terça-feira, 25 de agosto de 2020

Poporul, Ceaușescu, România (canção)


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Esse é daqueles clássicos que eu conhecia desde bem antes de fundar o blog, quando eu era um simples universitário doido por escutar MP3 com música dos antigos países comunistas. Por isso, mais do que uma simples tradução, foi um sonho enfim transformado em legendagem! Esta canção se chama Poporul, Ceaușescu, România (O povo, Ceaușescu, a Romênia), e era talvez a mais famosa, mesmo no exterior, louvando Nicolae Ceaușescu, ex-ditador comunista da Romênia fuzilado pelo exército após julgamento sumário em 25 de dezembro de 1989.

Ceaușescu nasceu em 1918, quando a Romênia ainda era um reino, e em 1965 sucedeu Gheorghe Gheorghiu-Dej como secretário-geral do Partido Comunista da Romênia (então no poder) após a morte deste. Ele também passou a acumular os cargos de presidente do Conselho de Estado em 1967 e de presidente da Romênia (recém-criado) em 1974. Conhecido pela brutalidade, pela corrupção nepotista e pela miséria na qual deixou seu povo, Ceaușescu estimulou um culto exagerado à sua pessoa e à de sua esposa Elena (nascida em 1916) e deteriorou a diplomacia do país, inclusive com a antiga URSS.

Foi derrubado após o processo conhecido como “revolução romena de 1989”, que explodiu após o massacre de manifestantes pacíficos na cidade de Timișoara (21/12/1989) e o discurso público na capital (Bucareste, 22/12) em que o ditador tentou justificar a repressão. Com a confusão popular após seu comício, o casal Ceaușescu tentou fugir do país, mas foi preso e condenado num julgamento simulado (25/12), após o qual foram fuzilados pelo exército. Teve 3 filhos: Valentin, físico ainda em atividade, Nicu, alcoólatra envolvido no Partido e morto de cirrose, e Zoia, matemática fumante que morreu de câncer no pulmão.

É natural que líderes relevantes, mesmo não autoritários, tenham algum grau de culto por parte da população ou do Estado, mas a bajulação aos Ceaușescu beirava o ridículo, como vemos nesta canção de autoria anônima. Até mesmo Elena, que não completou a escola e só trabalhou como auxiliar de laboratório, chegou a ganhar doutorado honoris causa de Química! Após alguns meses estudando romeno, consegui traduzir a letra, comparando ainda com uma versão em inglês, ambos os textos vindo deste vídeo. Fiz a partir deste, porém, meu vídeo, apenas mudando o áudio, cujo volume aumentei.

O romeno é uma língua românica ou neolatina, como o português, o espanhol, o francês e o italiano. Por isso muitas palavras são parecidas (sobretudo com o italiano, dado o contato constante entre as duas penínsulas), mas é difícil de entender por causa do substrato trácio na sintaxe (comum também ao albanês, búlgaro e, talvez, grego). Como disse com justeza Luciano Maia em seu livro de 2019 sobre o idioma, ele é a verdadeira “última flor do Lácio”, pois tomou sua forma final depois do português. A diferença fundamental para com o dialeto aromeno e o extinto dálmata, falados do outro lado do Danúbio, é que estes tiveram mais influxo itálico, enquanto o isolamento político do romeno fixou os influxos eslavos, húngaros e túrquicos. Curiosidade: até o fim do século 19 foi escrito em cirílico, só então adotando o alfabeto latino, após um renascentismo cultural.

Embora às vezes apareçam com um cedilha embaixo as letras “s” (com som de “ch”) e “t” (com som de “ts”), o padrão é escrever com uma espécie de vírgula, não grudada: “Ș/ș” e “Ț/ț”. Foi nesse espírito que corrigi o texto-base em romeno, além de mudar algumas vogais. Seguem a legendagem, a letra em romeno e a tradução:


Din veacuri a luptat această țară
Și fiii ei de veacuri au visat
Această minunată primăvară
Pe care o trăim inflăcărat.

Noi împlinim tot ce-au visat străbunii
Și ducem mai departe visul lor
Spre frumusețea acestei țări și-a lumii
Spre fericirea acestui drag popor.

Refren (2x):
Poporul, Ceaușescu, România!
Partidul, Ceaușescu, România!

Avem în fruntea noastră un fiu al țării
Cel mai iubit și cel mai ascultat.
Ce-n lume, până-n depărtarea zării
E prețuit de oameni și stimat.

Și-aceste trei cuvinte minunate,
Cuvinte demne ca un tricolor,
Noi le purtăm în inimă săpate,
Spre comunism, spre anii viitori.

(Refren 2x)

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Por séculos este país lutou
E há séculos seus filhos têm sonhado
Com esta primavera maravilhosa
Que estamos vivendo com ardor.

Realizando todos os sonhos ancestrais,
Estamos chegando ainda mais longe
Rumo à beleza deste país e do mundo,
Rumo à felicidade deste povo querido.

Refrão:
O povo, Ceaușescu, a Romênia!
O partido, Ceaușescu, a Romênia!

À nossa frente temos um filho do país,
O mais amado e o mais escutado,
Que no mundo até o fim do horizonte
É valorizado e estimado pelas pessoas.

E essas três palavras maravilhosas,
Dignas de nossa bandeira tricolor,
Nós as levamos gravadas no coração,
Rumo ao comunismo e a anos futuros.

(Refrão 2x)