quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Discurso de Stalin “Dá prazer e alegria”


Link curto para esta postagem: fishuk.cc/stalin-prazer


Este pequeno trecho de discurso é o subproduto de uma cinecrônica soviética completa, que legendei há alguns dias na íntegra e postei no meu antigo canal do YouTube e trata de fatos da era Iosif Stalin entre 1936 e 1939. Certa vez eu escrevi aqui que tinha acabado todos os discursos ao vivo do líder, mas pro “prazer e alegria” de vocês, achei mais este trecho que separei do vídeo completo do cinejornal. Trata-se da finalização de um longo discurso pronunciado na abertura do 8.º Congresso Nacional Extraordinário dos Sovietes, ocorrido em Moscou de 25 de novembro a 5 de dezembro de 1936, quando o domínio de Stalin chegava ao ápice.

A piada é pronta pros brasileiros de mente maldosa: mais uma vez, o Guia Genial dos Povos aparece molhando a goela com um refresco não identificado. Afinal, nenhum filho de Deus aguenta fazer discursos quilométricos sem refrescar a boca! Aos que já vêm pensando bobagem, acredito há muito tempo ser a famosa tubaína do interior de São Paulo, também conhecida por uma de suas marcas registradas, Turbaína, meio que uma mistura enjoativa de guaraná com essência de tutti-frutti. É costume dizer que os manifestantes pró-Lula só vão às caravanas “ganhando transporte gratuito, sanduíche de mortadela e turbaína vagabunda”. Será que Stalin foi o precursor dessa prática?

Além da brincadeira com a tubaína, joguei também com a tradução que fiz da expressão russa “приятно и радостно” (priatno i radostno), que Stalin usa duas vezes. Os dois advérbios vêm dos adjetivos que significam respectivamente “prazeroso” ou “agradável”, e “alegre” ou “feliz”, e são usados porque qualificam um verbo. Ficaria pesado (e até incorreto em português) traduzir como “prazerosa e alegremente”, e não soaria bonito começar as frases com “É prazeroso e alegre”. Por isso, pra unir com algum sentido as duas ideias em português, usei a expressão “Dá prazer e alegria”. Ou seja, se tivermos um pouco de criatividade, e boa dose de irreverência política, ela dá um sabor todo especial dentro do contexto político que a URSS vivia então! Sei que muitos não gostam dessa zoeira no material histórico (coxinhas de esquerda...), mas eu não resisto, porque ela jamais o inutiliza.

A transcrição completa do discurso em russo sairia no órgão oficial Pravda um dia depois, hoje integrando as Obras Completas de Stalin (Moscou, Pisatel, 1997), v. 14, pp. 119-147. Nesta página vocês podem assistir à cinecrônica completa sem legendas, começando a fala do líder aos 2min2seg. Seguem abaixo o trecho legendado do discurso, o texto dele em russo e a tradução em português. Nas legendas, encurtei um pouquinho pra facilitar a leitura, e em comparação com o vídeo, no livro aparece escrito “что она дала” ao invés de “а дала”, e “завоевания” ao invés de “достижения”:


(На Чрезвычайном VIII Всесоюзном Съезде Советов 25 ноября 1936 г.)

В результате пройденного пути борьбы и лишений приятно и радостно иметь свою Конституцию, трактующую о плодах наших побед. Приятно и радостно знать, за что бились наши люди и как они добились всемирно-исторической победы. Приятно и радостно знать, что кровь, обильно пролитая нашими людьми, не прошла даром, а [что она] дала свои результаты. Это вооружает духовно наш рабочий класс, наше крестьянство, нашу трудовую интеллигенцию. Это двигает вперёд и поднимает чувство законной гордости. Это укрепляет веру в свои силы и мобилизует на новую борьбу для достижения [завоевания] новых побед коммунизма.


(No 8.º Congresso Nacional Extraordinário dos Sovietes, 25 de novembro de 1936)

Após percorrermos a via de lutas e privações, dá prazer e alegria ter a própria Constituição narrando os frutos de nossas vitórias. Dá prazer e alegria saber pelo que lutou nossa gente e como chegou à vitória de alcance histórico mundial. Dá prazer e alegria saber que o sangue vertido aos litros por nossa gente não foi em vão, mas [que ele] deu resultados. Isso aumenta o ânimo de nossa classe operária, nosso campesinato e nossos proletários intelectuais. Isso promove e eleva o sentimento de legítimo orgulho. Isso reforça a fé nas próprias forças e mobiliza para novas lutas visando a mais vitórias do comunismo.