domingo, 8 de julho de 2018

Como pronunciar latim eclesiástico (2)


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Uns meses atrás, eu decidi gravar em áudio todos os textos dos livros Gradus Primus e Gradus Secundus, de Paulo Rónai, traduzi-los e postar os vídeos com as ilustrações correspondentes no meu canal Eslavo (YouTube). A essa série chamei Latim Pronunciado, com minha leitura em voz alta das leituras destinadas ao ensino de latim no ginásio (mais ou menos 5.º a 9.º ano atuais) e criadas por volta dos anos 50. Paulo Rónai foi linguista, tradutor, escritor e crítico literário, e nasceu na Hungria antes de se radicar no Brasil.

Uma das críticas feitas por latinistas acadêmicos a esse método é que os textos são muito artificiais e não refletem a realidade romana antiga da língua. Mas eu gosto muito dele porque pra quem não sabe nada, é uma introdução bem didática, e serve ainda muito bem como manual autodidata. Se algum de vocês tiver qualquer dúvida sobre o idioma, pode me perguntar nos comentários ao vídeo.

Como eu disse na postagem anterior, optei por seguir a chamada “pronúncia eclesiástica”, baseada na língua italiana e atualmente usada em larga escala (quando se usa o latim) pela Igreja Católica Romana, porque ela é a mais fácil, menos artificial e não padece da condição de hipótese, tal como a “pronúncia reconstituída”. Estou fazendo esta série por diversão, e pra quem não sabe nada da língua latina, embora não seja propriamente um curso. O latim também foi importante pra evangelização dos eslavos, e pra elaboração cultural feita pelos santos Cirilo e Metódio, codificadores da primeira língua eslava escrita. Além disso, muitos povos eslavos (ocidentais, além de croatas e eslovenos) não vieram à influência ortodoxa de matriz grega.

Seguem abaixo os vídeos das lições de 1 a 10 do Gradus Primus que eu já tinha gravado. Em breve, postarei as outras 10 lições, e depois mais 10, até chegar na lição 30. Vocês lerão também as traduções livres que eu mesmo fiz, já que elas não acompanham os livros:



A MENINA CANTA

A menina canta (ou “está cantando”). A professora educa. A águia voa.

As meninas cantam. As professoras educam. As águias voam.

A aluna pula (A discípula salta). O poeta recita. O agricultor trabalha.

As rãs nadam. As rainhas reinam. Os marinheiros navegam.



A PROFESSORA E AS ALUNAS

Semprônia é professora. Lívia é aluna. As alunas são aplicadas. Júlia e Sílvia também são alunas. Uma boa aluna é sempre aplicada. A professora educa (ensina), as meninas trabalham: Lívia canta, Júlia recita, Sílvia pula. As más alunas não trabalham. A professora é severa.

Conversação:

– Semprônia: Você é aplicada, Lívia?

– Lívia: Sou.

– Semprônia: Vocês são aplicadas, meninas?

– Alunas: Somos.



A SENHORA E AS ESCRAVAS

Lucrécia manda (ordena). Ana, Drusila e Lucila obedecem. Lucrécia é uma senhora. Ana, Drusila e Lucila são escravas.

As escravas gostam da (estimam a) senhora. Hoje Lucrécia aguarda convidados (comensais). Por isso, as escravas estão atentas. Ana prepara o jantar, Lucila decora (orna) a mesa, Drusila vigia (guarda) a porta. A senhora gosta das (estima as) escravas.



A ESCOLA DE SEMPRÔNIA

A escola de Semprônia é famosa. As alunas de Semprônia amam a professora. As alunas aplicadas frequentam assiduamente a escola. A professora muitas vezes narra (conta) fábulas. As fábulas dos poetas agradam às (deleitam as) alunas.

Conversação:

– Lucrécia: Sílvia, você gosta da escola de Semprônia?

– Sílvia: Amo muito.

– Lucrécia: E vocês, meninas, gostam da professora?

– Lívia: Nós também gostamos tanto da professora quanto da escola.

– Lucrécia: Não é uma professora rígida (severa)?

– Júlia: É severa, mas justa.



AS ALUNAS APLICADAS E AS PREGUIÇOSAS

A professora dita sentenças dos poetas às meninas. Depois, as aulas aplicadas recitam as sentenças à professora. As alunas preguiçosas ignoram as sentenças. A professora elogia as aplicadas e castiga as preguiçosas. Semprônia dá (está dando) uma boneca a Sílvia, porque ela trabalha (está trabalhando) assiduamente. As alunas saúdam Semprônia afavelmente.



(AS) DUAS AMIGAS

Sílvia é amiga de Júlia. As amigas sempre estão juntas; juntas trabalham, cantam, riem, jogam (brincam com a) bola. Júlia ama muito a (sua) amiga: Sílvia se alegra muito com a amizade de Júlia. Hoje as amigas estão decorando (ornando) os altares das deusas com rosas.



A PROFESSORA ADVERTE AS MENINAS

Lívia, cale-se! Júlia, trabalhe! Sílvia, seja boa e aplicada! Alunas, frequentem assiduamente a escola, sejam aplicadas, obedeçam às professoras! Deem-me as tabuinhas! Recitem a fábula! Meninas, reguem as plantas com água! Amem os poetas, meditem a história da pátria!

Perto do final do texto, notem a palavra aquā com o mácron (sinal longo) no segundo “a”: ele está aí a diferenciando da palavra aqua com o último “a” curto, que está no nominativo singular. No texto, com a última vogal longa, ela está no ablativo singular, ou seja, não significa simplesmente “(a) água”, mas “com água”, “por meio da água”. Notem também o pronome oblíquo mihi (para mim, a mim, me), dativo de ego (eu), sendo pronunciado “míqui”, e não “mírri” ou “míi”.



A PROFESSORA LÊ SENTENÇAS PARA AS MENINAS

Semprônia está lendo as belas sentenças dos poetas para as meninas. As meninas copiam e aprendem as sentenças. Eis as sentenças:

1. Não aprendemos para a escola, mas para a vida.

2. A história é a mestra da vida.

3. A águia não captura moscas.

4. É melhor receber do que cometer uma ofensa (É melhor ser ofendido do que ofender).

As sentenças dos poetas agradam às meninas.



A VIDA DOS AGRICULTORES

Os agricultores sempre vivem ao ar livre. Dormem pouco e se levantam cedo. Aram a terra e regam as plantas com água. Ouvem os passarinhos e se alegram com a sombra das árvores. A laboriosidade dos agricultores nutre a pátria. Os poetas louvam a vida dos agricultores.



SOBRE A ARANHA E A MOSCA

A aranha mora sobre a janela. Ela tece uma teia e espera o jantar.

Da rua, uma pequena mosca entra voando pela janela. Enquanto examina (ou “Ao examinar”) o belo tecido, subitamente cai na teia.

A aranha acorre e agarra o inseto curioso.

Por causa da imprudência, a mosca perde a vida.