sábado, 2 de março de 2024

Lygia Maria – Lula envergonha o Brasil


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Este artigo de opinião foi escrito por Lygia Maria, mestre em Jornalismo pela UFSC e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, e publicado na Folha de S. Paulo em 25 de fevereiro de 2024. Tendo como título “Lula envergonha o Brasil”, descobri sua existência por meio do Équis, numa conta que compartilhou um print da versão impressa e depois foi comentada pelo jornalista liberal Caio Blinder (o comentário pode ser lido na imagem final, que também copiei). Blinder, aliás, já tá sendo vítima da ex-querda tuiteira admiradora de terroristas, pois ela o acusa de ser “cúmplice do genocídio” que Israel estaria promovendo em Gaza contra os palestinos, enquanto nada em suas falas corrobora essa opinião – aliás, todo fanático inventa falas quando ele não concorda com as opiniões do emissor.

A “lei de Godwin”, em círculos mais eruditos, é uma falácia também conhecida como reductio ad Hitlerum (redução a Hitler), mas o recurso em si é bem mais antigo e pode usar qualquer pessoa que pareça encarnar o mal supremo de uma época. O bizarro é que ao pesquisar, descobri que Godwin faz referências a debates e mensagens trocadas num recurso obsoleto chamado Usernet, uma espécie de pai dos fóruns de discussões nos quais começariam a circular as teorias conspiratórias desaguadas no grupo QAnon. Claro que a lógica também vale e foi multiplicada pelas redes sociais modernas (tanto as 1.0 estilo Orkut quanto as 2.0 estilo Facebook e Instagram e as 2.5 estilo WhatsApp e Telegram e, por que não, as possíveis 3.0 estilo Teco-Teco), mas em 1990 a internet não tinha chegado nem às universidades do Brasil, que foram as primeiras a recebê-la, rs.

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Analogia entre Israel e Hitler é acinte à lógica e à história que serve apenas para incitar polarização e antissemitismo

Se o mundo físico é regido pela lei da gravidade, o mundo virtual segue a lei de Godwin, que postula: “À medida que uma discussão online se alonga, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Adolf Hitler ou os nazistas tende a 100%”.

Essa constante universal da internet, criada como sátira pelo advogado Mike Godwin em 1990, descreve aquele momento lastimável em que um debatedor perde o debate.

Findados os argumentos sensatos para provar determinado ponto, acaba-se descambando em Hitler ou no Holocausto. Trata-se de um desespero retórico que apela a emoções exageradas e ao lugar-comum. Afinal, exceto alguns sociopatas, ninguém gosta de nazismo.

Banal nas redes sociais, tal recurso não é lá muito indicado para figuras de autoridade, principalmente de relevo internacional. Mas o presidente do Brasil resolveu inovar e, durante evento na Etiópia, disse que só há um paralelo na história para o que está acontecendo em Gaza: aquilo que Hitler fez com os judeus.

Lula foi parar na lei de Godwin sem escalas. Poderia ter se saído bem com argumentos legítimos, como comparar aos crimes de guerra ora perpetrados pela Rússia na Ucrânia ou ao genocídio em Ruanda, que ceifou cerca de 800 mil vidas.

Mas nesses casos não agradaria à militância de esquerda, que, com seu antiamericanismo datado, venera a autocracia russa e sonha com a ascensão de um fantasioso “Sul Global”.

O Holocausto foi evento excepcional. Nunca foi criado um aparato de matança em escala industrial que dizimou tanta gente em tão pouco tempo como na Alemanha nazista.

Já Israel foi brutalmente atacado e respondeu. De fato, há ações de seu exército que são bárbaras e condenáveis, com mortes de civis palestinos, inclusive mulheres e crianças.

Mas, para criticar o descalabro em Gaza, não é preciso aviltar a lógica e relativizar o Holocausto só para afagar a militância. Ao cair na lei de Godwin, Lula apenas incita polarização política, antissemitismo e, de lambuja, ainda envergonha o Brasil.



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