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Ceaușescu nasceu em 1918, quando a Romênia ainda era um reino, e em 1965 sucedeu Gheorghe Gheorghiu-Dej como secretário-geral do Partido Comunista da Romênia (então no poder) após a morte deste. Ele também passou a acumular os cargos de presidente do Conselho de Estado em 1967 e de presidente da Romênia (recém-criado) em 1974. Conhecido pela brutalidade, pela corrupção nepotista e pela miséria na qual deixou seu povo, Ceaușescu estimulou um culto exagerado à sua pessoa e à de sua esposa Elena (nascida em 1916) e deteriorou a diplomacia do país, inclusive com a antiga URSS.
Foi derrubado após o processo conhecido como “revolução romena de 1989”, que explodiu após o massacre de manifestantes pacíficos na cidade de Timișoara (21/12/1989) e o discurso público na capital (Bucareste, 22/12) em que o ditador tentou justificar a repressão. Com a confusão popular após seu comício, o casal Ceaușescu tentou fugir do país, mas foi preso e condenado num julgamento simulado (25/12), após o qual foram fuzilados pelo exército. Teve 3 filhos: Valentin, físico ainda em atividade, Nicu, alcoólatra envolvido no Partido e morto de cirrose, e Zoia, matemática fumante que morreu de câncer no pulmão.
É natural que líderes relevantes, mesmo não autoritários, tenham algum grau de culto por parte da população ou do Estado, mas a bajulação aos Ceaușescu beirava o ridículo, como vemos nesta canção de autoria anônima. Até mesmo Elena, que não completou a escola e só trabalhou como auxiliar de laboratório, chegou a ganhar doutorado honoris causa de Química! Após alguns meses estudando romeno, consegui traduzir a letra, comparando ainda com uma versão em inglês, ambos os textos vindo deste vídeo. Fiz a partir deste, porém, meu vídeo, apenas mudando o áudio, cujo volume aumentei.
O romeno é uma língua românica ou neolatina, como o português, o espanhol, o francês e o italiano. Por isso muitas palavras são parecidas (sobretudo com o italiano, dado o contato constante entre as duas penínsulas), mas é difícil de entender por causa do substrato trácio na sintaxe (comum também ao albanês, búlgaro e, talvez, grego). Como disse com justeza Luciano Maia em seu livro de 2019 sobre o idioma, ele é a verdadeira “última flor do Lácio”, pois tomou sua forma final depois do português. A diferença fundamental para com o dialeto aromeno e o extinto dálmata, falados do outro lado do Danúbio, é que estes tiveram mais influxo itálico, enquanto o isolamento político do romeno fixou os influxos eslavos, húngaros e túrquicos. Curiosidade: até o fim do século 19 foi escrito em cirílico, só então adotando o alfabeto latino, após um renascentismo cultural.
Embora às vezes apareçam com um cedilha embaixo as letras “s” (com som de “ch”) e “t” (com som de “ts”), o padrão é escrever com uma espécie de vírgula, não grudada: “Ș/ș” e “Ț/ț”. Foi nesse espírito que corrigi o texto-base em romeno, além de mudar algumas vogais. Seguem a legendagem, a letra em romeno e a tradução:
Din veacuri a luptat această țară
Și fiii ei de veacuri au visat Această minunată primăvară Pe care o trăim inflăcărat. Noi împlinim tot ce-au visat străbunii
Refren (2x):
Avem în fruntea noastră un fiu al țării
Și-aceste trei cuvinte minunate,
(Refren 2x) ____________________ Por séculos este país lutou
E há séculos seus filhos têm sonhado Com esta primavera maravilhosa Que estamos vivendo com ardor. Realizando todos os sonhos ancestrais,
Refrão:
À nossa frente temos um filho do país,
E essas três palavras maravilhosas,
(Refrão 2x) |