sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Memes comunistas ontem e hoje


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Várias vezes publiquei nesta página e no saudoso canal Pan-Eslavo Brasil no YouTube vídeos humorísticos, mais ou menos memes, relacionados aos antigos países comunistas da Europa, incluindo a URSS, e aos comunistas que ainda hoje existem espalhados nos países ditos capitalistas. Como hoje não tenho mais redes sociais nem a aba Comunidade da referida plataforma, não tenho mais onde publicar imagens, memes sem vídeos e outras montagens minhas ou alheias de tom humorístico. Por isso, há algum tempo, decidi também publicar aqui algumas imagens que eu pudesse ter achado engraçadas, ou mesmo montagens de autoria própria e, claro, humor duvidoso, visto que muitas vezes preciso explicar o chiste, como ocorrerá hoje em alguns casos aqui. Divirta-se, se conseguir!


Este é Earl Browder, chefe do Partido Comunista dos Estados Unidos durante vários anos, em especial durante a Segunda Guerra Mundial, quando todos os “partidos irmãos” ao redor do mundo tiveram que se desdobrar pra explicar a aliança entre Hitler e Stalin por ocasião do pacto Molotov-Ribbentrop de não agressão, em agosto de 1939. Estas três imagens foram tiradas do livro Which Side Were You On? The American Communist Party During the Second World War (De que lado você estava? O Partido Comunista Americano durante a Segunda Guerra Mundial), de Maurice Isserman, publicado em 1982 e que emprestei por ocasião de minha pesquisa de doutorado. O conteúdo me pareceu tão intrigante que decidi copiá-lo e reproduzi-lo aqui.

Na legenda abaixo deste Adolfinho Comuna está escrito: “Browder com a manchete de 24 de outubro de 1939 do Daily Worker sobre seu indiciamento por falsificação de passaporte (cortesia da Universidade de Syracuse).”


O Adolfinho com um retrato do Tio Joe em cima, seria a coisa mais cômica do mundo kkkkk. Tradução: “OS IANQUES NÃO ESTÃO VINDO”: slogan do partido durante o período do pacto nazi-soviético. Browder em conferência de imprensa na cidade de Nova York convocada pra explicar o inexplicável a defesa do pacto nazi-soviético pelo Partido Comunista, 23 de agosto de 1939.


Este trecho, então, parece que propositadamente resolveu ir ao encontro de velhos pensamentos meus! Aí vai a tradução:

O epíteto “comunazi”, cunhado por um repórter em setembro de 1939, continha a essência do argumento de que as crenças totalitárias da direita e da esquerda radicais pertenciam a um campo comum. No outono de 1939 e durante todo o ano de 1940, dezenas de organizações e uniões liberais adotaram resoluções sobre “comunazis”, impedindo membros do PC e de grupos fascistas de aderirem ou ocuparem cargos. Mesmo a União Americana pelas Liberdades Civis, que tinha dedicado uma porção considerável de suas energias desde sua fundação pra defender as liberdades civis dos comunistas, adotou uma resolução sobre “comunazis” em fevereiro de 1940, excluindo de seus próprios comitês dirigentes qualquer pessoa pertencente a organizações “que apoiam os governos totalitários da URSS” etc.


Estas são algumas montagens aleatórias com Donald Trump que achei na internet e que unifiquei numa imagem só. Dispensam explicação. A do Biden foi por minha conta, eu mesmo que coloquei ali a cabecinha dele, hehehe.


Este também dispensa explicações (achei em algum lugar por meio do Google):


Em 1948, no auge da vigência de uma linha radicalista no Partido Comunista do Brasil (PCB) e antes que Iosif Stalin caísse em desgraça dentro do próprio governo (mas só após sua morte, claro), alguns militantes de cujo nome não me recordo mais fizeram-lhe uma homenagem peculiar, escrevendo seu sobrenome adotado no alto de um rochedo na cidade do Rio de Janeiro após uma difícil escalada. O episódio se tornou folclórico, e o morro Dois Irmãos foi inclusive apelidado de “Pico Stalin” na época. Consultando no Arquivo Edgard Leuenroth (AEL/Unicamp) uma edição especial de fotos lançada pelo PCB naqueles anos, achei a foto muito por acaso, já tendo sabido pelas redes sociais da existência da façanha. Inclusive, quando eu tinha Facebook, compartilhei a foto com várias pessoas, e elas ficaram felizes de ver essa prova material! Agora, finalmente estou a fixando nesta página, pra consulta permanente.

