terça-feira, 28 de maio de 2024

Única frase ucraniana dita por Putin


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Meu amigo paranaense Tiago Rocha Gonçalves, descendente de ucranianos e estudioso da questão nacional vista pelos marxistas da Ucrânia no início da revolução bolchevique, me indicou este vídeo de 5 de dezembro de 2008, ocasião em que Vladimir Putin, segundo ele, disse a única frase que sabia em ucraniano. Conforme citação deste site, o então “primeiro-ministro” da Rússia (na verdade, um período-tampão em que Putin ainda era obrigado a seguir a Constituição, antes de conseguir a violar) respondeu à pergunta sobre se a Ucrânia, então governada pelo presidente pró-ocidental Víktor Iúshchenko e que ainda não tinha acertado suas dívidas pelo gás, podia pagar com os preços vigentes ainda aquele ano.

No que parecia ser a conferência anual de imprensa transmitida ao vivo pela TV estatal, ainda no clima mais aconchegante e menos tecnológico dos primeiros anos, ele respondeu: “Мне один мой приятель в прежние годы говорил, когда я ему чё-то там... ставил перед ним какие-то сложные вопросы, он мне говорил: Ти що, з глузду з’їхав, чи що?” (Em anos passados, um amigo meu me dizia, quando eu lhe fazia algumas perguntas difíceis: Ty shcho, z hlúzdu ziíkhav, chy shcho? [tradução: “O que houve, você enlouqueceu?”].)



Em outra entrevista coletiva em que chegou a comentar sobre a Ucrânia, mas desta vez em 18 de maio de 2019, dois dias antes da posse do novo presidente Volodymyr Zelensky, Putin repetiu a mesma frase, mas desta vez se referindo a certas políticas do governo de Petró Poroshenko, que então tinha perdido a tentativa de reeleição e sairia. O ditador já tecia partes de sua narrativa com que tentaria justificar a invasão ao vizinho: as políticas de Kyiv eram “russofóbicas”, russos e ucranianos eram “o mesmo povo” só porque tinham “uma história em comum”, a Ucrânia tentava “perseguir” os russos e impor sua própria cultura e estava difícil dialogar com aquele governo.

De fato, Poroshenko foi muito mais antipático ao Kremlin do que Zelensky foi inicialmente, e o ex-ator judeu era até considerado mais “pró-Rússia” só por causa de sua língua materna e porque teve muito mais votos nas regiões orientais do que nas ocidentais (onde, mesmo assim, também ganhou no segundo turno). Inclusive Aleksei Navalny, em vídeo da época que vi outro dia, receava que Zelensky fosse mais simpático a Putin do que aos povos dos dois países, o que acabou não se revelando verdade, embora Moscou jamais estivesse com a razão, pois ajudou a desestabilizar o Donbás desde março de 2014, quando também roubou a Crimeia, isto é, bem antes da posse de Poroshenko, eleito pelo voto popular.



Descobri também esta entrevista por acaso, enquanto pesquisava o caso da frase em ucraniano. Com seu repórter quase privativo, Pável Zarúbin, Putin comenta em outubro de 2023 o cerceamento cada vez maior do ex-chanceler (ex-premiê) social-democrata da Alemanha, Gerhard Schröder, por sua antiga participação no quadro de acionistas da estatal russa Gazprom e sua recusa a condenar a invasão da Ucrânia. Além da amizade com o ditador, Schröder tem sido acusado, enquanto chefe de governo, de ter ajudado seu país a ficar cada vez mais dependente dos recursos fósseis russos, o que, na verdade, em grande parte também foi culpa de sua sucessora democrata-cristã, “Mutti” Merkel.

