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O autor da canção é anônimo, mas o primeiro a atestar sua existência foi Ludwig Hörman, que em 1870 a mencionou na revista Zeitschrift des Ferdinandeums für Tirol und Vorarlberg (o alemão sempre foi uma língua influente no norte da Itália). Na província de Trentino, a música já se achava registrada em coletâneas do fim do século, e a seguir entraria em outras coleções e em todos os cancioneiros alpinos. A base linguística do texto é o italiano padrão, mas ele é recheado de elementos da língua lombarda, que também tem substrato gálico e céltico, mas pra muitos é considerada dialeto. A obra não tem relação com nenhuma guerra, mas por ter sido cantada pelos soldados dos Alpes durante a 1.ª Guerra Mundial, ficou famosa em toda a Itália.
A canção também foi gravada por Gigliola Cinquetti em 1972 no álbum Su e giù per le montagne, bem como no álbum de 1974 Topo Gigio a Canzonissima, referente ao famoso ratinho de brinquedo. Na França, a gravação foi realizada pelo grupo Les Compagnons de la chanson, no álbum Nos Jeunes Années de 2005. Embora a música seja conhecida entre os imigrantes italianos de origens diversas, sobretudo vênetos, no Brasil a língua lombarda é preservada em Botuverá – SC, no vale do Itajaí, cidade cujos fundadores vieram, sobretudo, da planície entre Treviglio e Crema, preservando, pois, o falar dessa zona de origem. Como toda canção folclórica, existem inúmeras variações da letra, mas no vídeo pode-se ler a reconstituição que fiz conforme o áudio e a comparação de diversas fontes incluindo traduções em português.
A primeira e principal fonte foi o Wikisource italiano, cujo texto, porém, tem grafias errôneas ou arcaicas. As fontes com traduções mais ou menos corretas em português, mas textos italianos diferentes, são a do site de Jaciano Eccher, especialista no idioma vêneto brasileiro, a do site Músicas Italianas de Giuseppe Ulivi e a do site Vagalume, em que faltam, porém, as duas últimas estrofes. Com a transcrição feita por um museu de cultura regional da província de Trentino, em cuja página há informações adicionais, tive a palavra final, tirando a dúvida, sobretudo, quanto ao verso Ei non è vegnù da me, que sempre vinha como Lui non è vegnù da me, mas que eu não ouvia assim. Ei é uma variante de elli, forma arcaica de egli, por sua vez opção formal de lui.
No fim de tudo, eu sou o responsável pela transcrição final, tradução e montagem. Vejam o vídeo duas vezes, lendo uma legenda a cada vez! A tradução pode não estar correta, mas foi o que compreendi de um gênero textual que não raro se presta à imprecisão e ambiguidade. Seguem abaixo minha legendagem na TV Eslavo (YouTube), o texto em italiano/lombardo e a tradução em português (cada par de versos é cantado duas vezes):
Quel mazzolin di fiori
Che vien dalla montagna, E bada ben che non si bagna, Ché lo voglio regalar. Lo voglio regalare
Stasera quando viene
Non è vegnù da me,
Mi fa piange e sospirare
Dirà che son tradita,
____________________ Aquele buquezinho de flores Que vem da montanha, Cuidado para não o molhar, Pois quero dá-lo de presente. Quero dá-lo de presente
Quando ele vier hoje à noite
Não veio à minha casa,
Me faz chorar e suspirar
Vão dizer que sou azarada,
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