quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Eu mamo o Latuff se ele desenhar isto


1. No último domingo, uma turba de malucos fanatizados por grupos do Telegram invadiu um aeroporto no Daguestão, república de maioria muçulmana no sul da Rússia (Cáucaso), após saber que um voo aterrissaria em alguns minutos vindo de Tel-Aviv com habitantes russos e israelenses, nem todos judeus. O piloto ordenou que os passageiros não saíssem do avião e chamou de volta os que já saíam, resultando num cerco de cinco horas só na base de água. Dizendo manifestar contra os massacres recentemente ocorridos em Gaza, queriam na verdade realizar outro massacre, chamado propriamente pela mídia russa dissidente de pogrom, pois percorreram todo o aeroporto e arrombaram portas à caça de “judeus”, que obviamente eles linchariam. Chegaram inclusive a assediar outros transeuntes e exigir que mostrassem não ter passaporte israelense...

Pelo cheiro, sabor e textura de ignorância, a imagem acima simbolizou a essência do ataque: estavam “procurando judeus” até na turbina do pássaro metálico, com direito a lanterninha segurada pelo parça! Aquele amigo dos palestinos podia muito bem fazer uma caricatura dos dois vestindo uniformes da SS ou do Reichswehr hitleriano, como ele gosta de fazer com aqueles com quem não concorda.


2. Na cidade de Nálchik, também no Cáucaso russo, mas na República Cabardino-Balcária, um muro perto de uma associação cultural judaica foi pichado com a inscrição em russo “Morte aos yehudás”, ou seja, aos judeus. Assim, na cara dura, num país que invadiu e destruiu outro vizinho, abateu uma geração dos próprios homens jovens e justificou isso com a “desnazificação” do “regime de Kyiv”. O Cáucaso como um todo, inclusive a parte que ficou dentro da antiga Rússia soviética, atual Federação Russa, tem comunidades seculares de judeus que podem ser praticamente considerados nativos. Mas a jovem população muçulmana, empobrecida, desempregada e arrastada pra guerra, tem se radicalizado pelas redes sociais com discursos veiculados inclusive a partir da Arábia Saudita e assediado aqueles concidadãos.


3. Esta semana, em várias cidades da França, sobretudo Marselha, muros de casas e negócios apareceram pichados com estrelas de Davi azuis pintadas dentro de um molde pronto. A ação em alguns casos parece ter sido aleatória, mas vários dos imóveis marcados realmente pertencem ou são ocupados por judeus ou famílias judias. Isso lembra o macabro período em que na Alemanha nazista, os espaços pertencentes a judeus eram marcados pela polícia ou pelo próprio povo com as mesmas estrelas, feitas manualmente por meio de tinta e pincéis comuns, pra que fossem mais fáceis de ser localizados, depredados e assaltados. Os relatos de ataques e ofensas pessoais ou virtuais de caráter antissemita (que eu prefiro chamar de “judeofóbico”) dispararam na França desde os atentados terroristas de 7 de outubro em Israel, muito mais do que os casos de islamofobia que “aqueles que desejam um mundo melhor” adoram alardear.

Resumo da ópera: como disse bem um especialista, nossa “ex-querda” recalcada não tá nem aí nem pros palestinos, nem pros muçulmanos. Ela tá totalmente instrumentalizada pelo regime terrorista do Irã, com o apoio da Rússia. Por que não falam dos huthis armados por Teerã que acabaram com o Iêmen? Por que se esqueceram do Sudão e mal falaram dos golpes militares no Sahel? Por que não fazem o mesmo barulho com os muçulmanos discriminados na Índia, os uigures perseguidos na China, os curdos caçados por turcos também muçulmanos ou os rohingya massacrados em Mianmar? Todos da mesma religião, e com características realmente daquilo que imputam a Israel: preconceito, apartheid, prisão em massa e genocídio. Porque parece que pro nosso cronista visual da barbárie e pros militontos que seguem a mesma cartilha radical chic, só interessa criticar os abusos cometidos por judeus. Sempre eles...