O Secretário-Geral do Hezbollah, Sayyid Hasan Nasrullah, fez um raro discurso transmitido em telões por todo o Líbano, saudando o povo palestino em Gaza. A expectativa nos analistas geopolíticos era alta, pois como líder supremo do partido e do grupo armado no sul do Líbano, se esperava que ele fosse decretar beligerância total contra as tropas de Israel concentradas no norte deste país. Não foi o que aconteceu, apenas disse que “todas as possibilidades estão abertas”. Cão que ladra, não morde. Mas segue o documento histórico, que procurei o mais rapidamente possível, com a ajuda do Google, traduzir do original árabe, apenas tirando as interrupções na fala (“ele disse”, “ele reforçou”, “ele concluiu”) que infestavam o texto. Também adequei a meu próprio estilo e deixei com cara de algo em português. A Agência Al-Manar, pertencente ao Hezbollah, também lançou a versão em inglês com que você pode confrontar a minha.
Também é comum se escrever Hassan Nasrallah, mas prefiro a versão mais próxima do árabe formal falado.
Todos saúdam o povo lendário que não tem igual neste mundo, o povo de Gaza e seu povo, que vimos como o homem, a mulher e também a criança saíram dos escombros para dizer que tudo o que deram foi um sacrifício pela Palestina, por Al-Aqsa e pela resistência. As línguas não conseguem expressar a grandeza, o poder, a fé, a firmeza e a paciência desse povo, bem como a firmeza e a paciência que estamos testemunhando na Cisjordânia e em todas as arenas. Estendemos nossa saudação a todos os que apoiaram e apoiam em todos os países do mundo, e saudamos especialmente as armas iraquianas e iemenitas que entraram no coração dessa batalha abençoada.
O sofrimento do povo palestiniano é conhecido de todo o mundo há 70 anos, mas ao longo dos últimos anos, as condições infligidas por esse governo israelense extremista e injusto se tornaram mais graves, especialmente a questão dos prisioneiros, o aumento de seu número, e as restrições impostas a eles e a suas famílias, o que tornou a questão humanitária muito precária. A segunda questão, a Mesquita de Al-Aqsa, e o que foi inflingido a ela, especialmente nas últimas semanas, não teve precedentes desde a ocupação de Jerusalém. O terceiro problema são as difíceis condições de vida da população de Gaza, que está sitiada sem que ninguém faça nada. O quarto problema é a Cisjordânia ocupada, com o aumento das ações dos colonos, assassinatos, detenções diárias e demolição de casas por esse injusto governo israelense. Todos esses problemas eram prementes, sem que ninguém nesse mundo tomasse medidas, e a política do inimigo aumentava em opressão, injustiça e humilhação. Portanto, era necessário um grande evento pra abalar a entidade usurpadora e todos os seus apoiadores, especialmente em Washington e Londres, revelar esses problemas ao mundo e reapresentar a questão palestina como uma primeira questão no mundo.
O acontecimento foi uma grande operação jihadista de 7 de outubro, ou seja, a Operação Dilúvio em Al-Aqsa, que foi levada a cabo pelas Brigadas Al-Qassam, na qual participaram as restantes facções da resistência em Gaza. Esta operação foi 100% palestina na decisão e implementação. Seus proprietários a esconderam de todos, até mesmo das facções da resistência em Gaza e do eixo da resistência, e esse sigilo absoluto garantiu o sucesso retumbante da operação. Esse sigilo não incomodou ninguém do eixo de resistência, mas antes o encorajou porque era condição básica pro sucesso da operação, e essa atuação dos irmãos do Hamas confirmou a verdadeira identidade da batalha e bloqueou o caminho pra que os inimigos e hipócritas falsificassem e distorcessem a realidade da relação da resistência na região. Essa batalha se prova inteiramente palestina e em prol da Palestina, de seus problemas e de seu povo, e nada tem a ver com nenhum problema na região. Confirma a credibilidade de tudo o que temos dito ao longo dos últimos anos que a decisão é feita pelos movimentos de resistência.
Essas conquistas, resultados e repercussões merecem todos esses sacrifícios porque estabeleceram uma nova fase histórica no destino do povo palestino e no destino dos povos e países da região. A Operação Dilúvio em Al-Aqsa e o fato de ninguém saber dela provam que essa batalha é inteiramente palestina, em prol do povo da Palestina e de seus problemas, e não tem nada a ver com qualquer processo regional ou internacional. O que aconteceu na Operação Dilúvio em Al-Aqsa confirma que o Irã não exerce qualquer tutela sobre as facções da resistência e que os verdadeiros tomadores de decisões são os líderes da resistência e seus guerrilheiros.
