Esta linda canção em latim é o Hino Nacional da Cidade do Vaticano, utilizado até hoje de forma oficial, e se denomina em italiano Inno e Marcia Pontificale (Hino e Marcha Pontifícia). Embora se chame “marcha”, o áudio desta versão traz um arranjo com órgãos e um coro que parece de igreja. O próprio Vaticano também não gosta da definição “hino nacional”, pois ela seria muito limitativa, enquanto devia ser um símbolo transnacional de todos os que reconhecessem o Bispo de Roma como líder supremo da Igreja Católica. A melodia foi composta em 1869 por Charles Gounod e a letra em latim abaixo, ao que parece, é de Antonio Allegra, que também escreveu em 1949 o texto oficial em italiano. Há também outro texto latino de Raffaello Lavagna, que é o usado como oficial, composto somente nos anos 90.
Em 1857, os Estados Papais (que deixaram de existir em 1870, com a unificação italiana) adotaram pela primeira vez um hino nacional, a Gran Marcia Trionfale (Grande Marcha Triunfal), do austríaco Viktorin Hallmayer e depois renomeada Hino Pontifício. Em 1869, o compositor francês Charles Gounod enviou à Santa Sé de Roma uma solene e pomposa marcha, em homenagem ao jubileu do sacerdócio do papa Pio 9.º. O pontífice chegou a cogitar a adoção da melodia como hino nacional, mas a tomada de Roma pelo exército italiano, extinguindo os Estados Papais, sufocou o projeto. Em 1929, quando a Cidade-Estado do Vaticano surgiu após o Tratado de Latrão, os antigos símbolos nacionais, como a bandeira e o hino (a Gran Marcia Trionfale), foram retomados. Algumas fontes citam o hino litúrgico Noi vogliam Dio, Vergine Maria (Queremos Deus, Virgem Maria) como antecessor da Grande Marcha e como tendo sido retomado em 1929. Mas embora sua autoria seja desconhecida, essa atribuição é anacrônica, já que se costuma datar sua origem entre o fim do século 19 e o começo do 20.
Mais tarde, tendo em vista o ano do jubileu de 1950, o papa Pio 12 decidiu retomar a melodia de Gounod como hino nacional, que foi executado pela primeira vez na sua presença em 24 de dezembro de 1949 e renomeado na ocasião como Inno e Marcia Pontificale. No Ano Novo seguinte, ganhando letra em latim e em italiano do bispo Allegra, então organista da Basílica de São Pedro, tornou-se oficialmente o hino por decreto papal. Contudo, essa versão latina, que estou na dúvida se é a apresentada no vídeo (e cujo texto copiei da Wikipédia em italiano), nunca foi ratificada, e apenas no início dos anos 90 o cônego Lavagna fez o poema em latim pra ser cantado por pessoas de outros países. Em 1991 Lavagna apresentou privadamente o texto ao papa João Paulo 2.º, e a primeira execução pública na Sala Paulo 6.º, em 1993, marcou sua adoção oficial. A tradução mais conhecida em português (a partir do italiano) foi feita pelo monge beneditino brasileiro Marcos Barbosa (“Ó Roma eterna, dos Mártires, dos Santos,/Ó Roma eterna, acolhe os nossos cantos!...”).
Na Wikipédia em latim, o nome do hino do Vaticano é referido como Hymnus et modus militaris Pontificalis. Junto com o hino de Israel, composto em hebraico, é o único hino nacional da atualidade cantado numa língua da Antiguidade. Eu mesmo traduzi direto do latim, e legendei esta montagem do famoso canal DeroVolk, tirando apenas a curta vinheta de abertura. Seguem abaixo as legendas, a letra em latim, a tradução em português e, como um bônus, uma transliteração do latim em alfabeto cirílico russo, num sistema que eu mesmo inventei:
O felix Roma, O felix Roma nobilis.
Pontifex tecum erimus omnes nos
Pontifex fundamentum ac robur nostrum,
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Pontífice, estaremos todos contigo,
Pontífice, és nossa força e fundamento,
2x:
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Понтифекс текум эримус омнес нос
Понтифекс фундаментум ак робур нострум,
2x:
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