Alguns anos atrás, eu tinha instalado no navegador Chrome uma extensão que permitia baixar vídeos de praticamente qualquer fonte, exceto do YouTube, de onde, de resto, o material pode ser extraído a partir de muitos sites, como Savefrom.net e Catch.tube. Porém, ao trocar de computador e ao passar a usar o Microsoft Edge, acabei perdendo essa extensão, não guardei seu nome e nunca mais achei. Enquanto eu ainda possuía essa magnífica ferramenta, baixei vídeos de várias fontes, sobretudo de páginas mantidas pela TV Globo, como o Globoplay, e fiz a festa com montagens ou simples reproduções na época anterior ao apagamento de meu canal Pan-Eslavo Brasil.
Dois desses combos possuem reportagens em série, de vários telejornais da Globo, colocadas em ordem cronológica sobre dois fatos centrais: a terceira reeleição, não consecutiva, de Vladimir Putin em 2012, coberta de polêmicas e acusações de fraude, e a anexação da península ucraniana da Crimeia pela Rússia em março de 2014, na onda de turbulências provocada pela Revolução da Dignidade, ou “segundo Euromaidan”. As outras reportagens tratam da doação ao Brasil, após a compra pelo governo russo num leilão, de cartas de dom Pedro 2.º a diversas personalidades europeias em 2017 e do referendo que mudou a constituição da Rússia pra dar mais poder ao presidente, isto é, a Putin, em 2020. Depois dos vídeos, seguem as descrições pro antigo canal, com poucas adaptações, os links originais e, quando fosse o caso, a breve descrição pelo próprio Globoplay. O resultado de minha garimpagem no site, que volto a reproduzir aqui, tem pelo menos valor histórico e documental.
Direto dos arquivos da Rede Globo (site do Globoplay), as principais matérias jornalísticas que cobriram a reeleição do presidente russo Vladimir Putin em 2012, quando muitos acreditaram que se deu a real virada autoritária de seu governo, sobretudo aos olhos do Ocidente. Alguns analistas, como Masha Gessen, pensam que as atitudes autoritárias já vêm desde o começo, em 2000, ou dos primeiros anos.
Mas a verdade é que desde 2012 Putin começaria sua perpetuação no poder, além da colocação do aliado Dmitri Medvedev como primeiro-ministro, um simples fantoche, segundo muitos. Essa sequência de Medvedev só acabou em janeiro de 2020, quando ele foi substituído por Mikhail Mishustin, mas pouco antes do referendo das emendas constitucionais que davam justamente mais poderes ao presidente. Isto é, a Putin, já que na prática a nova redação lhe permite praticamente não sair tão cedo do poder.
Com uma pequena busca no Globoplay, achei matérias daquela época, março (eleição) e maio (posse) de 2012, quando também ocorreram vastos protestos populares contra o governo. Até Aleksei Navalny aparece, e na época ele ainda tinha a chance de ser solto pouco depois! Manifestações dessa dimensão, infelizmente, não se repetiriam mais na Rússia (nem durante a invasão à Ucrânia em 2022), mas já então a oposição e a comunidade internacional acusaram Putin de fraudar a votação. Seguem as fontes dos vídeos (na ordem em que exibi), com as datas e manchetes, todos ainda no formato 4x3 de tela, antes da popularização da TV digital:
Pesquisas indicam que Vladimir Putin deve vencer eleição na Rússia (3 de março): O primeiro-ministro e candidato a presidente tem mais de 50% das intenções de voto. Para tentar dar transparência, o Kremlin mandou instalar sistema de vídeo em todas as seções eleitorais. Assim, os eleitores poderão assistir à votação pela internet.
Vladimir Putin discursa como vencedor e oposição denuncia fraude (4 de março): O primeiro-ministro lidera, com folga, a contagem dos votos da eleição presidencial. Na Rússia, não é obrigatório votar na própria sessão e o sistema não é informatizado. Oposicionistas denunciam fraudes e prometem protestos.
Oposição russa denuncia fraude de Vladimir Putin (5 de março). Imagens registradas em uma seção eleitoral na província do Daguestão mostram fiscais depositando várias cédulas em uma urna. Os votos acabaram anulados, mas o incidente serviu para dar ainda mais argumentos para os opositores.
Vladimir Putin volta à presidência da Rússia (7 de maio). No poder desde 2000, como presidente e primeiro-ministro, Putin prestou juramento na sala do trono dos tsares russos. No segundo dia de protestos contra sua reeleição, a polícia prendeu 120 manifestantes. No domingo (6), foram 400.
Presidente Vladimir Putin nomeia Medvedev como primeiro-ministro (8 de maio): Mais de dois terços dos deputados aprovaram o ex-presidente Dmitri Medvedev. Foi a mesma jogada de Putin quatro anos atrás, quando ele passou a presidência para Medvedev, e assumiu o cargo de primeiro-ministro.
Globo sendo Globo, ou melhor, sendo CNN, rs. A Patrícia Poeta era mó bonita apresentando o Jornal Nacional, mas falava mal pra caramba! Nos outros cenários, sobretudo na cobertura internacional, duas coisas me chamam a atenção: a predominância dos jornalistas da “velha guarda” das décadas de 1990 e de 2000, antes de surgirem os rostos mais jovens que vemos hoje, e a narração dos fatos de forma robótica, demonstrando que praticamente só traduzem conteúdo da mídia euro-americana e passavam longe de dominar os assuntos sobre os quais falavam.
Vladimir Putin diz que vai defender população de língua russa que vive na Crimeia (7 de março): O confronto não acontece só nos gabinetes. Em Donetsk, cidade natal do ex-presidente da Ucrânia, ativistas pró-Rússia entraram em choque com a polícia. Na capital da Crimeia, uma mulher que protestava foi arrastada pelos cabelos.