A grande Operação Dilúvio em Al-Aqsa provocou um terremoto nas bases da entidade sionista [o Estado de Israel], que tem repercussões existenciais e estratégicas e vai deixar seus efeitos no presente e no futuro dessa entidade. A coisa mais importante que a operação fez foi revelar fragilidade e fraqueza, e que Israel é de fato mais fraco do que uma teia de aranha. Não importa o que o governo inimigo faça, não vai ser capaz de mudar os efeitos da Operação Dilúvio em Al-Aqsa nessa entidade e em seu futuro.
Essas conquistas, resultados e repercussões merecem todos esses sacrifícios, porque estabeleceram uma nova fase histórica no destino do povo palestino e no destino dos povos e países da região. A outra opção significa silêncio e espera. Portanto, essa escolha foi correta, corajosa e exigida no momento certo.
A administração americana, com seu presidente, ministros e generais, correu pra socorrer essa entidade, que tremia e tremia, para que recuperasse alguma consciência e se levantasse novamente, e ainda não conseguiu recuperar a iniciativa. Essa rapidez americana em abraçar e apoiar Israel revelou a fraqueza, a fraqueza dessa entidade. Generais americanos chegam à entidade e abrem armazéns americanos pro exército israelense. Desde o primeiro dia, Israel pediu 10 bilhões de dólares. É esse um país forte que tem a capacidade de se manter em pé?
Ficou claro desde as primeiras horas da Operação Dilúvio em Al-Aqsa que o inimigo estava perdido. Face a Gaza e ao terrível incidente a que o inimigo foi exposto, parece que os governos inimigos não estão se beneficiando de forma alguma de suas experiências, e o que está acontecendo hoje já aconteceu antes no Líbano, em 2006, e em repetidas guerras em Gaza com uma diferença quantitativa e qualitativa, mas da mesma natureza.
Um dos erros mais importantes que os sionistas cometeram e ainda cometem é estabelecer metas elevadas que não podem alcançar ou realizar. Em 2006, estabeleceram o objetivo de esmagar a resistência no Líbano e recuperar os dois prisioneiros sem negociação ou troca. Durante 33 dias, não alcançaram seus objetivos. Hoje, a situação em Gaza é a mesma, mas com escalada de crimes e massacres. O que os israelenses estão fazendo é matar pessoas em Gaza. A maioria dos mártires são crianças e mulheres, civis. Não há santidade em nada, pois os israelenses estão destruindo bairros inteiros.
Todos testemunhamos em primeira mão o heroísmo dos combatentes da resistência em Gaza. Quando a resistência avançar e colocar a bomba na escotilha do tanque, como o inimigo israelense vai lidar com combatentes desse tipo? As cenas que chegam todos os dias e horas de Gaza dizem a esses sionistas, as cenas de homens, mulheres e crianças emergindo dos escombros, gritando em apoio à resistência, que através de matanças e massacres não vão conseguir alcançar nenhum resultado. Os mártires de Gaza, suas crianças e mulheres derrubam todas essas máscaras falsas com que os meios de comunicação globais e internacionais contribuíram pra cobrir essa entidade.
O que está acontecendo em Gaza revela a responsabilidade direta dos EUA por toda essa matança e hipocrisia estadunidense. O que está acontecendo em Gaza reflete a natureza brutal e bárbara da entidade usurpadora que plantaram em nossa região. As cenas de massacres provenientes da Faixa de Gaza dizem a esses sionistas que o fim da batalha vai ser a vitória de Gaza e a derrota do inimigo. Os EUA são inteiramente responsáveis pela guerra em curso em Gaza e Israel é uma ferramenta. Os EUA são quem impede o fim da agressão contra Gaza e rejeita qualquer decisão de cessar-fogo. São os EUA quem dirige a guerra em Gaza. Portanto, a decisão da Resistência Islâmica no Iraque de atacar as bases de ocupação americanas no Iraque e na Síria foi uma decisão sábia e corajosa.
É dever de cada pessoa livre e honrada nesse mundo, na batalha da opinião pública, esclarecer esses fatos de que falamos. A opinião pública internacional começou a se virar contra esses tiranos criminosos que matam crianças e mulheres, a opinião pública internacional está vendo isso. Cada um deve assumir sua responsabilidade.
