de ou escrito por Allen Marvin. É, Allen, dessa vez não deu pra você, rs.

