sexta-feira, 6 de julho de 2018

Como pronunciar latim eclesiástico (1)


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Meu antigo canal do YouTube foi focado nos idiomas e países eslavos, mas a variedade de material linguístico foi grande. Desde adolescente, por exemplo, tenho interesse no latim, tanto o usado na Roma Antiga quanto o codificado pela Igreja Católica Romana em séculos de existência. Como ultimamente eu tenho retomado o estudo autodidata da língua, a fim de ajudar uma professora minha que precisa ler uns documentos do século 17, resolvi também carregar algum material informativo, que mate a ocasional curiosidade dos internautas.

Eu não podia deixar, primeiro, de estar ensinando uma das formas de pronunciar o latim mais adotadas por quem o usa correntemente. Entre o clero católico, o modo mais comum de falá-lo é usando a pronúncia baseada na língua italiana, por isso também chamada pronúncia romana. Existem também a chamada pronúncia reconstituída, que é empregada nos cursos universitários de Letras e Linguística e, sendo mais regular, tenta se aproximar ao máximo de como seria falado no século 1 a.C.; e a pronúncia tradicional, que não é nada mais do que falar o latim conforme o sotaque da língua materna do próprio usuário ou estudante, ou seja, português, inglês, espanhol, francês etc.

Como a pronúncia romana é a mais ouvida em rituais católicos, usada tanto pelo papa quanto por cantores sacros, tentei sistematizar suas regras no vídeo abaixo, conforme algumas pesquisas que eu tinha feito meses antes. Não quero dar a palavra final sobre ela, mas acredito que minhas dicas podem guiar vocês de maneira segura, sem muito desvio do que seria esperado nos meios oficiais. Decidi não ensinar a pronúncia reconstituída, porque seu uso é muito restrito, e considero-a artificial demais pra ser falada por pessoas comuns. Queria fazer apenas uma observação: quando escrevemos o AE e o OE como Æ e Œ, também é possível escrevermos AË e OË (hiatos: A-É, O-É) sem o trema. Ou seja, às vezes se escrevem poëta (poeta) e aër (ar) pra se separarem as vogais, mas ao se usarem aquelas ligaturas em outros casos, podem ficar poeta e aer mesmo.

Lembro a vocês que o latim é considerado “língua morta” porque não é mais falado sistematicamente por nenhuma comunidade humana nem consiste no idioma materno de ninguém. É apenas usado na leitura de textos antigos e, mais raramente, na redação de registros textuais marginais. Porém, por conta dos resquícios deixados pelo passado e pelo seu corrente emprego em determinadas áreas do saber, não é considerado língua extinta, senão não teríamos nenhum vestígio dele. Por tudo isso, não se preocupem demais em fazer pronúncia correta, ser mais ou menos sistemáticos, julgar os outros por causa disso etc. Num vídeo em que eu falava em grego antigo, por exemplo, chegou certa hora um moço histérico vociferando contra minha pronúncia, e quando fui argumentar, ele me atacou mais ainda. Não é esse tipo de doido que quero em meu canal!

Neste vídeo, que postei em meados de 2017, eu recitei e coloquei os textos em latim eclesiástico do Pai-Nosso e da Ave-Maria comuns e católicos, usando exatamente as regras agora descritas. Assistindo-lhe, vocês terão a oportunidade de conhecer uma joia religiosa e cultural muito valiosa! Aliás, no futuro eu pretendo recitar também outras orações latinas, e colocar os vídeos e os textos aqui no blog.