O inimigo está se afogando nas areias de Gaza, mas está fortalecendo e ameaçando o povo libanês com o sangue de crianças e mulheres em Gaza e nas mesquitas e igrejas de Gaza. A vitória em Gaza é um interesse nacional egípcio, jordaniano, sírio e, acima de tudo, um interesse nacional libanês. A vitória de Gaza significa a vitória do povo palestino, a vitória dos prisioneiros na Palestina e de toda a Palestina, de Jerusalém, da Igreja do Santo Sepulcro e dos povos da região, especialmente dos países vizinhos. No ano de 1948, quando o mundo abandonou o povo palestino, essa entidade [Israel] foi criada e o povo palestino e todos os povos da região pagaram as consequências e efeitos desse estabelecimento. O Líbano foi um dos países que mais sofreu com a presença dessa entidade usurpadora.
Há dois objetivos que devem ser trabalhados: parar a agressão contra Gaza e fazer com que o Hamas seja vitorioso em Gaza. O que acontece depois da Operação Dilúvio em Al-Aqsa não é o mesmo de antes, e é isso que exige que todos assumam a responsabilidade. É preciso trabalhar pra parar a agressão contra Gaza. Não basta denunciar, mas sim romper relações e retirar embaixadores. Infelizmente, o discurso no passado foi o de cortar o petróleo dos EUA, e hoje exigimos que as exportações pra Israel sejam interrompidas. Vocês [países árabes] não têm forças pra abrir a passagem de Rafah?
Estamos na batalha desde 8 de outubro. O que se passa na fronteira com a Palestina ocupada é único do gênero na história da entidade [Israel], seja através de ataques a marchas, veículos, soldados e suas aglomerações, equipamento técnico e armas diversas. 8 de outubro, uma verdadeira batalha diferente de todas as batalhas que se travaram anteriormente, diferente em todas as suas circunstâncias, tipo e procedimentos, em seus alvos e, portanto, neste grupo de bravos mártires que avançam nas primeiras filas. Essas operações foram pela resistência e pelos mártires que ela proporcionou. Na fronteira, no sábado, 7 de outubro, o inimigo começou a retirar seus soldados da fronteira com o Líbano em direção à Faixa de Gaza sitiada. Ele também convocou reservistas, e as operações que começou e depois aumentou forçou o inimigo a manter suas forças e adicionar forças a elas, e algumas forças. A elite que ele queria transferir da Cisjordânia pra Gaza o trouxe para as fronteiras do Líbano, e assim essas operações aliviaram essas forças de Gaza e os atraiu pra cá. Há quem diga que estamos correndo um risco, mas é uma aventura útil e que tem seus próprios cálculos.
Hoje, a frente libanesa conseguiu atrair um terço do exército israelense pras fronteiras libanesas, e uma parte importante dele é constituída por forças de elite e regulares. Metade das capacidades navais de Israel estão hoje voltadas pro Líbano e Haifa. Metade da defesa antimísseis de Israel está direcionada pro Líbano. Esses são alguns dos frutos diretos da batalha em nossas fronteiras. As operações levaram ao deslocamento de dezenas de milhares de assentamentos e à evacuação de dezenas de milhares no norte, e também em frente a Gaza, 58 assentamentos foram evacuados. Tudo isso constitui uma pressão psicológica, organizativa, econômica e financeira.
Essas operações na fronteira e nas Quintas Shebaa criaram um estado de pânico e ansiedade entre o inimigo israelense e também entre os estadunidenses quanto à possibilidade dessa frente poder entrar numa escalada adicional e evoluir pra amplas possibilidades. Isso pode acontecer, e o inimigo deve tomar mil contas. Lemos essas contas com força através de mensagens ocidentais, estadunidenses e algumas mensagens árabes que recebemos todos os dias desde 7 de outubro.
Esse medo faz com que o inimigo calcule cuidadosamente seus passos em direção ao Líbano, e isso é o que chamamos de dissuasão do inimigo pela resistência. O inimigo hoje suporta todos os golpes e controla seu ritmo porque teme que as coisas aconteçam do jeito que ele teme e alerta. Essas operações, prontidão e ação hoje fazem com que o inimigo seja dissuadido. Caso contrário, todos nós ouvimos o sionista falar sobre a necessidade de se beneficiar do apoio estadunidense pra abrir uma frente voltada ao Líbano. O sangue dos mártires diz ao inimigo que você vai cometer a maior loucura da história de sua existência se abrir a frente do Líbano.
Desde 8 de outubro, a ameaça estadunidense chegou até nós com a possibilidade de entrar na batalha, e aqui digo que o desenvolvimento e a escalada da frente na fronteira com a Palestina ocupada dependem de uma de duas coisas básicas: o curso e o desenvolvimento dos acontecimentos em Gaza, porque nossa frente é uma frente de apoio, apoio a Gaza. O segundo caminho é o comportamento do inimigo sionista pra com o Líbano, e aqui o alerto contra alguma persistência que levou ao martírio de alguns civis, o que pode nos levar a regressar ao governo de civis contra civis. Todas as possibilidades em nossa frente libanesa estão abertas, todas as opções estão abertas e podemos as abordar a qualquer momento. Devemos estar todos prontos pra todas as possibilidades abertas.
