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O judaísmo da época de Jesus era que nem o televangelismo de hoje: os líderes religiosos só pensavam em dinheiro, que extorquiam enganando e intimidando o populacho, e aceitavam de bom grado a interferência romana (ou seja, das autoridades políticas) em assuntos de fé e no funcionamento do Templo e coisas parecidas. Jesus queria tanto livrar o judaísmo da praga materialista quanto fazer com que religiosos não cuidassem de assuntos políticos, e que os romanos não interferissem em temas de fé, sobretudo a liberdade de crença.
As duas maiores provas disso são quando ele diz: “O meu reino não é deste mundo”, ou seja, quando ele diz que o importante pra religião é conseguir a salvação no reino dos céus, e não na Terra. Por isso, tanto fazia se o infeliz continuasse oprimido e miserável no mundo, desde que seguisse certo a religião e obtivesse a salvação “nos céus”. E quando ele diz “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”, ou seja, política e religião não deviam se misturar nem legislar no campo um do outro, o que faz de Jesus um precursor do Estado laico. Da mesma forma, é uma reiteração de que a religião não devia ser usada com fins de emancipação político-social, muito menos como base pra lutar contra a dominação romana.
Resumindo, o inimigo maior de Jesus não era Roma, como interpretam os comunistas, mas o farisaísmo, ou o que seria um deturpação do “verdadeiro” judaísmo. Ele não queria criar uma nova religião “universal”, baseada na caridade e no internacionalismo, mas falar ao povo judeu pra que despertasse contra essa deturpação, voltar o judaísmo pro seu estado “puro” ou “mais puro”. Por isso mesmo, pra ele tanto fazia se a Palestina estava nas mãos dos romanos ou de outra potência, desde que os religiosos cuidassem de seus próprios assuntos e que os dominadores não se metessem na religião alheia. Por isso também que Jesus não era nenhum “fascista” ou “reaça”, porque no primeiro caso, há no mínimo uma manipulação do clero pra legitimar o poder temporal, e no segundo, ele pensa que sua própria religião deve ser critério pro Estado legislar sobre todo e qualquer cidadão.
Enfim, não sou especialista nem teólogo, mas é o que penso. Em breve, mais informações!
Algumas primeiras reações:
Coisa ridícula ficar rotulando Jesus desse jeito. Ficar se inserindo nesses grupos só faz sentido pra vocês. A grande pegada é que “conservador”, “progressista” ou “revolucionário” não faz sentido naquela época, então as pessoas tentam “puxar” Jesus pro seu grupo, de forma a manipular a história.
Que tara esse povo tem por conservadorismo. Conservadorismo na política é manter as castas e seus privilégios. É obvio que ele não era conservador. Na sua interpretação, seria sim: ele não queria fazer a revolução social, então ficava tudo na mesma. Só ia haver “igualdade” no reino dos céus... mas infelizmente, insistem em interpretar Jesus do ponto de vista econômico e materialista. (E eu adicionaria: “ser contra as castas” faz menos sentido ainda, já que, como apontaram vários críticos do cristianismo, não há, inclusive, nenhuma contestação do escravismo, hoje tão esperada. As cartas de Paulo dizem até que os escravos deviam servir com mais zelo ainda a seus senhores cristãos, pois é como se estivessem servindo ao próprio Deus.)
Partindo desse ponto, a criação do Vaticano seria contraditória? Obviamente. Mas devemos analisar a Igreja posterior pela sua criação e contexto históricos (século 4), e não por uma essência etérea e atemporal.
Tanto que o mesmo concorda com filosofias de grupos rivais do judaísmo, saduceus, fariseus, essênios... Ele reforma algumas leis até. Muita gente, por desconhecer esse fato, ataca os judeus de forma errada, o próprio Jesus de forma errada e posteriormente os cristãos de forma errada. Dizer que “os judeus assassinaram Jesus” é uma falácia. Quem assassinou justamente foi o poder romano, justamente porque ele abalava o domínio religioso dos fariseus, que eram delegados dos romanos, e não temporal, que não lhe interessava. Isso se aceitamos o tal “Jesus histórico”, mas a história que pode ser “real” é muitíssimo mais complicada e não restrita à Bíblia.
Infelizmente muitos judeus o viram como uma espécie de libertador de Israel, mas logo se decepcionaram ao ver que a proposta de Jesus era outra. Anos mais tarde houve a grande rebelião judaica, que em 70 d.C. foi brutalmente esmagada pelo general Tito. Resultado: o templo foi destruído e a partir daí houve uma legião romana permanente na Judeia.
Jesus era: simplesmente Jesus. Não adianta tentar encaixar Jesus num ou noutro rótulo, porque ele pode se encaixar em todos, bem como em nenhum. Jesus pregava simplesmente o amor e nada além disso. Jesus nunca pregou religião alguma (como muita gente pensa), nem nunca defendeu uma religião em detrimento de outra, a mesma coisa com povos. Nunca defendeu que um povo era melhor que o outro. Sempre tratou todos como iguais. Simples assim. Acho que tentar procurar pelo em ovo nessa questão é inventar delírios e devaneios sobre a imagem do mesmo, a fim de satisfazer vantagens ou pensamentos/ideologias pessoais, assim como outros vêm fazendo nos últimos 2019 anos. É incrível, e uma pena, que as pessoas até hoje, dois milênios depois, ainda não conseguem entender a mensagem que aquele homem simples quis nos passar. Isso mostra como a humanidade é ainda muito atrasada moralmente. Acredite, o “Jesus de amor” é uma invenção muito a posteriori. Se a gente ver a letra dos textos (eles mesmos muito parciais, porque se contradizem e não foram os únicos deixados), quem tivesse fora do judaísmo (no caso, o “reformado” por ele) ia mais era se lascar no inferno... O “amor” dele se restringia apenas a quem o aceitava como salvador, e isso fica claro em passagens como “Ninguém vem ao pai senão a mim”. (Mas lembro, claro, que esse “fogo” era reservado à vida celeste, como já falei várias vezes aqui, então o “amor” no plano terrestre é uma interpretação plenamente viável.)