Agradecendo à equipe do arquivo pela autorização pra reproduzir a foto, segue a legenda que está um tanto pequena no livro: “No 70.º aniversário do generalíssimo Stalin, os brasileiros [na verdade, só o PCB] homenagearam o grande campeão da Paz e da Independência dos povos entre outras maneiras, gravando seu nome glorioso no Pico dos Dois Irmãos, que domina toda a zona sul carioca. A vontade de Paz de nossa gente ficou expressa, mais uma vez, naquele empreendimento arrojado.” Descontamos, claro, que o campeão da paz e da independência dos povos tentou reanexar a Finlândia em 1939 e tomou um pau com o sacrifício de 200 mil soldados, e que durante a 2.ª Guerra Mundial ele deportou em trens populações fronteiriças inteiras, como os chechenos e os tártaros da “tão russa” Crimeia, sob as piores condições imagináveis!



Agora, uma lembrança mais leve do imediato pré-pandemia de covid-19: no fim de janeiro de 2020, quando a pandemia ainda não tinha sido decretada, eu estava fazendo pesquisas de doutorado no mesmo AEL, consultando o Fundo Octávio Brandão, de um dos mais proeminentes, mas marginalizados, intelectuais comunistas brasileiros do século 20. Mentor da linha dominante no PCB durante a década de 1920, suas teses seriam rejeitadas a partir de 1929 e ele não ocuparia mais cargos dirigentes (jamais chegou a ser formalmente expulso), mas em 1931 teve de se exilar na URSS e lá exerceu importantes trabalhos pra Comintern, sobretudo no domínio da propaganda dirigida aos brasileiros. O alagoano de Viçosa só retornaria ao Brasil em 1946, mas jamais voltaria a alcançar posições de destaque no partido, e como revelam suas muitas cartas pessoais guardadas no AEL, terminou sua vida doente e amorosamente decepcionado.

Sempre devo agradecer à equipe do AEL, que é muito minha amiga, por também autorizar a reprodução desta moeda de cinquenta copeques, ou seja, o centavo do rublo russo, que eu achei por acaso nas coisas de Octávio Brandão. Várias vezes a reproduzi também quando tinha redes sociais, e finalmente ela também vai ficar aqui permanentemente agora! Na cara, nós vemos a imagem de Lenin com a sigla russa “SSSR” (URSS) no centro, e na coroa, estão o brasão da URSS com as inscrições “пятьдесят лет Советской власти” (piatdesiát let Sovétskoi vlásti, cinquenta anos do Poder Soviético) acima e “пятьдесят копеек” (piatdesiát kopéiek, cinquenta copeques) abaixo. Raridade dourada!


Esta é uma das minhas criações mais intrigantes, que talvez jamais alguém entenderá sem minhas explicações... Muitos brasileiros conhecem o meme “Boliña (ou Bolínea) de gorfe”, do episódio Bathin’ Buddies do Pica-Pau, em que o pássaro doidão se hospeda numa pensão da morsa Leôncio e não a deixa em paz nem na hora de tomar banho! Ele resolve jogar golfe dentro da casa, e a bolinha vai parar num cano que chega até a banheira do Leôncio. Não preciso explicar de novo, mas o que decidi fazer desta vez foi comparar o bigodão da morsa com o do líder sindicalista Lech Wałęsa, que causou muito barulho na Polônia comunista no início da década de 1980, após fundar o sindicato Solidarność (Solidariedade) e liderar muitas greves.

Boa parte dessa experiência insurrecional pioneira foi sufocada pela lei marcial decretada pelo general do exército Wojciech Jaruzelski, que na prática também tomou o poder e suprimiu as oposições, como o sindicato Solidariedade. Essa década foi bem contraditória, pois apesar da violência estatal, o militar fez as primeiras reformas, antes mesmo da fracassada perestroika soviética, que preparariam a Polônia pra voltar ao livre mercado e evitou uma invasão moscovita durante o período das piores manifestações. Ele também foi eleito indiretamente o primeiro presidente da Polônia desde 1945 (cargo extinto no período comunista) e preparou a transição pra que Wałęsa fosse enfim eleito pelo voto popular e acabasse com o antigo regime.

Embora decepcionasse as expectativas iniciais, foi o sindicalista que venceu na balança da história, e é isso que meu meme mostra. Além do logo do Solidariedade, o Leôncio com o bigode e a cabeleira de Wałęsa está segurando a cabeça de Jaruzelski no lugar da “boliña de gorfe”. A inscrição acima, “Z pola golfowego” (Do campo de golfe), é uma alusão à revista trimestral de história do movimento operário, Z Pola Walki (Do Campo de Batalha), editada pelo departamento de história do Comitê Central do partido único da Polônia comunista e que vi muito citada em artigos acadêmicos durante minha formação superior. Inclusive, tentei imitar a formatação gráfica do título com base em algumas capas que pude achar em buscas no Google, de forma que temos uma zoeira com a derrota do regime pró-URSS usando um meme conhecido entre os brasileiros.

