terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

O futuro da Rússia e da Ucrânia


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Sei que tá difícil fazer brincadeiras com a invasão russa à Ucrânia, mas quis passar um material descontraído sobre algumas coisas que andei pensando. Infelizmente, no próximo dia 24 a chamada “operação militar especial” de Putin, que não passa de mais uma guerra de rapina tradicional, vai completar exatamente um ano, sem perspectivas de rápido término. Se servir de consolo, no próximo dia 22 vai fazer nove anos a revolução popular do segundo Euromaidan, que não foi um “golpe de Estado neonazista”, como afirma o Kremlin, e sim a defenestração de uma de suas marionetes, Víktor Ianukóvych, responsável pela morte de mais de 100 manifestantes pacíficos no começo de 2014. A instabilidade que Putin semeou no Donbás, por ele chamada de “guerra contra o genocídio da população russófona”, seria o conflito mais geral que deveria ser encerrado por sua “operação especial”, a verdadeira guerra que o ditador não deixa seus cidadãos chamarem de “guerra”, sob pena de prisão ou pesadas multas.

A bem da verdade, a linha de frente “congelou”, pois embora os russos consigam pequenos avanços diários, estes se fazem sob o preço de pesados sacrifícios dos próprios soldados ou dos bandoleiros do grupo (mafioso) Wagner. Após preparar a maior parte deste material, vi o discurso de Putin às duas câmaras do parlamento, e afora o mesmo vitimismo contra a OTAN e os EUA e o anúncio de medidas econômicas que não vão resolver os problemas crônicos do carcomido Estado russo, não houve mudanças na condução do ataque à Ucrânia, o que só indica que o paranoico vai “fugir pra frente” até gastar todas suas forças. A suspensão (e não abandono) da participação no acordo de contenção nuclear pode fazer a Rússia ser ainda mais equiparada a “Estados párias” (rogue states) como Síria, Coreia do Norte e Irã, mas não pode dissuadir o “Ocidente coletivo” de empanturrar Zelensky com ainda mais armas.

Na última Conferência de Munique sobre segurança global, os próprios líderes mais proeminentes da oposição russa, apesar de todas suas contradições, começam a se mostrar mais unidos pra planejar o que seria o futuro de seu país sem Putin. Porém, como eles mesmos temem, o mais provável é que as próprias elites políticas e econômicas uma hora ou outra deem um golpe palaciano, não mudando as estruturas gerais do Estado, somente pra não verem seus próprios privilégios tão aquebrantados. E, olhando pra expressão da maioria dos presentes no discurso de hoje de Putin, mesmo do alto escalão, com suas caras tediosas, irônicas, bocejantes ou mesmo cochichando entre si, não parece uma possibilidade tão improvável: Putin simplesmente não têm mais próximos de confiança e tem medo de tudo e de todos. Quanto mais recursos bélicos e humanos ele queimar pra atingir um objetivo que já lhe fugiu pouco após o começo (tomar Kyiv, derrubar Zelensky e, como pregam seus ideólogos mais extremistas, anexar a Ucrânia), mais dura será a reação do exterior, das elites russas e das famílias enlutadas.






Gente, o ex-oligarca russo Mikhaíl Khodorkóvski é a cara do Geraldo Alckmin e um dos mais ativos líderes da oposição a Putin, até a voz dele é meio parecida! Se um dia ele chegar a governar a Rússia, vai roubar as merendas de todas as escolas, inclusive estas daqui, exclusivas do Exército, as chamadas sukhói paiók, kkkkk:



No meio do discurso completo, surgiu esta pérola que fiz questão de traduzir e comparar com as reais ações de Putin. Por que ele está tão preocupado com as “crianças ocidentais” se ele mesmo está deportando crianças ucranianas pra serem reeducadas ou adotadas na Rússia, a fim de apagar sua cultura? Por que ele se preocupa mais com as comunidades de gênero do que com a catástrofe demográfica que os exílios voluntários e a matança de seus soldados vão causar? E enfim, por que ele se preocupa mais com o gênero de Deus e a Igreja Anglicana do que com o mandamento “não matarás”?. Nem Bolsonaro foi tão longe assim na “pauta de costumes”, um eufemismo pra pânico moral...

Atenção, o recuo nos objetivos foi tão descarado que, fracassadas a desnazificação, depois a desmilitarização e por fim a dessatanização, o ditador anunciou que vai se limitar à DESBOIOLIZAÇÃO da Ucrânia. Pra quem é cético, mesmo dentro das igrejas progressistas essa discussão pode parecer ridícula (nem é mais “sexo dos anjos”, mas do próprio Deus, rs). Mas eu vou pelo caminho mais curto e tiro inclusive o instrumento pra Putin envolver seu genocídio com ares sagrados: Deus não existe.

Vejam o que [as elites ocidentais] estão fazendo com seus próprios povos: destruindo a família e a identidade cultural e nacional, pervertendo e abusando das crianças até a pedofilia e proclamando tudo isso como normativo em suas vidas, enquanto os sacerdotes e os clérigos são obrigados a abençoar casamentos homossexuais. Que Deus os proteja, que façam o que quiserem. O que quero dizer com isso? Pessoas adultas têm o direito de viver como quiserem, e assim também consideramos na Rússia e sempre consideraremos: ninguém deve ter invadida sua vida privada e não pretendemos fazer isso.

Mas gostaria de lhes dizer: me desculpem, mas observem as Sagradas Escrituras, os principais livros de todas as outras religiões do mundo. Tudo está dito aí, inclusive que a família é a união entre um homem e uma mulher, mas mesmo esses textos sagrados estão hoje sendo postos em dúvida. Como ficamos sabendo, a Igreja Anglicana, por exemplo, está planejando – planejando, é verdade, pelo menos por enquanto – considerar a ideia de um Deus de gênero neutro. O que vamos dizer? “Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que estão fazendo!” [Lucas, cap. 23, vers. 34, trad. Paulinas.]