sexta-feira, 17 de agosto de 2018

A natureza pede socorro (poema, 2005)


Link curto para esta postagem: fishuk.cc/natureza




Mais um poema dos muitos meus que vocês já leram, mas este tem uma história peculiar. Originalmente, devia ser a letra de uma canção a ser musicada por uma banda formada por antigos colegas da escola Viverde, em Bragança Paulista. A Viverde, onde estudei de 1994 a 2005 (ou seja, dos 6 aos 17 anos, praticamente toda a escolaridade básica) e que fica muito perto de casa, tem uma proposta ecológica muito interessante incorporada à sua estrutura pedagógica. O casal de mantenedores fundou-a em 1991 num antigo sítio da família, e por isso pudemos aproveitar tudo o que um ambiente assim oferece: ar puro, mata, animais, espaço livre, vizinhança a um ribeirão... O currículo é o mesmo de qualquer colégio tradicional, mas toda a conscientização ambiental e valores afins são incorporados no dia a dia das aulas.

Eu fiz parte da primeira turma da escola, progredindo de série em série até integrarmos a primeira formatura de “terceirão” (2005). Recuando algumas turmas antes da minha, os garotos eram muito talentosos, e vários tocavam instrumentos musicais. Alguns deles, hoje renomados profissionais formados ou até pós-graduados, tinham criado uma banda chamada “Opu_c”, ainda um sucesso na região. Em 2005, não me lembro se pra um evento da escola ou algo parecido, tínhamos combinado meio vagamente de eu fazer a letra de uma canção com tema ecológico, e eles musicarem e tocarem em público (da minha classe, só eu participava). De alguma forma, o poema chegou até eles, mas por razão que desconheço, ele foi negligenciado. Se não me engano, a iniciativa até foi realizada, mas sem minha participação.

O poema “A natureza pede socorro” constituiu, desde então, uma música sem melodia, por assim dizer. O papel com o texto estava guardado havia uns anos, até que em março de 2010, provavelmente por volta do começo das aulas na Unicamp, resolvi publicá-lo em meu antigo blog “Pensadores Libertos”. Eu cursava meu quinto ano da graduação, e as informações que tenho até agora em meu backup são ainda mais reveladoras: eu tinha acabado de voltar pra casa, de uma aula de russo, e elogiava os “velhos amigos e colegas” da Unicamp... Eu estaria então “inspirado para postar coisas antigas”, e então digitei a referida música pela primeira vez, na esperança que alguém se interessasse em compor uma melodia. Infelizmente, alguns meses depois apaguei meu blog, desinteressado em postar coisas novas e em continuar com a mesma proposta crítico-política.

Eu mesmo, exibindo a criação, pedi que relevassem ou porventura corrigissem o “tique parnasiano” típico das minhas poesias, mas hoje penso que o problema pode ser outro: a incerteza da adaptação da letra a qualquer melodia. Pensando que um músico pudesse acertar a situação, não segui métricas rigorosas, embora tentasse equilibrar as sílabas poéticas, mas como apenas no meu pensamento fiz uma “sugestão de melodia”, o texto segue como hipótese não testada. Agora, ao menos, vocês podem lê-lo como um dos muitos frutos de minha educação ecológica!

____________________


Aquela árvore que você está vendo
Na sombra da qual você descansa
Está morrendo aos poucos nas mãos dos homens
Vítima de uma matança.

Ela lhe dá madeira para os seus móveis
E a celulose para fazer papel,
Além da cura para suas doenças,
Mas tratada tão cruel

Queimadas e cortes ilegais
Até nas reservas demarcadas.
Nos tiram o filtro do nosso ar
Em proporções tão desenfreadas.

Belezas já não se encontram mais,
Os bichos já não têm onde morar,
E por lixo são contaminadas.
Será que isso um dia vai parar?

Refrão:
Queremos natureza
Para nossos passeios e canções.
Queremos as paisagens
De presente às futuras gerações.
Queremos rios e matas
Para equilibrar nossos ecossistemas.
Nós não desistiremos
De acabar de uma vez com esses problemas.
Vida para sempre,
Dela somos parte,
Viver é uma ordem,
Preservar é arte!

É hora da conscientização
E fazer das tripas coração.
Usando nossa imaginação
Daremos a nossa proteção.

Quando o útlimo rio apodrecer
E a última mata perecer
Só então é que vamos perceber:
Dinheiro não podemos comer!

(Refrão)