Ou seja, se uma parte só será entendida pelos brasileiros e outra pelos poloneses, ou meu meme ficou extremamente erudito, ou só eu tô achando graça de uma piada que eu mesmo inventei, hehehe.


Este comentário foi feito num dos vídeos do YouTube com o hino do Afeganistão comunista, ou pelo menos filossoviético, que existiu de 1978 a 1992. A canção é bonita, mas foi um período difícil da história do país, pois em seu período republicano ele nunca teve um governo estável, e na guerra civil da década de 1980 os mujahedin religiosos tentaram derrubar o governo a todo custo, com a ajuda dos EUA. Foi então que houve também a intervenção soviética, pra tentar combater os guerrilheiros muçulmanos, mas Moscou finalmente falhou e saiu com muitas perdas humanas e materiais. Não sei se isso é verdade, mas pelo menos perto da tragédia que vivemos hoje, o Afeganistão comunista parecia um pouco melhor, ainda que talvez o comentarista exagere um pouco na disponibilidade de todos esses serviços.

Mesmo assim, ele ironiza a tendência dos EUA durante todo o século 20 a intervir militarmente pra derrubar governos de orientação minimamente social, mas pouco ou nada dóceis a Washington: “Muito obrigado, EUA e Paquistão [berço dos Talibã], por salvarem o povo afegão dos horrores do comunismo, como sistema de saúde e educação gratuitos, direitos das mulheres, liberdade religiosa e direitos pra classe pobre e trabalhadora!”


Marina Ovsiánnikova foi uma repórter do Canal 1, pertencente ao Estado russo, que não se curvou à censura quanto à agressão de Putin à Ucrânia e ousou aparecer no meio de uma das edições ao vivo do jornal segurando um cartaz contra a guerra e as mentiras que estariam sendo contadas naquele veículo. O episódio rodou o planeta e levou à condenação de Ovsiannikova conforme as novas leis bárbaras contra a “difamação das forças armadas”, mas ajudada por seu advogado, ela conseguiu refugiar-se no exterior. Quem mora na cidade de São Paulo, na região ou no litoral, já deve conhecer esta importante mensagem dada pela jornalista: CARLOS ADÃO, hehehe.


Procurem no YouTube: o famoso vídeo de 2012 numa conferência com petistas, quando a filósofa Marilena Chauí, também filiada ao PT, resolve soltar que “odeia a classe média” porque ela é “fascista”, “ignorante, petulante, arrogante”, já que não era “nem patrão, nem operário”, portanto se movia contra a própria proletarização e pela reação política. Na época, ela foi alvo de muitos ataques da mídia cheirosa tradicional, porque supostamente estaria estigmatizando todo um setor da população (justo ela, que também seria classe média, apesar dos altos salários acadêmicos!), e mesmo parte da esquerda ainda hoje a censura por estar “afugentando” possíveis aliados progressistas. Porém, estou convicto de que quem já é fascista, não vai deixar de ser fascista, e se analisarmos estes últimos dez anos, a professora estava mais do que certa, pois a extrema-direita apenas revelou sua verdadeira cara, e não passou a ser após as palavras de Chauí.

Usando o pedaço de uma das fotos que ela tirou na Unicamp por ocasião da recente outorga do título de doutor honoris causa ao Prof. Paulo Sérgio Pinheiro, um dos fundadores do meu IFCH, me permiti homenagear a ela e a seu marido, o Prof. Michael Hall, estudioso do fascismo e que também foi meu mestre, com este singelo e direto meme, hehehe.


E tá aí um provável exemplo dessa classe média que logo se tornaria o “gado arrependido”. Este tuíte de um eleitor desconhecido viralizou logo após a declaração oficial da vitória de Lula nas eleições presidenciais. Realmente, não sei se ele se fez de fake, mas acho bem provável que seja uma pessoa pouco afeita a racionalizar seus pensamentos políticos... Até porque ele jamais deveria acreditar que Bolsonaro não iria errar, sobretudo após a chacina sanitária que foi a lida com o coronavírus. O candidato de 2018 nunca externou um programa claro de governo, apenas canalizou ódios e frustrações em parte da sociedade que jamais aceitou vários tipos de políticas inclusivas. E é exatamente por isso que ele é não só incompetente, mas sádico e violento, e não porque perdeu pro “ex-presidiário” cujo processo foi viciado do começo ao fim. P.S. Preferi publicar um print ao invés de incorporar o tuíte, porque nunca sabemos o que pode acontecer nas contas!