Exagerar a nós e a resistência não traz nenhum benefício nem pros países, nem pros movimentos de resistência. Suas frotas [dos EUA] no Mediterrâneo não nos assustam, nunca nos assustaram, e lhes digo com toda franqueza que suas frotas com as quais nos ameaçam, nós também as preparamos. Estadunidenses, vocês devem se lembrar de suas derrotas no Líbano e no Afeganistão, e aqueles que os derrotaram no Líbano ainda estão vivos, juntamente com seus filhos e netos.
O caminho à solução não é intimidar os combatentes da resistência, mas sim parar a agressão contra Gaza. Esse é Israel, seu servo, e vocês, estadunidenses, podem parar a agressão contra Gaza. Quem quiser parar a guerra regional deve parar a agressão contra Gaza. Em qualquer guerra regional, a vítima e o maior perdedor vão ser seus interesses e forças.
Apesar de todas as ameaças, o povo iemenita tomou várias iniciativas e lançou seus mísseis e drones, mesmo que vocês os tenham abatido. Mas no final esses mísseis e drones vão atingir Eilat e as bases militares israelenses no sul da Palestina.
Ainda precisamos de tempo, mas estamos ganhando por pontos. Foi assim que ganhamos em 2006 e em Gaza, e foi assim que a resistência na Cisjordânia obteve resultados. Eu pessoalmente, do ponto de vista da experiência pessoal, com o imã Khamenei, que reiterou sua certeza e crença de que Gaza vai ser vitoriosa e que a Palestina vai ser vitoriosa, foi ele quem nos disse isso nos primeiros dias da agressão de julho. A batalha é uma batalha de firmeza, paciência, resistência, acumulação de conquistas e de impedir que o inimigo atinja seus objectivos. Todos devemos trabalhar pra parar a agressão contra Gaza e pra que a resistência seja vitoriosa em Gaza. Digo ao povo de Gaza e da Cisjordânia que a firmeza de todos nós e nossa determinação vão resultar numa vitória certa, se Alá [Deus] quiser, e nós e vocês iremos nos reunir em breve pra celebrar a vitória da resistência e do povo de Gaza.
Me felicito por essa grande e majestosa presença na celebração de nosso orgulho, orgulho de todos os mártires que celebramos hoje. Celebramos esses mártires, os mártires da Resistência Islâmica, as Brigadas da Resistência, os mártires das Brigadas de Jerusalém, as Brigadas Al-Qassam no Líbano e os mártires civis. Estendemos nossas bênçãos e condolências a esses mártires e suas famílias, e peço a Alá que as aceite de todos.
Nossas bênçãos e condolências se estendem a todas as famílias dos mártires em Gaza, na Cisjordânia e em todos os locais onde os mártires surgiram durante a Operação Dilúvio em Al-Aqsa, que se estendeu por várias arenas. Esses mártires obtiveram uma grande vitória, e foi isso que Alá confirmou no Santo Alcorão. Isso é motivo de orgulho pras suas famílias e pra todos nós, e pra termos a certeza do lugar aonde foram. Os mártires agora estão vivos e se regozijando, desfrutando da graça e das bênçãos de Alá. Parabéns a todos os mártires lutadores e aos oprimidos, homens, mulheres, crianças, jovens e adultos. Parabéns a eles por sua transição àquele mundo ao lado de Alá, Seus mensageiros e profetas, onde não há agressão, matança ou massacres sionistas. Desse ponto de vista ideológico, olhamos pros mártires.
Às famílias dos mártires, dizemos: seus filhos estão numa batalha totalmente legítima, do ponto de vista moral, legal e humanitário, contra esses sionistas que ocupam a Palestina. Essa batalha está fora de dúvida a nível jurídico, moral e humano, e é um dos maiores exemplos de martírio por causa de Alá. Nos dirigimos às famílias pra que as valorizem e tenham orgulho delas. Essa é nossa verdadeira força na fé, visão, consciência, profundo compromisso com a causa e disposição ao sacrifício expressado pelas famílias dos mártires.
E como se estivéssemos precisando de mais brigas e crises, talvez de nível que pode atingir o diplomático, ontem a Pistoleira dos Jardins decidiu acirrar os ânimos com uma montagem de muito mau gosto, de autoria desconhecida, sabe-se lá se de clique próprio ou encomenda. Talvez ela quis dizer que só os terroristas são ratos, mas a bandeira no bichinho não ajuda a entender dessa maneira...