Hoje liderando uma instável coalizão entre sociais-democratas, verdes e liberais, Olaf Scholz azedou as relações com o colega de partido e, além de romper completamente com o Kremlin, abandonar todos os contratos de importação de gás e petróleo e ajudar Kyiv militarmente, somou-se às sanções internacionais que visariam enfraquecer a invasão. Obviamente, quem não concorda com Putin é “banderista”, “nazista”, “russófobo”, “imperialista” e o que valha, e nessa linha de desinformação, ele disse a Zarubin: “Quanto mais longe de [Gerhard] Schröder, mais próximo de Anthony Rota, que simpatiza com nazistas”, e depois fez questão de repetir em seu surrado alemão dos tempos do Stasi em Dresden, “pra que os próprios alemães entendessem”: “Je weiter von Schröder, desto näher zu Anthony Rota, der [mit] Nazisten sympathisiert.

Até a preposição mit ele comeu, já que em alemão, assim como em português, não “simpatizamos alguém”, e sim “simpatizamos com alguém”. O perfil da embaixada da Rússia na Alemanha reverberou o teatro, embora mais uma vez o Kremlin estivesse surfando numa onda de desinformação, com direito a mentiras sobre Yaroslav Hunka, o concernido nazista de 98 anos.

No início daquele outubro, o premiê canadense Justin Trudeau e o presidente do Parlamento, Anthony Rota, tinham recebido Zelensky pra uma homenagem na câmara, e a certa altura o deputado declarou que estava sentado nas galerias “um veterano da 2.ª Guerra Mundial que lutou pela independência ucraniana contra os Russos”, assim o homenageando publicamente e lhe dedicando uma salva de palmas. Contudo, seu filho Martin Hunka o trouxe lá sem avisar nenhum dos dois governos envolvidos, mas apenas a Rota, que o aceitou sem ser informado de que se tratava de um ex-combatente do braço ucraniano das Waffen-SS nazistas, ainda passível de condenação e jamais arrependido de seus crimes. Após a revelação pública de seu passado, o escândalo fez com que Rota se desculpasse e renunciasse à presidência do Parlamento.

Bem diferente do criminoso de guerra Putin, que não tendo nenhum escrúpulo em estuprar a Constituição pra se perpetuar no poder, esconde nazifascistas debaixo de suas asas (Prigozhin, Utkin, Dugin), deixa o antissemitismo correr impune entre seus burocratas (Lavrov, o pogrom no Daguestão), mata veteranos antinazistas quase centenários na Ucrânia e adota uma estética alusiva ao nazismo em sua propaganda (ver os clipes de Shaman, “cantor” oficial do regime). Martin e sua família, que em sã consciência praticamente plantaram lá o velho, não sabemos a que interesses atendendo, simplesmente sumiram e fugiram da mídia quando “a bomba estourou”, mas apesar dos esclarecimentos, já era tarde demais. E como sói ocorrer pra toda propaganda bananeira pró-Kremlin, o desmentido não vale nada, a exemplo da “mídia” fake news Brasil 247, que copiou e colou conteúdo do desinformador Sputnik, mas em todo caso comunicou sobre o sumiço voluntário dos Hunka.



Meu amigo Claudio, o célebre paranaense do Rio de Janeiro (rs), publicou em seus stories do Instagram uma montagem mostrando o rosto de Zelensky a cada ano desde sua posse como presidente. Me inspirei nele pra fazer esta outra pequena montagem com Putin, incluindo um retrato de sua juventude como espião frustrado na antiga RDA e a tomada numa de suas “posses” que o fez parecer, após 500 plásticas, um moai da Ilha de Páscoa, rs:


Créditos a meu amigo carioca Raphael, que tirou não sei de onde esta sugestiva foto (eu não sabia que ele assistia a rúgbi...) e disse que podia me dar “a ideia de um meme”. Esta foi a primeira que eu tive, e se alguém tiver outra, me comunique, pois ainda tenho o modelo “liso” (template), rs:


E por fim, vemos neste print um momento da entrevista de Ekaterina Kotrikadze (TV Rain), na semana passada, com um ex-vice-premiê de Israel, que em minha visão parece mais o Silvio Santos careca. Lembremos, claro, que o Homem do Baú tem ascendência judaica de origem grega. Quanto à cara da Katya que captei, ela mesma podia se tornar um meme à parte, rs:


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