domingo, 12 de março de 2023

“A Rianxeira”, canto folclórico galego


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Esta linda canção dedicada à Nossa Senhora de Guadalupe se chama A Rianxeira, também conhecida como Ondiñas veñen e van (Ondinhas vêm e vão) e é cantada em galego, idioma mais próximo do português que se conhece, porque é típica da Comunidade Autônoma da Galiza (Galicia), a região mais pobre do Reino da Espanha e mais localizada a noroeste. Também é a região mais céltica da Espanha, por isso essa batida parece música irlandesa, mas é um símbolo, sobretudo, dos imigrantes galegos (diáspora) que vivem em outras partes do mundo. Vejam na imagem como ela parece a Nossa Senhora de Aparecida!

Em Buenos Aires (há grande imigração galega na Argentina), em 1947, a letra foi composta por Xesús Freiro Dourado, mais conhecido como Pinciñas, e a melodia, por Anxo Romero Loxo, tendo como título inicial Ondiñas da nosa ría (Ondinhas de nossa ria, isto é, uma baía, estuário ou foz típica da península Ibérica). Em 1948 foi apresentada em público pela primeira vez pelo Coro Castelao, na mesma cidade, mas sua estreia oficial foi em 1950. Há muitas variações do texto, mas sua inspiração remonta ao século 19, nas variantes de cantos tradicionais das procissões em louvor à Virgem de Guadalupe, padroeira da cidade de Rianxo (em espanhol, Rianjo), no litoral da Galiza.

Mesmo dedicada à Virgem Maria, mãe de Jesus segundo a tradição católica, a letra não tem alusões religiosas, usando antes a figura da Nossa Senhora pra aludir à mulher galega que trabalha no mar. Na verdade, a intenção realmente inicial da letra era elogiar a beleza dessas mulheres, como se escuta na primeira gravação. Por causa do rádio, A Rianxeira passou os limites da imigração galega e chegou aos moradores nativos da Galiza, que abraçaram a versão chamada de “popular” pelo canal que fez a montagem original (e que mostra as licenças de uso). Esta também é a letra que aparece na Wikipédia em galego, de onde tirei as informações acima.

Vários artistas famosos regravaram a música, entre eles a genial Ana Kiro, falecida em 2010. Além de ser praticamente um “hino” dos galegos, também tem sido cantada desde os anos 90 em muitas partidas em estádios de futebol pelas torcidas locais. Confesso que embora o galego seja muito parecido com o português, utilizei a única tradução estrangeira disponível (na Wikipédia francesa) pra ter certeza do significado de certas palavras ditas “transparentes”. Há inclusive o verbo marearse (marear), que é “ficar enjoado numa embarcação por causa do balanço do mar”, de onde vem também a expressão francesa mal de mer (enjoo no geral). A legenda é bilíngue (eu só inseri o texto em português), mas o original galego também segue abaixo, sendo cada 2 versos repetidos nas estrofes:


1) A virxe de Guadalupe
Cando veu para Rianxo,
O barquiño que a trouxo
Era de pau de laranxo.

Refrão (2x):
Ondiñas veñen, ondiñas veñen,
Ondiñas veñen e van.
Non te embarques, rianxeira,
Que te vas a marear.

2) A virxe de Guadalupe
Cando vai pola ribeira,
Descalciña pola area
Parece unha rianxeira.

(Refrão 2x)

3) Á virxe de Guadalupe
Quen a puxo moreniña?
Foi a raíña de sol
Que entrou pola ventaniña.

(Refrão 2x)


Descobri por acaso este episódio documental, contando a história da composição de A Rianxeira e da imigração galega na Argentina. Há uma versão disponível no YouTube, mas ela está em formato quadrado e com menor qualidade. A Televisão da Galiza tem um programa chamado No bico un cantar, que conta detalhes da trajetória de um cantor ou da história social de uma dada região partindo de uma canção específica desse artista. Este episódio foi o inaugural do programa e data de 1.º de janeiro de 2013.

Não legendei, porque ou você pode entender com algum esforço, ou pode fazê-lo após se acostumar com a sonoridade do idioma. Divirta-se, e acesse também a versão no site da TVG, pra prestigiar o trabalho dessa cultura regional!