Putin quer traçar um novo panorama político para o mundo (11 de março, opinião): Arnaldo Jabor afirmou que o drama de Obama e da OTAN é tentar peitar o presidente Vladimir Putin. Segundo ele, o “ditador stalinista” faz o que quer. Revendo o vídeo em 2023, fico surpreso como o falecido cineasta acertou em cheio com o apelido que na época achei exagerado, pois hoje vemos uma reabilitação cada vez mais descarada do ditador georgiano. Além disso, Putin tinha realmente um plano próprio pra mudar o mundo, atualmente sendo posto em operação com a conivência da China, como vemos em suas constantes críticas ao “mundo unipolar” e nas inúmeras distorções históricas que colocam a Rússia como vítima coitadinha da OTAN!
Vladimir Putin reconhece região da Crimeia como Estado independente (17 de março): Mesmo após anúncio de sanções dos EUA e da União Europeia, o presidente da Rússia reconheceu a Crimeia como um Estado independente.
Vladimir Putin fala ao Parlamento sobre anexação da Crimeia à Rússia (18 de março): O presidente russo defendeu o referendo na Crimeia, que decidiu pela separação. E disse que a Crimeia sempre foi parte inalienável da Rússia. Ele também acusou as autoridades do governo provisório da Ucrânia de promoverem um golpe de Estado.
Putin surpreende ao decidir anexar a Crimeia ao território da Rússia (18 de março): O presidente Vladimir Putin assinou o tratado que anexa a Crimeia à Federação Russa. Ele fez um discurso com acusações aos EUA e à União Europeia.
EUA querem usar punições econômicas para tentar frear ambições de Vladimir Putin (18 de março): O vice-presidente americano disse que a Rússia confiscou um território ucraniano. Ele prometeu defender a segurança dos países que fazem parte da OTAN. O presidente Barack Obama convocou uma reunião do G7 para a próxima semana.
Presidente Vladimir Putin consuma anexação da Crimeia à Rússia (18 de março): Foi a primeira anexação do território de outro país europeu desde a Segunda Guerra Mundial. Putin justificou a incorporação do novo território, destacando os laços históricos e culturais entre a Rússia e Crimeia.
Vladimir Putin quer solução diplomática para a crise na Crimeia (28 de março): Segundo a Casa Branca, Putin telefonou para Barack Obama, no que seria a primeira conversa dos dois desde o início da crise. A iniciativa mostra em seu discurso, que parecia caminhar para uma ruptura com o Ocidente.
Matéria exibida em 16 de setembro de 2017 pela Inter TV, afiliada da Rede Globo no interior do estado do Rio de Janeiro. O então presidente Michel Temer doou ao Museu Imperial em Petrópolis, naquele estado, cinco cartas escritas por dom Pedro 2.º, segundo e último imperador do Brasil na segunda metade do século 19, que por sua vez tinham sido doadas pelo presidente russo Vladimir Putin. O governo da Rússia tinha arrematado um lote de cartas num leilão, e cinco entre elas tinham sido escritas por Pedro de Alcântara a escritores, cientistas e intelectuais europeus.
Ao contrário do que tinham dito matérias anteriores (como esta, que falava do pedido então feito ao presidente Temer pelo Museu Imperial), as cartas não eram endereçadas a tsares russos da época, nem tinham sido escritas em russo (língua que, dizem, Pedro 2.º dominava). Mesmo assim, quando Temer visitou a Rússia, naquele período de 2017, Putin aproveitou a ocasião pra lhe entregar as cartas, e assim elas passaram a integrar o acervo público da monarquia. Em Petrópolis, está praticamente toda a coleção de cartas, anotações e outros escritos do ex-imperador poliglota, e a consulta a eles permitiu desvendar outros mistérios do material recém-recebido.
Um amante da tradução, como este que vos fala, rs.
Putin vence referendo pra mudar Constituição (Jornal Nacional, 1.º de julho de 2020): Com mais de 77% de aprovação, o presidente russo Vladimir Putin venceu o referendo que ele propôs pra serem aprovadas em conjunto mais de 200 emendas à Constituição Federal de 1993, promulgada ainda sob o governo de Boris Ieltsin. Sua estratégia residiu em criar postos móveis de votação e em colocar no pacote várias medidas de alcance social, como aumentos salariais regulares. Mas dentro estava junto a aprovação da possibilidade de Putin concorrer ainda mais dois mandatos após o atual, que só terminará em 2024.
Com escassa tradição democrática e uma mobilização civil muito flácida, a Rússia aprova em geral estar sob a “tutela” de Vladimir Putin, ainda mais quando o povo se lembra do horror que foram o governo Gorbachov e a década de 1990. Apesar das muitas críticas ao governo, os russos aprovam em geral a forma como Putin governa, sempre sob constante cerco ocidental (mas, também, quase sempre informados por notícias controladas de Moscou). Entre outras coisas, o presidente disse, na época, ao canal oficial de notícias Rossia 24: “Em muitos aspectos a Federação ainda é muito vulnerável, é preciso tempo pra reforçarmos sua estabilidade. Desde a dissolução da URSS pouquíssimo tempo se passou, a Rússia moderna ainda está em estágio de formação”.
Aprovação definitiva da lei que permitia a Putin, em tese, se reeleger pra mais dois mandatos de seis anos após o fim de seu mandato atual, em 2024 + Internação de Navalny em enfermaria prisional após apresentar problemas de saúde na cadeia (5 de abril de 2021).