Link curto para esta postagem: fishuk.cc/fale-latim2

Uma das críticas feitas por latinistas acadêmicos a esse método é que os textos são muito artificiais e não refletem a realidade romana antiga da língua. Mas eu gosto muito dele porque pra quem não sabe nada, é uma introdução bem didática, e serve ainda muito bem como manual autodidata. Se algum de vocês tiver qualquer dúvida sobre o idioma, pode me perguntar nos comentários ao vídeo.
Como eu disse na postagem anterior, optei por seguir a chamada “pronúncia eclesiástica”, baseada na língua italiana e atualmente usada em larga escala (quando se usa o latim) pela Igreja Católica Romana, porque ela é a mais fácil, menos artificial e não padece da condição de hipótese, tal como a “pronúncia reconstituída”. Estou fazendo esta série por diversão, e pra quem não sabe nada da língua latina, embora não seja propriamente um curso. O latim também foi importante pra evangelização dos eslavos, e pra elaboração cultural feita pelos santos Cirilo e Metódio, codificadores da primeira língua eslava escrita. Além disso, muitos povos eslavos (ocidentais, além de croatas e eslovenos) não vieram à influência ortodoxa de matriz grega.
Seguem abaixo os vídeos das lições de 1 a 10 do Gradus Primus que eu já tinha gravado. Em breve, postarei as outras 10 lições, e depois mais 10, até chegar na lição 30. Vocês lerão também as traduções livres que eu mesmo fiz, já que elas não acompanham os livros:
A MENINA CANTA
A menina canta (ou “está cantando”). A professora educa. A águia voa.
As meninas cantam. As professoras educam. As águias voam.
A aluna pula (A discípula salta). O poeta recita. O agricultor trabalha.
As rãs nadam. As rainhas reinam. Os marinheiros navegam.
A PROFESSORA E AS ALUNAS
Semprônia é professora. Lívia é aluna. As alunas são aplicadas. Júlia e Sílvia também são alunas. Uma boa aluna é sempre aplicada. A professora educa (ensina), as meninas trabalham: Lívia canta, Júlia recita, Sílvia pula. As más alunas não trabalham. A professora é severa.
Conversação:
– Semprônia: Você é aplicada, Lívia?
– Lívia: Sou.
– Semprônia: Vocês são aplicadas, meninas?
– Alunas: Somos.
A SENHORA E AS ESCRAVAS
Lucrécia manda (ordena). Ana, Drusila e Lucila obedecem. Lucrécia é uma senhora. Ana, Drusila e Lucila são escravas.
As escravas gostam da (estimam a) senhora. Hoje Lucrécia aguarda convidados (comensais). Por isso, as escravas estão atentas. Ana prepara o jantar, Lucila decora (orna) a mesa, Drusila vigia (guarda) a porta. A senhora gosta das (estima as) escravas.
A ESCOLA DE SEMPRÔNIA
A escola de Semprônia é famosa. As alunas de Semprônia amam a professora. As alunas aplicadas frequentam assiduamente a escola. A professora muitas vezes narra (conta) fábulas. As fábulas dos poetas agradam às (deleitam as) alunas.
Conversação:
– Lucrécia: Sílvia, você gosta da escola de Semprônia?
– Sílvia: Amo muito.
– Lucrécia: E vocês, meninas, gostam da professora?
– Lívia: Nós também gostamos tanto da professora quanto da escola.
– Lucrécia: Não é uma professora rígida (severa)?
– Júlia: É severa, mas justa.
AS ALUNAS APLICADAS E AS PREGUIÇOSAS
A professora dita sentenças dos poetas às meninas. Depois, as aulas aplicadas recitam as sentenças à professora. As alunas preguiçosas ignoram as sentenças. A professora elogia as aplicadas e castiga as preguiçosas. Semprônia dá (está dando) uma boneca a Sílvia, porque ela trabalha (está trabalhando) assiduamente. As alunas saúdam Semprônia afavelmente.
(AS) DUAS AMIGAS
Sílvia é amiga de Júlia. As amigas sempre estão juntas; juntas trabalham, cantam, riem, jogam (brincam com a) bola. Júlia ama muito a (sua) amiga: Sílvia se alegra muito com a amizade de Júlia. Hoje as amigas estão decorando (ornando) os altares das deusas com rosas.
A PROFESSORA ADVERTE AS MENINAS
Lívia, cale-se! Júlia, trabalhe! Sílvia, seja boa e aplicada! Alunas, frequentem assiduamente a escola, sejam aplicadas, obedeçam às professoras! Deem-me as tabuinhas! Recitem a fábula! Meninas, reguem as plantas com água! Amem os poetas, meditem a história da pátria!
Perto do final do texto, notem a palavra aquā com o mácron (sinal longo) no segundo “a”: ele está aí a diferenciando da palavra aqua com o último “a” curto, que está no nominativo singular. No texto, com a última vogal longa, ela está no ablativo singular, ou seja, não significa simplesmente “(a) água”, mas “com água”, “por meio da água”. Notem também o pronome oblíquo mihi (para mim, a mim, me), dativo de ego (eu), sendo pronunciado “míqui”, e não “mírri” ou “míi”.
A PROFESSORA LÊ SENTENÇAS PARA AS MENINAS
Semprônia está lendo as belas sentenças dos poetas para as meninas. As meninas copiam e aprendem as sentenças. Eis as sentenças:
1. Não aprendemos para a escola, mas para a vida.
2. A história é a mestra da vida.
3. A águia não captura moscas.
4. É melhor receber do que cometer uma ofensa (É melhor ser ofendido do que ofender).
As sentenças dos poetas agradam às meninas.
A VIDA DOS AGRICULTORES
Os agricultores sempre vivem ao ar livre. Dormem pouco e se levantam cedo. Aram a terra e regam as plantas com água. Ouvem os passarinhos e se alegram com a sombra das árvores. A laboriosidade dos agricultores nutre a pátria. Os poetas louvam a vida dos agricultores.
SOBRE A ARANHA E A MOSCA
A aranha mora sobre a janela. Ela tece uma teia e espera o jantar.
Da rua, uma pequena mosca entra voando pela janela. Enquanto examina (ou “Ao examinar”) o belo tecido, subitamente cai na teia.
A aranha acorre e agarra o inseto curioso.
Por causa da imprudência, a mosca perde a vida.